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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ORIENTAÇÃO ESCOLAR GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ........................... 5 1.1 O Orientador Educacional. ................................................................... 14 1.2 O papel do orientador educacional. ..................................................... 15 2 PRINCÍPIOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ...................................... 18 2.1 Objetivos da orientação educacional ................................................... 21 2.2 O papel do orientador educacional ...................................................... 24 3 A RELAÇÃO PROFESSOR–ALUNO NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM ........................................................................................................... 29 3.1 A relação professor–aluno nos pensamentos liberal e progressista .... 29 3.1.1 Pedagogia liberal ................................................................................ 30 3.1.2 Pedagogia progressista ...................................................................... 31 3.2 A relação professor–aluno em diferentes momentos da educação escolar............ ............................................................................................................ 31 3.2.1 Tendências pedagógicas liberais ........................................................ 32 3.2.2 Tendências pedagógicas progressistas .............................................. 34 4 GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA .................................................... 35 4.1 Clima escolar e cultura da escola ........................................................ 35 4.2 A gestão de conflitos no cotidiano escolar ........................................... 40 4.2.1 Bullying ............................................................................................... 43 4.3 Ações de enfrentamento de conflitos na escola ................................... 44 5 AS FUNÇÕES E A COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS ESCOLARES ..... 49 5.1 As funções do Conselho Escolar ......................................................... 49 5.2 A composição do Conselho Escolar ..................................................... 54 5.3 Conselhos Escolares: relações democráticas em suas funções .......... 58 3 6 CONSELHO DE PROFESSORES E ORIENTAÇÃO EM COLEGIADO DOS ALUNOS DA CLASSE AOS CICLOS ............................................................................. 63 6.1 O trabalho doente: prática reflexiva, práxis, competências, habitus .... 64 6.2 Da intimidade da sala de aula ao trabalho coletivo nos ciclos de aprendizagem ............................................................................................................. 66 6.3 O trabalho coletivo nos ciclos de aprendizagem .................................. 68 6.4 O conselho de professores: questões em torno de um conceito e mal- entendidos em torno de um dispositivo ...................................................................... 70 6.5 Uma circular para formalizar o trabalho ............................................... 70 6.6 A interpretação polifônica das prescrições ........................................... 72 6.7 Obstáculos epistemológicos e transformação do habitus .................... 75 7 ORIENTAÇÃO SEXUAL ............................................................................. 79 7.1 Orientação sexual na escola ................................................................ 80 7.1.1 Corpo humano .................................................................................... 82 7.1.2 Relações de gênero ............................................................................ 82 7.1.3 Prevenção às doenças sexualmente transmissíveis ........................... 83 7.2 Educação e orientação sexual ............................................................. 84 7.2.1 Conhecimento sobre o corpo humano na educação........................... 85 7.2.2 Relações de gênero ............................................................................ 87 7.2.3 Prevenção às infecções sexualmente transmissíveis ......................... 90 7.3 A orientação sexual em um contexto multidisciplinar ........................... 91 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. .......................................................... 95 4 Prezado aluno! O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos 5 1 BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Para entender o que é o orientador educacional, é preciso fazer uma breve retrospectiva histórica, pois há diversas vertentes ao longo de seu desenvolvimento. Transferindo o conceito original de Orientação, para o conceito metafórico de Orientação Educacional, este pode ser definido como “uma ação consciente de situar o educando no campo educacional, segundo os pontos básicos do processo educacional”. (VITORIANO, 1973, apud SILVA, 2015, p. 17). O conceito de orientação significa ação ou efeito de orientar. Orientar é um processo humano de colocar pessoas ou coisas na direção do oriente como ponto de referência. Mostrou-se válida na ordenação de sociedade brasileira em mudança na década de 1940 e incluía a ajuda ao adolescente em suas escolas profissionais. A autora mostra que a primeira menção a cargos de orientador nas escolas estaduais se deu pelo Decreto n. 17.698 de 1947, referente às Escolas Técnicas e industriais. (PASCOAL; HONORATO E ALBUQUERQUE, 2008, apud SILVA, 2015, p. 17). A Orientação Educacional no Brasil surge no início da década de 20, na capital paulista. Ela foi introduzida pelo professor e engenheiro suíço Roberto Mange, cujos trabalhos iniciais foram realizados na área de orientação profissional. (SAVIANI, 2007) A essa época, o país atravessava um período de instabilidade econômica. No campo educacional, as oportunidades eram reservadas para as classes dominantes, enquanto que as classes menos favorecidas não podiam alcançar melhores condições de vida, ou seja, a escola reproduzia as desigualdades sociais. 6 Fonte: SAGAH (2020). No ano de 1908, na cidade de Boston (EUA), em meio a tantos avanços tecnológicos, Frank Parsons criou um sistema de orientação para adolescentes que ainda não haviam optado por uma carreira – foi o início da Orientação Profissional. Logo em seguida, no mesmo país, a Orientação Profissional ganhou seu espaço dentro das escolas, que hoje é conhecido como Orientação Vocacional. A proposta era de orientar os alunos na área que escolheria para inserção no mercado de trabalho. A preocupação era voltada para a formação profissional e não para o desenvolvimento do aluno. Depois de muitos anos, a orientação começa a ganhar espaço no país e é mencionada na legislação federal brasileira. É trazida nas Leis Orgânicas do ensino, que foram criadas para dar definição a cada áreade ensino e suas diversas atribuições. A Lei Orgânica do ensino Industrial em 1942 trouxe, pela primeira vez, algo sobre Orientação Educacional. O seu papel seria trabalhar com a ascensão das qualidades morais do indivíduo, desvendando assim, suas aptidões naturais, o que ajudaria na escolha da carreira profissional. Em seguida seu papel recebe caráter disciplinatório, alunos que saíam dos moldes desejados eram encaminhados ao SOE (Serviço de Orientação Educacional). Sua função era voltada para ajustamento e falta de disciplina, pouco ou nada voltada para a autonomia do aluno. As pessoas eram rotuladas em mais capazes e menos 7 capazes, àqueles que exerceriam funções subordinadas e àqueles que exerceriam funções de chefia ou direção (FERREIRA, 2010). Nesse contexto, percebe-se uma ação discriminatória, onde, caso necessário, os indisciplinados eram postos em classes especiais e os vistos como mais capazes tinham as habilidades treinadas para que mais tarde ocupassem os melhores postos de trabalho. Como já exposto, o histórico da Orientação perpassa por diversas fases e papéis exercidos por esse profissional, em diferentes contextos históricos e políticos. O campo de atuação era voltado para “desajustes” escolares, hoje o papel desempenhado por esse profissional é outro: [...] a orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e unicamente cuidar e ajudar os „alunos com problemas‟. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação, voltada para a „construção‟ de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente. Desloca-se, significativamente, o “aonde chegar, neste momento da Orientação Educacional, em termos do trabalho com os alunos”. Pretende-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtido através do diálogo nas relações estabelecidas. (GRINSPUN, 1994, apud SILVA, 2015, p. 19). Segundo Grinspun (2003), antes o orientador era visto como uma figura “neutra” no processo educacional, para “guiar os jovens em sua formação cívica, moral e religiosa”, hoje, espera-se um profissional comprometido com sua área, com a história de seu tempo e com a formação do cidadão. O orientador deve fortalecer o contato entre escola e comunidade, já que é tão importante para o aluno o entendimento da sua história real vivida. Com isso, o orientador consegue exercer um de seus papeis, que é atuar na construção do indivíduo, fazendo com que ele tenha compromisso com sua comunidade, desenvolvendo assim, a cidadania. O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno ‘por inteiro’ (grifo da autora): com utopias, desejos e paixões. (...) a Orientação trabalha na escola em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação (grifo da autora) para atender aos excluídos (...), mas para entendê-lo, através das relações que ocorrem (...) na instituição Escola. (GRINSPUN, 2002, apud SILVA, 2015, p. 19). 8 O que mostra que seu papel vai além dos portões da escola. Ele deve auxiliar o trabalho do professor, fazer a ponte entre família e escola, dar apoio para o aluno no processo educacional, realizar projetos para atender as necessidades de seus alunos, entre outras diversas atribuições que lhe são dadas. O orientador educacional tem um papel fundamental na vida do aluno, da família e até mesmo dos professores. É ele o responsável pela mediação entre todos os envolvidos no processo educacional. É um papel desafiador, que foi ganhando, com o passar dos anos, suma importância no âmbito escolar. Infelizmente, seu papel ainda não está muito bem definido dentro das escolas, e ele acaba por realizar as atribuições de outros profissionais. Sua figura muitas vezes é confundida com a do psicólogo, coordenador, professor. No final, ele realiza todas essas tarefas, mas o seu real papel precisa ser bem desenhado, para que ele consiga realizar seu trabalho com excelência e sem sobrecarga. Seu trabalho apresenta um olhar voltado para o educando, centrado na responsabilidade de formar cidadãos, de fazer valer o caráter democrático da educação, ou seja, dar o suporte necessário para o indivíduo atuar no meio social, fazendo com que desenvolvam senso crítico. Auxiliá-los através de uma prática pedagógica que estimule sua participação, desenvolvendo sua capacidade de criticar e fundamentar sua crítica, de optar e assumir a responsabilidade da execução e da avaliação do trabalho pedagógico. ...O orientador trabalha o aluno para o seu desenvolvimento pessoal, visando à participação dele na realidade social. (GRISPUN, 2003, apud SILVA, 2015, p. 20). É uma tarefa que vai se aprimorando com o passar dos anos, se ganha experiência no dia a dia. Ele está disposto no espaço escolar para orientar o aluno, ajudando a solucionar problemas que vão surgindo durante a caminhada escolar e na vida pessoal. É ele quem faz a mediação escola/família, aluno/professor, aluno/família, aluno/comunidade, comunidade/aluno família/professor e mediações/prevenções ligadas a drogas, violência e sexo, mostrando os caminhos e escolhas que o educando pode seguir. Seu papel ultrapassa os muros da escola. 9 Atualmente, a sala da orientação educacional é o local que o aluno vai, não só para ser orientado sobre seus comportamentos e atitudes, mas para se sentir acolhido, ouvir e ser ouvido, entender que ele tem o seu espaço no colégio e no mundo. Orientador e professor devem caminhar juntos. Ele auxilia o professor a compreender o comportamento dos educandos, a lidar com as dificuldades de aprendizagem e mediar conflitos entre alunos, professor e comunidade. O orientador educacional diferencia-se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor. O diretor ou gestor administra a escola como um todo; o professor cuida da especificidade de sua área do conhecimento; o coordenador fornece condições para que o docente realize a sua função da maneira mais adequada possível e o orientador educacional cuida da formação de seu aluno, para a escola e para a vida. É necessário que os docentes conheçam e reflitam sobre o verdadeiro significado da existência da escola e sua função social. Seu trabalho volta-se para a constante reflexão crítica da prática pedagógica. A relação é baseada em auxílio e troca de informações, onde o professor relata o que acontece, diariamente dentro da sala de aula, e o orientador utiliza a informação para agir na vida do educando. Na maioria das vezes o comportamento que o aluno tem dentro de sala de aula é reflexo do que acontece dentro de casa, e que nem sempre ele se sente a vontade para contar a seus professores, enviam apenas sinais, ele capta e transfere para o orientador. É preciso ressaltar que na promoção das reflexões e discussões, o Orientador Educacional deve conhecer a ciência da educação incluindo as teorias da aprendizagem, as psicológicas, as ciências sociais, ou seja, possuir competência técnica. Outros conhecimentos devem fundamentar a prática do orientador educacional, tais como a: Psicologia, Sociologia, História da Educação e História do Brasil (até nossos dias), além de outros, oriundos da Antropologia, Ciências Políticas, Metodologia e Pesquisa em uma abordagem qualitativa (ASSIS, 1994, apud SILVA, 2015, p. 21). No que tange à ação com a família e comunidade, o trabalho volta-se para incluir e mostrar a importância que possuem na organização e desenvolvimento da instituição. Promovendo ações que incentive pais e comunidade a participarem da rotina escolar, que possam levar seus anseios e sintam que sua opinião é válida e importante. Devem construir uma relação de confiança, onde pais e comunidade estejam sempre informados 10do que acontece no âmbito escolar e participem ativamente da vida de seus filhos. Isso é muito importante para que esses pais tenham sentimento de pertença e colaborem com o processo educativo. Esse é um dos desafios do Orientador, levar pais e comunidade para dentro das escolas, um espaço coletivo onde as decisões podem ser compartilhadas (GRISPUN, 2003). É um profissional muito solícito, contribui para a sociedade de maneira esplendida, é parceiro da educação e faz total diferença na instituição. Possui papel essencial na desenvoltura e na vida do aluno. É um papel com muitos desafios, que foi ganhando, com o passar dos anos, suma importância no âmbito escolar. Segundo Giacaglia e Penteado (2010), “é um profissional técnico, da área de educação, que exerce uma profissão de apoio a pessoas e, portanto, de natureza assistencial.” Ainda segundo essas autoras o trabalho desses profissionais se orienta principalmente para o “bem estar e felicidade” dos alunos. É necessário compreender o educando de forma integral, e não apenas como um sujeito a ser ajustado e ensinado. A necessidade da Orientação Educacional no Brasil surge também de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, uma vez que a educação seria a responsável pelo desenvolvimento do país. Ela surge na década de 20, junto com um movimento em prol da educação do povo, onde o Governo estava preocupado em dar educação para todos, visando à ascensão social. Tudo isso na tentativa de amenizar a crise social e política vivida na época. A orientação vocacional se empenha em auxiliar pessoas a tomar decisões no âmbito do trabalho, atendendo a pessoas em processos de escolha de carreira, o que ajudaria a melhorar o quadro histórico em que se encontrava o Brasil. Em 1924 temos o primeiro Serviço de Orientação voltado para a escolha profissional, para alunos do curso de mecânica, criado pelo engenheiro Suíço Roberto Manage junto com Lourenço Filho. Em 1931, Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de Orientação Profissional no Brasil, mas que foi extinto em 1935. Com Getúlio Vargas no poder (década de 30) é implantado um novo processo de mudanças políticas, sociais e econômicas com o objetivo de favorecer a modernização do estado. Vargas desenvolveu uma política voltada para várias classes sociais, causando grande mudança no âmbito educacional. Visava qualificar trabalhadores para a crescente 11 industrialização. Com isso, pessoas deixavam a vida rural e vinham tentar melhores condições nas cidades. Art. 129: À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, e a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. O ensino pré - vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever do Estado... (Constituição Federal Brasileira de 1937, apud SILVA, 2015, p. 22). É nítido que a educação era elitista, onde o ensino principal era o ensino privado e as famílias que não tinham condições para colocarem seus filhos em escolas privadas, o governo assumiria e iriam para escolas públicas. Para Romanelli (1986), durante a ditadura do governo Vargas, se instituiu oficialmente a discriminação social através da escola. No seu artigo 129 promulgou que: O ensino pré-vocacional e profissional é destinado às classes menos favorecidas. Com isso, estaria orientando a escolha da demanda social da educação fazendo com que o movimento renovador se calasse, pois modificava fundamentalmente o dever do Estado e limitava-lhe a ação quanto à educação. A primeira lei que mencionou a Orientação Educacional no país foi o Decreto – Lei nº 4073, de 30 de janeiro de 1941 (Lei Orgânica do Ensino Industrial), formulada por Gustavo Capanema – ministro da Educação e Saúde Pública, que traz, em seu capítulo XII, a seguinte redação: Art. 50. Instituir-se-á, em cada escola industrial ou escola técnica, a orientação educacional, que busque, mediante a aplicação de processos pedagógicos adequados, e em face da personalidade de cada aluno, e de seus problemas, não só a necessária correção e encaminhamento, mas ainda a elevação das qualidades morais. Art. 51. Incumbe também à orientação educacional, nas escolas industriais e escolas técnicas, promover, com o auxílio da direção escolar, a organização e o desenvolvimento, entre os alunos, de instituições escolares, tais como as cooperativas, as revistas e jornais, os clubes ou grêmios, criando, na vida dessas instituições, num regime de autonomia, as condições favoráveis à educação social dos escolares. Art. 52. Cabe ainda à orientação educacional velar no sentido de que o estudo e o descanso dos alunos decorram em termos da maior conveniência pedagógica. (Lei Orgânica do Ensino Industrial, 1941, apud SILVA, 2015, p. 23). 12 Sua função era descobrir habilidades particulares de cada educando e desvendar as aptidões naturais do indivíduo. Aqui seu referencial era baseado praticamente em bases psicológicas, ele realizava diagnósticos baseados na psicologia aplicada e indicava as profissões adequadas a cada orientando (SPARTA, 2003). Em 1942 as Leis Orgânicas de Ensino tornam obrigatória a presença do Orientador Educacional nas escolas secundárias (somente para escola industrial ou escola técnica, provavelmente por conta de suas origens profissionalizantes). Em 1958, por meio da Portaria de nº 105 do MEC o exercício da função do orientador educacional no ensino secundário foi regulamentado. Mas o primeiro registro oficial de um Orientador foi dado pelo MEC apenas em 1960. Em 1961, a Lei nº 4024/61 (LDB) a orientação, antes introduzida somente no ensino secundário, passou a atender também o ensino primário. Nesta, a orientação tem um novo enfoque, suas atribuições voltam-se para todos os alunos e não mais somente para os alunos problemas. Nesse contexto na LDB de 1961, o Orientador ganha status de Orientador Educativo (OE) e Vocacional, tornando seu trabalho mais minucioso e desenvolvido para todos os alunos, não mais voltado apenas para os “alunos-problema”. A LDB de 1971 trouxe a obrigatoriedade do orientador nas escolas de 1º e 2º grau, sejam públicas ou particulares. No Capítulo I, no décimo artigo temos: “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional em cooperação com os professores, a família e a comunidade”. Em 1973 é criado o Decreto – Lei n° 72.846 de 26/06/1973, que regulamentou as atribuições do Orientador Educacional em âmbito nacional, e até os dias de hoje a atuação desses profissionais estão baseadas nesse documento. O legislador estabeleceu atribuições privativas, nas quais o Orientador deve coordenar e participar, atuando em cooperação com os demais membros da escola. Dentre todas as atribuições, que auxiliam na orientação para um trabalho prático, destaco algumas atribuições previstas nos Artigos 8º e 9º: Art. 8º São atribuições privativas do Orientador Educacional: a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em nível de: 1- Escola; 2- Comunidade; c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando- o ao processo educativo global; d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando; h) Coordenar o acompanhamento pós- escolar; j) Supervisionar estágios na área da 13 Orientação Educacional. Art. 9º Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições: c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola; e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos; g) Participar do processo de integração escola- família- comunidade; h) Realizar estudos epesquisas na área de da Orientação Educacional. (Lei n° 72.846 de 26/06/1973, apud SILVA, 2015, p. 24). A década de 80 traz uma série de fatores que mostra uma busca de identidade para o orientador. Apesar dos avanços legais e continuidade da movimentação da classe, o trabalho efetivo não acontecia, o que desvalorizava o trabalho desse profissional. Isso se dá por vários fatores, um deles é o não cumprimento da lei 5692/71 que previa a obrigatoriedade do Orientador Educacional nas escolas. Um dos motivos do não cumprimento da lei era a situação econômica que o país enfrentava. Havia muitas escolas públicas e a folha de pagamento público representava uma enorme fatia do orçamento público, onde a figura do Orientador ficava fora das prioridades de contratação. A falta de esclarecimento e delineamento do papel do orientador nas escolas e na comunidade e a falta de estrutura para os estudantes de Pedagogia também foram pontos marcantes para a desvalorização do Orientador Educacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 (1996) em seu artigo 64 diz que: “A formação dos profissionais da educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feito em cursos de graduação, em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida nesta formação a base comum nacional”. A LDB (1996) deixa de se referir claramente à obrigatoriedade do profissional nas escolas. Explicitando como deve ser a sua formação, não trazendo suas atribuições, destacando apenas que para atuar na área de Orientação, é preciso ter graduação em Pedagogia aliada a uma pós-graduação em Orientação Educacional, o que foi um ganho para o curso de Pedagogia, pois na lei anterior a esta, a profissão do Orientador não exigia um curso de licenciatura específico, o que fazia com o que os Orientadores Educacionais pudessem ser professores de outras licenciaturas que não dispõe de base comum para atuar na área. Com a não obrigatoriedade deste profissional dentro das escolas a profissão foi perdendo força. Além de todos esses fatores legais, é nítido que a educação sempre 14 serviu mais a política do que à sociedade, visto que essas decisões foram tomadas devido a crises econômicas. 1.1 O Orientador Educacional. Segundo Grinspun (2003), o trabalho realizado pela Orientação Educacional se divide em seis momentos distintos, datados e caracterizados. Período implementador – 1920 a 1941, onde o orientador começa aparecer no cenário educacional brasileiro timidamente associado à orientação profissional. Tendo como foco os trabalhos de seleções e escolhas profissionais. Período institucional – 1942 a 1960, considerado como o período que está subdividido em funcional e instrumental, é onde ocorre toda a exigência legal da orientação nas escolas, que, por meio do esforço do Ministério da Educação e Cultura buscou dinamizá-la, efetivar os cursos que cuidavam da formação dos Orientadores Educacionais. Período Transformador – 1961 a 1970 que traz consigo uma Orientação Educacional caracterizada como educativa, começam a aparecer em eventos da classe, em congressos, e ganha espaço nesse período as questões psicológicas. Tendo em seu bojo, um fazer de orientação, de fora para dentro, a partir da dinâmica do grupo e das atividades que fomentava conflitos dentro da escola. Período Disciplinador – 1971 a 1980, onde a orientação estava sujeita à obrigatoriedade da lei 5692/71 que determina, inclusive, o aconselhamento vocacional, ou seja, de vocação. Ao mesmo tempo, a Orientação deveria trabalhar com o currículo da escola, levando os seus orientadores a questionar a sua pratica pedagógica. Nesse cenário, as diretrizes indicavam para uma visão sociológica e coletiva, ao contrario, os profissionais enquadravam-se em uma visão psicológica. Grinspun (2003, p. 19), pondera que é nesse período que "desloca-se a análise da escola, das relações internas desta instituição e da dinâmica do processo de ensino aprendizado, para compreender o que se passava no eixo social [...]." para então questionar o fazer diário dos serviços de responsabilidade da escola. 15 Período Questionador - década de 80. Como o próprio nome já indica é neste período que mais se questiona a Orientação Educacional, tanto em termos de formação de seus profissionais, quanto da prática realizada, pois, o cenário dos anos 80 trouxe grandes modificações que refletiu na educação e logo na forma de fazer orientação. Isso levou a ser caracterizado como período onde se realizou muitos cursos de capacitação voltados para os profissionais. Contudo, inicia–se o momento onde o orientador educacional se viu na necessidade de: "[...] participar do planejamento- não como benesse da orientação, mas sim como um protagonista do processo educacional procurando discutir objetivos, procedimentos, estratégias e critérios de avaliação [...]," com isso, trazer a realidade social do aluno para dentro das ações da escola. De forma a pode refletir a ação do aluno, baseado na relação escola e meio externo (sociedade). (GRINSPUN, 2003, apud TRINDADE, 2011, p. 9). Período Orientador – a partir de 1990, assim denominado este período, por acreditar que, principalmente a partir de 1990, temos a "orientação" da Orientação Educacional pretendida. Também caracterizada como uma prática a ser construída cotidianamente. E ainda, cogita-se no sentido de saber se esse profissional subsistirá. Atualmente o trabalho desenvolvido pela Orientação Educacional engloba o trabalho diretamente com os alunos, seu compromisso é com a formação permanente dos educandos no que diz respeito a valores, atitudes, emoções, sentimentos e suas relações pessoais, sociais e escolares. 1.2 O papel do orientador educacional. O papel do Orientador Educacional (OE) na escola é muito amplo, sendo muito importante em todo o processo educacional, pois busca sempre a formação integral do estudante e trabalha com toda a comunidade escolar. A Orientação Educacional (OE) é um processo organizado e permanente que existe na escola. Ela busca a formação integral dos educandos (este processo é apreciado em todos seus aspectos, tido como capaz de aperfeiçoamento e realização), através de conhecimentos científicos e métodos técnicos. A Orientação Educacional é um sistema em que se dá através da relação de ajuda entre Orientador, aluno e demais segmentos da escola; resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira organizada que acaba por despertar no 16 educando oportunidades para amadurecer, fazer escolhas, se auto conhecer e assumir responsabilidades (MARTINS, 1984, apud BUGONE, 2016, p. 2). O trabalho de Orientação Educacional, ao longo dos tempos, passou por diversas etapas e transformação para se adaptar as mudanças e necessidades da sociedade. Atualmente, é importante que para desenvolver suas atividades de trabalho, o OE procura conhecer a realidade na qual está inserida a escola e principalmente a realidade dos estudantes, levando em conta suas características e vivências. Isso se torna fundamental, pois influencia no processo de ensino e aprendizagem, que antes acontecia somente na escola, e agora passou a abranger diversos outros campos, como na família, no trabalho, na sociedade, nos meios de comunicação, etc (FERREIRA, 2010). O OE está sendo cada vez mais requisitado no contexto escolar, mediante os problemas que as escolas têm enfrentado como indisciplina, conflitos familiares, auxílio aos professores para lidar com educandos/famílias/dificuldades na aprendizagem e para auxiliar a dar conta das funções que a escola tem assumido na atualidade. O mesmo precisa trabalhar buscando o desenvolvimento integral do estudante, sendo o mediador entre os professores, funcionários, estudantes e sociedade, promovendo uma melhor convivênciadentro e fora da escola, procurando mostrar que a função da escola é ensinar (socialização secundária) e não educar (socialização primária), descobrindo novos métodos que possam auxiliar nas dificuldades dos estudantes. Diante do exposto, como questionamentos centrais deste estudo definimos: quais são os desafios do OE no meio escolar? Como ele pode enfrentar tais desafios? (FERREIRA, 2010). A escola vem vivenciando uma nova realidade e enfrentando diversos desafios, é preciso pensar e repensar nas formas de aprendizagem, sempre buscando meios necessários para que se possa cumprir sua função de ensinar, promovendo a tematização de conhecimentos básicos para formar cidadãos, lançando mão de práticas pedagógicas ancoradas em princípios como a autonomia, a responsabilidade, a solidariedade, o respeito e a ética. O OE precisa estar comprometido com a construção do sujeito\estudante na formação de suas ações de cidadania (FERREIRA, 2010). A busca não se dá apenas no processo de adquirir informações, mas como se dá a formação desse sujeito. Pensar a Orientação Educacional hoje, não é se preocupar exclusivamente com os “alunos problemas”. Ela tenta contribuir, na solução dos 17 problemas enfrentados pelos estudantes, mas, além disso, de toda a comunidade escolar, numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações dentro e fora da escola. O desafio maior do sistema educacional é o de oferecer um ensino de qualidade, em que a formação do estudante ocorra em termos de formação do cidadão participativo, crítico, emancipado, consciente de seu papel na sociedade. Neste contexto, é importante mostrar e refletir sobre o papel do OE, pois este precisa ter compromisso em relação aos valores, atitudes, emoções e sentimentos, devendo ter claro que cada sujeito é um ser único e pela sua individualidade cada um é especial merecendo além de respeito, muitas vezes carinho e afeto (FERREIRA, 2010). Esse fato merece atenção, pois grande parte dos aprendizados acontecem na decorrência de interação e relação com as pessoas que estão presentes no nosso dia a dia. É significativo ressaltar também a relação e o comprometimento que o OE deve manter com os professores, pais, direção, coordenação, funcionários e comunidade escolar como um todo, pois como faz parte da equipe pedagógica da escola, suas responsabilidades são muitas, precisa mediar, planejar, coordenar, avaliar e assessorar. Apesar de ser um profissional de extrema importância no âmbito escolar, ainda existem muitas escolas ou instituições educacionais que não possuem orientadores. Isso faz com que outros profissionais da escola, muitas vezes não capacitados e acumulando funções, acabam tentando desenvolver esse trabalho, porém, apesar dos possíveis esforços, geralmente não é desenvolvido de forma tão qualificado como poderia pelo profissional especializado. A educação escolar não pode se constituir num processo linear, mas precisa ser uma busca a partir da compreensão da realidade, refletindo sobre a integração do sujeito ao meio escolar e ao meio que vive (FERREIRA, 2010). Então, considerando a importância e a real função do OE na orientação do processo educativo escolar, busca-se compreender a função deste especialista em educação no cotidiano escolar. Nesse sentido, investigar quais são os desafios e atribuições impostas ao OE no meio escolar, aprofundar conhecimentos sobre a função da Orientação Educacional, suas atribuições tanto na equipe gestora, quanto em contato com os estudantes, famílias e sociedade torna-se premissa básica quando se intenciona refletir acerca dos problemas que muitas vezes impedem que o professor desenvolva uma educação escolar de qualidade (FERREIRA, 2010). 18 2 PRINCÍPIOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A orientação educacional desde a sua criação, serviu ao sistema educacional. Atualmente é concebida, por especialistas, como um processo sistemático e contínuo que se caracteriza por ser uma assistência profissional realizada por meio de métodos e técnicas pedagógicas ou psicológicas. Ela é exercida direta ou indiretamente sobre os alunos, levando-os ao conhecimento de suas características pessoais e do ambiente sociocultural, a fim de que possam tomar decisões apropriadas às melhores perspectivas de seu desenvolvimento pessoal e social, tornando-se cada vez mais necessária (SOUZA, 2010). Em toda a ação do Orientador Educacional é necessária uma reflexão contínua sobre a realidade que o cerca, possibilitando-lhe um posicionamento profissional mais adequado. Ter sempre presente em suas atividades os princípios que servem de suporte ao processo de orientação, levando-o a uma ação mais consistente e coerente. A orientação educacional deve ser norteada pelos seguintes princípios: Ver o educando em sua realidade bio-psico-social, com todo o respeito e consideração, a fim de que, a partir dessa realidade, se possa erigir uma personalidade ajustada, segura de si e compreensiva. Em reforço ao primeiro princípio, respeitar o educando em sua realidade, qualquer que ela seja. Realizar trabalho de orientação, sem criar dependências, mas orientar para a autoconfiança, independência, autonomia e cooperação. Em se querendo que o educando seja independente e respeitador, sensibilizá-lo para a necessidade de também respeitar os seus semelhantes. O trabalho de Orientação exige o maior número possível de informes a respeito do educando, o que deve ser diligenciado por todos os meios. 19 Assistir todos os educandos, desde os mais aos menos carentes, bem como os que não revelarem carências. Dar ênfase aos aspectos preventivos do comportamento humano, uma vez que é muito mais fácil evitar um acidente do que se recuperar do mesmo. Este princípio guarda analogia com outro de natureza médica e que diz: “um grama de prevenção vale mais que uma tonelada de curas”. Assim, o ideal será a Orientação Educacional agir, preferencialmente, de maneira profilática do que curativa. Estabelecer um clima de confiança e respeito mútuo, incentivando a procura espontânea do Serviço de Orientação Educacional, logo que a dificuldade ou uma dúvida surja na vida do educando, antes que a mesma tome vulto e desoriente. Procurar envolver todas as pessoas com o processo de educação, como diretor, professores, pais, serventes, etc., para que todos cooperem com a Orientação Educacional, no sentido de ajudá-la a melhor ajudar o educando. A Orientação Educacional deve ter muito cuidado em formular juízos a respeito do educando, não esquecendo que este é um ser em evolução, em marcha para a maturidade e que uma série de fatores pode estar influenciando-o para que ocorra o comportamento anormal que tem apresentado. A Orientação Educacional deve ser levada a efeito como um processo contínuo e não como ação esporádica dos momentos em que faltarem professores ou que surgirem dificuldades maiores. Deve ser trabalho planejado para todo o ano letivo, sem aquelas características de tapa-buraco (SOUZA, 2010). A Orientação Educacional tem de trabalhar em estreito entendimento com a direção. Jamais em sentido de subserviência ou petulância, mas em sentido de cooperação, compreensão e respeito mútuo. 20 A Orientação Educacional não deve se envolver em pequenas questões entre educandos e professores. Ocorrências conflitivas de pouca intensidade são, até certo ponto, naturais. Assim, problemas que não ultrapassem certos limites devem ser deixados para que os próprios professores os resolvam. A Orientação Educacional deve agir, também, como órgão de estudo e de pesquisa de medidas que levem à superação de dificuldades de natureza disciplinar, não devendo, porém nunca, funcionar como “órgão disciplinador”. Deve, sim, agir como órgão que leve todos a tomarem consciência do grave problema da disciplina,que está inutilizando o trabalho de muitas escolas. Ressaltar que a Orientação Educacional precisa dar muita atenção ao serviço de anotações, que deve ser o mais perfeito possível, a fim de que dados a respeito de um educando estejam sempre a mão e atualizados (SOUZA, 2010). A Orientação Educacional deve estar aberta para a realidade comunitária, a fim de que o seu trabalho esteja articulado com o meio, para melhor ajudar o educando a integrar-se no mesmo. A Orientação Educacional deve esforçar-se para criar na escola um clima de comunidade e sensibilizar a todos, quanto à necessidade de que cooperem em suas atividades, com entusiasmo, respeito e solidariedade. A Orientação Educacional não deve esquecer-se de estimular ao máximo a iniciativa do educando, principalmente, através de atividades extra classe, empenhando-a na realização com verdadeiro engajamento, que ajudará na explicitação de suas virtualidades, na conquista da autoconfiança e na revelação de suas capacidades de liderança. 21 2.1 Objetivos da orientação educacional A orientação educacional tem por objetivo promover atividades que favoreçam a integração individual e social do educando, tais como (SOUZA, 2010): Orientar o educando em seus estudos, a fim de que os mesmos sejam mais proveitosos. Como complementação do primeiro objetivo, ensinar a estudar. É impressionante a quantidade de educandos de todos os níveis que se perdem nas obrigações escolares por não saberem estudar, com desperdício de tempo e energia. Este objetivo é dos mais importantes e cuja efetivação deveria ter início no Ensino Fundamental e continuar por todos os níveis de ensino. Ensinando o educando a estudar em função do nível de ensino que estivesse cursando, pois muitos fracassos escolares são devido ao fato do educando não saber estudar, com desperdício de tempo e esforço, conduzindo, o educando a abandonar os estudos. Assim, é importante, que desde o início da escolaridade intelectual, a Orientação Educacional ensine o educando a estudar, através de sessões destinadas a todos os educandos de uma classe. Discriminar aptidões e aspirações do educando, a fim de melhor orientá-lo para a sua plena realização. Auxiliar o educando quanto ao seu autoconhecimento, à sua vida intelectual e à sua vida emocional. Orientar para o melhor ajustamento na escola, no lar e na vida social em geral. É fundamental a interação entre educando e professor, educando e seus colegas, bem como educando e sua família. É importante, também, que o educando saiba manter um comportamento adequado nas atividades fora da escola e do lar. 22 Formar o cidadão que alimente dentro de si um sentimento de fraternidade universal, capaz de fazê-lo sentir-se irmão, companheiro e amigo de seu semelhante em todas as circunstâncias da vida. Trabalhar para a obtenção de um melhor cidadão, por parte do educando, para que este seja um membro integrado, dinâmico e renovador no seio da sociedade. Enfim, desenvolver ação para que se obtenha o cidadão consciente, eficiente e responsável. Levar a efeito melhor entrosamento entre escola e educando, com benefícios compensadores quanto à disciplina, formação do cidadão e rendimento escolar. Prestar assistência ao educando nas dificuldades em seus estudos ou relacionamento com professores, colegas, pais ou demais pessoas. Levar cada educando a explicar e desenvolver suas virtualidades (SOUZA, 2010). Prevenir o educando com relação a possíveis desajustes sociais, que sempre estão eclodindo na sociedade, como fruto de uma dinâmica negativa de desagregação social. Possibilitar aos professores melhor conhecimento dos educandos, oferecendo, assim, maiores probabilidades de entrosamento positivo entre ambos e mais adequada ação didática por parte dos professores, a fim de ser obtido maior rendimento escolar. Sensibilizar, de forma crescente, professores, administradores e demais pessoas que trabalham na escola, para que queiram melhorar suas perspectivas atuações, visando à melhor formação do educando. 23 Realizar trabalho de aproximação da escola com a comunidade, a fim de proporcionar ao educando maiores oportunidades de conhecimento do meio e desenvolvimento comportamental de cidadão participante. Favorecer a educação religiosa, com suas perspectivas transcendentais, mas desvinculada do compromisso sócio-ideológico. O bem que a religião infunde pode levar a efeito, na busca da melhoria do funcionamento de qualquer regime, sem apelos ao ódio e destruição. Trazer a família para cooperar de maneira mais esclarecida, eficiente e positivista na vida do educando. Proporcionar vivências que sensibilize o educando para os valores que se deseja incorporar no seu comportamento. Trabalhar para instaurar na escola um ambiente de alegria, satisfação e confiança para que se estabeleça um clima descontraído, evitando os temores, frustrações e humilhações. Incentivar práticas de higiene física e mental, procurando conscientizar o educando em relação à importância e valor da saúde, que pode ser cuidada e preservada individualmente, educando por educando. Desenvolver admiração e respeito pela natureza, evitando depredá-la em quaisquer de seus aspectos: paisagem, fauna e flora. Desenvolver atividades de lazer, podendo, algumas delas, em caso de necessidade, transformar-se em atividades profissionais. Neste particular, orientar o emprego adequado e higiênico de horas de folga (SOUZA, 2010). 24 Trabalhar para uma adequada formação moral do educando, imbuindo-o de valores éticos necessários para uma vida digna, humana e coerente, em que o respeito ao próximo deve ser o motivo principal. Favorecer a educação social e cívica do educando, sensibilizando-o para a cooperação social e deveres comunitários. Neste particular, incentivá-lo para a melhoria da estrutura e funcionamento da vida social, sem a marca de destruição, alertando-o, pois em relação a certos movimentos de fundo comunitário que pregam, em nome do bem, o ódio, a morte, a violência e a destruição (SOUZA, 2010). 2.2 O papel do orientador educacional O orientador educacional atua junto ao corpo discente e docente das instituições de ensino, acompanhando as atividades escolares, bem como o desempenho do estudante, seja em termos de rendimento ou de comportamento (SOUZA, 2010). A Orientação Educacional é entendida como um processo dinâmico e contínuo, estando integrada em todo o currículo escolar. O papel do Orientador Educacional corresponde ao elo entre os alunos e a escola, favorecendo o processo de integração Escola-Família-Comunidade, numa perspectiva voltada para as dificuldades pedagógicas, e emocionais, sociais e cognitivas dos alunos. Para que isso se realize, é necessário que o trabalho esteja integrado com a Direção, Coordenação Pedagógica, e com o Corpo Docente e a Família. Desta forma, a Orientação Educacional junto à (SOUZA, 2010): Escola e alunos: Mobiliza a criança, a escola e a família para a investigação coletiva da realidade na qual todos estão inseridos; 25 Realizar o atendimento aos alunos orientando-os de forma individual ou coletiva, com observação, acompanhamento, aconselhamento e entrevista; Acompanha o aluno no processo ensino-aprendizagem, visando o seu relacionamento com a realidade social e profissional; Desenvolve hábitos de estudo e de organização, junto à Tutoria; Integra as diversas disciplinas junto a Coordenação Pedagógica, disponibilizando aos alunos assuntos atuais e de interesse dos mesmos; Organiza dados referentes à vida escolar aos alunos; Estabelece um vínculo de confiança e cooperação entre os alunos, ouvindo-os com paciência e atenção; Desperta no aluno o compromisso com a responsabilidade e autonomia enquanto pessoa e cidadão, para estimular a reflexão coletiva de valores: liberdade, justiça, honestidade, respeito, solidariedade, fraternidade, comprometimento social; Atua preventivamente em relação a situações e dificuldades próprios do cotidiano, promovendo condições que favoreçam o desenvolvimento do aluno; Promove palestras de interesse e importância aos alunos; Conduz o processo de sondagem de habilidades e interesses oportunizando ao aluno o conhecimento das diferentes profissões e o mundo do trabalho, de forma que possa preparar-se para a vida em comunidade (SOUZA, 2010). 26 Família: Esclarece a família quanto às finalidades e funcionamento do SOE (Serviço de Orientação Educacional); Orienta a família sobre o desenvolvimento dos alunos sempre que se fizer necessário, realizando reuniões com os pais juntamente com a Equipe Pedagógica; Relaciona-se com os pais e familiares dos alunos de forma que desenvolva a participação ativa dos mesmos na escola; Compromete-se com a integração pais e escola, professores e pais e pais e filhos; Acompanha o aluno e sua família nas possíveis dificuldades, encaminhando-os a outros especialistas se necessário; Atende os especialistas multidisciplinares que por ventura, realizem qualquer tipo de acompanhamento com os alunos (SOUZA, 2010). Professores: Fornece ficha de encaminhamento para o professor formalizar a solicitação de acompanhamento dos alunos; Mantém os professores informados quanto às atitudes e acompanhamentos do SOE junto aos alunos, principalmente quando esta atitude for solicitada pelo professor; Coopera com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na compreensão do comportamento das classes e dos alunos em particular; 27 Realiza intervenções pedagógicas junto à Coordenação, quando necessário. A orientação educacional, em sua trajetória, caracterizou-se por atuar quase que exclusivamente na resolução de problemas individuais dos alunos ou na orientação da escolha profissional. Segundo Grinspun, “a prática da orientação educacional deve ser vista como um processo ativo e dinâmico, como construção, produção de conhecimento, de saberes, de comunicações e interações”. Com esta evolução, não é mais possível pensar a orientação apenas como um serviço assistencialista onde se buscava resolver os problemas pessoais dos alunos ou, como um serviço contemporizador, chamado para intervir nos momentos de tensão ou conflito (visão ainda existente, hoje, em muitas escolas) (SOUZA, 2010). O momento atual instiga o orientador a assumir em sua prática uma nova abordagem, voltada para a construção de um cidadão mais comprometido com o seu tempo. Sua ação precisa estar direcionada para compreender o desenvolvimento do aluno, do ponto de vista cognitivo, da afetividade, da tomada de decisão, da sua inserção social. Os sentimentos permeiam todo o processo pedagógico, não existe ação ou pensamento que venha desvinculado dos sentimentos. A escola constrói sua proposta pedagógica, mas esta tem que estar em consonância com a realidade social. A sociedade atual exige um novo indivíduo, comprometido e crítico, que saiba conquistar seu espaço. A nova concepção de educação também exige um educador engajado, participativo e atuante. O orientador educacional deve estar comprometido com o desenvolvimento do processo pedagógico da escola e com toda a comunidade escolar para que, através desta articulação e reflexão, se construam novas propostas de ação. O papel do orientador é auxiliar o educador a estabelecer vínculos de sua prática cotidiana com a realidade mais ampla. É o elo entre os alunos e a escola, favorecendo o processo de integração escola-família-comunidade (SOUZA, 2010). A construção de uma parceria entre orientador, supervisor, professores e direção, redimensiona as práticas pedagógicas, pois encontra a solução dos problemas no coletivo, através do diálogo e do planejamento de acordo com a realidade, visando alcançar os objetivos propostos e uma maior qualidade na aprendizagem. Caminha-se 28 em busca de uma ação reflexiva na qual orientadores, supervisores e professores examinam, questionam e avaliam criticamente a sua prática. Os professores que se prendem somente a sua prática, sem uma reflexão mais rigorosa sobre ela, acomodam- se a uma única perspectiva, aceitam, sem críticas, o cotidiano nas escolas. O orientador educacional caracteriza-se como mediador e articulador do processo educativo, priorizando a construção de uma escola participativa e transformadora desta sociedade individualista, excludente e discriminatória (SOUZA, 2010). É um dos profissionais mais procurados para ajudar na solução de problemas, principalmente quando diz respeito a questões de indisciplina, sexualidade, uso de drogas, gravidez precoce e indesejada, violência, abuso sexual contra crianças e adolescentes, doenças sexualmente transmissíveis, enfim, buscam neste profissional informação e ajuda sobre fatos concretos relacionados ao cotidiano da escola e do aluno. Paulo Freire diz: “O mundo não é. O mundo está sendo”. Assim devemos olhar a ação do orientador educacional, buscando no cotidiano a criação do novo, de formas alternativas de atuação, comprometidas com a construção de saberes que rompam com as velhas estruturas de conhecimento prontas e acabadas. Desta forma, buscar-se-á transcender para uma visão não excludente, mas que desperte no aluno a alegria do descobrir, do recriar e de ser cientista do seu próprio processo, de ser o arquiteto de sua própria vida (SOUZA, 2010). Uma reportagem apresentada pela revista Nova Escola (março/2003) ressalta algumas atribuições no Orientador Educacional. Segundo esta reportagem, na instituição escolar, o orientador educacional é um dos profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis. Destaca-se ainda neste texto, que a remuneração do orientador profissional é semelhante à do professor, porém suas funções são distintas, uma vez que o professor em sala de aula está voltado para o ensino e aprendizagem, e o Orientador Educacional 29 não possui um currículo a seguir, sendo sua função voltada à formação permanente dos alunos no que diz respeito a valores, atitudes, emoções e sentimentos, analisando e criticando quando necessário (SOUZA, 2010). Outro ponto importante, segundo o texto é que, embora o que foi citado acima seja papel fundamental do orientador educacional, muitas escolas não têm mais esse profissional na equipe, o que não significa que não exista alguém desempenhando as mesmas funções pois, "qualquer educador pode ajudar o aluno em suas questões pessoais". Porém, não se pode confundir professor com psicólogo escolar. O texto traz, ainda, que o orientador educacional lida mais com assuntos que dizem respeito a escolhas, relacionamento com colegas, vivências familiares. Sendo assim, o papel do orientador educacional dentro da escola se faz necessário para que haja uma melhor integração entre escola-família-aluno (SOUZA, 2010). 3 A RELAÇÃO PROFESSOR–ALUNO NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM Tendências pedagógicas distintas, marcadas por condicionantes sociopolíticos, determinam os múltiplos arranjos do trabalho pedagógico. Isso ocorre porque, ao assumir diferentes concepções de homem, de educação e de sociedade, o professor organiza o seu trabalho de maneira a ser coerente com as suas ideias (ALBUQUERQUE,2010). Um dos aspectos do trabalho pedagógico influenciados pelas diferentes tendências pedagógicas é a relação professor–aluno, que você vai estudar aqui. 3.1 A relação professor–aluno nos pensamentos liberal e progressista De acordo com Libâneo (1989), as práticas escolares são as condições que asseguram a realização do trabalho docente. Segundo o autor, essas condições são determinadas por diferentes condicionantes sociopolíticos, que por sua vez levam a diversas concepções de homem e sociedade. 30 As distintas concepções de homem e de sociedade decorrentes dos condicionantes sociopolíticos configuram diferentes ideias sobre o papel da escola, da aprendizagem, da relação professor–aluno e das técnicas pedagógicas. Essas concepções interferem, implícita ou explicitamente, na organização do trabalho docente, na escolha dos conteúdos, dos materiais e das estratégias utilizadas, bem como na seleção das técnicas e instrumentos de avaliação. Libâneo (1989) afirma que, de acordo com a posição adotada em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, as tendências pedagógicas podem ser classificadas em liberais e progressistas. A seguir, você vai conhecer melhor cada uma dessas categorias. 3.1.1 Pedagogia liberal Segundo Queiroz e Moita (2007), as tendências pedagógicas liberais surgiram no século XIX, sob a infl uência das ideias da Revolução Francesa (1789), do liberalismo ocidental e do capitalismo. Libâneo (1989, p. 6) destaca a influência do capitalismo na formação do pensamento liberal: “[...] ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, [o capitalismo] estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes”. A concepção pedagógica baseada nesse tipo de pensamento, chamada de “pedagogia liberal”, atribui à escola a função de preparar os indivíduos para o desempenho de seus papéis sociais de acordo com as aptidões individuais. Nesse contexto, o desempenho dos papéis sociais pressupõe a adaptação aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes. De acordo com Queiroz e Moita (2007), os liberais consideravam que a educação e o saber já produzidos eram mais importantes do que a experiência vivenciada pelos educandos no processo de aprendizagem. Por isso, eles contribuíram para a manutenção do conhecimento como instrumento de dominação. Em linhas gerais, na pedagogia liberal, a relação professor–aluno é pautada pela autoridade incontestável do primeiro e pela obediência do segundo. O professor é a autoridade na sala de aula. Já o aluno atua 31 como receptor passivo dos conhecimentos historicamente construídos pela humanidade e transmitidos pelo professor (LIBÂNEO, 1989). Em diferentes momentos, o pensamento pedagógico liberal assumiu características distintas, que trouxeram implicações para a relação professor–aluno. Com base nessas características, a pedagogia liberal se divide em: tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva e tecnicista (LIBÂNEO, 1989). 3.1.2 Pedagogia progressista Segundo Libâneo (1989), as tendências pedagógicas progressistas surgiram a partir de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando as finalidades sociopolíticas da educação. A escola passa a ser vista, de maneira crítica, como a reprodutora dos interesses das classes dominantes (LIBÂNEO, 1989). Em linhas gerais, nas pedagogias progressistas, a relação professor–aluno deixa de ser vertical e passa a ser horizontal. O professor deixa de ser visto como detentor absoluto do saber. Por sua vez, o aluno passa a refletir sobre a sua realidade e sobre a sua condição de oprimido; consequentemente, ele passa a lutar pela sua libertação. Segundo Libâneo (1989), a pedagogia progressista se manifesta em três tendências: a libertadora, a libertária e a crítico-social dos conteúdos (LIBÂNEO, 1989). 3.2 A relação professor–aluno em diferentes momentos da educação escolar Como você já viu, em diferentes momentos da educação escolar, a relação professor–aluno assumiu características diversas. A seguir, você vai verificar como essa relação foi influenciada pelas tendências pedagógicas liberais e pelas tendências pedagógicas progressistas (LIBÂNEO, 1989). 32 3.2.1 Tendências pedagógicas liberais A tendência pedagógica liberal tradicional caracteriza-se pelo ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, a sua plena realização pessoal. Os conteúdos, as estratégias didáticas e a relação professor–aluno não se relacionam nem com o cotidiano do aluno, nem com a sua realidade social. Há um predomínio da autoridade do professor, da obediência às regras e da valorização dos aspectos intelectuais da aprendizagem. Segundo Libâneo (1989), no relacionamento professor–aluno, o professor é visto como autoridade absoluta e como transmissor do conteúdo. O aluno é um receptor passivo dos conteúdos transmitidos. A disciplina é imposta, impedindo qualquer tipo de conversa com os colegas e qualquer relação de caráter afetivo com o professor. Veja o que afirma Mizukami (1992, p. 14): A relação professor–aluno é vertical, sendo que um dos polos (o professor) detém o poder decisório quanto à metodologia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula, etc. Ao professor compete informar e conduzir seus alunos em direção a objetivos que lhes são externos, por serem escolhidos pela escola e/ou pela sociedade em que vivem e não pelos sujeitos do processo. Cabe ao aluno, então, acatar as decisões tomadas e seguir as prescrições impostas. A tendência liberal renovada defende que o sentido da cultura é o desenvolvimento das aptidões individuais. A educação é vista como um processo interno que parte das necessidades e dos interesses individuais exigidos para a adaptação do sujeito ao meio. Como tal, ela é parte da experiência humana. Essa tendência pedagógica propõe que as práticas educativas valorizem: o aluno como sujeito do conhecimento; a experiência direta do sujeito da aprendizagem sobre o meio; e a centralização do ensino no aluno e no grupo (LIBÂNEO, 1989). A tendência liberal renovada apresenta duas versões distintas: a renovada progressista e a renovada não diretiva. A tendência liberal renovada progressista (ou pragmática) atribui à escola o papel de adequar as necessidades individuais ao meio social. Logo, a escola deve se organizar para retratar a vida da melhor maneira possível. Nessa perspectiva, não há um lugar privilegiado para o professor. Cabe a ele auxiliar o 33 desenvolvimento livre e espontâneo dos educandos. Suas intervenções visam a dar forma ao raciocínio do educando (LIBÂNEO, 1989). Assim, a disciplina deixa de ser imposta e passa a ser construída a partir da tomada de consciência dos limites da vida grupal. O aluno disciplinado deixa de ser aquele que é obediente e passa a ser aquele que é solidário, participante e capaz de respeitar as regras do grupo. Ademais, o bom relacionamento entre o professor e os alunos é considerado indispensável para um clima harmônico e para a vivência democrática, aspectos necessários à vida em sociedade. Já a tendência liberal renovada não diretiva visa ao aprimoramento pessoal dos indivíduos e ao desenvolvimento de relações interpessoais. Portanto, a escola assume um papel fundamental no desenvolvimento das atitudes necessárias para a adequação pessoal dos alunos às solicitações da sociedade. Isso faz com que a escola se volte mais para as questões psicológicas dos alunos do que para as questões pedagógicas e sociais (LIBÂNEO, 1989). Nessa perspectiva, a educação é centrada no aluno. Objetiva-se a formação da personalidade do estudante por meio de vivências significativas que lhe permitam desenvolver as características inerentes à sua natureza. O professorassume o papel de especialista em relações humanas, visando a garantir o clima de relacionamento pessoal autêntico. Nesse contexto, as intervenções docentes são vistas como ameaçadoras e inibidoras da aprendizagem. A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade e determina ao ensino escolar a função de preparar a mão de obra, sobretudo para a indústria. As metas econômicas, sociais e políticas são estabelecidas pela sociedade industrial e tecnológica, cabendo à educação treinar os alunos para apresentar os comportamentos necessários para que as metas sejam atingidas. Nesse contexto, a relação professor–aluno é estruturada e objetiva, com papéis bem definidos. Veja: [...] o professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme um instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem; o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do 34 programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva (LIBÂNEO, 1989, p. 18). Em suma, a comunicação entre o professor e os alunos assume um caráter exclusivamente técnico, visando a garantir a eficácia da transmissão dos conhecimentos. Outras formas de comunicação são consideradas desnecessárias (LIBÂNEO, 1989). 3.2.2 Tendências pedagógicas progressistas Para a tendência progressista libertadora, a educação é uma atividade na qual professores e alunos desenvolvem uma consciência crítica acerca da realidade, a fim de buscarem meios para promover transformações. Esse processo protagonizado por docentes e estudantes é mediatizado pela própria realidade, da qual eles apreendem e extraem os conteúdos da aprendizagem. Nesse contexto, a relação professor–aluno passa a ser horizontal e dialógica. O conhecimento de ambos é valorizado, e educador e educandos são vistos como sujeitos que aprendem e ensinam no processo de construção de novos saberes. Além disso, não existe qualquer relação de autoridade. A principal função do educador é fazer com que o espaço educativo acolha e valorize os conhecimentos e as vozes dos alunos. Por sua vez, a tendência progressista libertária vê como função da escola transformar a personalidade dos alunos, em um sentido libertário e autogestionário. A escola se constitui, então, como um espaço embrionário para as modificações que depois deverão ocorrer na sociedade (LIBÂNEO, 1989). No contexto escolar, são criados, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança, como assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações, etc. A relação professor–aluno é pautada pela não diretividade, uma vez que todos os métodos à base de obrigações e ameaças são considerados nocivos e ineficazes. O professor é visto como um orientador e um catalizador dos processos de aprendizagem, colocando-se como parte do grupo, disponível para uma reflexão comum. Em alguns momentos, o professor se coloca na função de conselheiro ou de instrutor- monitor, dependendo das solicitações dos estudantes. 35 Na tendência progressista crítico-social dos conteúdos, a escola é considerada necessária para a preparação do aluno para o mundo adulto, marcado por contradições. Assim, a educação é responsável por fornecer instrumentos para a participação ativa e organizada dos estudantes na democratização da sociedade. Os conteúdos escolares são vistos como fundamentais para essa preparação, desde que estejam vinculados à realidade social na qual o educando está inserido (LIBÂNEO, 1989). Nesse contexto, a relação professor–aluno é uma relação de troca. O professor tem um papel fundamental como mediador entre os alunos e os objetos de conhecimento. Para realizar essa mediação, o professor deve levar em consideração os conhecimentos e as vivências dos alunos. 4 GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA Como você sabe, a formação escolar é importante para o aprendizado de conhecimentos necessários à vida em sociedade. Entretanto, a formação escolar para o século XXI não se dá somente por meio da aprendizagem dos conteúdos. Atualmente, o processo de escolarização deve prever o desenvolvimento de habilidades e competências relacionais e interpessoais, que possibilitam ao ser humano conviver com o outro (LIBÂNEO, 1989). 4.1 Clima escolar e cultura da escola Segundo Moreira e Candau (2003), o que caracteriza o universo escolar é a relação entre as culturas, atravessada por tensões e conflitos. Portanto, um dos grandes desafios da escola é a gestão de um espaço em que diferentes culturas coexistem. Como você já sabe, as pessoas que convivem no universo escolar têm papéis distintos dentro da organização, além de diferentes experiências e pontos de vista. Nesse sentido, as relações de cada sujeito dentro do espaço coletivo contribuem para a construção da cultura singular de cada instituição de ensino. 36 Fatores geográficos, sociais, econômicos, mitos, crenças, valores e preconceitos, entre outros elementos, interferem e fazem parte da cultura da escola. Os sujeitos simultaneamente influenciam e são influenciados pelo ambiente. Assim, as intensas, ativas e singulares relações formam a cultura escolar. A partir dessa noção, é possível inferir que cada escola representa uma unidade distinta e específica. Mesmo tendo aspectos e características em comum com outras, cada escola é singular e tem a sua própria cultura, os seus valores, o seu modo de ser e de agir, construído ao longo dos tempos e por todos os que atuam nela. A cultura gera estabilidade para o ambiente escolar (LIBÂNEO, 1989). Cada escola desenvolve a sua identidade, que se revela em seus documentos organizadores, como o projeto político-pedagógico, o regimento interno e os planos escolares. Além disso, essa identidade pode se revelar por meio das ações das pessoas, que nem sempre se fundamentam no que é proposto pelos documentos (LIBÂNEO, 1989). Os conceitos de cultura e clima escolar se permeiam e se relacionam, não sendo possível separá-los. Você deve notar que, quando se fala em clima escolar, estão em jogo as percepções que os diferentes sujeitos têm das relações e experiências que ocorrem na escola. Isso envolve vários fatores, desde a infraestrutura física e administrativa até as normas, os valores e os objetivos de cada instituição. Considere o seguinte: O clima corresponde às percepções dos docentes, discentes, equipe gestora, funcionários e famílias, a partir de um contexto real comum, portanto, constitui- se por avaliações subjetivas. Refere-se à atmosfera psicossocial de uma escola, sendo que cada uma possui o seu clima próprio. Ele influencia a dinâmica escolar e, por sua vez, é influenciado por ela e, desse modo, interfere na qualidade de vida e na qualidade do processo de ensino e de aprendizagem (VINHA; MORAIS; MORO, 2017, documento on-line) O clima pode ser sentido de diversas formas. O gestor precisa estar atento a diferentes indicadores dentro da escola. Por exemplo, se uma escola apresenta muitas grades e trancas, se as portas estão sempre fechadas, se o atendimento ao público é protocolar e se nas salas de aula o silêncio é extremo, é possível desenvolver determinada percepção desse espaço. Já se dada escola tem um ambiente acolhedor e 37 assertivo, poucas grades e portas, além de salas de aula com alunos e professores trabalhando conjuntamente, a percepção é outra (LIBÂNEO, 1989). O clima escolar é uma identidade coletiva e está relacionado com a eficácia geral da escola. Um bom clima impacta positivamente os resultados educacionais. Já o clima negativo é um fator de risco, impacta negativamente a qualidade de vida escolar e, consequentemente, os resultados de alunos e professores. Além disso, gera insegurança,incerteza e medo, colaborando para o surgimento de problemas de natureza comportamental, como a indisciplina, a violência e o bullying. Lück (2017) realiza uma comparação entre os conceitos de clima e cultura organizacional, como você pode ver no Quadro abaixo, a seguir. Fonte: Adaptado de Lück (2017) O clima escolar pode ser organizado em dimensões, o que facilita a sua compreensão, bem como a observação e a intervenção. Há diferentes formas de organizar essas dimensões, o que depende do pesquisador responsável. Cunha e Costa (2009) organizam o clima em cinco dimensões que se relacionam entre si: clima relacional, clima educativo, clima de segurança, clima de justiça e clima de pertencimento (LIBÂNEO, 1989). 38 Nessa perspectiva, o clima relacional diz respeito ao relacionamento entre as pessoas que integram a escola e a sua comunidade. Por sua vez, o clima educativo está atrelado ao desenvolvimento e à aprendizagem. Já o clima de segurança está vinculado à confiança e à ordem estabelecida na escola. O clima de justiça está ligado à transparência, à equidade, aos direitos e aos deveres. Por fim, o clima de pertencimento se constitui por meio de todas as dimensões indicadas. Mais recentemente, Vinha, Morais e Moro (2017) organizaram o estudo do clima escolar em oito dimensões que se inter-relacionam. Veja: as relações com o ensino e com a aprendizagem; as relações sociais e os conflitos na escola; as regras, as sanções e a segurança na escola; as situações de intimidação entre alunos (somente para estudantes); a família, a escola e a comunidade; a infraestrutura e a rede física da escola; as relações com o trabalho; a gestão e a participação. É importante você refletir sobre o cotidiano de uma escola, verificando se as relações interpessoais são extremamente hierarquizadas, se as regras são impostas, se há predomínio e valorização de uma cultura em detrimento de outras, se há indícios de discriminações e preconceitos, se a participação é precária ou seletiva, se há diálogo, se os problemas são tratados de forma velada, se o clima tende a ser negativo e se os reflexos de um clima negativo levam a situações de violência (física e simbólica, com 39 incivilidades e até agressões). Também é importante questionar se há bullying, evasão escolar, pouco envolvimento dos alunos no processo de aprendizagem, assim como se os resultados ficam aquém do projetado (LIBÂNEO, 1989). Pessoas de qualquer faixa etária que frequentam diariamente um ambiente com clima ruim sofrem influências que se refletem no modo como convivem umas com as outras. Além disso, há reflexos na aprendizagem e principalmente na construção da identidade individual. Diante desse contexto, você pode notar que o clima da escola interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas. Assim, o clima negativo é um fator de risco para o surgimento de diferentes tipos de violência (LIBÂNEO, 1989). Contudo, é possível desenvolver um clima escolar positivo, e a literatura indica alguns princípios essenciais para que as escolas sigam por essa trilha. Um dos pressupostos de um clima positivo é a participação real das pessoas, mediada por princípios democráticos. Ou seja, é necessário valorizar a escuta, o diálogo, o protagonismo e a ousadia para a efetiva transformação, com vistas ao desenvolvimento intelectual, social, emocional e ético dos alunos. Portanto, é fundamental desenvolver os pilares da educação, pois é necessário aprender a conviver e a ser (LIBÂNEO, 1989). Para tanto, é importante responder a uma questão essencial: para que serve a escola? Na contemporaneidade, a diversidade que existe na escola pode ser a promotora de riqueza nas relações, impulsionando a reflexão (individual e coletiva), a empatia e o autoconhecimento. Nesse sentido, a construção de um clima escolar favorável não está alicerçada na adaptação do aluno às regras da escola, mas na organização conjunta de normas que promovam a aprendizagem e o desenvolvimento integral dos estudantes. Na ação cotidiana, é importante que o gestor, a principal liderança da escola, entenda que as diferenças de percepções entre os grupos que convivem no ambiente escolar são pontos de partida para o desenvolvimento de diálogos efetivos e construtivos. Isso tudo é fundamental para um clima escolar positivo. Tal clima fomenta o ensino e a aprendizagem. Se ele existe, as pessoas atuam de forma motivada e eficaz, buscando metodologias que promovam a aprendizagem de todos os alunos (LIBÂNEO, 1989). Vinha, Morais e Moro (2017) listam algumas características das escolas com clima positivo. Veja: 40 bons relacionamentos interpessoais; senso de comunidade, por meio do qual se estabelecem relações de confiança, cooperação e respeito mútuo; ambientes de aprendizagem com decisões compartilhadas, ou seja, as aprendizagens se dão de maneira colaborativa; espaços de participação real e efetiva, o que faz com que todos se sintam pertencentes à escola; senso de justiça, segundo o qual todos compreendem que as regras são necessárias e devem ser obedecidas, e que as sanções, caso sejam aplicadas, serão justas; indivíduos que se sentem seguros, apoiados, engajados e desafiados de maneira respeitosa. 4.2 A gestão de conflitos no cotidiano escolar A palavra “conflito” remete a situações negativas, desestabilização, brigas e confrontos. Aliás, os dicionários mais tradicionais induzem esse entendimento, pois, ao definirem o termo “conflito”, remetem à ausência de entendimento, à oposição violenta entre duas ou mais partes, a um encontro violento entre dois ou mais corpos que se opõe ou divergem. Esse conceito de conflito tem em sua origem uma visão de mundo monocultural. Nesse sentido, o que diverge dessa concepção de mundo precisa ser extirpado e/ou corrigido (LIBÂNEO, 1989). Contudo, o gestor escolar deve desconstruir esses preconceitos e práticas, pois, para início de conversa, o conflito nem sempre é negativo. Por isso, é relevante ultrapassar o conceito tradicional de conflito e entendê-lo como um processo de inclusão 41 em que diferentes olhares, pontos de vista e posicionamentos são considerados para a adoção de ações adequadas e positivas, capazes de solucionar problemas. Como você sabe, os conflitos fazem parte das relações humanas. Portanto, a escola precisa identificá-los para solucioná-los de forma pacífica. É por isso que a gestão da escola deve estar atenta, pois as ações têm de ser pautadas em um processo educativo, restaurativo e inclusivo. Essa é a essência da escola, ou seja, ela é um lócus privilegiado de formação da pessoa humana (LIBÂNEO, 1989). É importante você entender que há diferentes situações que colocam em risco o clima escolar: a violência, a transgressão e a incivilidade. No caso da violência, há uso de ameaça ou força no cometimento de delitos. Já a transgressão consiste em comportamentos contrários aos previamente estabelecidos, o que pode ser refletido em não participação nas atividades escolares e no absenteísmo, por exemplo. Por sua vez, a incivilidade implica comportamentos prejudiciais à convivência no espaço escolar, pois envolve falta de respeito, grosserias e desordens. As atitudes de incivilidade perturbam o ambiente acolhedor, sendo muito comuns nas escolas. Elas são atitudes contrárias às boas maneiras e atrapalham o convívio coletivo. Portanto, nenhuma dessas situações estimula o estabelecimento de um clima de confiança e segurança (LIBÂNEO, 1989). O conceito de violência é complexo, pois abrange desde pequenas incivilidades até agressões físicas graves. No contexto escolar, é possível identificar três tipos de violência: a violência na escola, a violência à escola e a violência da escola. Naturalmente, a violência não é algo aleatório; ela é construída
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