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Os textos aqui publicados são uma síntese clara e profunda do projecto hermenêutico de P. Ricoeur e das suas categorias centrais: discurso como . evento, noção de texto, mundo da. obra; distanciação e apropriação. BIBLIOTECA DE FILOSOFI CONTEMPORÂNEA edições 70 Paul Ricceur 41 INT TEORI TECA DE FILOSOFIA ONTEMPORANEA edições 70 BIBLIOTECA DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 1. MENTE, CÉREBRO E CIÊNCIA, John Searle 2. TEORIA DA INTERPRETAÇÃO, Paul Rícoeur 3. TÉCNICA E CIÊNCIA COMO .IDEOLOGIA~, Jurgen Habermas 4. ANOTAÇÕES SOBRE AS CORES, Ludwig Wittgenstein 5. TOTALIDADE E INFINITO, Ernrnanuel Levinas 6. AS AVENTURAS DA DIFERENÇA, Gianni Vatimo 7. ÉTICA E INFINITO, Emmanuel Levinas 8. O DISCURSO DE ACÇÃO, Paul Rícoeur 9. A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO, Martin Heidegger 10. A TENSÃO ESSENCIAL, Thomas S. Kuhn 11. FICHAS (ZETTEL), Ludwig Wittgenstein 12. A ORIGEM DA OBRA DE ARTE, Martin Heidegger TEORIA DA INTERPRETACÃO, DOAÇAo/OT·OtENClA E TEONOlOOIA • "I61"10/20"1 2 FtegiBtro No. 583. "176 DaUl.. Autor:RIOOEUR. PAUL TI1Ulo:TEORIA DA INTERPRETAOAO Preço:10.00 Doador:DIVERSOS Título original: Interpretation Theory: discourse and the surplus of meaning © 197.6 by Texas Christian Unversity Press Tradução de Artur Morão Capa Depósito legal n. o 18296/87 Direitos reservados para todos os países de língua portuguesa por Edições 70, Lda. EDIÇÕES 70. LDA. Av. Elias Garcia, 81, r/c - 1000 LISBOA Telefs. 76 27 20 / 76 27 92 / 76 28 54 Fax: 761736 Telex: 64489 TEXTOS P DELEGAÇÃO NO NORTE: EDIÇÕES 70, LDA. - Rua da Rasa, 173 - 4400 VILA NOVA DE GAlA Telef. 370 19 12/3 NO BRASIL: EDIÇÕES 70, BRASIL LTDA. - Rua São Francisco Xavier, 224-A (Tijuca) CEP 20550 RIO DE JANEIRO RJ Telef. 284 29 42 Telex 40385 AMU B Esta obra está protegida pela Lei. Não pode ser reproduzida, no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado, incluindo fotocópia e xerocópia, sem prévia autorização do Editor. Qualquer transgressão à Lei dos Direitos de Autor será passivel de procedimento judicial. . Paul Ric~ur TEORIA DA INTERPRETACÃO, o DISCURSO E O EXCESSO DE SIGNIFICAÇÃO ~ediçOeS70 PREFÁCIO No outono de 1973, Paul Ricoeur foi de Paris a Fort Worth dar uma série de lições como parte da celebração cen- tenária da Texas Christian University. A série tinha o título "Discurso e o excesso de significação". O texto publicado aqui sob o título Teoria da Interpretação conserva o primeiro título como subtítulo. Esta mudança assinala o desenvolvi- mento do texto numa teoria sistemática e compreensiva que tenta explicar a unidade da linguagem humana em vista dos diversos usos a que é sujeita. Uma questão justa é a da localização deste texto dentro do horizonte das investigações de Ricoeur a propósito da lin- guagem e do discurso, publicadas depois de A Simbólica do Mal (1960). Este amplo horizonte é a busca de uma filosofia compreensiva da linguagem que possa explicar as múltiplas funções do acto humano de significar e todas as suas inter- -relações. Nenhuma obra singular publicada durante este período (1960-1969) pretende oferecer semelhante filosofia compreensiva, e também não se pretende que as investigações tomadas em conjunto a constituam, pois Ricoeur duvida de que ela possa ser eleborada por um só pensador. Como se situa a Teoria da Interpretação relativamente a essa busca? Ocupa um lugar distinto, pois obras como Da Interpretação (1965) e O Conflito das Interpretações (1969) são sobretudo investigações dos diversos usos a que a lingua- gem enquanto discurso é submetida, ao passo que a Teoria da Interpretação oferece uma explicação da unidade da lin- guagem humana em vista dessa diversidade de funções. Em Teoria da Interpretação temos a filosofia da linguagem inte- gral de Paul Ricoeur. Como resultado da apresentação inicial das conferências, manteve-se um seminário sobre a interpretação de textos e um simpósio acerca da linguagem na Texas Christian Univer- sity em 1975. O professor Ricoeur regressou á TCU para tomar parte nesses acontecimentos e desenvolveu a sua teoria .9 pelas críticas que fez nos ensaios apresentados pela faculdade da TCU e pelos estudantes de muitas e diversas disciplinas. Tais acontecimentos indicam o poder desta teoria da interpre- tação e desta filosofia da linguagem. É nossa intenção pô-Ia agora à disposição de um auditório muito mais vasto, median- te a publicação da versão ampliada das conferências centená- rias de Paul Ricoeur da TCU. Esta Universidade escolheu o que há de melhor no saber contemporâneo para ajudar a celebrar o seu centenário e assim honrou adequadamente o professor Ricoeur pelo con- vite que lhe fez. Por seu turno, ele proporcionou-nos o melhor da sua investigação e honrou deste modo a Universi- dade, ajudando-nos a celebrar adequadamente o seu centená- rio. Estamos-lhe muito agradecidos .. INTRODUÇÃO Os quatro ensaios que constituem este volume baseiam- -se em e ampliam as conferências que fiz na Texas Christian University de 27 a 30 de Novembro de 1973 como suas confe- rências centenárias. Podem ler-se ou como ensaios separados, ou também como aproximações graduais de uma solução para um problema singular, o de compreender a linguagem ao nível de produções como poemas, narrativas e ensaios, quer sejam literários ou filosóficos. Por outras palavras, o programa central que está em jogo nos quatro ensaios é o das obras; em particular, o da linguagem como obra. Uma completa apreensão deste problema não se conse- gue antes de chegar ao quarto ensaio, que se ocupa de duas atitudes aparentemente antagónicas que podemos assumir ao lidar com a linguagem enquanto obra; quero dizer, o conflito aparente entre a explicação e_20mpreensão. CreIO, porém, que talc-õnflifO éapenas aparente eque pode vencer-se se for possível mostrar que as duas atitudes se relacionam dialecti- camente entre si. Daí, pois que o horizonte das minhas lições seja constituído por essa dialéctica. Se se puder dizer que a dialéctica entre a explicação e a compreensão fornece a referência última das minhas observa- ções, o primeiro passo a tomar nesta direcção deve ser deci- sivo: devemos transpor o limiar para lá do qual a linguagem se apresenta como discurso. Por conseguinte, o tópico do primeiro ensaio é o da linguagem como discurso mas, na medida em que só a linguagem escrita ostenta plenamente os critérios do discurso, uma segunda concerne à amplitude das mudanças que afectam o discurso quando já não é falado, mas escrito. Daí o título do meu segundo ensaio, "Fala e Escrita". . A teoria do texto que emerge desta discussão é apresen- tada mais à frente com a questão da plurivocidade, que per- tence não só às palavras (polissemia), ou mesmo a frases (ambiguidade), mas a obras inteiras de discurso como poe- Ted Klein Presidente do Departamento de Filosofia Texas Christian University Fort Worth, Texas 10 I 1 mas, narrativas e ensaios. O problema da plurivocidade, dis- cutido no terceiro ensaio, fornece a transição decisiva para o problema da interpretação, redigido pela dialéctica da expli- cação e da compreensão, que, como indiquei, é o horizonte de todo este conjunto de ensaios. Desejo expressar a minha gratidão e o meu obrigado aos elementos da Texas Christian University pela oportunidade que me ofereceram de dar as lições que formam a base desta obra e também pela sua graciosa hospitalidade, durante a minha estadia ali. Foi para mim muito aprazível poder con- tribuir para a celebração do seu centenário. 1 LINGUAGEM COMO DISCURSO Os termos em que o problema da linguagem como dis- curso se discutirá neste ensaio são modernos no sentido de que não se teriam podido adequadamente formular sem o tremendo progresso da linguística moderna. No entanto, se os termos são modernos, o problema em si não é novo. Foi sempre conhecido. No Crátilo,Platão já mostrara que o pro- blema da "verdade" das palavras isoladas ou nomes deve permanecer indecidido porque a denominação não esgota o poder ou a função da fala. O logos da linguagem requer, pelo menos, um nome e um verbo e é o entrelaçamento destas duas palavras que constitui a primeira unidade da linguagem e do pensamento. E mesmo esta unidade suscita uma preten- são à verdade; a questão tem ainda de decidir-se em cada caso. O mesmo problema reaparece em obras mais maduras de Platão como o Teeteto e o Sofista. A questão aí é de compreender como é que o erro é possível, isto é, como é possível dizer o que não se verifica, se falar significa sempre dizer alguma coisa. Platão é, de novo, forçado a concluir que uma palavra por si mesma não é verdadeira nem falsa, embora uma combinação de palavras possa significar alguma coisa e, no entanto, nada apreende. O suporte deste paradoxo é, mais uma vez, ~r~ não a palavra. Tal é o primeiro contexto em cujo seio se descobriu o conceito de discurso: o erro e a verdade são "afecções" do discurso, e o discurso exige dois signos básicos - um nome e gm verbo - que se conectam numa síntese que vai além das j?.alavras; Aristóteles diz a mesma coisa no seu tratádo Da Interpretação. Um nome tem um significado e um verbo tem, além do seu significado, uma indicação do tempo. Só a sua conjunção produz um elo predicativo, que se pode chamar logos, discurso. Esta unidade sintética é que comporta o duplo acto de afirmação e negação. Uma afirmação pode ser contradita por outra afirmação e pode ser verdadeira ou falsa. 12 r 13 Este breve sumano do estádio arcaico do nosso pro- blema pretende lembrar-nos da antiguidade e da continuidade do problema da linguagem enquanto discurso. Porém, os termos em que agora o discutiremos são inteiramente novos, porque tomam em consideração a metodologia e as descober- tas da linguística moderna. Nos termos desta linguística, o problema do discurso tornou-se um problema genuíno, porque o discurso pode agora opor-se a um termo contrário que não era reconhecido ou tido como garantido pelos filósofos antigos. 9 termo oposto é_~ o objecto autónomo da investigação científica. É o código linguístico que fornec~ uma estrutu!.!LesQecífic~ cada um dos sistemas linguísticos, que agora conhecemos cõiüõãS diversas llnguaslaladas· pelas diversas comunidades linguísticas. oCLínguasignifica, pois, aqui algo de diferente da c.~E.acidadegeral de falar o.u da competênCia comum de falar. Desigga a estrutura articular do sistema lin ístico particular. - Com as palavras "estrutu'fã"e "sistema" umá nova pro- blemática emerge que tende, pelo menos inicialmente, a pos- por, se é que não a cancelar, o problema do discurso, que é condenado a retroceder do primeiro plano da preocupação e a tornar-se um problema residual. Se o discurso ~e, para nós, é problemático é porque as principais realizações da lin- guística dizem res eito à.lingua enquanto estruturg esistema, e não enqüãnto usada. A nossã1ã"fefã será, portanto, libertar o discurso o seu exílio marginal e precário. . ---A esta dicotomia ulcra igam-se várias distinções subsi- diárias. Uma mensagem é individual, o seu código é colectivo. {fortemente influenciado por Durkheim, Saussure conside- ~nguística como um·ra~<) JãSõ'ciologiã".) A mensagem e o código não pertencem ao tempo da mesma maneira. Uma mensagem é um evento temporal na sucessão de eventos que constituem a dimensão diacrónica do tempo, ao passo que o código está no tempo como um conjunto de elementos con- temporâneos, isto é, como um sistema sincrónico. Uma men- sagem é intencional; é intentada por alguém. O código é an9.- mmo e não intentado. Neste sentido, é inconsciente, não no 'sentido em que os impulsos e tendências são inconscientes segundo a metapsicologia freudiana, mas, no sentido de um inconsciente estrutural e cultural não libidinal. Mais do que qualquer outra coisa, uma mensagem é arbitrária e contingente, ao passo que um código é sistemá- tico e compulsório para uma dada comunidade linguística. Esta última oposição reflecte-se na afinidade de um código para a investigação científica; sobretudo num sentido da palavra ciência que sublinha o nível quase algébrico das capacidades combinatórias, implicadas por tais conjuntos finitos de entidades discretas como sistemas fonológicos. Iexi- <.cais e sintácticos. E mesmo se a parole pode escrever-se cien- tificamente, cai sob a alçada de muitas ciências, incluindo a acústica, a filosofia, a sociologia e a história das mudanças semânticas, ao passo que a langue é o objecto de uma única ciên~i~.? a de~crição dos Sistemas sincrónkos da lingUaEem. . Este rápido panorama das principais dicotomias estabe- I~CId~spor Saussu~e é suficiente para mostrar porque é que a Iinguística conseguiu progredir sob a condicção de pôr entre parênteses a m.ensagem por mor do código, o evento por mor do -sistema, a intenção por mor da estrutura, e a arbitrarie- dade do acto pela sistematicidade das combinações dentro de sistemas sincrónicos. .2.-eclipse do discurso foi, ademais, encorajado pela ten- tativa que se fez de estender o modeloesfrutural para além do seu lugar de nascimento na linguística e pela consciência sistemática dos requisitos teóricos implicados no modelo lin- guístico enquanto modelo estrutural. A extensão do modelo estrutural diz-nos respeito direc- tamente, na medida em que o modelo estrutural se aplicou às Langue e Parole: O Modelo Estrutural A recessão do problema do discurso no estudo contem- porâneo da linguagem é o preço que devemos pagar pelas tremendas realizações levadas a cabo pelo famoso Cours de linguistique général do linguista suíço Ferdinand de Saus- sure (I). A sua obra funda-se numa distinção fundamental entre ..!!linguagem como langue e como parole, que configu- rou forte~nte a linguística moderna. (Note-se que Saussure~ --~.não falou de ISCurSO"mas de "paroM'. Mais tarde, entende- remos porquê.) Y!!lK.lfe é o CÓdIgOou o conjunto de código~ - sobre cuja base falante o particular produz a ~ como um~tp.ensagem particular. 14 15 ~------------------------------------------------------- - mesmas categorias de textos que são o objecto da nossa teo- ria da interpretação. Originalmente, o modelo dizia respeito a unidades mais pequenas do que a frase, os signos dos siste- mas lexicais e as unidades discretas dos sistemas fonológicos, de que se compõem as unidades significativas lexicais. No entanto, ocorreu uma extensão decisiva com a aplicação do modelo estrutural a entidades linguísticas mais amplas do que a frase e também a entidades linguísticas semelhantes aos textos da comunicação linguística. No tocante ao primeiro tipo de aplicação, o tratamento. dos contos pelos formalistas russos, como V. Propp (2), assi- nala uma viragem decisiva na teoria da literatura, especial- mente no que se refere à estrutura narrativa das obras literá- rias. A aplicação do modelo estrutural aos mitos por Claude Lévi-Strauss constitui um segundo exemplo de uma aborda- gem estrutural a séries longas de discurso; uma abordagem análoga mas, no entanto, independente, do tratamento for- mal do folclore proposto pelos formalistas russos. Relativamente à extensão do modelo estrutural às enti- dades não linguísticas, a aplicação pode ser menos espectacu- lar - incluindo, como faz, sinais de tráfego, códigos culturais como modos de estar à mesa, vestuário, códigos habitacionais e residenciais, padrões decorativos, etc. - mas é teoricamente interessante, por fornecer um conteúdo empírico ao conceito de semiologia ou semântica geral, que foi desenvolvida inde- pendentemente por Saussure e por Charles S. Peirce ...AJin: guísticª torna-se aqui uma província da teoria geral dos sig- ::Jiõs:-emborã seja uma províiicia que tem o privilégio se ser simultaneamente uma espécie e um exemplo paradigmático de um sistema sígnico. Esta últimaextensão do modelo estrutural implica já uma apreensão teórica dos postulados que governam a semio- logia em geral e a linguística estrutural em particular. Toma- dos conjuntamente, tais postulados definem e descrevem o modelo estrutural como um modelo. .frimei.t:.o,uma aborda em sincr9nica d!y-e_PIYcederqual- quer abordagem diacrónica, porque os sistemas são mais inte- ligíveisdo queã"Smudanças. Quando muito, uma mudança é uma mudança, parcial ou global num estado de um sistema. Por conseguinte, a história das mudanças deve vir depois da teoria que descreve os estados sincrónicos do sistema. Este pri~eir~ p~s.tulado expressa a emergência de um novo tipo de inteligibilidade, directamente oposto ao historicismo do século XIX. Em segundo lugar, o caso paradigmático para uma ab~rdagem estrutural é o de um conjunto finito de enti- dades discretas. A primeira vista, os sistemas fonológicos podem parecer satisfazer este segundo postulado mais direc- tamente do que fazem os sistemas lexicais, onde o critério de finitude é mais difícil de aplicar concretamente. Contudo a ideia de um léxico infinito permanece, em princípio, absurda. A vantagem teórica dos sistemas fonológicos - apenas umas quantas .dúzi?s. de signos distintivos caracterizam qualquer sIs.tema linguístico dado - explica porque é que a fonologia veio para o pnrneiro plano dos estudos linguísticos, a seguir à obra deSaussure, embora '!. fonologia .constituísse, para o fundador da linguística estrutural, apenas uma..ciência auxi- iar_ p~ra ,o. núcleo. da Iinguística: _a semântica A posição pàrâdigmática dos SIstemas constituídos por conjuntos finitos de entidades discretas reside na capacidade combinatória e nas possibilidades quase algébricas que pertencem a tais con- jun~os. !~i~ .capaci?ad~s e possibilidades enriquecem o tipo ~e lllte~I1?IbIhdade instituído pelo .,primeiro postulado, o da .slllcrolllcIdade .ê?Js!.ceiro lugar, em tal sistema, nenhuma entidade que pertença à est~utura do sistema tem um significado por si mesma; o sentido de uma palavra, por exemplo, resulta da sua oposição a outras unidades lexicais do mesmo sistema. ,.Çomo .§aussure disse, Jlum sistema de signos, há_apenas dife- Jenças, mas nªo uma existência substancial. Este postulado define as l?ropriedadesformais das entidades linguísticas opon- do-se aqui formal a substancial, no sentido de uma existência positiva autónoma das entidades em jogo na linguística e em geral, na semiótica. ' [Em quarto lugar" em tais sistemas finitos, todas as rela-- _. J. çoes sao imanentes ao SIstema. Nesse sentido os sistemas l..ePlió.ticos são "fechados", isto é, sem relações' êõffia reali- _dade exte.;na folãose~iótica~ À aefinição do sig~o dada por Saussure implicava ja este postulado: em vez de se definir pela relação externa entre o signo e uma coisa, relação essa tornaria a linguística dependente de uma teoria das entidades extraliuguístícas, .o,","s~gJ10_defi e-se or uma oposição entre" --5l0IS asp~ctos qu~~e I~serem ,ambos dentro da circunspecção 16 17 ----------~--------------------------------------------- de uma única ciência a dos signos. Estes dois aspectos são o significante - por exemplo, um sem, u~ ~adrão escrito, um gesto ou qualquer meio físico - e o Ingmfic~do. - Q...valor, diferencial no sistema lexical. O facto de 2...slg~~ficante e o - significado admitirem dois tipos d~ferentes de analise - fono~ lógica no primeiro cas?, semâ~tlca n_o se,gundo - m~s, ~o conjuntamente constitUlrem o signo, nao so fornece ~ cnteno para os signos tínguístícos, mas ta~b~m por extensao, o d~s entidades de todos os sistemas semióticos, qu~ s,e.podem defi- nir com a condição de se "enfraquecer" esse cnteno. . O último postulado basta, só por si, para caractenzar ~ estruturalismo como um modo global de p_ensamento, ~ara Ia . de todos os aspectos técnicos da sua metodologia. A lmgua- gem já não apareçe ~omo uma m~di~ção entre as mentes e as ·coisas. Constitui um mundo propno, dentro do qual ca~a eiemento se refere apenas a outros elementos do m~smo SIS- tema, graças à acção recíproca das opos~ções e dl~~re~ça~ constitutivas do sistema. Numa palavra~!!.nBl!.a?em ja n~o ~ tratada como uma "forma. de vida", com? Wlttgenstem_ a chamaria, mas como' o sistema auto~s.uficlente de relaçoes internas, Neste ponto, extremo, _a linguagem desapareceu corno. discufso., Semântica versus Semiótica: a Frase A esta abordagem unidimensional da linguagem, para a qual os signos são as únicas entidades básicas,. quero opor uma abordagem bidimensional, ~ar~ a qu~l a linguagem ~ funda~Jlas entidades irredutlv~, ~ Sl@QS e as frases. Esta dualidade não coincide com a de Zangue e paroZe, como foram definidas por Saussure no seu Cours d~ lin!5!"'istique générale, ou mesmo como essa dualid~d~ foi mais tarde reformulada enquanto oposição entre código e mensa~em. Na terminologia de Zangue e paroZe, apenas a Zangue e um objecto homogéneo para uma ciên~ia ~n~ca, graças às pro- priedades estruturais dos sistemas sm~ro~l.coS. Pa,:oZe" c?mo dissemos, é heterogénea, além de ser individual, dlacromca e contingente. Mas a paroZe a· resenta também uma .e~t~utura que é irredutíve1 num sentido específico ao das possIbIlIdades 18 combinatórias abertas pelas oposições entre entidades discre- tas. Esta estrutura é 1!....construção sintética da ró ria frase . enquanto distinta de qualquer combjnaçãn., nalítica de enti- .dades discretas. A minha substi~ termo "discurso" ao de ''paroZe'' (que exprime apenas o aspecto residual de uma ciência da "Zangue") visa não só salientar a especificidade desta nova unidade em que se apoia todo o discurso, mas também legitimar a distinção entre a semiótica e a semântica como as duas ciências que correspondem a duas espécies de unidades características dslingyagem, o signrn fr.a~ - ---Além-disso as duas ciências não só são distintas mas reflectem igualmente uma ordem hierárquica. O objecto da semiótica --4"0 signo~ é meramente virtual. Apenas a rase é'I-- --- --.,..-. t -' -.::- I~ \. ~~tu~l enq?anto genuíno acontecimento da fai~ nao e possível passar da palavra, enquanto signo léxica para frase, por simples extensão da mesma metodologia a uma entidade ma~s complexa. ,A frase não é uma palavra mais ampla ou mais complexa. ~e. Pode decom- por-se em palavras, mas as palavras são algo de diferente de frases curtas. Uma frase é um todo irredutível à soma das suas partes. É constituída por palavras, mas não é uma fun- ç~o derivativa d.as suas p~la;ras. Uma fr~põ~e ~_mas ~Sl mesma nao.e um SIgno. Nao existe, por consegumte, nenhuma progressão linear do fonema para o lexema e, em seguida, para a frase e para totalidades linguísticas mais amplas do que a frase. Cada estádio requer novas estruturas e uma nova descrição. A rela- ção entre as duas espécies de entidades pode expressar-se da seguinte maneira, de acordo com a sanscritista francês Emile Benveniste: a linguagem baseia-se na possibilidade de dois tipos de operações, a integração em todos mais vastos e a dissociação nas partes constitutivas. O sentido promana da primeira operação; a forma, da segunda. A distinção entre as duas espécies de linguística - a semiótica e a semântica - reflecte esta rede de relações. A ~ciência dos signos, é formal na medida em que se ~da....!la dissociação da.Jíngua ~empartes constitutivas. A ", .. ",. ""- ~- •....• _ se~tlca, a CIenCIada fraset diz imediatamente re~peito ao - conceito del sentidol( que, neste momento, se pode considerar ~ significação, antes de se introduzir mais à frente 'a distiiÍÇãõ'êri'ti=êSenfido e referência), na medida em 19 l I que a semântica se define fundamentalmente mediante proce- dimentos integrativos da linguagem. Quanto a mim, a distinção entre semântica e semiótica é a chave de todo o problema da linguagem, e os meus quatro ensaios baseiam-se nesta decisão metodológica inicial. Como disse nasobservações introdutórias, esta distinção é simples- mente uma revalorização do argumento de Platão no Crátilo e no Teeteto, segundo o qual o logos se funda no entreteci- mento de, pelo menos, duas entidades diferentes, o nome e o verbo. Mas, noutro sentido, esta distinção exige hoje mais sofisticação por causa da existência da semiótica enquanto moderna contraparte da semântica. A Dialéctica de Evento e Significação s~~ântica do discurso deve ser rectificar a fraqueza epistemo- lógica da parole, avançando do carácter fugaz do evento enquanto oposto à estabilidade do sistema relacionando-o com ~ prioridade ontológica do discurso,' que resulta da actualidade do evento enquanto oposto à mera virtualidade do sistema. É verdade que só a mensagem possui uma existência temporal, uma existência na duração e na sucessão' e como o aspect? sincronístico do código põe o sistema fora' do tempo suceSSIVO,então a existência temporal da mensagem dá tes- temunho da sua actualidade. De facto, o sistema não existe. Tem apenas uma existência virtual. Unicamente a mensagem proporciona actualidade à língua e o discurso funda a exis- tência genuína da língua, visto que só os actos de discurso discretos e únicos em cada tempo actualizam o código. Mas, este primeiro critério, por si só, seria mais engana- dor do que elucidativo, se a "instância do discurso" como a chama Benveniste, fosse meramente o acontecimento evanes- ce~te: Então a ciência estaria justificada em pô-lo de lado e a pnonda?e ?ntológica do discurso seria insignificante e sem consequencias, No entanto, um acto do discurso não é sim- plesmente transitório e evanescente. Pode identificar-se e reidentificar-se como o mesmo, de maneira que o possamos dizer novamente ou por outras palavras. Podemos até dízê-lo noutra língua ou traduzi-l o de uma língua para outra. Ao longo de todas as transformações preserva uma identidade própria, que pode chamar-se o conteúdo proposicional o "dito enquanto tal". ' Temos, pois, de reformular o primeiro critério - o dis- curso como evento - de um modo mais dialéctico a fim de se tomar em consideração a relação que constitui o discurso enquanto t~l, a relação entre evento e significado. Mas, antes de conseguirmos apreender esta dialéctica como um todo consideremos o lado "objectivo" do evento da fala. ' A parte seguinte deste ensaio será consagrada à busca de critérios adequados para diferenciar a semântica e a semió- tica. Construirei os meus argumentos a partir da convergên- cia de várias abordagens que, por diversas razões, têm a ver com a específicidade da linguagem como discurso. Estas abordagens são a linguística da frase, que fornece o título geral de semântica; e a fenomenologia da significação, que deriva da primeira Investigação lógica de Husserl (3); e o tipo de "análise linguística", que caracteriza a descrição filosófica anglo-americana da "linguagem comum". Todas estas realiza- ções parciais se reunirão sob um título comum, a dialética de evento e significação no discurso, para o qual descreverei em primeiro lugar o pólo do evento, em seguida, o pólo da signi- ficação enquanto componentes abstractas desta polaridade concreta. Discurso como Evento Partindo da distinção saussuriana entre langue e parole podemos dizer, pelo menos de um modo introdutório, que o @scurso é o evento da linggagem, Para urna linguística apli- cada à estrutura dos sistemas, a dimensão temporal deste evento exprime a fraqueza epistimológica de uma linguística da parole. Os eventos esvanecem-se, enquanto os sistemas permanecem. Por conseguinte, o primeiro passo de uma Discurso como Predicação Considerada do ponto de vista do conteúdo proposicio- nal, ? f~se pode caracteriz~r-se QQ! um único traço distintivo: ..!e~.!:!!!!..J2realcaao. Como observa Benveniste, o sujeito gra- matical pode faltar, mas não o predicado. Mais ainda, esta 20 21 nova unidade não se define pela oposição a outras unidades, como um fonema a outro fonema ou um lexema a outro lexema no interior de um sistema. Não há diversas espécies de predicados; ao nível dos categoremas (categorema, em grego=praedicatum, em latim), existe precisamente uma espé- cie de expressão linguística, a proposição, que constitui uma classe de unidades distintivas. Por conseguinte, não há nenhu- ma unidade de .uma ordem superior que possa fornecer uma classe genérica à frase concebida como uma espécie. É possí- vel conectar proposições segundo uma ordem de concatena- ção, mas não integrá-Ias. Este critério linguístico pode relacionar-se com descri- ções estabelecidas pelos teóricos da linguagem comum. O predicado, que, como afirma Benveniste, é o único facto r "indisQensável da frase, faz sentido nos casos aradigmátlcos Onde as suas "fun.c_ões''Se.podem)ig<!~_~.....op_oLà "função" do .. suoe~ico. Assim, uma característica importante do predi- cado vem para primeiro plano com base na antítese entre o predicado e o sujeito. Enquanto o sujeito genuinamente lógico é o suporte de uma identificação singular, o que o pre- dicado diz do sujeito pode sempre tratar-se como uma carac- terística "universal" do sujeito ..Sujeito e predicado não fazem o mesmo trabalho na proposição. O sujeito pega em algo de siJ!gular - Pedro, Londres, esta ~, a queda de Roma, o primeiro homem que subiu ao Evereste, etc. - mediante vários dispositivos gramaticais que servem esta função lógica: nomes próprios, pronomes demonstrativos (este e aquele, agora e então, aqui e ali, tempos do verbo enquanto relacio- nados ao presente) e "descrições definidas" (assim e assado). O que todos eles têm em comum é que identificam um só e apenas um só elemento:.. O predicad0t-~lo contrário, designa •... uma espécie de qualidade, uma classe de coisas, um ipo de- ...• ~- -. relação ou um tipo de acção. A polaridade fundamental entre identificação singular e a predicação universal proporciona um conteúdo específico à noção de proposição concebida como o objecto do evento da fala. Mostra que o discurso não é simplesmente um evento evanescente e, como tal, uma entidade irracional, como pode- ria sugerir a oposição simples entre parole e langue. O dis- curso tem uma estrutura própria, mas não é uma estrutura no sentido analítico do estruturalismo, isto é, como um poder 22 combinatório baseado nas oposições prévias de unidades dis- cretas. É, antes, uma estrutura no sentido sintético, isto é, como o entrelaçamento e o efeito recíproco das funções de identificação e predicação numa só e mesma frase. A Dialéctica do Evento e Significação O discurso considerado quer como um evento ou uma proposição, isto é, como uma função predicativa combinada com uma identificação, é uma abstracção que depende do todo concreto que é a unidade dialéctica de evento e signifi- cação na frase. Esta constituição dialéctica do discurso pode- ria passar-se por alto numa abordagem psicológica ou exis- tencial, que se concentraria no efeito recíproco das funções, na polaridade da identificação e da predicação universal. A tarefa de uma teoria concreta do discurso consiste em tomar tal dialéctica como sua directriz. Qualquer ênfase no conceito abstracto de um evento de fala justifica-se apenas como um modo de prostesto contra uma redução anterior mais abs- tracta da linguagem, a redução dos aspectos estruturais da linguagem como langue, pois a noção de fala, enquanto acon- tecimento, fornece a chave para a transição de uma linguís- tica do código para uma linguística da mensagem. Recorda- -nos que o discurso se realiza temporalmente e num momento presente, ao passo que o sistema da língua é virtual e fora do tempo. Mas, este traço aparece somente no movimento de actualização da língua para o discurso. Por conseguinte, toda a apologia da fala como evento é significativa se e somente se torna visível a relação de actualização, graças à qual a nossa competência linguística se actualiza na performance.Mas esta mesma apologia torna-se abusiva logo que o carácter de evento se estende da problemática da actualiza- ção, onde é válido, a outra problemática, a da compreensão. Se todo o discurso se actualiza como um evento, todo o dis-'-- -- - ~ - ----....- _curse: é co,!!pree!}d.!!!.ocomo significação. ~ão ou sentido desl no aqui "o conteu o Qroposic.iQnal,_ que iusta- mente descrevi como-síntese de duas funções: a.identífica ãü .e a prediciÇão. NãOé" à evento, enquantõ t;an;itório, que queremos compreender, mas a sua significação - o entrela- çamento do~nome e do verbo, para falar como Platão - enquanto dura. 23 Ao dizer isto, não estou a dar um passo atrás da linguís- tica da fala (ou discurso) para a linguística da língua (como Zangue). É na linguística do discurso que o evento e a signifi- cação se articulam. A supressão e superação do evento na significação é uma característica do próprio discurso. Atesta a intencionalidade da linguagem, a relação de noese e noema dentro dela. Se a linguagem é um meinen, um intentar, isso deve-se precisamente à Aujhebung, pela qual o evento é can- celado como algo de meramente transitório e retido como o mesmo significado. Antes de tirar a principal consequência da interpretação dialéctica do evento de fala para o nosso empreendimento hermenêutico, elaboremos de modo mais completo e também mais concreto a própria dialéctica, na base de alguns corolá- rios importantes do nosso axioma: isto é se todo ~ ~iscurso se actualiza como um ~veri~o, é compreendido como signifi- cação. o Significado do Locutor e Significado da Enunciação A Auto-referência do Discurso o conceito de significação admite duas interpretações que reflectem a dialéctica principal entre evento e sentido. Significar é o que o falante quer dizer, isto é, o que intenta dizer e o que a frase denota, isto é, o que a conjunção entre a função de identificação e a função predicativa produz. Por outras palavras, a significação é noética e noemática. Pode- mos conectar a referência do discurso ao seu falante com o lado eventual da dialéctica. O evento é alguém falando. Neste sentido o sistema ou código é anónimo, na medida em que é meramente virtual. As línguas não falam, só as pessoas. Mas o lado proposicional da auto-referência do discurso não deve descurar-se, se é que o significado do locutor utterer's mea- ning, para usar um termo de Paul Grice, se não deve reduzir a uma simples intenção psicológica. O significado mental em mais nenhum lado se pode encontrar a não ser no próprio discurso. O significado do locutor tem a sua marca no sentido da enunciação. Como? A linguística do discurso, que chamamos semântica, 24 para a distinguir da semiótica, fornece a resposta. A estrutura interna da frase refere-se ao seu falante através de procedi- mentos gramaticais, que os linguistas chamam "conectores" (shifters). Os pronomes pessoais, por exemplo, não têm signi- ficado objectivo. "Eu" não é um conceito. É impossível substituir-lhe uma expressão universal como "aquele que está agora a falar". A sua única função é referir toda a frase ao sujeito do evento da fala. Tem um novo significado sempre que é usado e sempre se refere a um sujeito singular. "Eu" é aquele que, ao falar, aplica a si mesmo a palavra "eu", que aparece na frase como um sujeito lógico. Há outros conecto- res, outros suportes gramaticais da referência do discurso ao seu falante. Incluem os tempos do verbo, na medida em que se centram em torno do presente e, por conseguinte, se refe- rem ao "agora" do evento da fala e do falante. A mesma coisa se verifica com os advérbios de tempo e de espaço e com os demonstrativos que podem considerar-se como parti- culares egocêntricos. Por conseguinte, o discurso tem muitos modos substituíveis de se referir ao falante. Mediante a atenção aos dispositivos gramaticais da auto- -referência do discurso, obtemos duas vantagens. Por um lado, conseguimos um novo critério da diferença entre dis- curso e códigos linguísticos. Por outro, somos capazes de fornecer uma definição não psicológica, porque puramente semântica, do significado do locutor. Nenhuma entidade mental precisa de ser hipotetizada ou hipostasiada. O sentido da enunciação aponta para o significado do locutor graças à auto-referência do discurso a si mesmo enquanto aconteci- mento. Esta abordagem semântica é reforçada por outras duas contribuições à mesma dialéctica do evento e da proposição. Actos Locucionários e l/ocucionários A primeira é a bem conhecida análise linguística (no sen- tido anglo-americano do termo) do "àcto de linguagem". J. L. Austin foi o primeiro a notar que os "performativos" -como promessas - implicam um empenhamento específico do falante, que faz o que diz ao dizê-lo. Ao dizer "prometo", ele promete efectivamente, isto é, coloca-se sob a obrigação de fazer o que diz que há-de fazer. O "fazer" do dizer pode 25 comparar-se ao pólo acontecimental na dialéctica do evento e da significação. Mas este "fazer" segue também regras semân- ticas que são exibidas pela estrutura da frase: o verbo deve ser o da primeira pessoa do indicativo. Aqui também uma "gramática" específica suporta a força performativa do dis- curso. Os performativos são apenas casos particulares de uma característica geral exibida por toda a classe de actos da lin- guagem, quer sejam ordens, desejos, perguntas, advertências ou asserções. Todas elas, além de dizerem algo (o acto locu- tionário), fazem algo ao dizer (o acto ilocucionário) e produ- zem efeitos por o dizerem (o acto perlocucionário). O acto ilocucionáro é o que distingue uma promessa de uma ordem, de um desejo ou de uma asserção. E a "força" do acto ilocucionário apresenta a mesma dialéctica de evento e significação. Em cada caso, uma "gramática" específica cor- responde a uma certa intenção para a qual o acto ilocucioná- rio exprime a "força" distintiva. O que se pode expressar em termos psicológicos como acreditar, querer ou desejar, é investido de uma existência semântica graças à correlação que existe entre estes dispositivos gramaticais e o acto ilocu- cionário. o Acto lnterlocucionário A outra contribuição para a dialéctica do evento e do conteúdo proposicional é fornecida pelo que se poderia cha- mar o acto interlocucionário, ou acto alocucionário, para preservar a simetria com o aspecto ilocucionário do acto da fala. Um aspecto importante do discurso é que ele é dirigido a alguém. Há outro falante que é o endereçado do discurso. A presença do par, locutor e ouvinte, constitui a linguagem como comunicação. O estudo da linguagem a partir do ponto de vista da comunicação não começa, no entanto, com a sociologia da comunicação. Como Platão afirma, o diálogo é uma estrutura essencial do discursso. Perguntar e responder sustentam o movimento e a dinâmica do falar e, em certo sentido não constituem um modo de discurso entre outros. Cada acto ilocucionário é uma espécie de pergunta. Asserir alguma coisa é esperar acordo, tal como dar uma ordem é esperar obediência. Mesmo o solilóquio - o discurso solitá- 26 rio - é um diálogo consigo mesmo ou, para citar mais uma vez Platão, a dianoia é o diálogo da alma consigo mesma. Alguns linguistas tentaram reformular todas as funções da linguagem como variáveis dentro de um modelo omni-englo- bante para o qual a chave é a comunicação. Roman Jakob- son, por exemplo, parte da tríplice relação entre falante, ouvinte e mensagem e acrescenta, em seguida, três outros fac- tores complementares, que enriquecem o seu modelo. São eles, código, contacto e contexto. Com base neste sistema de seis factores, estabelece um esquema de seis funções. Ao locu- tor corresponde a função emotiva, ao ouvinte a conativa, à mensagem a função poética. O código designa a função meta- linguística, ao passo que o contacto e contexto são os supor- tes das funções fática e referencial. Este modelo é interessanteporque: (1) descreve directa- mente o discurso e não um resíduo da língua; (2) descreve uma estrutura do discurso, e não apenas um evento irracio- nal, e (3) subordina a função do código à operação conectora da comunicação. Mas por sua vez, este modelo exige uma investigação filosófica que possa ser proporcionada pela dialéctica de evento e significação. Para o linguista, a comunicação é um facto e mesmo até o facto mais óbvio. As pessoas, efectiva- mente, falam umas às outras. Mas, para uma investigação existencial, a comunicação é um enigma e até mesmo um milagre. Porquê? Porque o estar junto, enquanto condição existencial da possibilidade de qualquer estrutura dialógica do discurso, surge como um modo de ultrapassar ou de supe- rar a solidão fundamental de cada ser humano. Por solidão não quero indicar o facto de, muitas vezes, nos sentirmos isolados como numa multidão, ou de vivermos e morrermos sós, mas, num sentido mais radical, de que o que é experien- ciado por uma pessoa não se pode transferir totalmente como tal e tal experiência para mais ninguém. A minha experiência não pode tornar-se directamente a vossa experiência. Um acontecimento que pertence a uma corrente de consciência não pode transferir-se como tal para outra corrente de cons- ciência. E, no entanto, algo se passa de mim para vocês, algo se transfere de uma esfera de vida para outra. Este algo não é a experiência enquanto experienciada, mas a sua significação. Eis o milagre. A experiência experienciada, como vivida, 27 permanece privada, mas o seu sentido, a sua significaç~o torna-se pública. A comunicação é, deste modo, a superaçao da radical não comunicabilidade da experiência vivida enquan- to vivida. Este novo aspecto da dialéctica de evento e significação merece atenção. O evento não é apenas a experiência enquan- to expressa e comunicada, mas também a própria troca inter- subjectiva, o acontecer do diálogo. A instância do di~curso .é a instância do diálogo. O diálogo é um evento que liga dOIS eventos, o do locutor e o do ouvinte. É em relação ao evento dialógico que a compreensão como significação é homógenea. Daí a questão: que aspectos do próprio discurso são significa- tivamente comunicados no evento do diálogo? Uma primeira resposta é óbvia. O que se pode comuni- car é, antes de mais, o conteúdo proposicional do discurso; e retrogradamos assim para o nosso critério principal - o dIS- curso como evento mais o sentido. Porque o sentido de uma frase é, por assim dizer, "externo" à frase, pode transferir-se; a exterioridade do discurso a si mesmo - que é sinónima da autotranscendência do evento na sua significação -abre o discurso ao outro. A mensagem tem o fundamento da sua comunicabilidade na estrutura da sua significação. Isto impli- ca que comunicamos a síntese da' função de identificação (da qual o sujeito lógico é o suporte e a função predicativa (que é potencialmente universal). Ao falarmos a alguém, ~pont~~os para a única coisa que queremos dizer graças aos dlSpOSIt1VOS públicos dos nomes próprios, demonstrativos e descrições definidas. Ajudo o outro a identificar o mesmo elemento para o qual aponto, graças aos dispositivos gramaticais que forne- cem uma experiência singular com uma dimensão pública. O mesmo se verifica com a dimensão universal do predicado, comunicada pela dimensão genérica das entidades lexicais. Naturalmente, este primeiro nível de compreensão mútua não se dá sem algum mal-entendido. As nossas palavras na sua maioria são polissémicas; têm mais de um significado. Mas a função contextual do discurso é, por assim dizer, fil- trar a polissemia das nossas palavras e reduzir a pluralidade das interpretações possíveis, a ambiguidade do discurso que resulta da polissemia não filtrada das palavras. E a função do diálogo é iniciar esta função de filtragem do contexto. O con- textual é o diálogo. É neste sentido preciso que o papel con- 28 textual do diálogo reduz o campo do mal-entendido a propó- sito do conteúdo proposicional. E consegue, em parte, superar a não comunicabilidade da experiência. No entanto, o conteúdo proposicional é apenas o corre- lado do acto locucionário. E que dizer da comunicabilidade dos outros aspectos do acto da linguagem, especialmente o acto ilocucionário? É aqui que se revela mais complexa a dia- léctica do acto e da estrutura, do evento e da significação. Como pode o carácter do discurso, que é ou constatativo ou performativo, ser um acto de asserir alguma coisa ou de ordenar, desejar, prometer e admoestar, ser comunicado e compreendido? Mais radicalmente, podemos nós comunicar o acto de linguagem enquanto acto ilocucionário? Sem dúvida, é mais fácil confundir um acto ilocucioná- rio com outro acto ilocucionário do que entender mal um acto proposicional. A principal razão é que os factos não lin- guísticos se encontram entrelaçados com as marcas linguísti- cas, e estes factores - que incluem fisionomia, gestos e entoação da voz - são mais difíceis de interpretar porque não se fundem em unidades discretas, e os seus códigos são mais instáveis e a sua mensagem mais fácil de ocultar ou falsi- ficar. No entanto o acto ilocucionário não está desprovido de marcas linguísticas, as quais incluem o uso dos modos grama- ticais como o indicativo, o conjuntivo, o imperativo e o opta- tivo, bem corno so tempos dos verbos e os termos adverbiais codificados ou outros dispositivos perifrásticos equivalentes. A escrita não só preserva as marcas linguísticas da enuncia- ção oral, mas também acrescenta sinais distintivos suplemen- tares como os sinais de citação, os pontos de exclamação e de interrogação, para indicar as expressões fisionómicas e ges- tuais, que desaparecem quando o locutor se torna um escri- tor. Por conseguinte, os actos ilocucionários podem, de mui- tos modos, comunicar-se ao ponto de a sua "gramática" fornecer o evento com uma estrutura pública. Sinto-me inclinado a dizer que o acto perlocucionário -o que fazemos por meio do acto de falar - assustar, sedu- zir, convencer, etc. - é o aspecto menos comunicável do acto de ,linguagem, porquanto o não linguístico tem prioridade sobre o linguístico em tais actos. A função perlocucionária é, pois, a menos comunicável porque é menos um acto inten- cional, exigindo uma intenção de reconhecimento por parte do 29 ouvinte, do que uma espécie de "estímulo", que gera uma "resposta" num sentido comportamental. A função perlocu- cionária ajuda-nos antes a identificar a fronteira entre o carácter de acto e o carácter de reflexo da linguagem. Os actos locucionários e ilocucionários são actos - e, por conseguinte, eventos - na medida em que a sua intenção implica a intenção de serem reconhecidos pelo que são: uma identificação singular, predicação universal, enunciado, ordem, desejo, promessa, etc. (4). Este papel de reconhecimento permi- te-nos dizer que a intenção de dizer é, até certo ponto, tam- bém comunicável. A intenção tem efectivamente um aspecto psicológico que é experimentado enquanto tal só pelo locu- tor. Na promessa, por exemplo, existe um compromisso; numa asserção, uma crença; num desejo, uma carência; etc., que constituem a condição psicológica do acto de linguagem, se seguirmos a análise de John Searle (5). Mas estes "actos mentais" (Peter Geach) não são radicalmente incomunicáveis. A sua intenção implica a intenção de serem reconhecidos, por conseguinte, a intenção da intenção do outro. Esta intenção de ser identificável, reconhecido como tal pelo outro, é parte da própria intenção. No vocabulário de Husserl, poderemos dizer que é o noético no psíquico. O critério do noético é intenção da comunicabilidade, a expectação do reconhecimento no próprio acto intencional. O no ético é a alma do discurso enquanto diálogo. Por conse- guinte, a diferença entre o ilocucionário e o perlocucionário nada mais é do que a presença, no primeiro, e a ausência, noúltimo, da intenção de produzir no ouvinte um certo acto mental, mediante o qual ele reconhecerá a minha intenção. Esta reciprocidade de intenções é o evento do diálogo. O suporte deste evento é a "gramática" do reconhecimento incluída na significação intentada. Para concluir a discussão da dialéctica de evento e signi- ficação, podemos dizer que a própria linguagem é o processo pelo qual a experiência privada se faz pública. A linguagem é a exteriorização graças à qual uma impressão é transcendida e se torna uma expressão ou, por outras palavras, a trans- formação do psíquico em noético. A exteriorização e a comunicabilidade são uma só e mesma coisa, porque nada mais são do que a elevação de uma parte da nossa vida ao 30 logos do discurso. De qualquer modo, a solidão da vida é aí iluminada por um momento pela luz comum do discurso. Significação como "Sentido" e "Referência" Nas duas secções precedentes, a dialéctica de evento e significação foi desenvolvida como uma dialéctica interior da significação do discurso. Significar é o que o locutor faz, mas é também o que a frase faz. A significação da enunciação - na acepção do conteúdo proposicional - é o lado "objectivo" deste significado. O significado do locutor - no tríplice sen- tido da auto-referência da frase, da dimensão ilocucionária do acto linguístico e da intenção de reconhecimento pelo ouvinte - é o lado "subjectivo" da significação. Esta dialética subjectiva-objectiva não esgota o signifi- cado e, por conseguinte, não exaure a estrutura do discurso. O lado "objectivo" do discurso pode tomar-se de dois modos diferentes. Podemos significar o "quê" do discurso ou o "acerca do quê" do discurso. O "quê" do discurso é o seu "sentido", o "acerca de quê" é a sua referência. A distinção entre o sentido e referência foi introduzida na filosofia moder- I na por Gottlob Frege, no seu famoso artigo" Üeber Sinn und Bedeutung" que se traduziu para inglês como "On sense and Reference (6). É uma distinção que se pode conectar directa- mente com a nossa distinção inicial entre semiótica e semân- tica. Só o nível da frase nos permite distinguir o que é dito e aquilo acerca de que se diz. No sistema da língua, digamos enquanto léxico, não existe o problema da referência; os sig- nos apenas se referem a outros signos dentro do sistema. Com a frase, porém, a linguagem dirige-se para além dela. Enquanto o sentido é imanente ao discurso, e objectivo no sentido de ideal, a referência exprime o movimento em que a linguagem se transcende a si mesma. Por outras palavras, o sentido correlaciona a função de identificação e a função pre- dicativa no interior da frase, e a referência relaciona a lingua- gem ao mundo. É um outro nome para a pretensão do dis- curso a ser verdadeiro. O facto decisivo, aqui, é que a linguagem só tem uma referência quando se usa. Como Strawson mostrou, na sua famosa resposta ao artigo de Russell, "On Denoting", a 31 mesma frase, isto é, o mesmo sentido, pode ou não referir-se, dependendo das circunstâncias ou da situação de um acto de discurso (7). Nenhuma característica interna, independente do uso de uma frase, constitui um critério fidedigno da denota- ção. Por conseguinte, a dialéctica de sentido e referência não é de todo irrelacionada com a dialéctica anterior de evento e significação. Referir é o uso que a frase faz ll1!ma ~erta situa- ção e em conformidade com um certo uso. E, po~s, o que o locutor faz quando aplica as suas palavras à reahdade. Que alguém se refira a algo num certo tempo é um acontecimento, um evento linguístico. Mas este evento recebe a sua estrutura do significado enquanto sentido. O locutor re.fere-se a al?o n~ base de ou mediante a estrutura ideal do sentido. O sentido e, por assim dizer, atravessado pela intenção de ref~rê~cia ~o locutor. Deste modo, a dialéctica de evento e significação recebe um novo desenvolvimento da dialéctica do sentido e da referência. Mas a dialéctica de sentido e referência é tão original que pode tomar-se como uma directriz independente. S.Óesta dialéctica diz alguma coisa acerca da relação entre a lingua- gem e a condição ontológica do ser-no-mundo. A linguagem não é um mundo próprio. Nem sequer é um mundo. Mas, porque estamos no mundo, porque somos afectados por situações e porque nos orientamos mediante a compreenção em tais situações, temos algo a dizer, temos a experiência para trazer à linguagem. A noção de trazer a experiência é a condição ontológica da referência, uma condição ontológica reflectida dentro da linguagem como um postulado que não tem justificação ima- nente; o postulado segundo o qual pressupomos a existência de coisas singulares que identificamos. Pressupomos que algo deve existir para que algo se possa identificar. A postulação da existência como base de identificação é o que Frege, em última análise, quis dizer quando afirmou que não nos satis- fazemos apenas com o sentido, mas pressupomos uma refe- rência (8). E esta postulação é tão necessária que devemos acrescentar uma prescrição específica, se desejamos referir- -nos a entidades ficcionais como as personalidades de uma novela ou de uma peça de teatro. Esta regra adicional de sus- pensão confirma que a função de identificação singular suscita de um modo originário uma questão legítima de existência. 32 Mas .este apontar intencional para o extralinguístico basear-se-Ia num mero postulado e permaneceria um salto discutível para além da linguagem se a exteriorização não f~s~e a contrapartida de um movimento prévio e mais origi- nano, que começa na experiência do ser-no-mundo e avança desde a s~a condição ontológica para a sua expressão na lin- guagem. E porque existe primeiramente algo a dizer, porque temos um~ experiência a trazer à linguagem que, inversa- ?Ien~e, a lmgua~em não se dirige apenas para significados ideais, mas tambem se refere ao que é. Como disse, esta dialéctica é tão fundamental e tão ori- ginária que. ela poderia dominar toda a teoria da linguagem enq~an~o .discurso e fornecer-lhe mesmo uma reformulação d~ dialéctica nuclear de evento e significação. Se a linguagem nao ~os~~fu~damentalmente referencial, seria ou poderia ela ser significativa? Como poderíamos saber que um signo está em vez de ~lguma coisa, se não recebesse a sua direcção para algo em cujo lugar está em virtude do seu uso no discurso? Por fim, a semiótica aparece como uma mera abstracção da semân~ica. E a definição semiótica do signo enquanto dife- rença I~t~r~a entre o significante e o significado pressupõe a sua definição semântica como referência à coisa, em cujo lugar está. Assim, a definição mais concreta de semântica é a teoria que relaciona a constituição interna ou imanente do sentido à intenção exterior ou transcendente da referência. A significação universal do problema da referência é tão am~la que mesmo o significado do locutor se tem de exprimir na linguagem da referência enquanto auto-referência do dis- curso, isto é, como a designação do seu locutor pela estrutura do discurso. O discurso refere-se ao seu locutor ao mesmo tempo que se refere ao mundo. Esta correlação não é fortuita porque ultimamente é o locutor que, ao falar, se refere ao mundo. O discurso na acção e no uso tem uma referência retrógrada ou anterretrógrada ao locutor e ao mundo. Tal é o critério último da linguagem como discurso. Algumas Implicações Hermenêuticas ~ possível, mesmo no estádio inicial da nossa indagação, antecipar algumas implicações da análise precedente para a nossa teona da mterpretação. 33 Dizem sobretudo respeito ao uso e ao abuso do conceito de evento linguístico na tradição romântica da hermenêutica. A hermenêutica, tal como deriva de Schleiermacher e Dilthey, tendeu a identificar a interpretação com a categoria de "com- preensão" e a definir a compreensão como o reconhecimento da intenção de um autor do ponto de vista dos endereçadosprimitivos, na situação original do discurso. A prioridade concedida à intenção do autor e ao auditó- rio original tendia, por seu turno, a fazer do diálogo o modelo de toda a situação de compreensão, por conseguinte, a impor o enquadramento da intersubjectividade sobre a hermenêutica. Compreender um texto é, pois, apenas um caso particular da situação dialógica em que alguém responde a mais alguém. Esta concepção psicologizante da hermenêutica teve uma grande influência na teologia cristã. Alimentou as teologias da Palavra-Evento, para as quais o acontecimento por exce- lência é um evento linguístico e este evento linguístico é o querigma (kerygma), a pregação do Evangelho. O significado do evento original dá testemunho de si mesmo no aconteci- mento presente pelo qual o aplicamos a nós mesmos num acto de fé. Esforço-me aqui por impugnar os pressupostos desta hermenêutica a partir de uma filosofia do discurso a fim de libertar a hermenêutica dos seus preconceitos psicologizantes e existenciais. Mas o meu objectivo não é opor a esta herrne- nêutica, baseada na categoria do envento linguístico, uma hermenêutica que seria apenas o seu oposto, como seria uma análise estrutural do conteúdo proposicional dos textos. Uma tal hermenêutica sofreria da mesma unilateralidade não dia- lógica. Os pressupostos de uma hermenêutica psicologizante - como os da sua hermenêutica antagónica - provêm de um duplo mal-entendido que leva, por sua vez, a atribuir uma tarefa errónea à interpretação, uma tarefa que se exprime bem no famoso slógan "compreender um autor melhor do que ele a si mesmo se compreendeu". Por conseguinte, o que está em jogo nesta discussão é a definição correcta da tarefa hermenêutica. Não pretendo dizer que o presente ensaio baste por si mesmo para eliminar todo o mal-entendido. Sem uma inves- tigação específica da escrita, uma teoria do discurso ainda 34 não é uma teoria do texto. Mas . um texto escrito é uma f ' se Co~segUIrmos mostrar que forma de inscrição, então orma de. d:scurso, discurso sob a dIScurso são também d' as condIçoes da possibilidade do d· - as o texto CISCUssaodestas condições .: orno mostrou a nossa está ~ancelada, antes se e~c~ noçao de ev~nto linguístico não polandades dialécticas co d ntra submetIda a uma série de e, si?Dificação e de sentid~ ee~:d~s ~o dU~lo título de evento lécticas permitem-nos antecí erencIa. TaIS polaridades dia- e diálogo não se devem exct~r que os conceitos de intenção ~ntes libertar-se da unilater~l?~r:a dhermenêutica, mas devem tico de discurso. I a e e um conceito não dialéc- Deste modo, . , o presente ensaio' _ ~ serre, pelo menos verdadeir ' e, se na? o cerne de toda tido forte da palavra. amente o ensaio inicial, no sen- 35