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É a área da toxicologia que estuda as condições em que alimentos podem ser ingeridos sem causar danos ao organismo. Alimento: mistura de substâncias capaz de fornecer nutrientes plásticos, energéticos e biorreguladores para a manutenção da vida. Nutriente: Composto contido no alimento com efetivo valor energético, plástico e biorregulador. Não-nutrientes: Substâncias que frequentemente estão presentes nos alimentos como resultado do processamento, armazenamento ou naturalmente presentes. O que são alimentos? São misturas complexas de nutrientes e não-nutrientes. Nutrientes • Macronutrientes: carboidratos, proteínas e lipídeos. • Micronutrientes: vitaminas e minerais. Não-nutrientes: • Substâncias que ocorrem naturalmente: HCN = Mandioca. • Contaminantes: Aflatoxinas. • Aditivos alimentares: Corantes, conservantes, outros. Podem ser agentes tóxicos!!! Objetivo da Toxicologia de Alimentos: • Definir limites (LMP) e condições de exposição seguras à agentes tóxicos na ingestão de alimentos (IDA). • Limite máximo permitido (LMP): É a máxima concentração de um não-nutriente presente em um alimento, que pode ser consumido por um indivíduo, durante toda a sua vida, sem que este agente tóxico possa causar efeitos nocivos. • Ingestão diária aceitável (IDA): É a quantidade de um agente químico presente no alimento que pode ser ingerido através da dieta, diariamente, durante toda a sua vida, sem provocar risco de intoxicação. NOEL = Nível de Efeito Não Observável Dose experimental na qual não tenham sido observados efeitos adversos da substância avaliada sobre a espécie animal mais sensível, expressa em mg/Kg de peso corpóreo. IDA = Dose Extrapolada para o homem = uso de fatores (100, 1000) IDE = Ingestão Diária Estimada = concentração do AT no alimento x quantidade ingerida em um dia Ex: Um alimento contem 10 mg de um composto/grama. Uma pessoa (70 kg) ingere 140 g/dia do alimento. Sua ingestão diária será de 1400 mg/dia. Se a IDA deste composto for de 1 mg/Kg peso /dia, indica que esta pessoa pode desenvolver intoxicação (1400/70 = 20mg/kg peso dia) Fatores que promovem o risco de intoxicações por alimentos: • Natureza e concentração do não-nutriente presente no alimento • Freqüência em que o alimento é ingerido • Tempo no qual o alimento vem sendo ingerido • Susceptibilidade do organismo Absorção A lipossolubilidade e o tamanho da molécula do toxicante são fundamentais para que ocorra absorção do agente tóxico. Mecânismos de transporte através da membrana: A lipossolubilidade de ácidos e bases fracas é diferente no estômago e intestino (é dependente do pKa da substância e do pH da solução). Fatores que afetam a absorção por via oral: • Lipossolubilidade da fração não dissociada • Estado de plenitude/vacuidade gástrica • Tempo de permanência com as diferentes regiões • Dissolução no suco gastrointestinal e tamanho da molécula • Alteração da molécula nos sucos gástrico e intestinal Distribuição A distribuição depende: • Fluxo sanguíneo • Tamanho da molécula • Lipossolubilidade da molécula • Afinidade à células alvo Absorção nas células alvo ocorrerá por: difusão simples, transporte facilitado, transporte ativo ou pinocitose. Eliminação Os agentes tóxicos podem ser removidos do organismo por duas formas: • Excreção (fezes, urina, ar expirado) • Secreção (láctica*, sudorípara, salivar, lacrimal) Não nutrientes tóxicos Naturalmente presentes nos alimentos Adicionados nos alimentos • Contaminantes diretos – devido a processos naturais (ambientais) • Contaminantes indiretos – não permitidos, mas utilizados Naturalmente presentes nos alimentos: • Glicosídeos cianogênicos • Glicoalcalóides • Glicosinolatos • Oxalatos • Nitratos • Carcinógenos • Agentes produtores de flatulência Não nutrientes tóxicos adicionados nos alimentos Contaminantes alimentares – toda substância que não seja um dos seus componentes naturais, tornando-se parte do alimento durante a sua produção, processamento e armazenamento, e que pode trazer risco à saúde. Podem ser diretos ou indiretos. Origem de não-nutrientes tóxicos adicionados nos alimentos – são substâncias ou misturas de substâncias adicionadas aos alimentos com a finalidade de conferir ou intensificar as propriedades organolépticas, como também, modificar o seu aspecto geral e prevenir alterações indesejáveis. São conhecidos como ADITIVOS. Não nutrientes tóxicos naturais dos alimentos GLICOSÍDEOS CIANOGÊNICOS (Mandioca) – compostos por uma porção denominada Glicona (açúcar) e uma Aglicona (não-açúcar). Hidrólise –> açúcar e HCN. GLICOALCALÓIDES (batata, berinjela, tomate) Solanum tuberosum L. > chaconina e solanina Alterações hemolíticas e hemorrágicas no TGI e retina. Possível atividade anticolinesterásica. GLICOSINOLATOS (Alface, repolho, couve-flor, alho) Hidrólise –> SCN- –> Interferência do metabolismo do iodo Redutor da captação do iodo pela tireóide = Ação Bociogênica OXALATOS (Espinafre, cenoura, feijão, beterraba) [ ] –> Irritabilidade SNC – hipocalcemia. Obstrução nos túbulos renais NITRATOS (Espinafre, berinjela, aipo, beterraba) Metemoglobinizantes Compostos N-nitrosos AGENTES PRODUTORES DE FLATULÊNCIA (feijão, soja) Oligossacarídeos rafinose e estaquiose COMPOSTOS QUÍMICOS CARCINOGÊNICOS NATURAIS (sassafráz, pimenta negra) Alcalóides pirrolizidínicos, cicasina, safrol, piperina. Glicosídeos cianogênicos O que são glicosídeos? São compostos constituídos por duas porções: uma porção “açúcar” constituída de carboidratos e outra porção “não açúcar” denominada aglicona. O que são glicosídeos cianogênicos? • Apresentam cianidrinas na porção aglicona • Uma característica química importante dos glicosídeos é a facilidade com que sofrem hidrólise em meio ácido. • As plantas cianogênicas consumidas pelo ser humano que apresentam mais de 20 mg de HCN por 100 g de peso são consideradas de alto risco de intoxicação. 0,5 a 3,5 mg de HCN / Kg peso corpóreo pode levar à morte em minutos • As folhas, caules e raízes de mandioca fresca contêm os glicosídeos linamarina e lotaustralina que, ao sofrer hidrólise, libera o ácido cianídrico. • Duas enzimas estão envolvidas no processo de liberação do ácido cianídrico: ➢ a ß-glicosidase: que hidrolisa a molécula para cianidrina e açúcar ➢ a hidroxinitrilase: que promove a dissociação da cianidrina em acetona e HCN • Esta reação ocorre quando o tecido vegetal é triturado, como no processamento ou na ingestão, permitindo o contato entre o substrato e a enzima. Mecanismo de ação do cianeto • Impede a transferência de elétrons da molécula de O2 pela cadeia respiratória • Fosforilação oxidativa e metabolismo aeróbico são comprometidos, promovendo hipóxia citotóxica. Exposição crônica à glicosídeos cianogênicos Promove consequências diversas: • Neuropatia atáxica tropical (TAN): Mielopatia, atrofia óptica bilateral, surdez bilateral e polineuropatia. Pode estar acompanhada pela doença de Parkinson e por degeneração cerebelar, psicoses e demência Fator de aparecimento do bócio: tiocianato provoca alterações no metabolismo da tireóide dificultando a retenção do iodo. Tratamento da intoxicação aguda (antídotos): 1) O Nitrito de Sódio converte a hemoglobina em metemoglobina. NO2- + HbFe++ –> HbFe+++ O CN- apresenta maior afinidade ao íon Fe3+ da metemoglobina ao do citocromo a3. Ocorre formação de cianometemoglobina que lentamente é eliminado do organismo por ação da rodanase. 2) O tiossulfato de sódio (injetável) pode também ser empregado. Aumenta a atividade da rodanase que biotransforma CN- em SCN-, que lentamente é eliminado na urina. Na2S2O3 + CN –>rodanase–> SCN- 3) Emprego de cobalaminas (Co++ ligado a vitamina B12): O CNapresenta afinidade e se liga ao Co++ . É o tratamento menosnocivo, porém só efetivo em intoxicações menos graves. Fatores que minimizam o risco das intoxicações • Cozimento • Detoxificação natural pela rodanase (tiossulfato sulfotransferase) • Detoxificação natural pela reação com hidroxicobalamina (Vitamina B12a) formando cianocobalamina (vitamina B12) Métodos analíticos Hidrólise enzimática (=autólise – para planta crua) ou hidrólise ácida das amostras seguidas de determinação colorimétrica com emprego do reagente de picrato alcalino. Glicosinolatos Glicosinolatos = glicosídeos tiocianogênicos = tioglicosídeos Compostos que oferecem o sabor picante a alimentos diversos (mostarda=sinigrina; nabo= pró-goitrina). Sintetizados a partir de aminoácidos: • Triptofano: indolglicosinolatos • Fenilalanina: benzilglicosinolato • Tirosina: p-hidroxibenzilglicosinolato Agentes bociogênicos que podem ser liberados pela hidrólise dos glicosinolatos: • Goitrina: reduz captação de iodo pelas tiroxinas • Tiocianatos: SCN- inibe a captura de iodo pela tireóide • Isotiocianatos: convertidos a SCN- atuam inibindo a captura de iodo pela tireóide Glicoalcalóides São metabólitos secundários de algumas plantas do gênero Solanum sp.: • A batata (S. tuberosum) é rica em solanina e chaconina Porção aglicona – solanidina. – • A “fruta do lobo” (S. lycocarpum) é rica em solamargina e solasonina. Porção aglicona – solasodina. • Os glicoalcalóides são derivados biosintéticos do colesterol. As batatas (S. tuberosum) adequadas para o consumo apresentam aproximadamente 2,5-15mg de glicoalcalóides por 100g de tubérculo fresco. Os glicoalcalóides α-solanina e α-chaconina compreendem 95% dos alcalóides presentes na batata. Esses glicoalcalóides são termoestáveis. Intoxicação (ingestão de solanina e chaconina): • Sintomas gastrointestinais e neurológicos – Alterações hemorrágicas no TGI apresentam atividade anticolinesterásica • 38-45mg de solanina por 100g de batata provoca intoxicação fatal em seres-humanos Oxalatos, O ácido oxálico está presente em diversos alimentos (espinafre, beterraba, feijão, alface, amendoim, cacau, chá, cenoura) na forma de oxalatos solúveis (de sódio e de potássio) ou insolúveis (de cálcio). O cozimento elimina apenas os oxalatos solúveis. 2-6% dos oxalatos ingeridos são absorvidos. 98-94% eliminados nas fezes ou degradados por flora intestinal. Os absorvidos são eliminados inalterados na urina em até 24h Hipótese de mecanismo de ação tóxica: Plantas com elevados teores de oxalatos prejudicam absorção de cálcio. Por que? Formação de oxalato de cálcio no TGI diminui a absorção de cálcio • Irritação gástrica em exposição aguda. • Hipocalcemia e raquitismo em exposição crônica pela combinação de oxalato com o cálcio sérico • Ardor, dores, náuseas e vômitos. • Irritabilidade do SNC com convulsões crônicas • Irritabilidade de músculos esqueléticos com fibrilação O oxalato de cálcio provoca obstrução dos túbulos renais. Os cristais depositados causam hematúria e dores. Cronicamente pode provocar cálculos renais. Nitratos NITRATOS (Espinafre, berinjela, aipo, beterraba) Aditivo de alimentos – conservação, cor e sabor Nitrato na água – 50mg/L – OMS 10mg/L – Brasil Nitrato em alimentos IDA < 3,7 mg/kg/dia Cuidado pois os íons nitrato convertidos em nitrito são metemoglobinizantes e ainda podem formar compostos N- nitrosos ao reagirem com aminas/amidas presentes em alimentos em pH ácido. Agentes produtores de flatulência Leguminosas + intestino = fermentação = gases (CO2 + H2 +CH4 ) Ex: feijões, soja. Oligossacarídeos: rafinose e estaquiose. São α-galactosídeos da sacarose No intestino: enzimas hidrolisam os oligossacarídeos na posição α -D-Gal- (1→6). Partes finais do intestino: AUSÊNCIA de enzimas = acúmulo e fermentação dos oligossacarídeos = GASES –> Flatulência + dores abdominais + desconforto + náuseas + diarréia + rumores intestinais + ejeção de gases O cozimento dessas leguminosas parece reduzir significativamente o conteúdo de oligossacarídeos produtores de gases. Carcinógenos químicos naturais São não-nutrientes danosos para quem os ingere. Sintetizados pelas plantas para proteger contra ataques de pragas. Substâncias carcinógenas encontradas em vegetais usados na alimentação humana: • Alcalóides (alcalóides pirrolizidínicos) • Glicosídeos (cicasina) • Fenóis (safrol, piperina). Alcalóides pirrolizídinicos: • São mais de 100 compostos diferentes conhecidos encontrados em diversas espécies de plantas • Produzem mutação e câncer hepático: ➢ Ingestão da erva como alimento ➢ Ingestão de chás feitos com suas folhas • Sofrem bioativação hepática: epóxidos por oxidação de enzimas cit P450 Senécio sp. / Crotalaria sp. / Helotropium sp –> por estarem em pastagens são de maior interesse na pecuária (intoxicação de animais de criação). Symphytum sp.: Symphytum officinale = confrei Uso na medicina popular como chá parece ter causado câncer de bexiga e hepático. Cicasina (Cicadaceae sp.) É um pseudoglicosídeo cianogênico = ß-glicosídeo metilazoximetanol Safrol (3,4-metilenodioxialilbenzeno) Presente em óleos essenciais, principalmente do Sassafrás. Possível ação mutagênica e carcinogênica em roedores: banido da alimentação humana nos EUA em 1958. • Foi usado como aditivo intencional sensorial (saporífico) = adocicado Piperina Presente na pimenta preta que contem pequena quantidade de safrol. A piperina possui a mesma ação mutagênica e carcinogênica do safrol.
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