Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 03 – Farmacologia Farmacocinética II Metabolismo e excreção • Introdução: O fármaco que se encontra nas formas ionizadas ou não ionizadas pode ser filtrado a nível renal e por ter lipossolubilidade, ele pode ser reabsorvido a partir da urina, ou até mesmo ser metabolizado formando metabólitos mais hidrossolúveis que permitem sua secreção. É importante entender o fígado como o principal local de biotransformação e os rins de excreção. • Metabolismo: O metabolismo ou biotransformação é a conversão do fármaco no metabólito ou no produto de biotransformação. De forma geral, torna os fármacos mais polares, ou seja, mais ionizados ou hidrossolúveis, considerando que isto facilita a excreção à nível renal. É importante lembrar que alguns fármacos são eliminados após baixa ou nenhuma metabolização, como por exemplo o atenolol que é 90% eliminado inalterado, tal como a metformina. Já outros fármacos são ativados, no caso dos pró-fármacos, como a carbamazepina após a metabolização, enquanto outros produzem metabólitos tóxicos como o paracetamol. No metabolismo do paracetamol, caso se exceda a dose, se produz quantidade excessiva de NAPTI, que pode chegar até as células hepáticas e causar hepatotoxicidade, destacando que para crianças a dose máxima para crianças é cerca de 70 mg/Kg por dia e para adultos cerca de 5 comprimidos de 750 mg por dia, sendo equivalente à 4 gramas. As enzimas de metabolização estão presentes em várias locais do corpo, como pulmões, rins, cérebro, sangue, contudo, os níveis mais altos são encontrados no TGI (fígado e intestino). É importante destacar que o fígado é o principal local de metabolismo de fármacos e no estômago/intestino o metabolismo pode acontecer das seguintes formas: - Pelo ácido gástrico e por enzimas digestivas; - Por enzimas do CYP450 e esterases (hidrólises) intestinais; - Pela flora bacteriana intestinal e colônica; - Beta-glicuronidases intestinais podem hidrolisar conjugados glicurônicos, liberando o fármaco livre ou seu metabólito que é reabsorvido no ciclo entero-hepático, como o que acontece no estradiol presente nas pílulas contraceptivas. • Fases do metabolismo Podem ser divididas em reações de fase 1 – redução, oxidação e hidrólise e as reações de fase 2 que são as de conjugação, em que as duas podem acontecer, ou ocorrer de forma separada para que se tenha a excreção. É importante sempre destacar o aumento da sua solubilidade visando a excreção. 1. Reações de fase 1: estas são as reações de oxidação, redução e hidrólise, representando pouco aumento da hidrossolubilidade, mas geralmente resulta na inativação do fármaco, contudo, existem algumas exceções, como a ciclofosfamida, que é uma medicamento antineoplásico, e seu metabolismo se inicia pela reação de fase 1 que é uma oxidação, produzindo o metabólito 4- hidroxiciclofosfamida que é o metabólito com ação antineoplásica, depois este se torna inativo e pode formar a aldofosfamida que pode produzir a acroleina e a mostarda de fosfamida, em que a primeira pode causar a cirrose hemorrágica. a. Reações de oxidação: pode ocorrer em três circunstâncias quando se adiciona oxigênio à molécula do fármaco, quando a substância perde hidrogênios ou elétrons, podendo ser de várias formas, sendo as principais descritas abaixo. - Reações dependentes de CYP450 ou P450, sistema oxidase de função mista ou citocromo P450 ou sistema mono-oxigenase p450: o citocromo P450 foi descoberto em 1958 e a origem de seu nome deve-se ao fato de o CO ligar-se ao Fe2+ que se encontrava reduzido, formando um composto rosa (P- pigmento ou pink), que tem pico de absorbância por volta de 450 nm. As enzimas P450 são hemeproteínas, portanto, a enzima se liga ao NAPH-oxidorredutase, formando um complexo enzimático; Estas estão encontradas nos retículos endoplasmáticos. São 74 famílias de genes funcionais e nem todas as CYPs estão envolvidas no metabolismo de fármacos, sendo apenas as famílias 1, 2 e 3 e de todas, a 3A4 é a responsável pelo metabolismo de cerca de 50% dos fármacos disponíveis na clínica. O tylenol tem como principal enzima de metabolização a CYP2E1, sempre destacando esta informação para evitar possíveis interações. Este tipo de metabolização acontece por exemplo no metabolismo da fenitoína, em que a última etapa da fase 1 constitui o ponto de partida para o desenvolvimento das reações de fase 2. Indução e inibição: as enzimas do CYP450 podem ser induzidas ou inibidas, podendo interferir na farmacocinética de outro fármaco, comprometendo sua atividade. A indução pode ocorrer por aumento da velocidade de síntese de enzima ou por redução da sua velocidade de degradação, em que a indução enzimática leva geralmente de 4 a 14 dias para atingir seu pico de inibição, e se mentem até a retirada do agente indutor. Indutores do CYP450: O fenobarbital induz a sua própria metabolização e o da varfarina, provocando falha medicamentosa, a rifampicina induz a metabolização de contraceptivos orais podendo provocar falhas medicamentosas, griseofulvina que pode induzir a metabolização de corticoides. Inibidores do CYP450: se dividem em fármacos que atuam como inibidores competitivos, não-competitivos ou como inibidores baseados no mecanismo, em que os primeiro atuam competindo pelo sítio ativo da enzima, o segundo se liga de forma irreversível pelo sítio ativo da enzima e o último apresenta o metabólito oxidado pela CYP450 que se liga de modo covalente à enzima e esta se autodegrada, é também a chamada “inibição por suicídio”, como o gestodeno com a CYP3A4. Essas inibições podem conduzir a eventos adversos ou toxicidade principalmente hepática ou renal, sendo estas justificadas pelas alterações nas concentrações dos fármacos utilizados e a interação destes com o inibidor da CYP450. b. Reações de redução: onde as enzimas são as redutases, podendo ser microssômicas e citosólica e por bactérias intestinais, em que se tem a redução de aldeído ou cetona (C=O) gerando álcool, além da possibilidade de redução de compostos nitro ou azo a aminas. Como a redução da varfarina, que se torna álcool de varfarina e no caso da nitroredução se tem o metabolismo de fase 1 do cloranfenicol. c. Reações de hidrólises: as enzimas são as hidrolases e as esterases, podendo ser citosólica, microssomiais e plasmáticas, em que a hidrólise constitui qualquer reação química na qual uma molécula de água quebra uma ou mais ligações químicas, como o exemplo da carbamazepina, que depois da oxidação passa por uma reação de hidrólise. Outro exemplo é a metabolização da indometacina, que pode ser conjugada com ácido glicurônicos ou ser hidrolisada, além de duas conjugações com ácidos glicurônicos. 2. Reações de conjugação: ligação do fármaco ou do seu metabólico com um substrato endógeno produzindo, na sua maioria, um metabólito inativo e com maior hidrossolubilidade. Estas acontecem no citosol ou retículo endoplasmático, e a conjugação acontecem com 5 tipos de substratos. - Conjugação com ácido glicurônico ou glicuronidação: é feita pelas enzimas chamadas UDP-glicuroniltransferases (UGT), que catalisam a transferência do ácido glicurônico para o substrato formando o glicoronídeo. Já foram identificados cerca de 19 genes que codificam as UGTs, que são os principais são 9 tipos de UGT1 e 10 UGT2. Um exemplo deste tipo de reação é através da atuação da UGTA1, que é responsável pela glicuronidação da bilirrubina, transformando-a em produto de eliminação. O antirretroviral atazanavir pode causar a inibição da UGTA1, podendo causar a hiperbilirrubinemia, se apresentando como sintomas o fato de que a parte branca dos olhos passam a estar amareladas. - Reações de Sulfatação: as enzimas sulfatotransferases (SULT) conjugam o sulfato (3-fosfoadenosina-5-fosfossulfato chamado PAPS), com o substrato. Já foram identificados 13 genesde SULT, sendo a SULT1 a responsável pela Sulfatação de hormônios e de fármacos. - Conjugação com a glutationa: as enzimas são as glutationa-S-transferases (GSTs) que catalisam a transferência de glutationa a compostos com -O2, -N e -S. Mais de 20 GST são divididas em duas subfamílias, que são as citosólica responsáveis por metabolizar e se conjugar aos xenobióticos e as microssomais, que se relacionam com o metabolismo endógeno. - N-acetilação: as N-acetiltransferase se diferenciam porque estão muito envolvidas com o polimorfismo genético. Existem dois tipos de genes funcionais – NAT1 e NAT2. Então pacientes em uso de dose terapêutica de isoniazida, para tratamento da tuberculose, apresentaram efeitos tóxicos hepáticos, e então a partir da informação de que as vias principais de metabolização da isoniazida são a N-acetilação pela NAT2, e a oxidação pela CYP2E1, estudos farmacogenéticos levaram a classificação de metabolizadores ou acetiladores rápidos, lentos e intermediários, e no caso do uso da isoniazida, percebeu-se que acetiladores lentos da NAT2 apresentavam esta maior toxicidade. - Metilação (MT) catalisam a conjugação do grupo metila (S-adenosilmetionina) com o substrato, como por exemplo: Catecol-O-metiltransferase (COMT) – metila e dopamina, NE, metildopa Tiopurina-S-metiltransferase (TPMT) – metila a 6-mercaptopurina Nicotinamida-N-metiltransferase (NNMT) – metila a 5-HT Feniletanolamina-N-metiltransferase (PNMT) – metila a NE • Polimorfismos genéticos: fator que interfere no metabolismo 1. Exemplos de polimorfismos de enzimas de fase 1: a. CYP2D6 – Redução da resposta a nortriptilina, causando metabolização mais veloz b. CYP2C19 – Aumento da resposta a mefenitoína, gerando sedação profunda e ataxia (irregularidade ou perda da coordenação muscular) 2. Exemplos de polimorfismos de enzimas da fase 2: a. UGT (UGT1A1*28) – Efeitos tóxicos colaterais do irinotecano devido à deficiência de conjugação em ácido glicurônico. 3. Propriedades químicas dos fármacos: como por exemplo induzir ou inibir o metabolismo de outros fármacos. 4. Via de administração: como acontece com a via oral que resulta em metabolismo de 1ª passagem. 5. Fatores dietéticos/ambientais: como o fumo e pesticidas que são indutores enzimáticos. 6. Idade: recém-nascidos são incapazes de detoxificar alguns fármacos. 7. Doenças: como problemas hepáticos. Excreção de fármacos • Excreção: Os fármacos são eliminados em sua forma inalterada ou como metabólitos, com exceção dos pulmões, os órgãos excretores eliminam mais eficazmente os compostos polares, estando estes na forma ionizada. O rim é o principal órgão para a excreção de fármacos e seus metabólitos, além dele, também se tem a excreção fecal, composta de fármacos administrados por via oral e que não foram absorvidos, ou de metabólitos excretados na bile, ou secretados diretamente no TGI e que não foram reabsorvidos. Portanto, se pode ter a excreção através dos pulmões, a excreção biliar, através do leite, saliva e suor. % Fármacos 100 – 75 Furosemida, gentamicina, metformina e atenolol 75 – 50 Benzilpenicilina, cimetidina, oxitetraciclina 50 Tubocurarina • Excreção renal 1. Filtração glomerular: quando o fármaco é filtrado e se direciona para posterior eliminação/excreção. A quantidade do fármaco que chega ao lúmen tubular por filtração glomerular depende de alguns fatores descritos abaixo. a. Taxa de filtração glomerular b. Extensão da ligação plasmática do fármaco, uma vez que apenas a fração livre do fármaco é filtrada. Os capilares glomerulares são praticamente impermeáveis a albumina (68 kDa). Além disso, os capilares glomerulares permitem que fármacos abaixo de 20 kDa se difundam passivamente para o filtrado glomerular. 2. Secreção tubular ativa: quando o fármaco é secretado ativamente dos capilares peritubulares para o interior dos rins, se direcionando para a urina através de transportadores. Constitui mecanismo mais efetivo de eliminação renal de fármacos, em que transportadores no túbulo contorcido proximal transferem as moléculas dos fármacos para o lúmen tubular, estes são os descritos abaixo. a. Transportadores ABC: glicoproteína P (PgP) que realiza transporte ativo primário. b. Transportadores SLC: - OAT (ânions) – transportador ativo secundário - OCT (cátions) – difusão facilitada. 3. Reabsorção tubular passiva: caso ele possua lipossolubilidade que permita a reabsorção. Esta acontece principalmente no túbulo distal e depende da lipossolubilidade do fármaco, além disso, o pH urinário interfere na ionização de fármacos ácidos fracos ou bases fracas. • Excreção pulmonar Esta envolve as glândulas de secreção bronquiolar e os alvéolos, funcionando através dos alvéolos onde são excretados principalmente gases e substâncias voláteis, é importante destacar também que não existem sistemas de transporte especializados, então se tem o predomínio da difusão simples. • Excreção biliar Os fármacos podem ser transferidos pelo fígado para a vesícula biliar e desta para o intestino. Para que este processo aconteça, os transportadores requeridos são semelhantes aos que existem nos rins, também estão presentes na membrana do hepatócito, e secretam ativamente fármacos para a bile, como por exemplo a morfina. Além disso, destaca-se a circulação entero-hepática, podendo esta representar até 20% do total do fármaco no organismo, como o que acontece no caso do Etnilestradiol. • Outros tipos de excreção A excreção de fármacos pelo suor, saliva e lágrimas é quantitativamente desprezível, tal como a excreção destes pelo cabelo e pele, contudo, estes dois últimos possuem grande importância forense. Como o leite é mais ácido que o plasma, os fármacos básicos podem ficar concentrados nesse líquido e serem transferidos para o leite, sendo de menor importância para os compostos ácidos, como o anti-histamínicos que podem causar sonolência e depressão respiratória no lactente.
Compartilhar