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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS –CCSO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO: SERVIÇO SOCIAL DISCIPLINA: Fundamentos Histórico-teórico-metodológico do Serviço Social I Resenha: Documento de Araxá A presente resenha tem por objetivo destacar as partes mais relevantes do texto intitulado “Documento de Araxá”, presente no livro Teorização do Serviço Social: Documentos de Araxá, Teresópolis e Sumaré, publicado pela CBISS - Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais. Logo no início é colocado que os Documentos de Araxá, Teresópolis e Sumaré são considerados "marcos históricos" do Serviço Social. Isso se dá pelo fato de cada um deles expressarem o cenário e atuação do Serviço Social em diferentes conjunturas históricas. Os três, portanto, são importantes fontes de pesquisa utilizadas principalmente por alunos e profissionais do Serviço Social. Entretanto, nessa resenha, daremos destaque apenas para o Documento de Araxá, que foi consequência do I Seminário de Teorização do Serviço Social, realizado em Araxá, Minas Gerais, entre os dias 19 a 26 de março de 1967, com o tema “A Metodologia do Serviço Social”. A escolha por essa temática se deu pela preocupação em fazer com que o Serviço Social pudesse se adequar e acompanhar o contexto de desenvolvimento sócio econômico da realidade brasileira, que naquele momento vivia a ditadura militar. Desse modo, era necessário redefinir os objetivos, as funções e a metodologia da profissão. Desse modo, o referido documento foi considerado fundamental para o início da renovação crítica do Serviço Social brasileiro, e repercutiu nacionalmente e internacionalmente, sendo traduzido para o inglês e espanhol. O Assistente Social deixa de ser um mero reprodutor e executor de políticas sociais, e a partir desse momento também assume o protagonismo de elaborar e administrar essas políticas. O Documento de Araxá é composto por uma introdução, três capítulos e uma nota final. Um aspecto interessante é que esse documento é dividido em parágrafos (§), de modo a facilitar a leitura. Na introdução, faz-se uma retomada ao surgimento do Serviço Social no Brasil e na América Latina na década de 30, como “disciplina de intervenção na realidade social” (CIBISS, 1986, p. 19). É colocado também que, como sendo uma pratica institucionalizada, o Serviço Social, no curso de seu desenvolvimento, teve sua função muito relacionada a correção de desajustamentos sociais dos indivíduos, como maneira de reintegrá-los no ambiente social Entretanto, com o processo de desenvolvimento e as exigências que ele traz, o Serviço Social agora precisa adequar-se a essas mudanças. Para isso, foi convocado um grupo de 38 profissionais oriundos de diversas instituições de ensino do Brasil para passarem uma semana - tempo de duração do seminário - estudando e refletindo sobre a “Teorização do Serviço Social” no Brasil. Para tanto, se organizaram em quatro equipes de nove ou 11 participantes para discutirem todos um mesmo roteiro sobre conceitos básicos e estudarem e debaterem a metodologia sob um ponto de vista genérico. No final, os representantes escolhidos de cada equipe formaram uma comissão para redigirem a redação final do documento. No primeiro capítulo são apresentadas algumas considerações sobre a natureza do Serviço Social. Ele possui autonomia cientifica? É uma ciência social aplicada? Houve um consenso ao inserir o Serviço Social ao plano especulativo- prático que seria no âmbito da aplicação dos conhecimentos próprios ou tomados de outras ciências, o considerando uma técnica-social. E como uma prática institucionalizada junto aos indivíduos com desajustamento familiar e social. Há uma discussão a respeito da evolução histórica do Serviço Social no Brasil e o Estado paternalista. Isso foi um fator fundamental para a constituição de uma política de assistencialismo imediatista em busca de solucionar problemas sociais. A urgência de resolução desses problemas dificultou a reflexão e análise que poderiam orientar o Serviço Social em uma ação socialmente mais centrada. A partir dessa concepção de indivíduo, baseada na ideia de desajustamento social, os assistentes sociais propõem como estratégia a promoção de ações corretivo, preventivo e promocional Resumidamente, o Caráter corretivo é definido remoção de causas que impedem ou dificultam o desenvolvimento do indivíduo, grupo ou comunidade. O Caráter preventivo é marcado pela intervenção, que procura se antepor às consequências de um determinado fenômeno. E o Caráter promocional está focado na intervenção, que possibilita o indivíduo, grupo, comunidade a realizar plenamente suas potencialidades. O Serviço Social em novas linhas de ação e teoria, deve se orientar e conscientizar as populações para os problemas sociais e formas de integração popular no desenvolvimento do país. O desenvolvimento mundial impõe o Serviço Social um desempenho de novos papéis. Ainda no primeiro capítulo é apresentado os objetivos do Serviço Social, que se dividem em remoto e operacional. O objetivo remoto faz referência valorização e melhoria das condições do ser humano tendo como referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), promulgada em 10 de dezembro de 1948. Já o objetivo operacional identifica e trata problemas ou distorções residuais que impeçam as pessoas de alcançarem padrões econômicos compatíveis com a dignidade humana. Da natureza e dos objetivos, derivavam-se as funções do Serviço Social, nos diferentes níveis de atuação: Política Social; Planejamento; Administração do Serviço Social; e Serviços de atendimento corretivo, preventivo e promocional. No segundo capítulo, foram apresentados os princípios e os postulados que fundamentam a metodologia de ação do Serviço Social. Segundo o texto, os princípios básicos da atuação profissional e a metodologia de ação do Serviço Social estão baseados na autodeterminação, na individualização, no não julgamento e na aceitação. A partir daí desenvolveram-se postulados, e conclui-se que pelo menos três se acham, explícita ou implicitamente, adotados como pressupostos fundamentadores da atuação do Serviço Social: postulado da dignidade humana, postulado da sociabilidade essencial da pessoa humana e postulado da perfectibilidade humana. Já no tocante aos elementos operacionais da metodologia, comuns a todos os processos, destacam-se a participação do homem em todo o processo de mudança e o relacionamento entre profissional-indivíduo, profissional-grupo, profissional- comunidade e profissional-populações, estabelecido de maneira direta ou indireta, dependendo do tipo de ação a ser exercida. O Serviço Social, como técnica, dispõe de uma metodologia de ação que utiliza diversos processos, sendo eles os processos de Caso, de Grupo, de Desenvolvimento de Comunidade e o processo de trabalho com a população, de forma mais sistematizada. Sobre as categorias dos diferentes níveis de atuação do Serviço Social, temos a Microatuação, que é essencialmente operacional, compreendendo as funções de Serviço Social aos níveis de administração e prestação de serviços diretos, através dos processos de Caso, Grupo, de Desenvolvimento de Comunidade e Processos de trabalho com populações.; e a Macroatuação, que Compreende a integração das funções do Serviço Social ao nível de política e planejamento para o desenvolvimento. Essa interação supõe a participação no planejamento, na implantação e na melhor utilização da infraestrutura social. O Serviço Social de Caso parte da premissa de que se emprega o Serviço Social a pessoas com problemas e dificuldades de relacionamento pessoal e social, ou seja, inter-relacionamento social. A questão social é um problema individual e por isso, propõe uma mudança na personalidade do indivíduo para que este se ajustena sociedade, tendo o Assistente Social como artífice do relacionamento social. Já o Serviço Social de Grupo nos mostra que tradicionalmente, a ação do assistente social se concentrava no grupo e nele circunscrevia seu limite. Hoje, busca- se, também, o engajamento efetivo da clientela no processo social mais amplo. A natureza desse processo é, hoje, entendida como socioeducativa, podendo ter caráter terapêutico e/ou preventivo, com a finalidade de resolver problemas de relacionamento ou adaptação; ajudar o grupo, como um todo, a atingir seus objetivos e desenvolver nesta experiência sua consciência social; educar os membros do grupo para assumir responsabilidades civis e sociais na comunidade. Assim, ao intervir nos processos de grupo, garantindo que eles se desencadeiem e se desenvolvam em suas formas positivas, o Serviço Social de Grupo contribui para introduzir as mudanças social de acordo com as necessidades humanas. No que se refere ao Desenvolvimento de Comunidade (DC), Já no que se refere a utilização da Administração em Serviço Social, o que se observa é que, durante o exercício de sua profissão, o assistente social pode desempenhar funções administrativas, quando por exemplo: ocupa cargo de chefia e de coordenação de equipes na administração de programas; colabora ao nível da formulação de decisões administrativas; e participa da formulação de políticas de ação. Deve-se ressaltar, porém, que Administração do Serviço Social é um tipo de especialização, nos moldes da Administração Hospitalar e Escolar. No terceiro e último capítulo do documento, faz referência ao Serviço Social e a realidade brasileira. Conhecer essa realidade é pressuposto fundamental para que o Serviço Social nela possa inserir-se adequadamente, neste seu esforço atual de reformulação teórico-prática. A partir desse conhecimento da realidade nacional é que o Serviço Social irá diagnosticar os pontos de intervenção, para atuar com a implantação das necessárias mudanças do contexto histórico do país. O esforço do Serviço social nessa perspectiva e nesse momento histórico tende a contribuir de maneira positiva com o desenvolvimento, por entender que este processo de planejamento englobaria mudanças em vários aspectos como econômico, tecnológico, sociocultural e político-administrativo. No processo do desenvolvimento, o Serviço Social vai entender que o homem deve ser agente e objeto, na busca pela evolução humana em sociedade, não apenas nas frações que constituem ela, mas por parte de desenvolver cada uma delas, sendo essa uma das premissas da ideologia do desenvolvimento. Será a partir dela que o Serviço Social define suas faixas próprias de atuação, construindo modelos específicos de intervenção. Era necessário, para a instrumentalidade da intervenção do Serviço Social no Desenvolvimento, a elaboração de modelos que sistematizem a programação global/setorial, não sendo a fixação dos modelos responsabilidade exclusiva do Serviço Social, mas tornando-se imprescindível a participação da sua elaboração. O primeiro esquema de modelo de atuação do Serviço Social na perspectiva do desenvolvimento, reconhece a necessidade de análise científica que possibilite a avaliação para reformulações futuras. O modelo é esse: Ideologia do Desenvolvimento Integral; Planejamento; Mobilização de Forças Organizadas; Capital (recursos humanos e materiais); Técnica. Em relação a esse modelo de atuação, sugere-se como função e atividade do Serviço Social em uma escala de micro e macroatuação. Apresentaremos nos próximos parágrafos o que cada um desses tópicos engloba. Na IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL, a Microatuação seria o processo direto de conscientização de indivíduos, grupos e organizações de base; a macroatuação seria o estabelecimento de uma política ou medidas que impliquem; a) um amplo processo de conscientização dos centros de poder de decisão da sociedade; b) a invalidação dos processos que, implícita ou explicitamente, sejam contrários aos instrumentos ou estímulos propulsores e aceleradores do desenvolvimento. Desse modo o Serviço Social estabeleceria diretrizes estratégicas de ação de acordo com seus princípios fundamentais, para atuar de maneira genérica frente a determinados situações de bloqueio a mudança. (CBCISS, 1986, p.42) Na MOBILIZAÇÃO DE FORÇAS ORGANIZADAS, a Microatuação estaria pautada em: a) identificação, mobilização e articulação de individuo, grupos e organizações para a participação no processo de desenvolvimento; b) incentivo a formação de novos quadros de liderança, grupos e organizações; c) valorização e capacitação de quadros de lideranças, visando habilitá-los a atuar no processo de desenvolvimento. Já na Macroatuação, inclui-se a) valorização e estímulos as instituições para que se capacitem e estabeleçam sistemáticas de coordenação e usem outros processos dinâmicos que os tornem propulsores de mudanças; b) introdução de sistemas de transformação para aquelas instituições que se constituem em freios ou bloqueios à mudança. (CBCISS, 1986, p.43). No PLANEJAMENTO, a Microatuação focava-se na inserção de planejamentos nas microrealizações, dentro de diretrizes ou praticas do macroplanejamento. Já no tocante a macroatuação temos: a) inserção consciente das populações no planejamento através do conhecimento de suas potencialidades e dos meios de transformá-los em instrumentos dessa integração; b) a adoção de medidas que garantam a inserção dos programas e atividades de Serviço Social nos vários níveis do planejamento. (CBCISS, 1986, p.42-43). No CAPITAL a Microatuação seria a identificação de recursos matérias disponíveis e o estimulo a criação de novos recursos que se fizerem necessários, enquanto que a macroatuação pautaria em: a) implementação dos investimentos de infraestrutura social; b) estimulo a participação popular em programas que efetivem os chamados investimento de capital fixo; c) contribuição para a elevação dos níveis de vida; d) estabelecimento de prioridades nos programas, projetos e aspirações das populações; e) valorização dos recursos humanos, visando superar resistências aos programas e projetos a serem implantados; f) avaliação de custos de pessoal e equipamentos aplicado nos programas vinculados, direta ou indiretamente, ao Serviço Social, tendo em vista a rentabilidade deste. (CBCISS, 1986, p.43) Na TÉCNICA, a Microatuação seria a utilização dos processos de caso, grupo e desenvolvimento de comunidade, bem como técnicas auxiliares, procedendo-se sua relação em vista da melhor aplicabilidade ao desenvolvimento. (CBCISS, 1986, p.43) Já a Macroatuação) estaria pautada nos seguintes aspectos, de acordo com o texto (CBCISS, 1986, p.43-44): a) Utilização de formas operacionais no sentido de transformação das estruturas; b) Estabelecimento realístico das condições e das etapas do processo popular, para que os programas se efetivem, revigorando as decisões e ações humanas, com vistas ao desenvolvimento; c) Participar do estabelecimento de sistemáticas de coordenação de atividades interprofissionais; d) Estabelecimento de políticas de estímulos quanto as empresas e técnicos, objetivando despertar atitudes inovadoras capazes de leva-los a aderirem ao processo de mudança; motivação do empresariado para a utilização dos investimentos que lhes são oferecidos pelas instituições públicas e privadas, visando maior rentabilidade a suas iniciativas e esforços; incentivo do espirito empresarial, visando ao aperfeiçoamento de iniciativas empíricas e, consequentemente, maior contribuição ao processo de desenvolvimento; e) Aprofundamento ou elaboração da teorização, das técnicas do planejamento e técnicas operacionais do Serviço Social, sendo as exigências atuais de abertura de campo ou mercado de trabalho ao nível de macroatuação. Após a apresentação detodas essas informações, fica claro a necessidade do Serviço Social requisitar novos critérios de atuação, estabelecer prioridades e definir alternativas mais adequadas às demandas da realidade socioeconômica brasileira. O grande desafio para essa profissão é garantir o desenvolvimento harmônico do homem em comunhão com a sociedade em que vive. Para isso é extremamente necessário que esse homem – sujeito e objeto do Serviço Social - participe de forma ampla e consciente desse processo. Para isso é preciso que haja um trabalho cientifico permanente e fundamentado em uma sistemática realista e eficaz a nova estratégia do Serviço Social na busca de seus objetivos (CBISS, 1986, p.44). Como nota final, foi relato que todos os participantes concordaram que o Seminário de Araxá foi um marco histórico fundamental para o desenvolvimento de conteúdo técnico administrativo do Serviço Social. Notou-se que era preciso intensas reformulações teóricas, metodológicas e nos níveis de ensino e comunicação do Serviço Social com o público. Trata-se de um desafio para o futuro do Serviço Social no Brasil. Referência
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