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Aluno: Davi de Aguiar Portela (0001418) Medicina – 4º Período APG IV – S11 P01 Síndrome do Abdome Agudo Abdome Agudo Ele é definido como toda condição dolorosa de início súbito ou de evolução progressiva localizada no abdome que requer decisão terapêutica rápida. A sintomatologia do abdome agudo pode decorrer de alguma doença em qualquer uma de suas vísceras. Ao avaliar o paciente, o médico deve ter em mente duas perguntas: o “Qual o diagnostico etiológico?” o “O tratamento será clinico ou cirúrgico?” Anatomia do abdome: o Retroperitônio: rins, pâncreas, duodeno, músculo psoas, ureteres, vasos ilíacos, aorta e veia cava ETIOLOGIA Para facilitar o diagnóstico etiológico, deve-se enquadrar o paciente em uma das cinco síndromes agudas: o Inflamatório – peritonite, apendicite, colecistite, pancreatite, colangite; o Perfurativo – perfuração de vísceras, ulceras pépticas, diverticulites perfuradas; o Obstrutivo –obstrução do intestino delgado, obstrução de cólon; o Vascular – isquemia mesentérica; o Hemorrágico – ruptura de aneurisma aórtico, gravidez ectópica rota. Além dessas causas, há também causas endócrinas, metabólicas, hematológicas, por toxinas ou drogas, cardíacas, pulmonares, esofágicas, geniturinárias, infecciosas e neurogênicas. Peritonite Inflamação do peritônio, ocasionada por infecção bacteriana (gram negativas e anaeróbicas) ou por irritantes químicos. Ela pode ser: o Localizada: exsudato e com paralisia local do intestino, por causa do bloqueio de aderências, para evitar a disseminação da inflamação, que pode evoluir para abcessos, áreas de coleção de puz bloqueando; o Difusa: inflamação de toda cavidade abdominal, visceral e parietal, com dor generalizada, diminuição da motilidade do TGI, por exemplo em ulcera duodenal perfurada FISIOPATOLOGIA DA DOR ABDOMINAL Os nociceptores são terminais de axônios livres que tem a função de receber os estímulos dolorosos, os quais são conduzidos para as fibras nervosas cerebrais, com a finalidade de proteção e manutenção da integridade do organismo. Dor Visceral O peritônio visceral e os órgãos abdominais são inervados por fibras tipo C não mielinizadas, que encaminham para o SNA a uma velocidade de 0,5 a 2m/s (condução lenta). Essas fibras são sensíveis a distensão, isquemia, tração, compressão e torção, conduzindo uma dor difusa, de início lento e duração prolongada. Ela tem um componente emocional capaz de produzir manifestações sistêmicas de resposta do nervo Vago: o Náuseas; o Sudorese; o Diminuição da PA; o Diminuição da FC. Essa dor é percebida na linha mediana e recebe o nome de dor visceral, sendo mal localizada e difusa. Dor Somática O peritônio parietal e a raiz do mesentério apresentam maior quantidade de nociceptores e são inervados por fibras tipo A delta mielinizadas, que conduzem estímulos doloroso a uma velocidade de 12 a 30m/s (via da dor rápida e aguda). Essas terminações dolorosas são estimuladas por diversos agentes irritantes, tais como: o Conteúdo gastrointestinal; o Urina; o Bile; o Suco pancreático; o Sangue, o Pus; o Outras substancias – bradicinina, serotonina, histamina, prostaglandina e enzimas proteolíticas. Elas conduzem uma dor aguda, bem localizada, de curta duração e com componente emocional fraco. Essa dor piora com movimento de tosse e pode acarretar contratura muscular. Dor Referida Essa dor é percebida em local diferente do estimulo que a gerou. Um estimulo gerado em um nociceptor da serosa abdominal pode provocar contratura reflexa da musculatura do dermátomo correspondente, que apresenta inervação comum ou mesma origem embrionária. Um exemplo clássico é a dor referida no ombro resultante de processos patológicos que afetam a vesícula ou o diafragma. Figura 1- Esquema neuroanatômico da dor referida resultante de inflamação na vesícula (Fonte: Klein H., 1995). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dor Abdominal Não existe abdome agudo sem dor. Para facilitar a avaliação da dor, deve-se pensar anatomicamente as relações estruturais dos órgãos: Figura 2- Áreas de superficie corporais da dor referida provenientes de diversos orgãos viscerais (Fonte: Guyton, 1989). Além de compreender a anatomia macroscópica, é necessário compreender também a inervação das estruturas e as vias de transmissão dos impulsos dolorosos. Náuseas e Vômitos As náuseas geralmente precedem os vômitos, sendo as principais causas: Obstrução dos órgãos de musculatura lisa; Irritação intensa dos nervos do peritônio; Toxemia Possível causa do Abdome Agudo Característica do vômito Apendicite e colecistite Surge após a dor Pancreatite aguda Frequente, intenso e persistente, surgindo com o início da dor. Obstrução aguda do ureter e do colédoco Surge simultaneamente a dor e também é frequente. Obstrução intestinal Surge mais tardiamente, sendo mais distal quanto mais longe for o local da obstrução. Febre Temperatura axilar superior a 37,5º pode estar presente em processos inflamatórios. O relato de calafrio pode significar inflamação bacteriana achado comum nos casos de colangite e peritonite. A elevação da temperatura retal não é especifica de nenhuma doença, podendo ocorrer me processos inflamatórios na pelve. Anorexia Comum em quadros de abdome agudo inflamatório, quando precedente de início súbito. Função Intestinal Possível causa associada Sintomas Fecaloma ou volvo do sigmoide. Longo período de constipação intestinal. Obstrução intestinal. Constipação intestinal com parada completa de eliminação de gases e fezes Associada a dor abdominal em cólica e vômitos Abdome agudo inflamatório Diarreia é muito frequente Invaginação intestinal ou neoplasia de cólon Eliminação de sangue misturado ou não a fezes Ciclo Menstrual Nas mulheres em fase reprodutiva, a dor abdominal deve ser correlacionada com ciclo menstrual. O médico deve interrogar sobre: o Irregularidades nos últimos três ciclos; o Data da última menstruação; o Presença de dispareunia, o Características do corrimento vaginal; o Contato sexual, o Sangramentos – sangue coagulável ou não. As doenças que estão relacionadas com o ciclo menstrual e podem causar abdome agudo são: Gravidez ectópica rota; Ovulação dolorosa; Endometriose; Anexites agudas; Peri-hepatite gonocócica (Síndrome de Fits-Hugh-Curtis). Transtornos de Micção É importante investigar a presença de transtornos da micção, como: o Alguria; o Disuria; o Polaciuria; o Retenção urinaria; o Alteração no aspecto da urina; Dentre as várias afecções primitivas dos órgãos urogenitais, as causas comuns de abdome agudo são: Cólica nefrítica; Pielonefrite aguda; Cistite; Retenção urinaria aguda. AVALIAÇÃO CLÍNICA Anamnese Para orientar as medidas de suporte adequadas, é necessária uma avaliação clínica bem detalhada do paciente. Um dos principais motivos de erro de diagnóstico é o rodizio de médicos nos serviços de urgência. Na abordagem inicial, o médico deve fazer uma identificação bem detalhada do paciente, pois elementos como idade, sexo, raça, profissão, naturalidade, procedência e condição social podem dar muitas informações. Causas de abdome agudo Fatores relacionados Neoplasias de cólon e doenças diverticulares. Aumentam de frequência com a idade Apendicite aguda Predomina na adolescência e em adultos jovens, sendo mais comum me brancos. Gestação tubária e doença inflamatória pélvica Especificas do sexo feminino Ulcera perfurada Mais frequente no sexo masculino Cólica saturnina Característica de profissional que trabalha com chumbo Doença de Chagas e hidatiose Distribuição geográfica própria A avaliação da face do paciente pode oferecer informaçõesimportantes: o Paciente com cólica: encontra-se agitado, impaciente, contorcendo-se no leito; o Paciente com irritação peritoneal: encontra-se imóvel, assumindo posições antálgicas, procurando proteger o abdome. Palidez cutânea e sudorese relacionam-se com hemorragia aguda. Rubor facial está presente em indivíduos com síndrome inflamatória. Exame Físico Para uma correta avaliação diagnostica e conduta, é necessário relacionar muito bem a anamnese com o exame físico, que tem quatro objetivos: 1. Identificar sinais clínicos específicos, para demandar a medida suportativa do paciente (soroterapia, transfusão, analgesia etc.); 2. Identificar alterações objetivas e avaliar sua localização, extensão e correlacionar com as queixas do paciente, com a finalidade de definir um diagnostico etiológico da dor; 3. Colher subsídios quanto a indicação e a urgência do tratamento cirúrgico; 4. Desvendar doenças não diretamente relacionadas com o abdome agudo, mas que podem contraindicar possível tratamento cirúrgico ou exigir precauções adicionais antes e durante a operação. Tipos de Abdome Agudo ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO O processo se inicia com a obstrução mecânica de vísceras ocas normais ou anatomicamente alteradas, originando processos inflamatórios. Esse processo inflamatório tem tendencia a progredir para uma infecção da parede da víscera que compromete a sua vascularização. O início é insidioso, com sintomas vagais: o Dor abdominal incaracterística; o Náuseas; o Vômitos; o Anorexia; o Alteração do trânsito intestinal. Com a evolução do quadro clinico, pode ocorrer o acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão acometido, tornando a dor localizada. É comum a presença de massas no abdome provenientes de reações do peritônio à agressão, na tentativa de preservar o restante da cavidade. Características da dor Colecistite crônica Dor inicialmente visceral, sendo epigástrica. Posteriormente, dor somática mais intensa e localizada no quadrante hipocôndrio direito, podendo irradiar para regiões lombar direita e escapular direita. Apendicite aguda Inicia com dor visceral, sendo uma dor epigástrica ou periumbilical Posteriormente, dor somática no quadrante inferior esquerdo Pancreatite aguda Dor de início súbito, contínua, localizada em epigástrio, hipocôndrios ou região umbilical. A dor tipicamente é em faixa, com irradiação dorsal, acompanhada de náuseas e vômito frequentes, além de distensão abdominal. Divertículos intestinais Dor em quadrante inferior esquerdo, febre e constipação intestinal. Náuseas e vômito não são proeminentes, mas há distensão abdominal leve. Pode haver disúria e polaciúria devido à proximidade com a bexiga. Leucocitose é comum ABDOME AGUDO PERFURATIVO A dor tem início súbito, geralmente dramático, começando de forma intensa e rapidamente atingido o seu pico. O problema advém do extravasamento de secreção contida no trato gastrointestinal para a cavidade peritoneal, causando uma peritonite. A dor tipo somática vem da irritação química do peritônio, e quanto menor o pH, maior é a irritação. O exame clínico demonstra: o Silencio abdominal; o Rigidez muscular – “abdome em tábua”; o Temperatura normal; o Náuseas e vômitos associados. As perfurações costumam ser divididas em altas (gastroduodenal e delgado proximal) e baixas (delgado distal e cólon), em que a dor é mais discreta e a irritação peritoneal é menor nas perfurações baixas Características da dor Úlcera péptica Inicialmente, a dor se localiza no epigástrio, seguida de dor abdominal difusa. A dor pode simular apendicite aguda à medida que migra para o quadrante inferior direito, refletindo o escoamento do líquido extravasado pela goteira parietocólica. O paciente procura manter-se imóvel, com restrição respiratória, devido à irritação peritoneal Perfurações do intestino delgado Perfurações do delgado proximal comportam- se como as gastroduodenais, com dor abdominal intensa e grande irritação peritoneal Perfurações do intestino grosso Perfurações do intestino grosso traduzem manifestações clínicas e peritoneais intensas, com evolução rápida para peritonite fecal, devido ao conteúdo altamente infectado desse segmento ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO O sintoma cardinal do abdome agudo obstrutivo é a cólica intestinal, demonstrando o esforço das alças para vencer o obstáculo que está impedindo o trânsito normal. Características da dor Nas obstruções de delgado A dor é do tipo visceral e localizada em região periumbilical. o Brídas e aderências: principal causa de obstrução mecânica do delgado (75% dos casos); o Laparotomia: constituí a maior causa de formação das aderências peritoneais. o Hérnias parietais: vêm em seguida como causadoras de obstrução intestinal. Nas obstruções de cólon A dor é hipogástrica, intercalada com períodos de dor no início da evolução. o Câncer colorretal; o Diverticulite complicada; o Vólvulo; o Fecaloma; o Corpo estranho Os episódios de vômitos surgem após a crise de dor, inicialmente reflexos, e são progressivos na tentativa de aliviar a distensão das alças obstruídas Peristaltismo aumentado e exacerbado, chamado de peristaltismo de luta, manifestando-se na ausculta por uma cascata de ruídos. Quanto mais alta a obstrução, mais precoces, frequentes e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. Com o progredir da doença, ocorre o comprometimento da vascularização do segmento obstruído, surgindo irritação do peritônio parietal, manifesta por dor somática, contínua, e contratura da parede abdominal, o que geralmente indica sofrimento de alça. Na abordagem inicial, é importante responder três questões: o A obstrução é parcial ou não; o É alta ou baixa; o Há necrose ou não. O tratamento inicialmente é clínico, com descompressão gástrica e do intestino proximal através de sonda nasogástríca, hidratação venosa vigorosa e antibiótico de largo espectro. ABDOME AGUDO VASCULAR A fisiopatologia envolve uma lesão isquêmica inicial, decorrente da redução do fluxo arterial ou venoso (o que leva a lesões precoces na mucosa, tornando-se posteriormente transmurais), perpetuada pelo vasoespasmo reflexo da circulação mesentérica e completada pela lesão de reperfusão (principalmente pela formação e ação de radicais livres de oxigênio, que desencadeiam a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, podendo evoluir para falência de múltiplos órgãos). Isquemia mesentérica A dor abdominal é o sintoma inicial, geralmente muito intensa, fora de proporções com os achados clínicos, que são ínespecíficos. A chave para o diagnóstico precoce é valorizar os sinais, ainda que inespecíficos, em pacientes com fatores de risco para isquemia mesentérica aguda: o Maiores de 60 anos; o Portadores de doença aterosclerótica, infarto agudo do miocárdio recente, arritmias cardíacas, em especial a fibrílação atrial; o Passado de eventos tromboembólicos em outros segmentos do organismo; o Situações de baixo débito cardíaco como insuficíência cardíaca congestiva; o Estados hiperdinâmicos com má perfusão periférica, como na sepse; o Uso de vasoconstritores; o Uso de nutrição enteral, pelo aumento não regulável do consumo de oxigênio no intestino. Passada a fase inicial de dor abdominal, vem a fase intermediária, caracterizada por peritonite, que frequentemente confunde o quadro clínico com outras causas de abdome agudo inflamatório. Na terceira fase, acentuam-se os sinais abdominais, surgindo a instabilidade hemodinâmica, o choque refratário e o óbito. Suas causas são: o Embolia da artéria mesentérica superior; o Trombose da artéria mesentérica superior; o Trombose da veia mesentérica superior; o lsquemia mesentérica aguda não oclusiva; o Colite isquêmica Característicasda dor ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO O abdome agudo hemorrágico é mais frequentemente associado a: o Traumas; o Pós-operatório; o Complicações pós-procedimentos (biopsias hepáticas, por exemplo); o Ruptura de aneurisma de aorta abdominal – idosos de sexo masculino; o Gravidez ectópica rota – mulher em idade fértil. O quadro clínico apresentado é normalmente: o Dor súbita; o Rápido comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia acentuada o Não se encontra contratura muscular no hemoperitoneo, visto que o sangue não é tão irritante para a serosa peritoneal Características da dor Ruptura de aneurisma de aorta Dor abdominal difusa, intensa, associada a hipotensão e massa abdominal pulsátil. Antes da ruptura, o aneurisma passa por um processo de distensão aguda (dito expansão),o que leva ao estiramento do plexo nervoso perivascular, gerando dor intensa nos flancos ou no dorso. Referências: 1. DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo Friche. Gastroenterologia essencial. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 1006 p. 2. FRAZÃO, Victor Hugo Alvim et al. Abdome Agudo Perfurativo No Hospital Municipal Djalma Marques. Revista de Patologia do Tocantins, v. 6, n. 2, p. 26-30, 2019. 3. PENNER, Robert M. Evaluation of the adult with abdominal pain. UpToDate 2021.
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