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DIREITO CONSTITUCIONAL *Patrícia Macedo1 1. Poder Constituinte. 1.1 Conceito. Até o final do século XVIII vigia no mundo e, diga-se, principalmente na Europa, a ideia de legitimidade divina do poder político, de modo que os monarcas eram não apenas soberanos, mas também dotados de poderes absolutos , os quais lhes eram concedidos por Deus (Estado Absolutista). A teoria do Poder Constituinte nasce no final do Século XVIII, justamente em razão da crise deste Estado Absolutista, momento em que as idéias iluministas e revolucionárias tomam conta de Europa. Resumidamente, é possível dizer que é da obra “O que é o 3º Estado” , do abade Emmanuel-Joseph Sieyès, que surge a teoria de que o Poder pertence não ao soberano, mas sim ao povo, iniciando-se, então, o que conhecemos por Teoria do Poder Constituinte. De um modo geral, tem-se que o Poder Constituinte é não apenas aquele que cria uma nova constituição e dá início a um novo Estado (P. C. Originário), mas também o que atualiza esta nova constituição, adequando-a a realidade da sociedade (P.C. Derivado). Conforme é sabido, a Teoria do Poder Constituinte é um dos alicerces do princípio da supremacia da constituição e tal fato se deve à distinção que já na obra de Sieyès era feita entre o que é Poder Constituinte e Poder Constituído. 1 Este material foi elaborado com esteio em vídeoaulas dos cursos da plataforma GranConcursos e G7Jurídico, bem como de sinopses, resumos e outros materiais angariados ao longo do estudo para concurso. Poder Constituinte: é aquele que cria a nova ordem constitucional e, por conseguinte, a própria constituição. Poder Constituído: é o resultado desta criação, vale dizer, são os poderes estabelecidos por esta nova ordem constitucional. 1.2. Natureza. Mas, qual a natureza do Poder Constituinte? Para responder a esta pergunta é necessário que conheçamos as duas posições doutrinárias existentes acerca do tema, bem como tenhamos em mente que elas estão relacionadas ao conceito de Poder Constituinte Originário, o qual analisaremos mais à frente. São elas: Juspositivistas (Kelsen): O Poder Constituinte é histórico, já que ele simplesmente existe, não estando embasando em uma ordem jurídica anterior e superior. Ele é um fato e, portanto, um Poder Político (adotada no Brasil); Jusnaturalistas(Tomás de Aquino): Para esta corrente o fundamento está no direito natural, o qual é hierarquicamente superior ao próprio Poder Constituinte. Por isso, seria um Poder Extrajurídico. 1.3. Classificação: O Poder Constituinte divide-se em Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado, o qual subdivide-se em Poder Constituinte Derivado Revisor, Poder Constituinte Derivado Reformador e Poder Constituinte Derivado Decorrente. Vamos conhecê-los! Poder Constituinte Originário: é o poder capaz de instaurar uma nova ordem constitucional, de inaugurar um Estado a partir de uma nova constituição, a qual trará os princípios regentes e direitos fundamentais dos cidadãos, definirá os poderes estatais e as formas de limitação destes, bem como tratará de todos os temas que sejam fundamentais para a criação deste novo Estado. São características do Poder Constituinte Originário: Inicial: ele inicia a nova ordem jurídica, inexistindo outro Poder antes e acima dele; Autônomo: não se submete a nenhum outro Poder, cabendo a ele escolher a ideia de direito que prevalecerá; Ilimitado: não está juridicamente vinculado a nada, a nenhuma condição ou limite. ATENÇÃO: Conforme ensinam alguns doutrinadores, dentre os quais se salienta Uadi Bulos, em que pese juridicamente ilimitado, sob a ótica metajurídica ele possui limitações, as quais seriam de ordem ideológica (as idéias e pensamento que orientaram a criação da nova ordem devem estar refletidas nesta nova constituição), institucional (institutos reconhecidos pela sociedade que devem ser respeitados, p.ex., função social da propriedade), substancial/material (matérias que devem ser incluídas na constituição). Além disso, teríamos os limites transcendentes (a constituição deve evoluir de modo a concretizar os direitos fundamentais - proibição de retrocesso); imanentes (relacionados à identidade do Estado, p.ex., ser uma República); e heterônomos (observância das normas de Direito Internacional). Incondicionado: não se submete a procedimentos pré- estabelecidos; Permanente: Ele não se esgota com o seu exercício, permanece em estado de latência; Inalienável: pois o povo nunca perde o seu direito. Poder Constituinte Derivado: trata-se de um poder que possui natureza de Poder Jurídico, pois extrai seus fundamentos da constituição. São suas características: Derivado:diz-se derivado, porque ele deriva, advém, do Poder Constituinte Originário, o qual lhe confere as bases normativas; Subordinado: ao contrário do anterior, este possui limites bem estabelecidos na constituição; Condicionado: ele necessariamente se condiciona aos procedimentos estabelecidos na constituição. O Poder Constituinte Derivado divide-se em três espécies: Poder Constituinte Derivado Revisor: detém a capacidade de modificar a constituição por meio do que chamamos de revisão constitucional. No Brasil, o ADCT previu a possibilidade de que fossem feitas emendas de revisão 05 anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Poder Constituinte Derivado Reformador: trata-se, também, de um poder de alteração da constituição, contudo, neste caso não estamos falando de revisão, mas da possibilidade de criação de emendas constitucionais de reforma, cuja edição deve observar o previsto no artigo 60 da Constituição de 1988. Poder Constituinte Derivado Decorrente: este é o Poder de criar constituições estaduais e a Lei Orgânica do DF, a qual — segundo o Supremo Tribunal Federal — tem natureza de constituição estadual. ATENÇÃO: os Municípios não são dotados de Poder Constituinte Derivado Decorrente, tanto é que estes são regidos por leis orgânicas e não constituições! É importante estarmos atentos ao fato de que o Poder Constituinte Derivado Reformador possui limites expressamente impostos pela Constituição Federal de 1988, são eles: Circunstanciais: há períodos em que a Constituição não pode ser objeto de modificação (art. 60, §1º). P. Ex., Intervenção Federal, Estado de Sítio e Estado de Defesa. Processuais: há um devido processo legislativo a ser observado para que a Constituição seja emendada (art. 60, caput). Materiais: matérias que não podem ser objeto de emenda. São as chamadas “cláusulas pétreas” (art. 60, §4º). De igual modo o Poder Constituinte Derivado Decorrente também tem seus limites na CF/88. São eles: Princípios Constitucionais Sensíveis: os previstos no artigo 34, inciso VII, da CF. Eles devem estar expressamente reproduzidos na constituição estadual (reprodução obrigatória). Princípios Constitucionais Estabelecidos/Organizatórios: são os previstos na Constituição para regular a União, os Estados e Municípios. P. ex: repartição de competências administrativas e legislativas. Princípios Constitucionais Extensíveis: estão previstos na Constituição para regular a União, mas devem estar nas constituições estaduais para serem seguidos pelos Estados e DF, em razão do princípio da simetria. Por fim, não podemos esquecer que a doutrina elenca, ainda, mais duas modalidades de Poder Constituinte, são elas: Poder Constituinte Difuso: trata-se das mutações constitucionais, as quais são a possibilidade de alteração do sentido da norma constitucional, sem que haja modificação do seu texto. Trata-se de método de atualização da Constituição que é feito pelo próprio STF. Poder Constituinte Supranacional: é o poder de criar instituições supranacionais,as quais estão acima dos Estados. Ex.: União Européia.
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