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Resenha do Livro Acesso à justiça - Mauro Cappelletti

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O autor inicia o livro admitindo que todos os sistemas jurídicos da modernidade podem ser passiveis de críticas, pois há de se indagar a que custo e a favor de quem esses sistemas funcionam. Muitos operadores do direito já se perguntavam acerca dessa questão, no entanto, com a chegada de profissionais de outras áreas do conhecimento no mundo jurídico, como a sociologia, antropologia, economia, ciência politica e psicologia, a celeuma se enrijeceu. Dessa forma, o autor acredita que se deve respeitar essa “invasão” das outras ciências e reagi-las com criatividade, visto 	podem ser aliadas na batalha que perdura anos na luta pelo acesso à justiça, que será ponto focal nesse presente trabalho.
Mauro leciona que a expressão “acesso à justiça” é de compressão complexa, porém é fundamental para determinar duas finalidades basilares do sistema jurídico, o qual resolve conflitos sob a égide do Estado. A primeira que deve ser de fato, acessível a todos, e segundo, a produção de resultados que sejam individuais e socialmente justos. Sendo que a primeira finalidade será o enfoque primordial do livro. 
No que tange a evolução do conceito teórico de acesso à justiça, o autor faz uma alusão histórica de como era o procedimento para solução de conflitos nos estados liberais “burgueses” dos séculos VXIII e XIX. Na época, mesmo que o acesso à justiça pudesse ser um “direito natural”, esses não precisavam de uma ação do Estado para sua proteção, sendo necessário apenas que o Estado não permitisse que eles fossem transgredidos por outros. Sendo assim, não era uma inquietação do Estado a incapacidade da utilização da justiça e suas instituições por algumas pessoas – a pobreza em sentido legal, pois no sistema liberal a justiça, assim como outros bens, só poderia ser obtida por quem tivesse condições de arcar com os custos, excluindo a população que detinha de menos recursos financeiros. 
O autor critica os estudiosos do direito, assim como o sistema judiciário, que por muito tempo, estavam afastados das reais preocupações da maioria da população. Entretanto, esclarece que com o passar do tempo o conceito de direitos humanos começou a ter uma transformação radial, tendo mais ênfase o caráter coletivo do que individual, a medida em que as sociedades moderadas deixaram para trás a visão individualista dos direitos exemplificados pelo preâmbulo da Constituição Francesa de 1946 e de outras constituições modernas que garantiam direitos ao trabalho, à saúde, à segurança material e à educação. Sendo assim, o acesso a justiça é o mais básico dos direitos humanos e vem de forma progressiva, a ser reconhecido como de importância capital entre os novos direitos individuais e sociais devido também ao crescente estudo do moderno processo civil.
Ademais, Mauro consigna alguns obstáculos ao acesso efetivos à justiça, sendo o primeiro as custas judiciais. Essas despesas incluem pagamento de funcionários do judiciário – alguns possuem um salário alto pago pelo Estado, recursos necessários aos julgamentos e ainda os honorários de sucumbência, em que o vencido pagará os custos de ambas as partes. Importante ressaltar ainda, que contratar advogados e seus serviços é muito caro. Outro obstáculo é o tempo, pois a busca pela solução do conflito pode levar anos para terminar, levando a parte mais fraca a abandonar a causa ou aceitar acordos desfavoráveis a eles. 
Ainda, o autor afirma que algumas partes possuem mais vantagens que as outras, no caso de pessoas ou organizações que possuem recursos financeiros consideráveis têm vantagens óbvias de propor ou defender demandas. Além disso, a noção de reconhecer que um direito foi ferido é muitas vezes deficiente em pessoas mais pobres, seja por falta de informação ou por falta de disposição psicológica para recorrer a um processo judicial. Ademais, os interesses difusos é um problema, pois mesmo que o governo autorize uma construção que ameace a natureza, os moradores não têm o interesse financeiro na questão e muito menos a vontade de enfrentar uma demanda judicial por isso. 
Dentre as soluções práticas para os problemas de acesso à justiça o autor reconhece que a primeira onde foi a assistência judiciária gratuita, a segunda é sobre às reformas tendentes a proporcionar representação jurídica para os interesses “difusos”, e o terceiro, mais recente, é o que nos propomos a chamar simplesmente “enfoque de acesso à justiça”. A primeira onda da assistência judiciaria para os pobres foi vital para o ajuizamento de ações, pois em sociedades modernas o auxílio de um advogado é essencial. No entanto, em economias de mercado, os advogados, particularmente os mais experientes e altamente competentes, tendem mais a devotar seu tempo a trabalho remunerado que à assistência judiciária gratuita. Pensando nisso, a Alemanha em 1919-1923, deu início a um sistema de remuneração pelo Estado dos advogados que fornecessem assistência judiciária, a qual era extensiva a todos que a pleiteassem. Dando o começo a um movimento desencadeado de ações de assistência judiciária em vários países. 
Assim, a maior realização das reformas na assistência judiciária na Áustria, Inglaterra, Holanda, França e Alemanha Ocidental foi o apoio ao denominado sistema judicare, sistema em que a assistência judiciária é estabelecida como um direito para todas as pessoas que se enquadrem nos termos da lei, sendo os advogados particulares pagos pelo Estado. Porém, o judicare desfaz a barreira de custo, mas faz pouco para atacar barreiras causadas por outros problemas encontrados pelos pobres. Isso porque ele confia aos pobres a tarefa de reconhecer as causas e procurar auxílio.
Outro modelo de assistência judiciária é o instaurado no Quebeque, o qual os escritórios de advocacia são mantidos diretamente pelo governo, no entanto os escritórios públicos podem ter menos tendência a privilegiar apenas disputas individuais e, mais provavelmente, poderão mobilizar os pobres e advogar por eles, como grupo. A combinação dos dois modelos permite que os indivíduos escolham entre os serviços personalizados de um advogado particular e a capacitação especial dos advogados de equipe, mais sintonizados com os problemas dos pobres.
A segunda onda diz a respeito aos interesses difusos e coletivos, as reformas mais significativas estão no campo das inovações legislativas e importantes decisões dos tribunais que cada vez mais permitiam que indivíduos ou grupos atuem em representação dos interesses difusos. Além disso, tornou-se necessária uma transformação do papel do juiz e de conceitos básicos como a “citação” e o “direito de ser ouvido”, pois nem todos os titulares de um direito difuso podem comparecer a juízo. Segundo o autor, a ação governamental não tem sido efetiva, visto que a reivindicação dos novos direitos muitas vezes exige qualificação técnica em áreas não jurídicas, tais como contabilidade, mercadologia, medicina e urbanismo. Em vista disso, o Ministério Público e suas instituições correspondentes, muitas vezes, não dispõem do treinamento e experiência necessários para que sejam eficientes.
A terceira onda envolve o acesso à representação em juízo a uma concepção mais ampla de acesso à justiça, essa “terceira onda” de reforma inclui a advocacia, judicial ou extrajudicial, seja por meio de advogados particulares ou públicos, mas vai além, o que inclui alterações nas formas de procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou para-profissionais, tanto como juízes quanto como defensores, modificações no direito substantivo destinadas a evitar litígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos privados ou informais de solução dos litígios. 
Dentre as reformas dos procedimentos judiciais em geral, destacou-se o “Modelo de Stuttgart” da Alemanha, um procedimento envolve as partes, advogados e juízes, num diálogo oral e ativo sobre os fatos e sobre o direito. Importante ressaltar que na Bulgária, assim como outros países socialistas, não havia a necessidade de estabelecer procedimentosou mecanismos especiais para reduzir os custos para a solução de litígios que envolvam pequenas causas, pois a máquina judiciária é acessível ao povo e isenta de custas. No entanto, o autor chama a atenção para um ponto importante, uma vez que que esses procedimentos, nas cortes regulares, tiveram lugar dentro de um sistema econômico e governamental muito diverso daquele existente nos países ocidentais, com vantagens e desvantagens concomitantes. 
O autor ainda divaga sobre métodos alternativos para decidir causas judiciais, uma delas o juízo arbitral que é muito mais célere que os procedimentos comuns. Porém, foca na questão do alto valor dos honorários do arbitro. Além disso, informa que na época estavam levantando hipóteses para que o Estado pagasse os árbitros, como já acontece atualmente.
Outra alternativa semelhante é a conciliação, se o litígio é resolvido sem necessidade de julgamento. São decisões estabelecidas através de um acordo entre as partes, assim o julgamento é mais facilmente aceito do que decisões judiciais unilaterais. Tal procedimento existia primeiramente no Japão, sendo posteriormente difundido na França e nos Estados Unidos.
Na seara de procedimentos especiais, o para as pequenas causas consiste em resolver disputas que envolvem quantias relativamente pequenas de dinheiro. A critica na época era de que muitos tribunais de pequenas causas se tornaram quase tão complexos, dispendiosos e lentos quanto os juízos regulares (devido, particularmente, à presença dos advogados e à resistência dos juízes em abandonar seu estilo de comportamento tradicional, formal e reservado). Atualmente, para ingressar uma disputa em juizados especiais não é necessário estar acompanhado de um advogado. 
Ainda nesse sentido, os tribunais de “vizinhança” ou “sociais” servem para tratarem de querelas do dia-a-dia, principalmente questões de pequenos danos à propriedade ou delitos leves, que ocorrem entre indivíduos em qualquer agrupamento relativamente estável de trabalho ou de habitação. A exemplo disso, existiu no departamento de justiça americano três “Centros Vicinais de Justiça”. Desses tribunais, havia a esperança que essa forma de solução de litígios, descentralizada, participatória e informal, estimularia a “discussão, em comunidade, de situações nas quais as relações comunitárias estejam em ponto de colapso”
 Além disso, existem tribunais especiais para demandas de consumidores. Segundo o autor, houve um evidente fracasso da maior parte dos tribunais de pequenas causas no sentido de promover uma solução eficaz para os consumidores prejudicados, por isso houve o movimento desencadeado de instituir o tribunal especial. Ademais, uma das reformas foi o chamado “solução pela imprensa”, no Canadá, a Inglaterra e os Estados Unidos muitas estações de rádio e de televisão recebiam queixas dos consumidores, encaminham-nas a outras agências, investigam diretamente algumas e tentam utilizar a arma da publicidade adversa para obter resultados em favor de consumidores que tenham sido prejudicados. Tal estratégia até hoje é utilizada no Brasil em programas de televisão que tentam mediar a situação antes de ingressar com ação judicial.
Por fim, Mauro cita algumas mudanças nos métodos utilizados para a prestação de serviços jurídicos. A primeira mudança é o uso dos “parajurídicos”, assistentes jurídicos com diversos graus de treimamento em Direito. Nos Estados Unidos esses profissionais são acionados para fazerem pesquisa, entrevistar clientes, investigar as causas e preparar os casos para julgamento. No Brasil, essa função recai aos estagiários de Direito e assistentes jurídicos. 
Outrossim, o autor entende que planos de assistência jurídica mediante convênio é mais uma mudança nos métodos de prestação de serviços. Essa pratica consiste em os indivíduos concorrerem com algo semelhante a uma contribuição social ou um prêmio de seguro, para obterem, sem custos, ou com custos reduzidos, alguns serviços jurídicos pré-determinados, quando surja a necessidade de utilizá-los. Em países europeus houve uma experiência longa e crescentemente positiva com o “seguro de despesas jurídicas. Assim, um ponto negativo desse método é que se esses planos não quiserem arriscar ou destruir sua viabilidade financeira, eles dificilmente buscarão educar as pessoas em relação aos seus direitos, encorajá-las a ingressarem com ações. 
Mauro Cappelletti acredita que nosso direito é frequentemente complicado, o que dificulta o acesso a justiça, pois se a lei não é compreensível, ela se torna menos acessível às pessoas comuns. Nesse sentido, os exemplos mais destacados de uma solução simplificada são o movimento amplo em direção do divórcio “sem culpa” e de responsabilidade civil objetiva. Na área de direito do consumidor, nos Estados Unidos criaram um “Departamento de Justiça Econômica”, que daria aos consumidores reparação automática nas causas muito pequenas contra os comerciantes, sem necessidade de prova do mérito dessas demandas. 
Enfim, o autor compreende que embora realizações notáveis já tenham sido alcançadas, ainda estamos apenas no começo. Reconhece que os sistemas jurídicos não podem introduzir órgãos e procedimentos especiais para todos os tipos de demandas, pois isso poderia tornar-se em uma barreira ao acesso efetivo. Ainda, diz que a finalidade não é fazer uma justiça “mais pobre”, com o uso de procedimentos rápidos e de pessoal com menor remuneração, mas sim torná-la acessível a todos, inclusive aos pobres.
Concordo com o autor que já na época entendia a importância de tornar mais acessível o acesso a justiça, mas há de se reconhecer que desde que o livro foi publicado houveram transformações particularmente no direito brasileiro, visto que atualmente o sistema judiciário conta com a defensoria pública, órgão responsável por assistir indivíduos que não têm condições de arcar com as despesas de um procedimento. Além disso, os advogados dativos algumas vezes suprem a falta da defensoria em algumas cidades. A justiça gratuita é diversas vezes solicitada quando o querelante não possui recursos para pagar custas do processo. Isto posto, a deficiência do sistema brasileiro é a falta de informação sobre direitos lesados para as pessoas mais carentes, assim como a falta de investimento do Estado no órgão de assistência jurídica gratuita com o objetivo de levar a Defensoria para lugares mais afastados e alcançar essas pessoas.

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