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ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS

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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA DOENÇA CARDIOVASCULAR 
 
As doenças cardiovasculares (DCV) constituem as causas mais comuns 
de morbidade e mortalidade no mundo, dentre elas destacam-se a cardiopatia 
isquêmica, os acidentes vasculares cerebrais e a hipertensão arterial. De 
acordo com a OMS, cerca de 17,5 milhões de pessoas no mundo morrem 
todos os anos devido às DCV. 
 
- Início século XX: doenças cardiovasculares (DCV) – menos de 10% das 
mortes no mundo; 
 
- Peste e fome: predominância de desnutrição e doenças infecciosas (DCV < 
10%) 
 
- Pandemias: aperfeiçoamentos em nutrição e saúde pública diminuindo as 
taxas de mortalidade (DCV – 10 a 35%) 
 
- Doenças provocadas pelo homem e degenerativas: aumento da ingestão 
calórica e gordurosa e diminuição da atividade física (DCV – 35 a 65%) 
 
- Doenças degenerativas tardias: as DCV e o câncer são as principais causas 
de morbidade e mortalidade; melhor tratamento e esforços preventivos ajudam 
a evitar mortes (DCV – 50%) 
 
- Atualmente – 20 a 30% (mortalidade por DAC) 
 
A tabela apresenta dados de óbitos da população brasileira decorrente 
das DCV entre os anos de 2010 e 2013. 
 
 
 
A doença arterial coronariana (DAC) tem sido associada a diversos 
fatores de risco, como: tabagismo, diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial 
sistêmica (HAS), dislipidemias, sedentarismo e obesidade. 
 O agrupamento de fatores de risco que favorecem o desenvolvimento de 
doenças cardiovasculares é chamado de SÍNDROME METABÓLICA, a qual é 
caracterizada pela presença de três ou mais das seguintes alterações: 
 - obesidade central – circunferência abdominal > 80cm (mulheres) e > 
94cm (homens) 
 - pressão arterial alta – ≥ 130/85mmHg 
 - glicemia de jejum > 100mg/dL 
 - triglicérides > 150mg/dL 
 - lipoproteína de densidade alta (HDL) – colesterol baixo < 40mg/dL 
(homens) e < 50mg/dL (mulheres) 
 
As doenças cardiovasculares são responsáveis por mais de 33% dos 
óbitos e ainda representam a principal causa de gastos em assistência medica. 
Os dados a seguir são referentes as mortes ocorridas no Brasil no ano de 2014 
de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) decorrente de 
doenças cardiovasculares. 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES DE RISCO CORONARIANO 
 
Fator de risco coronariano pode ser definido como a condição ou o 
problema de saúde que aumenta a chance de desenvolver alguma doença 
cardiovascular. 
Alguns fatores de risco podem ser evitados e são chamados de 
“modificáveis”, outros fatores são impossíveis de serem evitados e são 
chamados de “não modificáveis”. 
 Fatores modificáveis: dislipidemia, tabagismo, obesidade, diabetes 
Mellitus, sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica, menopausa. 
 Fatores não modificáveis: idade, sexo e hereditariedade. 
 
 
 
1) Fatores modificáveis: 
 
1.1) Dislipidemia: 
 
A dislipidemia, também conhecida como hiperlipidemia, é o aumento dos 
níveis de lipídeos ou lipoproteínas no sangue. 
Os lipídeos desempenham um importante papel metabólico em nosso 
organismo, tendo como funções principais a formação e a manutenção das 
membranas celulares, a síntese dos hormônios esteróides e da vitamina D, a 
liberação e/ou armazenamento de energia, além de possibilitar a solubilidade 
dos ésteres de colesterol e dos triglicerídeos no interior das lipoproteínas. 
O colesterol total é composto pelo HDL (high-density lipoprotein ou 
lipoproteína de alta densidade), pelo LDL (low-density lipoprotein ou 
lipoproteína de baixa densidade) e pelos triglicerídeos. Sendo assim, variações 
nos valores de LDL, HDL e dos triglicerídeos irão afetar o colesterol total que 
tem a finalidade de mensurar o risco cardiovascular. 
O colesterol é um lipídeo transportado no sangue em combinação 
química com certas proteínas por isso são classificados em lipoproteínas. Os 
complexos lipoproteicos com grande quantidade de lipídeos e pequena 
quantidade de proteínas são menos densos. E os que contem grande 
quantidade de proteína e pequena quantidade de lipídeos são os mais densos. 
Sendo assim, Indivíduos saudáveis, temos: 
- VLDL - densidade muito baixa 
- LDL – densidade baixa – devem ser inferiores a 159 mg/dl. 
- HDL – densidade alta – devem ser superiores a 40 mg/dl. 
 Indivíduos com 2 ou mais fatores de risco – LDL < 130 mg/dl 
 Indivíduos ateroscleróticos ou diabéticos – LDL < 100 mg/dl 
HDL – tem efeito protetor do vaso sanguíneo, pois remove o colesterol das 
paredes das artérias para ser novamente metabolizado pelo fígado. Além 
disso, tem ação anti-inflamatória e ação inibitória da agregação plaquetária. 
 
Complicação: aterogênese – formação de placas de ateromas 
 - a cada 1% de elevação no colesterol, o risco para DAC aumenta de 1 a 
2 % 
 - a redução de cada mg/dL no HDL, o risco para DAC aumenta em 2 a 
3% 
 
Tratamento: mudanças nos hábitos de vida (alterações nutricionais, 
abolição do tabagismo e exercícios aeróbios) 
 
Benefícios dos exercícios: redução dos ricos de trombose; aumento do 
HDL e redução do VLDL e LDL; afeta a distribuição e a lipólise no tecido 
adiposo; 
 
Tabela de valores de referência para o colesterol (exame de 
sangue) 
Colesterol Total Adultos maiores de 20 anos Crianças e adolescentes 
Desejável menor que 200 mg/dl menor que 150 mg/dl 
Máximo entre 200-239 mg/dl entre 150-169 mg/dl 
Alto maior que 240 mg/dl maior que 170 mg/dl 
Colesterol LDL (ruim) Adultos maiores de 20 anos Crianças e adolescentes 
Ótimo menor que 100 mg/dl --- 
Desejável entre 100-129 mg/dl menor que 100 mg/dl 
Máximo entre 130-159 mg/dl entre 100-129 mg/dl 
Alto entre 160-189 mg/dl maior que 130 mg/dl 
Muito alto maior que 190 mg/dl --- 
Colesterol HDL (bom) Adultos maiores de 20 anos Crianças e adolescentes 
Desejável maior que 60 mg/dl maior que 45 mg/dl 
Baixo menor que 40 mg/dl --- 
 
Triglicerídeos Adultos maiores de 20 anos Crianças e adolescentes 
Desejável menor que 150 mg/dl menor que 100 mg/dl 
Máximo entre 150-200 mg/dl entre 100-129 mg/dl 
Alto entre 200-499 mg/dl maior que 130 mg/dl 
Muito alto maior que 500 mg/dl --- 
 
 
1.2) Tabagismo: 
É a mais importante causa isolada de morte, dentro das que podem ser 
caracterizadas como modificáveis. Das 4.500 substâncias químicas liberadas 
pela queima do cigarro, a nicotina é a principal substância psicoativa, e 
comprovadamente causa dependência. A nicotina chega ao cérebro em 5 a 10 
segundos e em 1 minuto é ali absorvida, liberada após 40 a 60 minutos. No 
sistema cardiovascular a nicotina provoca alterações hemodinâmicas como: 
aumento da FC, aumento do DC e aumento do trabalho do coração. 
 
Além disso, ocorre também: 
- vasoconstrição periférica promovendo aumento da pressão arterial 
sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD); 
- alterações do mecanismo de coagulação, aumento da adesividade e 
agregação plaquetária e a viscosidade sanguínea, favorecendo a ocorrência de 
trombose intravascular, principalmente nas áreas correspondentes a placa de 
ateroma (a participação do tabaco na formação da placa de ateroma 
certamente está relacionada com lesões de células endoteliais provocadas pela 
nicotina); 
- a formação da carboxihemoglobina, diminui a taxa de saturação arterial 
de oxigênio, provocando lesões do endotélio e da camada subendotelial, 
proporcionando uma maior permeabilidade dos lipídeos. 
 
O Brasil foi o primeiro país a reduzir drasticamente o número de 
fumantes. Além de pesquisas cientificas apontando a relação entre o 
tabagismo e diversas doenças, houve no Brasil, em 1986, a elaboração do 
Programa Nacional de Combate ao Fumo que ganhou forças em 2008 quando 
José Serra, então governador de São Paulo, enviou um projeto de lei que 
proibia o fumo em ambientes fechados. 
Estima-se que haja 1 bilhão de fumantes no mundo e que entre 2025 e 
2030, sete milhões de pessoas no mundo morrerão devido ao uso de tabaco. 
 
 
1.3) Sobrepeso e Obesidade: 
É definida como o acúmulo excessivo de gordura corpórea, suficiente 
para colocara saúde em risco. 
 
Índice de Massa Corpórea (IMC): 
- peso em Kg dividido pelo quadrado da altura 
 
IMC = P 
 A2 
 
CATEGORIA IMC 
Abaixo do peso 
Peso normal 
Sobrepeso 
Obeso 
Severamente obeso 
< 20 
20 – 24,9 
25 – 29,9 
30 – 39,9 
≥ 40 
 
Risco de doença arterial coronariana em relação ao IMC 
IMC (Kg/m2) 20 – 25 25 – 30 30 – 35 35 – 40 > 40 
Classe 0 I II III IV 
Risco Cardiovascular Muito baixo Baixo Moderado Alto Muito alto 
 
Padrões de obesidade: 
- hipertrófica (aumento no tamanho da célula adiposa) 
- hiperplásica (aumento no número de células adiposas) 
 
Quanto à distribuição: 
- ginóide ou periférica 
- andróide ou central 
 
Principais alterações na obesidade: 
- insuficiência cardíaca direita desencadeada pela apneia do sono 
- renais: maior reabsorção de sódio 
 
O exercício e a obesidade: 
- reduz a lipogênese 
- reduz células adiposas 
- desloca ácidos graxos livres e glicose para o tecido muscular 
 
Efeitos do exercício: 
- perda de peso moderado 
- maior oxidação de ácidos graxos 
- aumento do HDL e redução do LDL 
 
Tipos de exercícios: 
Ao prescrever atividade física para o obeso, deve-se ter em mente a 
dificuldade e a falta de aptidão física inicial apresentadas por estes pacientes. 
- programação individualizada 
- exercícios aeróbicos e de resistência 
- 50 min – 3 a 5 vezes por semana, intensidade leve a moderada 
(benefícios sobre a DAC) 
- início – mínimo de150min/semana em intensidade moderada e progrida 
gradativamente para 200 a 300min/semana (redução do peso) 
 
1.4) Diabetes Mellitus: 
Distúrbio metabólico caracterizado pela hiperglicemia, ou seja, pelo 
aumento dos níveis glicêmicos por deficiência na produção ou resistência à 
insulina. 
O pâncreas endócrino é formado por células, denominadas ilhotas de 
Langerhans, as quais são constituídas pelas células β que são responsáveis 
pela produção de insulina e pelas células α que secretam glucagon. 
A insulina e o glucagon têm efeitos regulatórios opostos na homeostase 
da glicose. Durante o estado de jejum, os níveis baixos de insulina e altos de 
glucagon facilitam a gliconeogênese hepática e a glicogenólise, evitando assim 
a hipoglicemia. Após uma refeição, os níveis de insulina aumentam e os níveis 
de glucagon caem em resposta à carga de glicose. A insulina promove a 
captação de glicose e a uti lização da mesma nos tecidos. Os valores da glicose 
sanguínea são normalmente mantidos em 70 a 120 mg/dL. 
 
Classificação atual: 
- baseada na etiologia e não no tipo de tratamento, sendo assim, os 
termos Diabetes mellitus insulinodependente e Diabetes mellitus 
insulinoindependente não são mais utilizados. 
- Classificação da OMS e da Associação Americana de Diabetes (ADA) 
inclui quatro classes clínicas: 
1) DM tipo 1: caracterizada pela destruição das células β e uma 
deficiência absoluta de insulina. É responsável por aproximadamente 5% a 
10% de todos os casos de DM e é diagnosticado nos pacientes mais jovens 
que 20 anos de idade 
2) DM tipo 2: causado pela combinação da resistência periférica à 
insulina e à resposta secretória inadequada das células β pancreáticas. 
Aproximadamente 85% a 90% dos pacientes diabéticos têm o DM2, e a grande 
maioria desses indivíduos é obeso. Os riscos de desenvolver esse o DM2 
aumentam com a idade, obesidade e a falta de exercícios físicos. O diagnóstico 
quase sempre é a partir dos 40 anos. 
3) Outros tipos específicos de DM 
4) DMG (gestacional) 
 
(OBS: Um dos sintomas bem definidos, presente na SÍNDROME METABÓLICA, é a resistência 
periférica a insulina, que consiste na incapacidade das células do organismo em transportar a 
glicose proveniente da degradação dos alimentos, especialmente carbohidratos, para seu 
interior, por não interação entre receptor das membranas celulares e a insulina, que é molécula 
responsável pelo transporte da glicose da circulação para o interior das células). 
 
 
Os procedimentos diagnósticos usados são a medida da glicose no soro ou 
plasma após jejum de 8 a 12 horas. 
 
 
 
Medidas de glicemia 
Categoria jejum 2h após 75g de glicose 
 (mg/dL) (mg/dL) 
Glicemia normal < 100 < 140 
Tolerância à glicose ≥ 100 - < 126 140 - < 200 
Diabetes mellitus ≥ 126 ≥ 200 
 Valores de glicemia plasmática. Diretriz da Sociedade Brasileira de 
Diabetes (2015-2016) 
 
Complicações mais frequentes do diabetes mellitus: 
- oftalmológicas (retinopatia) 
- renais: a proteinúria pode acarretar lesão glomerular e dos vasos, o 
que leva à insuficiência renal crônica e pode provocar hipertensão 
- neuropatias periféricas: caracterizadas por dor, fraqueza e a lterações 
dos reflexos 
- arteriopatias 
- hipoglicemia (glicemia < 50mg/dL) 
- cetoacidose (acidose metabólica) 
- pé diabético 
 
Adaptações fisiológicas ao exercício: 
- fontes de energia: 
Inicialmente há a utilização anaeróbica do glicogênio muscular 
Após ocorre produção hepática de glicose por via da glicogenólise e da 
gliconeogênese 
Atividade física moderada – utilização de carboidratos (supre cerca de 
50% da quantidade de energia necessária) 
Atividade física por tempo prolongado – ativação da lipase com 
consequente lipólise (utilização dos ácidos graxos do tecido adiposo) 
 
Efeitos do exercício físico regular em diabéticos: 
- redução da resistência à insulina 
- aumento da ação da insulina e dos hipoglicemiantes orais 
- melhora da captação de glicose no período pós-exercício 
- controle do peso corpóreo 
- auxilio na redução de riscos cardiovasculares 
- aumento do fluxo sanguíneo e da circulação nos membros inferiores, 
prevenindo, assim, aterosclerose 
- auxilio na redução de triglicérides e colesterol 
- redução da pressão arterial 
- redução da perda de massa óssea 
- melhora da sensação de bem-estar 
 
 Portanto, a prática de atividade física diminui a necessidade de insulina 
e do risco cardiovascular. 
 O aumento da resposta à insulina no músculo esquelético dura de 12 até 
24 horas após a prática de atividade física. Alguns estudos mostram que 
exercícios com maior duração e intensidade podem ter esta melhora à reposta 
à insulina até 72 horas. Portanto, a American Diabetes Association (ADA) 
recomenda que o indivíduo não fique mais que dois dias consecutivos sem a 
atividade física. 
 
 Orientações gerais sobre a prática de exercício físico no indivíduo 
diabético: 
 - indivíduos > 35 anos eletrocardiograma prévio 
 - sapatos apropriados e inspeção dos pés diariamente e após os 
exercícios 
 - horário regular, pois interfere nos níveis diários de glicemia 
 - recomendações da ADA: 
 *exercícios aeróbicos: para melhorar o controle glicêmico, 
manutenção de peso e redução do risco da DAC – 150min/semana de 
exercícios aeróbicos de moderada intensidade (40 a 60% do VO2 máx ou 70% 
da frequência cardíaca) 
 *perda de peso: exercícios aeróbicos moderados ou vigorosos – 
7h/semana 
 *exercícios resistidos: na ausência de contraindicações, realizar 3 
vezes/semana em grandes grupos musculares em três séries de 8 a 10 
repetições 
 - evitar atividade física quando a glicose sanguínea estiver > 300mg/dL 
 - realizar dieta apropriada, automonitorização da glicemia e ingestão 
hídrica adequada 
 
PREVENÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA 
Os estudos científicos conduzidos até o momento confirmam que as 
estratégias de prevenção primária e secundária de doença arterial coronariana 
resultam em redução significativa da mortalidade. 
A atividade física aeróbica regular desempenha um importante papel na 
prevenção primária e secundáriadas doenças cardiovasculares. O 
condicionamento físico aumenta a capacidade cardiovascular e diminui o 
consumo de oxigênio em qualquer nível de exercício, tanto em indivíduos 
aparentemente saudáveis quanto em portadores de doença arterial 
coronariana. 
A prevenção primária é caracterizada por um conjunto de medidas adotadas 
com intuito de evitar o aparecimento de alguma doença. Por exemplo, um 
indivíduo saudável, sem fator de risco para DCV que busca na prática regular 
de atividade física evitar a obesidade, as dislipidemias, a diabetes mellitus 
dentre outros fatores de risco para DCV. 
A prevenção secundária é feita com o objetivo de evitar a ocorrência de 
novos eventos cardiovasculares ou evitar complicações das doenças já 
existentes. Por exemplo, um homem obeso que pratica atividade física com o 
objetivo de evitar um novo infarto agudo do miocárdio. A prevenção secundária 
envolve mudanças comportamentais – como modificação dos hábitos 
alimentares, prática regular de atividade física – e tratamento das 
comorbidades já existentes.

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