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Julia Paris Malaco – UCT22 SP5 – tutoria Obesidade Obesidade é um estado de excesso de massa adiposa. A obesidade, definida como o índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 30 kg/m2, é uma doença metabólica crônica, de difícil tratamento. O método mais usado para avaliar a obesidade é o índice de massa corporal (IMC) - igual a peso/estatura ao quadrado (em kg/m2). Outras abordagens são a antropometria (espessura da prega cutânea), a densitometria (pesagem sob a água), a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) e a impedância elétrica. O IMC do ponto médio para todas as estaturas e compleições, entre homens e mulheres, vai de 19 a 26 kg/m2. Um IMC de 30 é o limiar mais usado para a obesidade em ambos os sexos. A maior parte das autoridades usa o termo sobrepeso (e não obeso) para descrever indivíduos com IMC entre 25 e 30. A distribuição do tecido adiposo em diferentes espaços anatômicos tem implicações importantes para a morbidade. Uma razão cintura/quadril > 0,9 em mulheres ou > 1,0 em homens é considerada anormal. Está claro que a obesidade se desenvolve quando há um desequilíbrio positivo entre o consumo e o gasto de energia, mas a contribuição relativa desses fatores é ainda mal compreendida. Além dos fatores ambientais, há a predisposição genética para a obesidade. Regulação fisiológica do equilíbrio energético Há evidências substanciais de que o peso corporal é regulado por fatores endócrinos e neurais que terminam por influenciar os braços efetores da entrada e do gasto. Esse sistema regulador complexo é necessário porque mesmo pequenos desequilíbrios entre a entrada e o gasto de energia terminam por ter efeitos importantes sobre o peso corporal. Quando há perda de peso, o apetite aumenta e o gasto de energia diminui. Com excesso de alimentação, o apetite diminui e o gasto de energia aumenta. No entanto, esse último mecanismo compensatório falha com frequência, o que possibilita o surgimento da obesidade quando há alimentos abundantes e pouca atividade física. Um regulador importante dessas respostas adaptativas é o hormônio leptina, produzido pelos adipócitos. Tal substância atua por meio de circuitos cerebrais (sobretudo no hipotálamo) influenciando o apetite, o gasto de energia e a função neuroendócrina. O apetite é influenciado por muitos fatores integrados no cérebro, sobretudo no hipotálamo. Os sinais que entram no centro hipotalâmico incluem aferentes neurais, hormônios e metabólitos. Os impulsos vagais são especialmente importantes, pois trazem informações das vísceras, como a distensão dos intestinos. Os sinalizadores hormonais incluem a leptina, a insulina, o cortisol e os peptídeos intestinais. Entre os últimos estão a grelina, que é produzida no estômago e que estimula a alimentação, o peptídeo YY (PYY) e a colecistocinina, que são produzidos no intestino delgado e que sinalizam ao cérebro por ação direta nos centros de controle hipotalâmicos e/ou por intermédio do nervo vago. Os metabólitos, como a glicose, podem influenciar o apetite, visto que a hipoglicemia induz a fome; entretanto, a glicose Julia Paris Malaco – UCT22 normalmente não é um regulador importante do apetite. Esses diversos sinais hormonais, metabólicos e neurais atuam influenciando a expressão e a liberação de vários peptídeos hipotalâmicos (p. ex., neuropeptídeo Y [NPY], peptídeo relacionado com o Agouti [AgRP], hormônio estimulador dos melanócitos α [α-MSH] e hormônio concentrador de melanina [MCH]), substâncias integradas às vias sinalizadoras serotoninérgicas, catecolaminérgicas, endocanabinoides e opioides. O gasto de energia envolve os seguintes componentes: taxa metabólica basal ou em repouso (70% do gasto de energia diário) custo energético da metabolização e do armazenamento do alimento; efeito térmico do exercício termogênese adaptativa, que varia em função da ingestão calórica de longo prazo (maior quando aumenta a ingestão). Tecido adiposo: O tecido adiposo é formado pelas células adiposas, que armazenam lipídeos, e por um compartimento estromático e vascular, onde ficam células como os pré-adipócitos e os macrófagos. A massa adiposa aumenta pelo crescimento das células adiposas à medida que mais lipídeos se depositam, bem como pelo aumento do número de adipócitos. O tecido adiposo obeso também se caracteriza por maior número de macrófagos infiltrados. Embora o adipócito, em geral, tenha sido considerado como um depósito para armazenamento de gordura, ele também é uma célula endócrina que libera inúmeras moléculas de maneira regulada. Estas incluem: hormônio de regulação do equilíbrio de energia - leptina citocinas, como fator de necrose tumoral α (TNF-α) e interleucina (IL)-6 fatores do complemento, como o fator D (também conhecido como adipsina) agentes protrombóticos, como inibidor do ativador de plasminogênio I um componente do sistema de regulação da pressão arterial, angiotensinogênio. A adiponectina, uma proteína abundante derivada do tecido adiposo, cujos níveis estão reduzidos na obesidade, aumenta a sensibilidade à insulina e a oxidação dos lipídeos e possui efeitos protetores vasculares, enquanto a RBP4, cujos níveis estão aumentados na obesidade, pode induzir resistência à insulina. Etiologia Julia Paris Malaco – UCT22 Controle neuroendócrino do apetite De forma simplificada, os mecanismos neuro- humorais que regulam o equilíbrio de energia e o peso corporal podem ser divididos em três componentes: O sistema periférico ou aferente gera sinais provenientes de vários locais. Seus principais componentes são a leptina e a adiponectina, produzidas pelos adipócitos, a insulina produzida pelo pâncreas, a grelina produzida pelo estômago e finalmente o peptídeo YY a partir do íleo e cólon. A leptina reduz a ingestão de alimentos. A secreção de grelina estimula o apetite e pode atuar como um “sinal iniciador da refeição”. O peptídeo YY, liberado pós-prandialmente pelas células endócrinas no íleo e cólon, é um sinal de saciedade. O núcleo arqueado do hipotálamo processa e integra os sinais periféricos e gera novos sinais que são transmitidos pelos (1) neurônios POMC (pró-opiomelanocortina) e CART (transcritos regulados pela cocaína e anfetamina), (2) neurônios NPY (neuropeptídeo Y) e AgRP (peptídeo relacionado com o gene agouti). O sistema eferente, que consiste em neurônios hipotalâmicos regulados pelo núcleo arqueado, sendo organizado ao longo de duas vias, anabólica e catabólica, as quais controlam a ingestão de alimentos e o gasto de energia, respectivamente. Os neurônios POMC/CART ativam neurônios eferentes que aumentam o gasto de energia e a perda de peso através da produção de moléculas como o hormônio α-estimulador de melanócitos (MSH), os quais reduzem a ingestão de alimentos (efeito anorexígeno). O MSH emite sinais através do receptor da melanocortina (MC4R). Em contraste, os neurônios NPY/AgRP ativam neurônios eferentes que promovem a ingestão de alimentos (efeito orexígeno) e o ganho de peso. Os sinais transmitidos por neurônios eferentes também se comunicam com os centros do prosencéfalo e do mesencéfalo que controlam o sistema nervoso autônomo. Hormônios Leptina: A leptina é secretada por adipócitos e a sua produção é regulada pelo nível das reservas de gordura. O IMC e as reservas de gordura corporal estão diretamente relacionadoscom a secreção de leptina. Na presença de tecido adiposo abundante, a secreção de leptina é estimulada e o hormônio atravessa a barreira hematoencefálica e alcança o hipotálamo, onde reduz a ingestão de alimentos estimulando os neurônios POMC/CART e inibindo os neurônios NPY/AgRP. A sequência oposta de eventos ocorre quando há reservas inadequadas de gordura corporal: a secreção de leptina é diminuída e o consumo de alimentos é aumentado Adiponectina: A adiponectina, produzida no tecido adiposo, já foi chamada ”molécula de queima de gordura“ e ”anjo da guarda contra a obesidade“. Ela direciona os ácidos graxos aos músculos para sua oxidação. Ainda, diminui a influxo de ácidos graxos para o fígado e o conteúdo total de triglicerídeos hepáticos. A síntese de glicose no fígado também é reduzida, resultando em aumento da sensibilidade à insulina e protegendo contra a síndrome metabólica Tecido adiposo e outros mediadores: Além da leptina e da adiponectina, o tecido adiposo produz outros mediadores, tais como citocinas, quimiocinas e hormônios esteróides, que permitem que o tecido adiposo atue como um conector entre o metabolismo dos lipídeos, a alimentação e a resposta inflamatória Hormônios intestinais: Os hormônios intestinais atuam rapidamente como iniciadores e terminadores da vontade de comer. Exemplos prototípicos incluem a grelina e o peptídeo YY (PYY). A grelina é produzida no estômago e no núcleo arqueado do hipotálamo. Aumenta a ingestão de alimentos, atuando provavelmente através da estimulação dos neurônios NPY/AgRP no hipotálamo. Os níveis de grelina normalmente aumentam antes das refeições e caem cerca de uma a duas horas depois, porém esta queda é sutil em pessoas obesas. Em indivíduos obesos, os níveis de grelina são menores em comparação aos observados em pessoas de peso normal, aumentando à medida que há redução no grau de obesidade. Curiosamente, o aumento dos níveis de grelina é significativamente reduzido em indivíduos submetidos à cirurgia de bypass gástrico para o tratamento da obesidade, sugerindo que os efeitos benéficos de tal cirurgia podem ser atribuídos, em parte, à redução da superfície da mucosa gástrica exposta aos alimentos. O PYY é segregado por células endócrinas no íleo e no cólon em resposta ao consumo de alimentos. Isso diminui o apetite e aumenta a sensação de plenitude (saciedade). Ele age, provavelmente, através da estimulação dos neurônios POMC/CART no hipotálamo, diminuindo, em consequência, a ingestão de alimentos. Julia Paris Malaco – UCT22 O PYY também reduz a taxa de esvaziamento gástrico e a motilidade intestinal (“freio ileal”), ambos os quais contribuem para a saciedade. Na obesidade, os níveis de PYY são menores e podem apresentar valor terapêutico no tratamento de pessoas com sobrepeso ou obesas. Fisiopatologia A obesidade pode ser causada por aumento da entrada de energia, diminuição do gasto ou uma combinação de ambos. O conceito de “ponto de equilíbrio” do peso corporal tem suscitado contínuo interesse. Em favor dessa ideia, existem mecanismos fisiológicos em torno de um sistema sensor no tecido adiposo que reflete as reservas de gordura, e um receptor, ou adipostato, presente nos centros hipotalâmicos. Quando as reservas de gordura diminuem, o sinal do adipostato cai, e o hipotálamo responde estimulando a fome e diminuindo o gasto de energia. No entanto, quando as reservas de gordura são abundantes, o sinal aumenta, e o hipotálamo responde diminuindo a fome e aumentando o gasto de energia. A recente descoberta do gene ob e seu produto, a leptina, bem como do gene db, cujo produto é o receptor da leptina, fornece uma base molecular a esse conceito fisiológico (ver anteriormente). O gasto total médio diário de energia é maior entre os obesos do que entre os magros quando medido no peso estável. No entanto, o gasto energético diminui à medida que se perde peso, o que se deve em parte à perda de massa corporal magra e à diminuição da atividade nervosa simpática. Quando atingem um peso próximo do normal e permanecem assim por algum tempo, (alguns) indivíduos obesos gastam menos energia que (alguns) indivíduos magros. Outro componente da termogênese recém descrito, denominado termogênese da atividade fora do exercício (NEAT), foi relacionado com a obesidade. Trata-se da termogênese que acompanha outras atividades físicas que não o exercício voluntário, como tarefas cotidianas, movimentos aleatórios, contração muscular espontânea e manutenção da postura. A NEAT responde por cerca de dois terços do aumento do gasto diário de energia induzido pelo excesso de alimentação. Leptina: A grande maioria dos obesos têm níveis elevados de leptina, mas não apresentam mutações nem na leptina nem em seu receptor. Por isso parecem ter uma forma funcional de “resistência à leptina”. Manifestações clinicas/complicações que podem ocorrer por conta da obesidade Cardiovascular: Hipertensão Insuficiência cardíaca congestiva Cor pulmonale Veias varicosas Embolia pulmonar Doença arterial coronariana (DAC) Endócrino: Síndrome metabólica Diabetes tipo 2 Dislipidemia Síndrome dos ovários policísticos Musculoesquelético Hiperuricemia e gota Imobilidade Osteoartrite (joelhos e quadris) Dor lombar Síndrome do túnel do carpo Psicológico: Depressão/baixa autoestima Transtorno da imagem corporal Estigmatização social Tegumentar: Estrias Estase e pigmentação das pernas Linfedema Celulite Intertrigo, carbúnculos Acantose nigricans Acrocórdons (apêndices cutâneos) Hidradenite supurativa Respiratório: Dispneia Apneia obstrutiva do sono Síndrome hipoventilatória Síndrome de Pickwick Asma Gastrintestinal: Doença do refluxo gastresofágico Doença hepática gordurosa não alcoólica Colelitíase Hérnias Câncer colorretal Geniturinário: Incontinência urinária por estresse Julia Paris Malaco – UCT22 Glomerulopatia relacionada à obesidade Hipogonadismo (masculino) Cânceres de mama e uterino Complicações da gravidez Neurológico: Acidente vascular cerebral Hipertensão intracraniana idiopática Meralgia parestética Demência Avaliação diagnostica Embora a grande maioria dos casos de obesidade possa ser atribuída a fatores comportamentais que afetam a dieta e os padrões de atividade física, a anamnese pode sugerir causas secundárias que requeiram maior avaliação. Os distúrbios a considerar são síndrome dos ovários policísticos, hipotireoidismo, síndrome de Cushing e doença hipotalâmica. O ganho de peso induzido por fármacos também deve ser considerado. As causas comuns incluem medicamentos para diabetes (insulina, sulfonilureias, tiazolidinedionas), hormônios esteroides, agentes antipsicóticos (clozapina, olanzapina, risperidona), estabilizadores do humor (lítio), antidepressivos (tricíclicos, inibidores da monoaminoxidase, paroxetina, mirtazapina) e antiepilépticos (valproato, gabapentina, carbamazepina). Antropometria IMC: O IMC é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Magros ou desnutridos (IMC < 18,5 kg/m2) Normais (IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2) Sobrepeso (IMC de 25 a 29,9 kg/m2), Obesidade grau 1 (IMC de 30 a 34,9 kg/m2) Obesidade grau 2 (IMC de 35 a 39,9 kg/m2) Obesidade grau 3 (IMC ≥ 40 kg/m2) Para cada aumento de 5 unidades no IMC acima de 25 kg/m2, a mortalidade geral aumenta em 29%, a mortalidade vascular em 41% e a mortalidade relacionada ao diabetes melito (DM) em 210%. O IMC isolado não é usado em crianças e adolescentes de 2 a 18 anos de idade; em vez disso, recomenda-se o uso deuma escala de percentil com base no sexo e na idade. Nesta população, o excesso de peso é definido como um IMC no percentil 85 a 94, e a obesidade corresponde a um IMC igual ou superior ao percentil 95. Circunferência abdominal: Essa circunferência deve ser medida ao final da expiração profunda, na linha média horizontal entre a crista ilíaca e o último rebordo costal, com o paciente em pé e de braços estendidos ao lado do corpo. 90 cm em homens e > 80 cm em mulheres são considerados anormais. (valido somente para sul americanos) Relação cintura-quadril: A relação cintura-quadril é um bom marcador da distribuição de gordura corporal, já que possibilita estimar tanto a gordura visceral (cintura) como a periférica (quadril). Não é utilizada no acompanhamento do tratamento da obesidade. Homens acima de 1cm e mulheres 0,9cm tem maior risco de doenças. Composição corporal Dobras cutâneas: Estima-se a gordura corporal pela medida da espessura de gordura representativa da camada subcutânea. Trata-se de um método rápido, não invasivo e de baixo custo. Contudo, tem baixa precisão por ser operador-dependente e por subestimar a gordura corporal total. Bioimpedância: Avalia a composição corporal a partir da passagem de corrente elétrica pelo corpo do indivíduo, de modo que a resistência à passagem dessa corrente é mensurada e, assim, conseguem-se calcular as quantidades de massa magra, água e gordura corporal. Constitui-se em método rápido e não invasivo, porém, sua precisão pode ser afetada por alimentação, ingestão hídrica, atividade física, ciclo menstrual, consumo de álcool e equipamento utilizado. Absorciometria de raios X de dupla energia (DEXA): Considerada o padrão-ouro na análise da composição corporal em pesquisas e na prática clínica. Avalia e quantifica massa livre de gordura, massa gorda e nível mineral ósseo, de forma rápida, precisa e com pouca exposição à radiação. Entretanto, não é indicado para gestantes, lactantes, portadores de implantes metálicos, marca-passo, nem tampouco para indivíduos submetidos a procedimentos com iodo, bário ou isótopos por um período de 7 dias antes da avaliação. Complicações Diabetes melito tipo 2: A adiposidade central, o aumento do peso corporal e a duração estão associados a risco elevado de desenvolvimento de DM tipo 2 (DM2). Julia Paris Malaco – UCT22 A obesidade está ligada diretamente a vários mecanismos que medeiam a resistência insulínica, entre eles, o aumento dos níveis de ácidos graxos livres (AGL), com consequente inibição da absorção e uso celular de glicose, au aumento da síntese de glicogênio e da oxidação de glicose. Além disso, o excesso ponderal associa-se a alterações no perfil das adipocinas, influenciando, assim, o desenvolvimento de alterações glicêmicas. A relação molecular entre a obesidade e a resistência à insulina na gordura, nos músculos e no fígado tem sido pesquisada há muitos anos. São alguns fatores importantes: a própria insulina, ao induzir a subregulação do receptor; os ácidos graxos livres, que ficam elevados e podem dificultar a ação da insulina; o acúmulo intracelular de lipídeos os vários peptídeos circulantes produzidos pelos adipócitos, como as citocinas TNF-α e IL- 6, RBP4, bem como as adipocinas adiponectina e resistina, que apresentam expressão alterada nos adipócitos dos obesos e podem modificar a ação da insulina. Outros mecanismos são inflamação ligada à obesidade, como infiltração de macrófagos nos tecidos como gordura, e indução de resposta ao estresse de retículo endoplasmático, que pode produzir resistência à ação da insulina nas células. Hipertensão arterial sistêmica: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o mais importante fator de risco para o desenvolvimento de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral (AVC), doença renal crônica e mortalidade por todas as causas. Fatores que contribuem para o risco aumentado de HAS em obesos são: disfunção endotelial, hiperatividade do sistema nervoso simpático, hiperleptinemia e ativação do sistema renina– angiotensina–aldosterona. Dislipidemia: A dislipidemia associada à obesidade deve-se, na maioria das vezes, ao quadro de resistência insulínica subjacente que resulta em lipólise, aumento dos AGL circulantes, maior síntese hepática da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) e triglicerídeos, redução da lipoproteína de alta densidade (HDL), bem como dos níveis normais ou próximos da normalidade da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Entretanto, esta última caracteriza-se por uma maior expressão das partículas pequenas e densas da LDL, significativamente mais aterogênicas. A obesidade central tem forte associação com o desenvolvimento de tais alterações lipídicas que habitualmente se manifestam como hipertrigliceridemia e diminuição dos níveis de HDL-colesterol, com valores de LDL-colesterol normais ou discretamente elevados. Síndrome metabólica: A síndrome metabólica representa um aglomerado de condições que aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como hiperglicemia, dislipidemia e HAS. Segundo os critérios da International Diabetes Federation (IDF), o diagnóstico de síndrome metabólica é definido pela presença de, pelo menos, duas das citadas comorbidades em indivíduos com circunferência abdominal aumentada. Critérios diagnósticos propostos pela International Diabetes Federation (IDF): Obesidade abdominal, definida conforme a etnia dos pacientes, associada a, pelo menos, dois dos seguintes achados: o Triglicerídeos elevados: ≥ 150 mg/dℓ (ou tratamento específico para dislipidemia) o HDL-colesterol baixo: ≤ 40 mg/dℓ em homens e ≤ 50 mg/dℓ em mulheres o Pressão arterial elevada: ≥ 140/90 mmHg (ou tratamento específico para hipertensão) o Glicemia de jejum elevada: ≥ 100 mg/dℓ Distúrbios respiratórios | Apneia obstrutiva do sono e asma: O excesso de peso é fator de risco importante para o desenvolvimento da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS). A obesidade visceral está ligada à maior produção de leptina e maior resistência a esse hormônio. Além disso, a obesidade central relaciona-se com a deposição de gordura no pescoço, ao contrário da obesidade periférica. Isso causa um estreitamento mais notável das vias respiratórias superiores durante o sono, aumentando a incidência da SAOS. Há evidências de que a obesidade também aumente o risco de asma brônquica. Os mecanismos envolvidos nessa associação incluem hiper-responsividade das vias respiratórias, diminuição dos volumes pulmonares funcionais e inflamação sistêmica crônica Câncer: Entre homens destacam-se os cânceres de cólon, reto e próstata; em mulheres, os cânceres de mama, endométrio e vesícula biliar. Doença hepática gordurosa não alcoólica: A DHGNA pode apresentar-se como esteatose simples ou evoluir em 10 a 20% para a sua complicação inflamatória, a esteato-hepatite não alcoólica, bem como, eventualmente, para Julia Paris Malaco – UCT22 cirrose e carcinoma hepatocelular. O fígado desempenha importante papel no metabolismo dos AGL. O tecido adiposo em abundância, como observado nos pacientes obesos, libera maior quantidade de AGL, os quais devem ser oxidados ou armazenados no fígado. Alterações como redução na oxidação dos AGL e na exportação da gordura e disfunção mitocondrial ocasionam deposição de gordura hepática. Doenças osteoarticulares: A ocorrência de osteoartrite aumenta significativamente em indivíduos com sobrepeso e obesidade, sendo mais frequente em articulações que suportam o peso corporal, como joelhos, quadril e tornozelos. A obesidade também aumenta o risco para a síndrome do túnel do carpo e hérnias discais. Doenças do sistemareprodutivo: Anovulação crônica e distúrbios menstruais são frequentes em mulheres obesas. A síndrome dos ovários policísticos (SOP), caracterizada por irregularidade menstrual, hiperandrogenismo (clínico ou laboratorial) e ovários policísticos à ultrassonografia, geralmente associa-se à obesidade e à resistência à insulina. Nos homens, a obesidade abdominal tem sido associada à disfunção erétil e infertilidade, bem como hipogonadismo hipogonadotrófico, com melhora clínica e laboratorial após a perda de peso. Doenças cardiovasculares: À medida que o IMC aumenta, eleva-se também o risco de doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca. Doença cerebrovascular: O risco de desenvolvimento de AVC isquêmico e hemorrágico é aumentado em homens obesos. Já nas mulheres, tem sido relatado apenas risco aumentado para AVC isquêmico. Doenças gastrintestinais: risco para doença do refluxo gastresofágico, esofagite erosiva, câncer de esôfago e colelitíase.33 Complicações gestacionais: Gestantes obesas têm maior risco de desenvolvimento de DM gestacional, pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, depressão, parto cesariano e infecção de sítio cirúrgico, em comparação a gestantes não obesas. Na gravidez, a obesidade também associa-se a maior risco de parto prematuro, macrossomia fetal, anormalidades congênitas e morte perinatal. Tratamento Mudança do estilo de vida O tratamento da obesidade abrange atenção a três elementos essenciais do estilo de vida: hábitos alimentares, atividade física e modificação do comportamento. Exercício físico: A atividade física deve ser realizada por aproximadamente 30 minutos ou mais, 5 a 7 dias por semana, para evitar ganho de peso e melhorar a saúde cardiovascular, e a combinação de exercícios aeróbicos e resistidos é melhor do que a realização de apenas uma modalidade isoladamente. Dieta: Déficit de caloria de 500 a 750 kcal/dia, em comparação com a alimentação habitual do paciente. Como alternativa, pode-se prescrever uma dieta de 1.200 a 1.500 kcal/dia para mulheres e 1.500 a 1.800 kcal/dia para os homens (ajustada para o peso corporal do indivíduo). Dieta rica em grãos integrais, frutas, vegetais e fibras alimentares Diminuir o aporte de sódio (sal) para < 2.300 mg/dia Consumir laticínios sem gordura ou com baixo teor de gordura Manter o consumo de açúcares adicionados e gordura saturada em < 10% das calorias diárias. 3 porções derivados de leite, 3 porções de proteína (ovos, peixe), frutas, legume Ingesta hídrica - 20 a 30 ml por kg (nos intervalos das refeições e não durante elas) Terapia comportamental: As estratégias incluem técnicas de automonitoração (p. ex., um diário, verificação do peso, quantificação do alimento e da atividade), controle do estresse e dos estímulos (p. ex., uso de pratos menores, não comer vendo televisão ou no carro), apoio social, solução de problemas e reestruturação cognitiva para ajudar os pacientes a desenvolverem ideias mais positivas e realistas sobre si mesmos. Tratamento medicamentoso Indicações: As últimas diretrizes da Endocrine Society recomendam a farmacoterapia para indivíduos com IMC > 30 kg/m2 ou ≥ 27 kg/m2 associado a, pelo menos, uma condição mórbida relacionada com a obesidade, como DM2, dislipidemia, HAS ou apneia obstrutiva do sono. Considerando-se a fisiopatologia da obesidade, seu tratamento medicamentoso deve visar: Julia Paris Malaco – UCT22 estimular as vias anorexígenas de sinalização, antagonizar as vias de sinalização orexígenas, aumentar o gasto energético e/ou inibir a absorção de nutrientes. Idealmente, um fármaco antiobesidade deve ter as seguintes características: eficácia na redução do peso ponderal; mecanismo de ação relacionado com a fisiopatologia da doença; perfil de segurança para uso a longo prazo; boa tolerabilidade; viabilidade econômica para tratamento a médio e longo prazos; impacto positivo nas comorbidades associadas à obesidade. Monoterapia: Sibutramina: A sibutramina é um inibidor de recaptação de serotonina e norepinefrina. Diferentemente dos anorexígenos catecolaminérgicos, trata-se mais de um agente sacietógeno, visto que seu efeito principal na regulação da ingestão de alimentos parece estar relacionado muito mais com o aumento da saciedade e com o prolongamento dessa sensação do que com um efeito direto de supressão da fome. o A dose atualmente recomendada para a sibutramina é de 10 a 15 mg/dia o Princípio básico: ↑ Saciedade e ↓ Apetite o Efeitos adversos: Cefaleia, boca seca, constipação intestinal, irritabilidade, insônia,↑ PA, ↑ FC Orlistate: O orlistate é um potente inibidor de lipases do trato gastrintestinal. Como consequência, cerca de 30% dos triglicerídeos provenientes da dieta não são digeridos nem absorvidos pelo intestino delgado, atravessando o trato gastrintestinal e sendo eliminados nas fezes. O orlistate não atua nos circuitos neuronais reguladores do apetite; contudo, ele promove uma liberação mais precoce do GLP-1, que tem efeito incretínico e sacietógeno. o A dose recomendada para o orlistate é de 120 mg antes de cada refeição. o Princípio básico: Inibe a absorção de gordura o Efeitos adversos: Dor abdominal, diarreia, flatulência, hepatotoxicidade, nefropatia por oxalato Benefícios metabólicos induzidos pelo orlistate: o Diminuição da glicemia, HbA1c e insulinemia o Diminuição dos triglicerídeos, LDL-c e lipoproteínas aterogênicas o Diminuição do fator de necrose tumoral, interleucina-6, lipemia pós-prandial e lipoproteínas aterogênicas o Aumento do HDL-c e adiponectina Fluoxetina e sertralina: são inibidores de recaptação de serotonina e podem favorecer a redução do peso, mas não são considerados agentes antiobesidade. Indica-se seu uso apenas quando à obesidade estão associados transtorno depressivo ou transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). Bupropiona: aprovada para tratamento de transtornos do humor e tabagismo, é um inibidor duplo da recaptação de monoaminas (dopamina e norepinefrina) e tem sido avaliada em estudos para obesidade, tanto em monoterapia quanto em associação com outros fármacos. Topiramato: é aprovado para tratamento de epilepsia e profilaxia da enxaqueca. Seu mecanismo de ação relaciona-se com a modulação dos receptores do ácido gama- aminobutírico (GABA), com reflexos no comportamento alimentar. Lorcasserina: é um agonista seletivo do receptor serotoninérgico 5-HT2 A dose recomendada para a lorcasserina é de 10 mg, 2 vezes/dia Liraglutida: hoje é dia é o melhor - é um agonista do receptor de GLP-1 (GLP-1RA) que foi desenvolvido para o tratamento do DM2 na dose de até 1,8 μg/dia. Além de melhorar efetivamente o controle glicêmico, ela induz perda de peso. o deve ser iniciada na dose de 0,6 mg/dia, por injeção subcutânea (SC), 1 vez/dia. o A dose diária pode ser aumentada em 0,6 mg por semana até um máximo de 3 mg/dia SC. Associações medicamentosas: Fentermina com topiramato: A fentermina, molécula de ação central associada à liberação de norepinefrina com propriedades simpaticomiméticas, foi aprovada nos EUA para tratamento da obesidade em monoterapia (37,5 mg/dia) durante curto período de tempo (< 12 semanas).A ação central do topiramato está associada ao bloqueio dos canais de sódio e cálcio, à potencialização da ação do GABA e à inibição da anidrase carbônica Naltrexona com bupropiona: A combinação de naltrexona, um antagonista do receptor opioide, com bupropiona, um inibidor da recaptação de norepinefrina, foi recentemente aprovada para perda de peso em indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Julia Paris Malaco – UCT22 Supõe-seque o efeito anorexigênico dessa associação resulte da ativação dos neurônios da POMC no núcleo arqueado. A bupropiona estimularia a POMC hipotalâmica, e a naltrexona bloquearia a autoinibição da POMC por meio de betaendorfinas endógenas. Tratamento mais eficaz: a combinação fentermina/topiramato ER parece possibilitar melhor perda global média de peso a partir da linha de base, bem como os percentuais mais elevados de pacientes que alcançaram perdas de peso ≥ 5% e ≥ 10%, seguida, em ordem decrescente, por naltrexona/bupropiona, liraglutida, lorcasserina e orlistate. Tratamento cirúrgico: A cirurgia bariátrica pode ser considerada para os pacientes com obesidade grave (IMC ≥ 40 kg/m2) ou para aqueles com obesidade moderada (IMC ≥ 35 kg/m2) associada a uma condição médica grave. Síndrome metabólica A síndrome metabólica consiste em um grupo de anormalidades metabólicas que conferem aumento de risco de doença cardiovascular (DCV) e diabetes melito. As principais características da síndrome metabólica incluem obesidade central, hipertrigliceridemia, níveis baixos de colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL), hiperglicemia e hipertensão. National Cholesterol Education Program and Adult Treatment Panel III (NCEP:ATPIII) - critérios de definição de harmonização para síndrome metabólica: Três ou mais dos seguintes: o Obesidade central: circunferência abdominal > 102 cm (homens), > 88 cm (mulheres) o Hipertrigliceridemia: nível de triglicerídeos ≥ 150 mg/dL ou medicação específica o HDLc-colesterol baixo: < 40 mg/dL e < 50 mg/dL para os homens e as mulheres, respectivamente, ou medicação específica o Hipertensão: pressão arterial ≥ 130 mmHg sistólica ou ≥ 85 mmHg diastólica ou medicação específica o Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou medicação específica ou diabetes tipo 2 previamente diagnosticado Fatores de risco: Sobrepeso/obesidade: Estilo de vida sedentário Genética Envelhecimento Diabetes melito Doença cardiovascular Lipodistrofia Etiologia Resistência à insulina: A hipótese mais aceita e unificadora para descrever a fisiopatologia da síndrome metabólica é a insulinorresistência, que é causada sistemicamente por um defeito da ação da insulina. O início da resistência à insulina é anunciado por hiperinsulinemia pós-prandial, seguida da hiperinsulinemia de jejum e, finalmente, hiperglicemia. Um grande contribuinte preliminar para o desenvolvimento da resistência à insulina é uma abundância dos ácidos graxos circulantes. excesso de ácidos graxos aumenta a disponibilidade do substrato e cria resistência à insulina, modificando a sinalização a jusante. Os ácidos graxos comprometem a captação da glicose mediada pela insulina e acumulam-se como triglicerídeos tanto no músculo esquelético quanto no cardíaco, enquanto o fluxo aumentado de ácidos graxos aumenta a produção de glicose e a produção e acúmulo de triglicerídeos no fígado. Resistência a leptina: Fisiologicamente, a leptina reduz o apetite, promove gasto de energia e aumenta a sensibilidade à insulina. Além disso, a leptina pode regular a função cardíaca e vascular por um mecanismo dependente de óxido nítrico. No entanto, quando há desenvolvimento de obesidade, ocorre hiperleptinemia, com evidência de resistência à leptina no cérebro e em outros tecidos que resulta em inflamação, resistência à insulina, hiperlipidemia e uma gama de distúrbios cardiovasculares, como hipertensão, aterosclerose, DCC e insuficiência cardíaca. Aumento da circunferência abdominal: A circunferência abdominal é um importante componente dos critérios diagnósticos mais recentes e mais frequentemente aplicados para a Julia Paris Malaco – UCT22 síndrome metabólica. Entretanto, medir a circunferência abdominal não distingue de maneira confiável os aumentos do tecido adiposo subcutâneo daqueles decorrentes da gordura visceral; essa distinção requer tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM). Com aumentos no tecido adiposo visceral, os ácidos graxos livres derivados do tecido adiposo alcançam o fígado. Por outro lado, aumentos da gordura SC abdominal liberam produtos da lipólise na circulação sistêmica e, portanto, exercem menos efeitos sobre o metabolismo hepático. Dislipidemia: Em geral, o fluxo de ácidos graxos livres para o fígado resulta em aumento na produção de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDLs) ricas em triglicerídeos e contendo ApoB. O efeito da insulina nesse processo é complexo, mas a hipertrigliceridemia é um excelente marcador do distúrbio de resistência à insulina. A hipertrigliceridemia não apenas é uma característica da síndrome metabólica, como também os pacientes com síndrome metabólica apresentam níveis elevados de ApoC-III carregadas nas VLDLs e outras lipoproteínas. Esse aumento da ApoC-III é inibitório para a lipoproteína-lipase, contribuindo ainda mais para a hipertrigliceridemia, e confere maior risco de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVAS). Outro distúrbio principal das lipoproteínas na síndrome metabólica é uma redução do HDL- colesterol. Essa redução é uma consequência das modificações na composição e no metabolismo da HDL. Essas alterações na HDL têm uma relação com a resistência à insulina que provavelmente é indireta, ocorrendo em consonância com mudanças no metabolismo das lipoproteínas ricas em triglicerídeos. Além das HDLs, as lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) apresentam alterações na sua composição na síndrome metabólica. Com triglicerídeos séricos de jejum > 2,0 mM (cerca de 180 mg/dL), quase sempre há uma predominância de LDL pequena, densa, que é considerada mais aterogênica, embora sua associação com hipertrigliceridemia e HDLs baixas dificulte a avaliação de sua contribuição independente para os eventos de DCVAS. Intolerância à glicose: Os defeitos na ação da insulina na síndrome metabólica levam ao comprometimento da supressão da produção de glicose pelo fígado (e pelos rins) e redução da captação de glicose e do metabolismo nos tecidos sensíveis à insulina – isto é, tecidos muscular e adiposo. Para compensar os defeitos na ação da insulina, a secreção e/ou depuração da insulina aumentam ou diminuem, respectivamente, de modo a manter a euglicemia. Por fim, esse mecanismo compensatório falha, devido a defeitos na secreção de insulina, resultando em progressão da glicose em jejum alterada e/ou tolerância à glicose diminuída para o diabetes melito tipo 2. Hipertensão arterial: Paradoxalmente, sob condições fisiológicas normais, a insulina é um vasodilatador com efeitos secundários na reabsorção de sódio nos rins. Entretanto, em caso de resistência à insulina, o efeito vasodilatador da insulina é perdido, porém o efeito renal na reabsorção de sódio fica preservado. A reabsorção de sódio mostra-se aumentada nos indivíduos brancos com síndrome metabólica, mas não nos africanos ou asiáticos. A insulina também aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, um efeito que é preservado no caso de resistência à insulina. A resistência à insulina também está associada ao comprometimento específico da via na sinalização da fosfatidilinositol-3-cinase. No endotélio, esse comprometimento pode causar um desequilíbrio entre a produção de óxido nítrico e a secreção de endotelina 1, com consequente redução do fluxo sanguíneo. Além disso, aumentos na expressão do gene do angiotensinogênio no tecido adiposo de indivíduos obesos resultam em aumentos da angiotensina II circulante e em vasoconstrição. Embora esses mecanismos sejam provocativos, a avaliação da ação da insulina pela medição dos níveis de insulina em jejum ou pela avaliação do modelode homeostase mostra que a resistência à insulina contribui apenas modestamente para o aumento da prevalência de hipertensão na síndrome metabólica. Outro mecanismo possível subjacente à hipertensão na síndrome metabólica é o papel vasoativo do tecido adiposo perivascular. As espécies reativas do oxigênio liberadas pela NADPH-oxidase comprometem a função endotelial e resultam em vasoconstrição local. Outros efeitos parácrinos, como a leptina ou outras citocinas proinflamatórias liberadas do tecido adiposo, como o TNF-α, também podem ser importantes. A hiperuricemia é outra consequência da resistência à insulina na síndrome metabólica. Há evidências crescentes não apenas de que o ácido úrico está associado à hipertensão, mas também de que a redução do ácido úrico normaliza a pressão arterial em adolescentes Julia Paris Malaco – UCT22 hiperuricêmicos com hipertensão. O mecanismo parece estar relacionado com um efeito adverso do ácido úrico na sintase de ácido nítrico na mácula densa do rim e estimulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Citocinas pró-inflamatórias: Os aumentos nas citocinas pró-inflamatórias – incluindo as interleucinas 1, 6 e 18, a resistina, o TNF-α e o biomarcador sistêmico proteína C-reativa – refletem uma produção excessiva pela massa expandida de tecido adiposo. Adiponectina: A adiponectina é uma citocina anti-inflamatória produzida exclusivamente por adipócitos. Ela aumenta a sensibilidade à insulina e inibe muitas etapas no processo inflamatório. No fígado, inibe a expressão das enzimas gliconeogênicas e a taxa de produção de glicose. No músculo, a adiponectina aumenta o transporte de glicose e aumenta a oxidação do ácido graxo, parcialmente pela ativação de AMP- cinase. As reduções nos níveis de adiponectinas são comuns na síndrome metabólica. Fisiopatologia A obesidade visceral ou central (abdominal) é caracterizada por uma distribuição da gordura corporal do tipo andróide, ou seja, conhecida como corpo em formato de “maçã”, representando o aspecto principal da SM. Ao contrário da gordura subcutânea, o acúmulo de gordura visceral, que pode ser facilmente estimado pela medida da circunferência da cintura, está relacionado a diversos problemas metabólicos plasmáticos, característicos da SM: Hipersensibilidade aos glicocorticoides Elevados níveis plasmáticos de glicose que induzem o pâncreas a liberar excesso de insulina (hiperinsulinemia) que, a longo prazo, culmina com resistência à insulina e diabetes mellitus tipo II Aumento da secreção de angiotensina que pode aumentar o risco de hipertensão Aumento da secreção de interleucina-6 (IL-6), citocina inflamatória Aumento de triglicerídeos (TG) que pode comprometer a viscosidade sanguínea, aumentando o risco cardiovascular Redução do colesterol HDL, fundamental para realizar o transporte reverso do colesterol e que apresenta também efeitos anti- inflamatórios, antioxidantes e vasodilatadores (aumenta a síntese de óxido nítrico pelo estímulo da isoforma endotelial da enzima sintase do óxido nítrico – eNOS) Manifestações clinicas A síndrome metabólica normalmente não está associada a sintomas. Ao exame físico, a circunferência abdominal e a pressão arterial estão frequentemente aumentadas. A presença de um ou de ambos os sinais deve alertar o médico sobre a necessidade de buscar anormalidades bioquímicas que possam estar associadas à síndrome metabólica. Com menos frequência, verifica-se a presença de lipoatrofia ou acantose nigricans ao exame. Como esses achados físicos estão associados de modo característico a uma resistência à insulina grave, outros componentes da síndrome metabólica são muito mais comuns. Doenças associadas Doença cardiovascular: Embora a insuficiência cardíaca congestiva e a síndrome metabólica possam ocorrer ao mesmo tempo, essa consequência normalmente é secundária à DCVAS ou hipertensão relacionada com a síndrome metabólica. A síndrome metabólica também está associada a aumentos no risco de acidente vascular cerebral, doença vascular periférica e doença de Alzheimer. Diabetes tipo 2: De modo geral, o risco para diabetes tipo 2 em pacientes com síndrome metabólica é aumentado 3 a 5 vezes. Doença hepática gordurosa não alcoólica: A DHGNA tornou-se a doença hepática mais comum, em parte como consequência da resistência à insulina da síndrome metabólica. O mecanismo está relacionado com aumento no fluxo de ácidos graxos livres, redução da oxidação intra-hepática dos ácidos graxos, com consequente aumento na biossíntese de triglicerídeos e acúmulo hepatocelular, com inflamação variável e estresse oxidativo. Hiperuricemia: A hiperuricemia reflete defeitos na ação da insulina na reabsorção tubular renal de ácido úrico e pode contribuir para hipertensão por seu efeito no endotélio. Um aumento da dimetilarginina assimétrica, um inibidor endógeno da óxido nítrico-sintase, também está correlacionado com disfunção endotelial. Além disso, aumentos na razão albumina/creatinina da urina podem estar relacionados a alterações da Julia Paris Malaco – UCT22 fisiopatologia endotelial no estado de insulinorresistência. Síndrome dos ovários policísticos: A síndrome dos ovários policísticos é altamente associada à resistência à insulina e à síndrome metabólica, com uma prevalência da síndrome entre 40 e 50%. As mulheres com síndrome dos ovários policísticos têm 2 a 4 vezes mais tendência a ter síndrome metabólica do que as mulheres sem essa síndrome. Apneia obstrutiva do sono: A apneia obstrutiva do sono é comumente associada a obesidade, hipertensão, aumento das citocinas circulantes, comprometimento da tolerância à glicose e resistência à insulina. De fato, a apneia obstrutiva do sono pode prever a ocorrência de síndrome metabólica, mesmo na ausência de excesso de adiposidade. Diagnóstico O diagnóstico da síndrome metabólica é estabelecido a partir do atendimento aos critérios NCEP ATPIII, por meio da utilização de recursos à beira do leito e no laboratório. National Cholesterol Education Program and Adult Treatment Panel III (NCEP:ATPIII) - critérios de definição de harmonização para síndrome metabólica: Três ou mais dos seguintes: o Obesidade central: circunferência abdominal > 102 cm (homens), > 88 cm (mulheres) o Hipertrigliceridemia: nível de triglicerídeos ≥ 150 mg/dL ou medicação específica o HDLc-colesterol baixo: < 40 mg/dL e < 50 mg/dL para os homens e as mulheres, respectivamente, ou medicação específica o Hipertensão: pressão arterial ≥ 130 mmHg sistólica ou ≥ 85 mmHg diastólica ou medicação específica o Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou medicação específica ou diabetes tipo 2 previamente diagnosticado 3 ou mais critérios já faz o diagnóstico. A anamnese deve incluir a Avaliação dos sintomas para apneia obstrutiva do sono em todos os pacientes Síndrome dos ovários policísticos nas mulheres na pré-menopausa. A história familiar irá ajudar a determinar o risco para DCV e diabetes melito. As medidas da pressão arterial e da circunferência abdominal fornecem informações necessárias ao diagnóstico. Exames de laboratório: lipidograma e a glicemia em jejum são necessários para determinar se há a presença da síndrome metabólica. A mensuração dos biomarcadores adicionais associados com resistência à insulina pode ser individualizada. Esses exames podem incluir ApoB, PCR-as, fibrinogênio, ácido úrico, razão albumina/creatinina na urina e função hepática. Deve-se realizar um estudo do sono caso haja a presença de sintomas de apneia obstrutiva do sono. Se houver suspeita de síndrome dos ováriospolicísticos com base nas manifestações clínicas e anovulação, é necessário medir a testosterona, o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante. Tratamento Proposta da American Heart Association e do National Heart, Lung and Blood Institute para o tratamento da SM: Mudança do estilo de vida: a redução do peso é a abordagem primária ao distúrbio. A redução do peso a melhora da sensibilidade à insulina resulta em modificações favoráveis em muitos componentes da síndrome metabólica. Essa mudança inclui a dieta, exercícios físicos, mudanças no corportamento, e etc Dieta: As dietas com restrição de carboidratos normalmente promovem uma perda de peso inicial mais rápida. Julia Paris Malaco – UCT22 A restrição pode ser feita de forma lenta e gradual Portanto, um padrão de dieta de alta qualidade – isto é, uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais, carnes magras de aves e peixes – deve ser estimulado para fornecer o benefício máximo de saúde global. Atividade física: Embora os aumentos na atividade física possam levar a uma redução modesta de peso, 60 a 90 minutos diários de atividade são necessários para atingir esse objetivo. Mesmo que um adulto com sobrepeso ou obeso seja incapaz de atingir tal nível de atividade, haverá um benefício de saúde significativo com pelo menos 30 minutos de atividade diária de intensidade moderada. É importante salientar que várias atividades rotineiras – como jardinagem, caminhada e limpeza da casa – requerem gasto calórico moderado. Obesidade: Os fármacos para a perda de peso encontram-se em duas classes: supressores do apetite e inibidores da absorção. Os supressores do apetite incluem fentermina (apenas para uso em curto prazo [3 meses]), bem como as adições mais recentes de fentermina/topiramato, lorcasserina, naltrexona/bupropiona e liraglutida em alta dose (3,0 mg) (em lugar de 1,8 mg, dose máxima para tratamento do diabetes tipo 2), que foram aprovadas sem restrições quanto à duração da terapia O orlistate inibe a absorção de gordura em cerca de 30%, sendo moderadamente eficaz se comparado com o placebo (cerca de 4% de perda de peso). Além disso, o orlistate reduziu a incidência de diabetes tipo 2, um efeito particularmente evidente em pacientes com comprometimento da tolerância à glicose em condições basais. A cirurgia metabólica ou bariátrica é uma opção para os pacientes com a síndrome metabólica que têm um índice de massa corporal de mais de 40 kg/m2 ou mais de 35 kg/m2 com comorbidades. LDL - colesterol: Deve-se prescrever uma estatina em todos os pacientes com diabetes, de 40 a 79 anos de idade, com LDL-colesterol entre 60 e 189 mg/dL. o Para pacientes com diabetes e DCVAS diagnosticada, as evidências atuais sustentam uma dose de estatina de alta intensidade (p. ex., atorvastatina 40 a 80 mg ou rosuvastatina 20 a 40 mg ao dia). o Para os pacientes com síndrome metabólica sem diabetes, deve-se utilizar uma estimativa de risco de DCVAS de 10 anos, e um risco de ≥ 7,5% deve levar a uma discussão entre o profissional de saúde e o paciente sobre a instituição de terapia com estatina para prevenção primária da DCVAS. o É preciso salientar que, para cada duplicação da dose da estatina, o LDL- colesterol é reduzido ainda mais em apenas cerca de 6%. Dietas com restrição de gorduras saturadas (menos de 6% de calorias) e gorduras trans (o menos possível) devem ser aplicadas de maneira intensiva. O inibidor da absorção do colesterol - ezetimiba é bem tolerado, devendo ser uma segunda escolha de intervenção medicamentosa. A ezetimiba reduz o LDL- colesterol em 15 a 20%. Os inibidores da pró-proteína convertase subtilisina/quexina tipo 9 (PCSK9) são fármacos potentes para redução do LDL-colesterol (cerca de 45 a 60%), porém não são necessários para a maioria dos pacientes com síndrome metabólica. Naturalmente, se esses pacientes também apresentam hipercolesterolemia familiar ou redução insuficiente do LDL-colesterol com o uso de estatinas ± ezetimiba, deve-se considerar um inibidor de PCSK9. Os sequestradores de ácidos biliares, colestiramina, colestipol e colesevalam podem ser mais efetivos do que a ezetimiba; todavia, como podem aumentar os níveis de triglicerídeos, precisam ser usados com cautela em pacientes com síndrome metabólica quando os triglicerídeos em jejum são > 300 mg/dL. O ácido nicotínico tem uma capacidade semelhante de redução do LDL-colesterol (< 20%). Os fibratos são mais bem empregados para reduzir o LDL-colesterol quando os triglicerídeos não estão elevados. Triglicerídeos: diretrizes para o colesterol da ACA/AHA de 2013 declararam que os triglicerídeos em jejum > 500 mg/dL devem ser tratados, de modo a prevenir a ocorrência de hipertrigliceridemia mais grave e pancreatite. Um fibrato (genfibrozila ou fenofibrato) é o fármaco de escolha para reduzir os triglicerídeos em jejum, que costumam atingir uma diminuição de 30 a 45%. o A administração concomitante com fármacos metabolizados pelo sistema 3A4 Julia Paris Malaco – UCT22 do citocromo P450 (incluindo algumas estatinas) aumenta o risco de miopatia. o Nesses casos, o fenofibrato pode ser preferível à genfibrozila. Outros fármacos que reduzem os níveis de triglicerídeos incluem estatinas, ácido nicotínico e prescrição de ácidos graxos ômega-3. Para esse propósito, uma dose intermediária ou alta das estatinas “mais potentes” (atorvastatina, rosuvastatina) é necessária. A prescrição de preparações de ácido graxo ômega-3 que incluem altas doses de ácido eicosapentaenoico ± ácido docosa- hexaenoico (cerca de 1,5 a 4,5 g/dia) reduz os níveis de triglicerídeos em jejum em cerca de 25 a 40%. O efeito do ácido nicotínico nos triglicerídeos em jejum está relacionado com a dose e é de cerca de 20 a 35%, um efeito que é menos pronunciado do que aquele dos fibratos. Em pacientes com síndrome metabólica e diabetes, o ácido nicotínico pode aumentar os níveis de glicemia em jejum, e ensaios clínicos com ácido nicotínico + estatina não conseguiram reduzir os eventos de DCVAS. HDL – colesterol: O ácido nicotínico é o único fármaco atualmente disponível com propriedades de elevação do HDL-colesterol previsíveis. A resposta está relacionada com a dose, e o ácido nicotínico pode aumentar o HDL- colesterol em cerca de 30% acima da linha de base. Pressão arterial: Em pacientes com síndrome metabólica sem diabetes, a melhor escolha para o anti- hipertensivo inicial é um inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA) ou um bloqueador do receptor de angiotensina II, visto que essas duas classes de fármacos são efetivas e bem toleradas. Em todos os pacientes com hipertensão, deve- se recomendar um padrão de dieta com restrição de sódio, rica em frutas e vegetais e laticínios com baixo teor de gordura. O monitoramento doméstico da pressão arterial pode ajudar a manter um bom controle da pressão arterial. Controle da PA deixando menor que 13x8 Alteração da glicemia de jejum: Nos pacientes com comprometimento da glicemia em jejum sem diagnóstico de diabetes, uma intervenção no estilo de vida que inclua redução do peso, restrição dietética de gordura e aumento da atividade física mostra reduzir a incidência de diabetes tipo 2. A metformina também reduz a incidência de diabetes, embora o efeito seja menor do que o observado com intervenção no estilo de vida. Resistência à insulina: Várias classes de fármacos (biguanidas, tiazolidinedionas [TZDs]) aumentam a sensibilidade à insulina. Tanto a metformina quanto as TZDs aumentam a ação da insulina no fígado e suprimem a produçãoendógena de glicose. As TZDs, mas não a metformina, também melhoram a captação de glicose mediada pela insulina no músculo e no tecido adiposo. Dislipidemia As dislipidemias são um grupo de distúrbios metabólicos que se caracterizam pelas alterações dos níveis séricos das principais lipoproteínas presentes no plasma – colesterol, triglicerídeos. Esses distúrbios podem ocorrer de forma isolada ou envolvendo duas ou mais lipoproteínas. As principais consequências clínicas das dislipidemias são a aterosclerose, devido a concentrações altas de lipoproteína de baixa densidade (low density lipoprotein [LDL]), e a pancreatite aguda, secundária a níveis muito altos de triglicerídeos (TG). Os principais lipídios do corpo humano são: TG, ácidos graxos, colesterol e fosfolipídios. o transporte e o armazenamento de energia proveniente dos alimentos são realizados pelos ácidos graxos e TG; já o colesterol tem função de substrato para síntese de alguns hormônios, participa da formação de sais biliares e, junto com os fosfolipídios, participa da composição da membrana celular. Por serem moléculas hidrofóbicas (insolúveis em agua), os TG e o colesterol não conseguem circular livremente pelo plasma, sendo necessária a formação de um complexo solúvel chamado lipoproteína. Esse complexo lipoproteico é composto por um núcleo que contém TG e ésteres de colesterol, e uma camada externa constituída por colesterol livre, fosfolipídios e algumas proteínas, chamadas apoproteínas. As lipoproteínas são solúveis e circulam pelo plasma, onde se ligam a receptores específicos Julia Paris Malaco – UCT22 em determinados tecidos. São classificadas de acordo com sua densidade, a qual, por sua vez, é determinada pela quantidade de TG e apoproteínas. LDL – colesterol: lipoproteína de baixa densidade também conhecida como mau colesterol ou colesterol ruim, que transporta o colesterol do fígado para o sangue e para os tecidos. HDL – colesterol: lipoproteína de alta densidade o devolve ao fígado. O HDL é conhecido como o bom colesterol porque remove o excesso de colesterol e traz de volta ao fígado onde será eliminado. Quando o LDL está em excesso no sangue, lesa os vasos e ainda se deposita na parede, formando as placas de ateroma (gordura). Esse processo é chamado de aterosclerose. O excesso de colesterol no sangue é um dos principais fatores de risco da aterosclerose. Para colesterol HDL, a relação é inversa: quanto mais elevado seu valor, menor o risco. As dislipidemias são causadas por alterações metabólicas que ocorrem em resposta a distúrbios nas etapas do metabolismo lipídico. Como resultado, o perfil lipídico sérico sofrerá alterações e estas podem incluir aumento do colesterol total (CT), do triglicérides (TG), do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) e diminuição do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c). O metabolismo dos lipídios e das lipoproteínas está subdividido em dois ciclos: o exógeno e o endógeno. Ciclo exógeno: A gordura da dieta é absorvida no duodeno e jejuno proximal, onde os TG são hidrolisados pelas lipases pancreáticas em ácidos graxos, monoglicerídeos e diglicerídeos, os quais, após a ação de sais biliares, se transformam em micelas, que são facilmente absorvidas na borda em escova dos enterócitos. Já o colesterol necessita da proteína Niemann-Pick C1-like 1 (NPC1-L1) – componente de transportador de colesterol intestinal, localizado na membrana apical do enterócito – para promover sua passagem pela membrana da célula intestinal. o A NPC1-L1 tornou-se um importante alvo terapêutico no tratamento das hipercolesterolemias. Uma vez inibida, tem o potencial de reduzir a absorção do colesterol intestinal e, consequentemente, reduzir os seus níveis plasmáticos Após serem reesterificados, os ésteres de colesterol e os TG são incorporados ao centro de partículas denominadas quilomícrons (QM). Os QM são grandes moléculas ricas em TG (80 a 90%) que contêm uma proteína estrutural em sua superfície: a apoproteína B48 (Apo-B48). Os QM passam pelos vasos linfáticos intestinais e têm acesso ao sistema vascular pelo ducto torácico. Posteriormente à sua secreção, acontecem diversas modificações dos QM, que realizam a captação de apoproteínas (Apo-CII, CIII e E) e colesterol após interação com moléculas de lipoproteína de alta densidade (high density lipoprotein [HDL]). Quando incorporam as Apo-CII, os QM sofrem a ação da lipase lipoproteica ou lipoproteína lipase (LPL) – enzima presente no endotélio capilar dos tecidos periféricos, principalmente nos tecidos adiposo e muscular – formando os remanescentes de QM. Finalmente, os remanescentes são removidos pelo fígado através da interação com receptores específicos. Em condições normais, portanto, os QM só devem ser encontrados no plasma no período pós-prandial, visto que, no ciclo exógeno, as moléculas são completamente hidrolisadas. Ciclo endógeno O ciclo endógeno envolve o transporte dos lipídios para a periferia e, daí, de volta para o fígado. O tecido hepático sintetiza e secreta a lipoproteína de muito baixa densidade (very Julia Paris Malaco – UCT22 low density lipoprotein [VLDL]), que transporta TG para os tecidos periféricos. Sob a ação da LPL endotelial, os TG do núcleo das VLDL são hidrolisados e liberados para as células. Além disso, ocorre a transferência de apoproteínas da superfície para a HDL, o que, juntamente com a depleção de TG, torna essas partículas menos densas, formando os remanescentes da VLDL ou lipoproteína de densidade intermediária (intermediate density lipoprotein [IDL]). As IDL, por sua vez, seguem dois caminhos: são removidas pelo fígado (via receptor específico que interage com a Apo- E) ou originam a LDL, principal carreador do colesterol plasmático em jejum, mediante a ação da lipase hepática localizada na superfície sinusoidal dos hepatócitos. A molécula de LDL-colesterol (LDL-c) entrega o colesterol, sobretudo o éster de colesterol, no fígado e nas células periféricas. Esse mecanismo é facilitado por receptores celulares de alta afinidade que reconhecem tanto a Apo-B100 como a Apo-E (70 a 80% do catabolismo da LDL se dá por receptores da LDL). Tais receptores estão presentes no fígado e nos tecidos periféricos. Após a ligação com seu receptor, a LDL é absorvida pelo hepatócito e forma uma vesícula que se funde com os lisossomos celulares. Os componentes proteicos da LDL são transformados em aminoácidos, e os ésteres de colesterol são hidrolisados pelas enzimas lipases ácidas lisossomais. O colesterol não esterificado resultante desse processo atravessa a membrana lisossomal e se acumula no citoplasma celular, em que suprime a atividade da enzima 3-hidroxi, 3- metilglutaril coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima-chave na síntese intracelular de colesterol no fígado. Como consequência do acúmulo, ocorre a diminuição da síntese celular de colesterol e a expressão do receptor da LDL (LDLR). o A HMG-CoA redutase é, portanto, um importante alvo terapêutico das estatinas, que tem como principal mecanismo de ação a inibição dessa enzima, o que diminui as concentrações intracelulares de colesterol, levando a aumento da expressão dos LDLR e maior absorção do LDL-c.1,2,4,5 A molécula de HDL-colesterol (HDL-c) é secretada pelo fígado e pelo intestino na forma de partícula discoide (HDL nascente) e também provém do catabolismo da VLDL e dos QM. As partículas de HDL maiores e mais ricas em lipídios são denominadas HDL2, e as menores e mais densas, HDL3. As primeiras são responsáveis pelo transporte reverso do colesterol,processo no qual o colesterol excedente é removido dos tecidos periféricos e retorna ao fígado, o que pode ocorrer diretamente ou por meio da transferência de colesterol esterificado para a VLDL ou IDL, sob a ação da enzima proteína transferidora de ésteres de colesterol (CETP). Uma vez na HDL, o colesterol sofre a ação da enzima lecitina- colesterol aciltransferase (LCAT), que o esterifica pela transferência de um ácido graxo da molécula de fosfatidilcolina. A segunda via de efluxo do colesterol celular é determinada pela interação entre a Apo-A1 livre ou associada às partículas de HDL e o transportador ABCA-1 Entre as lipoproteínas, destaca-se também a lipoproteína(a) – Lp(a) –, com estrutura básica semelhante à da LDL, da qual difere pela presença da apoproteína(a) ligada à Apo- B100. É sintetizada no fígado e apresenta um alto grau de semelhança com o plasminogênio, o que lhe confere propriedades trombogênicas. A Lp(a) é considerada, por muitos autores, um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença arterial coronariana (DAC), e seus níveis são determinados primariamente por fatores genéticos, sofrendo pouca influência ambiental. Classificação As dislipidemias podem ser classificadas como: Hipercolesterolemia isolada - aumento isolado do LDL colesterol: o LDL-c ≥ 160 mg/dL Hipertrigliceridemia isolada - aumento isolado dos triglicerídeos: o Aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum). o Em situações em que está maior que 400, o LDL não tem relevância Hiperlipidemia mista - aumento do LDL colesterol e dos triglicerídeos: o Aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) o Aumento dos TG (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/ dL, se a amostra for obtida sem jejum). o Se TG ≥ 400 mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL. HDL baixo - diminuição isolada do HDL colesterol ou em associação a aumento dos triglicerídeos ou LDL colesterol: o Redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em Julia Paris Malaco – UCT22 associação ao aumento de LDL-c ou de TG. As dislipidemias podem ser primárias: Causas genéticas Influência ambiental Dieta inadequada Sedentarismo E secundárias: Doenças/fatores de risco e medicamentos como: o Hipotireoidismo (eleva níveis de LDL pela diminuição do número de receptores hepáticos para LDL) o Insuficiência Renal Crônica (aumento dos triglicerídeos) o Obesidade (aumento dos triglicerídeos e redução de HDL) o Fumo (reduz HDL e oxida o LDL) o Alcoolismo (aumento dos triglicerídeos) o Diabetes mellitus (aumenta triglicerídeos e diminui HDL). o Medicamentos: diuréticos tiazídicos (podem aumentar os triglicerídeos), betabloqueadores (podem aumentar os triglicerídeos e reduzem HDL), corticóides (podem aumentar os triglicerídeos), estrógenos (podem aumentar os triglicerídeos). Clinica A dislipidemia, por si só, não causa sintomas, mas pode provocar doença vascular sintomática, incluindo doença coronariana (DC), acidente vascular cerebral e doença arterial periférica. Níveis elevados de triglicerídeos [> 1000 mg/dL (> 11,3 mmol/L)] podem causar pancreatite aguda, hepatoesplenomegalia, parestesia, dispneia e confusão. Altas concentrações de LDL podem causar arco corneano, xantelasmas tendinosos e xantomas tendinosos encontrados nos tendões do calcâneo, nos cotovelos e joelhos e sobre as articulações metacarpofalangeanas. Outro achado clínico observado nos pacientes com LDL alto (p. ex., na hipercolesterolemia familiar) é o xantelasma (placas amarelas ricas em lipídios nas pálpebras mediais). Os pacientes com cirrose biliar primária e níveis lipídicos normais podem ter xantelasma. Pacientes com a forma homozigótica de hipercolesterolemia familiar podem ter arco corneal, xantomas tendinosos e xantelasma, além de xantomas planares ou tuberosos. Xantomas planares são manchas amareladas chatas ou ligeiramente elevadas. Xantomas tuberosos são nódulos firmes e indolores normalmente localizados ao longo das superfícies extensoras das articulações. Pacientes com grandes elevações de triglicerídios podem apresentar xantomas eruptivos no dorso, no tronco, nos cotovelos, na região glútea, nos joelhos, nas mãos e nos pés. Pacientes com a rara disbetalipoproteinemia podem apresentar xantomas palmares e tuberosos. A hipertrigliceridemia grave (> 2000 mg/dL [> 22,6 mmol/L]) pode causar aspecto cremoso nas artérias e veias retinianas (lipemia retiniana). Concentrações extremamente elevadas de lipídios também podem provocar aspecto lácteo (leitoso) do plasma sanguíneo. Os sintomas podem incluir parestesias, dispneia e confusão. Lesões cutâneas características X tipo de dislipidemia: Xantoma eruptivo: Hipertrigliceridemia grave (TG > 2.000 mg/dℓ) Lipemia retinalis: Hipertrigliceridemia grave (TG > 2.000 mg/dℓ) Arco corneano, xantelasmas*: Hipercolesterolemia Xantoma tendinoso: Hipercolesterolemia familiar (quase patognomônico)** Xantoma palmar: Disbetalipoproteinemia (quase patognomônico)*** Xantoma tuberoso ou tuberoeruptivo: Disbetalipoproteinemia Diagnostico O diagnóstico das dislipidemias baseia-se na anamnese, no exame físico e na dosagem dos lipídios séricos. Anamnese: Diante de um paciente com dislipidemia, deve-se procurar estabelecer a época de seu diagnóstico, assim como pesquisar, nos familiares em primeiro grau, a também ocorrência dessa enfermidade, de diabetes melito (DM) e de DAC prematura. Além disso, deve-se investigar no paciente: hábitos de vida, uso de medicamentos ou patologias que possam levar à dislipidemia secundária Medicações: Diuréticos tiazídicos: ↑ TG; ↓ HDL-c Betabloqueadores não seletivos: ↑ TG; ↓ HDL-c https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7a-coronariana/vis%C3%A3o-geral-da-doen%C3%A7a-coronariana https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/vis%C3%A3o-geral-do-acidente-vascular-encef%C3%A1lico https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/vis%C3%A3o-geral-do-acidente-vascular-encef%C3%A1lico https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7as-arteriais-perif%C3%A9ricas/doen%C3%A7a-arterial-perif%C3%A9rica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/pancreatite/pancreatite-aguda https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/pancreatite/pancreatite-aguda Julia Paris Malaco – UCT22 Estrogênios orais: ↑ TG; ↓ LDL-c Progestógenos: ↑ LDL-c; ↓ HDL-c Esteroides anabólicos androgênicos: ↓ HDL-c; ↑ CT Retinoides: ↑ TG Glicocorticoides: ↑ CT; ↑ TG; ↑ HDL-c Ciclosporina: ↑ LDL-c; ↑ TG; ↓ HDL-c Interferona-a: ↑ TG Tamoxifeno: ↑ TG Ciclofosfamida: ↑ TG Sequestrantes de ácidos biliares: ↑ TG Inibidores de protease: ↑ TG; ↑ LDL-c; ↓ HDL-c Dosagem dos lipídios plasmáticos: O perfil lipídico é definido pelas determinações bioquímicas do colesterol total (CT), do HDL-c, do LDL-c e dos TG. Todo indivíduo com DAC ou outras manifestações de doença aterosclerótica (cerebrovascular, carotídea e da aorta abdominal e/ou dos seus ramos terminais) deve ter perfil lipídico determinado obrigatoriamente, independentemente de idade ou sexo. Adultos: Recomenda-se, portanto, a avaliação de risco cardiovascular e a determinação do perfil lipídico em todos os indivíduos com mais de 20 anos de idade. Tanto os exames laboratoriais quanto a avaliaçãode risco para doença cardiovascular aterosclerótica devem ser repetidos a cada 5 anos, desde que não apareçam novos fatores de riscos. Crianças e adolescentes (2 a 19 anos de idade): Tradicionalmente, recomenda-se a avaliação do perfil lipídico em crianças e adolescentes cujos parentes em primeiro grau apresentem história de dislipidemias (CT > 240 mg/dℓ e/ou TG > 400 mg/dℓ) ou doenças ateroscleróticas (DAC, acidente vascular cerebral [AVC] e/ou doença arterial periférica) antes dos 55 anos de idade para homens e 65 anos de idade para mulheres. Com o aumento na incidência de obesidade, diabetes melito tipo 2 (DM2) e síndrome metabólica em crianças e adolescentes, a triagem foi ampliada para outros fatores de risco, tais como hiperglicemia, resistência insulínica e hipertensão arterial sistêmica (HAS); e quando a criança/adolescente é portadora de algum tipo de doença ou faz uso de medicações que cursam com dislipidemias. < 2 anos: Não há indicação de triagem 2 a 8 anos: Triagem seletiva, indicada em crianças com fatores de risco como o História familiar de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença arterial periférica em homens abaixo de 55 anos de idade e mulheres abaixo de 65 anos de idade o História familiar de hipercolesterolemia (colesterol total > 240 mg/dl) ou história familiar desconhecida o Outros fatores de risco cardiovascular, tais como hipertensão, diabetes melito, tabagismo ou obesidade p95 9 a 11 anos: Triagem universal 12 a 16 anos: Triagem seletiva: caso ocorra história familiar positiva, ou um novo fator de risco, recomenda-se a dosagem de dois perfis lipídicos em jejum (com pelo menos 2 semanas de intervalo entre as dosagens, mas em menos de 12 semanas entre uma dosagem e outra) e realizar uma média com os valores 17 a 20 anos: Triagem universal Valores de referência De acordo com a Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose – 2017, os valores de referência (desejáveis) dos lipídios para adultos com mais de 20 anos de idade são: CT < 190 mg/dℓ, HDL-c > 40 mg/dℓ TG < 175 mg/dℓ sem jejum e TG < 150 mg/dℓ com jejum. A diretriz publicada em 2018 por American Heart Association/American College of Cardiology (AHA/ACC) sugere que indivíduos adultos com CT em torno de 150 mg/dℓ com um LDL-c correspondente de 100 mg/dℓ apresentam menor taxa de eventos cardiovasculares. Estratificação de risco cardiovascular A diretriz brasileira (2017) recomenda o Escore de Risco Global, enquanto a diretriz de AHA/ACC 2018 recomenda o uso das equações de coortes agrupadas (pooled cohort equations [PCE]); Julia Paris Malaco – UCT22 ambas facilmente acessíveis na internet ou por aplicativos. As diretrizes em geral recomendam o uso das PCE como uma avaliação inicial, porém a decisão de começar uma terapia ou intensificar algum tratamento é individualizada. Escore de risco global (calculadora na internet): Etapa 1 - Presença de doença aterosclerótica significativa (coronária, cerebrovascular, vascular periférica), com ou sem eventos clínicos ou obstrução ≥ 50% em qualquer território arterial – SIM ou NÃO Etapa 2 - Portator de diabetes melitus tipo 1 ou 2 – SIM ou NÃO Etapa 3 - Portadores de aterosclerose na forma subclínica documentada por metodologia diagnóstica – SIM ou NÃO para todas as características: o ultrassonografia de carótidas com presença de placa; o índice tornozelo-braquial (ITB) < 0,9; o escore de cálcio coronário (CAC) > 100 ou a presença de placas ateroscleróticas na angiotomografia de coronárias (angioCT) OU o Aneurisma de aorta abdominal OU o Doença renal crônica definida por taxa de filtração glomerular < 60 mL/min, e em fase não-dialítica OU o LDL-c ≥ 190 mg/dL Etapa 4 - Idade, sexo, PAS, PAS tratada, tabagista, uso de estatina, valor de colesterol total, valor de HDL Estratificação de risco cardiovascular proposta pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e pela Sociedade Brasileira de Diabetes: Risco cardiovascular muito alto o Doença aterosclerótica significativa (coronária, cerebrovascular ou vascular periférica) com ou sem eventos clínicos prévios o Obstrução ≥ 50% de qualquer território vascular Risco cardiovascular alto o Aterosclerose subclínica documentada: presença de placas em US de carótidas; ITB < 0,9; CAC > 100; presença de placas coronárias na angio-TC o Aneurisma de aorta abdominal o Doença renal crônica (TFG < 60 mℓ/min/m2) não dialítica o LDL-c ≥ 190 mg/dℓ o Diabetes melito tipo 1 ou 2 + LDL-c entre 70 e 189 mg/dl + fatores de risco adicionais OU critérios de aterosclerose subclínica: - Idade ≥ 48 anos para homens e ≥ 54 anos para mulheres - Tempo de diagnóstico de diabetes > 10 anos - História familiar de parente de 1o grau com DAC prematura (< 55 anos para homens e < 65 anos para mulheres) - Tabagismo - Hipertensão arterial sistêmica - Síndrome metabólica - Albuminúria ou retinopatia - Doença renal crônica (TFG < 60 mℓ/min/m2) - Placas em US de carótidas > 1,5 mm - ITB < 0,9 - CAC > 10 - Placas coronárias na angio-TC o Escore de risco global > 20% para homens em 10 anos + LDL-c entre 70 e 189 mg/dl o Escore de risco global > 10% para mulheres em 10 anos + LDL-c entre 70 e 189 mg/dℓ Risco cardiovascular intermediário o Escore de risco global entre 5 e 20% para homens em 10 anos o Escore de risco global entre 5 e 10% para mulheres em 10 anos o Diabetes melito tipo 1 ou 2 sem fatores de risco adicionais ou critérios de aterosclerose subclínica Risco cardiovascular baixo o Escore de risco global < 5% em 10 anos Fatores que aumentam o risco cardiovascular: História familiar de evento CV prematuro (homens, idade < 55 anos; mulheres, idade < 65 anos) Hipercolesterolemia primária (LDL-c entre 160 e 189 mg/dℓ; não HDL-c entre 190 e 219 mg/dℓ) Síndrome metabólica Doença renal crônica (TFGe < 60 ml/min/1,73 m2, com ou sem albuminúria; não tratada com diálise ou transplante renal) Condições inflamatórias crônicas, como psoríase, artrite reumatoide ou infecção pelo HIV História de menopausa prematura (< 40 anos) e história de condições associadas à gravidez que aumentam posteriormente o risco CV, como pré-eclâmpsia Raça/etnia de alto risco (p. ex., ascendência do sul da Ásia) Lipídios/biomarcadores: associados a aumento do risco CV Julia Paris Malaco – UCT22 Hipertrigliceridemia primária (TG ≥ 175 mg/dℓ – 3 avaliações) Proteína C reativa de alta sensibilidade elevada (≥ 2 mg/ℓ) Lp(a) elevada (≥ 50 mg/dℓ) Apo-B elevada (≥ 130 mg/dℓ) ITB < 0,9 Diagnostico de acordo com o tipo de dislipidemia Hipercolesterolemia isolada - elevação isolada do LDL-c > 130 mg/dℓ). Hipertrigliceridemia isolada - elevação isolada dos TG > 150 mg/dℓ, em jejum, ou > 175 mg/dℓ, sem jejum), que reflete o aumento do volume de partículas ricas em TG, como VLDL, IDL e QM. Hiperlipidemia mista - valores aumentados tanto de LDL-c (> 130 mg/dℓ) como de TG (> 150 mg/dℓ, em jejum, ou > 175 mg/dℓ sem jejum). HDL-c baixo - redução do HDL-c (homens < 40 mg/dℓ; mulheres < 50 mg/dℓ) isolada ou associada ao aumento de LDL-c ou de TG. Dislipidemias relacionadas com triglicerídeos Síndrome de quilomicronemia familiar: A síndrome de quilomicronemia familiar (SQF) é um distúrbio monogênico, autossômico recessivo, cujo diagnóstico baseia-se na detecção de mutações raras, bialélicas (homozigoto ou heterozigoto composto) dos genes envolvidos no metabolismo e depuração dos QM. crises recorrentes de dor abdominal
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