Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
IZABELLA F. REIS - 1° PERÍODO 2021/01 - PROFESSORA: PRISCILA M. D. A UNIDADE DO ORDENAMENTO JURÍDICO Fontes reconhecidas e delegadas. A dificuldade de identificar todas as normas de um ordenamento é pelo fato de não derivarem de uma só fonte, isso se dá pelo fato de que as necessidades sociais são tão grandes que nenhum órgão é competente para produzir as leis por si só. Corroborando com essa teoria, o poder supremo recorre geralmente a dois expedientes: recepção de normas já prontas e a delegação do poder de produzir normas jurídicas a poderes ou órgãos inferiores. Que, ao lado da fonte direta (lei) tem-se as fontes indiretas: fontes reconhecidas e delegadas. a) Fonte reconhecida: Costumes, em que a fonte superior é a lei. b) Fontes delegadas: Decreto regulamentar. Delegações do Poder Executivo de especificar normas genéricas elaboradas pelo legislativo. A negociação é reconhecida como fonte também produtora independente de regras de conduta, aceitas pelo Estado. Tipos de fontes e a formação histórica do ordenamento jurídico. O ponto de referência de cada ordenamento é o poder originário (“fontes das fontes”). Se todas as normas derivasse do mesmo ordenamento jurídico teríamos um ordenamento simples, o que não é realidade no Direito, por duas razões: a) Nenhum ordenamento nasce do deserto, as normas apoiadas em distintas variáveis que influenciam o novo ordenamento e passam a fazer parte expressa ou tacitamente dele. Acontece uma recepção de normas ao novo ordenamento. b) O poder originário quando constituído delega funções, para atualização normativa, no qual resulta na sua autolimitação subtraindo de si próprio uma parte do poder normativo, para dá-lo a outros órgãos ou entidades, de alguma forma dele dependentes. Pode-se falar em um limite interno do poder originário. As fontes do Direito. Por “fonte” compreende-se aqueles fatos e atos dos quais o ordenamento jurídico faz decorrer a produção de normas jurídicas. O conhecimento de um ordenamento inicia-se sempre pela enumeração das suas fontes. Contudo, não se interessa quantas e quais são as fontes, mas sim o fato de que ao reconhecer a existência de atos e fatos que produzem normas jurídicas, reconhece-se também que o ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo como se devem produzir as regras. Dessa maneira, criando duas novas classificações para as normas jurídicas, as imperativas de primeira instância (imperativas, proibitivas e permissivas) e a de segunda instância que se divide em: IZABELLA F. REIS - 1° PERÍODO 2021/01 - PROFESSORA: PRISCILA M. D. a) Normas que mandam ordenar - em que o constituinte ordena ao legislador ordinário formular leis que tornem obrigatória a instrução; b) Normas que proíbem ordenar - onde se proíbe ao legislador impor a pena de morte, por exemplo; c) Normas que permitem ordenar - em todos os casos em que o constituinte entende não dever intervir a ditar normas sobre certas matérias, pode-se dizer que isso permite ao legislador ordenar; d) Normas que mandam proibir - o constituinte impõe ao legislador ordinário emanar normas proibitivas; e) Normas que proíbem proibir - o constituinte proíbe o legislador ordinário de impor normas proibitivas; f) Normas que permitem proibir - o constituinte deixar ao legislador ordinário a faculdade de proibir; g) Normas que mandam permitir - este caso coincide com a da letra e); h) Normas que proíbem permitir - este caso coincide com a da letra d); i) Norma que permite permitir - como a permissão é a negação de uma proibição, este é o caso de uma lei inconstitucional que negou a proibição de uma lei constitucional anterior. Construção escalonada do ordenamento. O fato do ordenamento ser complexo não excluiu sua unidade, porém, isso não é algo evidente, como no caso dos ordenamentos simples (que possuem apenas uma fonte). Para explicar a unidade de um ordenamento complexo, Bobbio utiliza a teoria da construção escalonada do ordenamento proposta por Kelsen, a qual pressupõe que as normas de um ordenamento não estão todas em um mesmo plano. Há, portanto, normas superiores e inferiores, existindo uma relação de dependência entre elas, estando no topo a norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior e sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. Assim, a unidade de um ordenamento complexo ocorre porque, apesar das variadas fontes, todas remontam-se a uma única norma. Essa norma suprema é a norma fundamental, cada ordenamento tem uma e é ela que dá unidade a todas as outras normas, isto é, faz das normas espalhadas um conjunto unitário que pode ser chamado “ordenamento”. Dispostas em ordem hierárquica, constituindo a estrutura hierárquica do ordenamento jurídico. Dessa forma, ao analisar uma determinada conduta seria necessário buscar a sua referência à norma fundamental, conforme o esquema abaixo: IZABELLA F. REIS - 1° PERÍODO 2021/01 - PROFESSORA: PRISCILA M. D. Como a conduta remonta à norma fundamental, podemos então chamá-la de “ato jurídico”, chamado por Bobbio de ato executivo, pois executa um contrato, enquanto o contrato é produtor. Execução e produção são termos relativos, pois a maior parte das normas são ao mesmo tempo executivas e produtivas: executiva com respeito à norma superior, produtiva com relação à norma inferior. Imaginando a estrutura hierarquizada do ordenamento como uma pirâmide, ao olhar para cima vê-se uma série de processos de produção jurídica; ao olhar para baixo, vê-se uma série de processos de execução jurídica. Esse mesmo fenômeno pode ser explicado com a utilização de duas expressões mais comuns no meio jurídico: poder, como equivalente à produção, e dever como equivalente à execução. Limites formais e materiais. Na estrutura hierarquizada do ordenamento, quando um órgão superior atribui um poder normativo a um inferior, não lhe atribui um poder ilimitado. Os limites com que o poder superior regula e restringe o poder inferior ocorre de duas maneiras diferentes: relativos ao conteúdo (limite material) e à forma (limites formais). a) Limite material: O que a norma inferior está autorizado a produzir, podem ser: positivas (ordem de mandar) e negativas (proibição de mandar/ordem de permitir); b) Limite formal: Diz respeito ao procedimento e ao modo pelo qual a norma será emanada, constituído por todas as normas da constituição que determina o procedimento do Parlamento. Bobbio determina ainda conceitos importantes para a compreensão da limitação e restrição do poder: a) Limite de delegar: Está em relação a quem pode mandar ou proibir e a forma como é feita. b) Lei substancial: Na passagem de lei ordinária para decisão judicial, determina limite (juiz tem que encontrar a solução dentro do que a lei ordinária estabelece); c) Lei do procedimento: Limita as formas de atividade do juiz (para decidir, deve seguir o ritual estabelecido na lei); d) Juiz de equidade: Autorização ao juiz a resolver sem recorrer a uma norma preestabelecida. Em função da autonomia privada, os limites formais prevalecem sobre os materiais. O Direito não é uma regra formal de conduta humana, pois IZABELLA F. REIS - 1° PERÍODO 2021/01 - PROFESSORA: PRISCILA M. D. há limites formais, mas também os materiais na esfera privada (testamento, por exemplo). A norma fundamental. A norma fundamental é uma construção teórica que inaugura e fundamenta o Poder Constituinte, é o poder que irá estabelecer uma Constituição e, consequentemente, dará início a todo ordenamento jurídico. Concebida como ponto de partida, um postulado lógico, sendo ela um expediente necessário para se desenvolver a noção de unidade do ordenamento (e dentro disso a noção de hierarquia das normas jurídicas). Bobbio elenca três explicações exógenas sobre o fundamento dessa norma: 1. Teológica: omnis potestas nisi a Deo (todo poder vem de Deus); 2. Jusnaturalista: Aqui, o dever de obedecer o poder constituído vem de uma lei natural predecessora, lei esta que é descoberta pela razão humana, e não colocadaà força por este ou aquele indivíduo; 3. Contratualista: O dever de obedecer ao poder constituído deriva de uma convenção originária, a partir da qual o poder constituinte se legitima e se justifica. Direito e força. O poder originário é entendido como o conjunto das forças políticas que num determinado momento histórico tomaram o domínio e instauraram um novo ordenamento jurídico, objeta-se que ao fazer depender todo o sistema normativo do poder originário significa reduzir o direito à força (particularmente a força física). Conforme Bobbio, todo poder originário repousa um pouco sobre a força e um pouco sobre o consenso. Assim, submeter-se ao poder originário significa submeter-se não à violência, mas submeter-se àqueles que detêm o poder coercitivo. Esse poder coercitivo pode estar fundado num consenso geral. A força é necessária para exercer o poder, ou seja, um instrumento necessário do poder, mas não para justificá-lo. Tem-se então que o direito é um conjunto de regras com eficácia reforçada. Sendo-o impossível sem o exercício da força (sem um poder), mas ter esse poder como seu fundamento último não significa reduzi-lo à força, mas reconhecê-la como necessária para a realização do direito. A preocupação com a possibilidade da redução do direito à força não é considerada por Bobbio uma preocupação jurídica, mas uma preocupação com a justiça. A definição do direito que aqui adotamos não coincide com a de justiça. A norma fundamental está na base do Direito como ele é (o Direito positivo), não de como deveria ser (o Direito justo). Ela autoriza aqueles que detêm o poder a exercer a força, mas não diz que o uso da força seja justo só pelo fato de ser vontade do poder originário. Ela dá uma legitimação jurídica, não moral, do poder. Bobbio defende uma teoria na qual a força é um instrumento para a realização do direito e, nesse ponto, IZABELLA F. REIS - 1° PERÍODO 2021/01 - PROFESSORA: PRISCILA M. D. diverge de Kelsen e Ross, para quem a força é o objeto do direito. Assim, para estes autores o direito não é conjunto de normas que se tornam válidas através da força, mas um conjunto de normas que regulam o exercício da força numa determinada sociedade. Para Bobbio, essa concepção desloca a força de instrumento para objeto da regulamentação jurídica e está profundamente ligada à idéia que considera como normas jurídicas somente as secundárias. Se A, deve ser B (norma primária) Se ÑB, deve ser S (norma secundária) Kelsen, inclusive, inverte essa situação, afirmando serem primárias as secundárias, e vice-versa. Bobbio discorda desse ponto de vista e admite expressamente a existência de normas sem sanção, pois para ele o ordenamento como um todo é que deve ser sancionado. Em síntese, Bobbio não vê o ordenamento como um conjunto de regras para o exercício da força (força como objeto), pois considera essa concepção muito limitativa do direito, mas como um conjunto de regras para organizar a sociedade mediante a força (força como instrumento). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBBIO, Norberto; Teoria do Ordenamento Jurídico. São Paulo: Edipro, 2. ed. 2014.
Compartilhar