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GRUPO FOCAL NA PESQUISA QUALITATIVA: RELATO DE EXPERIENCIA ZIMMERMANN, Marlene Harger – UEPG marlene_hz@yahoo.com.br MARTINS, Pura Lúcia Oliver – PUCPR pura.oliver@pucpr.br Área Temática: Educação: Profissionalização Docente e Formação Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo A técnica do Grupo Focal tem sido eleita nas pesquisas nas áreas sociais e no campo da saúde está sendo cada vez mais utilizada. Os sujeitos participantes da pesquisa encontram no Grupo Focal liberdade de expressão, que é favorecida pelo ambiente, levando a uma participação efetiva. Este estudo focaliza a técnica do Grupo Focal tendo como objetivo evidenciar as contribuições, como técnica de coleta de dados na pesquisa qualitativa, através do relato de experiência vivenciado na pesquisa do Mestrado em Educação cuja temática foi “A bioética na formação do profissional enfermeiro: contribuições para um cuidado mais humanizado”. Utilizou-se como método teórico o materialismo histórico-dialético, numa abordagem qualitativa. O Grupo Focal foi a técnica eleita para a coleta de dados grupais. Foram sujeitos da pesquisa, docentes e alunos do curso de Enfermagem de duas Instituições de Ensino Superior da cidade de Ponta Grossa. Para a execução da técnica contou-se com a participação do moderador e do observador, sendo o rigor metodológico respeitado. A humanização na formação do profissional Enfermeiro foi o assunto focalizado nos dois Grupos Focais. Os resultados foram analisados com o auxílio da Análise de Conteúdo de Bardin, gerando as seguintes categorias de análise: a) condições objetivas de trabalho; b) humanização/humanizador; c) dicotomia teoria/prática. Conclui-se que a técnica do grupo focal propicia momentos de profunda reflexão possibilitando reviver situações acadêmicas e profissionais. O estudo apontou a riqueza da técnica como instrumento para melhorar as relações interpessoais, vindo ao encontro da pesquisa qualitativa quando esta trabalha com o universo dos significados, das atitudes correspondendo a um espaço mais profundo das relações. Palavras-chave: Grupo focal; Pesquisa qualitativa; Interação. Introdução Este estudo focaliza a técnica do Grupo Focal tendo como objetivo evidenciar as contribuições, como técnica de coleta de dados na pesquisa qualitativa, através do relato de experiência vivenciado na pesquisa do Mestrado em Educação cuja temática foi “A bioética 12116 na formação do profissional enfermeiro: contribuições para um cuidado mais humanizado”. Dentre as metodologias que o conhecimento científico faz uso para captar a realidade, optou-se pelo método histórico-dialético, numa abordagem qualitativa. Triviños (1987, p. 51) esclarece que o materialismo histórico é: “a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens”. Os sujeitos foram professores e alunos inseridos num contexto social. Importante se faz o estabelecimento de um enfoque metodológico que se relacione à necessidade de obter uma aproximação com sujeitos que desvelem a essência de suas vivências e experiências, que possibilite a captura das perspectivas dos participantes, buscando entendê-los numa totalidade concreta. De acordo com revisões bibliográficas, a abordagem qualitativa tem sido a opção metodológica que vem sendo cada vez mais utilizada nas pesquisas em Educação e em Enfermagem. De acordo com Merigui, essa abordagem oferece a possibilidade de alcançar as respostas para questões particulares que envolvem o cuidado e a assistência da Enfermagem, desvendando assim, os aspectos subjetivos da experiência humana no processo de saúde (MEREGUI, 2003). Para que pudesse ser operacionalizada a pesquisa, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa, deu-se seqüência à coleta de dados selecionando, como instrumento, a técnica do Grupo Focal (GF), onde entrevista e observação encontram-se inseridos. Sobre a observação cita-se Martins (2004, p. 87), quando afirma que esta: “utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar”. Fez-se uso da técnica do Grupo Focal, porque, no âmbito das abordagens qualitativas em pesquisa social e no campo da saúde, esta vem sendo cada vez mais utilizada. Os sujeitos participantes da pesquisa encontram no Grupo Focal liberdade de expressão, que é favorecida pelo ambiente, levando a uma participação efetiva. No dizer de Gatti (2005, p. 9), ao se fazer uso da técnica do Grupo Focal, “há interesse não somente no que as pessoas pensam e expressam, mas também em como elas pensam e por que pensam”. Daí, a importância de utilizar essa técnica na pesquisa. Sendo os sujeitos artífices da história, sofrendo influência do meio social, mister se faz desvelar este “como” e “porquê” pensam, na busca de novas compreensões, de novo “olhar” no 12117 caleidoscópio da ciência, que apresenta para nós sempre novas possibilidades e até mesmo com surpresas. Ao se reportar ao Grupo Focal como técnica para coleta de dados, faz-se menção de que ele é utilizado quando se querem compreender diferenças e divergências, contraposições e contradições (GATTI, 2005). Nesse pensamento, o método dialético ganha força, tendo em vista que a contradição é a mola propulsora para o desvelamento do real, da apreensão do real. TÉCNICA DO GRUPO FOCAL (GF) Mencionada primeiramente como técnica de pesquisa em marketing nos anos de 1920. Foi introduzida nas ciências sociais, por R. Merton, em 1950, com o objetivo de estudar as reações das pessoas à propaganda de guerra. Pertence à categoria mais geral de pesquisa aberta ou não estruturada, visando colocar as respostas do sujeito no seu próprio contexto (MINAYO, 2000, p. 109). Grupo Focal é uma técnica que integra, discute, avalia o tema proposto, sendo flexível e dinâmico, pois, na primeira etapa dos trabalhos são realizadas atividades de descontração, cujo comportamento pode envolver o grupo durante a reunião. Em relação à importância desta técnica, cito Minayo, O grupo focal consiste numa técnica de inegável importância para se tratar das questões da saúde sob o ângulo do social, porque se presta ao estudo de representações e relações dos diferenciados grupos profissionais da área, dos vários processos de trabalho e também da população (MINAYO, 2000, p. 129). De acordo com Debus, Grupo Focal é uma das principais técnicas de investigação, que se apropriou da dinâmica de grupo, permitindo a um pequeno número de participantes ser guiado por um moderador qualificado, procurando alcançar níveis crescentes de compreensão e aprofundamento de um tema em estudo (DEBUS, 2004, p. 3). Giovanazzo (2001) explicita a finalidade do Grupo Focal, sendo este apropriado quando o objetivo é explicar como as pessoas consideram uma experiência ou uma idéia e, durante a reunião, possam ser obtidas informações sobre o que as pessoas pensam ou sentem ou ainda sobre a forma como agem. Autores relatam sobre a técnica, informando que a mesma deve ser composta por 8 a 12 elementos. Quanto maior o grupo, maior a possibilidade de haverem conversas paralelas, o que certamente influenciará negativamente nos resultados. 12118 PARTICIPANTES DO GRUPO FOCAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Em relação à seleção dos participantes do GF, privilegia-se a escolha segundo alguns critérios, conforme o problema em estudo, e desde que possuam características comuns que os qualifiquem para a discussão da questão focal (GATTI, 2005). Também convém assinalar que os participantes devem ter vivência com o tema a ser discutido, propiciando riqueza na troca de informações. Nesta pesquisa, a referida técnica foi realizada com dois grupos distintos: um de professoras e outro de alunos. O primeiro compostopor sete docentes do Curso de Enfermagem, de duas Instituições de Ensino Superior da cidade de Ponta Grossa, no estado do Paraná, “Lâmpada” e “Verde Esmeralda1” O segundo, composto por oito universitários da Instituição de Ensino Superior, “Lâmpada”. Planejamento do grupo focal De acordo com revisão de literatura, o Grupo Focal necessita de prévio planejamento em que aspectos inerentes ao andamento dos trabalhos necessitam ser contemplados. Neste sentido o planejamento assume grande importância tendo em visto a necessidade de visualização de particularidades que serão imprescindíveis para o alcance do objetivo que se pretende. As decisões referentes ao mesmo foram tomadas quinze dias antes do convite formulado. Nesse planejamento foi contemplada a equipe, o orçamento, o grupo, o conteúdo, à seleção do local e coleta de dados, o convite, o cronograma e à condução da sessão. A seguir será abordado cada item em particular, pela importância que possuem trazendo a tona o relato de experiência vivenciado. 1 Nome fantasia atribuído às Instituições de Ensino Superior do Paraná investigadas, salvaguardando a identidade por princípios éticos. Em Enfermagem, a lâmpada é um símbolo utilizado pela precursora da enfermagem (Florence Nightingale) e o verde esmeralda é a cor designada pelo Conselho Federal de Enfermagem para a enfermagem. 12119 Equipe: A equipe de trabalho na realização do Grupo Focal foi composta de uma enfermeira, no papel de Moderadora, um psicólogo, como Observador, uma acadêmica de Enfermagem, como Auxiliar de Pesquisa (GF de alunos), uma enfermeira, como Auxiliar de Pesquisa (GF de professoras), e a pesquisadora na qualidade também de observadora, estando presente na execução de todo o processo. Orçamento: Como toda pesquisa, esta também denotou gastos que foram custeados pela pesquisadora. No orçamento foram contemplados custos com equipamento, material de expediente, coquetel e diversos. Grupo: A função do observador no grupo é registrar, o que se torna um fator indispensável para o enriquecimento das análises. Chianca apud Gatti (2005) recomenda que o observador divida o processo de observação em três etapas a saber: abertura, em que o observador se coloca de forma a registrar o mais fielmente possível todas as informações; o desenvolvimento, no qual o grupo começa a se posicionar frente ao tema a ser desenvolvido e; o fechamento, quando o grupo começa a formular uma síntese dos fenômenos ocorridos. Convidou-se um docente, que é psicólogo, com atuação no ensino do Curso de Enfermagem da Instituição “Lâmpada”, para auxiliar nas anotações durante o desenvolver da técnica. Teve participação como observador nos Grupos Focais de alunos e de professoras. Quanto à função do moderador, é dele a responsabilidade pelos encaminhamentos e direcionamentos necessários, bem como o incentivo na participação de todos os componentes do grupo, para que se aprofundem as discussões, possibilitando a revelação de novos aspectos e novos olhares, relativos ao tema. Para exercer o papel de moderadora no GF, convidou-se uma enfermeira, mestre, com atuação em um Órgão de Saúde do Estado do Paraná, também docente no Curso de Enfermagem da Instituição “Lâmpada”. Ela teve participação nos Grupos Focais de alunos e de professoras. Durante o transcorrer das atividades propostas é importante a presença do auxiliar de pesquisa, pois tem como funções evitar a distração dos participantes e facilitar o transcorrer de todo o percurso programado. Encargo assumido por acadêmica de Enfermagem. Ela teve atuação no Grupo Focal de alunos. Para o grupo de professores fez-se convite a uma Enfermeira que é docente da Instituição de Ensino Superior “Verde Esmeralda” que também de imediato aceitou o convite realizado. Nesse planejamento, estabeleceu-se que fosse feita uma reunião única dos Grupos Focais de professoras e de alunos. 12120 Conteúdo: Em relação ao conteúdo foi elaborado um roteiro de entrevista contendo questões do tipo: introdutória, de transição, chave, final, resumo e de fechamento. Salienta-se que as perguntas norteadoras do grupo, ficaram sob encargo da moderadora sua condução, auxiliando desta forma na progressão e no enriquecimento da reunião. O ambiente e os recursos utilizados: Para que esta técnica tenha êxito, é muito importante que se dê atenção ao ambiente onde ocorrerá a reunião do Grupo Focal. Este deve estar livre de barulho, de situações de permitam a distração, ser confortável, agradável, preferencialmente que seja um local diferente do cotidiano dos participantes da pesquisa e de fácil acesso. O ambiente deve permitir o manuseio de cadeiras. A melhor maneira de dispô-las é em forma de “U” ou circular, possibilitando assim a visualização, pelo moderador e pelo observador, de todos os participantes, bem como de cada membro do grupo entre si. O ambiente escolhido, um salão de festas de um condomínio, adequou-se perfeitamente aos requisitos citados. As cadeiras foram dispostas ao redor de mesas centrais, ficando os participantes em forma de círculo com a possibilidade de visualização de todos entre si. A moderadora, a auxiliar de pesquisa e a pesquisadora também estávamos presentes neste círculo. O observador optou em permanecer fora do círculo, atrás dele para poder visualizar com maior facilidade, e levantar-se em determinados momentos para anotações mais fiéis sem perturbar demasiadamente a pesquisa em questão. O uso desta técnica necessita de recursos, tais como gravação e/ou filmagem das falas. Neste sentido recorreu-se a gravação como recurso auxiliar. Três gravadores foram posicionados em espaços diversos sobre a mesa para a captação da voz, facilitando a transcrição posterior. Os participantes da pesquisa foram comunicados e avisados que a sessão seria gravada, não havendo nenhuma objeção ao fato. Os gravadores foram ligados no início da reunião, com intervalo entre eles de aproximadamente 3 minutos, cada um, fazendo com que no momento de troca das fitas dois gravadores continuassem em operação. Isso fez com que não houvesse interrupção ou perda de parte das conversas entre as trocas de fitas. 12121 Convite: Inicialmente elaborou-se lista de potenciais participantes que iriam ser convidados a participar das sessões. De acordo com Freitas; Oliveira (1998, p. 11) “esta lista deve levar em consideração os objetivos da pesquisa, a consideração das possíveis contribuições destas pessoas ao objetivo da pesquisa e as características das pessoas”. Posteriormente realizou-se contato telefônico com esses prováveis participantes, verificando a possibilidade e a aceitação. Consecutivamente realizou-se a entrega dos convites para os alunos e professoras em seu local de trabalho e/ou residência, o qual continha o tema a ser abordado, o local, data e hora, assim como telefones para contato com a pesquisadora. Por motivo de segurança, no dia anterior ao evento, foi realizado contato com os participantes, fazendo-os lembrar-se do compromisso bem como confirmando suas presenças. Cronograma: Dentro do cronograma estabelecido, não houve necessidade de realizar modificações de datas. As reuniões ocorreram num intervalo de quinze dias. Num primeiro momento foi realizado o Grupo Focal de alunos, posteriormente o de docentes. O cronograma foi assim definido: planejamento, condução e análise. A elaboração do planejamento exigiu duas semanas que incluíram a seleção da temática dos participantes, a divisão das atividades e a metodologia de trabalho. A condução constituiu-se do recrutamento dos participantes exigindo uma semana. Para análise dos dados (transcrição e tratamento dos dados), houve necessidade de cerca de 40 dias. Condução da sessão (grupo Focal de Alunos e Professoras) Para dar andamento às reuniões realizou-se roteiro de atividades do Grupo Focalcom o objetivo de cumprir todos os passos. Procurou-se desta forma, situar a equipe de trabalho (observador, moderador, pesquisadora e auxiliar de pesquisa) promovendo, assim, diminuição da ansiedade para obter os melhores resultados possíveis. Esse roteiro será explanado em detalhes devido sua importância na coleta de dados com a técnica do Grupo Focal, na pesquisa qualitativa. 12122 Organização da sala de dinâmica: O ambiente foi composto por duas mesas agrupadas, doze cadeiras ao redor, três mesas auxiliares, uma mesa grande, onde foram dispostas figuras diversas e um balcão, onde foi servido o coquetel. Acolhimento dos sujeitos da pesquisa: Um coquetel aguardava os sujeitos da pesquisa no local selecionado objetivando descontração e interação entre os membros. Durante este tempo foi entregue crachá individualizado e preenchimento de dados: nome, endereço, cidade, telefone, e-mail, profissão, local de trabalho, tempo de atuação na profissão e período em que se encontra na faculdade de Enfermagem. Técnica para descontração e para eleição do pseudônimo: Para a eleição dos pseudônimos dos alunos, estes foram orientados a elegerem uma gravura que se aproximasse da resposta à questão: Como você se sente como acadêmica (o) hoje? Figuras diversas foram dispersas sobre a mesa para que cada participante elegesse uma. Após a escolha, solicitou-se que colassem em papel próprio e escrevessem um pseudônimo que traduzisse o significado do desenho escolhido. Nas mesas auxiliares estavam dispostos canetas, cola e papel. Para a eleição do pseudônimo das professoras utilizou-se a técnica da Estrela, de autoria de Lopes (2000, p. 59). As participantes da pesquisa foram orientadas a escolherem uma mensagem escrita numa estrela. Ela estava com pontas dobradas e a mensagem escrita em seu interior. Foram distribuídos copinhos contendo água. A estrela foi colocada neste copo e devido à umidade, com o passar dos segundos, as pontas se abriram possibilitando a leitura. Solicitou-se então às docentes que diante da mensagem, escolhessem a palavra que mais as marcaram. A palavra escolhida pelas participantes foi utilizada como pseudônimo Explanação sobre a técnica: Ocorreu após os sujeitos escolheram seus lugares à mesa de forma aleatória. A moderadora apresentou-se dando as boas vindas, agradeceu a presença de todos e do auxílio que davam para a execuão da pesquisa. Fez também a apresentação do observador e da auxiliar de pesquisa esclarecendo aos sujeitos a função que estes teriam no Grupo Focal. Inicialmente realizou uma breve apresentação dos tópicos de discussão, uma abordagem sobre a técnica e seu objetivo, a orientação à utilização do gravador, e orientação sobre a dinâmica do trabalho (importância de todos participarem, de evitar as conversas paralelas, evitar dispersão, etc.). Por último, a moderadora apresentou o tema focal da reunião, ou seja, a humanização na formação do profissional Enfermeiro. 12123 Leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e esclarecido: Na seqüência, a moderadora fez a leitura do Termo de Consentimento cujo preenchimento e assinatura, pelos sujeitos da pesquisa, deram-se em seguida. Apresentação dos participantes: Os participantes se apresentaram dizendo nome, local de trabalho, período que está na faculdade, profissão e tempo de atuação, bem como o pseudônimo eleito fosse partilhado com o grupo. Estes foram nominados pelos seguintes pseudônimos, no intuito de salvaguardar sua identidade: Dificuldade, Guerreira, Abertura, Contente, Capaz, Realizada, Realizada II e Realizado. No grupo focal de professoras as participantes se apresentaram dizendo nome, local de trabalho, tempo de atuação na profissão. Os pseudônimos foram Felicidade, Firmeza, Responsável, Determinada, Conquista, Humana e Amor. Início das perguntas norteadoras e finais: Após a apresentação de cada participante, a moderadora deu início às perguntas norteadoras. Estando a discussão ocorrendo já em torno de uma hora, deram-se início as perguntas finais. Síntese dos principais temas abordados: A moderadora realizou síntese do que havia sido abordado solicitando que cada um fizesse uma colocação sobre o tema. A reunião do grupo focal de alunos e das professoras teve duração de 2 horas e 30 minutos. Considerações Finais A coleta de dados através de grupo focal tem como uma de suas maiores riquezas a formação de opinião e atitudes durante a interação com os indivíduos. Essas interações é que possibilitam a captação de significados. No dizer de Gatti (2005, p. 9), “o grupo focal permite emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar”. Também ajuda o fato de o foco principal ser um tema de conhecimento e interesse de todos, facilitando as relações e interações. Partindo do pressuposto que numa pesquisa qualitativa os pesquisados são sujeitos que possuem experiências e que possuem percepção própria acerca do mundo que os cerca, é 12124 extremamente importante que esta visão de mundo, bem como atitudes possam ser captadas, tornando o resultado da pesquisa um fruto coletivo. Neste sentido a técnica do grupo focal assume relevância, contribuindo sobremaneira como técnica para coleta de dados na pesquisa qualitativa. No relato de experiência ora exposto, o foco principal foi um tema de conhecimento e interesse de todos, facilitando as relações e interações. A observação ganhou grande significado, pois foi através das palavras, gestos, silêncio, tom de voz, da expressão fisionômica que a essência pôde ser captada. Desta forma procurou-se, além de ver, examinar como esta se manifesta. Os resultados foram analisados com o auxílio da Análise de Conteúdo. De acordo com Chizotti, 2001 (apud SILVA e SILVEIRA,2006), “ esta se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação oral, visual, gestual, procurando compreender o sentido da comunicação”. As categorias de análise geradas foram: a) condições objetivas de trabalho; b) humanização/humanizador; c) dicotomia teoria/prática. A atuação da moderadora foi considerada como de baixo envolvimento, isto é, a moderadora tinha o controle dos tópicos a serem discutidos e da dinâmica da discussão, porém, seu papel se restringiu a fazer a discussão progredir sem fazer comentários diretivos. Esta elaborou comentário quanto à participação heterogênea do grupo de alunos. Houve necessidade de incentivar a fala de alguns acadêmicos, tendo em vista o monopólio da conversa assumida por outros. No grupo focal de professoras a participação foi homogênea. Salientou a riqueza da técnica como instrumento para melhorar as relações interpessoais, bem como, proporcionou visita ao passado de cada profissional, inclusive ao seu. De acordo com ela, houve interação e grande crescimento para todos. O envolvimento dos participantes foi notório, pois a abordagem do tema focal, a humanização, foi inerente a prática individual dos envolvidos. Os acadêmicos agradeceram o fato de terem sido escolhidos, dizendo que desconheciam a técnica e que se sentiram ‘importantes’ por poderem contribuir com a pesquisa. Para eles, foram momentos de grandes reflexões e de uma visita ao passado, quando reviveram situações acadêmicas e profissionais. As professoras agradeceram o convite e expuseram que outros momentos como estes deveriam ser repetidos devido à importância das reflexões sobre a formação e que eles se fazem necessários acontecer esporadicamente. 12125 Conclui-se que a técnica do grupo focal propicia momentos de profunda reflexão possibilitando reviver situações acadêmicas e profissionais. O estudo apontou a riqueza da técnica como instrumento para melhorar as relações interpessoais, vindo ao encontro da pesquisa qualitativaquando esta trabalha com o universo dos significados, das atitudes correspondendo a um espaço mais profundo das relações. REFERÊNCIAS DEBUS, M. Manual de excelência em la investigación mediante grupos focales. In: ESPERIDIÃO, Elizabeth. Reflexões sobre a utilização do grupo focal como técnica de pesquisa. São Paulo: Fundação Editora de UNESP, 2004. FREITAS, Henrique M. R de; OLIVEIRA, Mirian. Uma aplicação de grupo focal: planejamento versus realização, 1998. GATTI, Bernadete Angelina. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Brasília: Líber Livro, 2005. GIOVANAZZO, Renata A. Focus Group em pesquisa qualitativa: fundamentos e reflexões. Revista Administração On Line, v. 2, n. 4, out.-dez. 2001. Disponível em: <http://www. fecap.br/adm_online/art24> Acesso em: 15 de setembro de 2005. LOPES, Vânia Maria da Conceição. Projeto Facilitadores Internos: módulo II - Dinâmica de Grupo. Joinville: FIESC-SENAI, 2000. MARTINS, Rosilda Baron. Metodologia científica: como tornar mais agradável a elaboração de trabalhos acadêmicos. Curitiba: Juruá, 2004. MERIGUI, M.A.B.; PRAÇA, N.S. Abordagens teórico-metodológicas qualitativas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan AS, 2003. MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 2000. TRIVIÑOS, Augusto. N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. SILVA, José Maria da; SILVEIRA Emerson Sena da. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos – Normas e Técnicas. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
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