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2018 Linguística apLicada à Língua EspanhoLa ii Prof. Wellington Freire Machado Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Wellington Freire Machado Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M149l Machado, Wellington Freire Linguística aplicada à língua espanhola II. / Wellington Freire Machado – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 212 p.; il. ISBN 978-85-515-0179-5 1.Língua espanhola – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 468.2469 III aprEsEntação Caro acadêmico, é com alegria que apresentamos a você o Livro de Estudos de Linguística Aplicada à Língua Espanhola II. A presente obra foi elaborada com base no padrão de qualidade estabelecido pela UNIASSELVI e se baseia em uma proposta pedagógica que visa o melhor aproveitamento do aluno. Em Linguística Aplicada à Língua Espanhola você foi introduzido a aspectos como: vocabulário, teorias, nomes relevantes da área e propostas de trabalho, que constituem a pedra angular norteadora do nosso desenvolvimento até o presente momento. Deste ponto em diante, usufruiremos de forma construtiva desse alicerce e nos direcionaremos rumo a conteúdos de importância central nesta disciplina. Conforme avançarmos através das três unidades que constituem este livro, observaremos questões como: a diversidade linguística, os níveis de análise linguística, a metodologia, as questões de comunicação, a lectoescritura, os conteúdos de base léxico-semântica, as avaliações, a mediação do conhecimento e tantos mais. O nosso itinerário de estudos iniciará por questões gerais da Linguística Aplicada, passará por temas e problemas no ensino de Espanhol para brasileiros, e terminará com uma abordagem reflexiva sobre os conteúdos linguísticos e gramaticais. Desejamos que você alcance o aproveitamento máximo do conhecimento aqui apresentado. Explore com sabedoria e prazer o mundo do curso de Letras da UNIASSELVI. Prof. Wellington Freire Machado IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA ......................................... 1 TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA ...................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 REFLEXÃO SOBRE O MÉTODO ...................................................................................................... 4 3 MÉTODO AUDIOVISUAL ................................................................................................................ 7 4 MÉTODO NATURAL .......................................................................................................................... 8 5 MÉTODO DIRETO .............................................................................................................................. 10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13 TÓPICO 2 – A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA .......... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LINGUAGEM HUMANA .................................................. 16 3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA ...................................................................................... 23 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28 TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO .................................................. 29 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 29 2 A AMPLITUDE DO TEMA NO BRASIL ......................................................................................... 30 3 A QUESTÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL: UM PROCESSO HISTÓRICO TURBULENTO ...................................................................................................................................... 34 4 AS LÍNGUAS CO-OFICIAIS NA ESPANHA ................................................................................. 39 5 AS LÍNGUAS INDÍGENAS EM PAÍSES DA AMÉRICA LATINA ............................................ 43 5.1 A DISCRIMINAÇÃO COM FALANTES DE LÍNGUAS INDÍGENAS.................................... 46 5.2 A INFLUÊNCIA DE LÍNGUAS INDÍGENAS NO ESPANHOL AMERICANO .................... 49 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54 TÓPICO 4 – A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E A RIQUEZA DO IDIOMA ........................... 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL ................................................................................ 55 3 VOSEO .................................................................................................................................................... 57 4 VOCABULÁRIO ................................................................................................................................... 58 5 YEÍSMO .................................................................................................................................................. 60 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 64 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65 UNIDADE 2 – ORALIDADE E LECTOESCRITURA EM ESPANHOL ........................................67 TÓPICO 1 – QUESTÕES LIGADAS À ORALIDADE ..................................................................... 69 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69 2 PROCESSOS DE COMPREENSÃO AUDITIVA ............................................................................ 70 sumário VIII 3 O TRABALHO DA COMPREENSÃO AUDITIVA EM SALA DE AULA ............................... 73 4 TEORIA DOS ATOS DE FALA ....................................................................................................... 75 4.1 PROSÓDIA .................................................................................................................................... 78 4.2 VELOCIDADE DA FALA ............................................................................................................. 80 RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 84 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 85 TÓPICO 2 – A INTERAÇÃO ORAL .................................................................................................. 91 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 91 2 INTERAÇÃO COMUNICATIVA .................................................................................................... 91 3 A QUESTÃO DA GRAVAÇÃO ........................................................................................................ 95 4 FORMAS DE EXPOSIÇÃO ORAL .................................................................................................. 96 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100 TÓPICO 3 – A LECTOESCRITURA EM ESPANHOL ....................................................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 LEITURA INTELIGENTE .................................................................................................................108 3 ESTRATÉGIAS DE LEITURA ..........................................................................................................110 4 HIPERLINK E HIPERTEXTO ...........................................................................................................113 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................116 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 TÓPICO 4 – A PRODUÇÃO DE TEXTOS ........................................................................................121 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121 2 INTERTEXTO, COMPETÊNCIA LEITORA E PRODUÇÃO DE TEXTOS .............................121 3 GÊNEROS TEXTUAIS E PRODUÇÃO ..........................................................................................129 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................134 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................135 UNIDADE 3 – CONTEÚDOS LINGUÍSTICOS, GRAMATICAIS E POSSÍVEIS PROPOSTAS DE TRABALHO.................................................................................139 TÓPICO 1 – CONTEÚDOS DE BASE LÉXICO-SEMÂNTICA ....................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 A COMPETÊNCIA LÉXICO-SEMÂNTICA E A SUA COMPOSIÇÃO ...................................142 3 ITINERÁRIO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM TIPOS DE UNIDADES LEXICAIS .........145 3.1 TRÊS MODELOS DE ATIVIDADES POSSÍVEIS .........................................................................147 4 PLANIFICAÇÃO LÉXICA .................................................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................153 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154 TÓPICO 2 – O PROFESSOR COMO MEDIADOR DO CONHECIMENTO ............................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 PLANIFICAÇÃO DE AULAS ...........................................................................................................164 3 ELABORANDO UM PLANO DE AULA: PASSO A PASSO ......................................................166 3.1 MODELO DE PLANO DE AULA ...............................................................................................169 4 PROGRAMA SINTÉTICO ................................................................................................................174 5 O PROGRAMA ANALÍTICO ..........................................................................................................177 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 IX TÓPICO 3 – OS TIPOS DE AVALIAÇÃO EM E/LE ........................................................................187 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................187 2 CORREÇÃO OBJETIVA DE RESPOSTA FECHADA .................................................................188 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................207 X 1 UNIDADE 1 QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de: • orientar-se por questões de matriz metodológica; • refletir sobre a questão curricular; • observar a influência de variadas escolas linguísticas sobre a metodologia; • conhecer a sociolinguística e métodos, como o comunicativo audiovisual e cognitivo; • reconhecer os níveis de análise linguística; • refletir sobre o preconceito linguístico e identificar a amplitude do tema no Brasil e na América Latina; • contemplar questões ligadas à diversidade linguística e à riqueza da lín- gua espanhola, como as distintas variantes. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA TÓPICO 2 – A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO TÓPICO4 – A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E A RIQUEZA DO IDIOMA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA 1 INTRODUÇÃO Um dos saberes de maior valor em nossa sociedade é o “Como fazer?” A Linguística Aplicada é uma disciplina que se debruça sobre problemas empíricos relacionados à linguagem humana. Conforme estudamos na disciplina de Linguística Aplicada à Língua Espanhola I, o conhecimento debatido no cerne dos estudos linguísticos está sempre mediado por debates calorosos, que nos permitem compreender como perspectivas diferentes são capazes de proporcionar novas reflexões. Você já parou para pensar no quão importante é o conhecimento da metodologia? Para que você entenda a dimensão da questão metodológica e como isso é importante para você, enquanto professor de Letras/Espanhol, abordaremos nos subtópicos seguintes os principais métodos utilizados ao longo da história da Linguística Aplicada e o quanto podem ser úteis para o professor – seja conjugando-os uns com os outros ou utilizando-os pontualmente. FIGURA 1 – O TRABALHO COM BLOCOS PARA FORMAÇÃO DE PALAVRAS: DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E PERCEPÇÃO DAS UNIDADES LINGUÍSTICAS FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-2293839/?no_redirect>. Acesso em: 31 dez. 2017. Com vistas a facilitar o acesso aos resultados almejados, a escolha de uma metodologia de trabalho adequada é fundamental para o professor que entende a diversidade de condições possíveis de se encontrar em uma sala de aula. Você possivelmente se lembra da etapa de estudo da matemática no Ensino UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 4 Médio. Você recorda que em algumas operações era possível percorrer caminhos distintos para alcançar os mesmos resultados? Para nós, metaforicamente, esses caminhos distintos podem ser o modo de trabalho (o método) que adotamos para alcançar determinado objetivo (ensinar a língua). Conforme você perceberá nas unidades seguintes, a decisão pela forma de trabalho adequada estará presente em praticamente todas as nossas escolhas. 2 REFLEXÃO SOBRE O MÉTODO De acordo com Richards e Rodgers (1998), o método constitui um conjunto de procedimentos que determina a proposta de trabalho, os conteúdos, os direcionamentos, as técnicas, o modo de executar atividades e também a correlação entre três elementos fundamentais: o professor, a didática e o aluno. A proposta dos autores gira em torno de três eixos principais: o enfoque escolhido pelo professor, o projeto de trabalho e os procedimentos adotados. Em instância última estes três pressupostos conjugados constituem o que os autores entendem por método. Método ProjetoEnfoque Procedimentos De acordo com Richards e Rodgers (1998), no nível do projeto são indicados os propósitos específicos, a seleção e a organização das atividades de ensino e aprendizagem, assim como a organização da tríade professor-aluno-didática. Já no nível dos procedimentos são incluídos as técnicas concretas, as práticas cotidianas e os comportamentos do professor e dos alunos (como eles vão se desenvolver em jogos pedagógicos, por exemplo). De acordo com o Instituto Cervantes (1997- 2018, s.p.), elaborar um projeto pressupõe “trasladar la filosofía del currículo a un plan detallado de enseñanza que variará en función del paradigma del que el programa sea reflejo”. Algumas escolas utilizam a filosofia de preparo do estudante para a vida. Já outras entendem o processo de aprendizagem como a capacitação máxima nas mais diversas áreas do conhecimento. Consideremos, ainda, a possibilidade de um professor não institucionalizado e, por isso, livre para observar e elaborar o método sem associá-lo a uma filosofia institucional preexistente. A proposta de projeto com frequência transparece o entendimento que se tem de língua, de aprendizagem e de ensino: El modo concreto en que el diseñador aplica la prioridad, selección, subdivisión y secuenciación de objetivos y contenidos, así como la selección de la metodología y el sistema de evaluación, refleja puntos de vista sobre la lengua, sobre la forma de usarla y sobre su concepción TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA 5 de la enseñanza y aprendizaje de una lengua. En este sentido, cabe afirmar que diseñar un programa de lengua puede entenderse como una expresión de un determinado paradigma científico, en tanto que representación concreta de conocimientos y capacidades. La representación de la lengua de un diseñador de programas diferirá, por ejemplo, de la de un lingüista descriptivo, debido precisamente a los requisitos pedagógicos de dicha representación (CENTRO VIRTUAL CERVANTES, 1997-2018a, s.p.). ATENCAO Você recorda quando estudamos a Unidade 2 da disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I? Naquela oportunidade observamos o ensino de espanhol com fins específicos (jurídico, comercial, turismo...) e também as diferentes perspectivas que o professor poderia adotar ao ensinar a língua espanhola (cognitiva, metacognitiva, socioafetiva). Suponhamos que um professor seja contratado para ministrar aulas de “Espanhol para turismo” e “Espanhol jurídico”. Para cada uma destas turmas, o professor deveria adotar ou elaborar um método de trabalho diferente (com enfoque, projeto e procedimentos adequados às necessidades do grupo). Como você pode perceber, a metodologia de trabalho nos acompanhará ao longo de toda a nossa jornada docente. Ao longo da história do ensino de línguas estrangeiras e de línguas segundas foram desenvolvidos muitos métodos. De acordo com o Instituto Cervantes (1997-2018), na prática cotidiana dos professores, sempre se tendeu a um ecletismo no manejo metodológico, ao passo que os métodos se caracterizaram historicamente por ambicionarem um emprego universal, pelo aspecto prescritivo e também por manterem uma relação excludente com os demais. Muito disso se deve ao aspecto comercial. Quem nunca recebeu um folheto na rua de escolas de idioma, prometendo ensinar idiomas fluentemente em seis meses, sempre através de um método secreto e inovador? O colapso da fé em uma metodologia completa deu-se através dessa perspectiva, um tanto arrogante, apresentada por alguns idealizadores de métodos. Por essa razão, na atualidade, a comunidade de estudiosos da linguística aplicada observa com ressalvas métodos que se pretendem universais, visto que a riqueza da metodologia se encontra justamente na experimentação. É indubitável afirmar que alguns métodos funcionam melhor que outros, dependendo do público-alvo e da etapa na qual se está trabalhando. O colapso na fé em uma metodologia única deu-se na segunda metade do século XX, visto que se compreendeu a impossibilidade de um método puro. Esta constatação deu-se na esteira de uma percepção de que em sala de aula o professor sempre efetua adaptações à realidade do grupo. Por outro lado, “la fundamentación teórica del enfoque se vio radicalmente modificada, tanto por la psicología del aprendizaje como por la aproximación al estudio de la lengua, UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 6 como finalmente por las investigaciones sobre adquisición de segundas lenguas, iniciadas en los años 70.” (CVC, 1997-2018a, s.p). Este percurso serviu para nos mostrar que não devemos nos basear em uma metodologia pretensamente universal, mas sim que saibamos selecionar, organizar, escolher e adequar nossa prática às necessidades dos nossos estudantes. Vale lembrar, ainda, que ocorreram muitas reflexões relativas ao conceito de método e ao surgimento de novos modelos. Na atualidade, a acepção mais aceita é a de que o método deve estar aberto a uma espécie de gestão conjunta do aluno com o professor, permitindo- se a reflexão periódica sobre o aproveitamento ou não, sempre remodelando e redirecionando o enfoque pedagógico. DICAS FONTE: Disponível em: <https://sgfm.elcorteingles.es/SGFM/dctm/ MARKET/978/849/848/9788498482065_00_210x210.jpg>. Acesso em: 31 dez. 2017.O livro “Enfoques y métodos en la enseñanza de idiomas” é uma importante obra publicada no âmbito do ensino de línguas segundas e estrangeiras e constitui uma importante contribuição ao trabalho do professor em sala de aula. Na obra, os autores Jack C. Richards e Theodore S. Rodgers apresentam esquemas analíticos que descrevem os principais métodos e enfoques de maior aceitação nas últimas décadas. Os autores apresentam o Método Audiolinguístico, o Enfoque Natural, o Ensino Comunicativo da Língua, a Sugestopedia, entre tantos outros métodos que serviram e ainda servem de base para a prática de professores de línguas estrangeiras. A dimensão da metodologia é algo que ultrapassa a questão acadêmica ou a área da Linguística Aplicada especificamente. O saber fazer (conhecido também como “How to”, em inglês), não pressupõe apenas uma forma de resolver problemas ou de realizar algo que alguém se propõe. Um dos exemplos mais interessantes nos dias atuais é o Wiki How (Wiki Como), uma comunidade que se propõe ser o compêndio mais completo do mundo sobre como fazer as coisas. Por exemplo, lá você pode aprender a pintar uma parede, a aprender o vocabulário de uma língua estrangeira, a cozinhar arroz, a se livrar de uma erupção cutânea no rosto, e tudo o que você imaginar. E o mais incrível é que não existe “o” método, mas sim várias formas possíveis de resolver o mesmo problema. Isso não é incrível? Pesem as especificidades do campo científico, o âmbito da aprendizagem de línguas funciona de forma similar. Em tempo: Você pode acessar o site da WikiHow em português através deste endereço: <https://pt.wikihow.com/>. TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA 7 Agora que você entende que não existe um método universal, mas vários métodos possíveis de serem utilizados (e adaptados), nos subtópicos seguintes você conhecerá os três principais métodos que embasaram o ensino de língua estrangeira no século XX. 3 MÉTODO AUDIOVISUAL O método audiovisual é um dos mais antigos no aprendizado de línguas estrangeiras e segunda língua. Howatt (1987 apud CVC, 1997-2018b, s.p.) aponta que este método constitui a primeira tentativa séria de elaborar uma descrição pedagógica de uma língua estrangeira. El método audiovisual es un modelo didáctico concebido para la enseñanza de la LE a principiantes. Da prioridad al lenguaje oral, sin por ello desatender el lenguaje escrito; las primeras sesiones (aproximadamente 20 horas) del método se dedican al lenguaje oral y a continuación se comienza el aprendizaje del lenguaje escrito. Se considera que el aprendizaje de la LE se canaliza a través del oído (escuchando diálogos) y de la vista (observando la situación); ello explica el empleo combinado de grabaciones de diálogos en soporte magnético (en la época inicial, en magnetófono; posteriormente, en casete) e imágenes en filminas (parecidas a las diapositivas). Você recorda quando estudamos em Linguística Aplicada à Língua Espanhola I que a origem da Linguística Aplicada remontava ao turbulento período da II Guerra Mundial? A origem deste método remonta ao período que sucedeu a grande guerra. O marco de surgimento são os documentos Voix et images de France (1961), criado especialmente para adultos estrangeiros em processo de aprendizagem do francês, e Bonjour Line (1963), criado para o ensino da língua a crianças. FIGURA 2 – SITUAÇÃO HIPOTÉTICA DE COMPRA E VENDA FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/553472>. Acesso em: 1º jan. 2018. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 8 Na disciplina anterior estudamos o debate entre Chomsky e Skinner. Você lembra disso? O método que estudaremos agora se baseia na perspectiva behaviorista proposta por Skinner, um método que propõe a repetição e a prática de mecânica de estruturas com o objetivo final de automatizar, por exemplo, como pedir um sanduíche em uma padaria, como cumprimentar alguém ao chegar em algum lugar, como pedir uma informação na rua etc. Una lección típica del método comienza con la presentación mediante la cinta magnética y la filmina. A continuación el profesor procede a la explicación, sirviéndose, p. ej., de demostraciones, preguntas y respuestas. En la tercera fase, de fijación, se va repitiendo el diálogo - en clase o en el laboratorio de idiomas - con el fin de memorizarlo; se procura no fragmentar los patrones rítmicos y entonativos. A partir de ahí, en la fase de explotación, la práctica adquiere un carácter más libre, permitiéndoseles a los alumnos la creación de sus propios diálogos - mediante preguntas y respuestas, juegos teatrales, etc. -, ya sea a partir de las mismas imágenes de las filminas, o bien en relación con su propia vida, su entorno familiar, social, etc. (CVC, 1997-2018b, s.p.). É possível que ao longo de sua trajetória enquanto professor de Espanhol você trabalhe em lugares que ainda utilizam adaptações provenientes desse método. Um dos grandes braços de força desse método são os conteúdos audiovisuais utilizados como ferramenta em sala de aula, o que proporciona o contato do estudante com situações de uso real da língua. 4 MÉTODO NATURAL O método natural, conforme se percebe na própria natureza do nome, baseia-se em uma visão naturalista de aprendizagem de línguas. A proposta desse método está pautada na crença de que a aprendizagem de uma língua segunda é semelhante ao processo de aquisição da língua primeira. A origem deste método remonta às experiências do professor L. Sauveur da Escola de Boston. De acordo com o Instituto Cervantes (1997-2018, s.p.), Sauveur defendia “la idea de que una lengua extranjera o segunda puede ser enseñada sin recurrir a la primera lengua si el significado es transmitido a través de la presentación de objetos y de la ejemplificación de acciones”. Trata-se de uma exposição supostamente natural ao idioma, em um espaço no qual é proibido que se fale outra língua que não a língua meta. No Brasil, algumas escolas de idiomas realizam a aula zero, único momento em que o aluno pode se manifestar em português. Após esse primeiro encontro, todo o contato entre aluno e professor acontece na língua meta, independentemente do nível de conhecimento do aluno a respeito do idioma que deseja aprender. TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA 9 FIGURA 3 – USO EXCLUSIVO DA LÍNGUA META É UMA DAS CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO NATURAL E POSTERIORMENTE DO MÉTODO DIRETO FONTE: Disponível em: <https://i.pinimg.com/originals/5c/71/ d0/5c71d09a7db9c5df4bc5868d948f623f.jpg>. Acesso em: 1º jan. 2018. Observe o que o Diccionário de términos claves de E/LE afirma a respeito desse método: En 1884, F. Franke publica en Alemania un trabajo sobre los principios psicológicos de la asociación entre forma y significado en la lengua meta, cuyo contenido ofrece justificación teórica a las corrientes que defienden la enseñanza sin recurrir a la primera lengua. De acuerdo con Franke, una segunda lengua se aprende mejor si se usa directa y activamente, si el profesor puede enseñar el vocabulario nuevo utilizando la mímica o dibujos y si los estudiantes son capaces de inferir las reglas gramaticales en lugar de aprenderlas mediante procedimientos analíticos. Los planteamientos de Sauvuer y Franke tienen sus raíces en movimientos de mediados del siglo XIX, época en la que varios especialistas en la enseñanza de idiomas comienzan a cuestionar el método gramática-traducción y a manifestar la necesidad de buscar nuevas formas de enseñanza. En su forma extrema, el método se materializa en monólogos del profesor que se intercalan con intercambios entre el profesor y los estudiantes en forma de preguntas y respuestas. Todo se realiza en la lengua meta, con ayuda de gestos, dibujos y objetos. La repetición desempeña un papel importante y sólo después de que los estudiantes tienen un conocimiento considerable en lengua oral se pasa a la lengua escrita y a la enseñanza inductiva dela gramática (CVC, 1997-2018c, s.p.). Após passar por reformulações, esse método revestiu-se de uma nova capa no século XX e deu origem a um novo método de ensino de línguas: o método direto. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 10 5 MÉTODO DIRETO Ao final do século XIX ocorreu uma série de reformas no método natural. Essas reformas constituíram uma das primeiras tentativas de construir uma metodologia de ensino de línguas baseada na observação do processo de aquisição da língua materna por crianças. Segundo Ming (2010, p. 16): Se creía que la mejor manera de aprender la lengua era hablándola, estando continuamente los alumnos inmersos en ella. Así, en los materiales se incluían con frecuencia textos de conversaciones y diálogos cotidianos. Por consiguiente, el método que se ha transmitido como más directamente relacionado con la enseñanza natural es el denominado método directo. FIGURA 4 – ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS A NOMES: UMA DAS INOVAÇÕES DESSE MÉTODO FONTE: Disponível em: <https://blogisalara.files.wordpress. com/2013/08/bola-de-tenis-criativa.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2018. Indo além do que fora inicialmente estabelecido pelo método natural, o método direto designou parâmetros específicos para colocar em prática a filosofia adotada. Entre esses parâmetros, destacam-se: • Uso exclusivo de la lengua meta. • Enseñanza de vocabulario y estructuras de uso cotidiano. • Enseñanza inductiva de la gramática. • Desarrollo de las destrezas de comunicación oral de forma progresiva y graduada mediante el intercambio de preguntas y respuestas entre profesores y alumnos. • Introducción oral de los nuevos contenidos de enseñanza. • Uso de la demostración, de objetos y dibujos en la introducción del vocabulario concreto, y de la asociación de ideas en la introducción del vocabulario abstracto. • Enseñanza de la expresión y de la comprensión oral. • Énfasis en la pronunciación y en la gramática (CVC, 1997-2018c, s.p.). TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA 11 No âmbito do método direto a língua é aprendida através da imitação de um modelo linguístico e também da memorização de frases e diálogos curtos: “El profesor, preferentemente hablante nativo de la lengua que enseña, es el verdadero protagonista de la clase: no sólo es modelo de lengua sino que debe tener iniciativa y dinamismo para crear la necesaria interacción en el aula” (CVC, 1997-2018c, s.p.). Método Direto ImitativoIndutivoAssociativo Apesar de se mostrar particularmente eficaz em determinados casos, o método direto, com frequência, tem sido alvo de críticas de ordem diversa. A principal delas gira em torno da proibição de que se pratique a língua nativa do falante. Fato incontestável é que este aporte não é um aporte novo e na atualidade vem sendo revestido de diversas capas, sendo frequentemente adaptado e afastando- se, por vezes, dos modelos naturalistas que outrora inspiraram sua criação. 12 Neste tópico, você aprendeu que: • A metodologia faz parte da estratégia de ensino-aprendizagem adotada pelo professor ou pela instituição que acolhe o ensino de língua estrangeira. • O método, de acordo com Richards e Rodgers, formula uma junção entre enfoque, projeto e procedimentos. • A pretensão universalista de cada método acabou gerando uma crise na crença metodológica ou na ideia de que possa existir uma metodologia única. • O método audiovisual constituiu a primeira tentativa séria de elaborar uma descrição pedagógica de uma língua estrangeira. • Os métodos natural e direto se baseiam em uma visão naturalista de aprendizagem de línguas. RESUMO DO TÓPICO 1 13 1 Marque a única alternativa correta. a) ( ) No Método Direto há uma mescla no uso da língua nativa com a língua meta. b) ( ) O Método Oral desconsidera completamente a utilização de textos escritos. c) ( ) A tríade professor-aluno-didática não é importante na concepção de método de Richards e Rodgers. d) ( ) O Método Natural defende que a aprendizagem de uma língua segunda é semelhante ao processo de aquisição da língua primeira. e) ( ) Apesar do nome, o Método Natural não comporta uma perspectiva puramente naturalista. 2 Imagine que você foi contratado para ensinar Espanhol para estudantes do Ensino Fundamental. Na primeira aula, você percebeu que se trata de um grupo de adolescentes bastante efusivos e viciados no uso de smartphones. Você chegou à conclusão de que definitivamente não é possível empregar um método tradicional. Considere os métodos vistos neste subtópico e elabore uma proposta de no máximo 15 linhas. Você é livre para organizar conforme a necessidade desse grupo hipotético. Sugerimos que você acesse o texto de Olga Cruz Moya intitulado "Las Redes Sociales en la Enseñanza de ELE: Retos y Propuesta". Acesse-o através deste link: <https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/asele/pdf/22/22_0019. pdf>. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. AUTOATIVIDADE 14 3 Marque a alternativa correta. a) ( ) O método, para Richards e Rodgers (1998), restringe-se às variáveis professor-didática-aluno. b) ( ) O método envolve Enfoque, Revisão e Procedimentos. c) ( ) Os métodos se caracterizam historicamente por ambicionarem um emprego universal. d) ( ) Apesar de tantas refutações, jamais houve um colapso na fé metodológica. e) ( ) A junção de todos os métodos é o que hoje, após tantos anos, entende-se por método universal. 15 TÓPICO 2 A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO De acordo com José Luiz Fiorin (2013, p. 13), a linguagem “responde a uma necessidade natural da espécie humana, a de comunicar-se”. Como você já sabe, por se tratar de uma capacidade viva, a linguagem constitui um grande sistema naturalmente complexo. Você lembra do Curso de Linguística Geral de Saussurre, quando o importante teórico afirmou que a linguística se debruça inicialmente sobre “todas as manifestações da linguagem humana”? (SAUSSURE, 2006, p. 13). Pois bem, a linguagem humana, enquanto matéria de estudo da linguística, possui nuances cujo conhecimento é indispensável na compreensão de determinados processos empíricos. FIGURA 5 – A FALA: UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS NOTÁVEIS DA LINGUAGEM HUMANA FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-776667/?no_redirect>. Acesso em: 3 jan. 2017. No que tange ao tema da linguagem, neste tópico daremos um passo à frente no conhecimento que construímos até o presente momento. No primeiro subtópico, estudaremos as características da linguagem humana. Após conhecermos cada um destes níveis, vamos nos dedicar aos níveis de análise linguística possíveis. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 16 Recentemente mencionamos Ferdinand de Saussure. Relembre a citação completa do autor a que nos referimos anteriormente: "A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestaçõesda linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a “bela linguagem”, mas todas as formas de expressão". Isso não é tudo: como a linguagem escapa as mais das vezes à observação, o linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois somente eles lhe farão conhecer os idiomas passados ou distantes: A tarefa da linguística será: a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família; b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas, e deduzir as leis gerais às quais se possam referir os fenômenos peculiares da história; c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2006, p. 13). NOTA 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LINGUAGEM HUMANA A reflexão relativa à natureza da linguagem é constante nos estudos linguísticos. Observe o que José Luiz Fiorin (2013, p. 13) afirma em seu livro Linguística – o que é isso a respeito da natureza da linguagem: A linguagem é a capacidade específica da espécie humana de se comunicar por meio de signos. Entre as ferramentas culturais do ser humano, a linguagem ocupa um lugar à parte, porque o homem não está programado para aprender física ou matemática, mas está programado para falar, para aprender línguas, quaisquer que elas sejam. Todos os seres humanos, independentemente de sua escolaridade ou de sua condição social, a menos que tenham graves problemas psíquicos ou neurológicos, falam. Uma criança, por volta dos três anos de idade, já domina esse dispositivo extremamente complexo que é uma língua. A fala, enquanto uma manifestação psicofônica, é uma das 16 características detectadas pelo linguista estadunidense Charles Hockett (1960) nos sistemas de comunicação, ele relata que a primeira característica é a oralidade e a audição: a linguagem humana se baseia na produção de sons que portam sentidos. Estes sons, por sua vez, são detectados pelo aparelho auditivo dos outros falantes. Segundo Moreno (s.d., p. 8): La modalidad básica del lenguaje humano es la emisión y recepción de sonidos mediante un tracto vocal especializado y un sistema auditivo con capacidades especializadas de discriminación. El sistema vocal- TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA 17 auditivo tiene la ventaja, desde la perspectiva evolutiva, de que deja libres las manos y otras partes del cuerpo para realizar actividades mientras se habla. A segunda característica é a transmissão irradiada, e a transmissão dirigida é o momento em que a emissão se espalha por todas as direções possíveis e quem recebe o som é capaz de identificar sua origem. Qualquer indivíduo pode receber e interpretar esses sons, desde que se encontre no raio de alcance. A distância e a direção também poderão ser estimadas pelo receptor (HOCKETT, 1960). FIGURA 6 – TRANSMISSÃO IRRADIADA E DIRIGIDA 2 Transmissão irradiada e dirigida FONTE: Hockett (1982, p. 7) A evanescência e a transitoriedade constituem a terceira característica. Os sons se desvanecem com muita rapidez e por essa razão é necessário que os interlocutores compartam o mesmo tempo e o mesmo espaço (HOCKETT, 1960). Os sons se esvaem imediatamente após serem emitidos. Moreno (s.d., p. 9) realiza o seguinte questionamento: “¿sería posible conversar si los sonidos se mantuviesen “vivos en el aire” durante cinco minutos, de tal manera que estuviésemos oyendo todo lo que se estuvo hablando?” Sem lugar a dúvidas, a resposta é não. Seria impossível manter uma conversa por mais simples que fosse se os sons permanecessem flutuando no ar. É justamente o caráter de evanescência e transitoriedade do som que possibilita a fluidez do diálogo. Vale recordar que existem formas de preservar a comunicação estabelecida, como a gravação e a transcrição. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 18 FIGURA 7 – A EVANESCÊNCIA COMO CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA FONTE: Hockett (1982, p. 7) A quarta característica é a troca de papéis: em qualquer momento os participantes de uma conversa podem ser emissores ou receptores. Não há uma definição preestabelecida que se mantenha imutável. Para que a conversa ocorra e o diálogo se estabeleça é necessário que ocorra essa troca, como uma bola de tênis que quica de um lado a outro. "A retroalimentação é a quinta característica apresentada por Hockett (1960). Imagine que você está em uma conversa e comete uma gafe (troca o nome do interlocutor por outro, emite um juízo de valor equivocado, menciona um assunto proibido, etc).O falante recebe o enunciado no mesmo momento em que emite e por esta razão ele pode efetuar modificações: modificar o que diz, corrigir erros cometidos, falar mais lentamente, retificar o que já foi dito com fim de esclarecer. Trata-se do aspecto retroalimentativo da linguagem humana. O falante sempre pode “costurar”, efetuar mudanças. FIGURA 8 – CHARLES F. HOCKETT (1916-2000): IMPORTANTE LINGUISTA ESTADUNIDENSE FONTE: Disponível em: <https://ipfs.io/ipfs/QmXoypizjW3Wk nFiJnKLwHCnL72vedxjQkDDP1mXWo6uco/I/m/Hockett.jpg>. Acesso em: 4 jan. 2018. TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA 19 A especialização, enquanto sexta característica, constitui a função comunicativa dos sinais linguísticos. De acordo com Moreno (s.d., p. 9), “El propósito de las señales lingüísticas es comunicar, no tienen asociada ninguna otra función, y los órganos productores o receptores, aunque tengan otras tareas asignadas (p.ej. la lengua, que ayuda a deglutir los alimentos), mientras están produciendo o recibiendo una señal, no se ocupan de otras cosas”. O ato em si não satisfaz um desejo, mas pode desencadear uma série de consequências, que em instância última levam o indivíduo a repetir o ato para consegui-lo. A semântica, sétima característica, constitui as entidades conceituais associadas às expressões linguísticas. São as representações mentais fixas de um signo e o conteúdo representado por este signo. De acordo com Moreno (s.d., p. 10), “Existen asociaciones fijas y sistemáticas entre la forma de un signo y el contenido representado por ese signo. Dicho de otro modo, la emisión de una señal evoca la representación mental de la cosa, entidad, sujeto etc. a que se refiere”. A oitava característica é uma velha conhecida nossa: a arbitrariedade. Você lembra o que dissemos sobre este aspecto, quando estudamos Saussure na disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I? Relembrando, na ocasião dissemos que: Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário. Isto significa dizer que não há uma relação óbvia entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). Não há um motivo que justifique. O autor cita o exemplo do signo mar: “a ideia de “mar” não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual” (SAUSSURE, 2006, p. 81- 82). Nesse sentido, o significante /mar/ poderia estar associado a outro conceito qualquer. Não há uma relação óbvia entre eles. É nesse sentido que o signo linguístico é arbitrário (não tem regras). NOTA Ao abordar o tema da arbitrariedade do signo, Moreno (s.d., p. 10) apresenta a seguinte imagem: alcalde alcalde UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 20 Trata-se da palavra “alcalde” (prefeito) representada em línguas de sinais espanhola: o primeiro signo é mais antigo e está associado propositalmente ao bastão de comando. Já o segundo, de acordo com o autor, é mais recente e é completamente arbitrário. Bastão de comando Você sabe o que é o bastão de comando? O bastão de comando (ou também conhecido como vara de mando) é um complemento protocolar que simboliza opoder de uma autoridade sobre o coletivo. Na Espanha, esse bastão é utilizado pelos prefeitos das cidades em eventos oficiais. Em 8 de novembro de 2017, 200 prefeitos catalães receberam o ex-presidente do governo catalão, Charles Puigdemont, sustentando suas varas de mando, em um claro aceno de apoio à questão da independência da Catalunha. De acordo com a edição on-line do jornal El País: “Los bastones de alcalde representan el poder municipal y su uso se da tanto en nuestro país como en otros Estados latinoamericanos y europeos. En España, aparecen documentados desde el siglo XVII, aunque su origen es muy anterior: “El uso de una vara como expresión de mando se remonta a la Prehistoria”, cuenta a Verne José Manuel Nieto, catedrático de Historia de la Universidad Complutense de Madrid. “Casi todas las civilizaciones utilizaban huesos o palos como símbolos de distinción de mando”. NOTA FONTE: Disponível em: <https://twitter.com/Albert_Rivera/ status/927953565699792896/>. Acesso em: 5 jan. 2018. A nona caraterística é o caráter discreto: as unidades do sistema linguístico são percebidas como separáveis e analisáveis em seus aspectos mais individuais possíveis. Por exemplo, ao ouvir uma palavra você pode separar as sílabas, analisar os sons, os pontos distintivos etc. Observe o que afirma Moreno (s.d., p. 10) a respeito desse aspecto: El habla es un continuo sonoro, pero los hablantes sabemos interpretar este continuo como si estuviera formado por unidades discretas, diferenciadas e independientes entre sí. Percibimos, por ejemplo, dos ondas sonoras de determinada duración y frecuencias: pata, bata. Nosotros somos capaces de segmentar esa cadena hablada en TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA 21 diferentes elementos, como pata [p] [a] [t] [a]; bata [b] [a] [t] [a]. Un hablante de español es capaz además de detectar diferencias mínimas entre los sonidos: [p] [b]. A décima característica é o deslocamento, até onde sabemos, a linguagem humana é a única que é capaz de referenciar fatos ocorridos no passado, realizando retomadas temporais e mencionando fatos já ocorridos (por exemplo, “ontem foi um dia muito quente”, “Barack Obama foi um dos presidentes mais populares dos EUA”, “o século XV foi um século de muitas enfermidades” etc.). Além disso, também podemos expressar vontades que temos de realizar certos desejos, projeções para o futuro e outros prognósticos temporais que estão além ou aquém do tempo presente. FIGURA 9 – DESLOCAMENTO FONTE: Hocket (1982, p. 7) A décima primeira característica é a produtividade. A linguagem humana permite que se produza e se interprete um composto ilimitado de mensagens através de unidades que já foram utilizadas anteriormente. É como se bebêssemos diretamente em uma imensa fonte de conhecimento, selecionando as unidades e combinando-as, a fim de gerar infinitas possibilidades de combinações. A transmissão cultural, enquanto décima segunda característica, constitui a soma do conhecimento produzido pela nossa civilização e transferido para os indivíduos que nascem e crescem em determinado meio-espaço. Pessoas que nascem em uma comunidade de colonização alemã certamente terão marcos referenciais de linguagens diferentes de outras pessoas que cresceram e vivem em comunidade com forte conexão com a cultura negra trazida da África. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 22 FIGURA 10 – CULTURA AFRICANA DE RAIZ FONTE: The Old Plantation (atribuído a John Rose) (1785). Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/31/SlaveDanceand_ Music.jpg>. Acesso em: 7 abr. 2018. A dupla articulação, décima terceira característica de Hockett (1960), expressa dois níveis estruturais: aqueles que não possuem significado algum independente (os sons por si só), e outro resultado da combinação de diferentes sons para formar sentido. Observe o que Norberto Moreno (s.d., p. 11) afirma sobre esse aspecto: Las lenguas están estructuradas en dos niveles estructurales distintos. Como se señaló a la hora de hablar de su carácter discreto, la lengua está formada por un número limitado de sonidos distintos ([m, r, d, a, o....]) que no significan nada por sí mismos. Sin embargo, esos fonemas funcionan como piezas básicas que permiten crear morfemas (-dad, -ado), construir palabras (amor, mora,...) y también crear secuencias más complejas (aroma del ramo). La primera articulación, por lo tanto, está constituida por esas piezas básicas, y la segunda por sus posibles combinaciones. Este mecanismo es esencial para la productividad y para la economía lingüística, porque con un inventario muy limitado de sonidos (entre 20 y 30 fonemas) podemos construir un conjunto potencialmente infinito de expresiones. A prevaricação, décima quarta característica, é a capacidade que os seres humanos possuem de mentir. Através da linguagem é possível que se crie enunciados não correspondentes com a realidade e também expressões sem sentidos, como o clássico exemplo de Chomsky “Colorless green ideas sleep furiously” (ideias verdes incolores dormem furiosamente). A metarreflexão, décima quinta característica, é a capacidade autorreferencial da língua: “esta é a palavra amor”, “o verbo pode ser transitivo direto” etc. A linguagem pode referenciar-se a si mesma. Por fim, a décima sexta característica é a possibilidade de aprendizagem. Qualquer idioma pode ser aprendido por qualquer pessoa, seja ela uma criança aprendendo a sua língua materna, ou um adulto aprendendo uma língua estrangeira. TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA 23 Acadêmico! Esta é apenas uma teoria que busca compreender as características gerais da linguagem humana. Uma de várias, de muitas possíveis! Nós a abordamos nestas páginas porque acreditamos que ela abrange diversos parâmetros importantes que nos direcionam a um melhor entendimento sobre a questão. Quando Charles F. Hockett publicou o ensaio The origin of Speech, o autor tentou demonstrar as principais diferenças da linguagem humana para a linguagem animal. Ao longo de sua trajetória, você pode encontrar outras definições baseadas em outras orientações teóricas. DICAS Caro acadêmico, você lembra de Noam Chomsky? Ele é um autor que possui livros de valor inestimável para o campo dos estudos linguísticos. Entre suas obras sobre a questão da linguagem, recomendamos A ciência da linguagem (2014); Arquitetura da Linguagem (2009); e Sobre a natureza da linguagem (2006). 3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA A língua possui distintos níveis de análise. Você recorda quando estudamos as diversas ramificações da linguística, como a fonética, a fonologia e a semiótica? O entendimento do conhecimento produzido nessas áreas é de importância vital para que possamos analisar a linguagem em todos os seus níveis. Relembre o que dissemos anteriormente sobre as perspectivas de estudo da Linguística Aplicada: A linguística teórica se divide basicamente em áreas de especialização: a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a análise do discurso, a pragmática e a semântica. Cada uma dessas áreas se ocupa de aspectos específicos da linguagem. Você recorda que no Tópico 1 vimos que a linguagem é definida como multifacetada (possui várias faces) e que também abrange vários domínios, sendo então “física, fisiológica e psíquica”? (PETTER, 2003, p. 9). É no âmago desses desdobramentos que se dividem as áreas de especialização da linguística teórica. NOTA UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 24 A principal contribuição no nível analítico vem de Louis Hjelmslev (1899-1965), um importante linguista dinamarquês. Em uma perspectiva geral, a língua se divide em plano de expressão e plano de conteúdo. O plano de conteúdo (significado) e o plano de expressão (manifestação de dado conteúdo) são conceitos fundamentais para realizar uma análise, pois é através da junção de ambos que chegamos ao signo.Observe o nível de expressão, aquele que manifesta o conteúdo, no exemplo a seguir você verá um típico soneto literário. Consideraremos dois elementos fundamentais no plano de expressão: a questão fonética e a questão fonológica. Desforrado (Glauco Mattoso) Bem feito! Quem mandou me ler? Agora vai ter que me engolir com casca e tudo! E mesmo quando, em parte, me desnudo, quem prova sente nojo e cospe fora. “Bem feito!” (é o que se diz ao cego) “Chora!” Eu choro, mas em vez dum pranto mudo converto o desabafo em verso agudo, tão grave quanto um frade que não cora. Sem papas, meus buracos escancaro e os olhos dos leitores esbugalho ao verem que a derrota vendo caro. E a quem acha bulhufas o que valho das tralhas mais baratas sou avaro de modo a indecifrar-lhe meu trabalho. Observe a rima na primeira estrofe, “agora” rimando com “fora” (versos 1 e 4) “tudo” e “desnudo” (2 e 3), na segunda estrofe “chora” com “cora” (5 e 8), “mudo” e “agudo” (6 e 7) e assim sucessivamente. Perceba que, além de rimar, as palavras também se complementam em sentido umas às outras. Esta é uma relação perfeita de plano de expressão com plano de conteúdo, visto que o plano de expressão trabalha para demonstrar a ideia presente no conteúdo. Ao analisar o poema, Alonso e Silva (2006, p. 3) chegaram à conclusão de que o crucial deste poema é a transgressão poética perceptível em nível de conteúdo: Nesse poema, o ponto-chave da análise é a transgressão poética. Basta notar que o soneto surge como uma espécie de vingança, uma vez que “Desforrado” significa vingado, recompensado. É, portanto, numa atitude metalinguística que Glauco Mattoso trata aqui a questão do TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA 25 Relembre o que dissemos anteriormente sobre a fonologia: Se a fonética se preocupa com a acústica, com os sons que o nosso aparelho fonador é capaz de fazer para pronunciar o aspecto significante do signo, a fonologia se preocupa com a função e a organização do sistema sonoro da língua. Como você pode perceber, são áreas irmãs no âmbito dos estudos linguísticos. Ao se preocupar com a funcionalidade da fala, a fonologia se preocupa com questões de diferenciação entre os fonemas no processo de produção de sentido, como no caso dos pares mínimos. Hernández de Motta (2000) relembra que, ao se comparar os pares mínimos, «muro/ duro», «mudo/ dudo» y «mimo/ mido», logo se comprova que os sons de /m/ e /d/ são fonemas diferenciados, pois a existência deles é capaz de modificar completamente o sentido e a função de uma palavra. Outra função da fonologia é pensar a estrutura silábica de uma língua, conforme exemplifica Mota (2000, p. 63) ao comparar a estrutura silábica do maia (Consoante+vogal+consoante) com o espanhol (consoante+vogal): “los patrones que forman (estructura silábica), por ejemplo, en los idiomas mayas predomina la secuencia de sonidos consonante+vocal+consonante (CVe) como en hin-q'ab' (mi mano en qanjob'aL) y en el español la combinación consonante+vocal (CV) como en «si-lla»“ (MACHADO, 2017, p. 25, grifo nosso). NOTA fazer poético, onde por meio da própria poesia, ele explica o modo e o motivo pelo qual escreve o soneto. Verificamos inicialmente que o sujeito narrativo, marcado em primeira pessoa, deixa claro não estar disposto a querer entrar em conjunção com os valores tomados pelo sujeito enunciatário – realizado no discurso pela figura de um leitor avesso aos temas não convencionais: (Bem feito! Quem mandou me ler? Agora/ vai ter que me engolir com casca e tudo!). Há, portanto, um conflito de valores no plano de conteúdo. O sujeito enunciador toma esse modelo de sujeito enunciatário como sendo responsável por colocar o seu fazer poético à margem da literatura dita canônica. Isso, pelo fato de julgar transgressiva a figura do poeta, razão pela qual ele o “cospe” fora. Este tipo de análise pode ser empregado na leitura de textos publicitários, em textos literários e em outras formas de expressão. Trata-se de um método analítico que lança mão das diversas áreas da linguística para extrair o significado do que está sendo analisado. UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 26 FIGURA 11 – LOUIS HJELMSLEV – IMPORTANTE TEÓRICO DA SEMIÓTICA FONTE: Disponível em: <http://denmark.dk/~/media/Denmark/ Images/Meet%20the%20danes/Great%20Danes/Louis-Hjemslev580. jpg?w=580&h=390&as=1&la=en>. Acesso em: 5 jan. 2018. Vamos relembrar? A Morfologia é a área que estuda a constituição das palavras através das unidades mínimas de significado (morfemas). A Sintaxe é o estudo da relação entre as palavras. A Lexicologia é a área que se debruça sobre o estudo científico das palavras, buscando identificar questões relacionadas à origem, ao significado e à forma delas. NOTA DICAS Você pode ler gratuitamente o artigo em que o método analítico, considerando as variáveis fonética, fonológica e também aspectos ligados à semântica é analisado. Ver: ALONSO, F. G. B. S.; SILVA, P. A. O conflito entre o plano de expressão e conteúdo na poesia de Glauco Mattoso. São Paulo: Estudos Semióticos, nº (2006). Disponível em: <https://www. revistas.usp.br/esse/article/download/49157/53241>. Acesso em: 25 dez. 2017. 27 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • De acordo com a perspectiva de Charles Hockett (1960), a linguagem humana possui 16 características. • A existência dessas características envolve questões de ordem biológica, cognitiva e sociocultural. • O estudo de Hockett é importante porque diferencia a linguagem humana da linguagem animal. • A observação nos planos de expressão e conteúdo possibilita análises completas nos substratos semânticos e fonético/fonológicos. 28 1 Não faz(em) parte das 16 características da linguagem humana, de acordo com Charles Hockett (1960): a) ( ) Deslocamento e Evanescência b) ( ) Prevaricação e Dupla articulação c) ( ) Metarreflexão d) ( ) Trinado e) ( ) Retroalimentação 2 Com base no que você estudou neste tópico, observe as alternativas que são apresentadas: I- A metarreflexão é a capacidade autorreferencial da língua. II- A prevaricação é a capacidade que os seres humanos possuem de mentir. III- A linguagem humana é a única que é capaz de referenciar fatos ocorridos no passado. IV- A semântica constitui as entidades não conceituais associadas às expressões linguísticas. V- A especialização constitui a função comunicativa dos sinais linguísticos. Estão corretas: a) ( ) Apenas I, III e IV. b) ( ) Apenas I, III, IV e V. c) ( ) Apenas IV e V. d) ( ) Apenas I, II, III e V. e) ( ) Todos os enunciados estão corretos. 3 Quais das seguintes características não fazem parte da linguagem humana de acordo com Hockett (1960)? ( ) Transmissão radiada e dirigida ( ) Evanescência/transitoriedade ( ) Deslocamento ( ) Transmissão cultural ( ) Produtividade AUTOATIVIDADE 29 TÓPICO 3 A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No âmbito da linguística, o preconceito linguístico é uma autorreflexão acerca do uso real de uma língua específica. Trata-se do reconhecimento da pluralidade sociocultural refletida no idioma falado nos mais diversos estratos sociais, nas regiões e nas comunidades. Em linhas gerais, é uma perspectiva que se situa no âmbito da Sociolinguística e abarca uma reflexão a respeito do uso da língua e a questão da exclusão social. FIGURA 12 – UM DOS PRINCIPAIS LIVROS PUBLICADOS SOBRE O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://meteoropole.com.br/site/wp-content/ uploads/2015/04/preconceito-lingustico-marcos-bagno-1-728.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2018. Para os estudiosos que se debruçam sobre essa vertente de estudos (bastante em pauta nos últimos 18 anos), são importantes as diferenças regionais, os dialetos, as gírias empregadas em diferentes lugares, os sotaques e toda construção mítica a respeito da língua, como a variante mais ou a menos correta. Neste tópico, estudaremosa questão do preconceito linguístico no Brasil e também no âmbito da língua espanhola. 30 UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA A sociolinguística é a disciplina que investiga as relações estabelecidas entre a língua e a sociedade. As possibilidades de estudo são amplas e anualmente são produzidos centenas de trabalhos acadêmicos centrados nesta perspectiva. Um dos principais temas que surge no âmbito desta disciplina é a variação linguística. NOTA 2 A AMPLITUDE DO TEMA NO BRASIL Um dos maiores referentes do tema no Brasil é o filólogo e linguista Marcos Bagno, autor de obras como Preconceito linguístico - o que é, como se faz (1999); Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa (2001); Nada na língua é por acaso - por uma pedagogia da variação linguística (2007); A língua de Eulália (1997); Dramática da língua portuguesa - gramatical, mídia & exclusão social (2000). Ao longo de sua trajetória, Bagno combate a ideia de uma única língua correta e questiona as categorias de “certo” e “errado”. FIGURA 13 – DIVERSIDADE E PRECONCEITO LINGUÍSTICO FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_kOy7xkpibgY/ TTx1U53q-WI/AAAAAAAAAkA/L9Owrzz8m2c/s1600/ Preconceito+linguistico.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2018. No cerne da crítica se encontra a gramática normativa, que determina as regras da língua e o que socialmente se entende por “bem falar”. Ao estabelecer o “português correto”, a gramática normativa naturalmente exclui a linguagem das ruas e as nuances linguísticas praticadas no dia a dia pelos falantes. No livro Dramática da língua portuguesa - gramatical, mídia & exclusão social (2000), Bagno equipara a gramática à alquimia e à astrologia na categoria de doutrinas esotéricas, por se realizar somente no âmago da crença. Trata-se de uma postura de combate, TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 31 com vistas claras a chocar e questionar o que está socialmente estabelecido. De acordo com Bagno (2000, p. 108-109): “os comandos paragramaticais têm função similar aos dos livros de outras manifestações multimidiáticas de “autoajuda”: mostrar um caminho diferente, melhor, que permita ao indivíduo subtrair-se ao caos da modernidade estressante”. FIGURA 14 – MARCOS BAGNO FONTE: Disponível em: <http://s2.glbimg. com/6qFNcOgZPav_11ZhaoJKXR1OLlY=/350x452/top/i.glbimg. com/og/ig/infoglobo1/f/original/2016/03/01/1102351-marcos- bagno.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2017. No primeiro capítulo do livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (1999), Bagno elenca oito mitos ligados ao preconceito linguístico, o que chama de “mitologia do preconceito linguístico”. São opiniões de senso comum que são reproduzidas automaticamente no âmbito social, como a ideia de que só em Portugal se fala o português corretamente e que o brasileiro não sabe falar português. Você já ouviu falar em alguma delas? Observe: No primeiro mito, intitulado “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”, Bagno aborda a diversidade linguística distribuída em todo o território nacional, colocando abaixo o mito de que no Brasil há unidade linguística. Segundo Bagno (2007, p. 15), “Existe também toda uma longa tradição de estudos filológicos e gramaticais que se baseou, durante muito tempo, nesse (pre)conceito irreal da ‘unidade linguística do Brasil’”. O autor afirma que este é um mito muito prejudicial à educação: porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc. (BAGNO, 2007, p. 15). 32 UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA Você concorda com o professor Marcos Bagno quando ele afirma que existe diversidade linguística no Brasil? Proponho que você reflita sobre a diversidade linguística que há em seu próprio estado. Relembre os sotaques distintos, o vocabulário e as expressões únicas que existem em cada região do lugar onde você mora. Se você não conseguir detectar nenhuma diferença, compare a expressão linguística do lugar onde você mora com a de outros estados, vizinhos ou mais distantes. NOTA O segundo mito é o de que “Brasileiro não sabe português”/ “Só em Portugal se fala bem português”. O autor apresenta as diferenças notáveis entre o português europeu e o português brasileiro. Este mito, segundo Bagno (2007, p. 20), reflete “o complexo de inferioridade, o sentimento de sermos até hoje uma colônia dependente de um país mais antigo e mais “‘civilizado’”. No terceiro mito, “Português é muito difícil”, o autor relaciona a dificuldade em seguir uma norma estabelecida em Portugal e o modo de falar e escrever das pessoas no Brasil: “Como o nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil” (BAGNO, 2007, p. 34). FIGURA 15 – PORTUGUÊS É MUITO DIFÍCIL FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-EKHeBxtCQ0s/VU0r3WOhQJI/ AAAAAAAAJNc/DzHOs6y_o7o/s1600/digitalizar0023.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2018. Já no quarto mito, “As pessoas sem instrução falam tudo errado”, o autor se debruça sobre a problemática do preconceito social do qual são vítimas pessoas que não falam da forma como está estabelecida na norma. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola- gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”. Um exemplo. Na visão TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 33 preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de I em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço de “atraso mental” dos falantes “ignorantes” do português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão (BAGNO, 2007, p. 40). No quinto mito, “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”, o autor aborda o que considera uma “grande bobagem” de origem indetectável: Não sei quem foi a primeira pessoa que proferiu essa grande bobagem, mas a realidade é que até hoje ela continua sendo repetida por muita gente por aí, inclusive gente culta, que não sabe que isso é apenas um mito sem nenhuma fundamentação científica. De onde será que veio essa ideia? Esse mito nasceu, mais uma vez, da velha posição de subserviência em relação ao português de Portugal (BAGNO, 2007, p. 46). Este mito, de acordo com Bagno (2007), teria surgido em função do uso regular do pronome “tu” seguido das formas verbais clássicas “tu vais, tu queres, tu dizes, tu comias, tu cantavas etc.” (id). No sexto mito, “O certo é falar assim porque se escreve assim”, o autor apresenta as nuances notáveis entre as distintas variantes nacionais, traçando uma linha entre a linguagem formal e a informal. Para exemplificar o caso, Bagno apresenta um quadro do pintor belga René Magritte (1898-1967), intitulado A traição das imagens. Neste quadro, o pintor apresenta a figura de um cachimbo acima da frase “Isto não é um cachimbo”. Logo após, Bagno (2007, p. 53) explica: Em que esse exemplo pode servir à nossa discussão? Isso não é um cachimbo de verdade, mas simplesmente a representação gráfica, pictórica de um cachimbo. O mesmo acontece com a escrita alfabética, em sua regulamentação ortográfica oficial. Ela não é a fala: é uma tentativa de representação gráfica. FIGURA 16 – A TRAIÇÃO DAS IMAGENS (RENÉ MAGRITTE) FONTE: Bagno (2007, p. 53)UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 34 Já no sétimo mito, “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”, Bagno (2007) aborda a questão da gramática normativa como um instrumento de poder e controle. A variação linguística é subordinada à norma culta e assim geram-se infinitos preconceitos. No oitavo mito, “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”, Bagno (2007) mostra as contradições presentes na ideia de que dominar a norma culta constitui automática ascensão social. Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo? Afinal, supostamente, ninguém melhor do que eles domina a norma culta. Só que a verdade está muito longe disso como bem sabemos nós, professores, a quem são pagos alguns dos salários mais obscenos de nossa sociedade. Por outro lado, um grande fazendeiro que tenha apenas alguns poucos anos de estudo primário, mas que seja dono de milhares de cabeças de gado, de indústrias agrícolas e detentor de grande influência política em sua região vai poder falar à vontade sua língua de “caipira”, com todas as formas sintáticas consideradas “erradas” pela gramática tradicional, porque ninguém vai se atrever a corrigir seu modo de falar (BAGNO, 2007, p. 69-70). No Brasil, Bagno construiu uma trajetória notável e gerou discussões relevantes a respeito do assunto. Se no Brasil, um país unificado em torno do português, a questão do preconceito linguístico possui dimensões de ordem variada, em Espanhol você perceberá que este problema envolve não somente variações linguísticas dentro do Espanhol, mas também a influência de outras línguas. 3 A QUESTÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL: UM PROCESSO HISTÓRICO TURBULENTO Consideradas as circunstâncias históricas que abarcam mais de mil anos, no mundo hispânico a questão sociolinguística possui um tom substancialmente diferente do aporte brasileiro. Se no Brasil o preconceito linguístico se dá nos domínios de aplicação da própria língua portuguesa – como bem sinalizam os livros do professor Bagno –, no mundo hispânico uma rápida aproximação denota atores mais complexos, como a coexistência de outros idiomas indoeuropeus (no caso da Espanha) e indígenas (no caso da América). No Brasil, um país majoritariamente lusofalante, o preconceito linguístico é um problema. Nos países de língua espanhola o tema carrega em si polêmicas calorosas não somente na contemporaneidade, mas praticamente em toda a história do castilhanismo. Você sabe onde este problema começa? Na disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I mencionamos brevemente a existência das línguas co-oficiais na Espanha, sem nos determos na questão sociolinguística. Você recorda quais são elas? Inicialmente, é necessário afirmar que, por causa de sua posição estratégica, a Península Ibérica é um lugar que já presenciou palcos de grandes conflitos, como guerras e carnificinas. TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 35 FIGURA 17 – TERRITÓRIO DA PENÍNSULA IBÉRICA – ONDE SE SITUAM PORTUGAL E ESPANHA – ENTRE A EUROPA E A ÁFRICA Gibraltar Sevilha Madri Lisboa Porto Zaragoza Bilbão Valência Barcelona Marselha Toulouse Ilhas Balneares FONTE: Disponível em: <https://pt.wikivoyage.org/wiki/Ficheiro:Iberia_regions_ map(pt).png>. Acesso em: 25 abr. 2018. Para nos situarmos historicamente, primeiramente devemos recordar de três fatos históricos de relevância máxima. O primeiro fato está relacionado aos romanos. De acordo com a história convencionalmente aceita, a conquista romana na Península Ibérica surgiu em torno de 200 anos antes de Cristo. Neste contexto, os romanos impuseram sua língua (o latim). Destas línguas surgiram outras, como o Catalão, o Galego, o Castelhano, o Valenciano, o Aragonês, o Português e o Mirandês. Até hoje são perceptíveis marcas da presença romana no território português e espanhol. A figura a seguir traz um registro contemporâneo da ponte romana em Córdoba (Espanha) sobre o Rio Guadalquivir, construída no século I d.C. FIGURA 18 – PONTE CONSTRUÍDA PELOS ROMANOS NA CIDADE DE CÓRDOBA FONTE: O autor UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA 36 O segundo fato está relacionado à questão árabe. Vale recordar que o território no qual hoje se situa a Espanha é uma porta de passagem da África para a Europa. O norte da África é um local em que milenarmente vivem os povos árabes. É deste espaço saariano de onde vieram os povos que invadiram a Península Ibérica, aproximadamente a partir do ano 711. A presença deles nesta região se manteve até 1492, quando os muçulmanos foram definitivamente expulsos pelos reis católicos Fernando e Isabel. Relembre o que falamos sobre a questão árabe na Espanha no tópico “A língua espanhola e suas origens”, na disciplina Linguística Aplicada à língua espanhola I: “Na língua espanhola a presença moura deixou marcas significativas, como uma herança de 4.000 palavras de origem árabe. De acordo com Santiago González (s.d., s.p), entre estas palavras, muitas dão nome a cidades espanholas, como La Mancha (la’a Ma-anxa, que significa ‘sin agua’), Algeciras (de Al Khadra ( ), ‘la isla verde’), Alcalá (do árabe alqala` a ( ), ‘el castillo’), Henares (An-Nahar ( ), “el río”), assim como outras palavras de uso comum, como ‘faquir”, “almohada”, elixir”, “quilate” etc. NOTA FIGURA 19 – CASTELO DO CALIFADO AL-ANDALUZ EM GRANADA (ESPANHA) FONTE: O autor O terceiro fato está ligado à tomada e à conquista da América, quando Cristóvão Colombo chegou às Antilhas em 1492. Deste ponto em diante, reunimos três fatos historicamente importantes para a questão linguística: TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 37 De la isla Española En la isla Española, que fue la primera, como dijimos, donde entraron cristianos y comenzaron los grandes estragos y perdiciones de estas gentes y que primero destruyeron y despoblaron, comenzando los cristianos a tomar las mujeres e hijos a los indios para servirse y para usar mal dellos y comerles sus comidas que de sus sudores y trabajos salían, no contentándose con lo que los indios les daban de su grado conforme a la facultad que cada uno tenía, que siempre es poca, porque no suelen tener más de lo que ordinariamente han menester y hacen con poco trabajo, y lo que basta para tres casas de a diez personas cada una para un mes, come un cristiano y destruye en un día, y otras muchas fuerzas y violencias y vejaciones que les hacían, comenzaron a entender los indios que aquellos hombres no debían de haber venido del cielo; y algunos escondían sus comidas, otros sus mujeres e hijos, otros huíanse a los montes por apartarse de gente de tan dura y terrible conversación. Los cristianos dábanles de bofetadas y de palos, hasta poner las manos en los señores de los pueblos; y llegó esto a tanta temeridad y desvergüenza que al mayor Rey señor de toda la isla, un capitán cristiano le violó por fuerza su propia mujer. De aquí comenzaron los indios a buscar maneras para echar los cristianos de sus tierras. Pusiéronse en armas, que son harto flacas y de poca ofensión y Questão linguística no mundo hispanofalante Romanização da Península Ibérica Invasão Árabe Conquista da América A romanização da Península Ibérica resultou no surgimento de diversas línguas naqueles territórios, como as já mencionadas anteriormente. A invasão árabe, que durou mais de 600 anos, deixou contribuições linguísticas riquíssimas na língua espanhola. Por fim, a invasão espanhola da América oprimiu – e segue oprimindo – as línguas e as culturas nativas. Este é um problema que se arrasta há mais de 500 anos e, aparentemente, não há solução em vista. Observe o texto a seguir. Trata-se de um trecho retirado do livro Brevísima relación de la destrucción de las Indias, de autoria do frei Bartolomé de las Casas, publicado em 1552. Las Casas acompanhou a colonização
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