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Certificação e Orientação Ambiental de Edificações Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Michele Cavalcanti Toledo Revisão Textual: Prof.ª Me. Natalia Conti Construções Sustentáveis • Edificações Sustentáveis nos Dias de Hoje; • Projeto e Desenho Ambiental; • Projetos Integrados; • Questões Econômicas de Edificações Sustentáveis. • Apresentar ao aluno um pouco do estado da arte das construções sustentáveis nos dias de hoje, discutindo tendências e problemas da área. OBJETIVO DE APRENDIZADO Construções Sustentáveis Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Construções Sustentáveis Edificações Sustentáveis nos Dias de Hoje Como já deve ter ficado claro ao longo das últimas leituras, não existe um consenso sobre o que seria uma edificação sustentável, embora arquitetos, enge- nheiros, pesquisadores ou sistemas de certificações utilizem essa expressão em contextos diferentes. Ainda assim, ao longo desta leitura buscaremos mostrar algumas tendências e paradigmas para a elaboração de projetos e operação de casas sustentáveis, que sejam de consenso na maior parte dos autores, ou que no mínimo indiquem uma busca por essa tão desejada sustentabilidade. Considerando seus estudos prévios, quais características de projeto você acredita estar presente na maioria dos melhores trabalhos de edificações sustentáveis? Faça sua lista e depois compare com os tópicos apresentados ao longo do texto. Ex pl or Em seu livro, Glaucus Cianciardi (2014) dá destaque a alguns tipos básicos de construção sustentável que, apesar de não serem suficientes para garantir a sus- tentabilidade de um projeto, nos mostram como edificações sustentáveis podem escolher estratégias diferentes de projeto e construção. Os tipos básicos seriam: • Edificações com base em materiais naturais (não industrializados) e tec- nologias e processos de baixo consumo energético. Estas são por vezes chamadas de casas ecológicas; • Construções baseadas na reutilização de materiais; • Construções com base em materiais industrializados, feitas de maneira adaptada às condições do ambiente em que estão inseridas. Ainda segundo este autor, mais importante que a tipologia da casa seriam certas premissas de construção. Para ele os seguintes princípios são fundamen- tais para a sustentabilidade de edificações: Utilização de princípios bioclimáticos no terreno Isto significa que os projetos devem buscar respeitar as condições de microcli- ma da área na qual se intenciona colocar a edificação a seu favor. Para isso, devem se considerar questões como: ventilação natural, área e intensidade de insolação, áreas de sombreamento (ao final de construção), temperatura, umidade e uso ou reuso de água. 8 9 Figura 1 – O respeito às condições bioclimáticas do terreno passam pelo entendimento das ventilações, sua interação com a vegetação e o conforto térmico da habitação Fonte: iStock/Getty Images Respeito e preocupação com os aspectos geobiológicos da área A fim de garantir a salubridade dos usuários, o projeto deve analisar os potenciais riscos de fontes poluidoras a seus ocupantes, ou mesmo que o terreno em questão esteja poluído em virtude de um uso anterior ao projeto (situação muito comum no contexto paulistano). Para tanto, é preciso remediar a situação, realizando projeto de descontaminação da área ou de isolamento da poluição. Por exemplo, o plantio de uma vegetação densa na direção da fonte de poluição pode agir como filtro, di- minuindo a quantidade de poluentes atmosféricos, ruídos e até regulando a umidade na área da edificação. Projetos individualizados para cada região Infelizmente, ainda é comum no contexto brasileiro que empresas de arquitetura e engenharia “repitam” as mesmas soluções arquitetônicas em inúmeros lugares, às vezes muito diferentes entre si. Obviamente que isto faz com que que muitos pontos do projeto não se mostrem adequados ao contexto em que estão inseridos. Um exemplo interessante pode se observar em alguns prédios comerciais en- vidraçados. Uma solução relativamente comum nos Estados Unidos, um país em média bem mais frio. Ao se adotar esta solução por aqui, um país tropical, em vários edifícios observamos uma grande dificuldade de gestão, pois o uso do vidro sem o correto planejamento gera um efeito estufa, que torna a temperatura den- tro do edifício superior à externa, exigindo o uso intensivo de ar condicionados e de energia para mantê-lo funcionando. 9 UNIDADE Construções Sustentáveis Utilização das condições topográficas do terreno Numa construção normal, geralmente a primeira ação de engenharia está no nivelamento do terreno, talvez um dos maiores impactos na construção para a região. Boa parte de solo rico é descartado, e a região vai aos poucos sendo planificada em formatos estranhos e desconexos. Ainda que importante e útil, hoje em dia não é mais necessário que este seja um procedimento básico para qualquer tipo de edificação. Um bom projetista pode respeitar as condições topográficas para construir uma edificação a partir desta situação. Figura 2 – A utilização das condições topográficas a favor da edificação pode ser uma importante solução para diminuição dos impactos negativos. Na imagem vemos um trabalho que mimetiza as condições do ambiente em que está inserido, diminuindo o impacto visual da edificação, assim como contribuindo com a manutenção dos regimes de ventos da área Fonte: iStock/Getty Images Prevenção e mitigação de impactos nas condições naturais do terreno Certamente que uma edificação gera um impacto negativo no terreno em que está inserido, mas nem por isso o projetista e gestor não deva se preocupar em ten- tar diminuir o mesmo respeitando certas condições naturais que, individualmente, podem não parecer tão importantes, mas que quando vistas de maneira holística, são fundamentais na busca de cidades e comunidades sustentáveis. Uma dessas condições é a permeabilidade do solo. É importante a edificação tentar manter a permeabilidade do terreno a mais alta possível, contribuindo com isso na manutenção do ciclo hidrológico, permitindo o reabastecimento do lençol freático e a contenção de enchentes. 10 11 Busca por soluçõespassivas de controle térmico As soluções passivas de controle térmico são aquelas que não se utilizam de fontes de energia para o controle da temperatura. O uso da ventilação natural para o controle da temperatura numa faixa agradável, ou o uso de materiais isolantes térmicos para a manutenção do conforto térmico numa edificação em situações de frio são interessantes exemplos da utilização de soluções passivas para o conforto ambiental das construções. Figura 3 – Telhados verdes são soluções interessantes para o controle passivo da edifi cação, pois sua utilização aumenta o isolamento térmico do interior e ainda contribui com outros serviços ecossistêmicos Fonte: iStock/Getty Images Diretrizes bioclimáticas no projeto de iluminação da edificação Assim como na questão térmica, é fundamental que as edificações busquem a utilização máxima da iluminação natural, sempre respeitando os usos projetados da construção, de maneira a diminuir a demanda por energia e mostrando-se mais conectada às condições naturais em que está inserida. Vale destacar que para tanto alguns cuidados são importantes; dependendo do clima da região, talvez seja preciso utilizar iluminação indireta, para que o ambiente interno não receba um excesso de iluminação ou calor ao longo do ano. Utilização e aproveitamento dos serviços ecossistêmicos oferecidos pela vegetação Como vimos anteriormente, a flora pode ser importante aliada na regulação térmica, controle da poluição atmosférica e acústica, mas um projeto que vise ser sustentável também deve se preocupar com os fatores ecológicos da região em que está inserido, de maneira a respeitar a flora autóctone da região, ou seja, a flora nativa daquele ecossistema. 11 UNIDADE Construções Sustentáveis Na mesma linha, projetos modernos vêm se preocupando em resgatar os di- versos usos da vegetação, criando espaços que estimulem as pessoas a usufruir da vegetação, seja coletando frutos ou repousando num horário de descanso. Na arquitetura contemporânea não se deve mais considerar a vegetação apenas como um elemento estético da edificação. Figura 4 – Lugar de planta não é só no jardim. Cada vez mais o uso da vegetação vem sendo integrado aos projetos de edificações altas e de interiores Fonte: iStock/Getty Images Utilização de materiais seguros à saúde humana e ao meio ambiente Deve-se dedicar um grande esforço para evitar a utilização de materiais que possuam substâncias químicas contaminantes e tóxicas (compostos orgânicos voláteis, formaldeídos, chumbo, arsênio, entre outros) ou que permitam o sur- gimento de ambientes propícios ao desenvolvimento de agentes biológicos (bactérias, fungos, ácaros, mosquitos e etc). Esta é uma preocupação não só aos futuros usuários da edificação, mas a todos os envolvidos na construção, operação e mesmo desativação futura da edificação. 12 13 Escolha de materiais ambientalmente menos impactantes Considerando os impactos da extração e produção de materiais mensurados por ferramentas de gestão ambiental como a avaliação de ciclo de vida, o projeto deve escolher aqueles mais adequados a seu contexto, diminuindo com isso seu impacto negativo total. Para tanto é importante valorizar fornecedores locais, certificados e atentos às questões da sustentabilidade. Outra preocupação importante na escolha dos materiais está no impacto de sua vida útil. Ele será descartado? Como? Pode ser reutilizado? Pode ser reci- clado? Estas são algumas questões importantes a se ter em mente na análise e escolha dos materiais. Uso de tecnologias eficientes A tecnologia deve ser vista como aliada e, considerando que com o tempo os equipa- mentos vêm se tornando cada vez mais eficientes no consumo de energia e materiais, deve-se priorizar aqueles que ao longo de sua vida útil irão demandar menos recursos. Um exemplo recorrente nesta ceara é a utilização de lâmpadas do tipo LED. Apesar de mais caras, sua demanda por energia é menor, o que faz com que a economia gerada no seu uso compense financeiramente o investimento (pay back financeiro, ou tempo de retorno). Destes pontos destacados por Cianciardi (2014), podemos aferir a complexi- dade e a importância da educação na vida do profissional desta área. Em virtude de sua grande complexidade, e mesmo por ser um tema emergente, ainda em construção, o profissional da área deve dedicar bastante energia nos estudos da temática ambiental, assim como dos aspectos de projeto e operação de construção sustentável. Apenas assim, e com muita experiência e dedicação, será possível atingir o nível de expertise exigido pelo setor. É possível observarmos ainda que os tópicos apresentados buscam manter um paradigma ecológico no cerne do projeto da edificação, a melhoria da qualidade de vida dos usuários e redução dos impactos ambientais, o estímulo ao respeito das con- dicionantes locais e uso de materiais com responsabilidade socioambiental. Sob uma perspectiva mais prática e no contexto das edificações certificadas nos dois níveis mais altos do sistema LEED (Gold e Platinum), Yudelson (2013) compilou as características mais recorrentes em projetos neste âmbito: • Remediação e recuperação do terreno; • Uso de águas pluviais; 13 UNIDADE Construções Sustentáveis • Uso de cobertura verde para controle de ilhas de calor; • Foco no controle natural da iluminação; • Uso de energia renovável e projeto de aproveitamento de energia; • Uso de equipamentos de medição e verificação de consumo (como sistemas smart grids); • Uso de materiais de fonte reciclada; • Uso de materiais com selos da qualidade ambiental de produção; • Uso de madeira certificada; • Monitoramento de emissão de carbono; • Uso de ventilação natural eficiente. Figura 5 - Exemplo de um escritório moderno que utiliza da iluminação natural em seus interiores Fonte: iStock/Getty Images O fenômeno da ilha de calor é a observação de uma diferença de tempe- ratura na cidade e nas áreas verdes periurbanas. Ou seja, trata-se de uma situação na qual os materiais utilizados pelos seres humanos nas cidades, como concreto e asfalto, fazem com que a região fique mais quente que o entorno (SPIRIN, 1984). No município de São Paulo já foram obser- vados fenômenos de ilhas de calor com mais de 8°C de diferença entre a região central e o cinturão verde no entorno do município. (BARROS; LOMBARDO, 2016) 14 15 A tecnologia dos Smarts Grids vem rapidamente ganhando espaço em projetos de edi- ficações sustentáveis. Resumidamente, trata-se de um sistema de energia elétrica utili- zado em conjunto com sistemas de medição e controle de energia. Veja mais sobre isso no site: https://goo.gl/K3CxvP. Ex pl or Considerando o melhor dos cenários, onde todos estes pontos foram respeitados no projeto e construção da edificação, ainda assim não podemos afirmar que teremos uma edificação sustentável. Estaremos dependentes de um fator fundamental ainda: o com- portamento dos usuários. Nada disso será sufi ciente se não conseguirmos mudar alguns hábitos negativos no con- texto socioambiental. Ex pl or Projeto e Desenho Ambiental A abordagem do Desenho Ambiental surgiu na arquitetura moderna do pós- -guerra com o intuito de contrapor-se aos paradigmas ultrapassados do paisagismo tradicional, com foco em questões estéticas. Sendo assim, a ideia do Desenho Ambiental, do inglês Environmental Design, busca superar estas questões esté- tico-culturais superficiais e resgatar uma abordagem funcional. Busca desenvolver novas relações entre a relação ambiente e ambiente construído, assim como social e biológica (FRANCO, 2008). Ainda segundo Maria de Assunção Ribeiro Franco (2008), o Desenho Ambien- tal tenta superar aspectos do paisagismo clássico, tratando projetos como proces- sos, nos quais a ação antrópica irá interagir com aspectos socioculturais e bioló- gicos. A abordagem busca então conduzir e otimizar essa relação de maneira a diminuir o uso de recursos energéticos e a aumentar a participação comunitária. Importante!Segundo a autora (FRANCO, 2008, p. 11), Desenho Ambiental “é uma expressão metafórica, mesmo porque o ambiente não se desenha. A semântica da palavra am- biente carrega o sentido de complexidade infi nita, logo, Desenho Ambiental refere- se a desenho para o ambiente, no que se pressupõe que o projeto seja o elemento formular e indutor de um processo”. Trocando ideias... 15 UNIDADE Construções Sustentáveis Desta maneira, o leitor pode perceber que, embora tenha uma origem e uma terminologia diferentes das abordagens que vínhamos estudando até aqui, a De- senho Ambiental nos oferece uma perspectiva bem alinhada aos princípios e paradigmas de construção sustentável que vêm sendo trabalhados. Assim, profis- sionais dessas áreas facilmente poderão chegar em consenso e aprender com as diferentes abordagens de cada área. Projeto e Desenho ambientais podem ser entendidos como aqueles que buscam atingir a sustentabilidade em suas mais diversas formas, respeitando as condicio- nantes ambientais, sociais e econômicas da área em questão. Projetos Integrados A Ideia de projetos integrados para a construção sustentável refere-se à inserção dos aspectos e complexidades socioambientais desde a concepção do projeto da edi- ficação. Isto deve ocorrer por meio de equipes interdisciplinares, comprometidas com a sustentabilidade do projeto em seus três vieses principais, o ambiental, em relação à interação das edificações com os ciclos biogeoquímicos do entorno, o social, quanto a como o projeto poderá impactar as relações socioculturais da comunidade em que está inserido, assim como dos trabalhadores e demais stakeholders, e ainda o aspecto econômico, de forma que a equipe esteja comprometida em buscar soluções consi- derando os demais aspectos sem ultrapassar as metas financeiras pré-estabelecidas (YUDELSON, 2013). Para tanto, é necessário buscar equipes dispostas a (YUDELSON, 2013): • Comprometer-se com a integração das questões socioambientais em todos os elementos do projeto; • Traçar objetivos audaciosos, como a obtenção de um certificado de edifi- cação sustentável; • Comprometer toda a equipe a buscar soluções que não aumentem o custo do projeto; • Trabalhar a partir de uma base de diagnóstico ambiental da região sólida; • Oferecer feedback a todos os envolvidos; • Obter o consenso na estratégia de projeto. 16 17 Apesar da interdisciplinaridade vir ganhando força em diversas profi ssões nos últimos anos, essa ainda é uma abordagem nova e pode se mostrar muito desafi adora de ser posta em prática em algumas equipes. Infelizmente alguns profi ssionais ainda são extre- mamente limitados dentro de pequenas esferas de atuação, possuindo muita difi culdade de dialogar, ou até mesmo respeitar, outras áreas. Os profi ssionais da área de sustentabi- lidade devem estar sempre preparados para dialogar com as mais diferentes profi ssões, de maneira a reconhecer as limitações e potencialidades de cada uma delas. Ex pl or Questões Econômicas de Edificações Sustentáveis Considerando a complexidade deste tipo de projeto, especialmente quando falamos sobre edificações, é natural que o mesmo demande grandes verbas, espe- cialmente se busca ser certificado por algum sistema como LEED. Nesse marco, Jerry Yudelson (2013) analisou um pouco sobre o contexto em que algumas das principais obras certificadas foram construídas: • Quem constrói edificações que buscam ser sustentáveis por meio da certi- ficação LEED: organizações sem fins lucrativos (ONGs); organizações com fins lucrativos (empresas); governos (municipal, estadual e federal) e indiví- duos, nesta ordem de demandas. • Projetos que obtém a certificação alcançam uma economia média de 25 a 50% no consumo de energia e água em relação a equivalentes sem o foco na sustentabilidade (o que significa uma grande economia em gastos financeiros ao longo da operação do edifício). • Embora seja difícil pesquisar o preço de alguns projetos de edificações sus- tentáveis (este é o tipo de informação que muitas vezes o empreendedor se recusa a compartilhar com o pesquisador), o autor aponta que empreende- dores consideram que empreendimentos com foco na obtenção de um certi- ficado de sustentabilidade têm seu custo acrescido de cerca de 10% do valor. 17 UNIDADE Construções Sustentáveis Já Dominique Gauzin-Müller (2011), em sua obra, defende que não há neces- sidade de que projetos de edificações sustentáveis sejam mais custosas do que outros tipos de empreendimento. Ela argumenta que esta é uma realidade de grandes projetos que buscam certificações, normalmente considerando projetos high-techs, por utilizarem novas soluções tecnológicas baseadas em processos industriais inovadores que diminuam o impacto ambiental do projeto. Entretanto, os trabalhos low-tech, ou seja, de baixa tecnologia, que respeitam o meio em que estão inseridos se utilizando de materiais locais e ecológicos, muitas vezes resgatando antigas práticas culturais da região, também podem ser considerados como edificações sustentáveis, e certamente possuem custos financeiros menores do que edificações tradicionais. Figura 6 – Estas belas casas feitas em bambu em Bali são um bom exemplo de soluções low-tech Fonte: iStock/Getty Images Brian Edwards, na conclusão de seu livro “Guia Básico para a Sustentabilida- de” (EDWARDS, 2005), traz ainda um importante ponto econômico. Muito se fala sobre as questões de projetos de edificações sustentáveis, mas a realidade é que hoje já possuímos incontáveis edificações não sustentáveis, carentes de in- tervenções. O chamado eco-retrofit busca reformular casas já existentes, dentro dos princípios que vimos nos tópicos anteriores, para melhorar sua sustentabili- dade, ganhando em eficiência e economia e exigindo um capital de investimento que é, normalmente, muito menor do que o de um novo projeto. 18 19 Por fim, quando discutimos sobre a sustentabilidade das edificações, estamos, no fundo discutindo sobre nosso modo de vida nas cidades, o espaço onde inte- ragimos e vivemos. Sobre este tema, Claude Lévi-Strauss (1955, p. 117) teceu as seguintes palavras que traduzem muito do que foi visto ao longo desta unidade: Não é, portanto, apenas de maneira metafórica que é possível compa- rar -- como se fez muitas vezes -- uma cidade a uma sinfonia ou a um poema; são objetos de natureza idêntica. A cidade, talvez mais precio- sa ainda, situa-se na confluência da natureza e do artifício. Congrega- ção de animais que encerram a sua história biológica nos seus limites, modelando-a ao mesmo tempo com todas as suas intenções de seres pensantes, a cidade provém simultaneamente da procriação biológica, da evolução orgânica e da criação estética. É ao mesmo tempo, objeto de natureza e sujeito de cultura; indivíduo e grupo; vivida e sonhada; a coisa humana por excelência. 19 UNIDADE Construções Sustentáveis Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Ministério do Meio Ambiente Para saber mais. Página do governo explicando e incentivando as edificações sustentáveis. https://goo.gl/RU4XAj Exame Abril Ranking feito pela revista Exame com alguns exemplos de edificações sustentáveis no Brasil. https://goo.gl/5cQb8P Tem sustentavel Reportagem sobre 10 edificações sustentáveis icônicas no mundo. https://goo.gl/WKWVJ8 Vídeos Arquitetura sustentável: um caminho para um planeta melhor Reportagem sobre o uso da madeira em edificações sustentáveis. https://youtu.be/hMOF2CwiDoc Casa Jabuticaba é destaque em arquitetura sustentável Estudo de caso: Árvore como elemento básico de projeto. https://youtu.be/b5Ggm-1Q0gg Guia orienta a construção de edifícios sustentáveis Guia para prédios públicos sustentáveis. https://youtu.be/VgbhZgVTvf4 Cidade 100% sustentável na Alemanha Reportagem sobre cidades, modo de vida e edificações sustentáveis. https://youtu.be/YDwR7PUJNvc 20 21 Referências BARROS, H. R.; LOMBARDO, M. A. A ilha de calor urbana e o uso e cobertura dosolo no município de São Paulo-SP. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), v. 20, n. 1, p. 160–177, 2016. CIANCIARDI, G. A Casa Ecológica. 1. ed. Vinhedo: Editora Horizonte, 2014. EDWARDS, B. O guia básico para a sustentabilidade. 2. ed. Barcelona: GG, 2005. FRANCO, M. DE A. R. Desenho Ambiental: uma introdução à arquitetura da paisagem com o paradigma ecológico. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2008. GAUZIN-MÜLLER, D. Arquitetura Ecológica. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2011. LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. 1988, p. 81–83, 1955. SPIRIN, A. W. The Granite Garden. New York: Basic Books, 1984. YUDELSON, J. Projeto Integrado e Construções Sustentáveis. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. 21
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