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Controle Difuso de Constitucionalidade Introdução No Brasil, este modelo de controle de constitucionalidade foi adotado desde a nossa primeira Constituição da República, a de 1891, e mantido em todas as Cartas subsequentes. O controle difuso de constitucionalidade é também conhecido como controle incidental, ou concreto. É exercido diante de ocorrências fáticas a serem solucionadas pelo Poder Judiciário no desempenho comum de sua típica função jurisdicional, na qual se controla a constitucionalidade de modo incidental, gerando efeitos tradicionalmente retroativos e ¡nter partes. Nessa modalidade de controle, em que se faz a fiscalização concreta de constitucionalidade, qualquer juiz ou Tribunal do Poder Judiciário possui competência para verificar a legitimidade constitucional dos atos estatais, não havendo nenhuma restrição quanto ao tipo de processo. Nessa via de controle, o juízo de verificação da compatibilidade da norma com o texto constitucional não é a questão principal (objeto da ação), mas, tão somente, uma questão prejudicial. Desta forma, pode-se concluir que no controle difuso o intuito central do processo não é o de tutelar a ordem constitucional objetiva, ao contrário, a finalidade é proteger direitos subjetivos afetados pela norma que se pretende impugnar, é dirimir a controvérsia jurídica exposta na lide na defesa de direitos subjetivos pertencentes às partes da relação jurídica. A legitimidade para inaugurar o controle difuso de constitucionalidade é ampla e abrange: as partes (autor ou réu), em quaisquer demandas; os eventuais terceiros intervenientes; o Ministério Público; órgão jurisdicional, de ofício — com exceção do STF no recurso extraordinário. Quanto ao objeto, pode-se dizer que é válido manejar essa via de controle para verificar a compatibilidade com a Constituição de qualquer ato emanado dos Poderes Públicos, não importando a esfera federativa que o produziu, tampouco se sua natureza é de ato normativo ou não, primário ou secundário. Igualmente não é relevante ser o ato anterior ou posterior à norma constitucional parâmetro, isto é, pré ou pós-constitucional. Também não é obstáculo a realização do controle difuso ter sido o ato revogado ou estar com seus efeitos exauridos. No que se refere ao parâmetro, o controle difuso permite a fiscalização dos atos emanados do Poder Público perante qualquer norma constitucional, ainda que ela já tenha sido revogada, sendo unicamente necessário verificar se essa norma constitucional estava em vigor no momento da criação do ato. No mais, declarada eventual inconstitucionalidade pelo Poder Judiciário, os efeitos serão retroativos, ou seja, ex tunc, sendo o ato normativo considerado inconstitucional desde o dia em que surgiu no ordenamento. O controle difuso nos Tribunais Nos Tribunais, o processo de controle de constitucionalidade difuso deverá observar a denominada "cláusula de reserva de plenário" (art. 97, CF/88), que determina que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do órgão especial é que a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo poderá ser declarada. Art. 97 – CF: Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público. Contudo, quando o processo estiver no Tribunal competente e for distribuído para um órgão fracionário —uma turma ou uma câmara, por exemplo; a depender da organização interna do Tribunal, conforme seu regimento interno —, se verificada a existência de questionamento incidental sobre a constitucionalidade de lei ou ato normativo, faz-se uma votação preliminar no órgão fracionário e este define, internamente, seu posicionamento pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma em discussão. Caso o órgão fracionário opte pela constitucionalidade do diploma, ele mesmo poderá prolatá-la, pois só estará reforçando a presunção de constitucionalidade que a norma já possui. Mas quando a manifestação é no sentido da inconstitucionalidade, estará afrontando a presunção de constitucionalidade da norma. Por isso, neste caso, incide a reserva de plenário: para evitar que a presunção de constitucionalidade da norma seja superada por uma decisão de uma fração do Tribunal. Além disso, a cláusula evita a possibilidade de decisões controversas entre os órgãos fracionários. Assim, de acordo com o que determina o art. 948 do CPC, sempre que um incidente de inconstitucionalidade for recebido pelo Tribunal o relator deve, necessariamente, submeter a questão ao órgão fracionário. O órgão fracionário pode entender pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade. Caso entenda que a norma é constitucional, julga a questão de constitucionalidade (declarando a norma compatível com a Constituição) e, na sequência, julga o pedido principal. Se, todavia, entender que a norma é inconstitucional, deve enviar o "acórdão provisório" que revela a percepção pela inconstitucionalidade ao pleno ou ao órgão especial para julgamento, que ficarão incumbidos de julgar a questão de constitucionalidade e tão somente esta, pois o pedido principal permanece com o órgão fracionário, só aguardando a solução do incidente (decisão de constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma) para dar o desfecho ao mérito. A Lei nº 9.756/1998 acrescentou o parágrafo único ao art. 481 do CPC de 1973 (atual art. 949, CPC/2015), mitigando a regra da reserva de plenário ao estabelecer que depois que o plenário (ou órgão especial) do Tribunal ou plenário do STF já tiver decidido o incidente de inconstitucionalidade, não será mais necessário que os órgãos fracionários, nos casos subsequentes, submetam a mesma questão ao pleno ou ao órgão especial. Bastará que eles apliquem a decisão anteriormente prolatada pelo órgão pleno ou especial do Tribunal, ou pelo plenário do STF. Art. 948/CPC Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do processo. Art. 949/CPC Se a arguição for: I - rejeitada, prosseguirá o julgamento; II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão especial, onde houver. Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. O órgão fracionário não poderá simplesmente afastar a aplicação da norma ao invés de submeter a questão ao pleno ou órgão especial, pois isso resultaria em violação a à cláusula da reserva de plenário, conforme súmula vinculante nº 10 do STF. Súmula Vinculante 10/ STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. O STF (composto pelo Presidente e duas turmas, com cinco Ministros cada) também se sujeita à cláusula de reserva de plenário. Porém, toda vez que uma das turmas suscitar a inconstitucionalidade de uma norma, ocorrerá o envio da "questão como um todo" para o plenário. A respeito da FULL BENCH (claúsula da reserva de plenário) é possível concluir que: Só é válida para Tribunais, pode-se concluir que não se aplica aos juízes singulares, tampouco às turmas recursais dos juizados especiais; Não precisa ser observada quando há reconhecimento da constitucionalidade do diploma impugnado, pode-se concluir que nos casos em que o Tribunal se vale da técnica de decisão intitulada "interpretação conforme a Constituição". A cláusulaigualmente não é utilizada quando na análise o Tribunal conclui pela não recepção da norma pré-constitucional. O desrespeito à cláusula de reserva de plenário nas hipóteses em que ela incide ocasiona a nulidade absoluta da decisão prolatada pelo órgão fracionário. Segundo a doutrina, isso ocorre em razão de estarmos diante de uma regra de competência funcional. Efeitos da decisão Os efeitos das decisões prolatadas pelos diversos órgãos jurisdicionais participantes da jurisdição constitucional difusa, tanto no aspecto temporal quanto no aspecto subjetivo. EFEITOS QUANTO AO ASPECTO TEMPORAL A norma declarada inconstitucional é nula, de forma que a sentença que profere a inconstitucionalidade tem efeito declaratório e retroage à data da edição da norma. Assim, pode-se concluir que a declaração de inconstitucionalidade opera efeitos ex tunc, isto é, retroativos. No entanto, é possível que haja a modulação dos efeitos temporais, excepcionalmente, se o STF, ao decidir a inconstitucionalidade da norma, concluir que deva prevalecer a segurança jurídica ou algum o interesse social marcante. Neste caso poderá a Corte manipular os efeitos temporais da decisão de modo que a declaração de inconstitucionalidade não retroaja, mas sim valha do trânsito em julgado da decisão em diante (efeito ex nunc) ou a partir de outro momento que a Corte venha a fixar (pro futuro). EFEITOS QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO A decisão prolatada no controle difuso opera, via de regra, efeitos inter partes, não atingindo terceiros que não participaram daquela específica relação processual. Cumpre informar, todavia, que quando a decisão é proferida pelo STF, no sentido da Inconstitucionalidade, os efeitos passam a ser erga omnes. Houve, pois uma verdadeira mutação constitucional do art. 52, X, CF/88. Atuação do SENADO FEDERAL no Controle Difuso Os Ministros do STF passaram a adotar, a partir de novembro de 2017, uma revisão do papel que o Senado desempenha no controle difuso. Segundo a Corte, o art. 52, X, CF/88 sofreu uma verdadeira mutação constitucional, deforma que atualmente, a decisão do STF na via difusa (por si só) produz efeitos erga omnes. Atualmente, compete ao Senado, apenas, conferir publicidade à decisão proferida pela Corte, que por si mesma já possui eficácia erga omnes. A abstrativização (ou objetivação) do controle difuso A demora do Senado Federal em editaras resoluções trouxe descrédito para a fórmula constitucionalmente pensada para promover a ampliação dos efeitos subjetivos das decisões de inconstitucionalidade prolatadas pelo STF no controle difuso. Como consequência, tivemos contínuos e severos questionamentos à sua manutenção. Nesse sentido, o STF passou a entender (a partir de novembro de 2017) que está superada a fórmula originalmente pensada pelo poder constituinte para promover a extensão dos efeitos da decisão. Na percepção do Ministro Gilmar Mendes, que foi acompanhado da maioria da Corte, a própria decisão do Supremo contém força normativa suficiente o bastante para suspender a execução da lei declarada inconstitucional Houve, pois, uma autêntica mutação constitucional do dispositivo em comento (art. 52, X, CF/88). Destarte, para a maioria do STF, a decisão em controle difuso continua ainda produzindo, em regra, efeitos tão somente inter partes. No entanto, quando a decisão for prolatada pela própria Corte, os efeitos serão erga omnes, independentemente da participação do Senado Federal. Tipos de ações no controle difuso A ACP (Ação Civil Pública) é um instrumento processual do qual o Ministério Público, e outras entidades legitimadas, podem se valer para efetivar a defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. No que se refere à possibilidade de referida ação ser manejada como instrumento para a solução de controvérsia que envolva questão constitucional, em sede de controle difuso, temos que a jurisprudência do STF evoluiu para admitir o manejo da ACP no controle difuso de constitucionalidade, desde que o objeto central da ação seja a tutela de uma pretensão concreta, jamais a declaração de inconstitucionalidade em tese de uma lei. Vê-se que a controvérsia constitucional será suscitada como mera questão prejudicial cuja análise seja imprescindível à solução do litígio posto no pedido principal. A finalidade da imposição desse requisito foi impedir a utilização da ACP como sucedâneo da ADI.
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