Fichamento Goffman- Estigmas

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Estigmas;notas sobre a manipulação da identidade deteriorada
1.Estigma e identidade social
“Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais , criaram o
termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava
evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mal sobre o status moral de quam o
apresentava.Os sinais eram feitos com com cortes ou fogo no corpo e avisaram que
o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada,
ritualmente poluída que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos”.
● Noções preliminares
Identidades sociais são atribuídas nos ambientes sociais a partir de categorias.
São feitas afirmações prévias sobre o indivíduo que nos é
apresentado(expectativas normativas)- identidade social virtual. Em contrapartida,
as categorias que são efetivamente apresentadas por ele são chamadas de
identidade social real.
O termo estigma será utilizado como atributo depreciativo, um tipo de relação
entre atributo e estereótipo. |Dupla perspetiva do termo: desacreditado e
desacreditável.
Três tipos de estigmas; Físicos, morais e raciais/religiosos.
A aceitação. Os indivíduos estigmatizados buscam, direta (tentando agir
diretamente na característica que lhe concedem o estigma) ou indiretamente(
desafiando seu próprio estigma, a partir de um contexto de superação) contornar
sua situação. Podem também entender o estigma como uma “bênção secreta”.
O ponto essencial da análise sociológica se situa na interação entre os normais e
o estigmatizado. A partir desta, todos os atos do estigmatizados podem ser
excepcionalizados, o autor dá exemplo de um ex- criminoso que surpreende o
bibliotecário a partir de suas leituras.
“ O indivíduo estigmatizado pode responder antecipadamente a partir de uma capa
defensiva.”
A reação nas interações mistas- o mal estar presente e como tanto o normal quanto
o estigmatizado conseguem o perceber.
● O igual e o informado
O indivíduo estigmatizado pode se sentir acolhido estando junto de pessoas que
compartilham o seu estigma. Movimentos sociais que permitem a interação de
indivíduos estigmatizados são, institucionalmente diversos,sendo escassos quando
se tratam de estigmas particulares.Estes indivíduos, normalmente, são
categorizados quanto grupos , entretanto, não possuem integração coletiva e
totalização o suficiente para se definirem e interagirem como tal.
O papel do representante de um grupo de estigmatizados, apresenta grande
importância social. Esses indivíduos são, ou normais ou nativos que apresentam o
ideário da superação. Este representante tem papel oratório importante para grande
plateias de normais e estigmatizados.
Há publicações que envolvam sentimentos compartilhados pelos estigmatizados.
Existindo sempre, também, representações públicas de “grupos” com estigmas
específicos. Esses indivíduos portanto possuem um “mundo definido literariamente”
senão por meio de livros, outras fontes de informações que o coloque próximo de
sua condição como estigmatizado.
O nativo que desempenha papel de representação acaba se envolvendo com
atividades ligadas ao círculo simbólico de seu estigma de tal forma que se
profissionalizam. Essa profissionalização é ramificada dubiamente pelo autor a partir
de rompimentos com o círculo fechado dos iguais e a não representatividade
daqueles que não dão atenção ao seu estigma.
Quando alguma pessoa estigmatizada alcance notoriedade, isso provoca um
impacto em torno da vida social de seus iguais,uma vez que,essa notoriedade (por
desvios, prêmios e outros) gera uma centralidade de comentários que atinge
pessoas próximas aos estigmatizados gerando interações.
Anteriormente foi explanado a condição dos iguais, não obstante, os
estigmatizados encontram apoio também nos chamados “informados”. O informado
deve, portanto ser aceito pelos nativos, normalmente após o limiar no emprego das
categorias(o normal que usualmente busca chegar a esse ponto). Existe, ainda, o
informado através da estrutura social, isto é, uma pessoa próxima ao estigmatizado,
essa pessoa próxima pode, por difusão, ser também estigmatizada( estigma de
cortesia kk)
Pessoas com estigmas aceitos e a normalização, o ponto máximo de tratamento
igualitário entre normais e estigmatizados. ( se difere da normificação que significa o
esforço do estigmatizado em se apresentar como normal, mesmo que não esconda
o defeito).
● A carreira moral
“A história natural de uma categoria de pessoas com um estigma deve ser claramente
diferenciada da história natural do estigma..”
Sobre a concepção do eu do estigmatizado, deve-se pensar duas fases iniciais da
carreira moral ; a interiorização das crenças dos normais em relação ao seu estigma e
aprender que possui um estigma específico e suas consequências.
Modelos formados por essas fases:
1. Socialização dentro da situação de desvantagem, incorporando os padrões e
fracassando - ex: Órfão que aprende que é natural ter pais e pode sentir que
sabe a significação de um pai para seu filho
2. Cápsula protetora formada ao redor do estigmatizado. Normalmente o
momento de desilusão acontece na escola ou em outros contatos com
normais fora de seu ciclo social fechado, mostrando ao indivíduo
estigmatizado que seu mundo de semelhantes é mais limitado que
imaginava.
3. Indivíduos que adquirem o estigma tardiamente
4. Mudança da comunidade de socialização.
Nos casos em que o indivíduo entra em uma instituição, o que lhe é assimilado
sobre o estigma é passado por seus companheiros.
Há uma certa tentativa, ao compreender quem são seus iguais, de diferenciação.
Iniciam-se, destarte,“Ciclos de incorporação” para aceitar a oportunidade de
participação intergrupal de seus iguais, havendo oscilações em relação a
incorporação de crenças, demonstrando as mudanças na carreira moral em sua
perspectiva sobre o próprio grupo.
“Uma experiência selecionada quase sempre para esse último objetivo é aquela
em que o indivíduo recentemente estigmatizado aprende que os membros mais
antigos do grupo se parecem com seres humanos comuns”.
2. O controle de informação e identidade pessoal
● O desacreditado e o desacreditável
O desacreditado apresenta uma discrepância nítida entre a identidade social real e sua
identidade virtual. Quando não é imediatamente aparente,por outro lado, o indivíduo é
desacreditável.
O desacreditável pode se ver na situação de esconder a sua identidade social verdadeira
● A informação social
O estudo do estigma envolve informações relevantes corporificadas, enviadas pela
pessoa a quem se refere através da expressão corporal durante a interação- “informações
sociais “. Símbolos que passam informações- signos. Alguns signos servem como reforço
ao que é expresso socialmente pelo indivíduo.
Alguns símbolos apresentam uma pretensão especial, podem ser chamados de signos de
status ou prestígio.”signos de prestígio podem ser contrapostos à signos de estigma”.
Há, ainda, um signo voltado a quebrar o ideário da identidade virtual “desentificadores.
Estes são os signos que frequentemente apresentam informações sociais. Em alguns
contextos é necessário entender os estigmas em seu emprego relacional. O último aspecto
da informação social é o relacionamento. Estar com alguém dá informações sobre a própria
identidade enquanto se visto socialmente juntos.
● Visibilidade
Visibilidade do estigma em particular; “Até que ponto o estigma está adaptado para
fornecer meios de comunicar que indivíduo o possui.”
1. possibilidade de ser conhecido
2. Intrusibilidade- contextos específicos em que o estigma, apresenta uma
desvantagem maior( ex da cadeiras de rodas e problemas com a dicção )
3. “Foco de percepção”- dois extremos entre as situações sociais( exemplo da feiura)
e outras situações não verbais( ex da diabetes)
“ Antes de se falar de graus de visibilidade, deve-se especificar a capacidade
decodificadora da audiência.”
● Identidade pessoal pg 46
Àrea de manipulação de um estigma; contatos entre sujeitos normalmente responde
à esteriótipos, não obstante, aos poucos, coma proximidade das relações,
estereótipos são desconstruídos revelando a pessoalidade do indivíduo.
“ A área de manipulação do estigma, então, pode ser considerada como algo
que pertence fundamentalmente à vida pública, ao contato entre estranhos ou
simples conhecidos, colocando-se no extremo de um continuum cujo pólo
oposto é a intimidade.”
A partir disso, indivíduos que possuem desvantagens físicas utilizam estratégias
para diminuir a distância e tornar seu estigma desconfortável em uma interação . A
partir da vida cotidiana (continuum)
“A despeito dessas provas de crenças diárias sobre o estigma e a
familiaridade, deve-se continuar a ver que a familiaridade não reduz
necessariamente o menosprezo”
“E ver que, em cada caso(lugar), é provável que ocorram discrepâncias
características entre a identidade social virtual e a identidade social real, e que
se realizem esforços, também característicos, para manipular a situação.”
● Para se pensar a identidade social;
Termo “único”
1. “Uma idéia implícita na noção de "unicidade" de um indivíduo é a de
"marca positiva" ou "apoio de identidade", por exemplo, a imagem
fotográfica do indivíduo na mente dos outros ou o conhecimento de seu
lugar específico em determinada rede de parentesco”
2. “O conjunto completo de fatos conhecidos sobre uma pessoa íntima
não se encontra combinado em nenhuma outra pessoa no
mundo.Frequentemente essa informação está vinculada tanto ao nome
quanto ao corpo”
3. Diferenciação na essência do ser
“Ao usar o termo "identidade pessoal" pretendo referir-me somente as
duas primeiras idéias - marcas positivas ou apoio de identidade e a
combinação única de itens da história de vida que são incorporados ao
indivíduo com o auxílio desses apoios para a sua identidade”
Marcas de apoio à identidade tais como o nome, uma foto oficial, número
em documentos
“A questão da informação social deve ser levantada agora novamente. Os
sinais corporificados já considerados, quer de prestígio ou de estigma,
pertencem à identidade social”
● exemplo de uma espécie de carteira de saúde
● Biografia
“ Ele( indivíduo) é uma entidade sobre a qual se pode estruturar uma história há um
caderno à sua espera pronto para ser preenchido. Ele é, certamente, um objeto para
biografia.”
Todo indivíduo possui linha de vida única e indescritível que está em contraste com os
diferentes eus sociais e egos sustentados. A partir disso surge "conexão informacional"
que medirá a distância entre dois fatos quaisquer.
”A falsa informação social deve ser diferençada da falsa informação pessoal. Um
homem de negócios da classe média alta que sai por um fim de semana de seu local
de trabalho vestido com roupas de uma classe inferior à sua e que escolhe um local
de veraneio barato está se representando falsamente no que se refere à informação
social; quando ele se registra num motel com o nome de Mr. Smith, ele está se
apresentando falsamente no segundo sentido”----- “ Para uma pessoa, ter tido o que
se chama de um passado sombrio é uma questão relativa à sua identidade social; a
maneira pela qual ele manipula a informação sobre esse passado é uma questão de
identificação pessoal”
Para se pensar a relação entre a identificação social e a identificação pessoal deve-se
entender que a construção de uma depende da outra
● Os outros como biógrafos
Identidade pessoal e identidade social, sendo dividida por pessoas que
conhecem ou não conhecem quem possui identificação pessoal. Aos estranhos, a
identidade social imediata se apresenta.
“ Usando o termo reconhecimento cognitivo referir-me-ei ao ato perceptual de
colocar um indivíduo ou como possuidor de uma identidade social particular ou uma
identidade pessoal particular”
.
A fama encontra o aspecto do conhecimento da biografia do indivíduo. O autor cita
um ator que ganha certa notoriedade e da uma volta para que sua identidade
pessoal seja assimilada. Quando não quer ser reconhecido, isso é, quando sua
identidade social é observada e não há meios para que sua biografia pessoal seja
assimilada.
Controles sociais baseados na reputação.ligação entre pessoas famosas e pessoas
de má reputação ( pg 64)
● O encobrimento
Existem dois extremos de visibilidade de um estigma, entretanto vários indivíduos
estigmatizados precisam adequar-se a situação e as pessoas envolvidas na reação para
lidar com o próprio estigma..
Até mesmos estigmas teoricamente aparentes , ou seja, indivíduos desacreditados,
podem não ser visíveis à primeira vista. Ou seja, todos têm, em certo grau, informações
pessoais que podem ser escondidas
Chantagens, a biografia e a manutenção da fachada e da identidade social virtual, o
aparecimento de vidas duplas e círculos que assumem numa mesma pessoa, biografias
diferentes. Outro aspecto da vida dupla é a relação com as pessoas da cidade natal de um
determinado indivíduo.
Há alguns tipos de encobrimento; Inconsciente, involuntário( mas percebido
depois), De “brincadeira”( Em momento não rotineiros da vida social), o de ocasiões
rotineiras e por fim o encobrimento total.
Passos que passam os estigmatizados; Tratamentos do outro em relação a si --- e agora, o
foco do autor de dá no aprendizado do encobrimento
Os lugares e os atores sociais( Exemplo de ruas em que ficam prostitutas)
O mundo espacial do indivíduo está dividido em razão de sua identidade social e também
pessoal. Uma divisão em regiões que envolvem as contingências do encobrimento.
O encobrimento pode envolver “ revelações” embaraçosas durante as interações
ìntimidade também pode resultar em desacreditamentos
A manipulação inconsciente de crianças estigmatizadas protegidas pela rede familiar
● Técnicas de controle de informação 80
A vida diaria como chave analitica, ou seja, para um indivíduo desacreditado é necessário
avaliar as restrições enfrentadas na vida social e para os desacreditáveis como se sucede
a manipulação de suas informações.
Ocultamento de símbolos do estigma, a partir de sinais, lidar com determinadas pessoas
na busca por emprego, ou para pessoas com estigmas muito evidentes, utilizar um estigma
pouco mais aceito. grupos desacreditáveis também podem reduzir seus riscos dividindo
dois grupos de pessoas que sabem de suas informações e que não sabem. A partir disso,
pessoas íntimas( informadas) podem ajudar no encobrimento.
Uma das fases de aprendizado da socialização na carreira moral
● O acobertamento 89
“O encobrimento e o acobertamento estão implícitos, dando ao pesquisador a oportunidade
de aplicar as artes da manipulação da impressão, as artes, básicas na vida social, através
das quais o indivíduo exerce controle estratégico sobre a imagem de si mesmo e os frutos
que os outros recolhem dele.”
O eu e seu outro
“Este ensaio se ocupa com a situação da pessoa estigmatizada e com a resposta à situação
em que ela se encontra. Para colocar o quadro de referência resultante no contexto
conceptual conveniente será útil considerar o conceito de desvio a partir de diferentes
ângulos, constituindo-se este numa ponte que liga o estudo do estigma ao do resto do
mundo social.”
Desvios e Normas
“É provável que o mais afortunado dos normais tenha o seu defeito semi-escondido, e para
cada pequeno defeito há sempre uma ocasião social em que ele aparecerá com toda a
força, criando uma brecha vergonhosa entre a identidade social virtual e a identidade social
real.”
“Além disso, embora algumas dessas normas, como a visão e
a alfabetização, devam ser, em geral, sustentadas com total
adequação pela maior parte das pessoas da sociedade, há
outras normas, como as associadas com a beleza física, que
tomam a forma de ideais e constituem modelos perante os quais
quase todo mundo fracassa em algum período de sua vida.”
“O problema já não é saber se uma pessoa tem experiência com seu próprio estigma,
porque ela a tem, mas sim saber quantas são as variedades dessa experiência.”
Há um acordo entre os normais quanto plateia para aceitar as técnicas do estigmatizado
uma vez que desejam tornar a interação cômoda
Desviante Normal“Se, então, a pessoa estigmatizada deve ser chamada de
desviante, seria melhor que ela fosse denominada desviante
normal, pelo menos até o ponto em que a sua situação é
analisada dentro do quadro de referência aqui apresentado.”
“Isso é facilitado, é claro, pelo fato de que os papéis de
estigmatizado e normal não são simplesmente complementares,
mas exibem ainda paralelos e semelhanças surpreendentes.
Aqueles que desempenham cada um dos papéis podem evitar o
contato com o outro como um meio de ajustamento; cada um
deles pode sentir que não é completamente aceito pelo outro e
que sua própria conduta está sendo cuidadosamente observada -
no que pode ter razão. Cada um pode ficar com seus "iguais"
só para não ter que enfrentar o problema.”
“Um caso especial do emprego superficial de uma linguagem
e um estilo auto-abusivo é fornecido pelos representantes
profissionais do grupo. Quando representando seu grupo
perante os normais, podem incorporar, de maneira exemplar, as
idéias destes últimos, tendo sido escolhidos, em parte, por
poderem agir assim.”
Estigma e realidade.
Recursos utilizados para autopreservação, utilizando da ironia e do sarcasmo como
mecanismo
“O normal e o estigmatizado não são pessoas, e sim perspectivas que são geradas
em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de normas não
cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro.”
“E já que aquilo que está envolvido são os papéis em interação e não os
indivíduos concretos, não deveria causar surpresa o fato de que, em muitos casos,
aquele que é estigmatizado num determinado aspecto exibe todos os preconceitos
normais contra os que são estigmatizados em outro aspecto.”
5. DESVIOS e COMPORTAMENTO DESVIANTE
“Um desses tipos de desvio é importante para nós aqui:
seja, o desvio apresentado pelos indivíduos que voluntária e
abertamente se recusam a aceitar o lugar social que lhes é
destinado e que agem de maneira irregular e, sob um certo
aspecto, rebelde, no que se refere a nossas instituições
básicas - a família, o sistema de classificação por idade, a
divisão de papéis estereotipada entre os sexos, o emprego
legítimo em tempo integral que implica a manutenção de uma
identidade pessoal única ratificada governamentalmente, e a
segregação por classe e por raça.”
Indivíduos engajados em uma espécie de negação coletiva da ordem social- grupos
desviantes e indivíduos desviantes
Questão de grau a comunidade desviante para a sociedade e o indivíduo para seu grupo