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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Neurologia EPILEPSIA E STATUS EPILÉPTICO Definição: A epilepsia deve ser diferenciada da crise epiléptica. A crise epiléptica é definida como a expressão clínica de atividade elétrica anormal, caracterizada por hiperexcitabilidade neuronal focal ou generalizada, do tecido cerebral. Em aproximadamente 25% dos casos, identifica- se fator causal responsável por desencadear a crise epiléptica. As crises epilépticas provocadas não apresentam recorrência após a eliminação do fator desencadeante. A epilepsia é a doença neurológica crônica caracterizada por presença de crises epilépticas espontâneas (não provocadas) recorrentes, ou seja, há predisposição à manifestação de crises epilépticas recorrentes não associadas a nenhum fator causal. Crise Epiléptica X Epilepsia Crise Epiléptica Anormalidade da atividade elétrica neuronal caracterizada por alteração abrupta/súbita e transitória de comportamento e/ou motricidade e/ou sensibilidade e/ou do sistema nervoso autônomo, com ou sem perda de consciência. Epilepsia Doença neurológica caracterizada por predisposição persistente do cérebro em gerar crises epilépticas e por consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais desta condição. Os principais fatores causais de crises epilépticas são distúrbios ácido-base, distúrbios hidroeletrolíticos, intoxicação por drogas que diminuem o limiar convulsivo, abstinência de drogas hipnóticas/sedativas (benzodiazepínicos) e lesão neurológica aguda, como AVC (isquêmico ou hemorrágico) e processos infecciosos e inflamatórios (meningoencefalites). Em geral, quando elimina-se o fator desencadeante, o paciente tende a não apresentar novas crises epilépticas. Em alguns casos, nenhum fator causal é identificado para explicar a crise epiléptica, mas ainda assim o paciente tende a não apresentar recorrência das crises epilépticas. Epidemiologia: A epilepsia representa a doença neurológica grave mais prevalente na população. A probabilidade de um indivíduo apresentar uma crise epiléptica ao longo da vida é de aproximadamente 10%, entretanto a grande maioria não apresenta epilepsia. A incidência da epilepsia é de até 50 novos casos a cada 100.000 habitantes. A prevalência da epilepsia ativa (doença com crise nos últimos 5 anos) é de aproximadamente 5-10 casos a cada 1.000 habitantes (0,5-1,0%). A epilepsia pode manifestar-se em qualquer idade, entretanto apresenta maior incidência no primeiro ano de vida e após os 60 anos de idade. Características Clínicas: A crise epiléptica deve ser diferenciada da síncope. A síncope é definida como a perda transitória de consciência associada à causa cardiovascular, como reflexo vasovagal, hipotensão ortostática/postural ou arritmia cardíaca, com duração de alguns segundos, geralmente associada a sintomas como calor, sudorese, tontura, mal-estar e palpitações. Na síncope, quando o paciente apresenta retorno à consciência, não há manifestações clínicas pós-ictais, como cefaleia e sonolência. A crise epiléptica pode manifestar-se com ou sem perda de consciência, havendo manifestações clínicas motoras, sensitivas, autonômicas e/ou psicológicas, com possibilidade de liberação esfincteriana, com duração de até 5 minutos, possivelmente associadas a fatores desencadeantes, como exposição a estímulos luminosos, distúrbios hidroeletrolíticos, distúrbios metabólicos, uso de drogas e/ou medicamentos, abstinência de drogas e/ou medicamentos, AVC, febre e infecções. Na crise epiléptica, quando o paciente apresenta retorno à consciência, há manifestações clínicas pós-ictais, como cefaleia, confusão mental, sonolência, dor generalizada e até mesmo paresia ou paralisia de membros. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 A aura, fenômeno comumente associado à migrânea, também pode estar presente na crise epiléptica focal. Na migrânea, a aura apresenta duração de 5-60 minutos e a aura visual caracteriza-se por presença de pontos luminosos em preto e branco. Na crise epiléptica, a aura apresenta duração de, no máximo, 5 minutos e a aura visual caracteriza-se por presença de pontos luminosos coloridos (aura visual caleidoscópica). Classificação: As crises epilépticas classificam-se em focais, quando são causadas por atividade elétrica neuronal originada de uma única área do cérebro, com ou sem generalização secundária, e em generalizadas, quando são causadas por atividade elétrica neuronal originada de ambos os hemisférios cerebrais. Portanto, as crises epilépticas classificam-se em: - Focais sem perda de consciência (simples ou perceptivas). - Focais com perda de consciência (complexas ou disperceptivas). Imagem: Crise epiléptica focal com propagação da atividade neuronal anormal para estruturas do mesmo hemisfério cerebral (seta 1), para estruturas do hemisfério cerebral contralateral (seta 2) e para estruturas profundas do mesmo hemisfério cerebral (seta 3). As crises epilépticas focais são causadas por atividade neuronal anormal originada de uma única área do cérebro, apresentando manifestações clínicas associadas à disfunção da área cerebral acometida. As crises epilépticas focais podem apresentar propagação para outras áreas do mesmo hemisfério cerebral, para estruturas profundas do cérebro ou para ambos os hemisférios cerebrais (generalização secundária). Em geral, quando a crise epiléptica focal dissemina-se para estruturas profundas do cérebro, como o tálamo, a atividade elétrica neuronal anormal tende a propagar-se para ambos os hemisférios cerebrais (generalização secundária). Imagem: Crise epiléptica focal com propagação da atividade neuronal anormal para estruturas profundas do cérebro, principalmente o tálamo (seta 4), e então para estruturas de ambos os hemisférios cerebrais (generalização secundária). - Generalizadas. As crises epilépticas generalizadas provavelmente originam-se de estruturas profundas do cérebro, como o tálamo, com disseminação imediata (sem aura) da atividade neuronal anormal para ambos os hemisférios cerebrais. Imagem: Crise epiléptica generalizada, caracterizada por atividade neuronal anormal originada de estruturas profundas do cérebro que propaga-se para ambos os hemisférios cerebrais imediatamente. A classificação da crise epiléptica em focal ou generalizada depende das manifestações clínicas da crise e do padrão de atividade elétrica observado no eletroencefalograma (EEG). Crises Epilépticas Focais: As crises epilépticas focais podem manifestar-se com ou sem perda de consciência. As manifestações clínicas das crises epilépticas focais associam-se à disfunção da região cerebral em que se origina ou para onde se propaga a atividade elétrica anormal. As crises epilépticas focais podem apresentar sintomas motores, 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 somatossensoriais, autonômicos e/ou psicológicos. As crises epilépticas focais com sintomas motores classificam-se em: - Crises motoras simples: caracterizam-se por abalos musculares rápidos que acometem face e/ou membros unilateralmente devido à presença de foco epiléptico no córtex motor primário (giro pré- central); os abalos musculares podem apresentar padrão de acometimento que evolui do membro inferior para o membro superior ou do membro superior para a face (marcha jacksoniana) devido à presença de atividade neuronal anormal que propaga-se ao longo do córtex motor primário (giro pré- central) de medial para lateral, sendo denominada crise rolândica em crianças. - Crises motoras negativas: caracterizam- se por perda abrupta e transitória do tônus muscular em face e/ou membros unilateralmente devido à presença de foco epiléptico no córtex motor primário (giro pré- central). - Crises posturais ou tônico-posturais: caracterizam-se por tônus muscular bilateral com posturas bizarras, geralmente com abdução assimétrica dosmembros superiores e flexão da cabeça, com ou sem perda de consciência, devido à presença de foco epiléptico na área motora suplementar, localizada na superfície inter-hemisférica, anterior ao giro pré-central. - Crises versivas: caracterizam-se por versão forçada da cabeça e dos olhos para um dos lados, com ou sem perda de consciência, devido à presença de foco epiléptico na região frontal imediatamente anterior ao giro pré-central contralateral ou ipsilateral à versão ou ainda na região occipital ou temporal contralateral ou ipsilateral à versão. - Crises automotoras: caracterizam-se por automatismos (movimentos automáticos) manuais ou oromastigatórios; os automatismos mais comuns são os oromastigatórios, nos quais o paciente realiza movimentos repetitivos da boca, mas há também os automatismos manuais, nos quais o paciente realiza movimentos repetitivos com as mãos, como bater ou mexer objetos ou roupas; geralmente, há perda de consciência neste tipo de crise epiléptica, havendo associação com acometimento de estruturas do lobo temporal. - Crises hipermotoras: caracterizam-se por automatismos intensos que acometem a região proximal dos membros, com movimentos amplos de braços e pernas, com ou sem perda de consciência, devido à presença de foco epiléptico em estruturas do lobo frontal ou, às vezes, do lobo temporal. - Crises hipomotoras: caracterizam-se por parada da atividade motora em curso, geralmente de curta duração; assemelham- se clinicamente às crises de ausência, que são crises epilépticas generalizadas, entretanto podem ser diferenciadas por meio do padrão de apresentação do eletroencefalograma (EEG). As crises epilépticas focais com sintomas somatossensoriais classificam-se em: - Crises somatossensoriais: caracterizam- se por sintomas sensoriais, como dormência ou formigamento, que acometem face e/ou membros unilateralmente devido à presença de foco epiléptico no córtex sensitivo primário (giro pós-central); os sintomas sensoriais podem apresentar padrão de acometimento que evolui do membro inferior para o membro superior ou do membro superior para a face devido à presença de atividade neuronal anormal que propaga-se ao longo do córtex sensitivo primário (giro pós-central) de medial para lateral. - Crises visuais: caracterizam-se por alucinações visuais simples (pontos luminosos) ou complexas (cenas ou formas geométricas) devido à presença de foco epiléptico na região occipital, próxima ao córtex visual primário (alucinações visuais simples), ou no córtex de associação occípito-temporal (alucinações visuais complexas). - Crises auditivas: caracterizam-se por alucinações auditivas simples ou complexas devido à presença de foco epiléptico próximo ao giro temporal superior (córtex auditivo primário). - Crises gustatórias ou olfatórias: raras; associam-se à presença de foco epiléptico em estruturas frontais ou temporais mesiais. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 As crises epilépticas focais com sintomas autonômicos classificam-se em: - Crises autonômicas: caracterizam-se por sensação visceral ascendente, principalmente epigástrica, ou de aperto no peito e/ou na garganta (sufocamento), geralmente em associação a sintomas autonômicos, como taquicardia, palidez cutânea, sudorese e ereção dos pelos, devido à presença de foco epiléptico em estruturas límbicas e paralímbicas, especialmente estruturas temporais mesiais, como amígdala, hipocampo e giro para- hipocampal. - Crises com sintomas psicológicos: caracterizam-se por sintomas de despersonalização, desrealização, medo, pânico, sensação de morte iminente e/ou deja-vú/jamais-vú devido à presença de foco epiléptico em estruturas límbicas e paralímbicas, especialmente estruturas temporais mesiais, como amígdala, hipocampo e giro para-hipocampal. - Crises gelásticas ou dacríticas: raras; caracterizam-se por crises de gargalhadas/risadas involuntárias (crises gelásticas) ou de choro involuntário (crises dacríticas), devido à presença de hamartoma de hipotálamo. A epilepsia benigna da infância com descargas centro-temporais ou epilepsia rolândica representa o tipo mais prevalente de epilepsia em crianças. A doença apresenta curso clínico autolimitado, com resolução completa das crises epilépticas na adolescência. A epilepsia do lobo temporal mesial representa o tipo mais prevalente de epilepsia focal em adolescentes e adultos. A epilepsia do lobo temporal mesial, que acomete estruturas como amígdala, hipocampo e giro para-hipocampal, manifesta-se por crises epilépticas focais, com ou sem perda de consciência, caracterizadas por automatismos (movimentos automáticos) oromastigatórios, sialorreia, afasia, disartria, aura epigástrica, sintomas autonômicos, alterações gustatórias, alterações olfatórias, medo, deja-vú e/ou jamais-vú. A epilepsia do lobo temporal mesial associa- se à presença de esclerose hipocampal ou para-hipocampal na RM de crânio. A epilepsia temporal mesial associada à esclerose hipocampal associa-se a altos índices de refratariedade ao tratamento farmacológico, havendo alternativa de tratamento cirúrgico, com resolução completa das crises epilépticas em aproximadamente 80% dos pacientes. Crises Epilépticas Generalizadas: As crises epilépticas primariamente generalizadas geralmente manifestam-se com perda de consciência, exceto em casos de crises epilépticas mioclônicas. As crises epilépticas generalizadas classificam-se em: - Crises tônico-clônicas (convulsões): caracterizam-se por perda abrupta de consciência e queda, seguida de fase tônica, caracterizada por contração tônica em extensão dos membros e do pescoço e supraversão ocular, geralmente associada a grito devido à expulsão forçada de ar por contração do diafragma, com duração de aproximadamente 30 segundos, seguida de fase clônica, caracterizada por abalos musculares rítmicos dos 4 membros, com duração de aproximadamente 90 segundos, associados à apneia e à sialorreia; além disso, pode haver mordedura de língua e liberação esfincteriana em 5-10% dos casos; ao final da crise, há relaxamento muscular e recuperação gradual da consciência; as crises tônico-clônicas (convulsões) primariamente generalizadas tendem a manifestar-se em pacientes acordados, em períodos próximos ao despertar. - Crises de ausência: caracterizam-se por perda abrupta de contato com o meio, com duração de aproximadamente 10 segundos, às vezes associada a automatismos (movimentos automáticos) discretos, como piscar os olhos; as crises de ausência são mais comuns em crianças, que podem apresentar até 200 crises ao dia; geralmente não há manifestações clínicas pós-ictais associadas; as crises de ausência podem ser desencadeadas por hiperpneia; devem ser diferenciadas das crises epilépticas focais hipomotoras. 5 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Crises mioclônicas: caracterizam-se por abalos musculares rápidos, em choque, simétricos ou assimétricos, rítmicos ou arrítmicos, que podem acometer tanto a região proximal quanto a região distal dos membros, geralmente sem perda de consciência; as crises mioclônicas são frequentemente descritas como choques, tremores ou perda do controle motor dos membros; as crises mioclônicas podem ser desencadeadas por estímulo luminoso repetido, privação de sono ou uso de bebidas alcoólicas; devem ser diferenciadas das crises motoras negativas (crises epilépticas focais). - Crises tônicas: caracterizam-se por perda abrupta de consciência e queda, seguida de contração tônica, geralmente simétrica, dos membros, com elevação dos braços, flexão do pescoço e supraversão ocular, com duração de aproximadamente 30 segundos; as crises tônicas podem manifestar-se durante o sono, de forma leve, apenas com abertura das pálpebras e supraversão ocular, ou em pacientes acordados, causando queda abrupta e possíveis ferimentos; devem ser diferenciadasdas crises posturais ou tônico-posturais (crises epilépticas focais). - Crises atônicas: caracterizam-se por perda abrupta do tônus muscular axial, causando queda da cabeça ou de todo o tronco, com curta duração, resultando em ferimentos; as crises tônicas e as crises atônicas geralmente manifestam-se apenas em pacientes com epilepsia grave. As crises epilépticas febris caracterizam-se como crises epilépticas focais ou generalizadas, geralmente com sintomas motores, associadas à presença de febre em pacientes sem infecção do sistema nervoso central (meningite ou encefalite), apresentando maior incidência em crianças de aproximadamente 2 anos de idade. As crises reflexas caracterizam-se como crises epilépticas focais ou generalizadas desencadeadas principalmente por estímulos visuais, como estimulação luminosa, ou atividades mentais complexas, como leitura ou montagem de quebra- cabeças, acometendo principalmente crianças. Etiologia: As epilepsias focais e as epilepsias generalizadas classificam-se, quanto à causa, em: - Epilepsias de causa estrutural ou metabólica: lesão estrutural identificada em exame de neuroimagem que determina o desenvolvimento da epilepsia ou alteração metabólica identificada em exame laboratorial que determina o desenvolvimento da epilepsia. - Epilepsias genéticas: anormalidades genéticas que determinam a presença de hiperexcitabilidade neuronal responsável por causar a epilepsia; as epilepsias genéticas geralmente manifestam-se apenas durante a infância, com remissão da doença na adolescência ou na idade adulta. - Epilepsias de causa desconhecida. A maioria das epilepsias focais são de causa estrutural-metabólica ou de causa desconhecida, com exceção das epilepsias focais benignas da infância, que são de causa genética. A maioria das epilepsias generalizadas são de causa genética e representam aproximadamente 10% dos casos de epilepsia na população. As principais causas de epilepsia focal são: - Causa genética: → Epilepsia focal benigna da infância com descargas centro-temporais ou epilepsia rolândica. → Epilepsias occipitais da infância (início precoce e início tardio). - Causa estrutural ou metabólica: → Epilepsia temporal mesial associada à esclerose hipocampal. → Epilepsia focal associada a distúrbios do desenvolvimento cortical. → Epilepsia focal associada a tumores. → Epilepsia focal associada a lesões sequelares (infecciosas ou vasculares). → Epilepsia focal associada a lesões degenerativas. → Epilepsia focal associada a malformações vasculares. → Epilepsia focal pós-TCE. 6 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Causa desconhecida. As principais causas de epilepsia generalizada são: - Causa genética: → Epilepsia mioclônica benigna da infância. → Epilepsia de ausência da infância. → Epilepsia mioclônica juvenil. → Epilepsia de ausência juvenil. - Causa estrutural ou metabólica: → Epilepsia generalizada associada a distúrbios do desenvolvimento cortical. - Causa desconhecida. Além disso, há algumas síndromes que iniciam-se durante a infância e são caracterizadas por vários tipos de crises epilépticas generalizadas. As principais síndromes são a Síndrome de West e a Síndrome de Lennox-Gastaut. Diagnóstico: O diagnóstico de epilepsia é essencialmente clínico. Em geral, o diagnóstico de epilepsia baseia-se em história de 2 crises epilépticas não provocadas ocorridas em intervalo de tempo > 24 horas ou história de 1 crise epiléptica não provocada ocorrida em paciente com alta probabilidade de apresentar novas crises epilépticas (alteração eletrofisiológica e/ou estrutural). O eletroencefalograma (EEG), embora não seja necessário, auxilia na confirmação do diagnóstico de epilepsia. A presença de ondas epileptiformes no EEG em paciente assintomático e que não apresenta história de crise epiléptica não faz o diagnóstico de epilepsia, pois há necessidade de expressão clínica da atividade epileptiforme presente no EEG, ou seja, há necessidade de história de manifestações clínicas indicativas de crise epiléptica. Além disso, alguns pacientes com epilepsia podem apresentar EEG normal, que não necessariamente exclui o diagnóstico da doença. Nestes casos, recomenda-se repetir o EEG, pois há maior probabilidade de o segundo exame estar alterado se o paciente realmente tem epilepsia. Alguns fatores que aumentam a sensibilidade do EEG são privação de sono, hiperventilação e fotoestimulação. O vídeo-EEG representa alternativa para a avaliação de pacientes com suspeita de epilepsia. O exame caracteriza-se por realização de eletroencefalograma (EEG) ao longo de 24 horas com o objetivo de identificar ondas epileptiformes. O exame também é útil para a avaliação de pacientes com epilepsia resistentes ao tratamento farmacológico e para a exclusão de diagnósticos diferenciais de epilepsia. O EEG, além de auxiliar no diagnóstico de epilepsia, também possibilita diferenciar a crise epiléptica focal da crise epiléptica generalizada, determinar a localização da epilepsia focal e auxiliar na determinação do tipo de epilepsia, em associação às informações clínicas. Aproximadamente 5% das pessoas podem apesentar EEG alterado sem ter o diagnóstico de epilepsia. O uso de alguns medicamentos pode causar alterações do EEG em pacientes sem epilepsia, tais como bupropiona, cefepime, clozapina, lítio e tramadol. Além disso, a insuficiência hepática e a insuficiência renal também podem causar alterações do EEG em pacientes sem epilepsia. Recomenda-se a realização de exame de neuroimagem (RM de crânio) como parte da avaliação diagnóstica de pacientes com epilepsia com o objetivo de identificar alterações anatômicas/estruturais do cérebro possivelmente associadas às crises epilépticas. A principal alteração estrutural associada à epilepsia é a esclerose hipocampal e/ou para-hipocampal presente na epilepsia do lobo temporal mesial. 7 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Além disso, recomenda-se realizar exames laboratoriais para excluir diagnósticos diferenciais de epilepsia, ou seja, alterações metabólicas que podem causar crises epilépticas, tais como hiperglicemia, hipoglicemia, hiponatremia, hipocalcemia, encefalopatia hepática, encefalopatia urêmica, abuso ou abstinência de drogas, eclâmpsia, hipertermia e encefalopatia hipertensiva. Diagnóstico Diferencial: Os principais diagnósticos diferenciais de epilepsia são representados por eventos paroxísticos, com ou sem perda de consciência, de causa não epiléptica: - Eventos sem perda de consciência: → Distúrbios do movimento: coreia, coreoatetose, tiques, mioclonias não epilépticas, distonia, discinesias paroxísticas. → Migrânea com aura ou migrânea basilar. → Síndrome do pânico. → Hiperventilação. → Ataque isquêmico transitório (AIT). → Amnésia global transitória. - Eventos com perda de consciência: → Síncope. → Migrânea basilar. → Encefalopatia tóxico-metabólica (encefalopatia hepática, encefalopatia urêmica). → Crises não epilépticas psicogênicas: transtorno conversivo-dissociativo. - Eventos durante o sono: → Mioclonias fisiológicas do sono. → Pesadelos. → Terror noturno. → Sonambulismo. → Narcolepsia-cataplexia. → Movimentos periódicos dos membros durante o sono. → Distúrbios comportamentais do sono REM. Tratamento: O tratamento agudo da crise epiléptica baseia-se em: - Observar o paciente e cronometrar o tempo desde o início da crise epiléptica. A maioria das crises epilépticas são autolimitadas, com duração ≤ 5 minutos, não havendo necessidade de tratamento farmacológico com antiepilépticos, exceto em casos de status epiléptico, ou seja, crise epiléptica com duração > 5 minutos ou crises epilépticas recorrentes sem retorno à consciência. - Avaliar os sinais vitais do paciente: FC, FR, PA, SatO2, temperatura axilar e HGT. O paciente em crise epiléptica geralmenteapresenta-se taquicárdico, taquipneico, mas normotenso. Os principais parâmetros que devem ser avaliados são a SatO2, pois o paciente pode tornar-se hipoxêmico, havendo necessidade de administração de gás oxigênio (O2), e o HGT, pois tanto a hiperglicemia quanto a hipoglicemia podem mimetizar quadros de crise epiléptica. - Realizar exame neurológico completo após a crise epiléptica. - Solicitar exames laboratoriais com o objetivo de investigar distúrbios hidroeletrolíticos e/ou metabólicos possivelmente associados à crise epiléptica: glicemia, creatinina, ureia, gasometria arterial, hemograma, sódio, potássio, cálcio, magnésio e cloro. Em pacientes com o diagnóstico de epilepsia, pode-se solicitar a dosagem dos níveis séricos das drogas antiepilépticas. - Solicitar ECG e enzimas cardíacas com o objetivo de excluir arritmias cardíacas. - Realizar anamnese, investigando história de abuso ou de abstinência de drogas, inclusive álcool, e, se o paciente tem o diagnóstico de epilepsia, investigar as medicações em uso e a adesão ao tratamento medicamentoso. - Realizar exame de neuroimagem (TC de crânio ou RM de crânio). - Realizar punção lombar e exame do líquor quando há suspeita de meningite ou encefalite como causa da crise epiléptica. 8 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 O tratamento crônico das crises epilépticas, ou seja, o tratamento da epilepsia está indicado em pacientes com história de ≥ 2 crises epilépticas não provocadas e objetiva diminuir a frequência e a intensidade das crises. O tratamento inicial da epilepsia deve ser realizado com uma única droga antiepiléptica (monoterapia) em doses eficazes. A escolha da droga antiepiléptica depende do tipo de crise epiléptica que o paciente apresenta, da tolerabilidade do paciente à droga, do potencial de interações medicamentosas com outras drogas em uso pelo paciente, do desejo de gestação (muitas drogas antiepilépticas são teratogênicas) e das preferências do paciente. Todas as drogas antiepilépticas apresentam eficácia semelhante para o controle das crises epilépticas. Entretanto, as novas drogas antiepilépticas, introduzidas nas últimas décadas, como gabapentina, lamotrigina, topiramato e levetiracetam, apresentam maior tolerabilidade e menor potencial de efeitos adversos. As principais drogas antiepilépticas utilizadas para o tratamento da epilepsia são: - Fenobarbital: → Agonista do neurotransmissor inibitório GABA. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais e generalizadas. → Não apresenta eficácia em crises de ausência. → Vantagens: baixo custo e disponibilidade de uso EV (status epiléptico). → Desvantagens: alto potencial de efeitos adversos e interações medicamentosas; teratogênese. → Recomenda-se 100-200 mg 1x/dia. → Efeitos Adversos: sedação/sonolência, lentificação, hiperatividade, insônia e irritabilidade, tontura e aumento do risco de quedas em idosos, distúrbios cognitivos, erupção cutânea, teratogênese. → Alto risco de intoxicação, podendo causar morte. → Diminuição da eficácia de ACOs. - Fenitoína: → Atua em canais de sódio. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais e generalizadas. → Pode piorar crises de ausência e crises mioclônicas. → Vantagens: ação rápida, baixo custo e disponibilidade de uso EV (status epiléptico). → Desvantagens: alto potencial de efeitos adversos e interações medicamentosas; alto potencial de causar arritmias cardíacas; teratogênese. → Recomenda-se 200-300 mg 2-3x/dia. → Efeitos Adversos: ataxia, hiperplasia gengival, hirsutismo, dismorfismo facial, erupção cutânea, teratogênese. → Alto risco de intoxicação, podendo causar morte. → Diminuição da eficácia de ACOs. - Carbamazepina: → Atua em canais de sódio. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais e generalizadas. → Pode piorar crises de ausência e crises mioclônicas. → Vantagens: baixo custo e boa tolerabilidade. → Desvantagens: alto potencial de interações medicamentosas. → Recomenda-se 600-1.600 mg 2-3x/dia. → Efeitos Adversos: ataxia, diplopia, hiponatremia, intolerância gastrointestinal, hepatotoxicidade, agranulocitose, erupção cutânea. → Apresenta eficácia no tratamento de dor crônica e no tratamento de transtornos de humor (estabilizador de humor). → Diminuição da eficácia de ACOs. → A oxcarbazepina causa menos interações medicamentosas, mas apresenta maior risco de causar hiponatremia. - Ácido Valproico: → Apresenta múltiplos mecanismos de ação, atuando em canais de sódio e como agonista do neurotransmissor inibitório GABA. 9 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais, generalizadas, de ausência e mioclônicas. → Vantagens: uso em epilepsia idiopática. → Desvantagens: alto potencial de efeitos adversos e interações medicamentosas; teratogênese. → Recomenda-se 500-2.500 mg 2-3x/dia. → Efeitos Adversos: intolerância gastrointestinal, tremor, ganho de peso, edema, leucopenia, plaquetopenia, hepatotoxicidade, queda de cabelo, teratogênese. → Apresenta eficácia no tratamento profilático de migrânea e no tratamento de transtornos de humor (estabilizador de humor). - Benzodiazepínicos: → Agonistas do neurotransmissor inibitório GABA. → Apresentam eficácia em crises epilépticas focais, generalizadas, de ausência e mioclônicas. → Não são recomendados em monoterapia, devido ao alto risco de dependência, exceto no tratamento do status epiléptico. → Diazepam EV: status epiléptico. → Midazolam IM: status epiléptico. → Clobazam VO: adjuvante terapêutico; uso em associação a outro antiepiléptico, devido ao alto risco de dependência. → Efeitos Adversos: sedação/sonolência, lentificação. - Gabapentina: → Atua em canais de cálcio. → Apresenta eficácia apenas em crises epilépticas focais. → Pode piorar crises de ausência e crises mioclônicas. → Geralmente, não causa interações medicamentosas. → Recomenda-se 900-3.600 mg 2-4x/dia. → Efeitos Adversos: sedação/sonolência, ataxia, tremor, cefaleia, tontura, ganho de peso, edema. → Apresenta eficácia no tratamento de dor neuropática e no tratamento de síndrome das pernas inquietas. → Biodisponibilidade VO diminuída. → Pouco usada como antiepiléptico. Na maioria das vezes, usada como adjuvante terapêutico. → A pregabalina apresenta eficácia semelhante à gabapentina, mas apresenta maior biodisponibilidade VO. - Lamotrigina: → Apresenta múltiplos mecanismos de ação, atuando em canais de sódio e como antagonista do neurotransmissor excitatório glutamato. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais, generalizadas e de ausência. → Pode melhorar ou piorar crises mioclônicas. → Apresenta eficácia no tratamento da Síndrome de Lennox-Gastaut. → Apresenta eficácia no tratamento do transtorno de humor bipolar (estabilizador de humor). → Apresenta baixo potencial de interações medicamentosas, não diminuindo a eficácia de antirretrovirais (tratamento do HIV). → Apresenta interação medicamentosa com o ácido valproico. → Recomenda-se 100-400 mg 1-2x/dia. → Efeitos Adversos: erupção cutânea, Síndrome de Stevens-Johnson, ataxia, diplopia, tontura, sedação/sonolência, náuseas, hepatotoxicidade. → Uso principalmente como adjuvante terapêutico. - Topiramato: → Apresenta múltiplos mecanismos de ação, atuando em canais de sódio, como agonista do neurotransmissor inibitório GABA e como antagonista do neurotransmissor excitatório glutamato. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais, generalizadas, de ausência e mioclônicas. → Apresenta eficácia no tratamento profilático de migrânea. 10 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → O topiramato não é indicado como tratamento de primeira escolha da epilepsia, exceto em pacientes com migrânea. → Recomenda-se 100-400 mg 2x/dia. → Apresenta baixo potencial de interações medicamentosas, não diminuindo a eficáciade antirretrovirais (tratamento do HIV). → Apresenta interação medicamentosa com o ácido valproico. → Efeitos Adversos: sedação/sonolência, anorexia, perda de peso, nefrolitíase, diminuição de atenção e concentração, distúrbios cognitivos, depressão, acidose metabólica, parestesias, glaucoma agudo, teratogênese. - Levetiracetam: → Mecanismo de ação pouco conhecido. Ligação à proteína 2A da vesícula sináptica. → Apresenta eficácia em crises epilépticas focais, generalizadas, de ausência e mioclônicas. → Geralmente, não causa interações medicamentosas. → Recomenda-se 1.000-4.000 mg 2x/dia. → No Brasil, disponível apenas para uso VO. → Efeitos Adversos: sedação/sonolência, irritabilidade, depressão, psicose, aumento do risco de suicídio, cefaleia, tontura. → O levetiracetam é indicado como tratamento de primeira escolha da epilepsia ou como tratamento adjuvante da epilepsia, em associação a outra droga antiepiléptica. A carbamazepina é considerada a droga de primeira escolha no tratamento das epilepsias focais, devido à sua boa tolerabilidade e disponibilidade no SUS. O ácido valproico é considerado a droga de primeira escolha no tratamento das epilepsias generalizadas, devido à sua alta eficácia e disponibilidade no SUS. As epilepsias generalizadas geralmente apresentam alta refratariedade ao tratamento farmacológico, havendo necessidade de associação de drogas antiepilépticas. A associação de drogas antiepilépticas de primeira geração (fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, ácido valproico) geralmente não é recomendada, devido ao alto risco de interações medicamentosas, pois os antiepilépticos de primeira geração são potentes indutores enzimáticos, exceto o ácido valproico, que é potente inibidor enzimático. A associação de drogas antiepilépticas de primeira geração com benzodiazepínicos é comum. A associação de drogas antiepilépticas de segunda geração (lamotrigina, topiramato, levetiracetam) entre si ou com drogas antiepilépticas de primeira geração também é comum, pois os antiepilépticos de segunda geração apresentam baixo potencial de interações medicamentosas com os antiepilépticos de primeira geração. As drogas antiepilépticas de primeira geração, que são indutoras ou inibidoras de enzimas hepáticas, apresentam interações medicamentosas significativas com anticoncepcionais orais, anticoagulantes orais, antidepressivos, antipsicóticos, bloqueadores de canais de cálcio, alguns antibióticos (macrolídeos), AINES, antirretrovirais, quimioterápicos e imunossupressores, podendo aumentar os efeitos adversos ou diminuir os efeitos terapêuticos dessas medicações. Os antiepilépticos de primeira geração, em geral, são teratogênicos, ou seja, são contraindicados durante a gestação, exceto a carbamazepina, que parece ser relativamente segura durante a gestação. Todas as drogas antiepilépticas são seguras durante a lactação. Entretanto, os barbitúricos e os benzodiazepínicos apresentam risco de causar síndrome de abstinência no lactente. As drogas antiepilépticas mais seguras para uso durante a gestação são carbamazepina, lamotrigina e levetiracetam. Em idosos, as drogas antiepilépticas devem ser administradas em doses mais baixas devido ao maior risco de efeitos adversos nesta população. Os barbitúricos e os benzodiazepínicos devem ser evitados em idosos devido à associação com distúrbios cognitivos. A carbamazepina e a oxcarbazepina apresentam maior risco de causar hiponatremia em idosos, devendo ser utilizadas com atenção. As drogas antiepilépticas mais seguras para uso em 11 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 idosos são ácido valproico, gabapentina, lamotrigina e levetiracetam. Em pacientes HIV-positivos e em uso de terapia antirretroviral, as drogas antiepilépticas que apresentam menor potencial de interação medicamentosa com os antirretrovirais são lamotrigina, levetiracetam e topiramato. Os antiepilépticos não interrompem a progressão da lesão cerebral associada à epilepsia, apenas controlam a manifestação clínica das crises epilépticas. O tratamento cirúrgico representa alternativa para pacientes com epilepsia focal refratários ao tratamento farmacológico, causando resolução completa das crises em aproximadamente 80% dos pacientes. Status Epiléptico: O status epiléptico, também denominado estado de mal epiléptico, é definido como a presença de crise epiléptica, focal ou generalizada, com duração > 5 minutos ou como a presença de crises epilépticas recorrentes sem recuperação da consciência. O status epiléptico representa condição de alta mortalidade (tempo- dependente), sendo considerada emergência médica. O status epiléptico caracteriza-se por hiperexcitabilidade neuronal, com risco de lesão neuronal que pode tornar-se irreversível à medida que o quadro progride sem ser tratado. Em geral, a lesão neuronal irreversível inicia-se após 30 minutos de status epiléptico. O status epiléptico refratário é definido como a persistência do quadro mesmo após a administração de 2 linhas de drogas antiepilépticas. O mecanismo que mantém a crise epiléptica ativa no status epiléptico é a associação entre aumento de ação do neurotransmissor excitatório glutamato e diminuição de ação do neurotransmissor inibitório GABA. A manutenção da crise epiléptica por > 5 minutos associa-se à liberação de mediadores inflamatórios que causam lesão neuronal, que pode tornar-se irreversível após 30 minutos. Portanto, o tratamento do status epiléptico objetiva aumentar a atividade inibitória (mediada por GABA) do SNC e diminuir a atividade excitatória (mediada por glutamato) do SNC. As drogas antiepilépticas de primeira escolha para o tratamento do status epiléptico são os benzodiazepínicos (diazepam ou midazolam), que aumentam a atividade inibitória do SNC mediada pelo neurotransmissor GABA. As principais causas de status epiléptico são: - Má adesão ao tratamento com drogas antiepilépticas, especialmente em casos de interrupção abrupta de uso da droga (principal causa). - Anormalidades estruturais do SNC (tumores, traumas). - AVC. - Anormalidades metabólicas: → Hiperglicemia (cetoacidose diabética). → Hipoglicemia. → Hiponatremia. → Hipocalcemia. → Hipomagnesemia. → Aumento de creatinina e ureia (insuficiência renal aguda). - Hipoxemia. - Infecção sistêmica. - Infecção do SNC. - Hemorragia do SNC. - Abuso de álcool. - Abuso de drogas. O manejo terapêutico do status epiléptico baseia-se em: - Estabilização Clínica: → Avaliar via aérea. → Avaliar sinais vitais: FC, FR, PA, SatO2 e HGT. → Em casos de hipoglicemia, deve-se administrar tiamina (vitamina B1) EV seguida de glicose 50% para prevenir o desenvolvimento de encefalopatia de Wernicke. - Primeira Linha: → Diazepam 0,15-0,2 mg/kg EV: recomenda-se administrar 5-10 mg EV em bolus, com possibilidade de repetir a dose 1 12 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 vez se não houver resposta após 10 minutos (máximo de 10 mg/dose). OU → Lorazepam 0,1 mg/kg EV: recomenda-se administrar 2-4 mg EV em bolus, com possibilidade de repetir 1 dose se não houver resposta após 10 minutos (máximo de 4 mg/dose). OU → Midazolam 5-10 mg IM: recomenda-se administrar 5-10 mg IM em bolus em dose única. Um erro comum do médico é a administração de benzodiazepínico (diazepam, lorazepam ou midazolam) em paciente que está em período pós-ictal, causando piora da confusão mental e da sonolência do paciente. - Segunda Linha: → Fenitoína 20 mg/kg EV em velocidade de 50 mg/min em dose única. OU → Ácido Valproico 40 mg/kg EV em dose única. OU → Levetiracetam 60 mg/kg EV em dose única. O ácido valproico é superior à fenitoína em casos de crises de ausência e crises mioclônicas. - Terceira Linha: → Fenobarbital 15 mg/kg EV. - Quarta Linha: → Anestesia geral e intubação orotraqueal (IOT): midazolam, propofol, pentobarbitalou tiopental. → Eletroencefalograma (EEG) contínuo. Se o paciente recupera-se do status epiléptico, deve-se continuar a administração da droga antiepiléptica, podendo ser realizada em tempo prolongado, desde que a dose seja completada. Administração da Fenitoína EV: - A fenitoína EV é administrada em bomba de infusão contínua. - Nunca deve-se diluir a fenitoína em soro glicosado, sempre em soro fisiológico 0,9%. - A fenitoína precipita-se em 20 minutos, mesmo quando é diluída em soro fisiológico 0,9%. - Paciente de 70 kg: 20 mg/kg x 70 kg = 1400 mg ÷ 50 mg/min = 28 minutos. - 1 ampola de fenitoína apresenta concentração de 50 mg/mL e volume de 5 mL, ou seja, 1 ampola = 250 mg de fenitoína. - Quero concentração de 2 mg/mL (regra geral para administrar a fenitoína sem causar intoxicação do paciente). - 2 ampolas de 5 mL ou 250 mg de fenitoína: 10 mL ou 500 mg de fenitoína. - Administrar 10 mL de fenitoína em 240 mL de soro fisiológico 0,9% = total de 250 mL. - 500 mg em 250 mL = 2 mg/mL. - Realizar infusão em 20 minutos com velocidade de infusão de 25 mg/min. - Não iniciar a infusão em velocidade máxima (50 mg/min), iniciar mais devagar. Posteriormente, pode-se aumentar a velocidade de infusão da fenitoína, diminuindo o tempo de administração da droga. - Realizar 1 diluição de 500 mg de fenitoína em 240 mL de SF 0,9% (total de 250 mL) + 1 diluição de 500 mg de fenitoína em 240 mL de SF 0,9% (total de 250 mL) + 1 diluição de 500 mg de fenitoína em 240 mL de SF 0,9% (total de 250 mL) – 50 mL da solução de 250 mL para diminuir a concentração de fenitoína de 500 mg para 400 mg nesta última diluição = total de 1400 mg de fenitoína EV.
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