Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Isabela Trarbach Gomes Ortodontia CRESCIMENTO DOS OSSOS MAXILARES – PARTE 1 INTRODUÇÃO O crescimento físico humano compreende uma sequência espetacular de eventos, que converte uma célula em um indivíduo maduro e imensamente complexo. QUAL A IMPORTÂNCIA DE CONHECER O CRESCIMENTO FACIAL 1. Alteração no crescimento facial causa maloclusão. 2. O crescimento esquelético pode ser influenciado por aparelhos. 3. O tratamento ortodôntico idealmente é aplicado durante o crescimento. QUAL A IMPORTÂNCIA DE CONHECER O CRESCIMENTO FACIAL? Um conhecimento profundo da morfogênese facial é essencial para compreender corretamente: a diferença entre o normal e as variações do anormal; as razões biológicas para essas diferenças e as razões utilizadas como justificativa para o diagnóstico e plano de tratamento. CRESCIMENTO Crescimento é o aspecto quantitativo do desenvolvimento biológico, determinado pelas mudanças normais na quantidade de matéria viva. DESENVOLVIMENTO Sequência de acontecimentos biológicos que se procedem desde a fertilização da célula até a maturidade. Relaciona-se com a diferenciação celular. MATURAÇÃO Refere-se às mudanças qualitativas que ocorrem com o amadurecimento ou idade, significando pleno desenvolvimento. SURTOS DE CRESCIMENTO Na face existem alguns períodos de crescimento expressivos: 1º: aos 3 anos para os meninos e meninas. 2º: aos 6-7 anos para meninas e 7-9 anos para os meninos (crescimento menos expressivo). 3º: conhecido como surto de crescimento puberal, aos 9-12 anos para as meninas e 10-13 anos para os meninos. Nesse surto o ortodontista encontra o momento ideal para redirecionar o crescimento do indivíduo. No planejamento de uma ortodontia preventiva ou interceptiva normalmente é solicitada a radiografia carpal ou mão e punho em que é mapeado e identificado em que fase do surto do crescimento a criança ou adolescente está. Isabela Trarbach Gomes Alguns aparelhos dependem do surto de crescimento puberal para serem efetivos. Sendo assim, um aparelho usado antes do momento certo pode diminuir a colaboração do paciente com o tratamento. PADRÃO DE CRESCIMENTO FACIAL É feita uma telerradiografia que será comparada com os padrões preexistentes que levam como referência a base do crânio, por ser uma região estável para essas sobreposições. PROPORÇÕES CRANIOFACIAIS O bebê nasce com o neurocrânio mais bem desenvolvido em relação a face. VARIÁVEIS QUE ATUAM SOBRE O CRESCIMENTO 1. Genética 2. Hábitos bucais deletérios 3. Deficiências nutricionais 4. Doenças TEORIAS DE CONTROLE DO CRESCIMENTO Sicher – predomínio sutural (1947) Apontou que as suturas impulsionam o crescimento facial. Existe forte determinação genética sobre elas. Scott – predomínio cartilaginoso (1953) As porções cartilaginosas devem ser reconhecidas como centros primários de crescimento. Septo nasal como principal fator de crescimento na maxila. Moss - matriz funcional (1962) Apontou que o crescimento e o desenvolvimento craniofacial são secundários e dependentes na forma e função da matriz funcional. Enfatizava que o meio ambiente seria determinante e exclui a questão genética. Matriz funcional: tecidos não esqueléticos e espaços funcionais da cabeça e pescoço que são essenciais para o desempenho de uma função específica. Van Limborgh – fatores epigenéticos (1970) Crescimento multifatorial, que está sujeito a fatores intrínsecos e extrínsecos combinados ou não. Destacou que diferentes tecidos sofrem diferentes gradientes de influência em diferentes épocas do desenvolvimento. Até a teoria de Moss as bases teóricas eram fundamentadas na genética MATRIZ FUNCIONAL (músculos, seios paranasais, glândulas) + UNIDADE ESQUELÉTICA = COMPONENTE FUNCIONAL CRANIANO Isabela Trarbach Gomes O crescimento nas cartilagens primárias seria quase exclusivamente controlado pela genética, e o crescimento no periósteo seria quase que totalmente controlado por fatores extrínsecos externos. Ele foi responsável por realizar a conjunção de teorias, considerou o crescimento multifatorial além de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. Desmocrânio – crescimento intramembranoso recebe influência de fatores ambientais e epigenéticos. Condrocrânio – crescimento endocondral que recebe influência de fatores genéticos e epigenéticos. Petrovic – comando cibernético de hormônios (1974) Propôs que crescimento craniofacial é parte de um complexo sistema e o crescimento das cartilagens estaria sob o comando cibernético de hormônios e seria também influenciado por fatores locais, como retroalimentação neuromuscular. Isso não significa que hiperativar a neuromusculatura vá fazer o indivíduo crescer mais ou menos. Essa atividade precisa acontecer da forma mais plena possível. Enlow – teoria do V (1993) Não levou em consideração a questão multifatorial ou genética. se baseou no fato que muitos ossos da face possuem formato de V. para ele, a medida em que o osso aumenta de tamanho ele também se movimenta, e com isso, observa-se um aumento geral das áreas que possuem esse formato e um movimento contínuo da estrutura em direção a sua maior extremidade. OSTEOGÊNESE ▪ Formação de tecido ósseo ▪ O precursor de todo osso é sempre tecido conjuntivo ▪ Células (osteócitos + osteoblastos) e substância intercelular OSSIFICAÇÃO Tecido conjuntivo: 1. Cartilaginoso → ossificação endocondral 2. Membranoso → ossificação intramembranosa ▪ Células mesenquimais originais → modelo membranoso/modelo cartilaginoso = osso ▪ Formação óssea a partir de osteoblastos → formação óssea intramembranosa ▪ Formação óssea a partir de um precursor cartilaginoso → formação óssea endocondral FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA ▪ Esse tipo de ossificação ocorre predominantemente no crânio e em áreas de tensão. Células mesenquimais indiferenciadas → se diferenciam em osteoblastos → que produzem uma matriz osteoide → calcificação → formação do osso → osteócitos + vasos sanguíneos (sistema harvesiano). Isabela Trarbach Gomes ▪ São eles: periósteo, endoósteo, suturas e membrana periodontal. ▪ É uma ossificação com maior plasticidade para as correções ortodônticas, por outro lado é uma ossificação mais sensíveis a hábitos orais deletérios. ▪ As células mesenquimais indiferenciadas presentes no tecido conjuntivo de diferenciam em osteoblastos quando há estímulo (pressão/tração). (exemplo: ação muscular na linha milo- hioidea). ESPECIALIZAÇÕES DA OSSIFICAÇÃO INTRAMEMBRANOSA 1. Sutural: proliferação de tecido conjuntivo membranoso 2. Aposicional: deposição de camadas superficiais ao osso (periósteo/endósteo) 3. *Periodontal: movimentação dentária OSSIFICAÇÃO ENDOCONDRAL Inicia-se sobre um modelo cartilaginoso, que é gradualmente destruído e substituído por tecido ósseo. A cartilagem não responde bem aos estímulos de pressão ou tração. Centros de crescimento endocondral: côndilo e septo nasal. Ocorrem em áreas que são submetidas à compressão como articulações móveis e parte da base do crânio (sicondroses -etmoide, esfenoide e occipital). Nessa ossificação as células cartilaginosas tiveram uma multiplicação celular, hipertrofiaram, e estão sensíveis a calcificação a partir de células mesenquimais e osteoblastos que estarão na matriz. O crescimento endocondral possui maior potência em comparação com o intramembranoso já que esse não possui o precursor cartilaginoso. MECANISMOS DE CRESCIMENTO ÓSSEO 1. APOSIÇÃO Atividade osteoblástica seguida de incremento ósseo. 2. REABSORÇÃO Atividade osteoclástica seguida de diminuição de volume ósseo. Alguns campos de deposição crescem muito mais rapidamente ou em maior extensão que outros. Os campos que apresentam um papel especial no processo de crescimento são denominados de centros de crescimento. Células mesenquimais indiferenciadas → célulascartilaginosas → multiplicam-se numa zona de divisão celular→ sofrem uma hipertrofia e diferenciação → calcificação → vasos sanguíneos com células mesenquimais indiferenciadas e osteoblastos. Isabela Trarbach Gomes Principais centros de crescimento: ▪ Suturas da face e do crânio ▪ Côndilos mandibulares ▪ Sincondroses da base do crânio ▪ Septo nasal ▪ Tuberosidade maxilar ▪ Alvéolos dentários 3. REMODELAÇÃO ▪ É um processo ativo de aposição e reabsorção. ▪ Promove mudanças regionais de forma, dimensões e proporções. PRINCÍPIO EM V Vai acontecer aposição na superfície interna e reabsorção na superfície externa. Locais: ▪ Côndilos ▪ Processos coronoides ▪ Ramo mandibular ▪ Palato MOVIMENTOS DE CRESCIMENTO 1. Deslizamento 2. Deslocamento – primário ou secundário 3. Remodelação DESLIZAMENTO É o movimento de crescimento produzido por aposição em uma área de reabsorção no lado oposto resultando no crescimento ósseo em direção a superfície de aposição DESLOCAMENTO PRIMÁRIO É a forma que o osso se desloca independente da posição de crescimento. O processo de transporte físico ocorre em conjunção com o aumento do próprio osso. O osso se desloca devido ao seu próprio crescimento. Funções: 1. Dar forma ao osso 2. Manter os ossos em contato 3. crescimento Isabela Trarbach Gomes A mandíbula cresce para trás e para cima (deslocamento primário) mas se desloca para frente e para baixo por conta da presença da fossa articular, já que não é capaz de deslocar a base do crânio. Ex: Crescimento sutural da maxila DESLOCAMENTO SECUNDÁRIO O movimento ósseo não está diretamente relacionado com o seu próprio aumento. Deslocamento da mandíbula pra baixo e para frente devido a um osso adjacente (crescimento da base do crânio e fossa mandibular limitando) Deslocamento da maxila para frente e para baixo pelo crescimento sutural dos ossos adjacentes. O crescimento do septo nasal, da base craniana e das sincondroses vão representar o deslocamento secundário da maxila. REMODELAÇÃO É necessária para manter a forma e o contorno do osso Envolve simultaneamente aposição e reabsorção em todas as superfícies internas e externas do osso. ORIGEM EMBRIOLÓGICA DA MAXILA E MANDÍBULA O embrião humano, com aproximadamente cinco semanas começa sua diferenciação da face. Apresenta cinco pares bilaterais de arcos branquiais. 1º arco faríngeo(mandibular): formação dos ossos maxilares, mandíbula e músculos da mastigação. 2º arco faríngeo (hioideo): da origem às regiões média e inferior da face. Fenda labial e palatina quando ocorre quando há algum problema na fusão desses arcos que leva a problemas na mastigação, fonação e estética. CRESCIMENTO DO CRÂNIO Base craniana é a área de referência para o ortodontista e engloba o osso etmoide com a lâmina crivosa, osso esfenoide com a sela túrcica e o occipital. 1. ABOBODA CRANIANA Tecido conjuntivo relativamente frouxo (fontanela). Após o nascimento, aposição óssea, a calota craniana tem seu crescimento determinado pelo crescimento cerebral (reabsorção e aposição). A calota craniana tem seu crescimento determinado pelo crescimento cerebral (reabsorção e aposição). Formada por diversos ossos achatados: Lembre-se da teoria de Moss de 1962 da matriz funcional em que nesse caso a massa cerebral é a matriz funcional para o crescimento da abóboda craniana por reabsorção e aposição. Isabela Trarbach Gomes 1. Frontal 2. Occipital 3. Parietais 4. Temporais Função: Proteção do cérebro. Mecanismo de crescimento: Sutural principalmente. Pouca remodelação. Crescimento intramembranoso (estímulo dependente). A calota craniana é das primeiras regiões do esqueleto craniofacial a atingir seu tamanho total. O tecido neural possui maior crescimento no início da vida então naturalmente o cérebro acompanha esse crescimento. FONTANELAS Função: Passagem no canal do parto e crescimento. Fontanela anterior: fecha em torno dos 18 meses. Aposição: face externa Reabsorção: face interna SÍNDROME DE CROUZON ▪ Fechamento prematuro das suturas. ▪ Mutação do gene FGR2. MICROCEFALIA Causada pelo zikavírus (aedes aegypti como transmissor) – pobre crescimento do cérebro e consequentemente da calota craniana. Basta lembrar da falta de proporcionalidade da face do bebê em relação a calota craniana. Pressão pelo crescimento cerebral Isabela Trarbach Gomes BASE DO CRÂNIO Função: Suportar e proteger o cérebro e coluna vertebral. Mecanismos de crescimento: Sincondroses – precursor cartilaginoso Remodelação de superfícies Crescimento endocondral - regulação basicamente genética e de fatores ambientais funcionais. A base craniana é responsável pelo deslocamento secundário anterior-inferior facial.
Compartilhar