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Superior Tribunal de Justiça
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.373.914 - MG (2018/0261502-5)
 
RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER
AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
AGRAVADO : CARLOS ALBERTO SILVA MOREIRA 
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
EMENTA
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
ROUBO IMPRÓPRIO. APELAÇÃO CRIMINAL DA DEFESA PROVIDO. 
RECONHECIMENTO DA FORMA TENTADA. RECURSO MINISTERIAL. 
PLEITO DE AFASTAMENTO DA TENTATIVA. INVERSÃO DA POSSE DA 
RES FURTIVAE. DESNECESSIDADE. TEORIA DA AMOTIO OU 
APPREHENSIO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM DISSONÂNCIA COM A 
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA N. 582/STJ. INCIDÊNCIA. 
PRECEDENTES. SÚMULA N. 568/STJ. INCIDÊNCIA. AGRAVO CONHECIDO 
PARA DAR PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.
DECISÃO
Trata-se de agravo interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO 
DE MINAS GERAIS manejado contra a decisão que inadmitiu o recurso especial interposto 
perante o eg. TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL.
Consta dos autos que o MM. Juízo de primeiro grau condenou o ora agravado 
como incurso nas sanções do art. 157, § 1º, do Código Penal, à pena de 04 (quatro) anos e 
06 (seis) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, mais 12 dias-multa (fls. 
159-168).
O eg. Tribunal de origem, em decisão unânime, deu parcial provimento ao 
recurso de apelação criminal ali interposto pela Defesa do agravado, para desclassificar sua 
conduta para de roubo tentado (fls. 227-245). Eis a ementa do acórdão:
"APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO IMPRÓPRIO - 
ABSOLVIÇÃO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - 
HIPÓTESE DE DELITO TENTADO - DESCLASSIFICAÇÃO PARA 
FURTO - IMPOSSIBILIDADE - GRAVE AMEAÇA E VIOLÊNCIA 
COMPROVADAS NOS AUTOS PARA GARANTIR O SUCESSO DA 
EMPREITADA CRIMINOSA. Restando S devidamente comprovadas a 
autoria e a materialidade delitiva, em especial pelo reconhecimento do 
apelante pela vítima, não há que se falar em absolvição. Diante da não 
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inversão sobre a disponibilidade da coisa, deve ser reconhecida a conduta 
em sua modalidade tentada.
Comprovada a grave ameaça e a violência empregada para 
garantir o sucesso da subtração, não há falar-se em desclassificação para 
furto"
Opostos embargos de declaração, pelo ora recorrente, foram eles rejeitados 
(fls. 271-275). Confira-se a ementa do acórdão:
"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CRIMINAL - 
APELAÇÃO CRIMINAL - OMISSÃO - VÍCIO INEXISTENTE - 
REEXAME DA CAUSA - REDISCUSSÃO DO MÉRITO - 
INVIABILIDADE. Os embargos de declaração visam sanar contradição, 
ambiguidade, obscuridade ou omissão, sendo impossível a rediscussão do 
que já fora tratado quando do julgamento da apelação."
Sobreveio recurso especial, interposto com fulcro na alínea a do permissivo 
constitucional, no qual se alega ofensa ao art. 157, § 1º, c.c. o art. 14, inciso II, ambos do 
Código Penal. Para tanto, argumenta que: 
a) "No direito penal brasileiro, adotou-se a teoria da amotio ou 
apprehensio, de forma que basta a mera inversão da posse, acompanhada da violência e 
grave ameaça características da execução do delito, para que se tenha, 
indubitavelmente, um delito de roubo consumado" (fl. 285);
b) "No caso de roubo impróprio, tem-se a peculiaridade de que o emprego 
de violência ou grave ameaça não é anterior ou concomitante à subtração, mas 
posterior a esta. Assim, o referido delito consuma-se no momento em que o autor, após 
apoderar-se da res, mesmo não obtendo a posse desvigiada ou mansa e pacífica desta, 
utiliza violência ou grave ameaça com o fim de assegurar a impunidade do crime ou a 
detenção da coisa pára si ou para terceiro. Nesse contexto, percebe-se que o roubo 
impróprio não admite a forma tentada." (fl. 286).
Contrarrazões às fls. 296-307.
O recurso especial foi inadmitido pelo Tribunal de origem em razão do óbice da 
Súmula n. 7/STJ (fls. 309-310). 
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Nas razões do presente agravo, a parte alega que não incide o referido óbice e 
reitera os argumentos expendidos no apelo nobre (fls. 313-324).
Em despacho de fl. 339, a Presidência desta Corte Superior determinou a 
redistribuição do feito. Conforme Termo de Distribuição e Encaminhamento (fl. 343, os 
autos foram a mim atribuídos.
O Ministério Público Federal, em seu d. parecer, manifestou-se pelo 
provimento do agravo (fls. 346-349). 
É o relatório.
Decido.
Tendo em vista os relevantes fundamentos apontados pela parte agravante, 
conheço do agravo e passo a examinar os requisitos do recurso especial.
No que concerne à alegação de violação ofensa ao art. 157, § 1º, c.c. o art. 
14, inciso II, ambos do Código Penal, no sentido de que "No caso de roubo impróprio, 
tem-se a peculiaridade de que o emprego de violência ou grave ameaça não é anterior 
ou concomitante à subtração, mas posterior a esta. Assim, o referido delito consuma-se 
no momento em que o autor, após apoderar-se da res, mesmo não obtendo a posse 
desvigiada ou mansa e pacífica desta, utiliza violência ou grave ameaça com o fim de 
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa pára si ou para terceiro. Nesse 
contexto, percebe-se que o roubo impróprio não admite a forma tentada." (fl. 286), 
identifico que o recurso merece prosperar.
Ao dar provimento ao recurso de apelação criminal ali interposto pela Defesa, 
sobre a quaestio, no que importa ao caso, consignou o eg. Tribunal a quo, verbis:
"Com efeito, da análise dos autos, dúvidas não há de que o apelante, 
aproveitando-se do fato de que a vítima José encontrava-se distraída procurando em 
sua carteira o dinheiro para realizar um pagamento, subtraiu-lhe tal objeto levando 
consigo com todos os pertences, tendo a vítima Helmer reagido a tal subtração, razão 
pela qual o acusado passou a agredi-la, com a intenção de concretizar a empreitada 
criminosa.
Ao contrário do que alega o apelante, ficou plenamente configurado o 
delito de roubo impróprio, no qual o acusado empregou violência com o escopo de 
assegurar a impunidade do delito e a detenção da res.
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[...]
Enquanto no roubo próprio o agente usa a violência ou grave ameaça 
para retirar os bens da vitima, no roubo impróprio "a violência ou a grave ameaça 
ocorrem após a consuma ção da subtração, visando o agente assegurar a posse da coisa 
subtraida ou a impunidade do crime" (Julio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, 
18 ed., p. 238).
E este é exatamente o caso dos autos.
[...]
Logo, indubitável, que o apelante, subtraiu a carteira da vítima José 
Venâncio e quando interceptado por Helmer o agrediu na tentativa de assegurar o 
sucesso da empreitada criminosa.
[...]
Entendo que razão assiste à Defesa quando requer a desclassificação do 
crime de roubo consumado, pelo qual foi condenado o acusado, para sua modalidade 
tentada.
Isso porque, a meu ver, não houve a inversão da posse do bem. A reação 
da vítima e da testemunha Helmer foi imediata, haja vista que assim que subtraiu a 
carteira foi interceptado por Helmer que precisou utilizar de força física para conter a 
evasão do acusado, que foi imobilizado até a chegada dos policiais militares.
Assim, o que se vê é que o réu, por circunstâncias alheias a sua vontade, 
não conseguiu retirar a res da posse da vitima, logo o reconhecimento da causa especial 
de diminuição de pena prevista no inciso II do artigo 14 do Código Penal é medida de 
justiça." (fls. 227-245, grifei).
Diante dos excertos acima transcritos, mostra-se incorreto o v. acórdão 
objurgado, tendo em vista que se encontra em consonância com o entendimento estabelecido 
nesta Corte Superior de Justiça, no sentido de que "O crime previsto no art. 157, § 1º, do 
Código Penal consuma-se no momento em que, após oagente tornar-se possuidor da 
coisa, a violência é empregada, não se admitindo, pois, a tentativa (Precedentes do 
Pretório Excelso e desta Corte)" (REsp n. 1.025.162/SP, Quinta Turma, de minha 
relatoria, Dje de 10/11/2008, grifei).
A propósito, confira-se o seguinte precedente:
"RECURSO ESPECIAL. CRIME DE ROUBO. 
CONSUMAÇÃO. TEORIA DA APPREHENSIO. RECURSO 
ESPECIAL REPETITIVO 1.499.050/RJ. SÚMULA N. 582. 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR. IRRELEVÂNCIA.
[...]
2. A jurisprudência deste Sodalício se firmou no 
julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.499.050/RJ, pela 
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Terceira Seção, no sentido que deve ser adotada a teoria da 
apprehensio ou amotio no que se refere à consumação do delito de 
roubo, que ocorre no momento em que o agente se torna possuidor da res 
furtiva, ainda que a posse não seja de forma mansa e pacífica, não 
sendo necessário que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da 
vítima.
3. Enunciado n.º 582 da Súmula deste Superior Tribunal de 
Justiça: "Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem 
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve 
tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação 
da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou 
desvigiada".
4. Recurso Especial provido." (REsp n. 1.704.976/SP, Quinta 
Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, Dje de 26/92018).
"HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE 
RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. ROUBO. 
CONDENAÇÃO. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO. REGIME 
PRISIONAL. TESES OBJETO DE WRIT ANTERIOR. REITERAÇÃO. 
TENTATIVA. INOCORRÊNCIA. ROUBO IMPRÓPRIO. EMPREGO 
DE VIOLÊNCIA. NÃO CONHECIMENTO.
[...]
3. Tendo sido reconhecido o emprego de violência contra a 
vítima, consumou-se o crime de roubo impróprio, não se exigindo, como 
sustentado na inicial, a posse mansa e pacífica da res. Precedentes.
4. Habeas corpus não conhecido. " (HC n. 175.017/RJ, Sexta 
Turma, Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura, Dje de 8/3/2013).
No mesmo sentido, o enunciado n. 582 da Súmula deste Superior Tribunal de 
Justiça que dispõe, verbis: "Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do 
bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em 
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo 
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada". (destaquei)
Assim, considerando que o acórdão recorrido não está em conformidade com 
a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça acerca do tema, incide, in casu, a Súmula n. 
568/STJ, que assim dispõe, verbis: "O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal 
de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento 
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Superior Tribunal de Justiça
dominante acerca do tema."
Ante o exposto, com fulcro no art. 253, parágrafo único, inciso II, c, do RISTJ, 
conheço do agravo para dar provimento ao recurso especial, cassar o acórdão recorrido e 
restabelecer a sentença proferida pelo MM. Juízo de primeiro grau (processo n. 
0145.16.015845-0).
P. e I.
Brasília, 29 de outubro de 2018.
Ministro Felix Fischer 
Relator
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