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Júlia Carpenter da Paixão TÍTULO DO RESUMO Fatores antinutricionais em alimentos REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BENEVIDES, C. M. de J.; SOUZA, M. V.; SOUZA, R. D. B.; LOPES, M. V. Fatores antinutricionais em alimentos: revisão. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, SP, v. 18, n. 2, p. 67–79, 2015. DOI: 10.20396/san.v18i2.8634679. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/8634679. Acesso em: 13 set. 2021. O artigo de revisão “Fatores antinutricionais em alimentos”, escrito por Benevides et al., publicado em 2011, aborda as variedades de fatores antinutricionais e os danos que podem acarretar á saúde quando ingeridos em altas quantidades. Além disso, o artigo apresenta os efeitos do processamento sobre essas substâncias, bem como estudos biológicos sobre os mesmos. Inicialmente, o estudo definiu que o conceito “fator antinutricional” é referente a compostos ou classes de compostos presentes em diversos alimentos de origem vegetal, que quando consumidos, reduzem o valor nutritivo desses alimentos. Dentre as consequências desses compostas á saúde, pode-se citar a interferência na digestibilidade, a diminuição da disponibilidade biológica dos aminoácidos essenciais e minerais, além de irritações e lesões na mucosa gastrintestinal que interferem na seletividade e eficiência dos processos biológicos. O fatores nutricionais discutidos no artigo são: polifenóis, fatores antinutricionais, fitatos, oxalatos, inibidores de enzimas proteolíticas, glicosídeos cianogênicos, nitratos e nitritos. Os Polifenóis são substâncias naturais encontradas em plantas e possuem propriedades terapêuticas e antioxidantes, entretanto na dietas para seres humanos, especialmente os taninos, podem reduzir a digestibilidade da proteína, carboidratos e minerais, além de causar danos à mucosa e as enzimas do sistema digestivo ou exercer efeitos tóxicos sistêmicos. Nesse contexto, os taninos estão presentes em plantas e podem ser dividos em hidrolisáveis (galotaninos, elagitaninos) e condensados (não hidrolisáveis). Esses compostos, ao se complexarem com as proteínas, tornam-as insolúveis e inativam as enzimas. Além disso, eles podem se ligar a outras macromoléculas como o amido e causar a redução no valor nutricional dos alimentos. Especificamente em leguminosas, os taninos demostram ser prejudiciais à dieta, tendo em vista que causam reações de escurecimento enzimático nos alimentos e diminuem o da sua palatabilidade, devido à adstringência. Ademais, o consumo de nitratos e nitritos que ultrapasse o valor de Ingestão Diária Aceitável (IDA) preconizados no Brasil (0,06 mg/kg/dia de nitrito e 3,7 mg/kg/dia para nitrato) também podem produzir efeito tóxico aos indivíduos. Os nitritos podem reagir com aminas secundárias e terciárias, originando compostos N-nitrosos (nitrosaminas) de elevado potencial carcinogênico, teratogênico e mutagênico e os nitratos podem ser convertido em nitrito pela ação de bactérias redutoras do trato gastrintestinal sendo transformado em nitrosaminas no estômago. Tais substâncias são encontradas naturalmente, nos alimentos de origem vegetal e animal e na água, em decorrência do uso de fertilizantes na agricultura. Além desses fatores antinutricionais, têm-se o oxalato que é encontrado em vegetais e não pode ser metabolizado pelos seres humanos. Ele está presente em tecidos vegetais como fontes solúveis de oxalato de sódio e oxalato de potássio, assim como sais insolúveis de oxalato (oxalato de cálcio e de magnésio). Tal composto é excretado na urina, porém, em quantidades excessivas, aumenta o risco da formação de cálculos de oxalato de cálcio nos rins (oxalato de cálcio é pouco solúvel na urina) e de causar irritações na mucosa intestinal. Desse modo, alimentos com elevada quantidade de oxalatos não são recomendados para pessoas com tendência a formação de cálculos renais e com outros problemas relacionados a estes tipos de sais. Vale destacar que estudos como o de Siener et al.,demostraram que há um teor maior de oxalato em grãos inteiros quando comparados aos produtos refinados, o que sugere que o ácido oxálico está localizado, principalmente, nas camadas externas dos grãos de cereais. Outrossim, a diminuição da disponibilidade de cálcio e magnésio, bem como a inibição de enzimas digestivas (pepsina, pancreatina e a α-amilaseos), são os principais efeitos causados pelos fitatos no organismo. Eles são derivados do ácido fítico ou ácido hexafosfórico mioinositol que possuem a capacidade de formar quelantes com íons divalentes, tais como o cálcio e magnésio, e a de interagir com resíduos básicos das proteínas. O pentafosfato (IP5) produzido pela desfosforilação do ácido fítico em processos de estocagem, fermentação, germinação, processamento e digestão dos grãos e sementes, tem efeito negativo na biodisponibilidade de minerais, complexando o zinco e ferro. O fitato possui alto potencial para complexação com moléculas carregadas positivamente como cátions e proteínas em alimentos. Outra propriedade dessa substância é a importância do efeito sinérgico de dois ou mais cátions, no qual aumentam a quantidade de complexos fitato-metal precipitados quando presentes simultaneamente. Isso pode prejudicar, por exemplo, a absorção intestinal do zinco, que é um mineral essencial para o funcionamento do organismo. Os inibidores de enzimas digestivas são frequentemente encontrado nos alimentos e são específicos em inibir as enzimas proteolíticas e, consequentemente, reduzir a digestão protéica de alimentos,o que ocasiona a diminuição no ganho de peso e crescimento dos animais. Os mais conhecidos são os inibidores de enzimas proteolíticas (tripsina, quimiotripsina) e amilolítica (a-amilase), sendo estas produzidas pelo pâncreas. Dentre eles,os inibidores de tripsina e lectinas estão presentes em leguminosas, sendo conhecidos como Aglutinina de Soja (SBA). Além desses, alguns produtos do metabolismo das plantas são classificados como fatores antinutricionas. Os carboidratos ao ligar-se ao ácido cianídrico (HCN), são denominados de glicosídeos cianogênicos, sendo encontrados naturalmente em alimentos de origem vegetal (grãos jovens de sorgo, mandioca, sementes de frutos da família das Rosáceas). O elevado consumo de doses de cianeto, advindas desses alimentos, pode resultar em intoxicações crônicas e agudas, causando anomalias tais como a doença de Konzo. Isso se deve ao potente efeito inibidor da citocromo oxidase. As intoxicações crônicas por glicosídeos cianogênicos são mais comumente relacionadas ao consumo de mandioca, podendo gerar mielopatia, atrofia óptica bilateral, surdez bilateral e polineuropatia (Neuropatia Atáxica Tropical). Apesar do exposto, a interfência na absorção de nutrientes causada por esses fatores, pode ser minimizado a partir da utilização de diversos processos de preparação. Um método bastante utilizado para essa redução e inativação de substâncias indesejáveis em alimentos é o tratamento térmico. Diversos estudos vêm sendo realizados a fim de analisar a eficiência da temperatura nos teores dos fatores antinutricionais em produtos alimentícios. Em relação ao fitato, Ferreira & Arêas revelaram que o cozimento faz com que ele perca a sua capacidade inibitória, onde as ligações fosfato transformam-se em um hexafosfato de inositol (fitato), em penta, tetra ou trifosfato. Nessa mesma linha, Chai & Liebman e Naves et al. também mostraram que o cozimento reduz significativamente nos alimento, o teor de oxalato e inibidores de proteínas, respectivamente. O cozimento causou maior redução nos níveis de cianeto, segundo Del-Vechio et al. Além desse método, Helbing & Gigante mostraram que a técnica de amassar e rasgar as folhas antes de coloca-las para o processo de secagem,produzem uma redução nos teores de ácido cianídrico, por promover o contato da enzima linamarase com os glicosídeos cianogênicos, linamarina e lotaustralina, decompondo-os a cianohidrinas até ácido cianídrico. Delfino & Canniatti-Brazaca avaliaram o efeito do processamento e armazenamento nos teores de taninos no feijão, mostrando uma redução de 20,35% de taninos é, provavelmente, devida à oxidação e à menor solubilidade, decorrentes de seu maior grau de polimerização no tegumento ou pela lignificação dos cotilédones. Apesar da eficiência mostrada na utilização de tratamento térmico na redução dos fatores nutricionais, uma desvantagem que ele apresenta é a perda de nutrientes essenciais como vitaminas e aminoácidos. Outros métodos utilizados como alternativas para o mesmo objetivo são: adição de água ao alimento, maceração na presença de sulfitos, trituração, descortiçamento de grãos, atmosfera controlada (N2, etileno e etanol absoluto), tratamento enzimático, alta pressão hidrostática, dentre outros. Os efeitos deletérios gerados por fatores antinutricionais são confirmados ou não, após a realização de estudos biológicos. Mostrou-se que a absorção de cálcio de vegetais sempre será influenciada pelo conteúdo em oxalato, que é um forte inibidor da absorção de cálcio; a extrusão do amaranto aumenta a biodisponibilidade do cálcio; a biodisponibilidade do ferro e zinco nos cereais crus e cozidos, quando acrescidos de alho e cebola é aumentada; fatores antinutricionais de multimisturas utilizadas como suplemento alimentar apresentam baixos teores residuais de inibidores de tripsina. Perante o exposto, observou-se que existem diversos efeitos negativos á saúde, resultantes dos fatores antinutricionais presentes naturalmente em alguns vegetais, todavia, não há problemas no consumo de alimentos pois o próprio processamento poderá eliminá-los parcial ou totalmente (pessoas que possuem uma predisposição para desenvolver algumas enfermidades, como cálculo nos rins, são exceções a essa afirmação, merecendo uma atenção especial para a realização desse consumo). .
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