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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Grão-Chanceler Dom Serafim Fernandes de Araújo Reitor Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira Pró-reitora de Execução Administrativa Pror. Ângela Maria Marques Cupertino Pró-reitor de Extensão Prof. Bonifácio José Teixeira Pró-reitor de Graduação Prof. Djalma Francisco Carvalho Pró-reitora de Pesquisa e de Pós-graduação Pror. Léa Guimarães Souki ... EDITORA PUC•MINAS EDITORA DA PUC•MINAS Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Pró-reitoria de Extensão Av. Dom José Gaspar, 500 • Coração Eucarístico Caixa Postal: 1.686 • Te!.: (031) 319.1220 • Fax: (031) 319.1129 30535-610 • Belo Horizonte• Minas Gerais• Brasil facebook.com/lacanempdf CIII I IH Ili. PHLUll�HY � ESTRUTURAS ,CLlnlCAS � nA CLlnlCA: A HISTERIA Colaboração na organização e redação dos textos ffiár10 Lúcio U1e1ra da S1l1,1a Belo Horizonte 1991 , sumnnm Apresentação ................................................................... 11 A noção de estrutura ........................................................ 15 Estruturas clínicas ............................................................ 20 Constituição do sujeito .................................................... 22 A estrutura neurótica ....................................................... 25 A estrutura histérica ......................................................... 28 Condições de estrutura .................................................... 33 • Ausência de um objeto sexual fixo, previamente determinado ........................................... 34 • Estrutura do desejo como desejo que está sempre mediatizado pelo desejo do Outro .......................................................... 36 • Ausência de complementaridade entre os sexos ............................................................. 39 • Particularidades do Édipo na mulher ......................... 42 Saber e não saber ............................................................. 46 Causa e objeto de desejo ................................................. 50 A procura de respostas .................................................... 53 A outra mulher ................................................................. 59 A posição fálica ............................................................... 62 Algumas respostas ........................................................... 67 O sintoma histérico .......................................................... 70 A clínica da histeria ......................................................... 79 Referências bibliográficas ............................................... 85 APRESEnTncno O texto que estamos apresentando não começou como tal. Os seminários de estruturas clínicas vêm sendo desenvolvidos em Belo Horizonte desde 1991, e aqui estamos tentando uma transcrição, tal vez não muito feliz. A passagem da palavra falada para a escrita não é fácil, e o clima do seminário, com a interven ção dos participantes, os exemplos e vinhetas clínicas, é irreproduzível. Mesmo assim, decidimos reproduzir a es trutura do seminário, evitando citações de textos e/ou re- ferências bibliográficas mais próprias de uma obra escrita. li A bibliografia já existente sobre histeria poderia nos isentar do esforço de apresentar mais um texto, uma vez que não_ se trata nem de uma análise exaustiva de toda a bibliografia conhecida, nem de uma obra que apresente grandes novidades teóricas. No entanto, a importância do quadro, a enorme dimensão de suas conseqüências e a fre qüência com que aparece em nossos consultórios, justifi cam este trabalho. Nosso propósito estará cumprido se a maneira parti cular com que temos organizado o material permitir en tender melhor uma certa lógica da estrutura que estamos apresentando. Vamos insistir, no texto, sobre a questão de Cmtia m. Palonsky pensar em termos de estrutura. Não se trata de uma forma lidade. Se ficarmos apenas na fenomenologia, nada nos autoriza a dizer que uma militante feminista, urna dona de casa e mãe de família, urna prostituta, um executivo, uma freira, uma adolescente anoréxica, uma homossexual, uma modelo ou atriz, enfim, pessoas com vidas aparentemente tão diferentes e com problemas e conflitos tão diversos, têm alguma coisa em comum. Por sinal, temos a sensação de que existe uma certa imagem estereotipada que representa cada quadro. No caso da histeria, essa imagem é a de uma pessoa extremamente sedutora e sensual, assim como a imagem de um obsessi vo é a de uma pessoa muito preocupada com a higiene e a 12 formalidade. Na verdade, estes são apenas "modelitos", e se pensarmos em função disso na hora de fazer um diag nóstico, podemos cometer grandes enganos. Uma outra questão que merece atenção especial re fere-se à relação entre histeria e feminilidade. Teoricamen te, fala-se da histeria como sendo independente do sexo do sujeito. No entanto, com freqüência os textos falam em termos de "a histérica"; quando aparece a referência à his teria no homem, vem desta maneira: "a histeria no ho mem", ou "a histeria masculina". É evidente que se fosse indiferente o sexo do sujeito não seria necessário fazer es sas distinções. Pensamos que a posição da mulher em re lação ao falo facilita o surgimento da questão histérica, estruturas Clínicas na Clínica, H Histeria como de fato vamos apresentá-la. Na prática clínica, en contramos a histeria basicamente em pacientes do sexo feminino, se bem que em alguns casos podemos conside rar que se trata de homens histéricos. Por outro lado, a descrição da problemática histérica inevitavelmente aca ba parecendo uma caricatura exagerada da conduta femi nina, ao melhor estilo de "Mulheres à beira de um ataque de nervos". Na organização do material, começamos por descre ver noções gerais, como o conceito de estrutura e o pro cesso de constituição do sujeito, já que este é o começo do curso de estruturas clínicas, e procuramos localizar e defi nir uma estrutura clínica como tal, de modo a diferenciá- la da descrição sintomática. Assim, preferimos não consi- 13 derar como óbvio aquilo que pode não sê-lo. A partir desse ponto, e já na apresentação da estrutu ra histérica como tal, organizamos o material em função da questão do saber, quase como um jogo de perguntas e respostas, partindo do que consideramos os pontos de es trutura que permitem, facilitam e até talvez justificam o surgimento da problemática histérica. O desenvolvimento é feito num movimento de espiral, que em cada volta de uma aparente repetição vai acrescentar mais um elemento. Por último, dedicamos uma atenção especial àquilo que encontramos na clínica, já que, apesar de comumente a histeria ser considerada o quadro mais "fácil" para o tra- 14 Cmba m. Palonsky balho psicanalítico, na prática esse trabalho não é tão fá cil. Por outro lado, achamos importante fazer certas con siderações referentes ao diagnóstico diferencial, uma vez que muitas vezes a apresentação "enlouquecida" da histe ria pode levar a pensar numa psicose, assim como as coi sas que o sujeito é capaz de fazer em sua busca de saber aparecem à maneira de uma perversão. Mais de uma vez temos visto pessoas histéricas diagnosticadas como de pressivas e até melancólicas, pela facilidade com que po dem fazer rupturas narcísicas que atingem a auto-estima. A nOCAO OE ESTRUTURA Q uando falamos em estrutura, estamos fazendo re ferência a um ç_gnj_uJ1to _c;le �kment()s que_rnan.: têm uma certa relação entre si, sendo que essa r ç , sua articulação e su_a posição relativa são mais importantes do que os elementos em si. Esse conceito de estrutura vale para qualquer tipo de estrutura, não sendo exclusivo da psicanálise. Uma maneira simples de repre sentar uma estrutura seria: a e b d Trata-se de uma relação entre relações em que as po sições estão marcadas, ou seja, os elementos da expressão mantêm uma certa relação entre si, uma relação lógica. Isto quer dizer que céld� um dos elementos da expressão tem uma importância pelo lugar que ocupa em relação aos otttros elementos, não em si mesmo. O fato de a ex pressão ser composta por letras indica que os números que eventualmente poderão estar nos lugares das letras não têm importância em si: é a posição que cada número ocupa em relação aos outros que determinará o seu valor. Isso não significa, porém, que se possa colocar qualquer número 15 Cmtia m. Palonsky em qualquer lugar, uma vez que toda estrutura possui as suas regras. Por exemplo, podemos substituir as letras a, b e c da expressão por quaisquer números; suponhamos: 2 3 4 d O número que virá no lugar da letra d, porém, já não pode ser um número qualquer, arbitrário; a estrutura de termina que apenas um número pode estar nesse lugar, ou seJa: 2 3 4 6 Desde que se respeitem as regras, é indiferente o ele mento concreto que constitui a equação. Vamos apresentar agora uma equação mais comple xa, por exemplo: 2x ..J§ �x2 +6x+9 ---e===+ -- = ------ � x-3 x2 -4x+3 Aparentemente, trata-se de fenômenos absolutamente diferentes, e no sentido da particularidade, é claro, são diferentes. Mas em termos de estrutura, são equivalentes. Se pensarmos na "equação" de cada sujeito, podemos apli car o mesmo raciocínio. O mesmo acontece em termos da estrutura da lín- �struturas Clínicas na Clínica, A H1ster1a gua: não podemos juntar as palavras de uma forma aleató ria; tal como numa equação, existem regras que precisam ser respeitadas. Assim, falando ou escrevendo, é necessá rio fazer concordar o predicado com o sujeito, fazer a con cordância em gênero, número etc. Também nesse caso não interessa o elemento que está sendo colocado na estrutu ra, desde que a relação seja mantida. Essas considerações acerca da noção de estrutura, que à primeira vista podem parecer alheias ao sujeito, di zem respeito a ele em vários sentidos. O sujeito também faz parte de estruturas, de tal modo que se não fosse em relação a uma estrutura não existiria o sujeito, e o�or_da palavra de uma pessoa depende do lugar que essa pessoa ocupa numa estrutura. Assim, a palavra pronunciada pela 11 mãe é importante porque provém de um lugar: o lugar da mãe. Da mesma maneira, o valor que tem a palavra do analista é dado pelo lugar do analista e não pela pessoa do analista. De fato, o ser humano faz parte de uma estrutura . ,, ,,' >' ainda antes de nascer, uma vez que ninguém chega num vazio. Em relação aos pais, à família, à cultura, já existe um certo lugar reservado para a criança que ainda não nas ceu, ela já tem o seu lugar marcado. Isso significa que a vida de um indivíduo tem suas determinações fora dele, determinações anteriores e exteriores a ele. A essa estru tura na qual todo ser humano se insere, a essa estrutura ex terna ao sujeito e que o determina, chamamos, em psica nálise, de Outro (A). Quando falamos em Outro, não es- Cmba m. Palonshy tamos nos referindo a uma pessoa, mas a uma estrutura. Pode ser que este Outro esteja, em determinado momento, encarnado numa pessoa; mas o Outro é um lugar de estrutu ra e, como tal, interessa enquanto posição. Esse lugar pode ser ocupado pela psicanálise, deus, religião, enfim por qual quer coisa. O sujeito, por definição, está determinado des de fora dele, e o Outro deve ser pensado como uma referên cia, como o que marca os parâmetros da vida desse sujei to, o que ele é. Um aspecto fundamental à noção de estrutura é o fa to de que não existe nenhuma estrutura perfeita, comple ta, sem falhas. Por definição, toda estrutura tem uma fa lha, uma falha que lhe é inerente, não sendo, portanto, de- 18 vida a alguma contingência. A essa falta/falha da estrutu raJ em psicanálise, chamamos castração. Aqui, castração está referida a uma questão simbólica, não tendo a ver com a presença ou ausência de pênis, o que seria apenas uma maneira de imaginarizá-la. Pelo que estamos apresentando, trata-se de uma ques tão de definição da estrutura, e não da conseqüência de qualquer acontecimento contingente da história de um su jeito. PorimLilpél_re<::_e _c1_11_oção de que algo falta ou falha porque existe a suposiç_çío de çorripl�tLJcl_e. É importante frisar que se trata de uma suposição, no sentido de que é porque se "imagina" a possibilidade de uma estrutura per feita, completa, à qual se atribui uma falha. No entanto, intrinsecamente, não lhe falta nada: ela é como é. Dada estruturas Clínicas na Clínica, n Histeria porém a suposição da completude e da falta que lhe é cor relativa, chamamos de falo àquilo que completaria a es trutura, àquilo que supostamente falta. O Outro, enquanto estrutura, implica também uma castração, e a.man�ira como o sujeito se posiciona frente à castração do Outro e à sua própria resulta na definição ou no estabelecimento do que denominamos estrutura clínica. 19 20 ESTRUTURAS cumcns O que o conceito de estrutura clínica como tal está defin indo é uma posição do sujeito, basicamente em relação à castração do Outro e à própria castração. Portanto, quando falamos em uma estrutura clí nica, não estamos nos referindo a um certo tipo de sinto mas, mas a uma posição do sujei to. É bem verdade que podemos falar de sintomas hi stéricos ou obsessivos, mas é importante assinalar que não é possível caracterizar uma estrutura a partir dos sintomas, os quais podem aparecer em qualquer estrutura. Fazer um diagnóstico estrutural é um processo que consiste em determinar a posição do su jeito frente à castração, não partindo, portanto, dos s into mas. Ao lado dessa posição do sujeito diante da castração, cada estrutura se organiza em torno de uma pergunta fun damental. A pergunta fundamental da histeria vai se dar em relação ao sexo, enquanto na neurose obsessiva vai ser em relação à vida e à morte. Isso não significa que tais questões não alcancem todos os seres humanos, mas cada uma das estruturas neuróticas vai se organizar em função de uma dessas questões básicas. Teoricamente, cada sujeito teria uma estrutura clíni ca definida, possível de ser identificada. Ternos, como es truturas reconhecidas, a neurose, a perversüo e a psicose Estruturas Clínicas na Clínica, n H1ster1a e, dentro das neuroses, são reconhecidas a histeria e a neu rose obsessiva. Um terceiro quadro neurótico, afobia, não tem a mesma condição das outras duas, nem todos os au tores a reconhecem como uma estrutura. É importante lembrar que as estruturas clínicas vão aparecer nitidamente delineadas nos livros e nos cursos, enquanto a realidade clínica freqüentemente mostra uma outra situação. Os quadros com os quais nos deparamos no consultório nem sempre são nítidos, muito embora pos sam, às vezes, apresentar claramente um tipo de problemá tica. Do ponto de vista teórico, supostamente é sempre possível identificar uma estrutura para o sujeito, o qual não pode estar em duas posições ao mesmo tempo; na clíni ca, por outro lado, às vezes pode-se duvidar durante mui to tempo acerca da estrutura de um determinado sujeito. Teoricamente, a determinação da estrutura é questão de tempo, sendo que a__e1,trutura clínica de determinado sujei to deve ir ficando clara através do trabalho analítico, à me dida que vai se afastando do sintoma em si e identificando mais nitidamente o quadro, com a colocação de algumas suposições que vão sendo confirmadas ou não ao longo das entrevistas. Fazer o diagnóstico estrutural não é condição para iniciar uma análise; tenta-se, porém, aproximar-se dele pelo menos em termos das três grandes estruturas, o que tam bém às vezes não é fáci 1. O diagnóstico, por outro lado, dá ao analista certas indicações de como trabalhar em dire ção à cura. 21 conSTITUICAO ao SUJEITO Falamos em constituição do sujeito ou estruturação do sujeito porque partimos do princípio de que o sujeito é algo que vai se constituir, não é algo que já está aí. Antes de ser sujeito, o ser humano é objeto, ob jeto do desejo de um Outro. O sujeito tem uma série de determinações que são anteriores ao seu próprio nascimen to, já que ele chega numa estrutura que o antecede. Ele é sujeito ainda antes de nascer, no sentido de que já é falado por outros, de fazer parte de uma estrutura simbólica, mas 22 é em relação a uma estrutura simbólica que ele vai se cons tituir realmente como sujeito. Se não fosse em relação a uma estrutura, não existiria o sujeito como tal. Quando o ser humano nasce, ele vai ocupar, por es trutura, o lugar de falo da mãe; ou seja, em um primeiro momento, ele vai ser o falo da mãe. Isso quer dizer que, nesse momento, a mãe vai estar completa com ele, que ele é tudo o que a mãe deseja. Existe assim a ilusão de uma completude possível. Dado que essa situação está caracte rizada pela completude, pela ausência de uma falta qual quer, a dimensão do desejo está aí abolida, de tal modo que não existe para o filho a possibilidade de desejar qual quer coisa. É a aparição da dimensão do desejo da mãe Estruturas Clímcas na Clímca, n H 1ster1a como tal que vai permitir, por sua vez, o aparecimento do desejo no filho. Para que isso ocorra, é necessário que exista na mãe um desejo que não possa ser satisfeito pelo filho. Aparece então qualquer sinal de que aquela completude era ilusó ria; o olhar da mãe se dirige para um além do filho, evi denciando que a mãe sente falta de algo, o que quer dizer que ela não é completa. Nesse momento vai aparecer a pergunta acerca do desejo da mãe, pergunta que nunca vai ser respondida, mas que também nunca vai ser abandona da totalmente. A partir da constatação de uma falta na mãe que a criança não pode satisfazer e da questão relacionada ao que a mãe deseja, a criança perde automaticamente o lu- 23 gar de ser o falo e, uma vez tendo saído desse lugar, a ele não volta mais; correlativamente, quem dele não saiu não vai mais sair. A primeira alternativa - ter saído do lugar de falo - implica o afastamento da possibilidade de vir a ser um psicótico. No segundo caso, esse filho pode se tornar um psicótico, dado que a estrutura da psicose vai ter a ver com uma falha no corte da unidade mãe/filho, o que vai dar como conseqüência uma falha na estrutura do desejo. É aqui que aparece a importância da função paterna, já que é o pai quem vai entrar na cena, impedindo que mãe e fi lho fiquem fundidos, que a mãe engula o filho. Quando falamos em pai, não estamos fazendo referência à paterni- Cmba m. Palonsky dade biológica; trata-se de uma função, uma função sim bólica, e poderíamos dizer que quem a exercer será o pai desse filho. Quer dizer que é com um não, com uma proi bição, que vai se abrir a possibilidade de existir um desejo e que vai se constituir o sujeito como tal. Para que esse não tenha valor, é necessário que a mãe o respeite, ou seja, a posição da mãe em relação ao pai é que vai determinara lugar do pai. Novamente aqui vamos esclarecer que não estamos nos referindo às pessoas concretas da mãe e do pai biológico, nem a atitudes manifestas de cada um deles. Aberta a pergunta acerca do desejo da mãe, o que vai aparecer como resposta é o que se chama Nome-do Pai, que tem a ver com a dimensão simbólica que estamos 2q analisando. O Nome.ado-Pai entra num lugar terceiro, como referência, e seria aquilo que estaria dirigindo o desejo da mãe. Ou seja, que vai ter um lugar fundamental na estru tura, porque vai organizar todo o universo sirnhóJico. É nesse ponto que podemos falar, com rigor, da cons tituição do sujeito como tal e da constituição do inconsci ente. Até aqui não existe, pelo menos do ponto de vista teórico, diferença entre os sexos. É a partir da perda do lu gar de ser o falo que a questão de ter ou não ter vai ser importante, já que supostamente o falo é o que a mãe de seja. Assim, a chamada partição dos sexos vai se definir em função de ter ou não ter o falo, e esse processo vai se completar na hora da constatação da diferença sexual. n ESTRUTURA nEUROTICA V imos anteriormente que um ponto fundamental na constituição do sujeito refere-se à castração do Outro, entendida no sentido de que não exis te estrutura sem falha. O recalque dessa condição é o que define a neurose. Como elemento de estrutura, o recalque relaciona-se, portanto, com a castração do Outro e com a própria castração e aparece sempre como falta de um significante. Porém, dissemos que podemos falar de cas tração em dois sentidos: a castração do Outro e a do pró- prio sujeito. Quando falamos em castração do Outro - con- 25 ceito muito importante para a compreensão das demais estruturas - foi dito que toda estrutura apresenta uma fa- lha, ou seja, toda estrutura é "castrada", não existe nenhu- ma estrutura que seja perfeita. Vale a pena insistir nesse ponto, porque tal fato não constitui apenas um problema teórico, mas um problema para o sujeito. Isto significa que não existe na vida de um ser humano absolutamente nada garantido; a única coisa certa é a morte, certa no sentido de que inevitavelmente vai ·acontecer, mas não sabemos quando, como nem onde. Quando falamos em falta de garantia e em morte, esta mos nos referindo não apenas às do sujeito, mas também Cmlia m. Palonshy às dos seres próximos a ele. Não existe nenhuma previsão que se possa fazer do que vai acontecer na nossa vida, seja em um sentido mais concreto, seja em relação a qualquer circunstância da vida. Valores como lógica, justiça, ordem não passam de ideais que o sujeito constrói e sustenta para conseguir levar a_ vida de uma maneira mais ou menos "na tural". Se tivéssemos todo o tempo a consciência absoluta da imprevisibilidade, estaríamos permanentemente em um estado de angústia tal que a vida não seria possível. O conceito de angústia é aqui incorporado por ser fundamental, enquanto afeto que o sujeito vive quando se vê confrontado com a castração do Outro. Dado que seria impossível viver com a presença constante da angústia, o 26 ser humano inventa ilusões, cria sistemas mais ou menos organizados para sentir que a vida é previsível, que existe justiça, ordem, para sentir que a vida faz sentido. Para que possa fazer isso e sustentar a possibilidade de um Outro não castrado, o movimento do neurótico é colocar a cas tração do seu próprio lado. Isso quer dizer que a existên cia de qualquer falha passa a ser devida ao fato de que ele não sabe, não pode, não consegue ou não merece, e não porque a falha existe por estrutura. O que seria então do plano da impossibilidade (e im possibilidade sempre quer dizer castração do Outro, situa ção de uma falha estrutural, onde o que é impossível as sim o é por estrutura e não pela vontade de alguém) o su- Cstruturas Clínicas na Clímca, A H1ster1a jeito neurótico transforma em impotência. Isso significa que quem não pode é ele, o neurótico, mas que a questão, em si, é possível. Exemplo disso é o fato de a menina cul par a mãe por não ter pênis; ao culpá-la, a presença do pê nis em uma mulher aparece como uma possibilidade dita da pela vontade de alguém, e não como algo impossível. Esse oferecimento que o sujeito faz da própria castração para sustentar o Outro como não-castrado é o que define a neurose. 21 A ESTRUTURA HISTERICA Ahisteria é um quadro de existência muito antiga, um nome que já vinha sendo usado muito antes de Freud. Constituindo sempre um objeto de in teresse, a histeria ganhou um grande número de explica ções acerca da sua etiologia e, dependendo da natureza da explicação, tornava-se alvo de práticas religiosas, judiciá rias e médicas, entre outras. Na história da histeria, Charcot introduziu contribui- 28 ções muito significativas, demonstrando que os sintomas histéricos, predominantemente localizados no corpo, po dem ser induzidos ou suprimidos através da hipnose e que, portanto, a histeria estaria muito mais relacionada ao de sejo do médico do que a uma questão neurológica. Freud, que estagiou com Charcot, absorveu essa li ção e também o fato de que a histeria tem as suas próprias leis, não necessariamente as leis da medicina. Abordando a questão da lesão nas paralisias histéricas, Freud ( 1 893) diz que ela deve ser completamente independente da ana tomia do sistema nervoso, pois, nas suas paralisias e em outras manifestações, a histeria comporta-se como se a anatomia não existisse, ou como se não tomasse conheci- Estruturas Clírncas na Clírnca, A H1ster1a menta dela. 1 Assim, o corpo que as histéricas apresenta vam era um corpo marcadamente diferente daquele que era objeto da atenção da medicina. Na verdade, o interesse de Freud pela histeria já es tava presente antes mesmo de estagiar com Charcot, pos sivelmente a partir do relato que Breuer lhe fez acerca do caso conhecido como "Anna O.". Esse interesse fez com que Freud dedicasse sua atenção àquelas pacientes que, apresentando uma sintomatologia toda particular, desafia vam o conhecimento médico e, de certa forma, "exigiam" do médico uma escuta também particular. A fala dessas pacientes passa então ao primeiro plano, e da sua escuta rigorosa, podemos dizer, nasce a psicanálise. Assim, Freud esclarece a etiologia da histeria ao mesmo tempo em que 29 lança os principais conceitos da psicanálise, entre eles o de recalque, inconsciente, fantasia, transferência etc. A histeria é um dos poucos quadros, senão o único, em relação ao qual não existem muitas discussões teóricas acerca da sua qualificação como neurose. Não obstante, suas manifestações são tão variadas que certos quadros são chamados "psicose histérica" e, de fato, a histeria às vezes pode se apresentar de maneira tal que sugere uma psicose. Com relação à variedade das manifestações da histe- ' FREUD, 1 977. p. 234. Cmba m. Palonsky ria, à diversidade de sintomas que apresenta, podemos di. zer que os quadros atuais são nitidamente diferentes da queles descritos por Freud. Naquela época, Freud descre via suas pacientes como apresentando graves paralisias, sérias perturbações, incluindo a chamada "grande conver são". Pacientes desse tipo não são a maioria dos que fre qüentam atualmente os consultórios dos analistas, ou seja, a "aparência" dos sintomas, hoje em dia, é diferente da época de Freud. Essa modificação na forma que o sintoma assume, fazendo com que determinado "tipo" seja mais prevalente em determinada época, aponta para a impor tância das identificações no estabelecimento do sintoma. Sabemos que os ideais de uma sociedade não são fixos, de 30 modo que aquilo que ontem era considerado como o má ximo numa escala de valores, hoje pode estar numa posi ção bem inferior. Para ficarmos apenas em um campo, te mos, por exemplo, a constante variação do que seria o ide al da beleza feminina. Conforme veremos posteriormen te, as identificações vão estar sendo determinadas pelos ideais e, portanto, a maneira como os sintomas se apre sentam sofre necessariamente uma modificação em fun ção da modificação dos ideais. De fato, quadros como ano rexia e bulimia, tão freqüentes na atualidade, poderiam ser o equivalente das grandes crises de cem anos atrás. Essa, digamos, "mutabilidade" na forma como os sin tomas se apresentam é um dos indicadores de que a defi- Cstruturas Clímcas na Clímca, n H isteria nição de uma estrutura clínica não pode ser feita com re ferência a um certo tipo de sintoma. Muito embora possa mos falar de "sintomas histéricos", é importante reafirmar que os sintomas, em si, não caracterizam uma estrutura, mesmo porque um dado sintoma pode aparecer em qual quer estrutura. O reconhecimento de uma estrutura clínica requer um outro referencial. O conceito central em torno do qual vai girar a possibilidade de. um diagnóstico dife rencial em termos de estrutura clínica é o conceito de cas tração. A partir da noção de constituição do sujeito, te mos que nesse processo vai estar envolvido o reconheci mento por parte da criança da castração: a de si própria e a do Outro, inicialmente encarnado na figura da mãe. Sabe- mos que a neurose vai se estruturar em função da posição 31 que o sujeito vai tomar em relação à cªstração, posição es- ta caracterizada pelo recalque da castração do Outro, bus- cando manter um Outro não-castrado. O movimento rea- lizado pelo sujeito de modo a conseguir manter a ilusão acerca da existência de um Outro completo consiste em trazer para si a castração, e é nesse sentido que Lacan diz que o neurótico oferece a própria castração para sustentar um Outro não-castrado. Como conseqüência, aquilo que é impossível por estrutura, o neurótico "transforma" em im potência de si próprio. Assim, a falha existente e inerente a qualquer estrutura passa a ser devida a uma falha do su- jeito. Cmba m. Palonsky Esse movimento do sujeito de manter o Outro como não-castrado deve-se a uma importante condição: por defi nição, temos que o Outro refere-se a uma estrutura incom pleta, portanto castrada, e que defrontar-se com a castra ção do Outro produz angústia; podemos também dizer que o sujeito tudo fará para não se defrontar com isso, tudo fa rá para não se angustiar. A saída por excelência desenvol vida pelo neurótico nesse sentido é, como foi dito, trazer a castração para si, mantendo o Outro completo e, portanto, livrando-se da angústia. Mantendo dessa maneira a supo sição de uma estrutura perfeita, aquilo que seria da ordem de uma impossibilidade estrutural (e, portanto, produtor de angústia), é transformado em impotência e insatisfa- 32 ção. Como veremos, a-h.i.s_térica.vai_se_apresentavremprt como insatisfeita. Temos, pois, que o sujeito, em relaçãq à neurose, foi confrontado com a castração do Outro e que, portanto, ele "sabe" dessa castração. Entretanto, pelo recalque, esse "sa ber" é afastado do plano consciente, e o sujeito, mesmo sabendo, faz como se disso não soubesse. Podemos dizer que a neurose está e.struturada em torno desse "saber" iI1c consciente, a partir da ação do recalque. Esse é o fundamento da neurose, presente, tanto na histeria quanto na neurose obsessiva. Entretanto, podemos dizer que o recalque da castração do Outro é o mecanismo por excelência da histeria. conmcoES DE ESTRUTURA Podemos ainda avançar em relação àquilo que vai conferir especificidade à histeria, considerando que sua montagem vai se realizar em torno de al gumas condições de estrutura, principalmente as quatro seguintes : • ausência de objeto sexual fixo, previamente marcado; • estrutura do desejo como desejo que está sempre mediatizado pelo desejo do Outro; • ausência de complementaridade entre os sexos; • características particulares do Édipo na mulher. Essas condições vão produzir o aparecimento de cer tas perguntas ou questões fundamentais que, assumindo as mais diferentes formas, estarão presentes durante toda a vida. Podemos dizer que se trata de questões que vão funcionar como eixo e guia da histérica, e toda a sua vida vai estar dedicada a tentar achar uma resposta a essas per guntas, colocando-a numa posição de supostamente estar sempre "querendo saber". Posteriormente, veremos por que aqui foi colocado o termo supostamente. Consideraremos, a seguir, cada uma dessas condi ções e as perguntas a elas relacionadas. 33 Cmlia m. Palonsky Ausência de um objeto sexual fixo, previamente determinado Até que Freud produzisse, em 1 905, o seu trabalho "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", existia, entre outras, a crença de que a sexualidade adulta estaria deter minada pelo encontro de um objeto heterossexual para que se pudesse realizar a sua finalidade, o ato sexual, o coito. Dada essa concepção, a sexualidade humana seria algo da natureza do instinto, existindo já previamente marcado através de que objeto poderia se dar a satisfação sexual. É sobretudo a partir do segundo dos três ensaios - "As aberrações sexuais" - que Freud vai provocar uma profunda revisão nessa concepção. Fazendo uma análise Jq detalhada do que seriam os chamados "desvios sexuais", Freud mostra que quando tratamos de sexualidade huma na, a noção de instinto é inadequada; surge o conceito de pulsão, conceito diferente de instinto e que tem como uma das características fundamentais o fato de não possuir um objeto determinado, natural. Nas palavras de Freud ( 1 905), parece provável que a pulsão sexual seja, em primeiro lugar, independente de seu objeto; nem é provável que sua origem seja determi nada pelos atrativos de seu objeto.2 Essa independência em relação ao objeto implica que, ' FREUD, 1 977. p. 1 49. Estruturas Clínicas na Clímca, n H1ster1a pi irn ! l ser humano, não existe nada que indique, de ante- 1 1 1 :i ! l , qual é o objeto da satisfação sexual, nada que indi que o que desejar. Ou seja, não existe nenhuma indicação se o objeto ao qual se vai dirigir deve ser uma pessoa do sexo oposto, conforme era suposto antes de Freud. O ob jeto vai se constituir como resultado de um processo, e é sempre apresentado por um Outro. Além disso, os objetos com os quais o sujeito "aprende" o que se relaciona com o amor, o desejo e o sexo vão ser os objetos proibidos na ho ra da escolha. A própria estrutura do desejo faz com que nunca exista um objeto totalmente satisfatório, havendo sempre uma distância entre o objeto desejado e aquele en contrado. Isto não é um acidente particular da vida de uma pessoa, nem depende da sua maneira de buscar ou esco- 35 lher o objeto. É claro que a história e as particularidades de cada um são importantes, mas a impossibilidade de en- contrar "O Objeto" do desejo não depende disso. Por si nal,s_e,um sujeito tem um encontro com esse tal objeto, o . resulta<;lo não é uma imensa satisfação, mas uma intensa angústia, como veremos à frente. Esta condição de estrutura - a indeterminação pré via do objeto sexual, um não-saber acerca desse objeto - é uma das condições que possibilitam a estruturação da his teria. E, dado que não se sabe previamente acerca do obje to, abre-se então uma das perguntas fundamentais ao qua dro da histeria, mais precisamente uma pergunta sobre o que desejar. Cmba m. Palonsky Estrutura do desejo como desejo que está sempre mediatizado pelo desejo do Outro A consideração desse ponto implica que retomemos brevemente o processo envolvido na constituição do su jeito. Vimos que quando uma criança nasce, ela vai ocu par, por estrutura, o lugar de falo da mãe, ou seja, essa cri ança vai, inicialmente, ser o falo da mãe, aquilo que torna essa mãe completa. Estamos aqui falando de um momen to particular em que existe uma fusão mãe/criança, um momento em que a criança identifica-se com o que supõe ser o objeto de desejo da mãe. Nessa condição de suposta completude, a dimensão do desejo está abolida, não exis tindo a possibilidade de a criança desejar qualquer coisa: 36 ela é tudo o que a mãe deseja. A unidade mãe/criança vai ser abalada se e quando surgir na mãe a possibilidade de um desejo que não possa ser satisfeito pelo filho; e, neste momento, entra em cena o pai como aquele para o qual se dirige o desejo da mãe. A percepção do desejo na mãe coloca para o filho a questão de que ele não a preenche, que a mãe não fica completa com ele, que ele não é tudo que a mãe precisa, quer. É nes sa circunstância que, supostamente, vai entrar a figura do pai. Como já foi apontado, não se trata exatamente do pai biológico, mas de umafunção que indica que o desejo da mãe está referido a uma outra ordem, que não está cir cunscrito no espaço mãe/filho. É nesse sentido que dize- Estruturas Clínicas na Clínica, n H1ster1a mos que o desejo da mãe está submetido a uma lei tercei ra. Devemos lembrar que o que estamos analisando é a es trutura do desejo, o estabelecimento ou não da dimensão do desejo, dado que desejo não é algo que exista por es trutura, não é um ponto de saída, pode ou não surgir. E o surgimento, a estruturação do desejo dependem de uma série de elementos. Estamos tratando do desejo como tal, sempre em referência ao Outro. Conseqüência desse momento é o estabelecimento de uma pergunta acerca do desejo da mãe, sobre o que ela, afinal, deseja. A entrada do pai faz com que a resposta a essa pergunta aponte para o pai como, inicialmente, sendo o objeto de desejo da mãe e, posteriormente, como tendo tal objeto. Portanto, a resposta sobre o desejo da mãe- co- 31 loca-o em relação ao desejo de um Outro e, insensivel- mente, a criança se dá conta da relação do desejo da mãe com o do pai. Tal "pressentimento", de fato, revela aquilo que constitui a essência da estruturação do desejo: que o desejo de cada um está submetido à lei do desejo do Outro. Também neste ponto podemos falar da importância desempenhada pela percepção da diferença sexual e a su posição de que tal diferença é estabelecida em função de uma falta. Assim, a partir do ponto em que uma pergunta é levantada acerca do desejo da mãe, podemos considerar a resposta que aparece em dois níveis: num primeiro mo mento, a resposta aponta para o falo como aquilo que a Cm tia m. Palonsky mãe deseja, portanto aquilo que lhe falta; o falo como ob jeto concreto, como alguma coisa que alguém concreta mente possui e que, portanto, alguém pode vir a possuir. Num segundo momento, porém, a criança vai perceber que aquilo que a mãe deseja não é o falo, objeto concreto que o pai possui; aquilo que ela deseja é o desejo do pai, o que vai ser correlativo à percepção de que o que o pai deseja é o desejo da mãe. Ou seja, neste ponto, teríamos o estabe lecimento do desejo como desejo de desejo, como desejo que nunca pode ser realizado, uma vez que está estruturado em função de uma falta. Constituir-se enquanto sujeito implica, pois, abrir pa ra a criança a dimensão do desejo, ao mesmo tempo em ]8 que a resposta sobre o que desejar encontra-se mediatizada pelo desejo de um terceiro, de um Outro. Portanto, para que um objeto possa ser tomado como objeto de desejo, é essencial a referência de um Outro. Essa situação pode ser articulada ao tópico visto anteriormente, sobre a ausência de um objeto sexual fixo, previamente determinado; c;!;lda ,;i. ausencia de indicações prévias sobre o objeto, é o desejo do Outro que vai apontar para o objeto e marcá-lo como objeto de desejo. Temos, assim, que um objeto qualquer se rá desejado se for um objeto desejado por um terceiro. Como diz Masotta, o acesso ao objeto do desejo é outorgado por um terceiro. O objeto é o objeto do desejo do terceiro.3 ' MASOTTA, 1 987. p. 92. Estruturas Clínicas na Clínica, D Histeria Temos assim estabelecida uma condição de estrutu ra que resulta numa indagação daquilo que é desejado pelo Outro, condição necessária para que o sujeito possa ter uma referência acerca do seu próprio desejo. Ausência de complementaridade entre os sexos Para tratar desse ponto, estaremos novamente nos embasando no processo de constituição do sujeito. Reto mando parte desse processo, temos que a situação na qual a criança ocupa o lugar de falo da mãe é rompida com a constatação de que a mãe tem o seu desejo voltado para outro lugar e que, supostamente, o que ela deseja é o falo. Já que a criança foi afastada do lugar de ser o falo da mãe, e dado que é o falo aqui lo que a mãe deseja, a questão de 39 ter ou não ter o falo ganha dimensão. Nesse processo, que deverá resultar na partição dos sexos, o reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos desempenha um papel importante. Para analisar esse papel, vamos recorrer a uma cren ça infanti l , apontada por Freud, segundo a qual todos os seres humanos seriam dotados de pênis, desconsiderando, portanto, a possibi l idade de que alguém não tenha pênis. Essa crença sofre um abalo com a constatação da diferen ça entre os sexos, ou seja, é i nstaurada para a criança a poss ib i l idade da existência de seres sem pênis. Freud ( 1 924) diz: Mais cedo ou mais tarde a criança, que tanto Cmlia m. Palonsky orgulho tem da posse de um pênis, tem uma visão da re gião genital de uma menina e não pode deixar de conven cer-se da ausência de um pênis numa criatura assim se melhante a ela própria.4 A diferença entre os sexosé en tão colocada para a criança em relação a uma falta_. De fato, tudo isso poderia ser simplificado caso a diferença entre os sexos fosse "apenas" uma diferença, segundo a qual um sexo é constituído de uma maneira, e o outro, de outra maneira. No entanto, não é assim que acontece, e a suposição de que "algo falta" é o que vai constituir a base da diferença. A con�tatação de que "alguém tem" e "em alguém falta" traz algumas conseqüências importantes, entre elas o fato de "ter" ou "não ter" ser reconhecido como uma qo doação ou não-doação feita por um Outro, no caso �la mãe. Isto é o que, de fato, vai configurar a diferença: não é o pênis em si, mas o pênis enquanto símbolo daquilo que foi dado a um e negado a outro. É nesse sentido que pode mos entender a citação de Freud (1923) : A característica principal dessa 'organização genital infantil ' é sua diferença da organização genital final do adulto. Ela consiste no fato de, para ambos os sexos, entrar em consideração apenas uin órgão genital, o masculino. O que está presente, portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo.5 ' FREUD, 1 977. p. 220. ' FREUD, 1 977. p. 220. �struturas Clínrcas na Clínrca, n H 1ster1a Estamos, portanto, lidando com uma estrutura na qual os conjuntos são delimitados em função da presença ou ausência de um único elemento, o falo. E, supostamente, o homem se coloca no conjunto dos que têm, enquanto a mulher se coloca no conjunto dos que não têm. O estabe lecimento desse ponto é importante, entre outros motivos, porque vai marcar uma dissimetria essencial entre a posi ção masculina e a posição feminina, ou seja, os dois sexos não estarão em posições simétricas. A respeito desse tema, Lacan nos fala do "mito de Aristófones", segundo o qual o que o ser humano procura é o seu complemento, que é o outro, que é sua metade se xual, que o vivo procura no amor.6 Podemos reconhecer no discurso das pessoas a existência desse mito no qual q1 está implícita a possibilidade de homens e mulheres se completarem mutuamente. Tal crença, no entanto, vai um pouco além, chegando à suposição de que para cada mu- . lher existe um homem, como duas metades que, juntadas, formariam um todo. A crença, pois, é na possibilidade do "todo", que este "todo" não existe apenas temporariamen te, que a questão da incompletude é algo apenas contin gencial e, portanto, passível 'de ser sanada. Supor a exis tência de um "todo" que seria formado quando as duas metades se encaixassem perfeitamente equivale a não se '' LACAN, 1 985. p. 1 95. Cmtia m. �alonsky _conformar com a incompktude como inerente à estrutura. Esse mito vai ter um lugar importante na estrutura da hi_s� teria; na verdade, a histérica vai buscar, de todas as manei ras, sustentá-lo, Não se conformando em ter de se definir por uma negatividade, a histérica vai buscar permanente mente uma resposta para a sua identificação, que não seja o falo, permanentemente indagando sobre o que é ser mulher. Trata-se, enfim, de uma pergunta em relação àquilo que seria um sinal distintivo da feminilidade, pergunta que estará sempre apontando para algo além do falo. Particularidades do Édipo na mulher Quando em "O Ego e o ld" ( 1923) Freud aborda a q2 questão da dissolução do complexo de Édipo, ele aponta que, para o menino, a saída mais normal para o conflito resulta em uma intensificação de sua identificação com o pai, saída que permite que a relação afetuosa com a mãe seja, em certa medida, mantida.1 Nessa época, considera va que, com a menina, as coisas ocorriam de maneira pre cisamente análoga. É importante sublinhar a última pala vra da frase de Freud - mantida -, indicando assim ser a mãe (ou o seio) o primeiro objeto investido libidinalmente pelo menino. Já em 1 925, em "Algumas Conseqüências Psíquicas da Distinção Anatômica Entre os Sexos", Freud 7 FREUD, 1 977. p. 46-47. Estruturas Clínicas na Clínica, A H1ster1a revê sua opinião de que com as meninas a ocorrência do complexo de Édipo seria análoga à dos meninos. Afirma que o primeiro objeto de amor, tanto para os meninos quan to para as meninas, é a mãe e que tal fato vai exigir da menina uma ação adicional em relação ao menino, no sen tido de uma substituição do objeto: abandonar a mãe (ob jeto do mesmo sexo que o dela) e dirigir-se ao pai (objeto de sexo diferente do dela). Essa mudança de objeto decor re do complexo de castração de que a menina é vítima, sob a forma de inveja do pênis, provocada a partir da cons tatação da diferença sexual. Freud ( 1925), assim expressa o juíza e a decisão da menina frente à constatação da dife rença sexual: Ela o viu, sabe que não o tem e quer tê-lo.8 Como conseqüências da inveja do pênis, Freud aponta qJ o desenvolvimento de um sentimento de inferioridade, o ciúme enquanto denotador da inveja do pênis deslocada, e uma reação contra a masturbação fálica. Uma outra con seqüência é �aracterizada por um afrouxamento da rela- ção afetuosa da menina com seu objeto materno,9 ou seja, a percepção do pênis como aquilo que constitui o traço identificatório do sexo faz com que a intensidade da rela- ção da menina com sua mãe diminua, na medida em que a mãe é responsabilizada pelo fato de a menina não possuir ' FREUD, 1 977. p. 3 1 4. " FREUD, 1 977. p. 3 1 6. Cmlia ffi. Palonsky o traço indiscutível da sua identidade sexual. A menina poderia buscar tal identidade através de sua mãe, mas essa alternativa constitui um paradoxo, na medida em que a mãe é desvalorizada tanto pelo fato de não ter dado à me nina o traço identificatório, quanto pelo fato de a menina perceber que a mãe não o deu porque também não o tem. Tal situação faz com que a menina volte o seu inte resse para o pai, esperando receber dele aquilo que a mãe supostamente lhe negou; e aquilo que ela espera receber do pai é um filho. Desse modo, o pai, em sua relação com a menina, aparece como um substituto da mãe, como aquele que vai dar a ela aquilo que a mãe não deu, o sinal iden tificador do sexo. Neste sentido, a maternidade passa a ser qq vista como o sinal da feminilidade, o traço identificatório do que é ser mulher. Conforme coloca Freud, Ela ( a menina) abandona seu desejo de um pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho; com este fim em vista, toma o pai como objeto de amor. 10 Na verdade, voltar o interesse para o pai, espe rando receber dele um filho, não significa que a menina esteja renunciando ao desejo de ter um pênis, mas que es tá buscando no filho o substituto do pênis. Tornar-se mu lher passa então a ser igual a tornar-se mãe. Em relação ao Édipo, Freud conclui que enquanto 'º FREUD, 1 977. p. 3 1 8. Estruturas Clímcas na Clímca, n H 1ster1a nos meninos o complexo de Édipo é destruído pela amea ça de castração, nas meninas ele se faz possível e é intro duzido através do complexo de castração. 1 1 Conforme foi apontado, a mãe não possui aquilo que poderia sustentar uma identificação da filha como mulher e, nessa busca de com o que se identificar, a menina passa então por um momento de identificação com o pai. Tal identificação com o pai, uma identificação masculina, é analisada por Lacan dentro da seguinte perspectiva: a ex pectativa da menina é de que, identificando-se com o pai e olhando para a mulher que o pai deseja, ela J:lClssa, afinal2 _descobrir aquilo que um homem deseja numa mulher, por tanto, uma referência em relação ao que é ser mulher e ao que ela própria como mulher deve desejar; ou seja, um q5 ponto que possa sustentar uma identificação feminina. Assim, uma das características do Édipo feminino consiste numa "dupla identificação", masculina e femini na, estruturada em torno da pergunta de o quê os homens desejam nas mulheres e o quê as mulheres desejam nos homens, pergunta presente de forma marcante no quadro da histeria. 1 1 FREUD, 1 977. p. 3 1 8. SABER E nAO SABER Temos, pois, levantadas as condições de estrutura que são fundamentais no estabelecimento da histeria, bem como as perguntas ou questões que de las derivam. Essas perguntas, ao lado da posição do sujei to diante da castração do Outro, orientarão, na clínica, a identificação da estrutura histérica. A importância dessas perguntas justifica que as retomemos brevemente. São per guntas que dizem respeito a: O que desejar? A quem dese jar ? O que é ser mulher ? O que os homens desejam nas q6 mulheres? O que as mulheres desejam nos homens? Tais perguntas, como dissemos, são características da estrutu ra histérica, tendo um impacto decisivo sobre a vida da histérica; muito mais do que uma simples curiosidade, es sas perguntas básicas vão funcionar como eixo e guia da vida da histérica, que vai se dedicar a tentar achar uma resposta para elas, mas com a particularidade de que ela. nãQ sªbe que o que ela procura é um saber. Por sinal, a cultura oferece permanentemente mode los do que supostamente é uma mulher, o que é o amor, o que é o desejo, o que um homem deseja e o que uma mu lher deve desejar. Desde as novelas até as letras das músi cas, passando pela publicidade e a moda, indicam-nos: Estruturas Clínicas na Clínica, H H1ster1a "Uma mulher deve ser ... " (Da letra do bolero "La mujer", de Mario Clavell) Porém, a maneira como o sujeito histérico vai procu rar as respostas é bastante particular: se de um lado ele procura saber, de outro ele realmente não quer chegar a saber. Temos dito que a histeria se define pela posição do sujeito em relação à castração do Outro; dissemos tam bém da angústia como afeto inevitável diante da cons tatação dessa castração, e dos movimentos tendentes a evi tar esse encontro. Se a procura de saber na histeria che gasse às últimas conseqüências, o que apareceria seria pre cisamente a castração do Outro, o encontro com o objeto como causa de desejo e a angústia inevitável. A resposta do lugar da mulher como objeto de desejo de um homem é q1 inaceitável; esse querer saber vai esbarrar no limite de che- gar no ponto a partir do qual tudo volta atrás, dando lugar a um novo ciclo, tão inútil como o anterior. Assim como organizamos o texto até aqui em fun ção daquilo que o sujeito histérico procura saber, vamos continuar acrescentando aquilo que ele não quer chegar a saber. É bom lembrar que, de fato, o sujeito histérico sabe da castração do Outro, já que, se não fosse assim, tratar se-ia de uma psicose. Se falamos de neurose é porque esse saber existe, só que é um saber recalcado. Temos pois, na histeria, uma situação em que convi vem, ao mesmo tempo, a busca de um saber e um não que- Cmlia m. Palonsky rcr saber, uma vez que a resposta possível levaria ao apa recimento da angústia. As perguntas que colocam o sujei to histérico na trilha do querer saber, como já vimos, apon tam para a questão do desejo e colocam em jogo a defini ção da feminilidade. Porém, temos que nada existe que defina a mulher pela presença de algo, de modo positivo; ela é definida por uma falta, por algo que não tem. V�_t_(!f, portanto, de se identificar como mulher en1 r�l-ªç_ão ª uma negatividade, ou seja, ela nunca vai encontrar alguma coi sa com a qual se identificar positivamente. Podemos exem plificar dizendo que cada país tem seus símbolos pátrios, tais como bandeira, hino etc., e o cidadão se identifica com o país através desses símbolos. Imaginando-se um país que qe não tenha nenhum símbolo, a identificação do cidadão de tal país se dará em função de uma falta. No caso da mu lher, o fato de ela não ter com o que se identificar em po sitivo vai levá-la a procurar durante toda a vida essa iden tificação: ser mulher é tal coisa, é ter isso ou fazer aquilo. Nada existe que possa identificá-la definitivamente. Essa condição resulta então em um problema: uma vez que não existem respostas possíveis para as pergun tas, isso vai fazer com que a histérica permaneça numa posição de supostamente querer saber; supostamente por que, na verdade, o que ela vai fazer é todo um movimento para nunca chegar a saber da inexistência de respostas. Tal inexistênci_a corresponde a uma falha da estrutura, e Estruturas Clínicas na Clímca, n H1ster1a deparar-se com isso é angustiante. Conforme já pudemos ver, o neurótico sempre procurará evitar o aparecimento da angústia e a histérica consegue isto em alguma medida, desde que não considere a possibilidade de não existirem respostas às suas perguntas. Dado que todas as respostas vão estar sempre apontando para uma única coisa, o falo, a histérica não se conforma, reivindicando sempre a exis tência de uma outra possibilidade. Ela sabe que_existe algo além do falo, e essa é a grande verdade que a histeria de nuncia sem sabê-lo. t,. resposta possível que a histérica recusa coloca a mulher como objeto de desejo de um homem, e estar na posição de objeto de desejo é angustiante, uma vez que , nunca se sabe exatamente o que o Outro deseja. Evitar a 49 angústia implica então, para a histérica, não reconhecer a posição da mulher enquanto objeto de desejo de um ho- mem. Nesse sentido, é importante diferenciar a função de causa de desejo e a de objeto de desejo. CAUSA E OBJETO OE DESEJO D e§pertar um .desejo no homem é uma das ati.Y_i: d ades favoritas da histérica. Que uma mulher esteja fazendo um jogo de sedução permanente não quer dizer que ela esteja disposta a ter uma relação sexual com um homem. A hi�t�rica, faz todo um jogo para excitar o homem, desde que ele concretize esse desejo com outra . mulher. Uma situação comum pode ser vista, por exem plo, entre um homem e uma mulher histérica; a relação entre os dois pode se tornar um completo jogo de sedução, 50 e o homem vai supor que aquela mulher está querendo se duzi-lo, está disposta a algo. Caso ele proponha alguma coisa, é provável que a mulher reaja, por exemplo, dizen do algo do tipo: "Está pensando que eu sou o quê? ... ". Na situação, ela está causando o desejo, mas sem a mínima disposição de ser ela o objeto de desejo. É importante frisar que isso não é feito de má-fé, ela nem sequer é consciente do jogo de sedução. Precisamen te pelo recalque, ela "não sabe", e vê o desejo como vindo de fora, dos homens, que "só pensam nisso'.'; não há ne nhuma intenção de lesar o outro, é apenas para saber. Pado que se sentir à mercê do desejo do Outro produz angústia, para a histérica é então mais tranqüilizador controlar o de- Estruturas Clímcas na Clímca, A H1ster1a se;:jo_do _outro. É, portanto, muito mais tranqüilo fazer um movimento que dirija o desejo, marcando para o homem o que ele deve desejar. Até-mesmo ter a certeza de que o ho mem quer uma relação sexual é mais tranqüilo do que não saber o que ele quer. Podemos ver aí a diferenciação entre objeto de dese jo no nível fálico e objeto de desejo do Outro. A partir do Édipo, o homem vai se identificar com o ter o falo, e a mulher vai se identificar com o ser o falo, mas não no sen tido anteriormente abordado no processo de estruturação do sujeito; aqui, podemos dizer que é muito mais um pa recer ter e um parecer ser do que propriamente ter ou ser. O homem vai se apresentar como tendo o falo e a mulher como sendo o falo, isto é, sendo desejável, tendo um valor 51 fálico. Esse valor fálico é mais evidente na atitude de al- guns homens que apresentam as mulheres referindo-se a elas como alguma coisa que têm. O homem se ocupa e preocupa em ter coisas para ser valorizado no mercado do desejo entre homens e mulheres, enquanto a mulher pro- cura ser um falo, mesmo em termos de aparência. E, neste sentido, faz um série de esforços para "melhorar" a aparên- cia, tentando despertar o desejo dos homens, buscando ser coisas que ela não é: da depilação à cirurgia plástica, es força-se para entrar como objeto desejável. Na situação em que uma mulher quer ter uma rela ção com um homem e faz o suficiente para que ele tam- Cmtia m. Palonsky bém queira, na verdade, a mulher não ficou à mercê do desejo do homem, é quase exatamente o contrário. A si tuação mais angustiante é dada pela mulher que, pelo me nos supostamente, nada fez para seduzir um homem e co meça a se sentir olhada de uma maneira diferente. Existe aí algo de angústia, estando a mulher no lugar de objeto, onde não sabe o que um determinado homem quer com ela. Freqüentemente a histérica, na situação de não saber, vai rapidamente oferecer uma saída erótica, não tanto em razão do desejo pelo homem, mas para sair da angústia, para despistá-la. A mulher procura muito mais ser desejada do que concretizar a relação sexual, o que dá lugar a muitos mal- 5� entendidos. Um ponto fundamental é que a mulher não deseja um homem: o que ela deseja é o desejo de um ho mem, o que é absolutamente diferente. Ela qu_er ser_rnusa de desejo num homem, mas não ser o objeto de desejo do homem. Temos aí a fantasia do estupro como uma_fanta sia histérica, como a concretização da situaç.ão em.....que quem tem desejo é o homem, e a mulher não tem nada, a ver com isso. Causa e objeto de desejo não são a mesma coisa, embora se fale, num outro sentido, do objeto a, como objeto causa. A causa está produzindo o desejo, no caso, produzindo um desejo no homem, mas com a condição de que o homem dirija esse desejo a uma outra mulher. A PROCURA DE RESPOSTAS Falamos, até aqui, da castração do Outro, da falha da estrutura, seja quando nos referimos à inexistência do elemento definidor da feminilidade, seja quando abordamos a questão do desejo do Outro. Fi cou também caracterizado um ciclo, onde o sujeito histé rico sai em busca de uma resposta para suas questões, mas não se satisfaz com a única resposta possível existente, fonte inevitável de angústia, uma vez que aponta para a castração do Outro; parte então em busca de uma nova possibilidade de resposta. É desse movimento que estare- 53 mos falando, deste particular modo através do qual se arti- culam o saber e o não-saber na histeria. 1\bi§_t�rica vai proc:urara§__re_spostas de ma�eiras �a ria_d_éls, _l;>�s§�d_()-S�t!mp_Ie __ n_a _§ _uposiç}iQ de que existe!Jl e el<1 f!_ão �!>tá_dispostaa aceitaJ:_qu_eoãQ e�is_tam. Através de sua busca, ela vai sustentar a existência da resposta que espera encontrar, seja por meio de um Outro que detenha tal resposta, seja por meio da i<:lentific.ação_da fernini!ida _de_com �J_g_L1_IT1 _s_igni.ficante, especialmente nas equações falo =filho e falo = corpo. Na vertente da suposição de um Outro que dê a res posta esperada, vemos freqüentemente <U1isJ_éri__ca.._e.I�, Cmba m. Palonsky �lgum h_on1��_ 9!1_e_ª-I)_a_r_e._Q_te1ner1t� t�rn _ _1:1���]:,e�bre as mulheres e tenta, atrn_\/_és _ _ci_�l�, de�obrir es-5e saber. Isso é o que faz com que a histérica muitas vezes entre em re la ções em que o outro tenha alguma característica de mes tre; por exemplo, mulheres que só procuram relacionamen tos com médicos, professores, analistas etc. Esse tipo de personagem que supostamente está no lugar de quem sabe, pode, tem, vai ser o tipo de pessoa talhada para ser amado pela histérica. A procura é sempre do que ela chama de "o homem da minha vida". É importante sublinhar que ela -�nte _ _<!_c)!_aque ex�ste_])G-mundo_ urn__ho!!le� ��la� tinado, e o que ela tem de fazer é procurar até encontrar esse homem, como se houvesse algo ou alguém que se en- 54 carregasse da distribuição de homens e mulheres. O en contro seria o encontro das metades. E, com certa freqüên cia, a mulher acha que encontrou "O Homem", que é tudo e tudo sabe. Esse homem, revestido de tal saber, suposta mente vai ter a resposta esperada. Supondo que ela consiga conquistar esse homem, em algum momento vai ficar evidente que ele também não tem para dar outra resposta que não seja o falo. Aí é hora da decepção, ponto importante na clínica da histeria, mo mento em que ��cionadR.tr:ansformaaque le homem "m<!ra_yilbQso" _ �m _urn _h_omem incapaz, impoc _te11te. Essa passagem pode ser apenas simbólica ou pode ter conseqüências no concreto, porque não muito raramente estruturas Clímcas na Clímca, A H1ster1a a histérica pode, de fato, tornar o parceiro impotente. Os dois pólos do ciclo ficam marcados assim pela idealização e pela decepção. A dcI_�_gçJo_,.J,11rg_e_nQ lug�r �1_1_gQfiljª, af9s_tando a RO_ssil:,i]idade de. que a resposta 11rocu.rada..nã.o_exista, mantendo a suposição de mp Outro n.ãQ::castrad0. Dizer que esse outro não sabe, é idiota, é ruim etc., não significa colocar a castração no Outro; ao contrário, significa sustentar a possibilidade de um Outro não-castrado, um Outro que teria essas respostas. Daí re�_ �ul�a _um p.eriodo_ df! queixa.s e reclamações em relação a esse home111, como se ele realmente tivesse algo para dar, --------- - ------- _,,,.- --- - gue ele não dá porque não quer e não porque não tem___, qtJ_� -- �-� tem a possibilidade de dar alguma coisa a mais. A re- clamação também não é mais do que uma maneira de sus- 55 tentar o Outro como não-castrado, uma vez que sua exis- tência implica que aquilo que está sendo reclamado ainda vai ser possível. Novamente, o que se produz é a transfor- mação da impossibilidade em impotência, desta vez colo- cada no homem. Em lugar de que homem nenhum tem a dar o que ela está esperando, é tal homem específico que não tem, e a questão é procurar outro homem. Por tudo isso podemos entender o porquê da freqüên cia com que a�- cªi no jogo dg$_1_YerSO, Quem -- - .. -. ...._. -·· ,,,.----- melhor do que ele para representar aquele que sabe e que pode oferecer esse mundo de desejo e fantasia que o neuró tico custa tanto a alcançar? E quem melhor do que o Cha- S6 Cm tia ffi. Palonsky peuzinho Vermelho para proporcionar gozo a esse lobo disfarçado de vovó que precisa alimentar o seu próprio gozo com a angústia com que a histérica vai entrar no jogo? Estamos dizendo com isso que um dos significados da castração do Outro é que nem tudo é possível, que exis tem coisas que, por estrutura, são impossíveis. Mas depa rar com essa impossibilidade de estrutura é, por definição, angustiante: não existe resposta, o Outro não tem resposta para tudo. A reação diante da castração do Outro é a angús tia que a histérica transforma em insatisfação, remetendo, portanto, a um Outro não-castrado: não é que por estrutu ra é impossível, mas para aquele homem - esse é o movi mento da histérica. O rornp_iment� d�ss� cis;l�ll�Ql_yetia. fazer o caminho de volta, transformar a jnsa_!i_ sfaçjo eJ1L angústia. Porém, aquilo que o neurótico faz é praticamen te tentar evitar a angústia, estabelecendo e mantendo o ci clo: constrói-se um Outro (não-castrado) que, em algum momento, aparece castrado; a angústia é rapidamente trans formada em insatisfação, e um Outro não-castrado é, en tão, construído. Deotra desse ciclo, a_ile�ewQ .é�vitá vel e, freqüentemente,_ap_.ar�c:e_c:_��<:>__d_e21�ssãQ.. A procu ra da histérica é tal que, por estrutura, só pode terminar no fracasso, uma vez que se trata de uma falsa procura. Esse ponto pode ser claramente visto na clínica, onde o analista se torna mais um sobre quem a histérica coloca sua per gunta. Porém, �-apa�emente-ela-est�jnteressad_ª e[!l Estruturas Clínicas na Clímca, n Histeria �QI"g_u_e, de fato, ela não quer saber. Não quer saber que n�_ exi�te a resposta que ela espera. O trabalho analíti� co vai consistir em transformar a pseudo pergunta numa pergunta real, num verdadeiro questionamento. A insatisfação é, assim, uma forma de saída da an gústia, e a histérica vai se apresentar sempre como insatis feita. Essa insatisfação vai estar freqüentemente referida a "algo que falta", uma representação que indica o que está faltando. Retornando ao esquema da constituição do sujeito para melhor entendermos esse ponto, vimos que tornar-se ,,sujeito envolve uma operação na qual ocorre o recalcamen to do que seria o desejo da mãe, ao mesmo tempo em que um significante ocupa o lugar do que foi recalcado. Entre- 51 tanto, essa operação não é absolutamente precisa, nunca é perfeita, no sentido de que fica sempre um resto não-alcan- çado pelo simbólico. Dado que algo ficou fora da possibi- lidade de simbolização, no imaginário alguma coisa vai aparecer como faltante. Q__S_e,SS? _não-simbQlizado da ope raçã0--vai constituiLonbjeto como tal - objeto a - enquan_- 1 _tg_ chamamos de - <p a representação da falta imaginária. Enquanto representante da falta, o surgimento de - <p im- plica, pois, que o objeto esteja afastado: ou se está em termos de - <p ou se está em termos de objeto a. �defirü- ç_ão, ª--ªngq§_ti_a está c!ireta_ ll!.ente rd�ci_o1rnda_ao apílreçi�. m:_nto d9 objet,o como,tal, portanto, a uma falha no - <p. A SB Cm tia m. Palonsky insatisfação da histérica que, como dissemos, freqüente mente aponta para um "algo que falta", para alguma coisa que poderia tamponar a falta, faz com que a presença an gustiante do objeto como tal seja transformada na falta de um - <p. Ainda na vertente da suposição de que a resposta es perada vai ser dada por um Outro, vemos uma outra ma neira de buscar o saber, muito particular e bastante carac terística da histeria, na qual podemos também observar o ciclo dominado pela evitação da angústia que vínhamos analisando. A OUTRA ffiULHER Essa outra maneira fundamenta-se na questão da identificação masculina, tema que abordamos quando falamos das particularidades do Édipo fe minino. Vimos que em relação à estruturação do desejo, em algum momento a criança vai se dar conta de que o de sejo é sempre desejo de desejo, ou seja, de que aquilo que a mãe deseja é ser desejada pelo pai, que as mulheres não desejam exatamente os homens, mas serem desejadas pe los homens. Qq� e!1l 11ão_ sabe é porque os homens dese- j_amas_1nulheres e Q quê os homens desejam nas mulheres_. S9 A identificação com o homem vai se constituir numa ma- neira através da qual a mulher vai "entrar" na cabeça de um homem para, através dele, olhar as mulheres e procu- rar esse saber. Na frase freqüentemente ouvida "o que ele viu nela?" tem-se claramente a estrutura da identificação masculina. É através de uITJa outra ,mulher, olhada "através" de um "----, . . . -�- - . � - . . bo111em,_que a mulher pretende chegar à feminilidade, o que constitui um paradoxo. Paradoxo em dois sentidos: primeiro pelo fato da identificação masculina, ou seja, é identificando-se com um homem que a mulher pretende descobrir o traço identificatório da feminilidade; segun- Cmtia m. Palonsky do, vai procurar esse traço em outra mulher, isto é, em alguém que também não o possui. Essa outra mulher aparece como "a rival". Vejamos quem é ela. Uma mulher sempre vai precisar de outra mu lher como referência. Como lugar de .estrutura,- o que y_a mos chamar de "a outra mulher" é imprescindível e,- na clínica, é necessário localizá-la. O lugar pode estar ocupa do pela esposa, sogra ou mãe de um homem etc. Suposta mente, as duas mulheres estariam brigando pelo amor de um homem, o que é uma ficção que as duas podem man ter. Trata-se de uma ficção porque, na verdade, nenhuma das duas está de fato interessada na posse desse homem. A "outra" (qualquer uma das duas), tem várias e im- 60 portantes funções. Primeiro, o interesse da histérica está em saber o que é ser uma mulher e o que um homem quer numa mulher; daí, ela precisa de uma outra mulher, a qual irá olhar através do homem para saber o que é uma mu lher. Além disso, é necessário que exista uma corrente de desejo entre o homem e a outra. A histérica estáidentificadfl_ ao homem, tanto que se a outra sai de cena o interesse é perdido. Considerando o triângulo constituído pelo ho mem, pela mulher e pela outra, o homem vai freqüente mente se apresentar rnmo insatisfeito com a mulher, o que abre uma pergunta fundamental: "o que tem essa mulher que consegue manter um homem mesmo sem satisfazê-lo?" Falamos da outra como aparente "rival". Trabalhar Estruturas Clímcas na Clímca, " H1ster1a essa relação com a outra como "rivalidade" é ficar apenas no nível do imaginário, sem analisar a importância que es sa outra mulher tem. A necessidade de que essa outra mu lher exista é tal que se ela já não fizer parte da vida do ho mem em questão, a histérica vai, de alguma maneira, ori entar D homem a procurar uma outra mulher para -preen cher esse lugar. Muitas vezes quem apresenta ao homem essa outra é a própria mulher. Essa identificação masculina vai ser sempre a manei ra de olhar para outra mulher; no final das contas, a mu lher está sempre olhando para outra mulher, só que, no ca so, o faz através de um homem. A relação com o homem, então, não é uma relação em termos de objeto, mas de identificação. O homem é necessário como via de saber a 61 respeito das mulheres. A questão da identificação masculina traz algumas outras conseqüências à estrutura, determinando um certo posicionamento do sujeito histérico que, mais uma vez, terá importante papel em encobrir a castração do Outro e, portanto, na evitação da angústia. Vamos aqui nos referir à questão da competição fálica e o que se apresenta clinica mente como homossexualidade feminina. A POSICAO rnucn Em relação à competição fálica, podemos dizer que, a partir da identificação masculina, a histérica pode se colocar frente ao homem como se fosse um ho mem, especialmente mostrando que até como homem ela é melhor do que os homens. Para melhor alcançarmos a extensão de tal posicionamento, precisamos entender que a mulher tem de aceitar as duas castrações: a do Outro e a de si própria. Na competição fálica existe o movimento _d� 62 colocar a castração no outro, eomo semelhante, mas não no Grande Outro. Colocar a castração no outro, no caso, 1:,'.:i em um homem, significa colocar esse homem na posição do impotente, o que não é apenas uma metáfora, uma vez que ela pode conseguir, de fato, que ele fique concreta mente impotente, com o que vai desqualificá-lo inteira mente como homem. Existe, nessa situação, uma certa sutileza, dado que pode surgir uma suposição tal como "eu sou tão mulher que comigo ele não pode", ou "ele não é suficientemente homem para uma mulher como eu"; mas, esta posição de ser "tão mulher" é, paradoxalmente, uma posição fálica:__Q que aparece como o _çúmuJo__ .da--f@min_iljclí!çl�a_pos-i- .-- -- ·- - __ .,, Estruturas Clírncasna Clímca, A H1ster1a Este tema do masculino e feminino é um ponto inte ressante no sentido de que não só engloba ideais culturais, como também, no limite, no extremo, o masculino e o fe minino se confundem. Assim, uma mulher que procura ser �ma mulher no extremo, torna-se "um mulherão", o que já tem algo de masculino. Do lado masculino, aquele que é supostamente "o macho", identificado como galã das novelas, tem sempre um ar mais ou menos feminino. Neste ponto vamos ter uma certa oscilação em rela ção à potência do homem: de um lado, temos a situação de que nenhum homem seja suficientemente homem; do outro, a posição típica da histérica de fazer tudo para man ter a potência do homem . Porém, na verdade, quando a histérica diz que o homem "não dá conta", está se referin- 6] do a um homem específico e, assim, mantém a existência de uma potência sem falhas como possível. Mantém, por- tanto, afastada a possibilidade de um Outro castrado ou, corno dissemos acima, a castração não é colocada na es- trutura, e a angústia fica evitada. Revendo as perguntas características da histeria, per cebemos que a questão de fundo pode ser assim formula da: "sou homem ou mulher?" São perguntas que estão re lacionadas à identificação masculina enquanto momento do desenvolvimento da menina e que, na histeria, vai se manter sempre presente. A histérica vai ter sempre uma identificação masculina e uma identificação feminina. Essa Cm tia m. Palonsky dupla identificação é um ponto central, e �i-a__ _<1!_jd� n. tifiç açã9 .ma_sc u I i n él__é_Q__çµi.e_pode-ch � gªr--a--se.11Ju:.�� --.,------- -·· - se...ntar-dinicam€mtc comci-kon.1Qssexualidade feminj,19-... A -- .. ______ ,...-------- .. ---------- homossexual feminina, como estrutura, é uma histérica. Por vários motivos pode chegar uma histeria a se estruturar como homossexualidade, e um dos motivos tem a ver com a identificação masculina. Na teoria, faz-se uma grande diferença de estrutura entre a homossexualidade masculina e feminina, no senti do de que a homossexualidade masculina, muitas vezes, embora nem sempre, corresponde a uma estrutura perver sa. A hornqssexualidade feminina não corrt!ip.Qnç!J} -lll.lllCf!_ a uma per.Y.�rsâO. ... J!lllª YeZ _q_ue a perversão, c_ol]l.o .. tal,...não . 64 é considerada uma.es.tr.utuJª e_ossíyeL!:Ul m1,J!her. O que não quer dizer que não se encontrem mulheres com fortes traços perversos. �dad�_feminina é �e1J1.pre_ umª fonn.a .. de...histeria. Ao lado da identificação masculina, um outro ele mento que define a aparição da bom9�_sexu� Q_<t�tárelacionado }I pr.QÇJJ..!Itdahis.térica--P.OC um�mor to t<tl,_-ª-umªj.!J_11çãc) _9_o_amo��'-9ll�ºssar-e1:r ni]:,em_si ::q;iossibilidade....@i!.�d.es.ejQ.,_A entrega, o sacrifício que a histérica faz é uma busca de reciprocida de, no sentido de que se ela dá tudo para ele, ele vai dar tu do para ela, coisa que não acontece e que resulta na decep ção. O que pode suceder é que a repetição da decepção le- Estruturas Clínicas na Clínica, A H1ster1a va a histérica à procura do amor de outra mulher, como a única possibilidade de ser amada tanto quanto ela ama. Segundo Lacan, o único amor verdadeiro é o de uma mu lher; isso porque, sendo o amor definido como "dar o qu� -· .__- - . �.. -· · · --·· ., não s� !�m", quem dá o que não tem é a mulher. A homosse- xualidade seria a procura desse amor verdadeiro. Não é a procura do gozo sexual, fálico, mas a procura de amor, es tando ligado a uma posição de reivindicação, que é uma posição histérica. Essa busca de uma outra mulher relaciona-se tam bém com o Édipo feminino nas três saídas possíveis para a mulher, uma delas significando a volta para a mãe como objeto de amor. Também o que aparece como "bissexuali- dade" tem a ver com a identificação masculina da histéri- 65 ca, já que qualquer mulher, no Édipo feminino, vai passar pelo momento de identificação masculina. Porém, tal iden tificação na histérica vai perdurar, o que vai resultar na particular característica de uma dupla identificação, mas- culina e feminina ao mesmo tempo. Vimos então, até aqui, algumas maneiras através das quais a histérica vai lidar com as perguntas características à estrutura, constituindo uma relação bastante particular entre o saber e o não-saber, onde o ciclo idealização-de cepção/insatisfação é o que se repete, ficando a decepção/ insatisfação no lugar da angústia. O que abordamos tem a ver com a suposição de que 66 Cmtia m. Palonsky a resposta desejada pelo sujeito histérico possa ser encon trada através de um Outro, freqüentemente identificado a um homem, garantia última da existência de uma estrutu ra sem falhas. Uma outra maneira refere-se a tentar res ponder sobre a identidade sexual - questão em torno da qual giram suas perguntas - identificando a feminilidade com algum significante, sobretudo filho e corpo. ALGUmns RESPOSTAS Aproblemática histérica gira em torno da falta do falo, dessa posição de não ser o falo e de também não tê-lo. Desenganada de tê-lo como coi sa concreta, uma vez que deixa de pensar que ainda vai crescer, 11parece habitualmente a tentativa de �).l_Qstituir a fa!tAJLeJalo em si_por um fill:io, estabelecendo uma equa ção pela qual falo = filho. Na equação falo = filho, o filho vai aparecer no desejo da histérica como aquilo que vai compensá-la da falta do falo, como aquilo que vai com- pletá-la. 61 A definição impossível da feminilidade passa a ser a '----�--- - ---- - - · - �· - - � mat!!rnictade, _tJm_a re_s_posta dacl_a muitas ve:z:es pela cultu- _Ijl, não apen_as .pe.la l11l!.!.b�r. Não existindo a definição do que é ser
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