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UNIVERSIDADE UNIVERSUS VERITAS UNG GUARULHOS JULIANA CARVALHO DA ROCHA 28228593 – TURMA GCE0300109NNA - NOTURNO CENTRO DE INTEGRAÇÃO AO REFUGIADO 1 T r a b a l h o d e C o n c l u s ã o C u r s o a p r e s e n t a d o c o m o e x i g ê n c i a p a r c L I S T A D E F I G U R A S 2 Lista de Figuras Figura 1. Campo de Refugiados no Quênia ........................................................................ 10 Figura 2. Asilo Joao Emilio .................................................................................................. 11 Figura 3. Colégio Estadual João Alfredo ............................................................................. 11 Figura 4. Esquema de Organização de Assistência aos Imigrantes ..................................... 15 Figura 5. Hospedaria de São Paulo ...................................................................................... 16 Figura 6. Vista interior da Hospedaria ................................................................................... 17 Figura 7. Fachada da Hospedaria ......................................................................................... 17 Figura 8. Varanda do prédio principal ................................................................................... 17 Figura 9. Fachada da Hospedaria de Santos ........................................................................ 18 Figura 10. Planta do Pav. Térreo da Hospedaria de Santos ................................................. 18 Figura 11. Planta Pav. Superior da Hospedaria de Santos ................................................... 19 Figura 12. Abrigo Missão Paz .............................................................................................. 19 Figura 13. Abrigo Missão Paz ............................................................................................ 19 Figura 14. Abrigo Missão Paz .............................................................................................. 19 Figura 15. Abrigo Acre .......................................................................................................... 20 Figura 16. Abrigo Triskirchen ................................................................................................ 20 Figura 17. Campo de refugiados de Traiskirchen ................................................................. 21 Figura 18. Campo de Refugiados de Dadaab ....................................................................... 21 Figura 19. Abrigo da Primeira Guerra Mundial .................................................................... 22 Figura 20. Abrigo Portátil Nissen Hut .................................................................................. 22 Figura 21. Protótipo Wichita .................................................................................................. 22 Figura 22. Esquema de Cedric Price .................................................................................... 23 Figura 23. Arquitetura Emergencial Modular ....................................................................... 24 Figura 24. Arquitetura Emergencial Modular ......................................................................... 24 Figura 25. Arquitetura Emergencial Flat-Pack....................................................................... 24 Figura 26. Arquitetura Emergencial Flat-Pack....................................................................... 25 Figura 27. Arquitetura Emergencial Tensile .......................................................................... 25 Figura 28. Arquitetura Emergencial Pneumatic ..................................................................... 25 Figura 29. Protótipo Puertas ................................................................................................. 26 Figura 30. Protótipo Puertas ................................................................................................. 26 Figura 31. Protótipo Puertas ................................................................................................. 26 Figura 32. Protótipo Puertas ................................................................................................. 27 Figura 33. Refugiados no Brasil .......................................................................................... 29 Figura 34. Refugiados no Brasil .......................................................................................... 29 Figura 35. CIC do Imigrante ................................................................................................ 30 Figura 36. CIC do Imigrante ................................................................................................ 30 Figura 37. Projeto Plantas CIC do Imigrante ....................................................................... 31 Figura 38. Projeto Plantas CIC do Imigrante ....................................................................... 31 Figura 39. Projeto Cortes CIC do Imigrante ........................................................................ 32 Figura 40. Projeto Cortes CIC do Imigrante ........................................................................ 32 Figura 41. Projeto Cortes CIC do Imigrante ........................................................................ 32 Figura 42. Projeto Cortes CIC do Imigrante ........................................................................ 32 Figura 43. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 33 Figura 44. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 33 Figura 45. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 33 Figura 46. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 33 Figura 47. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 33 Figura 48. Casa da Mulher Brasileira .................................................................................. 34 Figura 49. Casa da Mulher Brasileira .................................................................................. 34 Figura 50. Planta da Casa da Mulher Brasileira .................................................................. 35 Figura 51. 3D da Casa da Mulher Brasileira ....................................................................... 35 Figura 52. 3D da Casa da Mulher Brasileira ....................................................................... 35 Figura 53. Fotos internas CIC do Imigrante ........................................................................ 36 Figura 54. Planta Centro São Pio ........................................................................................ 36 Figura 55. Isometria Capela Centro São Pio ....................................................................... 37 Figura 56. Capela Centro São Pio ....................................................................................... 37 Figura 57. Planta da Capela Centro São Pio ...................................................................... 37 Figura 58. Corte Refeitório Centro São Pio ......................................................................... 37 Figura 59. Centro São Pio ................................................................................................... 37 Figura 60. Centro São Pio ................................................................................................... 38 3 Figura 61. Centro São Pio ................................................................................................... 38 Figura 62. CentroSão Pio ................................................................................................... 38 Figura 63. Centro São Pio ................................................................................................... 38 Figura 64. Centro São Pio ................................................................................................... 38 Figura 65. Centro Comunitário Altenessem ......................................................................... 39 Figura 66. Planta Centro Comunitário Altenessem .............................................................. 39 Figura 67. Implantação Centro Comunitário Altenessem .................................................... 40 Figura 68. Corte Centro Comunitário Altenessem ............................................................... 40 Figura 69. Corte Centro Comunitário Altenessem ............................................................... 40 Figura 70. Interior do Centro Comunitário Altenessem ........................................................ 41 Figura 71. Interior do Centro Comunitário Altenessem ........................................................ 41 Figura 72. Interior do Centro Comunitário Altenessem ........................................................ 41 Figura 73. Interior do Centro Comunitário Altenessem ........................................................ 41 Figura 74. Interior do Centro Comunitário Altenessem ........................................................ 41 Figura 75. Terreno Vila Guilherme Google Earth ................................................................ 42 Figura 76. Mapa do Uso do Solo de São Paulo ................................................................... 42 Figura 77. Mapa do Arco do Tietê ....................................................................................... 43 Figura 78. Entorno do terreno Vila Guilherme ..................................................................... 44 Figura 79. Vias entorno do terreno Vila Guilherme .............................................................. 44 Figura 80. Estudo de vias Geosampa ................................................................................. 44 Figura 81. Mapa do Sistema Viário de São Paulo ............................................................... 45 Figura 82. Estudo de equipamento Urbano Geosampa ...................................................... 45 Figura 83. Estudo de equipamento Urbano Geosampa ...................................................... 45 Figura 84. Mapa do Zoneamento de São Paulo .................................................................. 46 Figura 85. Mapa da Declividade de São Paulo .................................................................... 47 Figura 86. Mapa do Relevo e Geologia de São Paulo ......................................................... 48 Figura 87. Mapa das Operações Urbanas em São Paulo ..................................................... 49 Figura 88. Mapa das Operações Urbanas em São Paulo ..................................................... 49 Figura 89. Mapa da Qualificação Ambiental de São Paulo ................................................... 51 Figura 90. Quadro da Qualificação Ambiental de São Paulo ............................................... 51 Figura 91. Mapa dos tecidos urbanos de São Paulo ........................................................... 52 Figura 92. Quadro da Classificação dos tecidos urbanos ................................................... 53 Figura 93. Terreno Vila Guilherme ...................................................................................... 53 Figura 94. Estudo de tipologias em perspectiva do bairro da Vila Guilherme ..................... 54 Figura 95. Estudo de tipologias em perspectiva do bairro da Vila Guilherme ..................... 54 Figura 96. Estudo de tipologias em perspectiva do bairro da Vila Guilherme ..................... 54 Figura 97. Estudo de tipologias em perspectiva do bairro da Vila Guilherme ..................... 54 Figura 98. Estudo do Patrimônio Tombado no bairro da Vila Guilherme ............................ 55 Figura 99. Terreno Vila Guilherme ...................................................................................... 56 Figura 100. Croqui ............................................................................................................... 60 Figura 101. Croqui ............................................................................................................... 60 Figura 102. Estudo Volumétrico .......................................................................................... 61 Figura 103. Estudo Volumétrico .......................................................................................... 61 Figura 104. Estudo Volumétrico .......................................................................................... 61 Figura 105. Estudo Volumétrico .......................................................................................... 61 4 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados CPMM – Centro Pastoral e de Medição dos Migrantes ONU – Organização das Nações Unidas SPM – Secretaria Nacional de Políticas Para Mulheres 5 SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................................ 5 ABSTRACT ............................................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: SURGIMENTO DO CONCEITO DE REFUGIADO .. 8 1.1 Regulamentação Do Conceito De Refugiados e Refúgio ................................................. 8 1.2. Histórico do Abrigamento No Mundo ............................................................................... 9 1.3. Histórico Do Abrigamento No Brasil ............................................................................... 11 1.4. Histórico Da Arquitetura Emergencial: Abrigos Temporários ......................................... 13 2. MORFOLOGIA QUANTO AS TIPOLOGIAS DE ABRIGOS E REFÚGIOS ....................... 15 2.1. Hospedarias No Brasil - São Paulo ................................................................................ 16 2.1.1. Hospedaria De Santos ................................................................................................ 18 2.2. Tipologia Atual Dos Abrigos Provisórios No Brasil ......................................................... 19 2.3. Tipologia Dos Abrigos Provisórios Para Refugiados No Mundo .................................... 20 2.4. Abrigos Para Refugiados No Contexto Da Arquitetura Emergencial .............................. 21 2.4.1. Modular ....................................................................................................................... 24 2.4.2. Flat-Pack ..................................................................................................................... 24 2.4.3. Tensile ......................................................................................................................... 25 2.4.4. Pneumatic ................................................................................................................... 25 2.5. Protótipo Puertas ........................................................................................................... 26 2.6. O Fator Arquitetura: A Integração Social E Do Espaço .................................................. 28 3. ESTUDO DE CASOS........................................................................................................ 29 3.1. CIC Centro De Integração E Cidadania Ao Imigrante .................................................... 30 3.2. Casa Das Mulheres Brasileiras ...................................................................................... 34 3.3. Centro São Pio ............................................................................................................... 36 3.4. Centro Comunitário Altenessem .................................................................................... 39 4. ANÁLISE URBANA ......................................................................................................... 42 4.1. Legislação Viária .......................................................................................................... 44 4.2. Equipamento Urbano ................................................................................................... 45 4.3. Impacto Ambiental ........................................................................................................ 46 4.4. Aspectos Físicos ............................................................................................................ 47 4.5. Aspectos Antrópicos ...................................................................................................... 48 4.6. Aspectos Ambientais ..................................................................................................... 50 4.7. Morfologia Urbana ........................................................................................................ 52 4.8. Patrimônio .................................................................................................................... 55 5. PROJETO - CENTRO DE INTEGRAÇÃO AOS REFUGIADOS ....................................... 56 5.1. Público- alvo ................................................................................................................. 56 5.2. Objetivos ...................................................................................................................... 56 5.3. Programa de Necessidades ......................................................................................... 57 5.4. Fluxograma .................................................................................................................. 59 5.5 Croquis ........................................................................................................................... 60 5.6. Volumetria .................................................................................................................... 61 5.2. Conclusão .................................................................................................................... 62 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 63 6 RESUMO Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar o contexto dos refugiados, criando um Centro de Integração Social aos Refugiados, acolhendo-os socioeconomicamente na cidade de São Paulo. Busca-se amenizar os efeitos causados pelas diferentes situações que os fizeram sair de seus respectivos países, projetando um espaço que promova a inclusão social e qualificação profissional, de forma que essa integração acrescente na rotina da cidade. Explorando através da arquitetura, a isonomia e o acolhimento à vulnerabilidade para então alcançar uma melhora na qualidade de vida. Palavras Chave: Centro de Integração aos Refugiados, arquitetura, acolhimento. ABSTRACT This work aims to analyze the context of refugees, creating a Center for Social Integration of Refugees, welcoming them socioeconomically in the city of São Paulo. It seeks to alleviate the effects caused by the different situations that made them leave their respective countries, designing a space that promotes social inclusion and professional qualification, so that this integration adds to the routine of the city. Exploring through architecture, the isonomy and the host to vulnerability to then achieve an improvement in the quality of life. Keywords: Refugee Integration Center, architecture, shelter. 7 INTRODUÇÃO Neste trabalho desenvolvem-se pesquisas para subsidiar o projeto arquitetônico do Centro de Integração aos Refugiados, localizado na cidade de São Paulo. Foi motivado pelo cenário atual no mundo, que se da pelo aumento periódico do número de refugiados e pela importância do acolhimento dessas pessoas juntamente com a inserção de políticas públicas por meio do Governo. Devido a conflitos étnicos, preconceitos religiosos ou sociais, entre outras causas, as migrações forçadas por parte da humanidade buscam por proteção e qualidade de vida, resultando em uma reconstrução da relação com um novo espaço. E ao chegarem a ele, a sensação é de perca dos seus direitos básicos, como liberdade de circulação, educação, saúde e emprego, ficando a mercê dos limites do Estado, e para recupera-los dependem da reintegração territorial e jurídica que são estabelecidas dentro desse novo local de moradia e refúgio. De acordo com o ACNUR1, um total de 60 milhões de pessoas se encontram fora de seus países, 33% são refugiados, esse é o maior número registrado desde 1992. Há também 10 milhões de pessoas apátridas às quais foram negadas a nacionalidade e o acesso a direitos básicos. Com base nos dados do ACNUR vivemos em um mundo onde quase 20 pessoas são deslocadas a força a cada minuto em decorrência de conflitos ou perseguições. “[Para a imprensa] O refugiado é sempre negativo, um problema grave a ser discutido. O imigrante é uma questão a ser avaliada, pode ser algo positivo ou negativo, mas em geral a visão é de algo problemático. Já o estrangeiro é sempre positivo, inclusive melhor que o Brasileiro. É alguém com quem podemos aprender.” CAMPOS Barreto. 2015. Com o estudo, justifica-se a importância da criação de um Centro destinado a inclusão social e profissional dos refugiados, uma vez que se compreendem suas origens e as consequências que sofrem diante de rupturas aos direitos humanos e das baixas expectativas de vida, é uma problemática real e atual que só vem crescendo, e que através desse projeto seja possível lidar com ela de maneira humanitária e digna. Considerando que todos têm direito de ser cidadão e de buscar progressos pessoais, o acolhimento passar a ter sua significância expandida, o Centro de integração procura fazer funcionar a integração dos refugiados na cidade, orientando quanto as questões sociais e burocráticas como documentos, qualificação profissional, e preservando a linguagem nacional, e valorização da cultura de origem dessas pessoas. No primeiro capítulo desenvolve-se o contexto histórico para entender a origem do termo refugiado e seu conceito, tanto em âmbito internacional quanto no nacional. nota-se que desde os primórdios a humanidade vive em deslocamento e em busca de qualidade de vida, e que de acordo com os acontecimentos políticos, religiosos e ou econômicos, muitos são forçados a procurar refúgio em outros países. A maneira que conflitos tomam dimensões grandiosas geram complicações como o acolhimento dos refugiados. Acompanham-se na história os momentos de eclosão desses movimentos e o despreparo dos Estados. O surgimento das primeiras ideias de refúgios a pessoas em vulnerabilidade e posteriormente aos imigrantes refugiados. No segundo capítulo aborda-se a questão morfológica de referências e engajamento para um futuro Centro de Acolhimento. Diante de acontecimentos globais analisa-se os estudos e formas de abrigos, como as hospedarias, campos de refúgio entreoutros lugares que serviram e servem de acolhimento temporário ou fixo. Neste capítulo conseguimos identificar que esses locais são regidos pelo contexto global e pela falta de preparo para tais acontecimentos, já conseguimos relatar os materiais usados e as formas das construções, quais os princípios abordados nas mesmas, e a funcionalidade em relação ao objetivo final. 1 Alto Comissario Das Nações Unidas Para Refugiados 8 No terceiro capítulo são expostos estudos de casos, como inspirações para o projeto e possíveis ideias que sejam funcionais para o objetivo em questão, fontes e referências que sirva para abrir o campo de visão e influenciar de maneira positiva a criação. No quarto capítulo é feita a avaliação do entorno e análise urbana da região de destino, que se faz na região metropolitana de São Paulo, local que serve de procura para muitos refugiados por oferecer melhores condições de trabalho, diversidade e mais opções. Quinto capítulo, uma vez que foi estabelecido as primeiras considerações sobre o projeto efetivamos o seu estudo arquitetônico, referente às leis de zoneamento, interação com a cidade, forma e conceito, políticas públicas, análise do entorno entre outras questões abordadas. 9 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: SURGIMENTO DO CONCEITO DE REFUGIADO Desde os tempos mais remotos a humanidade se move pela terra, e hoje fazemos isso com maior facilidade e rapidez e por diferentes motivos, buscando melhor qualidade de vida, entre outros. Esse processo de migração ora é uma escolha, ora se da por outras necessidades. "A Migração forçada ocorre desde as Guerras Púnicas (264 a.C – 146 a.C) entre Roma e Cartago, resultando na fuga dos cartagineses para outras regiões da África do Norte” Para Warmington2 (2010) citado por Silva D.F3.(2017). Embora já nesse momento se enquadre como movimento de refugiados, a primeira referência histórica a esse termo ocorreu no século XVII na França, através da fuga das pessoas pertencentes à religião protestante, com o surgimento da Revolução Francesa (1789-1799) e posteriormente com fim da primeira Guerra Mundial (1914-1918), o número de refugiados que veio a tona, fez pensar sobre sua proteção. Entre a segunda guerra mundial (1939-1945) e guerra fria (1945-1991), já nota-se o movimento de refugiados por toda a Europa. O mundo vivia uma globalização neoliberal na década de 70, gerando desigualdade econômica e concentração de riqueza, consequentemente aumenta-se o fluxo de migração internacional, esse progresso de mobilidade humana é uma forma crucial de globalização, que trouxe com a ascensão do Nacionalismo e dos Conflitos Étnicos, a questão das migrações forçadas que buscam por refúgios fora do seu país de origem. 1.1. Regulamentação Do Conceito De Refugiados e Refúgio O conceito de refugiados foi regulado pela Organização das Nações Unidas em 1951, onde diz que, toda pessoa que declara se sentir perseguida devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que devido a tal, não pode ou não quer regressar ao mesmo, ou ainda devido à violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país para buscar refugio em outro. 2 Professor de Historia na Universidade de Bristol (Inglaterra) e escritor 3 Geógrafa e mestre em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco Em 1950 é criado um Órgão das Nações Unidas, chamado Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) que tem como missão dar apoio e proteção aos refugiados de todo o mundo. Em 1951 foi adotada uma convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, tornando o ACNUR responsável pela certificação dos direitos dos refugiados a nível Internacional, porém esse objetivo destinava-se aos refugiados Europeus, não sendo obrigatório a outros. Com a ratificação do protocolo em 1967, devido à emergência de novos conflitos e perseguições, os países foram levados a aplicar as provisões da convenção de 1951 para todos os refugiados enquadrados nas definições do conceito, porém sem limites de datas ou espaço geográfico. 10 O Brasil, já fazendo parte desde a convenção, passou a verificar de fato uma política relativa de recepção aos refugiados, a partir de 1977 onde também foi instalado um escritório do ACNUR na cidade do Rio de Janeiro, desde então vem acolhendo os mesmos. Em 1997 foi o primeiro país do cone Sul a sancionar uma lei nacional de refúgio. O Conare é o órgão público nacional, responsável por receber e analisar as solicitações, juntamente com outras responsabilidades como, a promoção e coordenação de políticas públicas e ações necessárias para uma eficiente proteção e assistência aos refugiados. Os motivos pelos quais o Brasil tem essa preocupação em receber os refugiados podem ser explicados, em parte, pela própria história de formação da sociedade brasileira que tem como herança a aculturação4 e miscigenação5. "Repressão política e violações maciças dos direitos humanos ainda são elementos significativos em deslocamentos atualmente. Mas para a maioria dos refugiados de hoje, conflitos armados – que frequentemente envolvem perseguição e outros abusos dos direitos humanos contra civis – são a principal fonte de ameaça. Muitos dos conflitos armados do período pós-guerra Fria provaram ser particularmente perigosos para os civis, evidenciados pela escala de deslocamento e pela alta proporção de mortes de civis em relação aos militares. [...]. O custo humano devastador de guerras recentes levou muita discussão sobre a natureza mutável dos conflitos armados no período pós-guerra Fria. [...]. O que distinguiu a década de 1990 a partir de décadas anteriores foi o enfraquecimento dos governos centrais em países que tinham sido amparados pelo apoio de superpotências, e a consequente proliferação de conflitos baseados em identidade, muitos dos quais envolveram sociedades inteiras em violência" Para UNHCR (2000) citado por Silva D.F (2017), p. 277. 1.2. Histórico Do Abrigamento No Mundo Desde os tempos pós-guerra, já se pensava e criava-se abrigos para possíveis situações emergenciais, na época da Guerra Fria esses refúgios destinavam-se a pessoas ricas e ou aos governantes e familiares, caso houvesse necessidade, posteriormente esse termo se encaixa bem as pessoas com vulnerabilidade socioeconômica e emigrantes. Nas eras coloniais encontram-se as Hospedarias para imigrantes no Brasil. O refugio enquanto instituto jurídico global nasceu na década de 1920, no seio da 4 fusão de culturas decorrente de contato continuado 5 é o processo gerado a partir da mistura entre diferentes etnias humanas Liga das Nações Para Andrade6 (1996), citado por Lima J7. et al (2017). Não se trata, portanto, de algo recente na problemática jurídico-internacional; é tema antigo e foi tratado com regras de proteção as violências e perseguições religiosas prevalecentes na época. Com a criação do sistema diplomático e de embaixadas, o refugio passou a ser assunto de Estado, devido à ampliação dos problemas populacionais e de criminalidade, afirmou a necessidade da cooperação internacional Para Barreto8 (2010) citado por Lima J. et al (2017). Com o passar do tempo foram surgindo novas perseguições no mundo. As guerras de independência de colônias africanas, por exemplo, originaram grandes fluxos de refugiados na década de 1960, chegando a mais de 0,5 milhão em 1965 e praticamente dobrando essenumero ao final da década (ACNUR, 2000b, p. 56). De acordo com o jornal Mexicano Proceso, na Áustria, o centro de recepção em Triskirchen, a 20 quilômetros ao sul de Viena, era uma escola militar no início do século XX.Durante a Guerra Fria, serviu de abrigo para pessoas que fugiam do bloco oriental e queriam chegar ao oeste. Após a queda do Muro de Berlim, foi pensado em fechá-lo porque parecia que não seria mais necessário. No entanto, desde um ano atrás, começou a ser preenchido com vítimas da guerra no Afeganistão, Iraque e Síria, que chegam à Áustria. O primeiro exemplo de refúgio a partir da origem do conceito é o ocorrido em Nairobi, capital do Quênia. Na reportagem do arquiteto Manuel Herz com o Título de Somali Refugees in Eastleigh , Nairobi, publicada na revista Instant Cities em 2008, em 1991 devido a guerra civil um grande fluxo de refugiados da Somália chega ao país vizinho, e passam a ficar concentrados em Eastleigh, subúrbio Queniano. 6 Mestre em Direito Internacional (USP-SP) 7 Técnico de planejamento e pesquisa do IPE – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 8 Ministro de Estado da Justiça e ex-presidente do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). 11 Foram responsáveis pela criação de um grande centro comercial nesse bairro, o do qual os habitantes dividiam-se entre árabes e indianos. Ao passar do tempo eclode a guerra civil na Somália trazendo mais refugiados para Eastleigh,9 que passam a ser concentrados nos campos de refúgio em Dadaab. 10 O acampamento criado em 1991, com o objetivo de receber refugiados da guerra civil na Somália. Cerca de 30 mil pessoas eram esperadas. Em poucos meses, o local teve de ser ampliado para comportar 90 mil refugiado da Somália. Diante da explosão da fome na África, contava com 440 mil refugiados. Um volume cada vez maior de ONGs desembarca no local para construir novos locais de acolhimento. A primeira imagem que se tem de Dadaab é a de um tapete de retalhos. Os tetos de plástico, lixo e outros materiais das barracas perdem-se de vista. São 50 quilômetros quadrados do que certamente é a cidade mais miserável do mundo. Para deixar a situação mais dramática, os refugiados pouco a pouco abandonam a alegria de chegar a Dadaab pelo desespero de entender que não terão mais para onde ir. 9 Subúrbuio Queniano. 10 Cidade no nordeste do Quênia. “A solução é providenciar a paz na Somália, e o Quênia sozinho não consegue a paz na Somália! Então precisamos ter estratégias deliberadas e comprometidas sobre como levar esse assunto para a ONU, talvez até para o Conselho de Segurança. Porque o número de pessoas é muito grande. Não sei por quanto tempo podemos tomar conta dessas pessoas”, explica o encarregado do Departamento de Assuntos de Refugiados do governo queniano, Badu Katelo à reportagem do G1 em Dadaab. Desta forma podemos identificar como os primórdios de um local destinado e pensado para abrigar unicamente os refugiados. Percebe-se que ao longo da história nos deparamos com a ideia de pessoas que fogem de seu local de origem, porém ainda não era pensado em um local para abriga-los. Com base no ACNUR, durante o primeiro semestre de 2015, houve uma grande leva de migrações de povos muçulmanos para países europeus. Essa leva continuou no ano de 2016. Mais de 350.000 pessoas deslocaram-se de países islâmicos, sobretudo da Síria e da Líbia, em direção à Europa. Os países que mais receberam esses imigrantes foram a Grécia (cerca de 235.000 indivíduos) e a Itália (cerca de 115.000 indivíduos). As guerras vividas em Palestina, Síria, Afeganistão, com vários países envolvidos como Israel, Estados Unidos, Rússia. Geraram um aceleramento desse processo migratório. Provenientes de países como Eritreia, Gana, Nigéria também se há registrado um grande número de imigrantes. Outro fato importante é o de terroristas vinculados a religiões. Essas atitudes causam aumento da violência, intolerância e até repugnância, resultando em insatisfação por parte da sociedade em geral, que não compactua com essas ações extremas. E decidem buscar asilo em outras regiões. Figura 1. Campo de Refugiados no Quênia. The New York Times. 2010. Disponível em: <http://statig0.akamaized.net/fw/cc/m1/ca/ccm1ca93ilgn3o3zcmr3csj34.jpg> Acesso em: 2404/2018 http://statig0.akamaized.net/fw/cc/m1/ca/ccm1ca93ilgn3o3zcmr3csj34.jpg 12 A crítica situação humanitária vivida pelas centenas de milhares de refugiados oriundos em sua maioria da África e Oriente Médio, e da Ásia, que buscam chegar à Europa Ocidental, através de perigosas travessias no mar Mediterrâneo e pelos Balcãs. A rota que chega à Grécia, nas ilhas de Kos, Chios e Lesbos são um “caos total”, ali os refugiados não tem acesso a alojamento adequado, água potável e estruturas básicas. Os gregos alegam que sem dinheiro não conseguem conter sozinhos e que precisam de ajuda da União Européia. Nos últimos dias, cerca de 380 pessoas foram resgatadas por um barco de pesca e levadas para a ilha italiana da Sicília. Na cidade francesa de Calais, principal acesso à Grã-Bretanha, cerca de 3 mil imigrantes vivem em campos de refugiados improvisados, no que a ACNUR descreveu como "emergência civil". Já na Áustria, o governo parou de aceitar imigrantes no principal campo de refugiados do país, Traiskirchen. O estabelecimento, com capacidade para 1,5 mil pessoas, já abriga 4,5 mil refugiados, muitos dos quais dormem ao relento. O maior e mais antigo dos albergues na Áustria está agora sobrecarregado pelo fluxo massivo de refugiados e enfrenta o caos e a crise humanitária. 1.3. Histórico Do Abrigamento No Brasil No período colonial, a assistência a pessoas em vulnerabilidade social, principalmente crianças eram feitas pelos jesuítas, que além da questão humanitária, queriam atrair seguidores para o catolicismo, dessa forma pode-se dizer que a mesma tinha um caráter de caridade atrelado com interesses religiosos. Começam então a surgir asilos e abrigos para as crianças órfãs e filhos de escravos, que passam a circular pelo centro urbano. Nesse contexto a assistência passa a assumir uma postura de ordem e controle social, a fim de evitar a violência e criminalidade. Nas imagens a seguir, temos dois exemplos de asilos, João Emilio em Juiz de Fora (MG) e o antigo asilo dos meninos desvalidos no bairro de Vila Isabel (RJ) que atualmente é o Colégio Estadual João Alfredo. Figura 2. Asilo Joao Emilio. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/stricto/td/1756.pdf> acesso: 24/04/2018 Figura 3. Colégio Estadual João Alfredo. Disponível em: <https://cejahpm.wordpress.com/> acesso: 24/04/2018 http://www.historia.uff.br/stricto/td/1756.pdf https://cejahpm.wordpress.com/ 13 As políticas de habitação iniciaram-se no fim do séc. XIX, devido ao fim da escravidão e chegada dos imigrantes, esse processo gerou um aumento urbano e a infraestrutura das cidades não acompanhou o avanço, fazendo com que a população se organizasse em casarões no centro da cidade, o que originou o termo cortiço. De acordo com a professora e pesquisadora da Universidade de Viçosa – MG, Maria Isabel de Jesus Chrysostomo, no Brasil a partir dos anos 1880, uma verdadeira rede de hospedarias ao longo de sua costa. De norte a sul, são várias hospedarias de imigrantes que surgem: em Belém (Outeiro), Salvador, Vitória (Pedra d’Água e Alfredo Chaves), Rio de Janeiro (ilha das Flores e Pinheiro), Juiz de Fora (Horta Barbosa), Santos, São Paulo, Campinas, Paranaguá, Florianópolis (Saco do Padre Inácio) e Porto Alegre. Instaladas próximo aos pontos de translado dos fluxos migratórios, essas hospedarias aparecem como lugaresde transmutação, através dos quais os emigrantes transformam-se em imigrantes durante o seu curto tempo de estada. Este período das Hospedarias se estendeu até meados de 1930, nesses primeiros anos do séc. XX, a localização das hospedarias de imigrantes, possuía um duplo movimento: de um lado, as hospedarias instaladas nos portos marítimos, que formariam uma rede em torno da fachada atlântica, para controlar a entrada dos emigrantes, de outro, um conjunto de hotéis, casas e armazéns localizados no interior dos estados e que obedeceriam a outra lógica, a penetração no território de forma reticular, seguindo caminhos e estradas de ferro e os interesses dos grandes fazendeiros e negociantes. Posteriormente e ao longo do séc. XX período das grandes guerras mundiais observou-se que os fluxos migratórios internos superaram a imigração internacional. O país se fechou a partir dos anos 30, auge das discussões sobre controle eugênico da imigração, quando o governo Vargas estabeleceu formas de recrutamento internas e políticas de proteção ao trabalhador Nacional. A partir do final do sec. XX e inicio do séc. XXI os fenômenos migratórios se tornaram mais complexos. De acordo com os geógrafos Jorge Luiz Rapouso Braga 11e Jorge Karol12, o fim da Guerra Fria e a consolidação dos processos da globalização acentuaram as 11 Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (2015) 12 Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo- USP contradições no encaminhamento da temática dos refugiados, principalmente com a ascensão dos nacionalismos e dos conflitos étnicos ao lado dos problemas econômicos. Assim, temos um conjunto de questões responsáveis pela mobilidade das pessoas, seja pela violência praticada entre grupos de origem diferente, seja pelas mazelas socioeconômicas que obrigam o deslocamento de milhares de indivíduos por diferentes continentes. "Todo o ser humano precisa de abrigo e proteção contra as intempéries e outras agressões da natureza, e mesmo contra as agressões de seus semelhantes; precisa de privacidade e de abrigo para desenvolver sua vida individual, familiar e social" (VILLAÇA, 1986, p.9) São Paulo, figura como o estado que mais receberam imigrantes, sendo a capital o principal destino, apesar de outras cidades se tornam atraentes pela forte economia e oportunidades de emprego. Com base nos dados pela Casa do Migrante em São Paulo, muitos chegam ao país com uma proposta de trabalho, como é o caso de vários bolivianos, trazidos por familiares ou agenciadores para trabalhar nas oficinas de costura. Outros, porém, sem destino certo, são recebidos pela Pastoral do Migrante, no centro de São Paulo, uma das instituições responsáveis pela acolhida dos imigrantes na capital paulista. A Pastoral é um dos braços da Missão Paz, que é coordenada pela Igreja Católica do seguimento scalabriano. A igreja Nossa Senhora da Paz foi construída por imigrantes italianos em 1940. Assim, a instituição tem em sua gênese a acolhida, primeiro, da comunidade italiana que se reunia para cultivar suas raízes. Posteriormente, durante o regime ditatorial, a igreja começou a abrigar, em seu espaço, os exilados políticos latinos do regime militar. Porém, foi em 1977, a pedido de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, que o Centro Pastoral do Migrante passou a acolher imigrantes sul-americanos em busca de melhores condições de vida. A instituição também já abrigava a migração de brasileiros, em especial o fluxo da população nordestina. 14 Dessa forma, a entidade se tornou uma referência e aumentou a gama de serviços prestados à comunidade. Hoje, a Missão Paz é composta por quatro diferentes núcleos com finalidades distintas, Casa do Migrante, Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes, Centro de Estudos Migratórios e as paróquias Nossa Senhora da Paz, Latino Americana e Italiana. Através do ACNUR, identificamos que o ano de 2010 foi marcado por fluxos migratórios globais cada vez mais em caráter de refugio, nesse ano tiveram inicio os conflitos no Oriente Médio e África, conhecido como primavera Árabe, nesse período houve também um terremoto no Haiti o que levou mais de 38,5 mil pessoas a entrarem no Brasil ilegalmente pelo Acre. Em 2012 decretou-se vistos em caráter humanitário para os haitianos, o ACNUR já alertava sobre o aumento dos refugiados do Oriente Médio, deu-se a solicitação dos sírios, onde já em meados de 2013 todas foram aceitas. Mais recentemente os abrigos do Acre já não suportavam mais a demanda de pessoas, o governo então decide conveniar ônibus para as capitais de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grade do Sul, principais destinos. As mesmas não estavam preparadas e só após alguns meses os abrigos mantidos por entidades não governamentais mais organização. Os Sírios a partir de 2015 se tornaram a maioria no país, chegando a um total de 2.077 pessoas, além dos 45.607 haitianos que são registrados como refugiados. De acordo com o CONARE, No Brasil, 9.552 pessoas, de 82 nacionalidades distintas, já tiveram sua condição de refugiadas reconhecida. Dessas, 713 chegaram ao Brasil por meio de reassentamento e a 317 foram estendidos os efeitos da condição de refugiado de algum familiar. Desde o início do conflito na Síria, 3.772 nacionais desse país solicitaram refúgio no Brasil. Aumento da solicitação de refúgio por cidadãos venezuelanos: Apenas em 2016, 3.375 venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil, cerca de 33% das solicitações registradas no país naquele ano. 1.4. Histórico Da Arquitetura Emergencial: Abrigos Temporários A produção dos abrigos, temporários e portáteis, teve desenvolvimento crucial desde a primeira grande guerra mundial para uso militar, destacando-se o modelo criado pelo engenheiro canadense, o Capitão Nissen, “Esse grande sucesso se deveu ao fato de sua estrutura utilizar componentes fáceis de fabricar, intercambiáveis e obedecerem a uma coordenação modular, facilitando assim, sua montagem em campo” (ANDERS, 2007). Até a década de 70, embora tenha havido importante contribuição à arquitetura efêmera por grandes nomes como Frank Lloyd Wright13, Le Corbusier14, Alvar Aalto15, e os arquitetos do grupo Archigram entre outros, como afirmam Neto e Marum (s.d), essas tentativas apenas apontaram para futuros projetos na área da emergência, “Na realidade todas estas investigações e experiências nunca foram aplicadas à arquitetura de emergência. Eram linhas de produtos não acessíveis a todos. Nunca aplicadas às situações de emergência. Porque na realidade, não tinham sido concebidos para esse fim”. Da década de 70 em diante, inquietações instigaram estudos e alguns movimentos que produziram avanços específicos nessa área, como a preocupação com os materiais utilizados para esse fim e a necessidade das intervenções arquitetônicas. Ainda assim, Neto e Marum são categóricos em afirmar: “Apesar das várias tentativas em contribuir e investigar para melhorar a habitação pós-catástrofe, continua a ser a tenda de campanha, o abrigo de emergência mais utilizado pelas organizações intervenientes. Em parte, a justificação para o modelo de habitação-refúgio em situações pós-catástrofe se manter quase inalterada ao longo dos anos (apesar de várias tentativas de melhoramento), é, talvez, pelo fato de serem consideradas manifestações deslocadas e desvalorizadas pela crítica teórica da arquitetura, impedindo a continuidade das investigações. Contudo estes projetos dão-nos coordenadas valiosas que permitem recuperar e repensar a ideia de habitação pós-catástrofe”. (NETO; MARUM, s.d) 13 Arquiteto e Escritor – 1867-1959 Phoenix 14 Arquiteto, Escultor e Pintor – 1887-1965 - Suíça 15 Arquiteto – 1898-1976 - Finlândia 15 Em1996, em Wisconsin nos Estados Unidos, foi realizada a primeira conferência para abrigos emergenciais e estabeleceu-se que: “O acesso a abrigo básico e contextualmente apropriado é uma necessidade humana essencial. Os padrões para este abrigo podem variar dependendo do contexto cultural, da situação, do clima, e de outros fatores”. O Indivíduo que tem necessidade por um abrigo pode ser uma sobrevivente de um “desastre natural” ou de um conflito como guerras. Os materiais devem levar em conta o os perigos envolvidos na emergência em particular. Para esses casos existem materiais universais razoáveis como, lona plástica; material impermeável, resistente, flexível, e razoavelmente durável. Chapas de aço ondulado galvanizado também podem ser utilizadas. Atualmente é cada vez mais comum o uso de materiais disponíveis localmente, dessa forma se reduz o custo e fornecimento, além de serem familiares para os abrigados e a mão de obra. Os abrigos temporários da forma como são hoje implantados no mundo, e em especial no Brasil, dificilmente são destinados a uma consolidação progressiva e segura dos beneficiários, os quais podem permanecer anos num habitat vulnerável, além de consumirem recursos importantes que não contribuem à reativação da economia local (ONU-HABITAT, 2012). Os abrigos temporários tal como são administrados hoje no Brasil revelam-se como um misto de campo de concentração e campo de refugiado, um lugar que, numa perspectiva higienista, é criado para confinar os losers, ali privados do último fio de sua privacidade e dignidade como pessoa humana. Em seguida, brutalizando os que ali vivem em desesperança, os abrigos sofrem abandono pelo ente público – revelado pela diminuição das providências de atendimento imediato e também pelas providências de soluções habitacionais duradouras – culminando em estigmatização do grupo pela vizinhança que exige sua expulsão, a morte social levada ao paroxismo. (VALENCIO et al., 2009) Na verdade, a gestão dos abrigos temporários tem se processado como uma medida de reabilitação com crescente desumanização dos serviços inerentes em atendimento às providências de promoção social (VALENCIO et al., 2009). Nesse sentido, “abrigar após desastre” tem sido um campo de trabalho reconhecido pelo menos nos últimos 30 anos, e os sistemas e métodos para um abrigo de sucesso não está ainda claramente definido. 16 2. MORFOLOGIA QUANTO AS TIPOLOGIAS DE ABRIGOS E REFÚGIOS Estuda-se nesse capítulo a forma das tipologias, nas suas partes físicas, suas produções e transformações com o tempo. O contexto histórico e os aspectos exteriores do meio urbano e suas relações recíprocas definem e explicam a paisagem urbana e sua estrutura. Percebe-se que ao longo da história os abrigos para refugiados aumentam e se modificam devido a sua necessidade e demanda. Desde os tempos coloniais e época de Hospedarias no Brasil, observa-se que eram feitas para interação e representavam modernos territórios da espera. No primeiro momento (do início do século XIX até os anos de 1850), destaca-se os desafios enfrentados pelos poderes públicos para inventar formas espaciais de acolhimento aos colonos. Evidenciaremos a gênese, institucional e espacial, das primeiras estruturas: o barco, o armazém e o depósito. Percebe-se também, como o desafio de receber os emigrantes se desdobra na invenção e difusão de uma forma especializada para recepcioná-los. Compara-se essas hospedarias a “ilhas de espera” e interpreta-se seu papel na invenção de uma nova categoria social, o imigrante, símbolo manejado no discurso das elites para representar o Brasil moderno na belle époque.16 Posteriormente encontramos os abrigos que acolhiam de uma forma geral, os campos de concentração para refugiados devido a todo contexto politico social que se encontram e recentemente chegamos a construções que são pensadas novamente, assim como as hospedarias para acolher de forma funcional essas pessoas. Planejavam um esquema para melhor coordenar a chegada dos imigrantes e todo o processo de recepção e hospedagem. 16 A Belle Époque Brasileira, também conhecida como Belle Époque Tropical ou Era Dourada, vertente tropical da Belle Époque europeia. Foi um período de mudança artístico, cultural e político do Brasil, que começou em fins do Império e prolongou até fins da República Velha Figura 4. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100195>. Acesso em: 25/04/18. https://pt.wikipedia.org/wiki/Belle_%C3%89poque https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha 17 2.1. Hospedarias No Brasil – São Paulo Com base nos dados contidos no Dossiê Brasil no contexto global, (1870-1945) escrito pelas professoras Maria Isabel de Jesus Chrysostomo 17 e Laurent Vidal18 , São Paulo que recebeu a maior parte dos imigrantes a partir dos anos 1880, destaca-se a hospedaria do Brás, a mais luxuosa do Brasil. Foi construída em 1886, pela Sociedade Promotora de Imigração de São Paulo, instituição privada que se constituiu para gerir os recursos públicos advindos do governo geral e voltados para apoiar a imigração no estado. A localização da hospedaria, aliás, foi minuciosamente planejada, pois além de ficar ao lado dos trilhos da São Paulo Railway, deveria instalar-se num bairro afastado do Centro ou das áreas nobres (para não incomodar e dispor do espaço suficiente para a construção de um prédio de 10.000m²). O bairro do Brás foi escolhido por apresentar baixa densidade demográfica. No interior das imponentes muralhas, o arquiteto Matheus Häussler, de origem alsaciana, desenhou um edifício central cercado de várias dependências. 17 Professora e pesquisadora do Departamento de Geografia/Universidade Federal de Viçosa - MG 18 Professor do Departamento de História/Université de La Rochelle - França 1. Edifício Central: Administração e Dormitórios 7. Triagem Médica 2. Refeitório e Cozinha 8. Estação e Bagageiro 3. Enfermaria 9. Portão Principal 4. Hospital 10. Agência Oficial de Colocação 5. Depósito de Frutas 11. Agência Postal 6. Sanitários 12. Portão da Rua Almeida Lima Figura 5. Hospedaria de São Paulo. Scielo. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100195> 18 Simples e formal com cornijas e platibandas como recurso formal. As paredes de tijolo. Linhas básicas da composição marcadas por pilastras, janelas e portas enquadradas em arco pleno. Figura 6. Vista interior da Hospedaria. Disponível em: < http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_037_001_005_001.jpg> Acesso em: 24/04/2018 Figura 6. Fachada da Hospedaria do Imigrante – Sp. Disponível em: <http://passeiosbaratosemsp.com.br/5-bairros-em-sao-paulo-de-influencia-italiana-na-arquitetura/.> Acesso em : 25/04/2018 Figura 8. Varanda do prédio principal. Disponível em: < http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_002_004_031_001.jp g> Acesso em : 25/04/2018 http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_037_001_005_001.jpg http://passeiosbaratosemsp.com.br/5-bairros-em-sao-paulo-de-influencia-italiana-na-arquitetura/ http://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_002_004_031_001.jpghttp://www.inci.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_002_004_031_001.jpg 19 2.1.1. Hospedaria De Santos A construção teve origem no projeto do arquiteto Nicolau Spagnolo, que não foi integralmente obedecido. Eclético, com muitas características neocoloniais, utiliza a linguagem clássica na cornija central e no frontão com volutas da entrada principal. Embora a Hospedaria de imigrantes de Santos tenha sido idealizada para receber os imigrantes estrangeiros que chegavam ao Porto de Santos, o prédio nunca foi utilizado com essa finalidade. Na época de sua construção o fluxo migratório diminuíra, sendo os imigrantes diretamente conduzidos à seção competente, em São Paulo. PATIO CENTRAL Foi construído em um único corpo de estrutura, com tesouras metálicas, dispondo de torres na fachada principal e na esquina em ângulo chanfrado, com janelas de tijolos. Inscrito num retâng ulo de 110 x 87 m, compõe-se de duas alas distintas que formam um pátio central. São ligadas no pavime nto térreo. Com 6,20m de pé direito através do que seriam a cozinha e seus anexos. No andar superior, cujo pé direito tem 7 m e onde ficariam os dormitórios, eles são unidos por larga varanda, apoiada em pilar. Com 6,20m de pé direito através do que seriam a cozinha e seus anexos. Figura 9. Fachada Hospedaria de Santos. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100195>. Acesso em: 25/04/18. Figura 10. Planta Pav Térreo da Hopedaria de Santos. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-5 9702014000100195> . Acesso em: 25/04/18 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquiteto https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Nicolau_Spagnolo&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_ecl%C3%A9tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Neocolonial https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_cl%C3%A1ssica https://pt.wikipedia.org/wiki/Cornija https://pt.wikipedia.org/wiki/Front%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Voluta https://pt.wikipedia.org/wiki/Hospedaria_de_imigrantes https://pt.wikipedia.org/wiki/Santos https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_de_Santos https://pt.wikipedia.org/wiki/Constru%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Fluxo_migrat%C3%B3rio https://pt.wikipedia.org/wiki/Imigrantes https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(cidade) https://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%A2ngulo https://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%A2ngulo https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81trio_(arquitectura) https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81trio_(arquitectura) https://pt.wikipedia.org/wiki/Pavimento_flutuante https://pt.wikipedia.org/wiki/Pavimento_flutuante http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100195 20 Nesse momento encontram-se os primeiros registros de uma arquitetura pensada para integração social. 2.2. Tipologia Atual Dos Abrigos Provisórios No Brasil De acordo com a comunidade internacional de religiosos- Missão Paz19, em São Paulo um dos primeiros abrigos para refugiados é a Casa do Migrante, um ambiente que abrigam imigrantes e refugiados, por período indeterminado, até documentação e empregos serem conseguidos. Esse espaço conta com 110 leitos divididos em ala masculina e feminina, banheiros, área para as crianças e um grande espaço de confraternização. O Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) é o eixo legal, onde os imigrantes são atendidos por advogados e profissionais que vão regularizar a situação e depois promover encontros entre empregador e o imigrante, para tramitações de emprego. A Missão Paz é sustentada pela Igreja Católica e por doações de fiéis e de interessados. 19 A Missão Paz é uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados Figura 11. Planta Pav. Superior da Hospedaria de Santos. Disponível em: VARANDAS DORM HOMENS Figura 13. Disponivel em: <http://www.missaonspaz.org/casa-do-migrante>. Acesso em: 25/04/18. Figura 14. Disponivel em: <http://www.missaonspaz.org/casa-do-migrante> DORM MULHERE S Andar superior com pé direito de 7m e onde ficariam os dormitórios, eles são unidos por larga varanda, apoiada em pilar. Figura 12. Disponivel em: <http://www.missaonspaz.org/casa-do-migrante>. Acesso em: 25/04/18. Figura 14. Disponivel em: <http://www.missa onspaz.org/casa-d o-migrante> Acesso em: 25/04/18. http://www.missaonspaz.org/casa-do-migrante 21 Com base na reportagem da Jornalista Quésia Melo, no Acre- Brasil, um dos abrigos para imigrantes haitianos e senegaleses funcionava desde 2014 na chácara Aliança, em Rio Branco. Foi desativado recentemente. Um espaço grande no qual enchiam de colchões lado a lado passou a abrigar muito mais do que comportava. O número de imigrantes tem diminuído nessa região desde que o Brasil ampliou a emissão de vistos pelas embaixadas em Porto Príncipe (Haiti), Quito (Equador) e Lima (Peru). Em 2015, houve uma queda de 96% no número de haitianos ilegais que chegaram ao Brasil pelo estado. O abrigo provisório localizado no parque das exposições em Rio Branco continua ativo e segue com o projeto de acolhimento aos imigrantes refugiados. Conclui-se diante de tais instalações que se encontra aqui no Brasil, que estas se enquadram como, abrigos emergenciais, mal adaptados, que por sua vez excedem o tempo da emergência e tornam-se abrigos temporários, como acomodações em ginásios, escolas e tendas onde geralmente as regras de convivência são reformuladas e ditadas por um ente externo (o gestor do abrigo), podem conduzir, também, à deterioração da espacialização das relações comunitárias e privadas, dissolvendo-se umas nas outras e perdendo-se o direito à privacidade (VALENCIO et al., 2009). Segundo Valêncio (2009), tais situações colocam as famílias, restritas por regras formais e informais impostas, em constante estado de alerta e ansiedade frente à curiosidade alheia, sem condições de descanso e devaneio, e essa ausência de espaço físico privado impede que as práticas corriqueiras se reproduzam como hábitos, significando muito mais que a destruição material, mas também a decomposição do território, da vida familiar e da vida comunitária. 2.3. Tipologia Dos Abrigos Provisórios Para Refugiados No Mundo De acordo com a matéria da jornalista Marta Durán De Huerta, no jornal Mexicano Processo, o Centro em Triskirchen na Áustria como um primeiro grande exemplo internacional, era uma antiga escola militar uma construção grande e maciça, a ideia de abrigo é uma ideia temporária, estima-se que serve para um primeiro momento apenas, não é o caso de muitos imigrantes refugiados, pois existe além dos problemas burocráticos a inserção dos mesmos na sociedade. Os campos para refugiados nesse primeiro momento eram os abrigos ou espaços que já existiam, como o em Triskirchen, que dispunham das salas e espaços da antiga escola militar. Figura 16. Disponível em: <https://www.meinbezirk.at/zwettl/politik/asylanten-nach-zwettl-gemeinde-de mentiert-d725542.html> Acesso em: 25/04/18. Figura 15. Diponível em: <http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2016/03/abrigo-e-fechado-e-imigrantes-devem-s er-orientados-por-secretarias-no-ac.html> Acesso em: 25/04/18. https://www.meinbezirk.at/zwettl/politik/asylanten-nach-zwettl-gemeinde-dementiert-d725542.html https://www.meinbezirk.at/zwettl/politik/asylanten-nach-zwettl-gemeinde-dementiert-d725542.html 22 Hoje conta-se com mais campos para Refugiados em Triskirchen, esses lugares servem de abrigo imediato, sem grandes atividadespensadas para integração social dessas pessoas. Baseado nos dados divulgados no jornal The Guardian, Dadaab no Quênia, foi construído em 1992 para 90.000 refugiados que fugiram da guerra na Somália. Hoje, é o lar de cerca de meio milhão de pessoas, das quais 350.000 são refugiados registrados - uma área urbana do tamanho de Bristol, Zurique ou Nova Orleans. Trata-se de um campo literalmente, um espaço que seria de uso temporário se faz a moradia fixa dessas pessoas. Alojam-se em tendas ou barracas e demarcam seus limites através de cercas de espinhos, são alimentados farinhas, trigo e feijão, entre outros que denominam-se de rações. 2.4. Abrigos Para Refugiados No Contexto Da Arquitetura Emergencial Considera-se a arquitetura emergencial como uma solução plausível devida o aumento pela procura de abrigos e refúgios atualmente. O abrigo temporário possui suas implicações de projeto devido a sua transitoriedade então, analisam-se dentro dessa produção arquitetônica, questões imprescindíveis como a da habitabilidade, transportabilidade e sustentabilidade, o que torna ainda mais complexa esta modalidade de projeto. Como assim analisa Daniel Paz20: Cabe dizer que à arquitetura portátil recaem incumbências mais severas que na arquitetura sedentária. Pois ninguém pode negar que o desgaste do material é maior com seu contínuo movimento. E que essa construção, ainda assim, não pode descurar daquelas qualidades elementares que buscamos no ambiente construído, perene ou temporário. (PAZ, 2008). As estruturas portáteis podem desempenhar funções que estruturas fixas não podem são empregadas rapidamente em locais de difícil acesso e podem ser reutilizadas em outras situações. Entretanto não devem levar em consideração apenas os aspectos econômicos em relação à produção e os logísticos em relação ao transporte e armazenamento, mas também os sociais, econômicos e culturais da sociedade a qual se prestará o refúgio No inicio da Primeira Guerra Mundial os soldados ainda eram acomodados em barracas, embora já houvesse planos na Europa para abrigos portáteis. Os primeiros abrigos tinham estrutura de madeira, eram pesados de montagem complicada e difícil transporte, o aparecimento do Abrigo Nissen Hut, desenvolvido por um canadense, Capitão Nissen21, substituiu todos os abrigos até então desenvolvidos. 20 Daniel J. Mellado Paz é arquiteto e urbanista, Mestre em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA. 21 Peter Norman Nissen foi um engenheiro de Minas e oficial do exército na Primeira Guerra Mundial Figura 17. Campo de refugiados de Traiskirchen, na Áustria. Disponível em: <https://twitter.com/Cardoso/status/973904243508830208> Acesso em: 25/04/18 Figura 18. Diponível em: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/738522/anulado-encerra mento-do-campo-de-refugiados-de-dadaab Acesso em: 25/04/18. http://www.unhcr.org/pages/49e483a16.html https://www.noticiasaominuto.com/mundo/738522/anulado-encerramento-do-campo-de-refugiados-de-dadaab https://www.noticiasaominuto.com/mundo/738522/anulado-encerramento-do-campo-de-refugiados-de-dadaab 23 O abrigo era produzido a partir de uma cobertura semicircular e os dois fechamentos, sendo um com duas janelas e uma porta. Durante a Segunda Guerra Mundial houve grande escassez de aço que era consumido pela indústria bélica, na produção de armas. Essa situação forçou novas pesquisas para a utilização de materiais para os abrigos, e com o pós Guerra, as construções retomaram-se usando novas tecnologias e deu inicio a uma variedade de respostas em termo de projeto, ao problema do refugiado. Influenciados pelo processo de pré-fabricação, e da possibilidade da produção em massa, alguns arquitetos inovadores produziram inúmeros projetos de abrigos portáteis. Na década de 40 o arquiteto alemão Buckiminster Fuller22, desenvolveu a Wichita House, que mostrava algumas características na edificação portátil de uso militar. Deveria ser produzida em massa e seus componentes não pesavam mais que 5kg, sua montagem poderia ser feita por seis pessoas em apenas um dia. 22 Foi um visionário, designer, arquiteto, inventor e escritor – 1895-1983 , Los Angeles Figura 20. O Abrigo Portátil Nissen Hut, de 1917. Elevação e seção de um abrigo típico. Fonte: KRONEMBURG, 1995. Acesso em 08/05/2018 Figura 19. Fonte: disponível em: <http://www.ibiblio.org/hyperwar/USA/USA-E-Logistics1/img/USA-E-Logistics1-p25.jpg> Acesso em : 08/05/2018 Figura 21. Fonte: KRONEMBURG, 1995. Acesso em 08/05/2018 Chapas de ferro intercambiável e piso de madeira. Continham dimensões de 8,2m por 4,9m, podia ser montado em até 4 horas por 4 homens, precisando apenas de uma chave de boca. Um dos protótipos foi montado em 1946 na cidade Wichita, em Kansas EUA. Somente em 1992 foi transportada para o museu Henry Ford, em Michigan. http://www.ibiblio.org/hyperwar/USA/USA-E-Logistics1/img/USA-E-Logistics1-p25.jpg 24 Em 1961 arquiteto Cedric Price23, propôs um esquema que pudesse alcançar flexibilidade e portabilidade aplicando conceitos de arquitetura industrial. Esse esquema para o Fun Palace consistia no uso de uma arquitetura espacial de aço, que continha auditórios suspensos, onde os pisos, paredes, coberturas, e passarelas eram móveis. Haviam gruas que permitiam manipular os componentes do edifício. Esse centro comunitário de aproximadamente 2.000 m² foi projetado para ser um espaço capaz de sofrer inúmeras alterações em seu layout. 23 Arquiteto Inglês formado na Universidade de Cambridge – (1934-2003) Figura22. Fonte: Disponível em: http://www.archinect.com/forum/threads.php?id=7770_0_42_0_C Acesso em: 08/05/2018. Estruturas de aço Paredes móveis que podiam formar vários ambientes diferentes Gruas que facilitavam a movimentação das paredes, pisos e coberturas. A característica da Arquitetura Industrial trouxe a racionalização e padronização dos processos de construção. Estrutura que é dependente do manejo para se fizer funcional e criar a identidade da edificação. http://www.archinect.com/forum/threads.php?id=7770_0_42_0_C 25 2.4.1. Modular Atualmente contamos com exemplos de abrigos emergenciais como o Module, compreende unidades que são entregues praticamente para uso, não necessitam ser montadas. Nesse sistema encontram-se duas formas, as que já estão prontas e somente necessitam de ligação para as redes de esgoto e eletricidade; e a outra forma que são as modulares que devido a necessidades específicas podem se ligar uma com as outras, aumentando o tamanho. Os materiais mais usados nesses exemplos são o aço e a madeira, mais recentemente usa-se também o plástico e a fibra. 2.4.2. Flat-Pack Essas unidades são similares ao sistema Module, a grande diferença é com são entregues, todos os componentes que integram a unidade estão desmontados, o seu tamanho quando transportado é muito menor. Figura24. Fonte: Disponível em: <https://www.army-technology.com/contractors/field/mobile-medical/ > Acesso em: 10/05/18. Figura 23. Fonte: Disponível em: https://www.army-technology.com/contractors/field/mobile-medical/ Acesso em : 10/05/2018. Figura 25. Disponível em: <https://www.army-technology.com/company-a-z>Acesso em: 10/05/2018 https://www.army-technology.com/contractors/field/mobile-medical/ https://www.army-technology.com/contractors/field/mobile-medical/ https://www.army-technology.com/company-a-z 26 2.4.3. Tensile 2.4.4. Pneumatic Figura 26. Fonte: Disponível em: <https://www.army-technology.com/company-a-z> Acesso em : 10/05/2018. Figura 27. Fonte: Disponível em: <https://www.army-technology.com/company-a- z> Acesso em : 10/05/2018. Esse método é o mais. Nada mais é que uma armação rígida que sustenta uma fina membrana, ou seja, as tendas. Geralmente as estruturas são de aço ou alumínio que trabalham a compressão, e uma membrana tensionada presa à armação, que pode ser lona ou um composto de poliéster PVC. As estruturas pneumáticas ou infláveis funcionam semelhantes às tensionadas, esse sistema permitem estruturas de grande porte, mais leves, fáceis de transportar e montagem rápida. Existem algumas resistências como, o esvaziamento acidental e o carregamento exercido pelo vento, é necessário dispor de suprimento de energia constante. Figura 28. Disponível em: <https://www.army-t echnology.com/com pany-a-z>. Acesso em: 10/05/2018. Figura 28.. Fonte: Disponível em: <https://www.army-technology.com/company-a-z> Acesso em : 10/05/2018. https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z https://www.army-technology.com/company-a-z 27 2.5. Protótipo Puertas Projetado pelo escritório de arquitetura chileno CUBO, a ideia básica desse projeto é melhorar as condições de conforto das habitações de emergência utilizadas atualmente em situações de desastre. Seu objetivo foi construir um sistema de habitação de emergência utilizando produtos padronizados e presentes em grandes distribuidores de materiais de construção, para que fossem encontrados em qualquer cidade. Esse sistema abria mão dos pré-fabricados e possuía o diferencial relacionado a estética, como forma bastante familiar, ou seja, agradável à população atendida, sendo dotada, inclusive, de uma varanda que estimula o convívio familiar e a interação com a vizinhança, tradicionais na cultura nacional chilena. Os componentes para a construção de piso, parede, teto e telhado foram recebidos diretamente dos distribuidores, utilizando tecnologia acessível e de forma construtiva de fácil entendimento. O tempo aproximado de montagem é de oito horas, com uma equipe de sete pessoas, e o desarmamento leva cerca de quarenta e cinco minutos. O projeto prevê um tempo máximo de uso, estimado em três meses. A configuração do espaço é bastante eficiente: a unidade é composta por dois cômodos separados, um para dormir e outro para atividades, entres eles uma varanda de acesso à habitação e de relação ao contexto. O projeto evidenciou a preocupação de tornar o abrigo autosuficiente: cobertura de sombreamento, ventilação, convecção e coleta de água da chuva. Figura 30. Disponível em: http://www.cuboarquitectos.cl/home.html Acesso em : 10/05/2018. Figura 31. Disponível em: http://www.cuboarquitectos.cl/home.html Acesso em : 10/05/2018. Figura 23. Fonte: Disponível em: http://itek-usa.com/emergency/ Figura 29. Disponível em: http://www.cuboarquitectos.cl/home.html Acesso em : 10/05/2018. http://www.cuboarquitectos.cl/home.html http://www.cuboarquitectos.cl/home.html http://itek-usa.com/emergency/ http://www.cuboarquitectos.cl/home.html 28 Com o estudo morfológico, percebe-se que, as hospedarias foram um dos primeiros projetos pensados de forma a incentivar a integração dos imigrantes e refugiados, se fazem bons exemplos de um caminho a ser seguido para futuros centros de acolhimento. Com base nas análises, os abrigos atuais não são planejados e preparados para receber os refugiados, se fazem de galpões livres, ou escolas desativadas, ou seja, em espaços que não foram pensados para tal finalidade, são alojados onde “dá”, falta recurso para uma análise morfológica diante de tal realidade, não temos muitos exemplos de abrigos e refúgios pensados e projetados para que se estudem de forma completa suas formas e tecnologias. Já na arquitetura emergencial, encontramos bons exemplos de uma arquitetura que busca a mobilidade, que pensa na questão da sustentabilidade e no uso de materiais locais e de fácil acesso, de uma forma prática e simples, pensada para fácil montagem e desmontagem e que progressivamente trazem projetos que já se conseguem pensar não só na questão básica do abrigar, mas também na questão social de integrar e acolher. E que se faz essencial pelo fato de poder ser útil em vários locais, exatamente por não ser fixa, e acredito que essa é uma forma plausível de ajudar os refugiados de todas as maneiras, principalmente os que fogem de tragédias naturais. Usamos de todo esse estudo, para chegar no nosso objetivo, que é unir a arquitetura funcional e sustentável com a carência social dos refugiados na cidade de São Paulo, é juntar o útil ao agradável de maneira integra e inclusiva para a cidade e para essas pessoas. Um centro de acolhimento fixo que seja exemplo de planejamento arquitetônico e de interação aos prejudicados. Figura 32. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/119490/junq ueira_mg_tcc_prud.pdf?sequence=1> pg 55. Acesso em: 10/05/18. https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/119490/junqueira_mg_tcc_prud.pdf?sequence=1 https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/119490/junqueira_mg_tcc_prud.pdf?sequence=1 29 2.6. O Fator Arquitetura: A Integração Social E Do Espaço Com base nos estudos deste trabalho, toma-se conhecimento sobre a diversidade no contexto do refugiado, sabemos que ela traz a riqueza da mistura, do complementar, do diverso. De acordo com Van Gehl24, a diversidade é expressa nas diferentes etnias, idades, rendas, usos, tipologias, que animam o cenário urbano. Conectando-se a dois elementos fundamentais à qualidade de vida urbana: a identidade e a coexistência. Essa identidade que o escritor diz, é o que gera o sentimento de pertencimento, a referência que nos orienta enquanto cidadãos. Para os Smithsons25 (1953), o objetivo do urbanismo é a compreensão, ou seja, a claridade de organização. Assim, o urbanista deve entender e capturar as características que formam a identidade de uma aglomeração humana e prover uma estrutura particular para que a interação entre as pessoas seja possível. Para cada comunidade em particular deve-se definir a sua estrutura e as suas subdivisões. Somente alterando a escala do macro para o micro é que o urbanista poderá sentir e compreender o que deve ser feito na estrutura urbana, para criar a forma das subdivisões de uma comunidade. Para os autores, deveria haver um programa básico para habitação que considerasse as atividades da família, considerando-as individualmente e em associação umas com as outras. As atividades que acontecem na rua são as que estabelecem a identidade da comunidade; a quebra desta acaba por eliminar qualquer possibilidade de uma ligação social e comunitária. Assim, tanto no projeto arquitetônico, como nas diretrizes de implantação das unidades habitacionais e das outras unidades de uso coletivo, serão privilegiados os espaços que possibilitem e promovam a ligação social e comunitária. 24 Jan Gehl é um arquiteto e urbanista dinamarquês, professor universitário
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