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Tutoria 2 DISTÚRBIOS ÁCIDO- BÁSICO: - Os distúrbios ou uns desequilíbrios ácidos básicos, são alterações patológicas da pressão parcial de dióxido de carbono (Pco2) ou de bicarbonato sérico (HCO3−) que tipicamente produzem valores de pH arterial anormais. - A regulação do íon hidrogênio é essencial para um bom funcionamento de quase todos os sistemas de enzimas no corpo, quando tem variações da concentração de H+ alteram, praticamente, todas as funções celulares e corporais. - Moléculas com átomos de hidrogênio que podem liberar íons hidrogênio são conhecidos como ÁCIDOS. Íon ou molécula capaz de receber H+, são conhecidos como BASES. - O ácido será forte quando se dissocia rapidamente e libera grandes quantidades de H+ na solução. - Já os ácidos fracos têm tendência menor de se dissociar e assim liberam H+ com menos vigor. - Uma base forte será aquela que reage rapidamente com o H+ e assim, remove prontamente de uma solução. - Já uma base fraca se liga ao H+ com muito menos força. Obs. A maioria dos ácidos e bases no líquido extracelular, envolvidos na regulação acidobásica normal, são FRACOS. Os mais importantes são H2CO3 (Ácido Carbônico) e HCO3 (Bicarbonato de Sódio). - O pH está relacionada a inversamente à concentração real de H+, ou seja, pH baixo = H+ elevado e pH alto=H+ baixa. GASOMETRIA: - A gasometria arterial é um dos exames mais solicitados em sala de emergência, é usado pois é o ÚNICO teste que consegue dar o diagnóstico preciso do distúrbio acidobásico do paciente - A gasometria passa a ser a principal ferramenta no diagnóstico e manejo das insuficiências respiratórias e metabólicas no doente crítico. - Tem como objetivo de avaliar os gases presentes no sangue, como o oxigênio o gás carbônico, assim como sua distribuição, do pH e do equilíbrio acidobásico. Importante lembrar que se o objetivo for apenas medir o pH é possível fazer a gasometria venosa. - A gasometria arterial nos dá uma análise rápida e acurada da oxigenação, ventilação e status acidobásico do paciente. Esses três processos estão intimamente correlacionados, e qualquer alteração em um deles irá repercutir nos outros dois Indicações: ✓ pacientes em que há suspeita de distúrbios respiratórios ou metabólicos. ✓ nos pacientes com suspeita de intoxicação exógena, rebaixamento do nível de consciência, instabilidade hemodinâmica, submetidos a intubação orotraqueal, ou como regra geral, em todo paciente potencialmente grave, que dá entrada na sala de emergência. ✓ Dosagem de pH, pCO2 , pO2 , HCO3 e base excess (BE). ✓ Alguns aparelhos de gasometria também são capazes de realizar dosagem de eletrólitos, carboxihemoglobina, meta- hemoglobina e lactato. Como Realizar: - Amostras de sangue arterial podem ser colhidas por punção arterial ou através de cateteres arteriais (usados geralmente para monitorização da pressão arterial). - A punção arterial geralmente é realizada na artéria radial, porém quando o pulso radial não é palpável, as artérias braquiais ou femorais são opções alternativas. - Complicações relacionadas a punção arterial são incomuns, mas pode haver dor no local da punção e formação de hematoma. Laceração arterial, trombose, isquemia da extremidade e formação de aneurisma são raros, mas são complicações graves. - A pressão parcial de oxigênio (PaO2 ), pressão parcial de dióxido de carbono (PaCO2 ) e pH são medidos diretamente com eletrodos padrões e analisadores digitais. - A saturação de oxigênio (SaO2 ) é calculada a partir da curva de dissociação da hemoglobina. - O bicarbonato (HCO3 ) é calculado usando a equação de HendersonHasselbach: pH = pKa + log {[HCO3 ] / [CO2 ]}. - O base excess (BE) é definido como a quantidade de ácido forte necessária para titular o sangue para um pH de 7,4 com uma PaCO2 de 40 mmHg a 37°C. Então, o base excess (BE) “elimina” o componente respiratório do distúrbio acidobásico e identifica a contribuição metabólica a ser interpretada com o pH e a concentração de [H + ]. Assim como o BE, o bicarbonato padrão é calculado a partir de um PaCO2 de 40 mmHg. Obs. Apesar do HCO3 e BE nos ajudarem a dar o diagnóstico de acidose metabólica, eles dão poucas pistas a respeito da fisiopatologia do processo que gerou o distúrbio. - Usamos a HEPARINA para o sangue não coagular, deve evitar a presença de bolhas de ar na amostra, pois isso pode aumentar falsamente a PaO2. Alguns pontos devem ser considerados antes de obter as amostras de sangue para evitar erros na interpretação da gasometria, como: ✓ Demora para análise após coleta: O sangue é um tecido vivo, então o O2 é consumido e CO2 é produzido constantemente. A glicólise, realizada pelas hemácias, produz ácido lático e altera o pH. Aumentos significativos de PaCO2 e reduções de pH são observadas quando as amostras de sangue são deixadas em temperatura ambiente por mais de 20 minutos. Caso não seja possível o envio imediato para o laboratório, recomenda-se estocar as amostras em gelo. O que aumenta o intervalo para processamento em até 2 horas. ✓ A presença de heparina em excesso na amostra pode alterar a PaCO2 , PaO2 , base excess e HCO3 , sem alterar o pH. Estima-se que 0,05 mL de heparina seja suficiente para anticoagular uma amostra de 1 mL de sangue. ✓ Caso o paciente esteja sob ventilação mecânica (invasiva ou não invasiva), deve aguardar de 10 a 30 minutos para solicitar uma gasometria. Tempo necessário para que as trocas gasosas se restabeleçam, após alguma alteração nos parâmetros ventilatórios. Análise da Gasometria - Uma dieta normal vai gerar ácidos voláteis (CO2) a partir do metabolismo dos carboidratos, e ácidos não voláteis (fixos) a partir do metabolismo das proteínas. - O objetivo do mecanismo de homeostase do organismo é manter o pH em uma faixa estreita. Essa homeostase é alcançada a partir da interação entre pulmões, rins e tampões sanguíneos. - A ventilação alveolar permite a excreção de CO2 . - Os rins reabsorvem o HCO3 filtrado, pois qualquer perda de bicarbonato na urina leva a um balanço positivo de H +. Além disso, os rins excretam os ácidos (H + ) gerados a partir do metabolismo das proteínas ingeridas na dieta. - O pH sanguíneo é determinado pela ocorrência desses processos fisiológicos e os sistemas tampão presentes no organismo. Abordagem de Interpretação: - A maioria dos clínicos e médicos emergências usa a teoria baseada em bicarbonato para o manejo e diagnóstico dos distúrbios acidobásicos. Essa abordagem é mais fácil para entender e mais prática para o uso diário. - Os pulmões controlam os níveis de PaCO2 regulando os níveis ácidos voláteis (ácido carbônico) no sangue. O sistema respiratório leva de 1 a 15 minutos - Os sistemas tampão podem agir em frações de segundo para prevenir alterações do pH sanguíneo. - Os rins levam de vários minutos a dias para reajustar a concentração de H + do organismo. - A tendência é que alterações primárias respiratórias (alterações na PaCO2 ) façam com que o organismo gere uma resposta metabólica compensatória (alteração secundária do HCO3 ), assim como alterações primárias metabólicas (alterações do HCO3 ) gerem respostas respiratórias compensatórias (alteração na PaCO2 ). - Um dos principais sistemas responsáveis pela manutenção desse equilíbrio é o sistema tampão bicarbonato – dióxido de carbono. H + + HCO3 − H2CO3 CO2 + H2O Obs. As respostas compensatórias do organismo e dos sistemas tampão têm o intuito de tentar trazer o pH para uma faixa normal ou próxima do normal. - Um exemplo de resposta seria no caso de um paciente diabético com acúmulo de cetoácidos (cetoacidose diabética). Esse acúmulo causa uma redução nas concentrações de bicarbonato extracelular, fazendo com que o pH se reduza e issoleva à ativação dos quimiorreceptores da medula, levando ao aumento do drive respiratório, na tentativa de eliminar o CO2 que funciona como ácido tampão Obs. Quando a concentração de CO2 se reduz, a relação entre HCO3 e CO2 ganha um novo ponto de equilíbrio e o pH tende a voltar ao normal. - Em um paciente com acidose metabólica e HCO3 de 12 mmol/L é esperado que tenha uma PaCO2 entre 24 e 28. Valores de PaCO2 menores que 24 ou maiores que 28 definem um distúrbio misto (acidose metabólica com alcalose respiratória e acidose metabólica com acidose respiratória, respectivamente). - Respostas compensatórias em distúrbios metabólicos primários alteram a PaCO2 na mesma direção que a alteração do HCO3 , assim como a compensação de distúrbios primariamente respiratórios altera o HCO3 na mesma direção que a alteração do PaCO2 (p. ex., acidose respiratória aumenta o PaCO2 , logo a resposta compensatória será o aumento do bicarbonato ou então, na alcalose metabólica existe aumento do HCO3 , logo a resposta será o aumento da PaCO2 ). Abordagem dos Distúrbios: 1ª: História e Exame Físico: - Uma anamnese bem realizada pode dar pistas essenciais para a causa do distúrbio acidobásico. Por exemplo, pacientes que se apresentam com gastroenterite manifestada por diarreia tipicamente têm acidose metabólica de âniongap normal devido à perda excessiva de líquido contendo HCO3. - Pacientes com histórico de DPOC comumente têm acidose respiratória crônica devido à retenção de CO2. 2ª: Solicitar a Gasometria Arterial e o Perfil Metabólico: - As alterações metabólicas e hidroeletrolíticas podem dar pistas para o diagnóstico etiológico do distúrbio acidobásico (p. ex., hiperglicemia na cetoacidose diabética, lactato aumentado na sepse, hipercalemia e ureia aumentada na disfunção renal...). 3ª: Checar se os valores estão nas faixas normais 4ª: Identificar o distúrbio primário - Verifique se o paciente está acidêmico (pH < 7,35) ou alcalêmico (pH > 7,45), e depois identifique se o distúrbio é primariamente metabólico (quando existe alteração do HCO3) ou respiratório (quando existe alteração da PaCO2 ). -Lembre-se de que pH dentro da faixa de normalidade não exclui distúrbios acidobásicos 5. Calcular a compensação esperada - Qualquer alteração no equilíbrio acidobásico determina uma resposta compensatória por ambos os pulmões e/ou rins. - A resposta compensatória tem por objetivo alterar a PaCO2e o HCO3, de forma que a nova razão entre esses dois valores normalize o pH. 6ª Calcular os ‘’gaps’’: - Em acidoses com âniongap aumentado, os ácidos se dissociam em H + e o ânion não medido. O H + é tamponado pelo HCO3 e o ânion não mensurado se acumula no plasma, resultando em um aumento do âniongap Tratamento das Acidoses: - O tratamento da acidose metabólica é voltado para o controle do fator que causou o distúrbio. Exceto em situações muito específicas. - O pH intracelular é o determinante do funcionamento celular, e os sistemas tampão intracelulares são muito mais efetivos que os extracelulares em trazer o pH para uma faixa normal. Consequentemente, pacientes toleram níveis muito baixos de pH (níveis em torno de 7,0) durante hipercapnias mantidas. - O bicarbonato de sódio (NaHCO3) pode reduzir o pH intracelular (em circunstâncias em que a eliminação do CO2 é fixa ou é incapaz de se elevar em resposta a acidose). - Outro potencial limitação para o benefício da reposição de NaHCO3 é a redução pH dependente da concentração de cálcio iônico. - A infusão de bicarbonato pode levar a diversos problemas em pacientes com acidose, incluindo sobrecarga volêmica, hipernatremia e alcalose metabólica (deslocando a curva de dissociação da hemoglobina, o que aumenta a afinidade pelo oxigênio e reduz a oferta de O2 para os tecidos). - Bicarbonato é frequentemente administrado para “corrigir a acidose” em pacientes com cetoacidose diabética, mas os estudos mostram que: ✓ Paradoxalmente a infusão de bicarbonato aumenta a produção de cetonas e lactato. ✓ Durante a infusão, tem-se demonstrado também o aumento dos níveis de acetoacetato, seguido por elevação dos níveis de βhidroxibutirato ao término da infusão. ✓ Em pacientes pediátricos, o tratamento com bicarbonato aumentou o tempo de internação. ✓ As diretrizes recomendam considerar reposição de bicarbonato apenas se pH < 6,9. Com reposição de 100 mEq de bicarbonato ou 100 mL de bicarbonato de sódio 8,5% diluídos em solução glicosada (vide capítulo de hiperglicemias) ALCALOSE METABÓLICA: - É um distúrbio comum, principalmente em pacientes de UTI. - É caracterizada como um pH > 7,45 secundários ao aumento da concentração plasmática de HCO3, como também aumento da PaCO2 como resposta compensatória pulmonar. Resultados da alcalose: ✓ Redução do débito cardíaco. ✓ Redução do drive ventilatório. ✓ Altera a curva de dissociação da hemoglobina. ✓ Piora da hipocalemia ✓ Afeta negativamente no processo de extubação de pacientes ventilados mecanicamente. ✓ O pH > 7,45 tem sido correlacionado com maior mortalidade em pacientes críticos. ACIDOSE RESPIRATÓRIA: - Ocorre quando a hipoventilação leva a uma PaCO2 inadequadamente elevada e acidemia secundária. -Qualquer condição que reduza a ventilação por minuto pode causar acidose respiratória. Isso ocorre agudamente no quadro de comprometimento das vias aéreas, lesões pulmonares, trauma, acidentes vasculares cerebrais catastróficos e uso de depressores do sistema nervoso central (SNC). - A acidose respiratória pode ser acompanhada por hipoxemia que pode cursar com consequências agudas graves. Quando a oxigenação tecidual é adequada, a hipercapnia significativa leva a sonolência e obnubilação, com vasodilatação cerebral e consequente elevação da pressão intracraniana. - Começando 6 a 12 horas após sua instalação e progredindo por 3 a 5 dias, os rins respondem a uma acidose respiratória retendo o bicarbonato. A alcalose metabólica compensatória resultante, com um nível sérico elevado de bicarbonato, corrige parcialmente o pH sérico. - A acidose respiratória é acompanhada de um aumento de aproximadamente 3,5 mEq/L na concentração sérica de HCO3 para cada aumento de 10 mmHg no PaCO2 . Obs. A abordagem em pacientes com acidose respiratória aguda é dirigida a suas causas. O alívio da obstrução das vias aéreas e o uso de ventilação não invasiva ou mecânica frequentemente corrigem hipoxemia ou hipercapnia à medida que a terapia direcionada ao distúrbio subjacente é iniciada. - Pacientes com acidose respiratória crônica são frequentemente hipoxêmicos e podem ser suscetíveis a hipoventilação adicional se os níveis normais de saturação de oxigênio forem prontamente restaurados, evoluindo com hipercapnia e narcose. - É, portanto, prudente visar a uma saturação de oxigênio abaixo do normal em pacientes considerados habituados a hipoxemia e hipoventilação com alvo de SaO2 entre 88 e 92%. Obs. Em pacientes nos quais não é possível obter esses alvos com oxigenioterapia deve-se considerar o uso de suporte ventilatório. - O oxigênio suplementar, por outro lado, não deve ser evitado em pacientes com saturação de oxigênio perigosamente baixa (SaO2 < 70%). ALCALOSE RESPIRATÓRIA: - A alcalose respiratória ocorre quando a ventilação minuto aumentada causa uma PaCO2 diminuída e aumento no pH sérico. - O pH sanguíneo altera a afinidade da ligação do cálcio com a albumina. Quando o pH diminui, o cálcio perde afinidade pela albumina (aumentando o cálcio livre); quando o pH aumenta, o cálcio se liga mais fortemente à albumina (diminuindo o cálcio livre). - Na alcalose respiratória ocorrem sintomas similares aos da hipocalcemia, como parestesias nos lábios e nas extremidades, espasmo do carpo, câimbrasmusculares, tontura e síncope. A resposta homeostática à alcalose respiratória envolve primeiro a secreção celular de H + em troca de K + . Se a alcalose respiratória persistir, os rins excretam bicarbonato e retêm cloro, levando a uma acidose metabólica compensatória, com redução de HCO3 − sérico, hipocalemia e hipercloremia.
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