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INTRODUÇÃO Os fatores antinutricionais são aqueles compostos presentes em uma vasta variedade de alimentos de origem vegetal. Quando ingeridos em altas concentrações, podem reduzir sensivelmente a biodisponibilidade de aminoácidos essenciais e minerais, além de também estarem associados a lesões do trato gastrointestinal e consequente perda de sua capacidade funcional normal. Os antinutrientes estão distribuídos em diversas classes, agindo de diferentes maneiras sobre o metabolismo de proteínas e minerais. Existe uma diversidade de fatores antinutricionais. Eles podem ser classificados como: inibidores de proteínas, oxalatos, taninos, nitritos, dentre outros. Cada tipo de substância antinutricional tem um efeito diferente em nosso organismo. Algumas, como os inibidores de proteases (presentes em leguminosas, como a soja), agem ligando-se às enzimas responsáveis por digerir proteínas, impedindo que estes nutrientes sejam absorvidos. Deste processo pode decorrer uma sobrecarga do pâncreas, órgão que as produz. Há também as que ligam-se aos substratos, a exemplo dos fitatos, e formam complexos com íons metálicos, diminuindo assim a absorção de minerais. Também existem fatores antinutricionais que se acumulam diretamente em algum órgão. É o que acontece com alguns oxalatos, que se acumulam nos rins e facilitam o surgimento de cálculos renais. Outros agem como toxinas em nosso organismo, podendo vir a gerar doenças com o efeito cumulativo, caso dos nitratos, ou mesmo causar envenenamentos, como acontece com doses elevadas de glicosídeos cianogênicos (presente na mandioca “brava”, por exemplo). Os taninos é uma substância química encontrada no grupo de fenóis vegetais. Este elemento pode ser encontrado em sementes, cascas e caules de frutos verdes. Por conta do sabor amargo que provoca, é um grande aliado para proteger plantas e frutos dos animais herbívoros. Polifenóis são substâncias naturais encontradas em plantas, como exemplo têm-se os flavonóides, taninos, lignanas, derivados do ácido caféico, dentre outras. Muitas destas substâncias são classificadas como antioxidantes naturais e possuem propriedades terapêuticas, estando presentes em alimentos e plantas medicinais. Os taninos são compostos fenólicos encontrados nas plantas, capazes de formar um complexo com as proteínas, tornando-as insolúveis. Esta reação inativa as enzimas responsáveis pela quebra deste macronutriente e, portanto, dificulta sua absorção pelo organismo. Além das proteínas, os taninos também parecem interferir na absorção de ferro e influir na cor e sabor de alguns cereais e leguminosas. Entre os compostos fenólicos, os taninos são considerados como antinutrientes por causa do efeito adverso na digestibilidade da proteína. Nas dietas para seres humanos e espécies de animais monogástricos, taninos podem reduzir a digestibilidade da proteína, carboidratos e minerais; diminuir a atividade de enzimas digestivas, além de causar danos à mucosa do sistema digestivo ou exercer efeitos tóxicos sistêmicos. Apesar disso, o potencial antioxidante e terapêutico dos taninos tem sido evidenciado em alguns estudos, sendo necessário maiores aprofundamentos a respeito do seu real papel na nutrição humana. Nitratos e nitritos podem estar presentes naturalmente, nos alimentos de origem vegetal e animal e na água, em decorrência do uso de fertilizantes na agricultura. As principais fontes de exposição alimentar a nitratos e nitritos incluem os vegetais, produtos cárneos, peixes e aves processados e defumados, aos quais se adicionam nitratos e/ou nitritos. O nitrato é uma substância naturalmente presente nos vegetais devido ao uso de fertilizantes na agricultura, sendo responsável por fornecer o aporte de nitrogênio necessário ao desenvolvimento normal das plantas. Seus níveis variam de acordo com as condições de cultivo, colheita e armazenamento. Também está presente em alimentos de origem animal, mas na forma de conservante. O nitrato em si presente nos vegetais não é toxico ao ser humano, por outro lado, quando presente em quantidades excedentes, seus metabolitos como nitritos e nitrosaminas podem ocasionar consequências severas ao organismo, incluindo o câncer. Além do risco de formação de nitrosaminas, a exposição a nitratos tem sido associada à síndrome da morte infantil súbita. Níveis altos de nitrato nos alimentos ou na água prejudicam o transporte de oxigênio no sangue, especialmente em crianças, devido ao surgimento de metamioglobinemia. Os nitratos são convertidos em nitritos, os quais convertem a hemoglobina a metamioglobina, o que afeta o transporte de oxigênio. Crianças com menos de 6 meses de vida são mais sensíveis à metamioglobinemia, que pode levar à anoxia e morte. O oxalato é uma substância frequentemente encontrada em vegetais, principalmente em folhas verdes, mas também produzida endogenamente pelo organismo. Este composto não pode ser metabolizado pelo organismo humano e quando em excesso, pode ocasionar sérios danos à saúde. Sua capacidade de quelação com o cálcio possibilita a formação de oxalatos de cálcio (complexos insolúveis indisponíveis para absorção), que além de prejudicar a metabolização normal do mineral, propiciam maior risco na formação de cálculos renais. O oxalato não pode ser metabolizado pelos humanos e é excretado na urina. A elevada quantidade de oxalato na urina aumenta o risco da formação de cálculos de oxalato de cálcio nos rins, pois o oxalato de cálcio é pouco solúvel na urina, podendo também causar irritações na mucosa intestinal. Alimentos com elevada quantidade de oxalatos, como o espinafre e a carambola (180-730 mg/100g) não são recomendados para pessoas com tendência a formação de cálculos renais e com outros problemas relacionados a estes tipos de sais, como a artrite, o reumatismo e a gota. Os fitatos são derivados do ácido fítico ou ácido hexafosfórico mioinositol, é a principal forma de armazenamento de fósforo nas plantas, estando presente principalmente em leguminosas, cereais, sementes, oleaginosas e nozes. O fitato acumula-se nas plantas durante o período de maturação e é considerado um importante agente antinutricional, já que inibe a absorção de minerais essenciais como ferro, zinco, cálcio, magnésio e manganês. Com habilidade de formar quelantes com íons divalentes, tais como o cálcio e magnésio, formando complexos solúveis resistentes à ação do trato intestinal, que diminuem a disponibilidade desses minerais e, embora esse seja seu maior efeito, os fitatos também interagem com resíduos básicos das proteínas, participando da inibição de enzimas digestivas como a pepsina, pancreatina e a α-amilase. Nos alimentos, sob condições naturais, o ácido fítico encontra-se carregado negativamente, o que lhe confere alto potencial para complexação com moléculas carregadas positivamente como cátions (Zn+2, Fe+2, Fe+3, Mg+2 e Ca+2) e proteínas. Entretanto, o ácido fítico pode formar complexos com proteínas em pH ácido ou alcalino, desde que, as proteínas estejam abaixo ou acima do pH isoelétrico. Os chamados inibidores de proteases são componentes capazes de inibir a ação de enzimas como a quimiotripsina e tripsina, impedindo a completa hidrólise das proteínas provenientes de oleaginosas e leguminosas. A redução de atividade destas enzimas induz uma resposta compensatória de produção e secreção excessiva pelo pâncreas, ocasionando futuramente danos ao órgão, como a hipertrofia pancreática. Os inibidoresde enzimas digestivas são encontrados com bastante frequência nos alimentos. Entre os mais conhecidos estão os inibidores de enzimas proteolíticas (tripsina, quimiotripsina) e amilolítica (a-amilase), sendo estas produzidas pelo pâncreas. Em leguminosas, os inibidores de tripsina e lectinas são conhecidos como Aglutinina de Soja (SBA), na soja in natura, é resistente às enzimas digestivas no trato gastrintestinal e se liga ao epitélio intestinal afetando as vilosidades, o que faz com que estas proteínas sejam detrimentais nos processos de digestão, absorção e utilização de nutrientes. Entre os vários efeitos fisiológicos atribuídos aos fatores antitrípsicos, destacam-se a complexação com a tripsina e a quimiotripsina secretadas pelo pâncreas, impedindo a ação proteolítica dessas enzimas. Para tentar reverter a inibição da ação das enzimas proteolíticas, o pâncreas secreta mais enzimas, que por sua vez, são novamente inibidas, gerando uma sobrecarga pancreática e, consequentemente, uma hipertrofia desse órgão, reduzindo a ação digestiva em todo alimento presente na luz intestinal e, por conseguinte, prejudicando o desempenho do organismo. Nas plantas, o ácido cianídrico (HCN) encontra-se ligado a carboidratos denominados de glicosídeos cianogênicos, sendo liberado após sua hidrólise. Estes são produtos do metabolismo das plantas e, provavelmente, fazem parte do sistema de defesa contra herbívoros, insetos e moluscos. Dentre os glicosídeos cianogênicos encontrados naturalmente em alimentos, tem-se a amigdalina, encontrada nas sementes de frutos da família das Rosáceas (pera, maçã, pêssego, cereja); a linamarina e lotaustralina, encontrados na mandioca e linhaça e a durrina, encontrada nos grãos jovens de sorgo. A concentração dos glicosídeos cianogênicos é variável nas diferentes espécies de plantas e numa mesma espécie varia dependendo do clima e outras condições que influenciam o crescimento da planta como adubação nitrogenada, deficiência de água e idade da planta, pois quanto mais nova e de crescimento rápido, maior será o teor em glicosídeos cianogênicos. Plantas cianogênicas, como a mandioca, apresentam compostos ciânicos e enzimas distribuídas em concentrações variáveis nas suas diferentes partes. Pela ruptura da estrutura celular da raiz, as enzimas presentes (linamarase; β-glicosidase), degradam estes compostos, liberando o HCN, que é o princípio tóxico da mandioca e cuja ingestão ou mesmo inalação, representa sério perigo à saúde, podendo advir sintomas de intoxicação a depender da quantidade e tipo de alimento ingerido, podendo ocorrer casos extremos de envenenamento. O cianeto apresenta notável poder tóxico pelo fato de ser um potente inibidor da citocromo oxidase, o que resulta no bloqueio da cadeia de transporte de elétrons durante o processo de respiração celular. As consequências das intoxicações crônicas por glicosídeos cianogênicos presentes na mandioca são diversas. Quando envolve o sistema nervoso é chamada Neuropatia Atáxica Tropical (TAN), que é representada por mielopatia, atrofia óptica bilateral, surdez bilateral e polineuropatia. O ácido oxálico ou oxaláto, além de facilitar a formação de pedra nos rins, também prejudica a absorção de muitos nutrientes pelo organismo. Por isso, os alimentos citados na tabela não devem ser ingeridos em grande quantidade. FEIJÃO TRIGO LENTILHA MILHO ERVILHA FARELO DE AVEIA SOJA GRÃO-DE-BICO QUINOA ARROZ INTEGRAL CENTEIO SORGO ESPINAFRE NOZES BETERRABA BISCOITOS DE SOJA CACAU EM PÓ QUIABO PIMENTA CHOCOLATE AMENDOIN SALSICHA Os fitatos apresentam alta capacidade de quelar, ou seja, se ligar fortemente a aminoácidos e a cátions de cálcio, magnésio, zinco, cobre, ferro e potássio para formar sais insolúveis, que são resistentes à ação do trato gastrointestinal, diminuindo assim a biodisponibilidade desses nutrientes. ROMÃ CHOCOLATE AMARGO NOZES VINHO AÇAÍ UVAS CRAVO FEIJÃO-AZUKI CANELA CHÁ PRETO Os taninos podem reduzir a digestibilidade da proteína, carboidratos e minerais; diminuir a atividade de enzimas digestivas, além de causar danos à mucosa do sistema digestivo ou exercer efeitos tóxicos sistêmicos LINGUIÇA PRESUNTO SALAME BACON SALSICHA ALGUNS TIPOS DE QUEIJOS Esses alimentos aumentam os fatores de risco de câncer no sistema digestório, e por causa disso é bem recomendável que você evite os processados em suas refeições. Podem ser encontrados nas sementes de maçãs e no interior carnoso das sementes de ameixas, pêssegos, cerejas, entre outros. Uma das alternativas para eliminar os antinutrientes das leguminosas é respeitar pelo menos 12h de remolho antes do cozimento. Em seguida, a água deve ser desprezada para eliminar os fitatos do alimento - e uma nova água deve ser usada para o cozimento. Além disso, para melhorar absorção de ferro, principalmente em indivíduos com deficiência, pode ser atrelada às principais refeições o consumo de frutas cítricas ricas em vitamina C, como laranja, limão ou morango. O oxalato é encontrado em grande quantidade em vegetais como espinafre, beterraba e acelga. Para consumi-los de forma mais saudável, a melhor opção é prepará-los com água fervente e dispensar a primeira água de cozimento. Esse processo é muito importante, principalmente para o espinafre, que apresenta alto teor de oxalato. https://www.ecycle.com.br/component/content/article/62-alimentos/3935-carnes-processadas-como-presunto-e-linguica-sao-avaliadas-como-carcinogenicas-para-humanos-segundo-associacao-ligada-a-oms.html A germinação reduz o fitato em grãos e legumes e, pode degradar um pouco de lecitinas e inibidores de protease. A fermentação de grãos e legumes leva a uma redução significativa de fitato e lecitinas.Ebulição é um método eficaz na redução de vários antinutrientes, incluindo as lecitinas, taninos, inibidores de protease e oxalato de cálcio. A forma mais eficaz de diminuir os antinutrientes em alimentos vegetais é combinar diferentes estratégias de eliminação. Os métodos de combinação podem até mesmo degradar alguns dos antinutrientes por completo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: http://www.codeagro.sp.gov.br/cesans/artigo/197/fatores- antinutricionais-dos-alimentos https://encontrar.org.br/fatores-antinutricionais-nos-alimentos/ https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/863467 9/2598 https://www.tuasaude.com/alimentos-ricos-em-oxalatos/ https://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/234916/como-diminuir-os- fatores-antinutricionais-dos-alimentos
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