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Neurologia Jamille Ponte EPILEPSIA O QUE É? EPIDEMIOLOGIA FISIOPATOLOGIA Doença que se caracteriza por uma predisposição permanente do cérebro em originar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais destas crises Há mais de 50 milhões de pessoas com epilepsia no mundo, a maioria vivendo em países em desenvolvimento Estima‐se que a prevalência mundial de epilepsia ativa esteja em torno de 0,5% a 1,0% da população Surtos de potenciais de ação; Canais de cálcio e de potássio lentos permitem uma despolarização celular prolongada Alguns mecanismos sinápticos podem interferir na liberação de neurotransmissores, que duram vários milissegundos na fenda sináptica. A desregulação desses neurotransmissores e o bloqueio da ação GABA permite a geração de surtos de potenciais de ação descontrolados. Durante a atividade repetitiva ictal a concentração de potássio aumenta no extracelular→ modificando oo potencial de equilíbrio desse íon→ enfraquecendo as correntes de saída→ não sendo mais efetivamente repolarizadas; Junto a isso, há o aumento da acetilcolina→ que reduz a condutância do potássio→ prolongando esse efeito excitatório CONCEITOS CRISE CONVULSIVA CRISE PROVOCADA CRISE NÃO PROVOCADA Atividade elétrica anormal, a qual gera sinais e sintomas específicos, como abalos musculares Crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto neurológico agudo. OBS: relação temporal entre o desencadeante e a crise nos últimos 7 dias Quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clínica, laboratorial e de imagem EPILEPSIA SÍNDROME EPILÉPTICA ESTADO DE MAL EPILÉPTICO É uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. Refere-se a um conjunto de características incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntas Presença de duas ou mais crises sem a completa recuperação da consciência entre elas ou uma crise com mais de 30 minutos de duração. Crises com mais de 5-10 minutos de duração têm baixa probabilidade de cessarem espontaneamente. Crises que persistem por mais de 5 minutos são consideradas e tratadas como estado epiléptico→ caracterizada como emergência médica (mortalidade chega a 20%) Etiologias: má aderência ao tratamento; lesão estrutural; metabólica; tóxica; overdose ou síndrome de abstinência; sepse. Tratamento: - Benzodiazepínico (Diazepam EV – inicialmente com 10mg e aumenta para 20mg se não houver melhora) - Anticonvulsivantes (fenitoína EV 15-20 mg/kg) - Sedação (Midazolam, propofol ou pentobarbital) ETIOLOGIAS ESTRUTURAL GENÉTICA INFECCIOSA Anormalidades visíveis em estudos de neuroimagem estrutural; Podem ser: - Adquiridas: encefalopatia hipóxica-isquêmica, acidente vascular cerebral, trauma e infecção - Genética: esclerose tuberosa (Obs: apesar de existir uma base genética, é a alteração estrutural a responsável pela epilepsia). Resultado direto de uma mutação genética conhecida ou presumida na qual as crises epilépticas constituem o sintoma central da doença. Inferência de etiologia genética pode ser feita baseada apenas em uma história familiar de uma doença autossômica dominante. Uma base molecular pode ter sido identificada; Genética não é sinônimo de hereditário! Paciente pode ter uma mutação nova que surgiu nele que não foi herdada, porém este paciente pode agora ter uma forma hereditária de epilepsia. Infecção conhecida na qual as crises epilépticas são os sintomas centrais da afecção Ex: neurocisticercose, tuberculose, HIV, malária cerebral, panencefalite esclerosante subaguda, toxoplasmose cerebral, infecções congênitas como pelo Zika vírus e citomegalovírus. Neurologia Jamille Ponte METABÓLICA IMUNE DESCONHECIDA Resultado direto de um distúrbio metabólico conhecido ou presumido Ex: porfiria, uremia, aminoacidopatias ou por crises por dependência de piridoxina Resulta diretamente de um distúrbio imune no qual as crises são o sintoma central desta afecção Ex: inflamação imunomediada no SNC Quando mesmo após a investigação, não é possível determinar a origem do quadro. CLASSIFICAÇÕES FOCAL GENERALIZADA DE INÍCIO DESCONHECIDO EPILEPSIA COMBINADA Aquelas que se originam em redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, as quais podem ser restritas ou distribuídas de forma mais ampla EEG: interictal tipicamente mostra descargas epileptiformes focais Se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais EEG: Apresentação de atividade de complexos de espículas-onda generalizados É usado para denotar situações a qual sabe- se que o paciente tem epilepsia, mas o clínico, é incapaz de determinar se o tipo de epilepsia é focal ou generalizado porque há pouca informação disponível. Pode posteriormente ser classificada tanto de início focal como generalizado quando estiverem disponíveis exames complementares como EEG, neuroimagem ou testes genéticos Quando o mesmo paciente apresenta crises focais e crises generalizadas. Diagnóstico clínico, corroborado pelas descargas do EEG EEG: pode mostrar tanto espículas generalizadas como descargas epileptiformes focais Ex: Síndrome de Dravet e Síndrome de Lennox-gastaut Perceptivas Disperceptivas Motoras Não motoras (ausência) Quando a percepção de si próprio e do meio ambiente é preservada Quando a percepção é comprometida tônico‐clônicas; clônicas; tônicas; mioclônicas; mioclônico‐tônico‐clônicas; mioclônico‐atônicas, atônicas; espasmos epilépticos crises de ausência: - típicas - atípicas - mioclônicas - ausências com mioclonias palpebrais Início motor Início não motor Crise focal evoluindo para tônico clônica bilateral Epilepsias generalizades idiopáticas/ epilepsias generalizadas genéticas - Epilepsia ausência da infância - Epilepsia ausência juvenil - Epilepsia mioclônica juvenil - Epilepsia com crises tônico-clônicas Automatismos; atônicas; clônicas; espamos epilépticos; hipercinéticas; mioclônicas; tônicas. Autonômicas; parada comportamental; cognitivas; emocionais e sensoriais Crise secundariamente generalizada QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES MOTORAS MANIFESTAÇÕES NÃO MOTORAS Automatismos: movimentos estereotipatos (ex: mastigação) Atônica: perda do tônus muscular; Tônica: hipertonia muscular Clônica: abalos rítmicos focais; Mioclônica: abalos focais breves e irregulares (semelhante a um susto). Sendo que paciente que tem mioclonia geralmente não percebe Hipercinética: movimentos rápidos Espasmos epilépticos: flexão e extensão dos fracos e flexão do tronco Autonômico: palago. Cognitivo: alteração de linguagem, sensação de dejavu, incerteza; Emocional: ansiedade, medo extremo; Sensitivo: parestesia, hipoestesia; Parada comportamental: indivíduo parado com olhar vago. Neurologia Jamille Ponte DIAGNÓSTICO CLÍNICO EXAMES COMPLEMENTARES História detalhada e exame físico geral, com ênfase nas áreas neurológicas e psiquiátricas; Auxílio do testemunha ocular; Existência de aura e condições que possam ter precipitado a crise; Idade de início, frequência de ocorrência e intervalos mais curtos e mais longos sem crise (diário de crises); Existência de eventos perinatais, crises no período neonatal, crises febris, qualquer crise não provocada e historia de epilepsia na família. Trauma craniano, infecção ou intoxicações previas. Para confirmar, o indivíduo deve se encaixar em um dos seguintescritérios: - 2 crises não provocas em um intervalo >24h - Paciente com alta chance de recorrência (presença de alteração estrutural no SNC) - Síndrome epiléptica Eletroencefalograma: Responde se o paciente tem epilepsia, onde está a área epileptogênica e se o tratamento está sendo adequado. EEG em vigília e em sono são obrigatórios para confirmação OBS: resultado normal não exclui a possibilidade de indivíduo possuir epilepsia Na suspeita de causas estruturais ou em pacientes refratários a tratamentos medicamentosos→ RM e TC de crânio → estão mais presentes na maioria dos pacientes com epilepsia focal DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL COMORBIDADES Síncope; ataque isquêmico transitório (AIT); ataques de pânico; crise não epiléptica psicogênica; arritmias cardíacas; migrânea; distúrbios metabólicos Problemas de aprendizagem, psicossociais e comportamentais. Transtorno do espectro autista e depressão. Nas epilepsias mais graves: déficits motores com paralisia cerebral ou deterioração da marcha, transtornos de movimento, escoliose, alterações de sono e doenças gastrointestinais. FÁRMACOS ANTIEPILÉPTICOS FENOBARBITAL ÁCIDO VALPROICO FENITOÍNA CARBAMAZEPINA Mecanismo de ação: gabaérgica Espectro de ação: focais / tônico clônica generalizada (TCG) Interação medicamentosa: indutor enzimático Dose: 100 a 200 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, sonolência, disartria, fadiga, cefaleia, irritabilidade, vertigem, nistagmo e depressão. Indicação: Tratamento de crises focais e generalizadas de pacientes de qualquer idade, inclusive recém-nascidos. Mecanismo de ação: ação gabaérgica, bloqueio do canal de cálcio tipo T e bloqueio do canal de sódio. Espectro de ação: amplo (focais/ generalizada). Interação medicamentosa: inibidor enzimático. Dose: 500 a 3000 mg Efeitos adversos: náusea, cefaleia, aumento do tempo de sangramento, trombocitopenia, tremor, alopecia, astenia, sonolência, diplopia, tontura, dispepsia, zumbido, nistagmo, vômitos e diarreia. Obs: é também utilizado como estabilizador de humor Indicação: Monoterapia e terapia adjunta de pacientes com mais de 10 anos de idade e com qualquer forma de epilepsia. Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático Dose: 100-300 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, sonolência, disartria, nistagmo, atrofia cerebelar, bradicardia, bloqueio de condução (apenas com infusão rápida), hipertrofia gengival e anemia megaloblástica. Obs: única droga disponível por via endovenosa Indicações: − Tratamento de crises TCG, focais complexas, ou combinação de ambas, em crianças, adolescentes e adultos; − Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após procedimento neurocirúrgico; − Tratamento das crises tônicas, próprias da síndrome de Lennox-Gastaut Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio e discreta ação anticolinérgica. Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático Dose: 400 a 1200 mg Efeitos adversos: ataxia, tontura, sonolência, náuseas e vômitos Obs: É uma droga de baixo custo! O que pode facilitar a adesão terapêutica. Indicações: Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária; Crises TCG em pacientes com mais de um ano de idade. Neurologia Jamille Ponte OXCARBAZEPINA LAMOTRIGINA TOPIRAMATO LEVETIRACETAM Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: crises focais / TCG Interação medicamentosa: indutor enzimático fraco Dose: 600 a 1800 mg Efeitos adversos: tontura, ataxia, cefaleia, náuseas, nistagmo, sonolência, alteração da marcha, tremor, dor abdominal, fadiga, vertigem, anormalidades visuais Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Dose: 200 a 600 mg Efeitos adversos: tontura, diplopia, cefaleia, ataxia, turvação visual, rinite, sonolência, alergia e rash cutâneo. Obs: Ao aumentar a dose, deve ser feito progressivamente de 25mg em 25 mg. Se o paciente estiver usando inibidor enzimático, esse aumento deve ser realizado de 12,5 em 12,5 mg. Indicações: − Monoterapia para crises focais com ou sem generalização secundária em pacientes com mais de 12 anos de idade em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha; − Monoterapia para crises primariamente generalizadas em pacientes com mais de 12 anos de idade em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha; − Terapia adjuvante para crises focais em pacientes mais de 2 anos de idade; − Terapia adjuvante para crises generalizadas da síndrome de Lennox-Gastaut, em pacientes com mais de 2 anos de idade. Mecanismo de ação: bloqueador do canal de sódio, gabaérgica, antagonista do receptor de AMPA/Kinase Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Dose: 200 a 400 mg Efeitos adversos: redução de bicarbonato sérico, tontura, fadiga, ataxia, nervosismo, parestesia, lentificação psicomotora, visão anormal, anorexia, confusão, alteração de memória, náuseas, alteração da fala e dificuldade de na realização de cálculos. Obs: grande quantidade de efeitos adversos, não é tão bem tolerado! Indicações: − Monoterapia para crises focais ou primariamente TCGs em pacientes mais de 10 anos de idade com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha; − Terapia adjuvante para crises focais, primariamente generalizadas ou crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em pacientes mais de dois anos de idade. Mecanismo de ação: ligação com proteína SV2A (vesícula sináptica), impedindo que o neurotransmissor alcance a fenda sináptica, ou seja, atua na condução sináptica Espectro de ação: amplo (focais e generalizadas) Dose: 1 a 3g Efeitos adversos: astenia, cefaleia, HAS, sonolência, fadiga, anorexia, fraqueza, tosse, depressão e irritabilidade. Obs: É um fármaco mal tolerado do ponto de vista psiquiátrico (muitos efeitos negativos) e possui um elevado custo. ESCOLHA DA MEDICAÇÃO MANUTENÇÃO DE MONOTERAPIA CRITÉRIOS PARA O USO DE ASSOCIAÇÕES MONITORIZAÇÃO DO TRATAMENTO EPILEPSIA REFRATÁRIA - Adultos com epilepsia focal → carbamazepina, fenitoína e ácido valproico; - Crianças com epilepsia focal →carbamazepina; - Idosos com epilepsia focal → lamotrigina e gabapentina; - Adultos e crianças com crises TCG, crianças com crises de ausência, epilepsia rolândica e epilepsia mioclônica juvenil → nenhuma evidência alcançou níveis A ou B de recomendação. Mas usualmente são utilizados: ácido valproico (1ª escolha), lamotrigina e etossuximida Em casos de intolerância à primeira monoterapia em doses adequadas; Falha no controle ou presença de exacerbação das crises. Controle inadequado de crises com duas monoterapias sequenciais; Paciente de alto risco para agravamento de crises Período de reavaliação de 3 meses Elaboração de diário de crises. Quando as crises não melhoram com pelo menos dois tratamentos com medicações adequadas e em doses apropriadas; Opções: politerapia, tratamento cirúrgico para epilepsia focal refratário Associações consideradas eficaz: - Valproato + Lamotrigina - Carbamazepina + Clobazam - Levetiracetam, Topiramato e Lacosamida.
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