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Criados a Imagem de Deus para O representarmos na Terra. Gn 1.26,27 – “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. “O homem não apenas porta ou tem a imagem de Deus, mas ele é a imagem de Deus, e que a imagem de Deus estende-se ao homem em sua inteireza1”. “Ele [o homem] não seria homem se não fosse a imagem de Deus. Ele é a imagem de Deus pelo fato de que ele é homem2”. A imagem de Deus no homem não é algo acidental. Ele não pode perder essa imagem e continuar sendo homem. A imagem de Deus no homem é essencial à sua própria existência. Observemos a palavra imagem no hebraico: ּמצל, tselem: imagem, semelhança, aspecto. A ideia principal é a de semelhança. O homem originalmente criado era semelhante a Deus, ou seja, seria um espelho na Terra. 1 Herman Bavinck 2 Karl Barth, Church Dogmatics, III/1 (Edimburgo: T. & T. Clark, 1958), pág.184 1. Espelhando Deus: O homem deve ser como um espelho na Terra refletindo para todos a glória de Deus. Quando alguém olha para o homem, deve ver o reflexo de quem é Deus. “Em outras palavras, no homem Deus deve tornar-se visível na terra. Sem dúvida, outras criaturas e até mesmo os céus declaram a glória de Deus, mas somente no homem Deus se torna visível. Os teólogos reformados falam da revelação geral de Deus, na qual revela sua presença, poder e divindade pelas obras das suas mãos. Mas, na criação do homem, Deus revelou-se a si mesmo de um modo singular, fazendo alguém que era uma espécie de imagem de si mesmo refletida no espelho. Honra maior não poderia ter sido dada ao homem do que o privilégio de ser uma imagem do Deus que o fez”3. “Este fato está relacionado à proibição de fazer imagens, encontrada no se- gundo mandamento do Decálogo: “Não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20.4). Deus não quer que suas criaturas façam imagens dele, visto que ele já criou uma imagem de si mesmo: uma imagem viva, capaz de andar e falar. Se você deseja ver com que me pareço, diz Deus, olhe para a minha criatura mais nobre: o homem. Isso significa que quando o homem é o que deveria ser, quem o olha deveria ser capaz de ver algo de Deus nele: algo do amor de Deus, da bondade de Deus e da benevolência de Deus4”. 2. Representante de Deus: Para compreendermos este ponto devemos lembrar dos antigos reis. Ao conquistarem um território, eles colocavam uma imagem sua. Essa imagem representava o domínio daquele rei, mesmo não estando presente. Deus é representado pelo homem. Para onde o homem for, o caminho que trilhar, as falas que pronunciar, os gestos que manifestar – devem representar a forma que Deus é. Podemos observar o rei Nabucodonosor, ao colocar uma imagem que representava a si mesmo. O texto não diz claramente que se tratava de uma imagem do próprio rei, porém, podemos entender que a imagem o representava: Dn 3.1,2, “O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia. Então, o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para que viessem à consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado”. O homem como imagem de Deus naquilo que ele é e naquilo que ele faz A imagem de Deus no homem deve incluir tanto a sua estrutura como a sua atividade. Ninguém pode agir sem uma estrutura que lhe dê condições 3 Anthony Hoekema, Criados à imagem de Deus. Cultura Cristã. São Paulo.2010 4 idem para exercer uma certa atividade. Pássaros podem voar, porém apenas se tiverem asas, ou seja, uma estrutura adequada. No homem esta o mesmo sentido, para que seja um representante de Deus na Terra, este homem recebeu uma estrutura, seu corpo, sendo também a imagem de Deus para o exercício desta função. “O corpo do homem também pertence à imagem de Deus... O corpo não é uma tumba, mas uma maravilhosa obra-prima de Deus, constituindo-se a essência do homem tão plenamente quanto a alma... pertence tão essencialmente ao homem que, embora pelo pecado seja violentamente removida da alma [na morte], é, no entanto, novamente unido à alma na ressurreição5” O homem é a semelhança de Deus e deve exercer suas funções com suas faculdades intelectuais e racionais: ü Senso moral do homem (capacidade de distinguir entre o certo e o errado) e sua consciência. ü Capacidade para o culto religioso (sendo de divindade) ü Responsabilidade: Capacidade humana de responder perante Deus e seus semelhantes e o ser considerado responsável pelo modo como dá essas respostas. ü Faculdade volitiva: O homem é capaz de tomar decisões segundo sua vontade. ü Senso estético do homem: Ele pode apreciar a beleza criada por Deus na sua criação, ou também, criar algo que seja belo, através de dons artísticos (pintura, escultura, poesias e música). Há também a capacidade de falar e cantar de forma criativa e bela. Em suma, pois, podemos dizer que por imagem de Deus no sentido lato ou estrutural entendemos o conjunto de dons e capacidades dados ao homem e que o habilitam a agir como tal em seus diversos relacionamentos e vocações. Assim o homem deve exercer tudo o que é e faz segundo a imagem do seu Criador. O pecado: Não tirou do homem a essência de ser criado a imagem de Deus. O pecado obscureceu a verdadeira criação. Seria como colocar um pano preto por cima de um espelho. O espelho está ali, porém o lençol negro o deixa sem sua verdadeira função que é refletir de maneira clara o Criador. Só Jesus pôde retirar o pano preto e nos dar novamente o brilho através da redenção. O homem original em sua tríplice relação (breve resumo) Gênesis 1.26-28, “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a 5 Dogmatiek, 2:601(citado pelo autor em tradução própria para o inglês). Cf. Berkouwer, Man, págs. 75-77,229-232 terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra”. 1. O homem e Deus As referências à criação do homem por Deus, à bênção de Deus sobre o homem e ao mandato que lhe foi dado por Deus indicam a primeira e fundamental relação em que o homem se encontra: seu relacionamento com Deus. 2. O homem e seu semelhante A relação do homem com o seu semelhante é indicado nas palavras “homem e mulher os criou” 3. O homem e a natureza. A nossa relação com a natureza é referida no fato de Deus nos dar domínio sobre a Terra. A imagem pervertida (caída) O homem original foi criado para este propósito tríplice de relação refletindo a Deus. Com o pecado, o homem perdeu de glorificar a Deus através desta ordem. O homem ainda o faz, porém de maneira escrava do pecado. Após a queda do homem em pecado, a imagem de Deus não foi aniquilada, mas pervertida. A imagem no seu sentido estrutural permaneceu – os dons, talentos e habilidades humanas não foram destruídas pela Queda, mas o homem passou, a partir de então, a usar esses dons de modo contrário à vontade de Deus. O que mudou, em outras palavras,não foi a estrutura do homem, mas a sua maneira de agir e o rumo de sua vida. 1. O homem (caído) e Deus Mas o homem decaído, em vez de adorar o Deus verdadeiro, adora os ídolos. No primeiro capítulo de Romanos, Paulo aponta a indesculpabilidade dessa perversão da relação do homem com Deus: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurescendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corrup- tível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (vs.20-23)”. Enquanto o homem primitivo fazia ídolos de madeira e pedra, o homem moderno, procurando alguma coisa para adorar, faz ídolos de um tipo mais sutil: a si mesmo, a sociedade humana, o estado, dinheiro, fama, bens ou prazer. Tais idolatrias são perversões da capacidade do homem de adorar a Deus. Poderíamos acrescentar que, em vez de usar sua razão como um meio de louvar a Deus, o homem decaído a usa, agora, como um meio de louvar-se a si mesmo ou às realizações humanas. O senso moral com o qual o homem foi dotado ele agora usa de maneira pervertida, chamando o certo de errado e o errado de certo. O dom de falar é usado para amaldiçoar a Deus em vez de louvá-lo. Em vez de viver em obediência a Deus, ele é agora “homem em rebeldia”, vivendo em desafio a Deus e às leis de Deus. 2. O homem (caído) e seu semelhante. Em vez de usar sua capacidade para comunhão que enriquece a vida dos outros, o homem decaído agora usa esse dom para manipular os outros como meios para seus propósitos egoístas. Ele usa o dom de falar para dizer mentiras em lugar da verdade, para ferir seu próximo em vez de ajudá-lo. Talentos artísticos são frequentemente prostituídos a serviço da luxúria e os atributos sexuais dados por Deus são usados com objetivos deturpados e corruptos. A pornografia e as drogas tornaram-se grande negócios; o propósito deles não é ajudar os outros, mas explorá-los. O lema de muitas pessoas no mundo de hoje parece ser o seguinte: “Cada um por si e o diabo fique com o resto”. O homem está ainda inescapavelmente relacionado aos outros, mas, em vez de amar aos outros, está inclinado a odiá-los 3. O homem (caído) e a natureza. Em vez de dominar a terra em obediência a Deus, o homem, agora, usa a terra e seus recursos para os seus próprios propósitos egoístas. Esquecendo-se que lhe foi dado domínio sobre a terra a fim de glorificar a Deus e beneficiar os seus semelhantes, o homem, agora, exerce esse domínio de for- mas pecaminosas. Explora os recursos naturais sem preocupar-se com o futuro: derruba florestas sem reflorestamento, planta sem o rodízio de culturas, deixa de tomar medidas para evitar a erosão do solo. Suas fábricas poluem rios e lagos, suas chaminés poluem o ar – e ninguém parece se preocupar. Sua descoberta do segredo da fissão nuclear, em vez de ser um benefício para a humanidade, tornou-se uma ameaça estarrecedora que paira sobre nossas cabeças como a espada de Damocles. E em suas realizações culturais – sua literatura, sua arte, sua ciência, sua tecnologia, a meta do homem é engrandecer-se a si mesmo em vez de louvar a Deus. Cristo como a verdadeira imagem de Deus Cl 1.15, “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Se queremos, portanto, realmente saber como é a imagem de Deus no homem, devemos primeiro olhar para Cristo. Isso significa, entre outras coisas, que o fundamental na imagem de Deus não são qualidades tais como razão ou inteligência; mas, pelo contrário, o amor, pois, mais do que tudo, o que se destaca na vida de Cristo é o seu maravilhoso amor. Em Cristo, portanto, vemos de forma clara o que está escondido em Gênesis 1, a saber: a imagem perfeita de Deus que o homem deveria ser. 1. Cristo é inteiramente voltado para Deus. No começo de seu ministério, embora extremamente tentado pelo diabo, Jesus resistiu à tentação, em obediência ao Pai. Ele costumava passar noites inteiras em oração ao Pai. Ele disse, uma vez: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34). Ao final de sua vida terrena, quando defrontava-se com o terrível sofrimento que haveria de suportar como Salva- dor de seu povo, ele orou: “Meu Pai, se possível, passa de mim esse cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39). 2. Cristo é inteiramente voltado para o próximo. Quando as pessoas lhe apresentavam suas necessidades, fossem elas de cura, de alimento ou perdão, ele estava sempre pronto a socorrê-las. Quando, exausto de uma longa jornada, Jesus descansava junto a um poço, esqueceu-se prontamente de sua própria fadiga para evangelizar uma mulher samaritana. A Zaqueu, Jesus disse: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Noutra ocasião, Jesus disse aos seus discípulos: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Certa vez, Jesus indicou qual é o maior amor que alguém pode demonstrar a outro: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar a sua própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13). Esse é aquele amor que Jesus mesmo revelou: ele deu a sua vida por seus amigos. 3. Cristo domina a natureza. Com uma ordem, Jesus acalmou a tempestade que ameaçava a vida dos seus discípulos no lago da Galiléia. Mais tarde, andou sobre as águas para mostrar o seu domínio sobre a natureza. Foi também capaz de proporcionar uma pesca maravilhosa. Multiplicou os pães e transformou água em vinho. Curou muitas doenças, expulsou muitos demônios, fez os surdos ouvirem, os cegos verem, os paralíticos andarem e, até mesmo, ressuscitou mortos. O homem restaurado em Cristo em sua tríplice relação Cl 3.5-11, “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Ef 4.20-24, “Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. 1. Ser um ser humano é estar voltado para Deus. O homem é uma criatura que deve sua existência a Deus, que é completamente dependente de Deus e responsável, acima de tudo, perante Deus. Esta é a sua primeira e mais importante relação. Todas as outras relações do homem devem ser vistas como subordinadas e regidas por esta primeira. Ser um ser humano no sentido mais verdadeiro, portanto, significa amar a Deus sobre todas as coisas, confiar nele e obedecer a ele, orar a ele e lhe agradecer. Visto que estar relacionado com Deus é sua relação fundamental,a sua vida inteira é para ser vivida coram Deo – como diante da face de Deus. O homem está preso a Deus como um peixe está preso à água. Quando um peixe procura se libertar da água, ele perde ao mesmo tempo sua liberdade e sua vida. Quando nós procuramos nos “libertar” de Deus, tornamo-nos escravos do pecado. “Tu [Deus] nos fizeste para ti mesmo, e nossos corações não descansam até encontrarem o seu repouso em ti6” “Todos os homens nascem para viver com o fim de que possam conhecer Deus7” “A Escritura está preocupada com o homem em sua relação com Deus, na qual ele nunca deve ser visto como homem- em-si-mesmo8” 6 Agostinho 7 Calvino 8 G. C. Berkouwer 2. Ser um ser humano é ser voltado para seus semelhantes. Estamos, outra vez, em Gênesis 1. Observe a justaposição, no versículo 27, de “à imagem de Deus o criou” e “homem e mulher os criou”. Trata-se, aqui, de algo mais do que diferenciação sexual, visto que isso é encontrado também nos animais e a Bíblia não diz que os animais foram criados à imagem de Deus. O que se diz nesse versículo é que a pessoa humana não é um ser isolado que é completo em si mesmo, mas que é um ser que necessita do companheirismo de outros, que não é completo separado dos outros. Esse aspecto fica ainda mais nítido em Gênesis 2, que descreve a criação de Eva: “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (v.18). A expressão hebraica traduzida como “uma auxiliadora que lhe seja idônea” ‘ezer kenegdo. Neged (a palavra traduzida como “lhe seja idônea”) significa “correspondente a” ou “que responde a”. Literalmente, portanto, a expressão significa “uma ajuda que responda a ele”. O significado das palavras é que a mulher complementa o homem, suplementa-o, completa-o, é forte onde ele pode ser fraco, supre suas deficiências e preenche suas necessidades. O homem é, portanto, incompleto sem a mulher. Isso é válido tanto para a mulher como para o homem. A mulher também é incompleta sem o homem; o homem suplementa a mulher, complementa-a, preenche suas necessidades, é forte onde ela é fraca. O fato de que só podemos ser seres humanos completos mediante encontros com outros seres humanos também é verdadeiro sob outros aspectos. É somente por meio de contatos com outros que descobrimos quem somos e quais são as nossas forças e fraquezas. É somente na comunhão com outros que crescemos e nos tornamos maduros. É somente em parceria com outros que podemos desenvolver plenamente nossas potencialidades. Isso é válido para todos os relacionamentos humanos em que nos encontramos: família, escola, igreja, vocação ou profissão, organizações recreativas, etc. Enriquecemo-nos uns aos outros. Isso é verdadeiro inclusive no sentido coletivo. Somos enriquecidos pelas pessoas de outras raças, de várias origens, de diversos níveis e tipos de educação, de diferentes vocações e profissões, além das nossas próprias. Não é bom para uma pessoa ter relacionamento social somente com outros “de seu próprio tipo”. A relação do homem com outros significa que nenhum ser humano deveria ver os seus dons e talentos como uma avenida para o desenvolvimento pessoal, mas como um meio pelo qual pode enriquecer a vida de outros. Significa que deveríamos estar sequiosos de ajudar os outros, curar suas feridas, suprir suas necessidades, levar os seus fardos e compartilhar suas alegrias. Significa que deveríamos amar aos outros como a nós mesmos. Significa que cada ser humano tem o direito de ser aceito por outros, de relacionar-se com outros e de ser amado por outros. Significa que aceitação e amor recíprocos são um aspecto essencial de sua humanidade. 3. O homem e a natureza. A maioria dos intérpretes, contudo, tem crido, corretamente, que o fato de o homem ter domínio sobre a terra é um aspecto essencial da imagem de Deus. Como Deus é revelado no primeiro capítulo de Gênesis regendo toda a criação, assim o homem é descrito, nos versículos em questão, como uma espécie de vice-regente de Deus, que domina a natureza como um representante de Deus. Ter domínio sobre a terra, portanto, é essencial à existência do homem. O homem não deve ser concebido à parte desse domínio assim como não deve ser concebido à parte do seu relacionamento com Deus ou com seus semelhantes, os outros seres humanos. Duas palavras são empregadas em Gênesis 1.28 para descrever esse relacionamento do homem com a natureza: subjugar e ter domínio. O verbo traduzido como subjugar está numa forma do hebraico kabash, que significa “subjugar” ou “escravizar”. Este verbo nos diz que o homem deve explorar os recursos da terra, cultivar o solo e escavar os seus tesouros enterrados. Não devemos, porém, pensar simplesmente na terra, nas plantas e nos animais; de- vemos também pensar na existência humana visto que ela é um aspecto da boa criação de Deus. O homem é chamado por Deus para desenvolver todas as potencialidades encontradas na natureza e na humanidade como um todo. Cabe-lhe desenvolver não somente a agricultura, a horticultura e a criação de animais, mas também a ciência, a tecnologia e a arte. Em outras palavras, temos aqui o que frequentemente se chama de o mandato cultural: o mandamento de desenvolver uma cultura que glorifica a Deus. Embora essas palavras ocorram como parte da bênção de Deus ao homem, a bênção encerra um mandato. A outra palavra usada em Gênesis 1.28 para descrever esta relação, traduzida como “ter domínio”, é uma forma do verbo hebraico radah, que significa “governar” ou “dominar”. É dito especificamente que a humanidade terá domínio sobre os animais. Observe também, nesse mesmo contexto, Gênesis 9.2, onde Deus diz a Noé, como representante da humanidade pós- dilúvio, “pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues”. O salmo 8 não somente ecoa como expande esse pensamento: “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob os seus pés tudo lhe puseste (vs.5,6)”. É importante, portanto, observar que a relação própria do homem com a natureza não é simplesmente a de governá-la. Passando de Gênesis 1 para Gênesis 2, vemos que Adão recebeu uma tarefa específica para realizar: cultivar (‘abad) e guardar (shamar) o jardim do Éden onde Deus o havia colocado (v.15). A palavra hebraica ‘abad literalmente significa “servir”. A palavra shamar significa “guardar, vigiar, preservar ou cuidar de”. Adão, em outras palavras, não somente recebeu o mandamento de dominar a natureza; foi-lhe dito para cultivar e guardar aquele pedaço de terra onde havia sido colocado. Se os seres humanos tivessem recebido apenas o mandamento de dominar a terra, esse mandamento poderia facilmente ser erroneamente interpretado como um convite aberto à exploração irresponsável dos recursos da terra. Mas a ordem de trabalhar e cuidar do jardim do Éden subentende que devemos servir e preservar a terra tanto quanto dominá-la. Esta terceira relação em que o homem foi colocado por Deus significa que o homem, embora estando abaixo de Deus, está acima da natureza como seu senhor, como aquele que é convocado a admirar as suas belezas, descobrir os seus segredos e explorar os seus recursos. Mas o homem – isto é, nós mesmos –, deve dominar a natureza de tal modo que seja também seu servo. Devemos preservar os recursos naturais e fazer o melhor uso possível deles. Devemos evitar a erosão do solo, a destruição temerária das florestas, o uso irresponsável da energia, a poluição dos rios e dos lagos e a poluição do ar que respiramos. Devemos ser mordomos da terra e de tudo o que há nela e promover tudo o que venha a preservar a sua utilidade e beleza para a glória deDeus. Palavra Ministrada no dia 21 de Maio de 2017. Pr Ronaldo José Vicente. Igreja PorTuaCasa. Blog: www.lagrimasportuacausa.blogspot.com.br O conteúdo foi retirado de forma resumida do livro Anthony Hoekema, Criados à imagem de Deus. Cultura Cristã. São Paulo.2010.
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