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Instituto Serzedello Corrêa Aula 5 Execução, operação e fiscalização OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E DE SANEAMENTO Módulo 1 Planejamento RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Serviço de Planejamento e Projetos Educacionais Secretaria de Métodos Aplicados e Suporte à Auditoria - SEAUD CONTEUDISTAS Bruno Martinello Lima Gustavo Ferreira Olkowski Marcelo Almeida de Carvalho Rafael Carneiro Di Bello Victor Hugo Moreira Ribeiro Rommel Dias Marques Ribas Brandao REVISORES TÉCNICOS Jose Ulisses Rodrigues Vasconcelos Eduardo Nery Machado Filho TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompêo RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho Vivian Campelo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Vanessa Vieira © Copyright 2015, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em outubro de 2015. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União. [ 3 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Módulo 1 - Planejamento Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Como deve ser o acompanhamento da execução das obras públicas? Quais são as condutas esperadas dos representantes da Administração junto às empresas contratadas? Na aula anterior, vimos as questões relativas ao procedimento licitatório de uma obra pública, tratamos dos termos do edital, dos requisitos de habilitação técnica das licitantes, das exigências sobre as propostas, entre outras questões. Em suma, tanto a fase interna da licitação quanto a fase externa da licitação foram abordadas. Nesta aula, trataremos da etapa de execução do contrato, que se inicia após o término da licitação, tendo sido escolhida uma empresa vencedora. Essa etapa tem diversas peculiaridades, sobretudo a tarefa de fiscalização por parte da Administração Pública. Veremos quais os instrumentos que a Lei confere à Administração Pública para que, no âmbito do vínculo contratual, seja possível termos uma obra entregue, pronta, de qualidade, no prazo correto e no preço justo. Para facilitar o estudo, esta aula está organizada da seguinte forma: Módulo 1 - Planejamento ......................................................................................... 3 Aula 5 - Execução, operação e fiscalização ...................................................... 3 1. Fase de execução da obra ..................................................................................... 6 1.1 Contrato de execução das obras .................................................................. 6 1.2 Assinatura do contrato .................................................................................. 6 1.3 Particularidades do RDC .............................................................................. 7 1.4 Dicas operacionais para o início do contrato ............................................ 8 2. Fiscalização de obras públicas .......................................................................... 8 2.1 Preposto mantido pela contratada .............................................................. 9 2.2 Supervisão e Apoio à Fiscalização ............................................................. 10 2.3 Atuação da Caixa Econômica Federal nos Contratos de Repasse ......... 10 2.4 Dicas operacionais quanto à fiscalização .................................................. 12 2.5 Gerente do contrato .................................................................................... 12 2.6 Início dos serviços ....................................................................................... 12 2.7 Diário de obras ............................................................................................. 13 2.8 Vigência do contrato e prazo de execução da obra ................................. 13 2.9 Prorrogação do prazo de execução ........................................................... 14 2.10 Subcontratação........................................................................................... 15 2.11 Sub-rogação ................................................................................................ 15 [ 4 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 2.12 Medição e pagamento ...............................................................................15 2.13 Aferição da qualidade dos serviços .........................................................16 2.14 Medição (aferição da quantidade dos serviços) ....................................16 2.15 Empreitadas por preço unitário e global ................................................17 2.16 Pagamento ..................................................................................................18 2.17 Medição dos serviços de administração local........................................19 2.18 Medição e pagamento por material posto na obra................................20 2.19 Pagamento antecipado ..............................................................................21 2.20 Termos Aditivos .........................................................................................21 2.21 Necessidade de fundamentação técnica .................................................22 2.22 Necessidade de formalização ...................................................................23 2.23 Pagamento por “química” .........................................................................23 2.24 Limites de supressão e acréscimo ............................................................25 2.25 Manutenção do desconto e jogo de planilha..........................................26 2.26 Sanções administrativas ............................................................................28 2.27 Atraso injustificado na execução do contrato ........................................29 2.28 Inexecução total ou parcial do contrato .................................................29 2.29 Rescisão do Contrato ................................................................................30 2.30 Recebimento Provisório e Definitivo ......................................................30 2.31 Documentação As Built ............................................................................31 3. Operação ..................................................................................................................32 3.1 Manutenção ..................................................................................................35 3.2 Garantia da obra ..........................................................................................41 Síntese ...........................................................................................................................42 Referências bibliográficas ...................................................................................43 Glossário ....................................................................................................................46 Ao final da aula, espera-se que o participante seja capaz de, no exercício de suas responsabilidades como gestor de obras públicas municipais de edificações e saneamento: 1. Enumerar as principais atribuições da equipe de fiscalização da obra; 2. Elencar e utilizar os principais instrumentos de gestão relacionados à execução e à fiscalização de uma obra pública; 3. Calcular os limitesde acréscimos/supressões em aditivos contratuais de acordo com a jurisprudência do TCU; 4. Identificar algumas das irregularidades mais comuns encontradas pelas auditorias do TCU e o procedimento adequado para evitar a ocorrência de tais irregularidades; [ 5 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização 5. Realizar o recebimento de obras públicas observando os principais requisitos exigidos pela legislação e pelas boas práticas; 6. Identificar as obrigações do construtor e do gestor vinculadas ao período pós-obra, de modo a prevenir danos ao patrimônio público e garantir que se mantenham, nesse período, os padrões de desempenho e durabilidade previstos em projeto. Pronto para começar? Então, vamos! [ 6 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 1. Fase de execução da obra Concluído o procedimento licitatório, com a homologação do processo e a adjudicação do objeto à empresa vencedora, tem início a fase de execução da obra. Nessa etapa, a empreiteira contratada terá que realizar a obra conforme prevê o projeto e o contrato. Já a Administração Pública tem a obrigação legal de fiscalizar todo o processo para garantir a perfeita conclusão do empreendimento. O início dessa fase se dá pela assinatura do contrato. Já o seu final ocorre quando do recebimento da obra. 1.1 Contrato de execução das obras O contrato deve estabelecer com clareza e precisão todas as condições para a execução da obra. Assim, devem ser previstas detalhadamente todas as obrigações do contratante e da contratada, com base nas disposições do projeto. Ou seja, as responsabilidades devem estar em atreladas ao orçamento, cronograma, caderno de encargos e às especificações técnicas. Obrigatoriamente, todo contrato deve mencionar os nomes das partes e de seus representantes, a sua finalidade, o ato que autoriza a sua realização, o número do processo da licitação e a sujeição das partes às normas da Lei 8.666/1993 e às cláusulas contratuais. Mesmos nas licitações regidas pelo RDC, são aplicáveis à execução do contrato as normas da Lei 8.666/1993. O contrato administrativo deve ser executado sempre de acordo com suas disposições. Nos contratos particulares (de empresas privadas, por exemplo), é comum às partes aceitarem concessões, até mesmo permitindo a outra parte o descumprimento de obrigações. Os contratos administrativos, no entanto, são rígidos, vigorando a indisponibilidade do interesse público. Portanto, não há essa liberdade para o gestor nem para a contratada. O gestor deve exigir que a empresa cumpra todas as obrigações assumidas. 1.2 Assinatura do contrato A minuta do contrato deve obrigatoriamente ser publicada junto com o edital de licitação. Dessa forma, na fase interna da licitação é que devem ser feitos eventuais ajustes às cláusulas contratuais. O contrato administrativo caracteriza-se ainda por ser um contrato de adesão. Por essa razão, o contratado não pode sugerir modificações nas cláusulas do contrato após a abertura da licitação. Ao oferecer proposta, um licitante está automaticamente concordando com os termos do contrato [ 7 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização que ele assinará se ele for o vencedor do certame. Caso as licitantes queiram sugerir mudanças na minuta do contrato, o instrumento adequado é o da impugnação ao edital, que deve ser feita antes da abertura da data de entrega da documentação de habilitação e das propostas de preços. Após a homologação da licitação, a administração municipal deverá convocar o vencedor da licitação para lavrar o termo de contrato dentro do prazo estabelecido no edital, sob pena de perda do direito à contratação. Usualmente é fixado em 30 dias e pode ser prorrogado apenas uma vez, por período igual ao inicial. Assim, a administração poderá conceder à empresa vencedora os 30 dias e prorrogar por mais 30 dias1. O gestor deve ficar atento, pois passados 60 dias da data da entrega das propostas, se não for realizada a convocação para a assinatura do contrato, os licitantes ficam liberados dos compromissos assumidos e podem optar por não realizar a obra. Contudo, se a licitante vencedora for convocada dentro do prazo de validade de sua proposta e se recusar a assinar o contrato, o gestor deve aplicar as sanções previstas no edital e na legislação a essa empresa. Além disso, o gestor pode optar entre revogar a licitação ou convocar as demais licitantes pela ordem de classificação, propondo-lhes celebrar o contrato nas condições da proposta do vencedor. No ato de assinatura do termo contratual a empreiteira deve apresentar as garantias que eventualmente tenham sido exigidas no edital. De acordo com a Lei 8.666/1993, essa garantia pode ser de até 5% do valor no contrato no caso de obras de até R$ 37,5 milhões e de 10% para obras de maior valor2. 1.3 Particularidades do RDC Como já foi comentado, caso a licitante vencedora se recuse a assinar o contrato, a Administração Pública pode convocar as demais licitantes, respeitada a ordem de classificação da licitação, para que celebrem o contrato nas condições da proposta vencedora. Ainda assim, pode ocorrer que nenhuma licitante se interesse em firmar o contrato. Nesses casos, a Lei 8.666/1993 e o RDC preveêm procedimentos distintos: yy Em licitações regidas pela Lei 8.666: o gestor deverá revogar a licitação.3 1 - Art. 64 da Lei 8.666/1993. 2 - Art. 56, § 2º e 3º, da Lei 8.666/1993. 3 - Art. 49 da Lei 8.666/1993. [ 8 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento yy Em licitações regidas pelo RDC: o gestor pode convocar novamente os licitantes, na ordem de classificação, propondo- lhes firmar o contrato nas condições oferecidas em suas respectivas propostas. O objetivo é evitar a revogação do procedimento licitatório.4 1.4 Dicas operacionais para o início do contrato yy Convocar a empresa vencedora para assinar o contrato dentro do prazo estabelecido no edital (geralmente em até 60 dias da apresentação das propostas); yy Verificar se o contrato descreve todas as obrigações e deveres da empreiteira; yy Verificar se o contrato prevê que a empresa deve executar a obra nos exatos termos do projeto, do orçamento, do cronograma, do caderno de encargos e das especificações técnicas; yy Exigir a apresentação das garantias previstas no edital. 2. Fiscalização de obras públicas Antes de se iniciar a construção, é imprescindível que seja designada formalmente uma equipe de fiscalização para a obra5. A fiscalização é uma atividade que deve ser realizada de modo constante, organizado e sistemático pela administração pública, para assegurar o cumprimento das disposições contratuais em todos os seus aspectos. Assim, a equipe de fiscalização desempenha diversas atividades, entre as quais se destacam as seguintes: yy Manter arquivo completo e atualizado de toda documentação e ocorrências da obra (contrato, projetos, diário de obras, medições de serviços e outros); yy Analisar e discutir com a contratada as providências necessárias para o andamento dos serviços, nos termos previstos no cronograma físico-financeiro; yy Solucionar dúvidas e omissões quanto aos projetos e, caso necessário, submetê-las aos projetistas; 4 - Art. 40, Parágrafo Único, da Lei 12.462/2011. 5 - Art. 67, da Lei 8.666/1993. [ 9 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização yy Solicitar em tempo hábil à autoridade superior a solução de problemas que não estejam em sua alçada; yy Exigir da contratada a substituição de materiais e equipamentos que não estejam em conformidade com as normas e especificações técnicas do projeto; yy Exigir da contratada que refaça serviços que não sejam executados em conformidade com o projeto, norma técnica ou contrato; yy Aprovar partes, etapas e a totalidadedos serviços executados; yy Verificar os valores e atestar as medições dos serviços. A equipe de fiscalização deve ser nomeada mediante ato formal assinado pelo dirigente do órgão contratante. Sua composição deve ser formada por servidores públicos capacitados, com conhecimentos sobre construção civil e gestão pública. Seus membros deverão ser preferencialmente engenheiros, arquitetos ou técnicos de edificações. A empresa contratada para executar a obra deve colaborar com o trabalho da fiscalização, permitindo o amplo acesso ao canteiro de obras e atendendo prontamente às solicitações que lhe forem dirigidas. Nas auditorias realizadas pelo TCU, são frequentes as irregularidades ocasionadas por deficiência na fiscalização. Exemplos comuns são: medições de quantidades diferentes das executadas; e execução de serviços em desconformidade com o projeto. É fundamental que o fiscal acompanhe atentamente todos os serviços e etapas da obra e mantenha documentação com os registros de sua atuação. Além disso, as situações que ultrapassem sua competência devem ser levadas aos seus superiores rapidamente para a adoção das providencias cabíveis. 2.1 Preposto mantido pela contratada A empresa contratada para executar a obra deverá garantir a presença permanente no canteiro de um representante. O representante deverá ser aceito pela Administração e será o responsável por atender qualquer solicitação emitida pela equipe de fiscalização. Esse profissional não necessariamente será o responsável técnico pela obra. Para saber mais... Observação: o Manual de Obras Públicas da Secretaria de Estado da Administração e do Patrimônio (SEAP) apresenta um rol das atividades a serem desenvolvidas pela equipe de fiscalização. Atenção! [ 10 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento O responsável técnico é aquele que detém a experiência exigida no edital para a construção da obra e que deverá apresentar a Anotação de Responsabilidade Técnica – ART antes do ínicio da execução dos serviços. 2.2 Supervisão e Apoio à Fiscalização A lei permite que a Administração Pública contrate uma empresa de supervisão e apoio à fiscalização para lhe auxiliar nas tarefas de fiscalizar a execução da obra e gerir o contrato. Essa empresa poderá ser contratada por meio de um processo licitatório em separado. Assim, ela poderá realizar todas as atividades de fiscalização enumeradas no tópico 6 desta aula e deverá ter livre acesso ao canteiro de obras. A contratação de terceiros para auxiliar a fiscalização é uma importante ferramenta para superar limitações do quadro técnico do órgão contratante, sendo recomendável para municípios que possuam poucos técnicos na área de construção civil. Apesar disso, a contratação de empresa de supervisão não retira a responsabilidade legal da equipe de fiscalização formada por gestores públicos. Portanto, todas as ocorrências relatadas pela empresa de apoio devem ser verificadas. Ademais, a equipe de fiscalização deve se certificar de que o apoio à fiscalização está exercendo adequadamente os seus serviços. Essa empresa de supervisão também não pode assumir integralmente o papel da fiscalização. Podem ocorrer casos de conluio entre a empreiteira e empresa de supervisão, com o objetivo de fraudar medições ou acobertar a má execução de serviços, razão pela qual a administração deve estar atenta e controlar tanto os serviços da construtora como os da supervisora da obra. Para ilustrar como deve se dar a atuação da equipe de fiscalização, citemos como exemplo o procedimento para a conferência de uma medição de serviços. A planilha de medição será elaborada pela construtora e conferida pela empresa de apoio à fiscalização. No papel de fiscais, os gestores públicos devem realizar nova verificação dos principais serviços medidos, conferindo se os quantitativos discriminados foram de fato executados. 2.3 Atuação da Caixa Econômica Federal nos Contratos de Repasse Grande parte dos recursos federais para a construção de obras públicas em municípios é repassado mediante contratos de repasse. Nesse instrumento, um órgão do governo federal transfere as verbas com auxílio de um interveniente que, usualmente, é a Caixa Econômica Federal. [ 11 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Nesses contratos, a Caixa exerce a função de fiscal dos recursos públicos federais repassados, desempenhando atividades de conferências dos projetos, orçamentos e medições de serviços. Assim, como no caso das empresas de apoio à fiscalização, o trabalho desenvolvido pela Caixa não retira a responsabilidade da Administração Municipal na fiscalização da obra. As esferas de atuação são distintas, enquanto a Caixa deve garantir a regularidade da execução do contrato de repasse, o município deve assegurar a conformidade do contrato de execução da obra. O fluxograma a seguir ilustra as diferentes instâncias de fiscalização da obra. Contrato de Repasse Caixa Município Apoio à Fiscalização Empreiteira Contrato da Obra [ 12 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 2.4 Dicas operacionais quanto à fiscalização yy Se for necessário, contratar empresa de supervisão e apoio à fiscalização; yy Realizar reunião inicial com a contratada para apresentar as equipes, ler contrato, tirar dúvidas, esclarecer a forma de fiscalização e discutir padrões e procedimentos; yy Monitorar mensalmente a execução do cronograma, adotando medidas para garantir o seu cumprimento; yy Realizar visita diária a obra para conferir a qualidade e o ritmo de execução dos serviços. 2.5 Gerente do contrato Em alguns órgãos públicos, existe a figura do gerente do contrato administrativo. Trata-se de um servidor vinculado ao órgão e superior hierarquicamente à equipe de fiscalização. O gerente do contrato exerce um papel de controle e supervisão dos procedimentos da equipe de fiscalização. Ele também tem responsabilidade no pagamento das medições da obra, conforme veremos adiante nesta aula. 2.6 Início dos serviços yy Com a assinatura do contrato e a definição da equipe de fiscalização, o gestor público pode autorizar o início da obra. Todavia, antes de emitir a ordem inicial de serviços deve ser providenciada a seguinte documentação mínima: yy Anotação de Responsabilidade Técnica dos responsáveis técnicos pela execução da obra, registrada no Crea do estado em que se localiza a construção; yy Licença Ambiental de Instalação - (deve ser verificada a necessidade junto ao órgão ambiental da região; esse documento é exigido principalmente para obras de saneamento, para edificações é pouco comum); yy Alvará de Construção, obtido na prefeitura municipal; yy Matrícula CEI da obra no (INSS), a ser obtida no prazo de trinta dias contados do início das atividades; [ 13 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização yy Verificar a necessidade de outros documentos em casos específicos, como, por exemplo, licença do Iphan no caso de intervenções em imóveis tombados. yy Atendidos esses requisitos, a administração pode emitir para a empreiteira a ordem de início da obra. A ordem deve ser registrada em documento específico, assinado pelo gestor competente e arquivada com os demais registros da obra. A partir dessa data se inicia a contagem do prazo de construção previsto no cronograma. 2.7 Diário de obras A Lei exige que a equipe de fiscalização mantenha um registro próprio de todas as ocorrências relacionadas a execução do contrato6. O diário de obras ou livro de ordem é o documento que exerce essa função. O diário é um documento obrigatório que deve ser preenchido tanto pela contratante como pela contratada. Nele, é anotado tudo o que aconteceu de importante a cada dia da construção: os serviços feitos,os equipamentos utilizados, as condições do clima etc. Também devem ser descritos os problemas na execução de serviços e as providências adotadas para solução. Em geral, o livro é composto por três vias: uma para permanecer na obra; uma para arquivo do fiscal; e outra para arquivo da empresa. O diário é um documento e por isso deve ser assinado pelas partes e preenchido com atenção. 2.8 Vigência do contrato e prazo de execução da obra A vigência do contrato é o seu prazo de validade. Ou seja, expirada a vigência do contrato sem que tenha havido prorrogações, o contrato está extinto. É uma cláusula obrigatória em todos os contratos administrativos, que deve indicar até quando a avença estará em vigor. Já o prazo de execução da obra é o período previsto no cronograma para a sua construção. Esses dois prazos não necessariamente são iguais, uma vez que o prazo de vigência de contrato, normalmente, abarca além da execução completa do objeto o prazo para recebimento da obra. Não se admite a execução de serviços fora do período de vigência contratual. Além disso, não é permitida a prorrogação de contrato já expirado. Dessa forma, o gestor deve estar atento para providenciar, 6 - Art. 67, § 1º, da Lei 8.666/1993. Para saber mais... Na biblioteca do curso está disponível um modelo de diário de obras. [ 14 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento caso necessário, a prorrogação em tempo hábil. Para evitar problemas decorrentes de atrasos na construção, recomenda-se estabelecer um prazo de vigência contratual maior que o de execução da obra. Assim, por exemplo, se o cronograma de obra prevê a construção em seis meses, o contrato poderá ter vigência estabelecida em oito meses, computando- se o prazo de recebimento da obra. Embora haja alguma flexibilidade na vigência contratual, o prazo de execução da obra deve ser respeitado pela contratada. O respeito ao cronograma é uma das obrigações essenciais da contratada e sua inobservância pode gerar diversos transtornos como, por exemplo, o prejuízo às atividades do órgão contratante pela impossibilidade de uso das novas instalações. O atraso injustificado na execução da obra sujeita a empresa à aplicação de penalidades e possibilita que a administração rescinda unilateralmente o contrato7. 2.9 Prorrogação do prazo de execução A legislação permite a prorrogação do prazo de construção em algumas hipóteses, a saber: yy Ocorrência de fato excepcional ou imprevisível que altere as condições de execução do contrato (chuvas fora do normal, insumos em falta no mercado, acidentes e outros); yy Ocasionada pela Administração Pública, como pedidos de alteração de projetos, aditivos para acréscimo ou substituição de serviços, demora na adoção de providências a cargo da Administração, paralisação ou diminuição no ritmo de execução dos serviços solicitada pela Administração, entre outros fatores. Não se admite o aumento do prazo de execução da obra em função de atrasos por culpa da empresa contratada. Nesses caso, a empresa deve utilizar todos os meios possíveis para adequar a construção ao cronograma previsto. A prorrogação no prazo de execução implica a modificação do cronograma físico-financeiro, devendo ser justificada por escrito, autorizada pelo dirigente do órgão e formalizada por aditivo ao contrato. Por isso, os fiscais da obra devem registrar qualquer ocorrência que possa resultar em atrasos. Esses documentos serão fundamentais para se discutir com a empresa a causas da demora da execução, servindo de base para a realização dos eventuais aditivos contratuais. 7 - Art. 86, da Lei 8.666/1993. [ 15 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização 2.10 Subcontratação A subcontratação ocorre quando a empreiteira contratada repassa a execução de alguns serviços da obra para outras empresas. Em princípio, não há problemas quanto a essa prática, desde que observadas algumas condições: yy O edital de licitação deve conter autorização para sua ocorrência; yy Todos os serviços subcontratados devem ser previamente autorizados pela equipe de fiscalização; yy Não deve ocorrer a subcontratação de serviços ou parcelas para as quais foram exigidos atestados de capacidade técnica na etapa de habilitação; yy Os pagamentos sempre são realizados para a construtora contratada, nunca para a subcontratada. Mesmo ocorrendo a subcontratação, permanecem válidas as responsabilidades legais e contratuais da empresa vencedora da licitação. Assim, qualquer problema com a execução de serviços subcontratados deve ser discutido com a construtora contratada. Por fim, a equipe de fiscalização deve observar que a ocorrência de subcontratação quando não admitida no edital e no contrato constitui motivo para sua rescisão.8 2.11 Sub-rogação A sub-rogação do contrato significa a substituição da empresa contratada. Essa prática não é permitida pela legislação e configura motivo para rescisão do contrato.9 2.12 Medição e pagamento Nessa fase, a equipe de fiscalização verificará os serviços executados pela construtora, analisando especialmente a sua qualidade e quantidade. A partir daí, poderá autorizar o pagamento das etapas realizadas. Esse procedimento é de fundamental importância, pois erros nas quantidades medidas ou ainda o pagamento por serviços de má qualidade podem configurar superfaturamento. 8 - Art. 78, inciso VI, da Lei 8.666/1993. 9 - Art. 78, inciso VI, da Lei 8.666/1993. [ 16 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Assim, vejamos os principais aspectos relacionados a essa fase. 2.13 Aferição da qualidade dos serviços A equipe de fiscalização deve verificar constantemente a qualidade dos serviços executados na obra. Sobretudo no período de medições, essa verificação é relevante para evitar o pagamento por etapas construídas de maneira inadequada. O trabalho de verificação da qualidade da obra deve ter por base alguns documentos básicos: yy Desenhos do projeto executivo; yy Memorial descritivo do projeto executivo; yy Especificações técnicas do projeto executivo; yy Norma técnica da ABNT – NBR 15.575/2013. A equipe de fiscalização deve conhecer e ter sempre em mãos esses documentos. Uma fiscalização atuante durante toda a obra diminui o risco de problemas no recebimento final. Erros na locação da obra, execução de estruturas fora de prumo e presença de armaduras expostas em elementos da estrutura, são exemplos de defeitos que podem comprometer a qualidade final do acabamento. Dessa maneira, a fiscalização deve: conferir o prumo e o alinhamento de paredes, verificar o caimento de pisos antes da colocação da cerâmica, conferir os traços das argamassas e concretos, realizar testes nas tubulações hidráulicas etc. 2.14 Medição (aferição da quantidade dos serviços) A medição é o levantamento periódico dos quantitativos de serviços executados para possibilitar os pagamentos à empresa contratada. Usualmente, é elaborada uma a cada mês. Seu procedimento consiste nas seguintes etapas: yy Levantamentos dos quantitativos de serviços executados por parte da empresa contratada; yy Conferência dos quantitativos e da qualidade dos serviços pela empresa de apoio à fiscalização; Para saber mais... Na biblioteca do curso, está disponível um guia com orientações para a fiscalização de diversos serviços (vide anexo 1 da Cartilha do TCU). [ 17 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização yy Conferência dos quantitativos e da qualidade dos serviços pela equipe de fiscalização municipal. O levantamento dos quantitativos de serviços deve ser registrado em memórias de cálculo e em relatórios fotográficos, que possibilitem a sua conferência posterior. A discriminação e quantificação dos serviços e obras consideradosna medição deverão respeitar rigorosamente as planilhas de orçamento anexas ao contrato, inclusive os critérios de medição e pagamento. A tabela a seguir ilustra como seria a memória de cálculo para o levantamento de um serviço de alvenaria. Na biblioteca do curso há um exemplo de medição. LOCAL LARGURA (M) ALTURA (M) ÁREA (m2) Cômodo 1 5,50 2,80 15,40 Cômodo 2 7,30 2,80 20,44 Cômodo 3 12,80 2,80 35,84 TOTAL 71,68 Para a medição e o pagamento, só podem ser considerados os serviços realmente executados pelo contratado e aprovados pela fiscalização. O pagamento antecipado por serviços ainda não realizados configura irregularidade. Por fim, a equipe de fiscalização deve ficar atenta aos seguintes aspectos: yy Comparar a quantidade de serviços executado com o previsto no projeto; caso haja diferenças significativas, consultar a empreiteira e o projetista; yy Após as medições, avaliar se o saldo restante é suficiente para concluir a obra ou se serão necessários aditivos. 2.15 Empreitadas por preço unitário e global A equipe de fiscalização deve ficar atenta para o regime de execução do contrato: se é de empreitada por preço unitário (EPU) ou por preço global (EPG). A forma de medir e pagar os serviços executados muda de acordo com o regime de execução. A metodologia de medição nas contratações no regime de Empreitada Por Preço Global é mais simplificada do que em Empreitada por Preço Unitário. [ 18 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Nas empreitadas por preço unitário, é necessário que a medição represente com precisão todas as quantidades de serviços executados. Dessa forma, pode haver algumas divergências entre as quantidades previstas no orçamento e aquelas efetivamente executadas. Além disso, cabem ajustes nos quantitativos mediante aditivos ao contrato. Nas empreitadas por preço global, por sua vez, a medição pode ser realizada por etapas, não sendo necessário o levantamento minucioso de todos os quantitativos. Assim, o contrato deve prever os marcos para o pagamento de todos os serviços como, por exemplo: (a) a conclusão da armação das fundações; (b) a conclusão da concretagem de metade das fundações; (c) a conclusão da concretagem de 10 pilares do pavimento térreo; (d) a conclusão da alvenaria do primeiro andar; (e) a conclusão da pintura de determinados cômodos. Ao final de cada mês de construção, a equipe de fiscalização verificará quais marcos foram atingidos, o que possibilitará sua medição e pagamento. Pode ocorrer que, em obras contratadas sob o regime de empreitada por preço global, a equipe de fiscalização realize a medição com a aferição de todos os quantitativos de serviços, como se o contrato fosse de EPU. Por vezes, esse procedimento pode acarretar o pagamento por quantidades superiores as previstas no projeto, o que não deveria acontecer já que o contrato é por preço certo e total. 2.16 Pagamento Para o pagamento dos serviços, a empresa contratada emitirá uma fatura no valor total previsto no boletim de medição aprovado pela fiscalização. Esse boletim, para ser aprovado, deverá conter: yy Somente os quantitativos de serviços efetivamente executados; yy Dentre esses quantitativos de serviços executados, somente aqueles cuja qualidade foi aprovada pela equipe de fiscalização; yy A assinatura da equipe de fiscalização, do gerente do contato e do responsável por parte da empreiteira; Com o cumprimento dessas exigências, o Município poderá efetuar o pagamento da fatura à construtora. Para saber mais... Na biblioteca do curso, está disponível um guia com orientações para a fiscalização de diversos serviços (vide anexo 1 da Cartilha do TCU). [ 19 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização 2.17 Medição dos serviços de administração local A administração local (AD) é o grupo de itens do orçamento no qual são previstos os gastos com pessoal técnico, administrativo e de apoio (engenheiro responsável, mestre de obras, encarregados, almoxarife, porteiro, segurança do trabalho etc.), bem como os equipamentos de proteção individual, as ferramentas manuais, a alimentação o transporte dos funcionários e outros gastos gerais da obra. Com frequência, o pagamento por esse grupo de serviços é realizado por prestações mensais iguais, independentemente do ritmo de execução dos demais serviços. Ocorre que, nos casos em que há atraso na obra e prorrogação do prazo de construção, essa prática pode ocasionar pagamentos indevidos e, por consequência, prejuízos para o erário. Vejamos o seguinte exemplo. Em uma obra prevista para 10 meses de construção, os gastos totais com AD foram previstos em R$ 100 mil. O pagamento em prestações mensais iguais seria de R$ 10 mil (a cada mês). Caso o prazo de construção fosse estendido em 5 meses, totalizando 15, seriam pagos R$ 150 mil, R$ 50 mil a mais que o previsto. As empresas construtoras possuem mecanismos de controle para enfrentar atrasos e paralisações sob sua responsabilidade (por exemplo, contratações, demissões ou férias). Dessa forma, as empresas podem ajustar os gastos com administração local em relação ao cronograma de execução da obra. Em função disso, o Acórdão 2.622/2013-TCU-Plenário firmou o entendimento de que é recomendável que o critério de medição da administração local esteja atrelado ao andamento da obra, com seus itens medidos de forma proporcional à execução financeira do contrato. Esse procedimento visa resguardar a Administração no que tange ao ritmo programado da obra, propiciando que a contratada não seja beneficiada com aditivos de prorrogação de prazo em decorrência de atrasos injustificáveis e garantindo que a obra chegue ao fim juntamente com a medição e o pagamento de 100% da parcela de administração local.A tabela a seguir um exemplo de como fazer esse tipo de medição. [ 20 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento (A) Valor total da obra R$ 1.000.000,00 (B) Valor total da administração local R$ 100.000,00 MEDIÇÃO (C) VALOR TOTAL DA MEDIÇÃO (D) REPRESENTATIVIDADE DA MEDIÇÃO SOBRE O TOTAL =(C)/(A) Medição da administração local =(D)x(B) Medição nº 1 R$ 50.000,00 5,0% 2.18 Medição e pagamento por material posto na obra Na grande maioria dos casos, os gastos com materiais estão incluídos nos preços dos serviços. Ou seja, no preço do serviço de assentamento de tubos de PVC para uma rede de esgoto, por exemplo, já está incluído o pagamento da mão de obra, dos materiais e dos equipamentos. Apesar disso, alguns editais de obras públicas preveem o pagamento pelo fornecimento de materiais. É o chamado pagamento de material posto na obra. No exemplo citado, seria o pagamento pelo fornecimento dos tubos de PVC antes do seu assentamento. Essa prática, apesar de não ser proibida por lei, não é recomendada, pois submete a administração pública a grandes riscos. Caso o contrato seja rescindido antes do término da obra, o município poderá ficar com um estoque de material sob sua responsabilidade, com risco de roubos, de a quantidade entregue ser menor que a prevista, de deterioração etc. Outro problema associado a essa prática é que ela exige grandes espaços no canteiro de obras para estocagem dos materiais. O principal requisito que é exigido para que sejam efetuados pagamentos por material posto na obra é que esse tipo de pagamento esteja previsto claramente no edital de licitação e nos critérios de medição e pagamento dos serviços incluídos no contrato. Porém, cabe ressaltar que, embora o pagamento por material posto na obra seja uma possibilidade dada pela legislação, recomenda-se que ele não seja adotado em licitações de empreendimentos de edificações e saneamento de pequeno e médio porte, diante dos riscos expressivos envolvidos nesse tipo de operação. Assim,o pagamento deverá ser realizado somente após a execução completa do serviço. [ 21 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização 2.19 Pagamento antecipado Como regra geral, é proibido o pagamento antes da entrega dos materiais ou da realização completa do serviço. O pagamento antecipado somente é permitido em raríssimos casos, em grandes obras, quando é necessária a fabricação de alguma peça ou equipamento que possa onerar de forma excessiva o contratado, e se essa for a prática reconhecida do mercado. Cabe ressaltar que, semelhantemente ao caso do material posto na obra, qualquer antecipação de pagamento só pode ser realizada satisfeitos alguns requisitos, entre os quais, (i) previsão expressa da operação no edital da licitação e no contrato; e (ii) garantias específicas para a operação, distintas das garantias contratuais normais. Em obras de edificações e saneamento de pequeno e médio porte, como as que os gestores municipais enfrentam, dificilmente ocorrerá esse caso. Dessa forma, pode-se se afirmar que não cabe a antecipação de pagamento nesses empreendimentos. 2.20 Termos Aditivos Termos aditivos ou aditamentos são alterações realizadas nas condições iniciais pactuadas no contrato. Embora, em regra, os contratos sejam celebrados para serem executados sem alterações, há situações em que a lei permite que sejam feitas algumas modificações no contrato, as quais serão vistas à frente. As alterações mais comuns realizadas em contratos são aquelas de prorrogação de prazo e de valor do objeto. Essas alterações que impactam o valor final do objeto podem ser divididas em qualitativas e quantitativas. De acordo com a Decisão TCU 215/1999-Plenário, as alterações qualitativassão aquelas realizadas nas especificações do projeto, para melhor adequação técnica, que podem ou não ter algum impacto nas quantidades de serviços. Em outras palavras, alterações qualitativas são aquelas decorrentes de modificações de projeto ou de especificações. Já as alterações quantitativas são aquelas que aumentam ou diminuem os quantitativos de serviços. Na mencionada decisão, o TCU conceituou que as alterações quantitativas visam modificar a dimensão do objeto contratado por meio dos acréscimos e supressões dos serviços contratados. Lembrando que há casos em que ocorrem alterações qualitativas e quantitativas ao mesmo tempo. [ 22 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Exemplificação: Imagine uma obra de construção de um posto de saúde, com área total de 100,00 m². Foi celebrado, no contrato dessa construção, a execução de um determinado piso vinílico, com custo unitário de R$ 80,00/m². Caso o material fosse alterado de piso vinílico, de R$ 80,00/m², para um determinado tipo de cerâmica, de custo unitário de R$ 30,00/m², teríamos uma diminuição no custo total do serviço, de R$ 8.000,00 para R$ 3.000,00. Essa alteração seria do tipo qualitativa. Já se houvesse um aumento da área a ser construída, de 100,00 m² para 150,00 m², e fosse mantida a solução do piso vinílico, de R$ 80,00/m², o custo total do serviço aumentaria de R$ 8.000,00 para R$ 12.000,00. Essa alteração seria do tipo quantitativa. 2.21 Necessidade de fundamentação técnica As alterações contratuais não podem ocorrer apenas baseadas na vontade dos gestores. Antes de tudo, as modificações realizadas no projeto e/ou na planilha orçamentária precisam ser justificadas tecnicamente para serem realizadas. Isso significa que todo termo aditivo deve conter, de forma expressa, as razões que levaram à necessidade de se alterar as cláusulas contratadas inicialmente. Além disso, não é qualquer justificava que permite a alteração do contrato, mas somente aquelas previstas no art. 65 da Lei 8.666/1993, as quais são resumidas a seguir: Unilateralmente pela Administração: yy Modificação no projeto ou das especificações, para adequação técnica aos objetivos. (alteração qualitativa); yy acréscimo ou diminuição quantitativa do objeto, nos limites permitidos na lei. (alteração quantitativa); Por acordo das partes: yy quando conveniente a substituição da garantia; yy quando necessária modificação do regime de execução ou do modo de fornecimento; [ 23 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização yy quando necessária modificação na forma de pagamento, mantido o valor inicial atualizado; yy para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro, na hipótese de fatos imprevisíveis ou extraordinários. 2.22 Necessidade de formalização Assim como o contrato original, os termos aditivos devem ser formalizados, devendo suas cópias ser anexadas ao respectivo processo físico da contratação. Também deve ser dada a devida publicidade, por meio da publicação de seu resumo na imprensa oficial (Diário Oficial da União ou do Estado). Em virtude da exigência acima, é vedado fazer contrato verbal com a administração. Ou seja, no caso de serviços novos em obras ainda não contemplados em termos aditivos, os gestores públicos não podem autorizar a execução desses serviços, tampouco realizar qualquer pagamento, haja vista que ainda não estão devidamente formalizadas as alterações contratuais por meio de termo aditivo. Essa proibição visa dar maior transparência aos contratos administrativos e maior segurança jurídica ao gestor e ao contratado. 2.23 Pagamento por “química” Uma das irregularidades graves encontradas pelo TCU, devido à falta de formalização de termo aditivo, diz respeito ao pagamento por “química”, que ocorre quando o fiscal/gestor utiliza algum serviço da planilha orçamentária original, que não foi executado, para realizar o pagamento de algum serviço novo que foi efetivamente executado, mas que não consta na planilha orçamentária, como se fosse feita uma compensação. Exemplificação: Considere a planilha orçamentária de uma obra que possui os seguintes serviços: yy Execução de piso em cerâmica: Área 120,00 m²; Custo Unitário R$ 30,00/m²; Custo Total R$ 3.600,00; yy Execução de alvenaria em tijolo cerâmico: Área 100 m²; Custo Unitário R$ 40,00/m²; Custo Total R$ 4.000,00. [ 24 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento SERVIÇO QUANTIDADE INICIAL (M²) CUSTO UNITÁRIO (R$) CUSTO TOTAL INICIAL (R$) Piso Cerâmico 120 30,00 3.600,00 Alvenaria em tijolo 100 40,00 4.000,00 CUSTO TOTAL (R$) 7.600,00 SERVIÇO QUANTIDADE INICIAL (M²) QUANTIDADE APÓS ALTERAÇÕES (M²) CUSTO UNITÁRIO (R$) CUSTO TOTAL INICIAL (R$) CUSTO TOTAL APÓS ALTERAÇÕES (R$) Piso Cerâmico 120 100 30,00 3.600,00 3.000,00 Alvenaria em tijolo 100 75 40,00 4.000,00 3.000,00 Parede de gesso - 40 40,00 - 1.600,00 CUSTO TOTAL (R$) 7.600,00 Agora considere que, durante a execução da obra, haja uma mudança no projeto, de forma que seja necessário reduzir a área de piso em 20 m², reduzir a área de alvenaria em 25 m² e incluir um serviço novo (não constante da planilha) – 40 m² de parede de gesso acartonado, de custo unitário R$ 40,00/m². Assim, o novo custo total de piso será de R$ 3.000,00 (redução de R$ 600,00), o novo custo de alvenaria, de R$ 3.000,00 (redução de R$ 1000,00) e o custo total da parede de gesso, de R$ 1.600,00 (inclusão de R$ 1.600,00), de acordo com a tabela abaixo. Nesse caso, o gestor deve formalizar as alterações ocorridas, de acordo com a tabela acima, por meio de um termo aditivo ao contrato, que deve conter as justificativas para as alterações, ser publicado na imprensa oficial e anexado ao processo físico da contratação. Caso não faça isso e resolva executar a inclusão da parede de gesso, de R$ 1.600,00, utilizando o saldo dos serviços de piso cerâmico e alvenaria para faturamento, diante da compensação financeira (R$ 600 + R$ 1.000,00), estaria cometendo irregularidade grave.[ 25 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização 2.24 Limites de supressão e acréscimo Ainda que haja a necessidade de fazer alterações qualitativas ou quantitativas no projeto, para melhor adequação técnica aos seus objetivos, a Lei 8.666/1993 estabelece limites de acréscimo e supressão. Essa medida tem por finalidade evitar que os projetos licitados sejam desvirtuados de seus propósitos iniciais, isto é, que o objeto inicialmente licitado e contratado não seja transformado em outro objeto completamente diferente durante a execução do contrato. A Lei estabeleceu, então, no art. 65, §1º, o limite de 25% para acréscimos ou supressões, no caso de construções. No caso de reformas, o limite é de 50%, para acréscimos. Cabe destacar que esses limites legais ocorrem para alterações unilaterais, as quais o contratado é obrigado a aceitar, uma vez que se inserem dentro das chamadas cláusulas exorbitantes do contrato administrativo. É possível que um contrato administrativo seja suprimido acima do limite de 25% desde que haja acordo entre as partes. É importante também conhecer como funciona a aplicação desses limites, pois eles devem ser considerados de maneira isolada. Ou seja, todos os acréscimos só podem somar o montante de 25% do contrato inicial e, da mesma forma, ocorre com as supressões. Desse modo, não se pode fazer a conta do tipo acréscimos menos supressões para se chegar no limite de 25%. O percentual de acréscimos e supressões deve ser calculado isoladamente. Exemplificação: Uma prefeitura contratou uma obra pelo valor total de R$ 200.000,00. Caso tenha que realizar alguma alteração no projeto, o município não poderá aumentar unilateralmente os quantitativos de serviços existentes e acrescer novos serviços, em mais de R$ 50.000,00. De igual modo, não poderá retirar da planilha contratual mais de R$ 50.000,00 em quantidades de serviços. Irregularidade: No exemplo acima, se o gestor tivesse feito acréscimos de R$ 70.000,00 e decréscimos de R$ 30.000,00, o valor final do contrato ficaria em R$ 240.000,00 (20% de aumento no valor do contrato), estaria, ainda assim, cometendo uma irregularidade, pois, como foi dito, os limites devem ser calculados de modo separado, caracterizando 35% de acréscimo e 15% de supressão, o que afronta a Lei, haja vista o limite de 25%. Portanto, em alterações unilaterais, esses limites não podem ser desrespeitados, razão pela qual os projetos básicos e orçamentos devem ser bem detalhados e precisos. Existe jurisprudência do TCU sobre o assunto, mencionando-se a Decisão 215/1999-TCU- Plenário e o Acórdão 2.206/2006-TCU-Plenário. [ 26 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 2.25 Manutenção do desconto e jogo de planilha Lembramos que toda licitação tem por objetivo maior selecionar a proposta mais vantajosa para a administração, sendo que a proposta vencedora nunca poderá ter preços superiores aos de mercado. Dessa maneira, além de respeitar os limites percentuais de acréscimos e supressões estabelecidos em lei, o gestor municipal também deve ter o cuidado de manter as condições iniciais que favorecem a Administração, de modo que a proposta contratada continue a ser a mais vantajosa e abaixo dos preços de mercado. As Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) desde o exercício de 2010 (Lei 12.017/2009) vêm trazendo disposições quanto a manutenção do desconto. O Decreto 7.983/2013 também dispôs em seu art. 14 que o desconto obtido na proposta da licitação não pode ser reduzido em desfavor da Administração. Ou seja, o desconto obtido durante a licitação deve ser mantido em todos os termos aditivos que venham a ser realizados. O objetivo dessa regra é manter o equilíbrio econômico-financeiro do contrato e evitar que o procedimento licitatório realizado seja descaracterizado, em desfavor do órgão público.A irregularidade mais frequente relacionada à falta de manutenção do desconto percentual é o chamado “jogo de planilha”. Essa irregularidade ocorre quando as quantidades do itens/serviços com maiores descontos são diminuídos, enquanto que as quantidades dos itens/serviços com menores descontos ou com sobrepreços são acrescidas. Exemplificação: considere que um município elaborou o orçamento base de uma licitação com base nos custos referenciais do Sinapi. Depois de vencida a licitação por uma empresa X, o contrato foi celebrado de acordo com a planilha orçamentária resumida a seguir: [ 27 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização SERVIÇO QUANTIDADE CUSTO UNITÁRIO DA LICITAÇÃO/ (SINAPI) (R$) CUSTO UNITÁRIO DO CONTRATO (R$) CUSTO TOTAL DA LICITAÇÃO (R$) CUSTO TOTAL CONTRATO (R$) DESCONTO TOTAL/ (SOBREPREÇO) (R$) Piso Cerâmico 120 30,00 30,00 3.600,00 3.600,00 - Alvenaria em tijolo 160 40,00 25,00 6.400,00 4.000,00 2.400 Parede de gesso 20 10,00 30,00 200,00 600,00 (400,00) Pintura 180 10,00 10,00 1.800,00 1.800,00 - TOTAL 12.000,00 10.000,00 2.000,00 SERVIÇO QUANTIDADE CUSTO UNITÁRIO DA LICITAÇÃO/ (SINAPI) (R$) CUSTO UNITÁRIO DO CONTRATO (R$) CUSTO TOTAL DA LICITAÇÃO (R$) CUSTO TOTAL CONTRATO (R$) DESCONTO TOTAL/ (SOBREPREÇO) (R$) Piso Cerâmico 120 30,00 30,00 3.600,00 3.600,00 - Alvenaria em tijolo 20 40,00 25,00 800,00 500,00 300,00 Parede de gesso 160 10,00 30,00 1.600,00 4.800,00 (3.200,00) Pintura 180 10,00 10,00 1.800,00 1.800,00 - TOTAL 7.800,00 10.700,00 2.900,00 Note que após a fase de licitação, houve um desconto no valor global do contrato de R$ 2.000,00, que representa cerca de 16,7% de desconto em relação ao orçamento base. Imagine agora que, no meio da execução da obra, haja uma mudança nos projetos, de modo que uma área de 140 m² das paredes de alvenaria seja substituída por paredes de gesso. Desse modo, haverá a diminuição da área de parede em alvenaria, de 160 m² para 20 m², e acréscimo da área de paredes em gesso, de 20 m² para 160 m². [ 28 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Da situação acima, nota-se que há um sobrepreço global no contrato de R$ 2.900,00, que representa cerca de 37%, em relação ao orçamento base. Ou seja, caso não sejam alterados os custos unitários pactuados no contrato original, a Administração deixaria de ter um desconto de 16,7% para ter um sobrepreço de 37%. A essa situação dá-se o nome de “jogo de planilha”, que é uma irregularidade grave, amplamente reprovada pelo TCU em seus Acórdãos. A fim de evitar esse tipo de irregularidade, o gestor precisa manter no contrato, após cada alteração realizada nos projetos, o percentual de desconto obtido na licitação, que, nesse exemplo, foi de 16,7%. Assim, o valor do contrato, após as alterações realizadas nas paredes de alvenaria e de gesso, deveria ser de R$ 6.500,00, conforme a fórmula abaixo: Preço contratual após aditivo = Preço referencial – desconto da licitação (16,7%) Preço contratual após aditivo = 7.800 – 16,7/100 Preço contratual após aditivo = 6.500 2.26 Sanções administrativas Uma das principais prerrogativas de que a administração pública dispõe a seu favor chama-se sanção administrativa, que nada mais é do que a aplicação de penalidades ao contratado no caso de eventual descumprimento de cláusulas do edital de licitação ou do contrato. De plano, vale ressaltar que a aplicação de sanções é uma medida que pode ser precedida de negociação junto a contratada para que sejam atendidas as exigências descumpridas. Por vezes, a aplicação inoportuna de sanções pode resultar num relacionamento conflituoso dentro do canteiro de obras entre a equipe de fiscalização e a contratada. Ou seja, a falha da contratada sempre deve ser avaliada pelos critérios de razoabilidade, conveniênciae oportunidade antes de que seja iniciado um processo de aplicação de sanções. Caso o erro cometido tenha sido grave, a Administração deve estar atenta para iniciar o processo de aplicação das sanções cabíveis. [ 29 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Uma das falhas graves mais comuns cometidas pelas empresas é o descumprimento do prazo de execução da obra. A fiscalização deve ser diligente e avaliar o grau de extensão do atraso e as justificativas para sua ocorrência, nos termos do art. 40, inciso III, da Lei 8.666/1993. Tanto no edital quanto no contrato, devem ser detalhados os valores das multas e as hipóteses em que serão aplicadas, de acordo com a gravidade das ocorrências detectadas. As sanções administrativas podem ser aplicadas ao contratado, garantida a prévia defesa, nos casos descritos abaixo. 2.27 Atraso injustificado na execução do contrato No caso de atraso injustificado, a administração poderá aplicar multa de mora, na forma prevista no edital e no contrato. Esse tipo de multa tem por objetivo evitar que o contratado cumpra suas obrigações fora do prazo. Essa multa pode ser descontada da garantia do contratado, como prevê a lei. Caso a garantia não seja suficiente para pagar toda a multa, a diferença pode ser descontada dos pagamentos devidos pela Administração e, em último caso, ser cobrada judicialmente. 2.28 Inexecução total ou parcial do contrato Já a inexecução total ou parcial do contrato permite, após prévia defesa, a aplicação das seguintes penalidades: Advertência – é o tipo de sanção mais branda, para falhas de menor gravidade, na qual a administração faz uma notificação por escrito à empresa contratada. Essa sanção tem por objetivo alertar o contratado e despertá-lo para saneamento das irregularidades, pois sua reincidência levará à aplicação de multa; Multa – diferente da multa de mora, essa tem caráter punitivo, pelo qual a administração impõe uma quantia financeira a ser paga pela empresa contratada, na forma estabelecida no edital e no contrato. Seu pagamento também poderá ser descontado da garantia do contratado e dos pagamentos devidos pela Administração; Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo de até 2 anos – trata-se de uma penalidade para irregularidades graves, que, além do caráter punitivo, também visa resguardar a administração de contratar, por um determinado período de tempo, as empresas que causam problemas de inexecução; [ 30 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Declaração de inidoneidade – é o tipo de sanção mais forte, para irregularidades de maior gravidade, na qual o contratado fica impedido de licitar e contratar com a administração enquanto durarem os motivos que levaram à punição ou até que haja o ressarcimento dos prejuízos causados à administração, sendo o prazo mínimo para reabilitação da empresa penalizada de 2 anos. 2.29 Rescisão do Contrato Além da aplicação das sanções previstas em lei, a administração também possui a prerrogativa de rescindir unilateralmente seus contratos, nas hipóteses previstas no art. 78 da Lei 8.666. De forma resumida, as hipóteses em que a administração pode rescindir os contratos unilateralmente são aquelas que representam o não cumprimento pelo contratado das cláusulas contratuais, especificações, projetos ou prazo, que causem ou possam causar prejuízos à administração. Nesses casos, a administração deve executar a garantia contratual e reter os créditos existentes, até o limite de seus prejuízos. Entretanto, nem todas as rescisões são causadas por irregularidades do contratado. Há também a possibilidade de haver rescisão amigável, quando é interesse de ambas as partes e conveniente para a Administração. Lembramos que, assim como no caso das sanções, toda rescisão contratual deve ser antecedida da oportunidade de a empresa se defender. 2.30 Recebimento Provisório e Definitivo Embora não seja dada tanta atenção para esses atos, destacamos que eles são de suma importância, pois são os instrumentos que indicam que as obras foram entregues de acordo com o esperado. O recebimento provisório é realizado pelo fiscal do órgão público e ocorre após a comunicação escrita do contratado ao órgão, informando que a obra foi concluída. Já o recebimento definitivo deve ser feito por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, após o decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do objeto aos termos do contrato. Caso seja detectada qualquer falha, o contratado é obrigado a corrigi-la, com seus próprios recursos, nos termos do art. 69 da Lei 8.666/1993. [ 31 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Portanto, os fiscais e servidores designados para realizar o recebimento do objeto devem comprovar e exigir a adequação do objeto aos termos contratuais, devendo rejeitar, parcial ou totalmente, a parte/serviço da obra que não tenha sido executada devidamente. A importância do recebimento definitivo está também no fato de a administração liberar ou não a garantia contratual. Por fim, é preciso registrar que, mesmo havendo o recebimento definitivo, o autor do projeto e o executor respondem pela solidez e segurança da obra, conforme a lei estabelece. Ou seja, o fato de os servidores receberem em definitivo a obra não prejudica a garantia da obra, a qual, de acordo com o Código Civil, dura por 5 anos.10 2.31 Documentação As Built As Built é uma expressão inglesa que significa “como construído”, isto é, a situação ou o estado como foi construído o projeto. No decorrer da execução da obra, podem ocorrer pequenas alterações no projeto, por exemplo, modificações no posicionamento das tubulações elétricas e/ou das prumadas de água e esgoto de uma edificação, utilização de materiais com especificações divergentes das previstas, entre outras, que, se não registradas, dificultam a manutenção do empreendimento bem como a realização de futuras intervenções. Todas essas alterações devem ser documentadas durante a execução para que, ao final da obra, possa ser elaborado o as built que indique com clareza a solução que foi construída. No caso de obras de saneamento básico e drenagem, é fundamental que, após sua execução, seja entregue o projeto As Built contendo informações precisas a respeito do posicionamento e profundidade das redes instaladas sob as vias, bem como a locação exata das válvulas de abertura e fechamento da rede (quando houver), poços de visita, caixas de passagem e demais elementos acessórios. Entre outras finalidades, esse projeto deve ser incorporado ao cadastro municipal de interferências e tem por finalidade auxiliar futuras intervenções, para que não sejam danificadas as redes existentes. O registro das alterações dos projetos, incorporando todas as adaptações feitas no canteiro de obras, com a finalidade de espelhar fielmente o que foi efetivamente construído, constitui a documentação As Built (“Como construído”). 10 - Art. 618, da Lei 10.406/2002 (Código Civil). [ 32 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Quando não ocorrerem alterações, o As Built será o próprio Projeto Executivo, que, neste caso, deve constar no carimbo a denominação de Projeto “Como Construído” e a data atualizada. Como visto, o projeto executivo não deve ser confundido com o As Built, pois este último registra eventuais modificações que foram feitas durante e após a conclusão dos serviços. Os registros de todas as alterações são de responsabilidade da Contratada, devendo ser feitos durante o período da execução da obra e entregues quando do Recebimento Definitivo da Obra. Lembramos que a exigência para entrega do As Built deve constar do edital de licitação, do contrato eser remunerada na planilha orçamentária. 3. Operação Já vimos nas aulas anteriores que a fase de operação é aquela em que se inicia o uso da edificação, da rede de saneamento, enfim, daquilo que foi construído ou reformado, conforme o tipo de obra realizado. Em geral, essa fase tem início após a retirada das máquinas, materiais, equipamentos, barraco de obra e de outros itens que foram utilizados na execução dos serviços. Embora o mais indicado seja iniciar a operação apenas após o término das obras, é comum, principalmente no caso de reformas e ampliações,que a realização da obra e a operação ocorram ao mesmo tempo, especialmente nos casos de reformas em que o atendimento e os serviços prestados pelo órgão público não podem ser paralisados. Nesses casos, o risco de ocorrerem interferências entre a obra e as atividades de atendimento é grande, com a possibilidade de criar problemas tanto para a execução da obra quanto para o conforto dos usuários. Por isso é necessário que seja feito um planejamento adequado, de modo a separar claramente as áreas que continuarão funcionando daquelas nas quais a obra acontecerá. Após a conclusão de uma obra, as funcionalidades previstas em projeto devem ser obedecidas. Se um projeto de escola foi elaborado prevendo salas de aula para até 30 alunos, não é recomendável que essas mesmas salas sejam utilizadas com 50 alunos. Da mesma forma, se uma sala foi projetada para ser um depósito, não deve ser utilizada como sala de trabalho ou escritório. Isso porque o uso para atividades diferentes das previstas em projeto, além de prejudicar o funcionamento e o conforto das pessoas que utilizam os espaços, pode também fazer com que as estruturas se desgastem antes do tempo previsto e necessitem ser reformadas ou adaptadas, gerando despesas adicionais que poderiam ser evitadas. Os registros de todas as alterações são de responsabilidade da Contratada, devendo ser feitos durante o período da execução da obra e entregues quando do Recebimento Definitivo da Obra. Lembramos que a exigência para entrega do As Built deve constar do edital de licitação, do contrato e ser remunerada na planilha orçamentária. [ 33 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização CASO PRÁTICO Em época de chuvas constantes, o estado em que se encontram os bueiros e as bocas de lobo da cidade torna-se foco de preocupação. A má conservação destes pontos e a falta de conscientização da população são fatores responsáveis pela obstrução da rede de captação de água e esgoto, consequentemente, causando alagamentos. (…) A Tribuna percorreu as ruas de Juiz de Fora e encontrou bueiros abarrotados de lixo. Próximo à ponte do Manoel Honório, na esquina das avenidas Brasil com Rio Branco, Zona Leste da cidade, na grade da boca de lobo, havia sacolas plásticas, frascos de produtos de higiene e tampas de potes plásticos. “Aqui a situação é ainda mais complicada porque ficam moradores de rua e carroceiros que deixam todo tipo de lixo no local. Além disso, os outros moradores também contribuem com a sujeira”, falou um comerciante da região que não quis se identificar. Fonte: http://www.tribunademinas.com.br/cidade/lixo-sobre-bueiros-e-um-perigo-a-mais-1.1016491 Na Rua Mariano Procópio, próximo ao número 750, no bairro de mesmo nome, Zona Nordeste, o bueiro está obstruído pelo lixo. Há, inclusive, pedaços de madeira na grade, o que impediria a passagem da água em caso de chuva. Já na Garganta do Dilermando, Zona Leste, mato e pedras tomam conta das bocas de lobo, nos dois lados da via no ponto mais íngreme. Além de detritos, restos de construção podem ser encontrados em bueiros. Exemplo é a boca de lobo na Rua São Geraldo, em frente número 207, no Bairro Costa Carvalho, região Sudeste. Segundo moradores, a situação é consequência da falta de educação da própria população. “As pessoas não são educadas para não jogar o lixo em local inadequado. Portanto, enquanto não existir essa consciência, o único jeito é a conservação permanente das bocas de lobo”, disse o professor Cézar Barra, coordenador do curso de especialização em análise ambiental da UFJF. [ 34 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento É importante também que os usuários sejam orientados quanto ao uso adequado dos espaços, de modo a garantir seu bom funcionamento, reduzindo assim a necessidade de reformas e gerando economia na utilização de recursos como água e energia elétrica. Orientações para melhor aproveitamento da iluminação e ventilação naturais, para o uso racional de ar condicionado e elevadores, lembretes para apagar a luz ao sair dos ambientes são iniciativas que podem gerar bons resultados, reduzindo custos e gerando menos impacto sobre o meio ambiente. CASO PRÁTICO “Campanha Boas Práticas – Economizando recursos públicos, protegendo a natureza” da 2ª Promotoria de Justiça de Biguaçu/SC. Essa campanha é um dos exemplos de medidas que podem ser adotadas pelo gestor para redução de custos na fase de operação de edificações. A Promotoria elaborou algumas dicas de economia que podem ser aproveitadas por outros órgãos e até mesmo no ambiente doméstico. O quadro completo contendo as orientações da campanha está disponível na biblioteca do curso. Um documento bastante comum em obras particulares, mas que também pode ser adotados em obras públicas é o chamado “Manual do Proprietário” ou “Manual de Uso, Operação e Manutenção das Edificações”. O Manual de Uso traz as principais informações sobre a construção e deve ser escrito em linguagem acessível, permitindo o adequado gerenciamento da edificação, mesmo por pessoas que não tenham formação específica em engenharia ou em áreas afins. O manual deve trazer ainda a indicação detalhada de marca e modelo dos materiais utilizados na obra, possibilitando a sua identificação [ 35 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização para eventuais serviços de reparo, reforma ou mesmo ampliação. Outro aspecto que o manual aborda é a adoção de procedimentos de limpeza e conservação, em conformidade com as indicações dos fabricantes dos materiais, em especial dos pisos, revestimentos e dos reservatórios de água. A elaboração e entrega dessa manual pode ser prevista no edital de contratação da obra, devendo ser especificados seus objetivos e parâmetros gerais, e considerados os custos para sua produção. A NBR 14.037, de março de 1998, estabelece algumas recomendações para a elaboração dos manuais do proprietário de edificações, fazendo referência aos seguintes tópicos: i) finalidade do manual; ii) linguagem acessível; iii) ordem lógica das informações; iv) conteúdo mínimo: descrição da edificação, procedimentos de uso, operação, manutenção, emergência, inspeção técnica e informações sobre responsabilidades e garantias; v) elaboração e entrega do manual e vi) atualização de seu conteúdo. 3.1 Manutenção A manutenção pode ser definida como um conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade da edificação e de suas partes para atender às necessidades e segurança de seus usuários11. Esse conceito pode ser mais facilmente compreendido se pensarmos, como um exemplo, na manutenção de um carro. Trocar o óleo do motor, calibrar os pneus, trocar as pastilhas de freio, são atividades de manutenção realizadas para garantir que o carro funcione adequadamente e não estrague antes do tempo. O mesmo acontece no caso das edificações. Serviços de limpeza de telhados e calhas, desentupimento de tubos, conserto de vazamentos, verificação da existência de rachaduras e outros problemas são atividades de manutenção que devem ser realizadas periodicamente para o bom funcionamento dos espaços e para que durem o máximo tempo possível. A preocupação com a operação e manutenção dos edifíciosdeve estar presente desde as etapas iniciais de planejamento e concepção de projeto. Isso porque quanto mais cedo essas preocupações forem consideradas, maiores serão os benefícios. As atividades de manutenção podem ser classificadas de diversas formas. Trataremos neste curso de duas classificações mais comuns: a manutenção preventiva e a corretiva. 11 - NBR 5.674. [ 36 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento A manutenção preventiva atua antecipadamente para que não seja necessário efetuar um reparo. Envolve atividades programadas de acordo com as características dos itens que são avaliados. A seguir temos um exemplo de quadro com algumas dessas atividades: TABELA GENÉRICA DE PROCEDIMENTOS PREVENTIVOS E PERIODICIDADES SISTEMA OU SUBSISTEMA PROCEDIMENTO PREVENTIVO PERIODICIDADE Lajes de cobertura Limpeza geral da laje semanal Limpeza de coletores de águas pluviais semanal Verificação das integridades de proteções mecânicas dilatadas dos sistemas de impermeabilização, bem como observar a vida útil padrão do mesmo (em torno de 10 a 15 anos) revisão anual dos mastiques das juntas; qualquer problema de destacamentos, eflorescências, trincas, infiltrações, chamar profissional especialista para o correto diagnóstico. Inspeção de rufos: emendas, pintura, fixações, inspeção de mastiques de vedação e eventual substituição de trechos (entre emendas, evitando ligações de materiais novos com antigos), pinturas (devem ter proteção anti corrosiva, além de não estarem interferindo na aderência de vedantes) semanal para ronda; troca de mastique a cada ano ou em prazos aferidos junto às inspeções periódicas, repintura anual. Anual para troca de borrachas de vedação de parafusos, ou determinado pelo acompanhamento de rotina da equipe de manutenção Telhados Inspeções de telhas, parafusos de fixação, emboços de cumeeiras, elementos de vedação laterais ou terminais, rufos, calhas - Limpezas em calhas e telhas semanal Verificação das condições de juntas de impermeabilização semestral [ 37 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Pintura de fachadas internas e áreas de coberturas sujeitas às intempéries Considerando substratos íntegros, sem problemas com trincas de retração e outros, além de problemas relacionados à aderência, pulverulência, etc.., um sistema de pintura em látex acrílico possui vida útil de aproximadamente 4 anos, tal que se deve fazer limpezas periódicas e repinturas. As repinturas deverão, obrigatoriamente, remover as películas de tinta antigas, bem como calafetar frestas em esquadrias, rever elementos de vedação das mesmas, além de verificar a integridade do revestimento geral de fachada, fazendo teste de percussão e promovendo o tratamento de fissuras, além da remoção de partes deterioradas e limpeza prévia das superfícies. Limpeza de dois a três anos, em atmosfera não muito agressiva e repintura a cada 4 anos, em média. Concreto armado aparente Limpezas, estucamentos e repinturas de proteção. Deve-se inspecionar anualmente para identificar eventuais fissuras, proliferação de microorganismos, infiltrações, corrosão de armadura, etc.; destaca-se que, de acordo com a exposição ambiental do concreto e o meio, deve-se proceder a repinturas específicas. Limpezas a cada ano e repintura com verniz base acrílica ou outros a cada 5 anos. Os estucamentos e quaisquer outras atividades de recuperação devem ser feitas por empresas especializadas. [ 38 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Caixilhos em alumínio Os perfis, vedações e acessórios deverão ser limpos com água e detergente neutro a 5%, com auxílio de escova macia. Os acessórios dispensam uso de lubrificantes, pois trabalham sobre náilon. Os parafusos de fechos, fechaduras devem ser reapertados suavemente sempre que for necessário. Janelas Maximar possuem freios que devem ficar fixos a 30°; caso estejam frouxos, será necessário que pessoa especializada faça o ajuste. Limpezas anuais e reapertem e outros trimestrais. Caixilhos em ferro Limpezas. Verificar pontos de corrosão, ressecamentos das massas de fixação. Em casos de repintura, efetuar, sempre, a remoção da película antiga e aplicação de fundo anticorrosivo. Em casos de pontos de corrosão, remover as ferrugens, verificar as seções dos montantes e proceder a tratamento químico inibidor da corrosão, antes da pintura. Limpezas anuais e repintura a cada 3 anos. Obs.: A periodicidade deve ser ajustada e reavaliada através das inspeções prediais. Fonte: Técnicas de Inspeção e Manutenção Predial – p. 91 [ 39 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 5 - Execução, operação e fiscalização Fonte: CEB – Comitê Euro-Internacional Du Béton, apud IBAPE/SP, 2009, p. 53. A manutenção corretiva atua no conserto de falhas. Suas atividades possuem custos geralmente mais elevados do que os da manutenção preventiva. Além disso, exigem que o item a ser reparado tenha o seu uso interrompido. Uma boa manutenção preventiva ajuda a reduzir a necessidade de manutenção corretiva. A prevenção é sempre melhor do que a correção. A adoção de medidas corretivas, ou a inserção de novos critérios em estágios avançados do empreendimento terão um alcance limitado, gerando, muitas vezes retrabalho e desperdício. Além disso, os custos costumam aumentar caso as atividades de manutenção não sejam feitas no tempo certo. Valendo-se da comparação com um automóvel, o motor do carro pode fundir se o óleo não for trocado, e trocar o motor é muito mais caro do que trocar o óleo. De acordo com um estudo realizado sobre a manutenção e recuperação de estruturas de concreto , por exemplo, uma solução que custa cerca de R$ 1.000,00 para ser incluída no projeto, pode ter um custo de manutenção preventiva de até R$2.500,00, mas a manutenção corretiva saltaria para até R$ 12.500,00, ou seja, pode-se dizer que a correção do problema custa 5 vezes mais que sua prevenção. O gráfico a seguir ilustra essa situação. [ 40 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento CASO PRÁTICO: FALTA DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA GERA A NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO CORRETIVA No caso de edificações, um item que costuma gerar esse tipo de problema é a manutenção do telhado. Quando os vazamentos não são corrigidos no tempo certo, o problema do telhado atinge a pintura, as paredes, instalações elétricas, podendo comprometer até a estrutura, o que acaba gerando um custo muito maior para se corrigir depois. Se houvesse uma inspeção periódica, o problema poderia ter sido detectado logo no início, antes de atingir outros elementos além do próprio telhado. Nesse caso, em vez de pagar algumas telhas novas e um funcionário, por um dia, para substituir a parte danificada do telhado, serão necessários diversos trabalhadores e alguns dias de serviço, além de materiais adicionais para recuperar a pintura, as paredes e demais itens afetados. Um documento importante para orientar a utilização e manutenção da obra após a sua conclusão é o Plano de Manutenção, que pode ser elaborado com auxílio da empresa responsável pelo projeto, ou mesmo pela executora da obra. Esse documento deve conter: i) orientações de manutenção preventiva e corretiva; ii) tipos e datas das inspeções técnicas; iii) lista de serviços e datas previstas para realização; iv) lista de profissionais que realizam o serviço de manutenção, como eletricistas, encanadores etc; v) modelos de formulários de inspeção; iv) procedimentos de registro e arquivamento das informações. Vale lembrar que as atividades de manutenção devem ser implantadas desde a entrada em funcionamento
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