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Psicologia da Educação SABRINA LINS BONFATTI 1ª Edição Brasília/DF - 2019 Autores Sabrina Lins Bonfatti Revisor Amanda Damasceno Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões ................................................................................................9 Capítulo 2 Escola Comportamental ........................................................................................................................................... 14 Capítulo 3 Freud e a Psicanálise ................................................................................................................................................. 32 Capítulo 4 Jean Piaget e a Epistemologia Genética ............................................................................................................ 51 Capítulo 5 Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista ................................................................................................................. 69 Capítulo 6 Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação ........................................................................................... 83 Referências ........................................................................................................................................................................109 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGAnIzAçãO DO LIVRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Como se faz um homem? Falar de psicologia da educação é ter como objeto de investigação o sujeito que está comprometido com seu processo de construção do conhecimento. Ora, ao falarmos de processo estamos, portanto, colocando foco em um ser em eterna constituição. Um ser que embarca numa viagem muito própria, mas com um trilho universal, que nem por isso é livre de surpresas e percalços. Trataremos da pluridimensionalidade do ser. Mas, de que se trata tal perspectiva? O sujeito do conhecimento só pode ser compreendido se o considerarmos em toda a sua complexidade, ou seja, como portador de três dimensões: relacional, afetiva e racional. Como se faz este ser pluridimensional? Como se aproximar de um entendimento desse homem que é relacional, emocional e racional, tudo ao mesmo tempo, aqui e agora? Como, se ele é muito maior do que a soma das partes? Para nos aproximarmos da questão, entrelaçamos diversas teorias de estudiosos que, dando foco em uma das dimensões, não poderiam deixar de iluminar e nem flertar com as demais. Nosso primeiro capítulo trata das dimensões do ser em constante processo de conhecimento. Trataremos da dimensão relacional, afetiva e racional (ou cognitiva), buscando refletir sobre suas interações e consequências para a aprendizagem. No segundo capítulo, conheceremos a Escola Comportamental. Aprenderemos que mesmo o Behaviorismo (termo em inglês que significa comportamento), que muitos acreditam negar a dimensão afetiva, não o faz. No começo de sua trajetória, defendiam o abandono da introspecção e a adoção da observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. Ou seja, eles não negavam a afetividade como constituinte do ser humano, só não se ativeram a essa dimensão. Ao longo do desenvolvimento teórico, passaram a compreender que os problemas psicológicos podem ser entendidos em termos de sistemas de respostas intercalados: cognitivo, afetivo, fisiológico e o comportamental. Refletiremos sobre a teoria do Sistema Estímulo-Resposta, proposta por grandes autores, como Pavlov e Watson. Abordaremos o conceito de Condicionamento Operante, de Skinner, e o sistema de reforço proposto por ele. Nosso terceiro capítulo trata da Psicanálise de Freud e seu entendimento sobre afetividade humana. Veremos, mais especificamente, a evolução da libido nas fases denominadas por ele de: Fase Oral, Fase Anal, Fase Fálica, Período de Latência, Fase Genital. Para lançarmos luz sobre os processos de desenvolvimento do conhecimento, recorremos a Piaget em nosso quarto capítulo. Ao longo dos seus estudos, ele verificou que existem 7 formas diversas de interação com o meio, em todas as faixas etárias, denominando-as estágios ou períodos. Os estágios representam as aquisições típicas de cada idade, que determinarão a maneira como a criança irá agir no mundo, construindo, assim, a sua inteligência. “Cada estágio constitui uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se a evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa e de uma interiorização progressiva.” (RAPPAPORT, 1981, v.1, p. 65.). Apoiaremos nossa reflexão nos seguintes estágios: Sensório-motor (0-24 meses), pré-operacional (2-7 anos) e operatório-concreto (7-11, 12 anos). Nosso quinto capítulo traz Vygotsky e sua Teoria Sociointeracionista. Trataremos dos processos mentais, considerados pelo autor como a principal característica da espécie humana, abordando conceitos como pensamento, inteligência, consciência e linguagem. A teoria de aprendizagem de Vygotsky dá destaque ao papel das relações sociais no desenvolvimento intelectual. Para ele, o homem é um ser que se forma em contato com a sociedade. No último capítulo, apresentaremos três teóricos que estão influenciando o cenário da educação contemporânea. Henri Wallon, com sua Teoria Psicogenética, defende o processo de evolução, dependendo tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente que o afeta de alguma forma. Observaremos que a dimensão afetivaocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do ponto de vista do conhecimento. Para ele, a gênese da inteligência é genética e organicamente social. Já Howard Gardner traz a novidade das Inteligências Múltiplas. Ele revolucionou o cenário da psicologia e da educação, ao afirmar que o sujeito pode desenvolver diversos tipos de inteligência, dependendo do estímulo que recebe e do contexto em que vive. David Ausubel nos apresenta a Teoria da Aprendizagem Significativa, afirmando que o fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece. Objetivos » Compreender o sujeito como um indivíduo pluridimensional. » Conhecer os principais teóricos da psicologia do desenvolvimento humano. » Refletir sobre as principais teorias da aprendizagem. » Correlacionar as teorias do desenvolvimento humano e da aprendizagem. » Pensar a sala de aula à luz das teorias estudadas. 8 9 Introdução Quando falamos de uma ligação entre a Psicologia e a Educação, o primeiro conceito que nos vem à cabeça é o da Psicopedagogia, não é mesmo? E qual seria, então, o objeto de estudo da Psicopedagogia? De acordo com Almeida e Silva (2006), esse objeto é o homem como ser em processo de construção do conhecimento. Para entendermos, então, como se dá a aprendizagem, precisamos considerar o ser humano como um ser pluridimensional, com uma dimensão racional, também chamada de dimensão cognitiva, uma dimensão afetiva e uma dimensão relacional. Entendermos o sujeito como um ser pluridimensional não quer dizer que acreditamos na concepção individualista, na qual o homem é um sujeito absoluto e único construtor de seu conhecimento. Tampouco acreditamos na concepção mecanicista e objetiva que vê o homem como sujeito passivo, cuja única função é registrar o conhecimento que lhe foi passado. Aqui, trataremos de um modelo baseado no princípio da interação do sujeito, em que tanto sujeito quanto objeto atuam um sobre o outro. Isso significa que jamais o sujeito será passivo no processo de aprendizagem. Ele é sempre ativo, na medida em que introduz algo de si no conhecimento. Como o sujeito é determinado por suas dimensões – afetiva, relacional e racional – podemos afirmar que elas são constituintes no processo de construção do conhecimento. 1 CAPÍTULO O DESEnVOLVIMEnTO HUMAnO E SUAS DIMEnSÕES Importante Um objeto não corresponde apenas a coisas e pessoas. Aqui, ele também significa ideias, fatos, ideologias, cultura e conteúdos transmitidos durante a aprendizagem. Ou seja, entendemos como objeto tudo o que não é sujeito na relação cognitiva. 10 CAPÍTULO 1 • O DESEnVOLVIMEnTO HUMAnO E SUAS DIMEnSÕES Objetivos » Entender o sujeito como um ser pluridimensional. » Refletir sobre a influência de cada dimensão no processo de aprendizagem. » Conhecer as três dimensões constituintes do sujeito: afetiva, racional e relacional. Dimensão afetiva A dimensão afetiva é constituinte na construção do conhecimento, pois o sujeito é determinado por um saber que ele não conhece, ou melhor, que não é consciente. Isso quer dizer que o indivíduo não é o senhor absoluto dos seus próprios pensamentos, pois eles são regidos, também, pelo inconsciente, como veremos no Capítulo 2. Existem ideias que ocorrem no sujeito de origens não conhecidas. Há pensamentos cuja elaboração não está acessível ao indivíduo. Muitos atos conscientes nos parecem incoerentes ou incompreensíveis, quando não partimos do pressuposto de que todo o processo mental tem sua parte consciente, mas também uma grande parcela inconsciente. Por isso, é fundamental ir além da experiência imediata. O conhecimento consciente está intimamente ligado a uma inconsciência psíquica. Freud ressalta, em toda a sua obra, a importância do inconsciente na vida mental, dizendo que a mesma é essencialmente inconsciente. Isso quer dizer que tudo que é consciente passou por um estágio inconsciente. Assim, podemos afirmar que o sujeito pluridimensional tem dois sistemas de funcionamento. O consciente é lógico e intelectivo e funciona de maneira secundária. Freud nos ensina que tal sistema é regido pelo princípio da realidade. O segundo sistema é inconsciente, simbólico, funcionando em processo primário. Tal sistema é regido pelo princípio de prazer. Isso tudo quer dizer que nós não temos autonomia absoluta sobre os nossos próprios pensamentos, muito menos do nosso inconsciente e da essência de nossas vidas mentais Tanto a dimensão afetiva, como a relacional e a racional têm sua representação no aparelho psíquico de forma consciente e inconsciente. A dimensão afetiva se articula às demais dimensões numa totalidade dinâmica, gerando ações que organizam e modificam o meio. É dessa organização e interação com o meio que, não só o conhecimento, mas o próprio sujeito é construído. 11 O DESEnVOLVIMEnTO HUMAnO E SUAS DIMEnSÕES • CAPÍTULO 1 Dimensão racional A dimensão racional é constituinte do processo de construção do conhecimento, pois o sujeito, na medida em que age sobre o meio, constrói suas próprias estruturas no processo desta ação interiorizada. Portanto, a ação do indivíduo sobre o objeto é o ponto de partida para a construção de conhecimento. Para que haja aprendizagem, é preciso que ela se estruture a partir do que já foi vivido, ou seja, da formulação e enunciação do conceito pelo sujeito. Quando nascemos, a base da relação sujeito-objeto se dá através de experiências sensório-motoras e o conhecimento se reduz ao campo da motricidade. Em seguida, o sujeito representa mentalmente o vivido e faz representações figurativas. O conhecimento nessa etapa é, apenas, um conhecimento prático, concreto. A última fase é marcada pelas trocas simbólicas. Aqui, o sujeito já formula hipóteses através de operações combinadas, baseadas em enunciados verbais em que o conhecimento se constitui numa lógica formal, aplicada a qualquer conteúdo. A construção do conhecimento se dá na seguinte ordem: perceber, discriminar, organizar, conceber, conceituar e enunciar. Independentemente da fase do desenvolvimento em que o sujeito se encontra, todas essas etapas acontecem. O que muda é qualidade, organização e seu funcionamento da percepção, discriminação, organização, concepção, conceituação e enunciação, pois a cada fase eles se tornam mais complexos. Dimensão relacional O sujeito aprende na interação com o meio e com os outros, construindo sua identidade, para alcançar o conhecimento e a autonomia. Sendo um ser contextualizado e determinado por suas condições biológicas, ele interage de maneira particular, estabelecendo vínculos. Provocação “A ação precede o conhecimento e este consiste numa organização, sempre mais rica e coerente, das operações que prolongam a ação no sujeito.” (PIAGET, 1983 p. 148) Posicionamento do autor A dimensão racional é constituinte do processo de construção do conhecimento, pela ação do sujeito sobre o objeto e pela estruturação do vivido dessa ação, formulada em percepções, discriminações, organizações, concepções, conceitos e enunciados, que ficam mais complexos, formando estrutura própria que prepara para a etapa seguinte. 12 CAPÍTULO 1 • O DESEnVOLVIMEnTO HUMAnO E SUAS DIMEnSÕES Essas relações vinculares positivas ou negativas são marcadas por relações anteriores e representativas e, por isso mesmo, podem ser resgatadas. A título pedagógico, podemos dividir a dimensão relacional em duas partes: contextual e interpessoal. A dimensão relacional contextual constitui o processo de construção do conhecimento na medida em que o sujeito é um ser social. O sujeito é formado a partir das suas relações sociais. Ele é determinado pelas condições materiais de existência que vive na sociedade. Ser constituido a partir das relações traz diversas consequências no que tange ao conhecimento. A maneira de se perceber o mundo à sua volta e de se distinguir determinados elementos estão intrinsicamenteligadas à maneira pela qual o sujeito constrói seus conhecimentos. Como percebemos, o mundo também depende dos valores que recebemos da família e da sociedade em que estamos inseridos. Esse julgamento, como veremos no próximo capítulo, pode ser consciente ou inconsciente e determina as ações sobre o objeto, sem as quais o conhecimento não se constrói. Já a dimensão relacional interpessoal é constituinte no processo de construção do conhecimento, pois o sujeito é determinado pelas relações que estabelece com as outras pessoas. Essas relações incluem o sujeito e suas multiplas relações. À medida que os pressupostos da vida, que não eram questionados, quer pela relação afetiva ou pelas certezas pré-reflexivas do sujeito, passam a ser questionados, a partir da confrontação dialógica com o outro é que essa relação passa a ser constitutiva no processo de construção do conhecimento. Articulações entre as dimensões As dimensões do sujeito se articulam de maneira dinâmica. Essa articulação é um processo complementar e conflitivo. Por terem suas especificidades, as dimensões não se fundem, mas também não se excluem. Elas se completam mesmo havendo confronto e conflito. Esse processo de confronto e conflito também se dá no processo de construção do conhecimento. A dimensão relacional é quem caracteriza o sujeito como um ser pensante. Ela se articula com a dimensão afetiva, ajustando o desejo à realidade. Já a dimensão afetiva caracteriza o ser apaixonado, no qual o desejo se constitui. Ou seja, aquela modula o desejo através da palavra. A dimensão relacional interpessoal caracteriza o ser das relações. Ela se articula com as dimensões afetiva e racional, pois em toda a ação buscamos o reconhecimento do outro, ou melhor, do desejo do outro; do que o outro espera de nós. A dimensão relacional 13 O DESEnVOLVIMEnTO HUMAnO E SUAS DIMEnSÕES • CAPÍTULO 1 contextual é o que caracteriza o ser contextualizado. Sendo assim, ela se relaciona com as dimensões racional e afetiva, já que o desejo do sujeito é construído a partir do ambiente em que ele está inserido. Ou seja, o sujeito, que é único, é mediatizado por formas e significações sociais. Todavia, como falamos anteriormente, pode haver distorções nesse processo complementar, mas conflitivo, bloqueando a autonomia e a construção de conhecimento do sujeito. Quando as dimensões afetiva e relacional se sobrepõem à dimensão racional, o sujeito torna-se suscetível à falsa consciência, às opiniões e ideologias, impedindo seu conhecimento. Caso a dimensão relacional reprima a racional e a afetiva, torna o sujeito emissor de uma fala vazia, de uma fala justificada, dificultando, assim, a aprendizagem. Como diz Habermas (1980) “as ideias servem muitas vezes como esquemas justificativos de ações sem ter em conta dados da realidade, seus móveis reais. No nível individual, esse processo chama-se racionalização; no nível de ação coletiva, denomina-se ideologia.” (p. 308) Concluímos que as distorções que aparecem nas articulações entre as dimensões prejudicam a estruturação e a organização do meio. Assim, as ações do sujeito se tornam limitadas, pouco criativas, conservadoras e/ou conformistas. Isto está completamente relacionado a como o sujeito irá aprender e como ele irá agir dentro de uma sala de aula. Para entendermos melhor as dificuldades enfrentadas pelos nossos alunos, o primeiro passo é compreender que esse aluno é constituído por muitas dimensões. O segundo é tentar entender como as três dimensões (afetiva, relacional e racional) se articulam e se há predominância de alguma delas naquele momento. Sintetizando Vimos até agora: » O sujeito é constituído por três dimensões: afetiva, racional e relacional. » O processo de construção do conhecimento se dá através da constituição das suas dimensões. » A articulação entre as dimensões se dá de maneira complementar e conflitiva. » Quando uma dimensão se sobrepõe às outras, ocorre disfunção no processo de aprendizagem. 14 Introdução É possível haver uma ciência do comportamento? O comportamento é subjetivo, ou seja, varia de sujeito para sujeito? O Behaviorismo, corrente filosófica que propôs a ciência da análise do comportamento no começo do século XX, continua sendo uma das correntes mais fortes da psicologia. Essa corrente considera o comportamento humano como o centro de estudo e investigação da psicologia. Aqui no Brasil, é chamada de Escola Comportamental, pois behavior é a tradução de comportamento em inglês. Essa escola aborda tópicos que muito prezamos e que nos tocam de perto: por que fazemos, o que fazemos e o que devemos ou não devemos fazer. Você, aluno, consegue imaginar a aplicabilidade desta abordagem na sala de aula? É possível ensinar aos alunos o que devem ou não fazer? Os comportamentalistas acreditam que sim. Acreditam que podemos condicionar pessoas (no nosso caso, o aluno) para que tenham uma melhor aprendizagem. Vamos entender como? Estudaremos, ao longo deste capítulo, os principais autores da psicologia comportamental. Refletiremos sobre as implicações dessa abordagem na Educação. Objetivos » Conhecer a Escola Comportamental e a sua evolução ao longo do tempo. » Apreciar a Teoria do Condicionamento Clásico de Watson: Estímulo Resposta » Ampliar o conhecimento a partir do conceito de Condicionamento Operante de Skinner. » Refletir sobre os benefícios e as críticas em relação ao comportamento humano. » Analisar as influências da Escola Comportamental na Educação, buscando estratégias para a sala de aula. 2CAPÍTULOESCOLA COMPORTAMEnTAL 15 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Behaviorismo(S) Os pioneiros dessa corrente foram os russos Vladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov. Bechterev foi o primeiro a propor uma psicologia pautada no estudo do comportamento humano. Ele chamou essa “nova psicologia” de “psicologia objetiva” Pavlov, um renomado fisiologista, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 1904, foi reconhecido ao afirmar que o comportamento pode ser condicionado. Ele iniciou os seus estudos observando o processo de salivação em cães. Notou que todos os animais de estudo sempre salivavam quando estavam diante de um pote de comida. Contudo, alguns desses animais começavam a salivar já ao ouvir os passos do seu assistente que levava o alimento para os cães. Assim, concluiu que todos os cães salivavam em frente a um pote de comida porque se tratava de um comportamento inato, mas outros aprendiam que o som dos passos do assistente era o evento que antecedia a alimentação e, por isso, já começavam a salivar. Aprimorando suas observações, Pavlov fez um experimento com seus cães, tocando, primeiro, um sino. Isso não provocava nenhuma resposta de comportamento do cachorro. Depois, passou a tocar o sino e colocar, em seguida, o pote de comida. Após algumas repetições, o cão passava a salivar (resposta nata) ao tocar o sino. Sendo assim, Pavlov afirmava que, para além dos reflexos inatos, podemos desenvolver reflexos aprendidos podendo, então, proceder uma alteração no comportamento. Esses reflexos aprendidos, chamados de reflexos condicionados, são produzidos pela associação de um estímulo novo, que não produzia, a princípio, nenhuma resposta específica (por exemplo, o andar do assistente) ao estímulo antigo (o pote de comida chegando). O Prêmio Nobel foi recebido quando ele comprovou que é no córtex cerebral que os reflexos condicionados se formam, modificam-se e desaparecem. Saiba mais Neste momento, a psicologia, que também poderia ser chamada de Reflexologia, estava limitada ao estudo dos reflexos. Isso quer dizer que os reflexos – inatos e condicionados – são o fundamento das respostas do indivíduo aos estímulos provenientes do meio. A partir dos seus estudos sobre condicionamento, Pavlov constrói a sua teoria da aprendizagem, sobretudo no que tange à linguagem. 16 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Foram os estudos de Pavlovque inspiraram John B. Watson a escrever, em 1913, o artigo “A Psicologia como um behaviorista a vê”, dando início a uma área da psicologia que desperta interesse e crítica até os dias de hoje. Dos tempos de Watson até o momento atual, muitos ramos da psicologia comportamental surgiram, como veremos a seguir: I. Behaviorismo Clássico: Figura 1. Condicionamento Clássico. Fonte: <https://lamenteesmaravillosa.com/pavlov-condicionamiento-clasico/>. Acesso em: 26/4/2019. Fundada por Watson, essa linha teórica propõe a observação do comportamento em detrimento do estudo dos processos mentais, que dominavam o cenário da psicologia no início do século XX. Para ele, era preciso tornar a psicologia uma ciência, concentrando os estudos naquilo que podería ser observado. Sua crítica ao estruturalismo de Wundt se dá pois, para ele, o estudo dos processos mentais não são produtivos. Importante Condicionamento: apresentando repetidamente o estímulo novo (ambiental), seguido do estímulo antigo (inato), o condicionado passa a ser semelhante ao inato. Após um determinado número de repetições, basta apresentar o estímulo condicionado para se obter a resposta apresentada pelo estímulo inato. Contudo, esse condicionamento não é definitivo. Se cessa o estímulo, cessa a resposta. Provocação Qualquer comportamento é sempre uma consequência de um estímulo anterior específico. Saiba mais A psicologia como uma área do saber foi desenvolvida a partir dos trabalhos de Wilhelm Wundt. Foi o primeiro a construir um laboratório de psicologia experimental, seguindo os modelos dos laboratórios de ciências naturais. Tanto para Wundt quanto para os seguidores do Estruturalismo, as operações mentais resultam da organização das sensações elementares que se relacionam com as estruturas do sistema nervoso. Wundt determina como objeto da psicologia o estudo da mente, da experiência consciente do Homem. 17 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Segundo o Behaviorismo Clássico, o comportamento se define como qualquer alteração observada em um organismo, sendo produto de um estímulo anterior. Sua base de estudo é o modelo pavloviano de estímulo-resposta, chamado de condicionamento clássico. II. Behaviorismo Filosófico Também conhecido como behaviorismo analítico ou behaviorismo lógico, o behaviorismo filosófico se baseia na premissa de que existem pré-disposições mentais para determinados comportamentos. Ou seja, em contrapartida ao behaviorismo clássico, que defendia a tese de estímulo-resposta, o behaviorismo filosófico acredita que para haver determinada resposta para um estímulo específico é necessário antes que o indivíduo tenha uma disposição mental para desenvolver tal resposta. III. Behaviorismo Metodológico Defendido pelo psicólogo Stanley Smith Stevens, o behaviorismo metodológico se baseia na teoria de que o comportamento é somente uma resposta pública do indivíduo. Para o behaviorismo metodológico, apenas comportamentos publicamente observáveis são admitidos como objeto de estudo psicológico, excluindo desse estudo todo comportamento de ordem privada, uma vez que este tipo de comportamento não pode ser diretamente observado. IV. Behaviorismo Radical O behaviorismo radical não procura modificar o comportamento de um indivíduo através de estímulos, mas sim estudar e compreender o comportamento deles. Ou seja, foi desenvolvido não como uma área de pesquisa experimental, mas como uma proposta de reflexão sobre o comportamento humano. A realização de pesquisas empíricas constitui o campo da análise experimental do comportamento, enquanto a implementação prática faz parte da análise aplicada do comportamento. Nesse sentido, o behaviorismo radical é uma filosofia da ciência do comportamento. Cuidado Watson não negava a importância dos processos mentais na psicologia, mas apenas os considerava pouco práticos para a realização de estudos objetivos. 18 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL A psicologia de estímulo e resposta de Watson Conhecendo sua história Figura 2. Pai do comportamentalismo. Fonte: <http://psychclassics.yorku.ca/Watson/intro.htm>. Acesso em: 26/4/2019. John Broadus Watson nasceu em 9 de Janeiro de 1878, na Carolina do Sul, Estados Unidos. Embora tenha crescido em uma família religiosa, na idade adulta se opôs declaradamente à religião. Cursou Psicologia na Universidade de Chicago, onde começou a desenvolver sua teoria, baseada nos preceitos de Pavlov. Em 1903, recebeu o PhD em Neuropsicologia, após apresentar sua tese sobre a relação entre o comportamento dos ratos de laboratório e o sistema nervoso central. Após o doutorado, permaneceu na Universidade de Chicago, como pesquisador, até ser convidado a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na Johns Hopkins University em Baltimore. Lá, instalou um um laboratório de Psicologia Animal. Em 1913 publicou o artigo “A Psicologia como um comportamentalista vê”, tornando-se o “pai do behaviorismo”. Conhecido como “manifesto behaviorista”, defendeu o abandono da introspecção e a adoção da observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. Watson é muito conhecido como o precursor da Escola Comportamental, mas pouco sabem de sua importante contribuição na transformação da psicologia em uma disciplina aplicada, separando-a do campo da Filosofia. Além de um grande defensor da psicologia como um campo de aplicação, Watson foi um grande disseminador dessa área do saber para o público leigo. Saiba mais Pesquisas empíricas são aquelas realizadas através da observação. Para a ciência, empírica é um tipo de evidência inicial para comprovar alguns métodos científicos em que o primeiro passo é a observação, para então fazer uma pesquisa, que é o método científico. Nas ciências, muitas pesquisas são realizadas inicialmente através da observação e da experiência. Quer saber mais? Acesse aqui: <https://www.significados.com.br/empirico/>. 19 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Nesse manifesto, Watson esclarece as bases da corrente comportamental contrária à Psicologia de Freud, que ele considerava fantasiosa. Também era contrário à hereditariedade como responsável pelos diversos tipos de personalidade, atribuindo à experiência e ao condicionamento do comportamento tal função. Em função da Primeira Guerra Mundial, interrompeu seus estudos para se integrar ao exército em uma campanha militar na França. Já em 1915, retornou e foi nomeado presidente da Associação Psicológica Americana (APA). Em 1918, retornou às suas investigações, interessado no estudo da primeira infância. Em 1920, foi convidado a deixar a Universidade, após vir a público o seu relacionamento com sua aluna Rosalie Rayner. Watson e Rayner casaram-se e continuaram suas investigações na área da infância. O casal Watson se propôs a demostrar como é possível a criação científica dos filhos. Tornar a criação de filhos uma profissão baseada no conhecimento científico era o grande objetivo dos Watson para a correção dos caminhos que a civilização americana seguia em sua época. Após sua demissão, o casal se mudou para Nova York, mas Watson não conseguiu se realocar em universidades. Sendo assim, ingressou em uma agência de publicidade, chegando ao cargo de presidente da J. Walter Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos Estados Unidos. Contudo, não deixou suas pesquisas, aproveitando o novo conhecimento em marketing para divulgar suas teorias. Após a sua aposentadoria, em 1945, John Watson passou a levar uma vida reclusa em uma fazenda em Connecticut. Em 1957, recebeu o Prêmio da APA: Pelas Contribuições para a Psicologia. Pouco antes de sua morte, queimou grande parte de seus documentos e escritos inéditos. John Watson faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 25 de setembro de 1958. Behaviorismo clássico Já vimos anteriormente que Watson foi influenciado por Pavlov e trabalhou a partir do conceito de estimulo-respostae condicionamento clássico. Também vimos que Watson investiu nos estudos do condicionamento de crianças. Então, vamos entender um pouco mais sobre a teoria do estímulo-resposta, antes de conhecermos os experimentos e conclusões de Watson e seu behaviorismo clássico. 20 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Figura 3. Sistema Estímulo-Resposta. Fonte: <https://www.slideshare.net/Anaruma/teoria-behaviorista-1587515>. Acesso em: 26/4/2019. Os conceitos de estímulo e resposta não podem ser entendidos separadamente. Qualquer evento torna-se um estímulo, se for seguido por uma resposta, e a relação entre estímulo e resposta gera um reflexo. A proposta behaviorista é estudar como estímulos recebidos do meio ambiente geram uma resposta no indivíduo. Sendo assim, Watson sugeriu que a relação estímulo-resposta pode ser usada como uma forma de controle e previsão do comportamento humano. Em contrapartida, uma estimulação anormal pode provocar o aparecimento de “modelos” de comportamento mal adaptados. Por isso a relação mãe e filho é fundamental para que ocorra a estimulação infantil. O tipo de estimulação vai depender da situação social da família e isso vai determinar as possibilidades de aprendizado e pensamento abstrato da pessoa em desenvolvimento. É importante considerar essas informações, para que possamos entender que as pessoas de classes sociais menos privilegiadas não têm menos capacidade de aprender e de se desenvolver do que as que possuem uma condição social melhor, elas apenas são menos estimuladas porque, provavelmente, seus pais têm um repertório comportamental mais limitado e a escola ou creche a que estão vinculadas também estimulam de forma precária a criança em questão, interferindo no seu desenvolvimento. Nessa linha teórica, o ser humano é descrito como um objeto a ser observado e analisado pela Psicologia, o que lhe coloca em uma posição secundária. Como o ser humano é o resultado da sua capacidade de resposta, compete à Psicologia Comportamental predizer qual é a resposta produzida em decorrência do estímulo adequado e ainda predizer o estímulo antecedente dado à resposta, já que o homem é uma máquina estímulo-resposta. Posicionamento do autor Para Watson, o comportamento está intrinsecamente ligado ao estímulo daquele meio. 21 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Cabe ressaltar que a teoria behaviorista de Watson não se dedicou ao estudo do cérebro, chamado de “caixa misteriosa”. Isso porque ele acreditava que o comportamento não era restrito ao sistema nervoso. Suas pesquisas foram mais voltadas para os comportamentos humanos mais complexos e sua interação como o meio ambiente. Para Watson, toda a abordagem comportamentalista podia e devia ser reduzida ao estudo do comportamento, a partir de suas unidades mais elementares, as reações estímulo-reposta. Essa unidade básica, além de ser possível se comprovar através da investigação em laboratório, fornece a base científica para a compreensão dos comportamentos mais complexos do ser humano. Voltemos aos experimentos do casal Watson... Você se lembra de que eles acreditavam ser possível a criação científica dos filhos? Watson sonhava em tornar a criação de filhos em uma profissão, baseada no conhecimento científico, corrigindo, assim, os caminhos que a civilização americana seguia na época. Parece absurdo para você? Mas foi a partir desta hipótese que Watson passou observar o comportamento das crianças. Apesar de não haver nenhum embasamento teórico-científico, Watson argumentava que raramente uma criança do início do século XX era feliz na América. Para o casal Watson, uma criança feliz era definida como: [...] uma criança que nunca chora a menos que furado por uma ponta, ilustrativamente falando que se perde no trabalho e nas brincadeiras que rapidamente aprende a superar pequenas dificuldades em seu ambiente sem correr para a mãe, pai, enfermeira ou outro adulto [...] que aplica aqueles hábitos de polidez, conforto e limpeza de modo que os adultos fiquem dispostos a ficar perto dele ao menos parte do dia; crianças que se disponham a ficar perto dos adultos sem lutar incessantemente para serem notadas [...] que passa pela adolescência tão bem equipado que essa adolescência é apenas um trecho dos anos férteis e que consegue finalmente entrar na fase adulta tão fortificado, com trabalho estável e hábitos emocionais, que nenhuma adversidade pode sobrepujá-lo (WATSON, J.; WATSON, R., 1928. p. 12. Analisando esse trecho de sua obra, fica evidente que os Watson não estavam preocupados em proporcionar uma felicidade subjetiva, ou seja, para aquela criança especificamente. Provocação “Ninguém sabe o suficiente para criar uma criança. O mundo seria consideravelmente melhor se parássemos de ter filhos por vinte anos (exceto aqueles criados com propósitos experimentais) e começássemos novamente com fatos suficientes para se fazer o trabalho com algum grau de habilidade e precisão” (WATSON, J.; WATSON, R., 1928, p. 12). 22 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Sua intenção era que as crianças fossem capazes de superar as dificuldades da vida de modo autônomo, sem demostrar sofrimento. Para eles, essa seria a concepção de felicidade! Eles partem de seus antigos estudos na universidade sobre o condicionamento emocional das crianças para demonstrar que são poucos os estímulos capazes de provocar emoções em crianças recém-nascidas. Apenas barulhos altos e perda de equilíbrio causam medo, ser impedido de movimentar-se causa ira e o toque na pele, principalmente nos lábios e órgãos genitais, causa amor. Com base nos experimentos de condicionamento que descrevem no livro, J. B. Watson e R. R. Watson (1928) defendem que todos os outros estímulos que provocam reações emocionais ganham essas propriedades por emparelhamento com os estímulos prévios, derivando dessa ideia orientações sobre como se evitar o desenvolvimento de medos, ódio e o que ele chamava de “amor excessivo”. Condicionamento operante Skinner Burrhus Frederic Skinner, um dos autores mais renomados da área da psicologia, defendia a tese de que o ambiente consiste no principal responsável pelo comportamento humano, sendo precursor do chamado Behaviorismo Radical, distanciando-se um pouco dos conceitos iniciais trazidos por Watson. Provocação O medo pode ser ensinado tão facilmente quanto ler e escrever, construir com blocos ou desenhar. Ele pode ser ensinado adequadamente ou inadequadamente. Quando ensinado cientificamente a vida emocional está então sob “controle” (WATSON, J.; WATSON, R., 1928, p. 68). “[...] o amor excessivo cria um invalidismo. Quando adultos temos muitos mal-estares e dores vagos [...] Na exata medida em que você dispensa tempo mimando e acariciando [...] você furta da criança o tempo que ela deveria estar dedicando na manipulação do universo, adquirindo técnica com os dedos, mãos e braços [...] Mimar é um experimento perigoso.” (WATSON, J.; WATSON, R., 1928, pp. 76-80). Para eles, os contatos físicos deveriam se resumir à higiene das crianças (o que deveria ser-lhes ensinado o quanto antes). Caso a mãe sentisse muita necessidade de beijar o filho que o fizesse na testa antes de dormir. Para os Watson, as mães que exageram no contato físico (que eram a maioria das mães americanas) com o filho o fazem motivadas por suas próprias necessidades de amor (que devem ter sido condicionadas na infância dessas mães. Todavia, a previsão de que o “supercondicionamento” do amor não era um evento saudável, e especialmente a previsão de que esses eventos levariam ao desenvolvimento de um adulto inseguro e dependente, não eram derivados diretamente de observações ou experimentos. Atualmente, essa teoria de Watson só se perpetua pela curiosidade histórica, tendo pouco a ver com a base científica do estímulo-resposta construída no início de sua carreira. 23 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Conhecendo sua história Figura 4. Burrhus Skinner. Fonte: <https://probaway.wordpress.com/2013/08/18/philosophers-squared-b-f-skinner/>.Acesso em: 1/5/2019. Skinner nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, em 20 de março de 1904. Filho de um advogado e de uma dona de casa, desde cedo, se interessou pelo comportamento dos animais. Tinha como meta profissional se tornar escritor, cursando a faculdade em Literatura Inglesa e Línguas românicas. Contudo, após concluir seu bacharelado, percebeu que não tinha aptidão literária e foi buscar novos caminhos. Em 1928, Skinner inscreveu-se no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de Harvard, embora nunca tivesse estudado psicologia antes. Fez simultaneamente o mestrado e o doutorado, concluindo o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931. Permaneceu na Universidade, como pesquisador, até 1936. Foi professor em diversas universidades dos Estados Unidos, tornando-se professor titular no Instituto de Psicologia de Harvard. Skinner escreveu vários livros e centenas de artigos sobre teoria do comportamento, reforço e teoria da aprendizagem. Seu radicalismo, ao rejeitar a maioria das teorias no campo da psicologia, levantou diversas polêmicas em seu país. Sua maior crítica foi contra o pensamento de Sigmund Freud. Ele acreditava que examinar os motivos inconscientes era inútil, pois o único fato passível de investigação é o comportamento. As ideias de impulsos internos com Id, Ego e Superego, que veremos em um outro capítulo, eram vistas como absurdas. Saiba mais Principais obras de Skinner » Skinner, B. F. The behavior of organisms. New York: Appleton-Century, 1938. (Comportamento dos Organismos). » SKINNER, Burrhus Frederic. Walden II: uma sociedade do futuro. 2. Ed. São Paulo: EPU, 2009. » SKINNER, B. F. (1984). Contingências do reforço: Uma análise teórica. In: Os pensadores (Vol. 51, pp. 158-396). São Paulo, SP: Abril Cultural. (Original publicado em 1969). » SKINNER, B. F. (1982). Sobre o behaviorismo. São Paulo, SP: Cultrix. (Original publicado 1974). » SKINNER, B. F. (1978). O comportamento verbal. São Paulo, SP: Cultrix. (Original publicado em 1957). » SKINNER, B. F. (1983). O mito da liberdade. São Paulo, SP: Summus. (Original publicado em 1971). 24 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Aprendizagem por condicionamento Influenciado pela teoria dos reflexos condicionados de Pavlov e pelo estudo do comportamento de John B. Watson, Skinner acreditava que o comportamento era um conjunto de respostas fisiológicas condicionadas. A partir daí, se dedicou ao estudo de técnicas de reforço (estímulo do comportamento desejado) para o controle de condutas. Sua teoria, conhecida como “Behaviorismo Radical”, era contra causas internas (mentais) para explicar a conduta humana. Mas não foi somente a psicanálise o alvo de suas críticas. Negou a realidade e a atuação dos elementos cognitivos, opondo-se à concepção de Watson. Para ele, o indivíduo era um ser único, homogêneo e não um todo construído de corpo e mente. Em 1950, Skinner apresenta o conceito que mudou o rumo do behaviorismo, o de condicionamento operante. Ele afirmava que o comportamento operante ocorre sem qualquer estímulo externo anterior. Segundo o autor, a resposta do organismo parece ser espontânea, sem relação com qualquer estímulo observável. O condicionamento operante se concentra no uso de reforço ou punição para aumentar ou diminuir um comportamento. Através desse processo, uma associação é formada entre o comportamento e as consequências para esse comportamento. Saiba mais Figura 5. Caixa de Skinner. Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/3504017/>. Acesso em: 27/4/2019. Skinner criou um experimento que ficou conhecido como “Caixa de Skinner”. Nessa caixa, foi colocado um rato, privado de alimento. Quando o rato se aproximava de uma barra perto da parede, Skinner colocava uma gota de água na caixa, através de um mecanismo, e o rato bebia. As gotas seguintes foram dadas quando o rato se aproximou mais da barra, depois quando encostou o nariz na barra, depois as patas e foi seguindo essa lógica. Como consequência, o rato começou a pressionar a barra dezenas de vezes até saciar completamente a sua sede. Com esse princípio, Skinner passou a modelar diferente padrão comportamentais em diferentes espécies, inclusive em humanos. 25 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Vários fatores podem influenciar a rapidez com que uma resposta é aprendida e a força da resposta. Skinner propôs um “cronograma de reforço” para que o comportamento seja aprendido mais rapidamente e eficazmente. Com que frequência a resposta é reforçada, conhecida como um cronograma de reforço, pode desempenhar um papel importante na rapidez com que o comportamento é aprendido e quão forte a resposta se torna. O tipo de reforçador usado também pode ter um impacto na resposta. O comportamento operante é modelado a partir de nosso repertório inato. As respostas que geram mais reforço tendem a ser repetidas em um mesmo contexto. Skinner chamou de reforço as técnicas que aumentam a probabilidade de acontecer o mesmo comportamento em ambientes semelhantes. Pode ser definido, também, como aquilo que aumenta a probabilidade de um comportamento se repetir. Skinner faz uma distinção entre os conceitos de reforço e punição. Em ambos, cabem os termos positivo e negativo. Para ele, o reforço aumenta as chances do comportamento voltar a ocorrer. Já a punição diminui as chances do comportamento voltar a acontecer. Tabela 1. Reforço X Punição. Reforço Punição Positivo » Apresentação de um estímulo agradável após um comportamento desejável. » Aumento da frequência de um comportamento. » Apresentação de uma consequência desagradável após a realização de um comportamento indesejável. » Diminuição da frequencia do comportamento. Negativo » Remoção de um evento desagradável após o comportamento desejável. » Aumento da frequência do comportamento. » Remoção de um evento agradável após a realização de um comportamento indesejável. » Diminuição da frequência do comportamento. Fonte: Elaboração própria da autora. O senso comum costuma se referir ao sujeito da Teoria Comportamental como uma tábula rasa. Isso porque o ser humano só se torna um indivíduo à medida que adquire ao longo da vida um variado repertório de comportamentos. Quando nasece, é apenas um organismo. À medida que estabelece relações mais complexas com o meio ambiente, vai modificando e aumentando seu repertório comportamental, a partir de reforçadores presentes em cada situação. Isso quer dizer que nossa resposta depende de inúmeras possibilidades apresentadas em cada situação, em cada ambiente que se apresenta. Mesmo que uma resposta possa ser a mais previsível, ela dependerá (positiva ou negativamente) dos reforçadores apresentados. Atenção Os termos “positivo” e “negativo” são usados para se referir à ausência ou à presença de estímulos, e não a valores como “bom” ou “ruim”. O conceito está ligado a termos matemáticos de adição e subtração. 26 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Skinner afirmava que devemos entender – e atender – cada diferença individual, apresentando reforços adequados a cada indivíduo. Somente assim seria possível garantir o melhor desempenho de cada um. Skinner propôs uma nova sociedade, substituindo suas regras tradicionais pela Teoria do Reforço! Behaviorismo cognitivo Na década de 1960, os estudiosos estavam muito insatisfeitos com a prática comportamental por não considerar os fatores cognitivos como importantes, ou mesmo fundamentais, para compreensão e tratamento de questões mais complexas como ansiedade e depressão. A partir daí, as pesquisas avançaram, incorporando processos cognitivos aos modelos comportamentais clássicos, gerando o que muitos estudiosos da área classificam como “revolução cognitiva”. Atualmente, a abordagem cognitivo-comportamental é utilizada na maioria das desordens mentais encontradas. Sendo assim, a sucessora da prática behaviorista, a cognitivo-comportamental, considera que os problemas psicológicos podem ser compreendidosem termos de sistema de respostas intercalados: cognitivo, afetivo, fisiológico e o comportamental. Para os adeptos dessa “revolução”, o modo como uma pessoa percebe seu ambiente é seletivo e depende de um conjunto de regras e crenças adquiridas no desenvolvimento dessa pessoa. As reações cognitivas influenciam e são influenciadas pelas reações afetivas, fisiológicas e comportamentais. Assim, nas desordens de ansiedade e na depressão, por exemplo, o indivíduo percebe e avalia a situação de forma distorcida, tendenciosa (distorção cognitiva), propiciando a ocorrência de afetos desagradáveis (angústia, desânimo etc.), de reações fisiológicas correspondentes (sudorese, taquicardia, tonteira, fraqueza etc.) e de comportamento (bloqueio, colapso, tremor, fuga, evitação etc.), que acabam confirmando as hipóteses negativistas acerca de uma situação e da autoimagem. Com base no que foi visto até agora, podemos perceber claramente as diferenças existentes entre os behavioristas e os cognitivistas. A primeira diferença parece estar no nível de rigor científico, ou melhor, do que se entende por científico. Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra “cognição” seria aderir a uma postura dualista, constituindo um sério problema metodológico. Seria retroceder ao que eles mais criticavam nas teorias, como a psicanálise, chamadas de mentalistas. 27 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Volta-se a se falar de “processos mentais” que, segundo essa visão, não são observáveis, portanto, não devem ser considerados enquanto método científico. A referência às reações cognitivas como “comportamentos encobertos” foi uma estratégia brilhante de Skinner que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais complexos. Já os cognitivistas-comportamentais também consideram as cognições como um sistema de respostas, mas não de uma forma tão compromissada com contingências e com termos precisamente impostos. Embora preocupados com validade empírica e expressão de conceitos operacionais, não são tão rigorosos do ponto de vista científico. Outra diferença encontrada entre cognitivistas e behavioristas está na ênfase dada às contingências ambientais e às cognições. Enquanto os behavioristas radicais enfatizam a determinação ambiental na compreensão dos comportamentos (abertos e encobertos) do indivíduo, os cognitivo-comportamentais priorizam os processos cognitivos, considerando que o homem reage a um ambiente percebido e não a um ambiente real. Percebemos, ao final deste tópico, que a abordagem cognitivo-comportamental se aproxima bem mais da visão do ser humano integral, repleto de dimensões, que exploramos no primeiro capítulo. Críticas ao Behaviorismo Desde o seu desenvolvimento até os dias atuais, o behaviorismo constitui uma das mais influentes teorias da psicologia, no entanto ele não é o único modelo de estudo psicológico e existem diversos críticos de seus métodos e conclusões. Contudo, se fizermos uma análise detalhada das críticas empregadas a essa abordagem, verificaremos que há falta de informação sobre os avanços obtidos ao longo do tempo. A maioria das críticas falam da abordagem clássica, de Pavlov e Watson. Skinner, por ser, talvez, o teórico mais conhecido, acaba sendo criticado sem que se compreenda a evolução feita por ele na teoria behaviorista. Inclusive, o termo radical empregado (Behaviorismo radical) fala, justamente, da radicalidade contra a abordagem clássica. A crítica mais vista nos meios acadêmicos acusa o behaviorismo de ser reducionista e de tratar o homem como uma máquina, desprovida de pensamento, que somente responde a estímulos ambientais. Contudo, isso é uma postura claramente do behaviorismo clássico de Watson. Skinner afirma que os homens agem sobre o mundo, modificando-o e, por sua vez, são modificados pela consequência de sua ação. Ou seja, sua teoria não se apoia unicamente no conceito de comportamento respondente, adotando o conceito de condicionamento operante. 28 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL A partir do behaviorismo radical, o homem não é mais visto como um indivíduo que responde, apenas, a estímulos do ambiente. Aqui, o ser humano age no mundo modificando-o e sendo por ele modificado. O condicionamento operante, e seu método de reforço e punição, mostra ao sujeito que seu comportamento tem consequências. A partir dessa constatação, um comportamento pode ser mantido, melhorado ou extinto. Cabe ressaltar que não se trata de um modelo determinista e sim probabilista. Ou seja, não há a certeza de que um comportamento, que apresente consequências satisfatórias, voltará a ocorrer. O que se espera é que, se isso ocorrer, haverá uma probabilidade maior desse comportamento se repetir. Mais uma prova de que o comportamentalismo não trata do indivíduo como robô é a afirmativa de Skinner de que o que é satisfatório para uma pessoa pode não ser para todos. Assim também ocorre com as punições. Skinner via o Homem como produto da filogênese (história de sua espécie), da ontogênese (sua história individual) e da cultura. Considerar filogênese, ontogênese e cultura, para Skinner, diferencia os gostos e valores de cada indivíduo, visto que as pessoas têm histórias de vida diferentes. Isso nos leva à maior crítica, quando falamos da Escola Comportamental: a de que ela não leva em consideração a subjetividade. Falam que ela nega a existência de sentimentos, sensações e outros processos mentais. O que Skinner dizia é que a subjetividade e o pensamento não são passíveis de observação; logo, não dá para se basear neles para produzir ciência. O behaviorismo radical não nega a possibilidade da auto-observação ou do autoconhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido ou observado e, portanto, conhecido. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os psicólogos introspectivos acreditavam “esperar”, e suscita o problema de quanto do nosso corpo podemos realmente observar. Contribuições da escola comportamental à educação “A escola pública foi inventada para oferecer os serviços de um tutor particular a mais de um estudante ao mesmo tempo. Como o número de estudantes aumentou, cada um necessariamente passou a receber menos atenção. No momento em que o número atingiu a marca de 25 ou 30 alunos, a atenção pessoal tornou-se esporádica, se tanto. Os livros foram inventados para fazer uma parte do trabalho do tutor, mas eles não podem fazer duas coisas importantes . Eles não podem, assim como o tutor, avaliar imediatamente o que cada estudante disse e nem dizer-lhe exatamente o que deve fazer em seguida. As máquinas de ensino e os textos programados foram inventados para restabelecer essas características importantes da instrução tutorial” . (Skinner, Ciência e Comportamento Humano”, 1954) 29 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Os estudos behavioristas trouxeram grandes influências para a área da educação. Para John Watson, a educação consiste em um dos principais elementos transformadores quanto ao comportamento dos indivíduos, sendo possível “moldar” o comportamento das crianças de modo que elas possam, futuramente, exercer adequadamente uma profissão. Skinner apostava na promessa de reforço para que o aluno progrida. O reforço negativo, caso o aluno se comporte de forma indevida, ou o reforço positivo, quando o aluno passa a se comportar de maneira adequada. Ele trouxe algumas propostas psicopedagógicas para a sala de aula: » Apresentações das informações em pequenas etapas (para que possa haver controle de cada avanço da aprendizagem). » Exigência de participação ativa do aluno (resposta) através de um sistema de avaliação ancorado na reprodução da resposta. » Reforço imediato à resposta, no sentido de um feedback indicando acerto ou erro. » Autocontrole por parte do aluno (isto é, o aluno que responde corretamente às questões pode passar a módulos posteriores). Skinner apoiava as avaliações como metodologiaque supervaloriza o acerto, buscando a incidência de erro igual a zero. Ou seja, via a avaliação como um sistema de reforço, afirmando, inclusive, que a aprendizagem não acontece como resultado de penalidade. Para que haja controle na tríade estímulo – resposta – reforço, acreditava que tanto a aprendizagem como a avaliação devem ser feitas da seguinte maneira: » A apresentação do conteúdo deve ser feita em itens sequenciais curtos. » Os alunos devem responder a uma resposta de cada vez. » Os alunos devem dispor do tempo necessário para responder. » As questões não devem ser puladas. A sequência é um importante fator para o desencadeamento da aprendizagem. » As perguntas devem ser simples, para que os alunos cometam poucos erros. Cabe ressaltar que as avaliações servem muito mais como reforçadores do que como um instrumento de aferição escolar. É um treinamento para melhoramento do rendimento. » As sequências devem ser encadeadas em progressão racional. Seguindo essas sugestões, o aluno é levado, gradualmente e logicamente, a um domínio cada vez mais completo do assunto. 30 CAPÍTULO 2 • ESCOLA COMPORTAMEnTAL Atualmente, tanto o condicionamento clássico quanto o operante são utilizados para uma variedade de propósitos por professores, pais e psicólogos. Contudo, percebemos uma maior utilização de técnicas de condicionamento operante para reforçar a aprendizagem. Esse envolve punições e recompensas, que podem ser feitas por um professor, por exemplo, oferecendo um elogio como recompensa por um trabalho bem feito ou uma lição extra como punição por não fazê-lo bem. O condicionamento clássico não pode ser utilizado tão diretamente, mas muitas vezes pode funcionar, juntamente ao condicionamento operante, para reforçar a aprendizagem. Por exemplo, se o ambiente geral na sala de aula é de elogios e é, também, prazeroso durante a aprendizagem, se as aulas são realizadas de maneira dinâmica, se os alunos se identificam com o professor, o educando associará esse prazer com a aula em específico, sendo mais propenso a participar e, consequentemente, aprender. Em contrapartida, alunos que associam situações ameaçadoras ou temerosas com experiências em sala de aula podem ter mais dificuldades. Por exemplo, muitas vezes os alunos associam testes de matemática à ansiedade e à pressão de uma prova. Mesmo mais velho, o aluno pode ter respostas autonômicas, como o suor e o aumento da frequência cardíaca, simplesmente quando pensa em fazer uma prova ou quando é confrontado com problemas difíceis de matemática. Outro bom exemplo é quando um aluno tira uma nota baixa e acredita ser “burro”. A partir desse reforço, ele passa a ir mal em todas as provas, acreditando não conseguir aprender. Cientes dos efeitos do condicionamento clássico na ansiedade motivada por uma prova, os professores devem criar um ambiente de aprendizagem e de prova que reforce a sensação calma e de foco. Quando o aluno, ao longo do tempo, faz provas em um ambiente positivo sob pouca pressão, a reação classicamente condicionada tornar-se extinta e desaparece. É impor tante lembrar que, ao contrár io do condicionamento operante, o condicionamento clássico não pode ser suprimido apenas por força de vontade. As reações ligadas ao condicionamento clássico são involuntárias. É possível suprimir comportamentos, mas não os impulsos associados a eles. Por exemplo, se um professor usa doces para reforçar as respostas corretas positivamente, os alunos associarão o sucesso com o gosto do açúcar. Se em seguida o professor parar de usar doces, mesmo que explique o motivo da mudança, os alunos provavelmente ainda ansiarão pelo açúcar ao darem respostas positivas. 31 ESCOLA COMPORTAMEnTAL • CAPÍTULO 2 Sintetizando Vimos até agora: » A psicologia Objetiva de Pavlov em oposição a Psicologia Mentalista, vigente em sua época. » O conceito de Reflexo Condicionado de Pavlov. » O Behaviorismo Clássico de Watson e a psicologia do Estímulo-Resposta (Condicionamento Clássico). » O Behaviorismo Radical de Skinner e o conceito de Condicionamento Operante. » A evolução ao longo do tempo da Escola Comportamental. » As implicações da Escola Comportamental na aprendizagem. » A influência do Behaviorismo na Educação. 32 Introdução do Capítulo Neste capítulo, conheceremos um dos maiores ícones do século XX, Sigmund Freud, que nos deixou como legado a Teoria Psicanalítica. Conheceremos um conceito inovador e fundamental para entender o sujeito da aprendizagem, o Inconsciente. Abordaremos sua teoria da personalidade e refletiremos sobre as fases do desenvolvimento psicossexual, base da teoria psicanalítica freudiana. Te convido, caro aluno, a fazer uma viagem ao tão falado, mas ao mesmo tempo desconhecido, inconsciente humano. Saber que não somos senhores absolutos dos nossos pensamentos e das nossas ações é intrigante, fascinante e desafior. Entender cada fase do desenvolvimento sob o viés do que não percebemos “a olho nú”, mas que influencia todo nosso percursso é a proposta deste capítulo. Perceber que nossos alunos são regidos por forças que eles próprios desconhecem nos faz ter outra visão do processo de construção de conhecimento. Objetivos » Desvendar os conceitos de Consciente e o Incosciente. » Conhecer as estruturas da personalidade: Ego, Id e Superego. » Identificar, reconhecer e compreender o desenvolvimento psicossexual e suas fases. » Promover estratégias adequadas a cada fase da criança para seu desenvolvimento e aprendizagem. 3CAPÍTULOFREUD E A PSICAnáLISE 33 FREUD E A PSICAnáLISE • CAPÍTULO 3 Conhecendo sua história Figura 6. Freud e a Psicanálise. Fonte: <https://zahar.com.br/blog/post/livros-de-psicanalise-com-desconto-no-aniversario-de-freud>. Acesso em: 16/4/2019. No capítulo anterior, buscamos entender o sujeito em suas três dimensões, cognitiva, afetiva e relacional. Entendo ser importante buscarmos compreender todo e qualquer indivíduo com quem nos relacionamos de forma integral, por isso, acredito ser relevante não só buscarmos a compreensão dos nossos alunos, enquanto sujeitos únicos, constituídos por três dimensões, mas também compreendermos o processo de ensino-aprendizagem dos teóricos que influenciam a nossa maneira de agir com nossos alunos. Comecemos, então, por esta pessoa fantástica que deixou como legado para a posteridade um dos maiores marcos do século XX: a psicanálise. Sigmund Freud nasceu em 6 de Maio de 1856, em Freiberg, Moravia. Viveu a maior parte de sua vida em Viena, Áustria. Como era judeu, Freud encontrou grandes dificuldades em sua vida e, como era de imaginar, seus estudos foram comprometidos pelo momento que vivia. Contudo, sua demora em concluir a faculdade de medicina, em 1881, não se deve às suas dificuldades pessoais. Sua grande curiosidade científica levava-o a acompanhar cursos de grandes cientistas e pensadores da época. Adorava o curso de Filosofia, lecionado por Brentano. Acompanhou tais aulas por três anos, possibilitando a Freud dar uma base bem humanística para sua teoria psicanalítica. Também é fato que Freud não se interessou muito pela medicina prática, preferindo o campo da pesquisa e do ensino. A Neurologia foi a única área da medicina que lhe despertou desejo. Contudo, após se formar e com a perspectiva de um casamento, foi impelido a deixar seus projetos acadêmicos para depois e investir na clínica médica. Dedicou sua prática à Psiquiatria. Depois de anos, concluiu que os conhecimentos existentes sobre o tema não davam conta da complexidade dos pacientes psicóticos. Deslizou, então, sua prática para a dermatologia, dedicando-se ao estudo da sífilis e de várias moléstias do sistema nervoso. Entre as décadas de 1880 e 1890, Freud se fixa como neurologista. Dissertou sobre diversos campos do conhecimento, tornando-se um neurologista de renome. Sua dedicação culminou 34 CAPÍTULO 3 • FREUD E A PSICAnáLISE em um trabalho sobreparalisia cerebral infantil, que lhe assegurou um lugar histórico na medicina. Seu interesse pela psiquiatria, que estava adormecido, despertou e Freud ganhou uma bolsa para estudar com Martin Charcot, em Paris. Ele havia trazido, novamente, ao cenário da psiquiatria, o método da hipnose para pacientes histéricas. Defendia a ideia de que, através da hipnose, era possível eliminar temporariamente as manifestações dos sintomas histéricos, bem como introduzir um novo sintoma. Da observação, estudo e prática com Charcot, Freud descobriu que os fenômenos histéricos eram frutos não de causas físicas, como uma lesão neural, mas manifestações de um processo sugestivo, como na hipnose. Apesar de Freud ter abandonado, posteriormente, o método hipnótico e as contribuições de Charcot, essas serviram como base para a teoria psicanalítica. Isso porque os processos sugestivos e os sintomas de doenças mentais sedimentarão a ideia de que existem processos inconscientes, que são determinantes para a constituição do sujeito. Apesar da grande contribuição de Charcot para a psicanálise, foi Josef Breuer, médico vienense, que também se utilizava da hipnose para tratar suas pacientes histéricas, o grande colaborador do início da teoria psicanalítica. Isso porque, uma paciente histérica de Breuer se tornou o primeiro caso clínico da teoria Psicanalítica. Ela havia se curado de seus sintomas histéricos pela fala, após reconstituir cenas traumáticas de seu passado, esquecidos há tempos de sua consciência. O método de eliminar os sintomas, recordando cenas traumáticas passadas, ficou conhecido como Método Catártico. Freud e Breuer atuaram juntos por muitos anos, a partir da elaboração do Método Catártico. A ruptura da parceria só se deu com a elaboração da teoria da sexualidade de Freud. A partir daí, Freud voou. Construiu, ao longo de cinquenta anos, uma linda e complexa teoria. Saiba mais Alguns trabalhos são os organizadores centrais da teoria psicanalítica. São eles: » Os estudos sobre a histeria. In: Obras completas. Vol.II– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » A interpretação dos sonhos. In: Obras completas. Vol.II– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Psicopatologia da vida cotidiana. In: Obras completas. Vol.VI– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras completas. Vol. VII– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Os três casos clínicos (O Pequeno Hans, O “homem dos ratos” e O caso Shereber). In: Obras completas. Vol. VIII– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Os instintos e seus destinos. In: Obras completas. Vol. XI– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Mais além do princípio do prazer. In: Obras completas. Vol. XVIII– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » O Ego, o Id e seus destinos. In: Obras completas. Vol. XIX– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. » Inibição, sintoma e angústia. In: Obras completas. Vol. XIX– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989. 35 FREUD E A PSICAnáLISE • CAPÍTULO 3 O Inconsciente e suas implicações na aprendizagem Você já ouviu falar do inconsciente? Esse é um conceito, elaborado por Freud, que hoje já é aceito, tanto pela comunidade científica e acadêmica, como pela sociedade de modo geral. Contudo, esse foi um conceito muito polêmico, sobretudo na época em que foi concebido. O próprio Freud fala que é natural rejeitarmos a ideia de que somos dominados por processos psíquicos que desconhecemos. A descoberta do inconsciente tira do homem o domínio de sua própria vida. Na teoria da personalidade, de Freud, o inconsciente é visto como um reservatório de sentimentos, pensamentos, impulsos e memórias que não são acessados pela nossa consciência, são “esquecidos”, ou recalcados, como diria o próprio autor. Isso porque os conteúdos inconscientes são inaceitáveis ou desagradáveis, trazem sentimentos conflitantes, de dor ou de angústia. Tais sentimentos, desejos e emoções são entendidos como ameaçadores e, por isso, são reprimidos e mantidos fora da consciência. Contudo, apesar de parecerem adormecidos, tais conteúdos influenciam todos os nossos comportamentos e experiências, mesmo que não nos demos conta das suas influências e consequências. Para refletir Figura 7. Inconsciente e o Iceberg. Fonte: <http://www.novoequilibrio.com.br/ver_topico.php?Tipo=25&Cod=148&w=1366>. Acesso em: 15/4/2019. A imagem, aqui ilustrada, faz uma analogia bem interessante sobre a estrutura do inconsciente. Como se sabe, os icebergs são blocos de gelo que flutuam sob águas geladas, deixando, apenas, 10% de seu volume para fora da água. Ela nos apresenta uma consciência como se fosse a ponta do iceberg. Tudo que está submerso é aquilo que não conseguimos acessar, mas que exerce forte influência em quem somos e que, como não são vistos “a olho nu”, tendem a trazer inúmeros transtornos, de ordem física e emocional. 36 CAPÍTULO 3 • FREUD E A PSICAnáLISE Baseado em seus estudos sobre a histeria, Freud criou o método da associação livre, para trazer esses sentimentos recalcados no inconsciente à consciência. Isso porque a psicanálise diz que a recordação trazida à tona, através da fala, à consciência, produz uma descarga de emoções reprimidas, fazendo com que o sintoma desapareça. Já entendemos que sentimentos, desejos e emoções são recalcados em nosso inconsciente, buscando evitar sofrimento, angústia ou dor para o sujeito, certo? Agora, precisamos saber como os eventos geradores de angústia e sofrimento são, constantemente, afastados da percepção consciente. Estes processos psíquicos são chamados de mecanismos de defesa. Comecemos, então, esclarecendo que eles são processos inconscientes. Ativado por uma angústia, o sujeito desencadeia, diante do sinal de perigo, uma série de mecanismos repressores que impedirão a vivência de fatos dolorosos porque o organismo não está preparado para suportar. Cabe ressaltar que, tanto o evento doloroso, como seus mecanismos de defesa são processos inconscientes e, portanto, não perceptíveis ao sujeito. E o que o inconsciente tem a ver com a aprendizagem? Vou além na nossa reflexão, perguntando-lhes o que o inconsciente nos fala sobre o processo de ensino- aprendizagem? Precisamos entender que esse processo se dá, justamente, na troca entre dois sujeitos: o aluno e o professor. O aluno é composto não só pela sua dimensão cognitiva, mas também pela relacional e afetiva. Logo, ele será influenciado por seu inconsciente, por seus desejos, sentimentos e emoções recalcados. Mas e o professor? Ele também não tem seus desejos, sentimentos e emoções recalcados, influenciando o processo de ensino – aprendizagem? Será que as dificuldades de aprendizagem dos alunos não esbarram, justamente, em mecanismos de defesa inconscientes, tanto do aluno quanto do professor? Termino este tópico, reforçando a ideia de que o sujeito é regido pelo seu cognitivo, suas relações sociais e pelo seu afeto, seja ele consciente ou não! Importante Para Freud, a aprendizagem se estabelece na relação entre alguém que ensina e alguém que aprende, sendo a transferência a força motriz desse processo. Segundo Laplanche e Pontalis (1998, p. 514), transferência: “(...) designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica. Trata- se, aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade acentuada.” Laplanche e Pontalis - Vocabulário de Psicanálise, São Paulo: EPU,1998 p. 514 37 FREUD E A PSICAnáLISE • CAPÍTULO 3 Estruturas da personalidade Figura 8. A Trindade da Mente Humana. Fonte: https://www.jrmcoaching.com.br/blog/ego-id-e-superego/>. Acesso em: 12/4/2019. Após entender e explicar os conceitos inovadores de consciente e inconsciente, algumas perguntas ainda pairavam na mente de Freud. Entendido que uma força repressora bloqueavasentimentos traumáticos, restava, agora, entender de onde vinha tal força. A primeira hipótese, de que o consciente era o fator desencadeante da repressão não fazia muito sentido, visto que o consciente não tem acesso aos conteúdos inconscientes. Então, como explicar este processo? De onde partia a repressão? Seria consciente, inconsciente ou ambas? Em 1920 há a grande virada da psicanálise, quando os conceitos de consciente e inconsciente dão lugar ao modelo da estruturação da personalidade: Ego, Id e Superego. Id Freud nos diz que o Id é o reservatório de energia do indivíduo. Desde o nascimento, somos impulsionados por uma fonte de energia que nos mobiliza em direção ao mundo, buscando satisfazer nossas necessidades durante todo o nosso desenvolvimento. Para que a necessidade seja satisfeita, é preciso que o organismo tenha um objeto que corresponda a essa necessidade. É através desses objetos que são estabelecidas relações afetivas com o mundo. 38 CAPÍTULO 3 • FREUD E A PSICAnáLISE Nos primórdios da psicanálise, vimos que Freud definiu o inconsciente como o conjunto de desejos reprimidos e as relações que esses desejos estabelecem com o mundo interno e externo, não é mesmo? Pois bem, este conceito de inconsciente é abarcado pelo do Id, no novo modelo de estruturação da personalidade. Mas o Id está para além, na medida em que ele também é a fonte de energia psíquica e o gerador das imagens (seio, por exemplo) que organizam a canalização dessa energia. O id tem como uma de suas características principais o funcionamento pelo princípio do prazer. Ele busca a satisfação imediata das necessidades. Para o Id, não há contradição, ou seja, dentro de uma lógica, a do prazer, podem estar presentes desejos e fantasias que, a princípio, parecem excludentes. Ego Em seu texto “O Ego e o Id” (1923), Freud coloca o Ego como a instância psíquica que serve de intermediária entre o desejo e a realidade. Afirma, também, que o Ego é, acima de tudo, corporal, ou seja, biológico. Esse é o ponto em que Freud e Piaget têm pensamentos similares. Ambos acreditam que há uma formação instintiva inicial que se desdobra em estruturas mais sofisticadas a partir do momento em que o sujeito vai construindo sua realidade. Ao contrário do Id, que é regido pelo princípio de prazer, o Ego, diante do desejo, se mobiliza para que ele seja satisfeito pela realidade. Isso quer dizer que o Ego funciona a partir do Para refletir Um bom exemplo para pensarmos sobre essa fonte de energia, que nos mobiliza para o mundo, através de objetos que saciam nossas necessidades, que nos trazem satisfação e prazer, é a relação estabelecida com o seio materno. Quando o bebê está com fome, ele é impulsionado ao seio da mãe (objeto de prazer). Quando a criança fantasia a imagem do seio para a sua satisfação, não é só sobre fome que estamos falando. Também é trabalhada a ligação afetiva com este seio, a construção da figura da mãe, as relações de bom e mau estabelecidas, a adequação do processo mãe – criança, a confiança no mundo exterior etc. (RAPAPPORT, 1981p. 21) Figura 9. Amamentação. Fonte: <https://bebe.abril.com.br/amamentacao/mae-e-solicitada-a-parar-de-amamentar-o-filho-na-uti/>. Acesso em: 12/4/2019. 39 FREUD E A PSICAnáLISE • CAPÍTULO 3 princípio da realidade. É ele quem dá o juízo de realidade. O Id é da ordem do desejo, do querer, independentemente se esse desejo é possível, ou não, de ser satisfeito. O Ego também parte do desejo, porém a partir da imagem construída, aqueles objetos de desejo criados pelo sujeito, que estabelecem as relações afetivas com o mundo, ele constrói na realidade caminhos que lhe possibilitem saciar sua necessidade. Uma característica importante, no que tange à aprendizagem, é que todas as funções lógicas do funcionamento mental são atribuições do Ego, incluindo a memória e o desenvolvimento do pensamento logico e operatório. Ou seja, é o Ego quem se apresenta na escola, na figura do aluno. O tão falado “ofício do aluno” é executado por essa parte da psiquê. Cabe lembrar que o conhecimento epistemológico da construção da realidade é o foco da obra de Piaget. Para Freud, ao contrário, a organização dessas funções precisa ser entendida após sofrer as influências afetivas, tanto conscientes quanto inconscientes. Superego Essa é a instância psíquica responsável pela estruturação interna dos valores morais. Através do Superego, o sujeito internaliza as normas sociais e é capaz de discernir aquilo que é moralmente proibido e aquilo que deve ser valorizado e buscado. O Superego é fundamental para conseguirmos nos relacionar em grupos sociais, viver em sociedade. Se não fosse sua existência, estaríamos fadados à delinquência, obedecendo, apenas, aos limites externos. Ele é o responsável pela autocrítica, pela consciência moral e pela formação de ideologias. Porém, apesar de necessário para a convivência em grupo, quando ele se torna exagerado, tende a imobilizar ou mesmo adoecer o sujeito. Quando as exigências são muito altas, o sujeito passa a se sentir incapaz de cumpri-las. Se fizermos uma análise para a vida acadêmica, conseguiremos entender aquele aluno que se desinteressa do estudo, por passar a acreditar que é burro, que é menos capaz do que seus colegas. As fases psicossociais do desenvolvimento Para entermos cada fase do desenvolvimento, segundo a psicanálise, é preciso conhecermos alguns conceitos fundamentais da teoria. A libido, termo complexo, que sofreu grandes mudanças conceituais ao longo da construção da teoria de Freud, pode ser compreendida como a fonte original de energia afetiva que mobiliza o sujeito rumo aos seus objetivos. Ela é, portanto, uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse sentido é que Freud dizia que a libido é uma energia sexual. É preciso entender que o termo sexualidade tem um conceito mais amplo na psicanálise. Ela abarca todas as evoluções das ligações afetivas 40 CAPÍTULO 3 • FREUD E A PSICAnáLISE estabelecidas desde o nascimento até a sexualidade genital adulta. Ou seja, a sexualidade na psicanálise é carregada de afeto, do afeto que é construído na troca com o outro, com o meio. O afeto nada mais é do que o vínculo prazeroso que se estrutura, independentemente das necessidades básicas. Sendo assim, por definição, todo vínculo de prazer é sexual ou erótico. A libido sofre progressivas mudanças em sua organização, ao longo do desenvolvimento humano, amparada por organizações biológicas emergentes de cada período da vida. Ela se organiza progressivamente em torno de zonas erógenas, caracterizando as três fases de desenvolvimento infantil – fase oral, anal e fálica –, uma fase de latência, sem novas organizações, e uma fase final de organização adulta, a fase genital. Fase oral Figura 10. Fase Oral. Fonte: <https://www.guiadobebe.com.br/crianca-que-leva-tudo-a-boca/>. Acesso em: 10/5/2019. Apesar desse estágio compreender o período de zero a dois anos, é necessário começarmos nossa narrativa na vida intrauterina. A relação estabelecida nesse período é caracterizada por uma relação simbiótica entre a mãe e seu filho. O feto respira e se alimenta atraves da mãe. Já há processos que acontecem dentro do útero, como se alimentar do que é necessário e excretar o que é prejudicial. A hora do nascimento traz grande angústia ao bebê. E não estamos falando, aqui, dos traumas físicos sofridos. Estamos falando de uma dor emocional, a dor da separação. Saiba mais O termo angústia, etimologicamente falando, significa “dificuldade para respirar”. 41 FREUD E A PSICAnáLISE • CAPÍTULO 3 Com o corte do cordão umbilical, corta-se, também, o transporte de oxigênio trazido da mãe. Nesse momento, trava- se uma luta pela sobrevivência. É preciso que o bebê reaja, respire: inspire e expire. É a primeira troca com o meio ambiente. Ou ele recebe o que é externo, dentro de si, ou não sobreviverá. A criança terá, necessariamente, que enfrentar o mundo. E e desse enfrentamento,
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