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1Curso Ênfase © 2021 DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O controle concreto de constitucionalidade 1. Introdução Primeiramente, é importante salientar que é possível classificar o controle de constitucionalidade quanto à sua finalidade, em concreto ou abstrato. No controle concreto ou difuso, a constitucionalidade da norma é aferida no curso de um processo judicial, de forma incidental. Trata-se de modelo originário do Direito estadunidense, que também pode ser referido como via de exceção, via de defesa ou processo subjetivo. Em regra, o controle difuso tem efeitos inter partes, tendo em vista que a decisão sobre a constitucionalidade abrange somente as partes do processo. Ademais, é ainda chamada de modelo aberto, pois pode ser proposta por qualquer pessoa. No controle abstrato – também chamado de concentrado –, a aferição da constitucionalidade da norma é o objeto principal da ação. No controle abstrato, a análise da inconstitucionalidade se dá sob a lei em tese, e não em um caso concreto. Esse modelo é reservado a um rol específico de autoridades legitimadas, tratando-se de processo objetivo “sem partes” –, com origem no direito austríaco. 2. Arguição incidental de inconstitucionalidade No controle incidental, a aferição da constitucionalidade se verifica diante de um caso concreto, uma lide, cujo pedido incidental é o controle de constitucionalidade de 2Curso Ênfase © 2021 uma determinada norma. Assim, o controle de constitucionalidade não é o objeto principal do pedido, mas apenas um incidente do processo, um meio para que se possa resolver a lide. No controle abstrato (pela via principal), a aferição da constitucionalidade se dá no pedido principal do autor, ou seja, é a razão processual. Nesse caso, o autor requer, como pedido principal, que determinada lei tenha sua constitucionalidade aferida. 3. Controle difuso de constitucionalidade Passaremos a estudar as regras específicas aplicáveis ao modelo difuso de controle de constitucionalidade. O controle difuso de constitucionalidade consiste na modalidade de controle passível de ser provocada por qualquer pessoa no âmbito de qualquer processo judicial, de forma incidental. O julgamento dessa modalidade de controle compete a qualquer juiz, que pode fazê-lo até mesmo de ofício. Assim, o controle difuso é aquele realizado por qualquer juiz ou tribunal. É também chamado de controle pela via de exceção ou controle aberto. Ele ocorre diante de um caso concreto, e a declaração de inconstitucionalidade se dá de forma incidental. Quanto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), este não possui jurisdição e, embora seja órgão do Poder Judiciário, não pode realizar controle difuso. Nessa modalidade de controle, a discussão acerca da constitucionalidade da norma não é principal, mas mero incidente que tem relação com o objeto principal (caso concreto da ação). Diante disso, a tutela buscada pela parte não é a declaração da inconstitucionalidade em si, mas, para que seu pedido seja procedente, é necessária a discussão da questão constitucional. No ordenamento pátrio, qualquer lei ou ato normativo – seja federal, estadual, Atenção! 3Curso Ênfase © 2021 distrital ou municipal – poderá ser objeto do controle de constitucionalidade. Dessa forma, não importa o nível federativo que se deu o ato normativo: todos estão sujeitos ao controle difuso. 3.1. Controle difuso nos tribunais: cláusula de reserva de plenário Quando o controle difuso ocorre em primeira instância, a constitucionalidade da lei será decidida por um juiz monocrático. Quando o controle difuso é feito pelos tribunais, faz-se necessária a observância da regra da “cláusula de reserva de plenário” (full bench), prevista no art. 97 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988): Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. (Grifos nossos.) Ou seja, embora o juiz possa, sozinho, afastar a constitucionalidade de um ato normativo no caso concreto, os desembargadores ou ministros dependem de decisão da maioria absoluta do Tribunal ou de órgão especial, em razão da regra da cláusula de reserva de plenário. A existência de órgão especial nos tribunais encontra previsão no art. 93, XI, da CF/1988: Art. 93. (...) XI – nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno. Acerca da natureza da cláusula de reserva de plenário, se condição de validade ou de eficácia jurídica, não há consenso. Por vezes, o STF declarou a nulidade da sentença que não respeitou a regra do full bench, dando a entender que seria esta condição de validade. É nula a decisão de órgão fracionário que, ao negar a aplicação do inciso II, do art. 94 da Lei 9.472/1997, com base na Súmula 331/TST, e declarar ilícita a terceirização e 4Curso Ênfase © 2021 atividade-fim, reconhece a existência de vínculo trabalhista entre a contratante e o empregado da contratada, pois exerceu controle difuso de constitucionalidade, declarando a parcial nulidade sem redução de texto do referido dispositivo sem observar a cláusula de reserva de Plenário (ARE nº 791.932, rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 11.10.2018, P, DJE de 06.03.2019, Tema 739 – grifos nossos). Contudo, em outro julgado explicitou que se trata de condição de validade e eficácia. (...) Por outro lado, emerge dos precedentes da Súmula Vinculante 10 que seu fundamento reside na necessária observância do postulado da reserva de plenário (art. 97 da Carta Política) como condição de validade e eficácia da declaração de inconstitucionalidade dos atos normativos, seja no controle abstrato, seja no controle difuso (...) (Rcl nº 11.768 AgR, 1ª T., voto da rel. Min. Rosa Weber, j. 02.02.2016, DJE de 24.02.2016 – grifos nossos). Os órgãos fracionários podem reconhecer a constitucionalidade de uma norma. O que eles não podem é declarar a inconstitucionalidade, em razão da regra do art. 97, da CF/1988. A essa cláusula foi ainda estabelecida exceção importante no Código de Processo Civil (CPC), em seu art. 949, parágrafo único, que dispõe que: CPC, art. 949. (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. (Grifos nossos.) Dessa forma, há uma mitigação da regra da “cláusula de plenário”. A aplicação da regra somente é necessária quando o Tribunal julga, pela primeira vez, a problemática constitucional. Assim, se o órgão especial, o Plenário do Tribunal ou o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) já tiverem se pronunciado sobre a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, não haverá a necessidade de se observar Atenção! 5Curso Ênfase © 2021 a reserva de plenário. A cláusula de reserva de plenário não se aplica quando é utilizada a técnica da “interpretação conforme a Constituição”. Ainda sobre o assunto, importante observar o disposto pela Súmula Vinculante nº 10: STF, Súmula Vinculante nº 10 – Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público,afasta sua incidência, no todo ou em parte. Diante disso, o órgão fracionário somente poderá apreciar a arguição de inconstitucionalidade, sem submeter ao plenário, quando já houver pronunciamento do plenário ou órgão especial do Tribunal ou do plenário do STF sobre a questão. Caso contrário, a menos que esteja reconhecendo a constitucionalidade da norma, mesmo se somente afastar sua incidência no todo ou em parte, restará violada a cláusula do art. 97 da CF/1988. A legitimidade ativa do controle difuso será de qualquer pessoa, física ou jurídica, que, pleiteando direito em caso concreto, necessite da discussão acerca da constitucionalidade da norma para que seu caso seja solucionado. A legitimidade passiva, por sua vez, varia conforme a ação, uma vez que se dará em casos concretos, podendo assim ser qualquer pessoa. Em razão de o controle de constitucionalidade difuso ocorrer dentro de uma ação judicial na qual se discute um caso concreto, via de regra, seus efeitos são inter partes (atingem somente as partes envolvidas no caso concreto) e ex tunc (retroativos ao momento em que o ato foi criado). No entanto, é possível que a decisão em questão tenha efeitos erga omnes (que atingem a todos), de acordo com a previsão do art. 52, X, da CF/1988, que estabelece que o Senado Federal pode suspender a execução, no todo ou em parte (da mesma forma como tenha sido decidido judicialmente), de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF (em sede de controle difuso). Vale observar que essa manifestação do Atenção! 6Curso Ênfase © 2021 Senado é irretratável. CF/1988, art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: (...) X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. (...) 3.2. A mutação constitucional e o art. 52, X, da CF/1988 Importante julgado realizado pelo STF tratou da questão da abstrativização do controle difuso. A teoria da abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. Segundo a teoria, o art. 52, X, da CF/1988 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado. O papel do Senado seria apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em julgamento proferido no final do ano de 2017 (Plenário, ADI nº 3.406/RJ e ADI nº 3.470/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29.11.2017, Informativo nº 886), o STF, em sede de ADI ajuizada contra a Lei estadual do Rio de Janeiro nº 3.579/2001, decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão também terá efeito vinculante e erga omnes. Apesar de a expressão abstrativização do controle difuso não ter sido utilizada expressamente pelo STF no julgamento, parcela da doutrina acredita que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do controle difuso. 3.3. Controle difuso e Ação Civil Pública Embora o STF tenha entendido que a ação civil pública não pode ser utilizada como instrumento de controle de constitucionalidade (STF, AI-AgR nº 189.601/GO, julgado em 26.08.1997, rel. Min. Moreira Alves), é possível o incidente de inconstitucionalidade em sede de ação civil pública, desde que a constitucionalidade seja apenas questão prejudicial, sem a qual não se pode resolver a lide principal (STF, Rcl. nº 1.733/SP, julgado em 24.12.2000, rel. Min. Celso de Mello). Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência 7Curso Ênfase © 2021 dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. 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