Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
71 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Unidade III 5 TÉCNICAS ALIMENTARES Muitos brasileiros fazem refeições inadequadas pela falta de acesso a opções saudáveis de alimentação, inclusive pelo alto custo de determinados alimentos. Ademais, têm dificuldade em adotar ou modificar hábitos alimentares (BRASIL, 2014). Alinhar valor nutricional a sabor e boa aparência, algo tão almejado em uma alimentação saudável, é o desafio que as técnicas dietéticas buscam resolver, sem deixar de considerar e adotar o melhor custo‑benefício para todos os envolvidos. A preparação técnica dos alimentos consiste na utilização de conhecimento matemático, químico e físico durante o preparo de alimentos, com o intuito de compreender e controlar as operações e modificações que eles sofrem. Também busca a eficiência para utilizar os recursos da melhor forma possível. As técnicas dietéticas são aplicadas em todas as etapas que envolvem o alimento: • seleção; • compra; • armazenamento; • pré‑preparo; • preparo; • distribuição. A excelência no atendimento ao cliente normalmente é a premissa que norteia um serviço de alimentação, desafio muitas vezes enfrentado em paralelo a orçamentos limitados. As técnicas dietéticas são aplicadas para auxiliar a sanar tais questões. Ao serem adotadas, devemos considerar o alinhamento dos seguintes aspectos: • Nutricionais: preservar o valor nutritivo dos alimentos. • Higiênicos: deter ou estacionar a ação de enzimas e micro‑organismos indesejáveis. • Digestivos: melhorar a digestibilidade e o aproveitamento dos nutrientes. 72 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III • Sensoriais: preservar e/ou ressaltar as características sensoriais dos alimentos, como cor, odor, sabor, textura e aparência. • Econômicos: utilizar eficientemente os recursos (matéria‑prima, energia, água, mão de obra etc.), buscando o melhor custo‑benefício. O gestor de serviço de alimentação tem várias responsabilidades, como administrar recursos, métodos, processos, setor de compras e de produção, entre outras funções para assegurar a otimização e eficiência em conjunto com as BPF e a segurança na manipulação dos alimentos. Processos fundamentais como redação de receita, medição e pesagem dos ingredientes, fator de correção e índice de cocção precisam ser controlados para atingir uma produção de qualidade e em acordo com a demanda de refeição a ser elaborada, como veremos a seguir. 5.1 Redação de receitas O sucesso das técnicas dietéticas depende, a princípio, de receitas bem elaboradas, de modo a satisfazer objetivos diversos, como: economia de tempo, garantia de qualidade do produto final, redução de custos, gestão de estoque por meio do controle dos produtos a serem utilizados, dimensionamento da mão de obra necessária para a realização das preparações, padronização das atividades, além de reprodutibilidade das receitas com a mesma qualidade sensorial, independentemente de quem as prepara (MARTINS et al., 2014). As receitas redigidas também podem ser chamadas de fichas técnicas. Tabela 7 – Redação de receita Nome da receita Batata assada ao alecrim Ingredientes 200 g de batata‑asterix 50 g de alecrim picado 50 ml de azeite de oliva Sal Utensílios Faca Assadeira Forno Modo de preparo 1) Corte a batata em gomos 2) Coloque os gomos de batata em uma assadeira 3) Tempere com sal e azeite 4) Acrescente o alecrim 5) Asse em forno 73 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Tempo e temperatura 180 ºC Por 30 minutos Rendimento e kcal 3 porções 291 kcal por porção Adaptado de: Martins et al. (2014). “Algumas regras devem ser seguidas na redação de receitas para facilitar sua leitura e execução, sem provocar retrocessos e perda de tempo, além de permitir a fiel reprodução das preparações”. Martins et al. (2014, p. 180) destacam quais são: — Nome da receita: deve ser claro e objetivo, representando bem a preparação. — Ingredientes: emitidos por completo e em ordem que serão utilizados, a quantidade em gramas ou em medida caseira. — Modo de preparo: descrever em números consecutivos e lógicos. — Rendimento: indicar sempre o número de porções a serem obtidas com a receita. 5.2 Pesos e medidas A quantificação de ingredientes é o primeiro passo para a execução de uma receita, fator que é determinante para garantir sua reprodutibilidade e o alcance do valor nutricional esperado. É muito provável que uma falha de pesagem de ingredientes, para mais ou para menos do que o fixado na receita, afetará negativamente o resultado da preparação, além de causar desperdício, por perda de ingredientes e de tempo. Conforme Martins et al. (2014), existem três formas de expressar as quantidades de ingredientes: por quilo (kg), por litro (l) ou por medida caseira – como xícara e colheres. É recomendável, sempre que possível, utilizar balanças analíticas a fim de obter maior precisão dos pesos. Os ingredientes normalmente são encontrados em estado líquido, seco ou sólido. Para adequada medição de cada um deles, algumas técnicas são indicadas: • ingredientes secos — peneirar antes da pesagem para evitar que ingredientes empedrados atrapalhem a quantidade desejada; — retirar com uma colher, em vez de despejar, evitando quantidades excessivas ao pesar; 74 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III — não calcar ou apertar para evitar sobrepeso (em caso de medida caseira); — remover o excesso com uma espátula ou faca (em caso de medida caseira). • ingredientes líquidos — colocar o medidor em superfície plana, se possível ao nível dos olhos; — não segurar o medidor na mão; — não levantar o medidor até os olhos. • ingredientes sólidos — não pesar gordura congelada, pesar a forma pastosa; — calcar bem no medidor para expulsar o ar; — retirar o excesso com uma espátula. 5.3 Fator de correção (indicador de partes comestíveis) Fatores nutricionais e econômicos são dois objetivos que devem ser atendidos durante a preparação de alimentos, de modo a assegurar o aporte necessário de nutrientes nas dietas e evitar desperdício dos alimentos, respectivamente. O fator de correção é uma ferramenta importante para atingir esses objetivos. O fator de correção também é chamado de índice de partes comestíveis. É a relação entre o peso bruto e o peso líquido do alimento. Por alimento bruto considera‑se aquele in natura; alimento líquido, a parte comestível após a retirada de semente, raiz, casca e defeitos. Esse fator indica, portanto, o rendimento do produto. Sempre será maior que 1; quanto mais alto for esse valor, mais perdas representará. O grau de qualidade do artigo e as técnicas culinárias interferem nesse resultado. Fatores de correção menores tendem a ser obtidos por meio de utilização de materiais frescos, equipamentos apropriados para corte, treinamento de manipuladores e preparações adequadas ao grau de qualidade do produto. Fator de correção (FC) Índice que relaciona o peso bruto (PB) com o peso limpo (PL) Fórmula FC = PB/PL Vantagem Presumir o custo da preparação Determinar a quantidade de ingredientes a ser comprada Presumir o valor nutricional da preparação Figura 9 – Fator de correção 75 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 5.4 Índice de cocção É a relação entre o peso cozido e o peso limpo do alimento. Peso cozido corresponde ao alimento preparado e pronto para ser servido; peso limpo é o alimento cru a ser cozido. Resultados acima de 1 indicam que o alimento absorve água durante a cocção, ou seja, ganha peso. Como exemplo, temos as leguminosas e os cereais. Resultados abaixo de 1 assinalam que o alimentoperde peso e água, o que ocorre com carnes e vegetais. Índice de cocção (IC) Relaciona o peso cozido (PCz) com o peso cru (PCr) Fórmula IC = PCz/PCr Vantagem Calcular exatamente o rendimento da preparação Mensurar as alterações de peso do alimento durante as preparações Figura 10 – Índice de cocção 5.5 Conclusões sobre o fator de correção e o índice de cocção Ambos os indicadores são essenciais para uma boa gestão da produção, gestão da qualidade e atendimento à satisfação do consumidor final, auxiliando no controle de custos e de estoque, bem como na qualificação do fornecedor ao permitir as seguintes conclusões: FC ≥ 1 FC = 1 IC ≥ 1FC ≤ 1 IC = 1 IC ≤ 1 O alimento sofre perda nos processos de pré‑preparo O alimento não sofre perdas no pré‑preparo. O alimento ganha peso após a cocção. O alimento incorpora água no pré‑preparo O alimento não ganha nem perde peso. O alimento perde peso após a cocção. Exemplo: limpeza e descasque. Exemplo: alimentos prontos para uso. Calor úmido e hidratação. Exemplo: reidradatação de feijão. Após a cocção. Calor seco e desidratação. Figura 11 – Conclusões FC e IC 76 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III 5.6 Tipos de calor e técnica de cocção Martins et al. (2014) ressaltam que as preparações culinárias alteram as características físico‑químicas que todos os alimentos têm originalmente. Também esclarecem que as etapas culinárias a serem empregadas para modificar o alimento, conforme o desejado, são agrupadas em três fatores, com suas respectivas ações: • Físicos: aplicação de calor, subdivisão com ou sem separação de partes (cortar, picar, moer, centrifugar, decantar), dissolução, união, peneiramento, misturar, espremer, bater, amassar, sovar etc. • Químicos: cocção, adição de ácidos e bases, combinações químicas. • Biológicos: ação de enzimas, bactérias e fungos (leveduras). A característica física corresponde ao estado líquido, sólido ou viscoso e ao teor de umidade, podendo variar entre pó, sólido ou líquido. Entre os aspectos físicos também se incluem a capacidade de formar gel e a capacidade de cristalização. As características químicas referem‑se ao teor de umidade e ao valor nutricional do alimento (carboidrato, proteína, lipídios, vitaminas e minerais). O método de cocção deve ser escolhido com o fito de preservar os aspectos desejados do alimento (MARTINS et al., 2014). Segundo Martins et al. (2014), a aplicação de calor é uma das etapas mais significativas na transformação dos alimentos. As formas de transmissão de calor são classificadas do seguinte modo: • Radiação: calor é transferido ao alimento por meio de ondas de energia, que vibram em frequência alta, deslocando‑se rapidamente e elevando a temperatura na superfície do alimento. É feita por condução se o calor se espalha para dentro do alimento. • Condução: transferência de calor de molécula para molécula, do mais quente para o mais frio. • Convecção: transferência de calor por meio do ar ou de um líquido. Uma corrente de convecção é formada, e através dela a porção do alimento se movimenta conforme sua densidade. Lembrete As técnicas dietéticas empregadas na preparação de alimentos devem agregar valor por meio do adequado atendimento aos aspectos nutricionais, higiênicos, digestivos, sensoriais e econômicos. 77 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Quadro 11 – Formas de transmissão de calor Equipamento para cocção Descrição Método de transmissão de calor Preparações Micro‑ondas As moléculas de água do alimento sofrem agitação através de ondas eletromagnéticas, gerando energia, ou seja, o calor que aquecerá o alimento. Irradiação e convecção Pescados, carnes, aves, ovos e vegetais Forno combinado Método rápido e com controle de tempo e temperatura. O calor é baseado em circulação forçada de ar quente com injeção automática de vapor. Combinação de calor seco e úmido Carnes e vegetais Seladora a vácuo Método que conserva as características organolépticas e prolonga a validade. O alimento passa por etapa de condimentação, selagem a vácuo, cozimento lento e a seguir é refrigerado. Cocção a vácuo ou sous vide Carnes e vegetais Banho‑maria Cozimento lento e uniforme; sem contato direto com a água. Steaming Vegetais e sobremesas (pudim) Frigideira e tacho Utilização de gordura como condutor de calor em imersão. Cocção em calor seco Batata e outros alimentos fritos Forno Ligeira cor dourada na superfície do alimento. Calor seco Batata corada Grelha, chapa e espeto Alimento sofre desidratação. Calor seco e ar confinado (convecção) Carnes Panela de pressão Alimento sofre hidratação. Calor úmido Carnes e leguminosas Adaptado de: Martins et al. (2014). 5.7 Técnicas culinárias O que deve ter prioridade em uma preparação culinária? A valorização da aparência ou o atendimento ao valor nutricional? A melhor resposta para esta pergunta é aquela que considerar ambos os aspectos como importantes. O bom senso, alinhado às técnicas culinárias, é o melhor caminho para a tomada de decisão a fim de obter uma alimentação balanceada e interessante. Nesse sentido, Quaresma et al. (2013) apresentam algumas dicas e truques culinários: • Prefira métodos de cocção de curta duração, pois são os melhores para conservar proteínas e vitaminas. • Atenção ao aspecto das hortaliças antes mesmo do preparo. Vegetais originalmente verdes que estiverem amarelados ou legumes com textura flácida são sinais de que os nutrientes já foram perdidos. • O bicarbonato favorece a cor de determinados alimentos ao ativar a clorofila de legumes e verduras, por exemplo, mas destrói fibras e nutrientes, principalmente o cálcio. 78 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III • A cocção no vapor favorece o sabor e a textura de alimentos, como a couve‑flor. Entretanto, o tempo de cocção varia de acordo com o corte do produto e também em relação a quantos dias ele ficou armazenado antes do preparo. • Embora a cocção ao vapor seja interessante, é preciso cuidado para não optar sempre por esse método, evitando o risco de monotonia alimentar. • Conhecer o valor nutricional dos ingredientes ajudará a compor um cardápio pouco calórico, porém saboroso. • Optar por técnicas de cocção do tipo ensopados e assados em vez de fritura em imersão permite diminuir a gordura da dieta. • Quer preparar um bife à milanesa sem excesso de gordura adicional, sem fritura? Asse‑o em forno sobre a grelha em 220 ºC, borrifando um pouco de óleo vegetal na superfície do produto. • Molhos e temperos são aliados na diversificação das preparações. O capricho em relação à escolha dos líquidos aromáticos contribuirá com sabor e textura, pois o tempero penetra e amacia o alimento, podendo até cozinhar. Exemplo: a acidez do limão amacia a fibra de peixe. O uso de produtos gelificantes, espessantes e emulsionantes faz parte de técnicas culinárias. Mahan et al. (2013), por exemplo, recomendam que “acrescentar 1 colher de chá de goma xantana para cada xícara de farinha de trigo melhora a textura dos alimentos assados”. Especiaria Exemplo: pimenta‑do‑reino Condimento Exemplo: sal Erva aromática Exemplo: alecrim Líquido aromático Exemplo: vinho branco Figura 12 – Fórmula básica para tempero de alimentos 5.8 Métodos para conservação do alimento Garantir o valor nutricional e a sanidade dos alimentos corresponde ao atendimento da segurança do alimento a ser servido ao consumidor. Martins et al. (2014) informam que tecnologias de alimentos embasadas em ciências gerais, como biologia, química e nutrição, são voltadas para a conservação do alimento ao longo de sua validade, evitando sua deterioração. Conservar quer dizer evitar as condições prejudiciais que levem a alterações indesejadas do alimento,como a presença de insetos, pragas e micro‑organismos, além das condições que promovem reações químicas enzimáticas e não enzimáticas, como rancidez em alimentos gordurosos e escurecimento de frutas e vegetais. Os principais mecanismos para conservação de alimentos consistem em aplicação de calor e de frio, controle de umidade, aplicação de produtos químicos e uso de métodos combinados. 79 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 5.8.1 Método físico através de calor É baseado no princípio de que temperaturas altas extinguem os micro‑organismos ou impedem sua proliferação. Com temperatura acima de 65 ºC, elimina‑se a maioria das bactérias; acima de 100 ºC, todas as bactérias. Martins et al. (2014) descrevem os seguintes elementos: • Pasteurização: elimina totalmente a flora microbiana patogênica existente na forma vegetativa. É um tratamento brando indicado para produtos sensíveis, que não resistem à esterilização. Proporciona curto tempo de validade. Por isso, deve ser associado a outros métodos de conservação, por exemplo, refrigeração. • Esterilização: são usadas altas temperaturas, que acabam cozinhando o produto. Destrói toda microbiota nociva e patogênica. • Apertização: aplicação lenta de calor, na ausência de ar, por meio da embalagem fechada contendo o alimento. Destrói os micro‑organismos sem alterar o alimento. • Branqueamento: inativa enzimas de frutas e hortaliças. É um pré‑tratamento térmico geralmente associado a outros métodos de conservação. Observação Entre os exemplos de enzimas catalisadoras de reações indesejáveis, destacam‑se a lípase, que provoca reações hidrolíticas de lipídios, e a polifenoloxidase, que é um tipo de enzima oxidante de hortaliças. 5.8.2 Método físico através de frio A cadeia de frio é aplicada em todos os processos (de recebimento) de alimentos, passando pelo armazenamento até o transporte do produto. Atua na desaceleração do crescimento bacteriano e na redução da ação enzimática, preservando as características do alimento. Vejamos: • Refrigeração: entre 0 e 10 ºC. Retarda a atividade microbiana. • Congelamento: abaixo de 0 ºC. Paralisa a atividade microbiana. 80 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III 5.8.3 Controle de umidade Consiste na retirada de água do alimento a fim de impedir a proliferação de micro‑organismos. Os métodos que utilizam essa técnica são: • Secagem natural: utilizada desde a Pré‑História por meio de irradiação solar e clima seco, tanto em produto de origem animal como vegetal. Exemplos: carne‑de‑sol, charque, banana, uva, ameixa e damasco. • Desidratação: método rápido de aplicação de calor artificial no alimento parado ou em movimento, sob condições controladas de temperatura, tempo, teor de umidade e fluxo de ar. • Liofilização: usada em grande quantidade de alimentos, um por vez. Trata‑se de congelamento seguido de secagem a vácuo, de modo que a umidade do alimento passará de sólida para gasosa. Exige embalagens adequadas. • Adição de soluto: a concentração de sólidos solúveis (sal ou açúcar) provoca pressão osmótica, que retira água do meio menos concentrado para o meio mais concentrado. Exemplo: alimentos curados, como lombo defumado e presunto cozido; e alimentos em conserva ou cristalizados, como leite condensado, geleias e frutas. 5.8.4 Métodos combinados Ressaltamos dois tipos: • Defumação: fundamenta‑se na associação de calor e desidratação por meio da aplicação de fumaça no alimento. Há perda de água, e o método confere barreira física e química contra a penetração de micro‑organismos. Exemplo: alimentos embutidos. • Radiação: consiste em método físico por utilização de calor e frio no processamento. O alimento é exposto a um dos três tipos de radiação, ou seja, gama, raio X ou feixe de elétrons, os quais alteram os sistemas biológicos. 5.8.5 Elementos químicos Com o crescimento da indústria química, várias substâncias foram identificadas com potencial de ação antimicrobiana. Hoje várias delas são permitidas pela legislação brasileira para serem adicionadas em determinados alimentos, com uma tolerância também predefinida. Esses elementos químicos são conhecidos como aditivos e recebem o nome conforme sua função, como conservantes, antioxidantes, aromas e acidulantes. Sua utilização é regulamentada com o objetivo de modificar, melhorar e manter as características (físicas, químicas, biológicas e sensoriais) do alimento durante todo o prazo de validade. 81 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Saiba mais A Portaria nº 540/97, emitida pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária, regulamenta os aditivos alimentares, apresentando os tipos, a função e em quais alimentos é permitido usá‑los. Leia: ANVISA. Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997. Aprova o Regulamento Técnico: Aditivos Alimentares – definições, classificação e emprego. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/391619/ PORTARIA_540_1997.pdf/3c55fd22‑d503‑4570‑a98b‑30e63d85bdad>. Acesso em: 19 nov. 2017. 5.8.6 Novas tecnologias para conservação de alimentos 5.8.6.1 Alta pressão hidrostática Consiste na aplicação uniforme de alta pressão em todas as partes do alimento (líquido ou sólido, a granel ou em embalagem resistente e flexível). A manipulação dos produtos é realizada automaticamente por equipamentos. Uma camisa envolve o tanque de pressão e provoca aquecimento ou resfriamento do processo sob temperatura constante, podendo ser por meio de um trocador de calor intermitente. Durante o processamento, depois que o tanque é fechado, todo o ar é retirado e substituído por água, que funciona como um meio de transmissão de pressão. Os ciclos de pressurização/despressurização são rápidos, reduzindo o tempo de processamento quando comparado ao tratamento térmico de condução ou convecção, como micro‑ondas, aquecimento dielétrico ou radiante. No Brasil não há indícios sobre a utilização industrial dessa tecnologia, apenas estudos e pesquisas por meio da Embrapa Agroindústria de Alimentos. É aplicada no Japão em alimentos industrializados, como doces de frutas em pasta, molhos, geleias de frutas e iogurtes de frutas. Suas desvantagens são: somente alimentos bombeáveis são permissíveis no sistema, e os produtos normalmente são vendidos a preços três a quatro vezes mais caros que os de produtos convencionais (FELLOWS, 2006). 5.8.6.2 Atmosfera modificada Fundamenta‑se na substituição do ar da embalagem por um gás ou mistura de gases. Reduz a quantidade de oxigênio e aumenta a quantidade de gás carbônico, permitindo o escape de etileno, e assim impede a perda de umidade do alimento (MARTINS et al., 2014). 5.8.6.3 Resfriamento a vácuo Esse método é muito empregado, em especial nos EUA, para folhas como alface, pois sua eficiência depende fortemente da área de exposição. O resfriamento ocorre ao colocar o produto sob vácuo. À pressão muito próxima do vácuo absoluto, a água evapora‑se da superfície do material (a 4,6 mm Hg, a 82 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III água evapora‑se a 0 ºC). A eficiência do resfriamento depende da relação superfície/massa do produto, pois a evaporação da água se dá na superfície dele. O princípio do resfriamento a vácuo é extrair o calor do elemento pela evaporação de uma pequena fração de água que ele contém (cada 1% de água evaporada faz baixar em 6 ºC a temperatura do material). A evaporação e o resfriamento podem ser feitos rapidamente, mesmo que seja difícil resfriar o produto até o centro, como a alface, ou se ele está embalado e pronto para ser colocado no mercado. A duração típica do ciclo de resfriamento a vácuotem média de trinta minutos (DOSSAT, 2004). 5.8.6.4 Resfriamento por túnel de ar forçado Esse método é considerado um sistema rápido de resfriamento. Os produtos são condicionados no interior de um túnel de ar forçado, composto de ventiladores, e são associados ao sistema de ventilação da câmara. O ar resfriado deve entrar em contato com a maior área da embalagem dos produtos, permitindo uma eficiente troca de calor com o meio refrigerado. Ele faculta a manutenção da qualidade de frutas e hortaliças, porém de modo mais lento (DOSSAT, 2004). A escolha do método de conservação deve considerar vários fatores, como as propriedades físicas e químicas do alimento, os prováveis agentes contaminantes (mofos, leveduras e bactérias) e as condições de armazenamento. O conservador químico deve ser avaliado em função de sua ação contra tipos específicos de micro‑organismos, toxicidade, solubilidade, economicidade e sabor próprio. Não há um só método de conservação que preencha todas as características desejáveis, por isso muitas vezes são usados em conjunto. Nem sempre se pode utilizar a preservação por métodos físicos; outras vezes determinados produtos adaptam‑se melhor à conservação química e, por isso, usam‑se os conservantes químicos isoladamente ou em conjunto com outros métodos de conservação para obter um melhor controle de micro‑organismos indesejáveis. 5.9 Dietoterapia A adequada função de digestibilidade do organismo depende das condições do sistema digestivo, que pode ser imaturo em crianças ou debilitado em idosos e doentes. A dieta, portanto, deve ser adaptável e realista para cumprir os requisitos nutricionais dos pacientes, as restrições dietéticas exigidas e a capacidade que o paciente tem de mastigação e digestão. Também é válida a dieta para atender às preferências do paciente (MARTINS et al., 2014). Segundo Mahan et al. (2013), um cardápio destinado a pacientes hospitalizados deve ser elaborado com criatividade. Sempre que possível, é preciso considerar a preferência alimentar do paciente. Desse modo, obtém‑se uma alimentação saborosa e bem apresentável em relação à cor e textura, e, em especial, à aceitação pelo paciente. Assim que possível, deve‑se evoluir para uma dieta mais adequada nutricionalmente, haja vista os conteúdos calóricos das possíveis dietas serem bem diferentes entre si (tabela adiante). As dietas hospitalares têm definições e características específicas. 83 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS A primeira dieta que destacamos é a geral/normal: é rotineiramente adotada quando a condição clínica do paciente não exige restrições alimentares. Comumente é formulada de modo padronizado e com baixo teor de lipídios, gordura saturada, colesterol, açúcar e sal, a fim de se enquadrar nas recomendações alimentares da maioria da população. Por outro lado, há locais em que a dieta geral adéqua‑se às preferências alimentares do paciente, ou seja, serve‑se o que ele pode comer, atendendo ao seu gosto. Há ainda instituições que disponibilizam cardápio para que o cliente escolha suas refeições. Temos também a dieta modificada, caracterizada por alterações na consistência. É indicada para pacientes que têm limitação para mastigar ou deglutir. “É insuficiente em calorias, fibras e em todos os outros nutrientes essenciais, devendo ser usada apenas por curtos períodos de tempo” (MAHAN et al., 2013). Quando necessário, suplementos de proteína e caloria podem ser administrados via oral; suplementos de líquidos e eletrólitos, administrados via intravenosa. Entre as nomenclaturas de dietas modificadas, incluem‑se dieta líquida, dieta de líquidos claros, dieta líquida restrita e dieta pastosa. Os alimentos oferecidos comumente são: chá, caldos, bebidas gaseificadas, sucos de frutas claros e gelatina. Tabela 8 – Composição nutricional das dietas hospitalares Componente Geral Modificada kcal 1.600 a 2.200 500 a 600 Proteína 60 a 80 g 5 a 10 Lipídio 80 a 100 g O mínimo Carboidrato 180 a 300 g 120 a 130 g Adaptado de: Mahan et al. (2013). Por fim, acentuamos a dieta restrita de nutrientes, marcada pela retirada de ingredientes da dieta ou das receitas. Por impactar diretamente na alteração do valor nutricional, é importante sempre avaliar e optar por ingrediente substituto que seja capaz de atender, em conjunto, aos fatores nutricionais, digestivos e sensoriais. Mahan et al. (2013) ressaltam o seguinte: indivíduos cuja dieta seja restrita em relação a todas as fontes de leite de vaca frequentemente precisam de um suplemento de cálcio; já aqueles que evitam ovos precisam receber outros alimentos para suprir vitaminas D, proteína e energia. A tabela a seguir apresenta exemplos praticáveis de substituição de ingredientes e/ou seus derivados, aqueles com utilização restrita ou proibida. Os produtos substitutos podem ser aplicados em preparações culinárias seguindo a equivalência. Por exemplo: em vez de uma xícara de leite, usa‑se uma xícara de suco de frutas de cor clara. 84 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III Tabela 9 – Substitutos de alérgenos Alimentos e ingredientes a serem evitados Substituto Equivalência Ovo e derivados 1 banana média 1 ovo 1 colher de sopa de semente de linhaça moída + 3 colheres de sopa de água 1 colher de chá de fermento dissolvido em 1/4 de xícara de água quente Leite e derivados 1 xícara de suco de frutas de cor clara (maçã, laranja, uva branca) 1 xícara de leite de vaca 1 xícara de chá de ervas 1 xícara de fórmula infantil sem leite 1 xícara de leite de soja 1 xícara de leite de cânhamo 1 xícara de leite de arroz, leite de aveia ou leite de outros grãos 1 xícara de leite de amêndoa ou leite de outra noz 1 xícara de água Glúten 1 xícara de farelo de centeio 1 xícara de farinha de trigo 1 + 1/4 de xícara de farinha de centeio 1 xícara de farinha de batata 1 + 1/3⅓ de xícara de aveia arrolhada ou farinha de aveia 1/2 xícara de farinha de batata + 1/2 xícara de farinha de centeio 5/8 de xícara de fécula de batata 5/8 de xícara de farinha de arroz + 1/3 de xícara de farinha de centeio Soja Sucos de frutas – Bebidas de cânhamo, fibra ou nozes Adaptado de: Mahan et al. (2013). Adotar um Programa de Controle de Alergênicos é indicado para obter com eficácia a segurança dos alimentos destinados às pessoas cujos organismos são intolerantes. Tal programa é aplicado [...] para a identificação e o controle dos principais alimentos que causam alergias alimentares e para a prevenção da contaminação cruzada com alérgenos alimentares em qualquer estágio do seu processo de fabricação, desde a produção primária até a embalagem e comércio (BRASIL, 2015c). 85 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Mahan et al. (2013) recomendam alguns cuidados para evitar contaminação e cruzamento de alérgenos: • Não usar o mesmo utensílio na manipulação de alimentos diferentes. Exemplo: um único cortador para carne e queijo. • Não aplicar os mesmos equipamentos para produzir dois produtos diferentes. Exemplo: manteiga de amendoim e manteiga de amêndoas. • Não reutilizar o óleo para fritar batatas e peixe. • Não usar os mesmos utensílios para servir diferentes alimentos. • Atentar ao rótulo dos ingredientes, evitando os derivados de alérgenos. Exemplo: maionese composta de ovos. • Não substituir ou misturar ingredientes indiscriminadamente. Exemplo: na falta de um óleo vegetal, substituí‑lo por outro. • Ao escolher ingredientes, considerar a presença de qualquer quantidade de alérgenos, ainda que a porcentagem seja baixa. Pequenas frações também podem ter efeito tóxico. 5.10 Gastronomia hospitalar O que é comer bem? Essa é uma pergunta cuja resposta é tão subjetiva quanto a questão sobre o que é qualidade. Qualidade estáassociada ao valor que todo indivíduo associa a diversos itens e sempre corresponde às suas expectativas e percepções. No tocante à alimentação, não é diferente, cada um tem a sua concepção sobre o que é comer bem. Entretanto, em casos hospitalares marcados por disfunções orgânicas, a opinião sobre a alimentação costuma ser algo limitado para o paciente. A frase “comida de hospital” normalmente é relacionada à alimentação ruim, de má qualidade, sobretudo por não ser saborosa, inclusive fazendo com que seja pouco aceita pelos pacientes. A gastronomia hospitalar surgiu para mudar esse cenário, levando conforto e qualidade nessa fase complicada que é a estadia hospitalar. Martins et al. (2014) apresentam uma definição de gastronomia hospitalar: É a arte de conciliar a prescrição dietética e as restrições alimentares de clientes à elaboração de refeições saudáveis e nutritivas, atrativas e saborosas, a fim de promover a associação de objetivos dietéticos, clínicos e sensoriais, oferecendo nutrição com prazer. A gastronomia hospitalar agrega valor à alimentação de hospital, buscando, além da nutrição, a oferta da função hedônica, pois situa o ser humano no espaço social. Para tal, acentua os seguintes diferenciais: • Aplicação de conceitos de hotelaria na área hospitalar, eliminando o preconceito de ambiente inóspito. 86 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III • Além de cortês, o atendimento é individualizado e personalizado. • Processo alimentar refinado em termos culturais, incluindo materiais extras e especiais, como bebidas, utensílios e talheres sofisticados. • O indivíduo passa a se sentir cliente, e não paciente. • O poder de escolha do paciente/cliente é valorizado e atendido. • Respeito às preferências, aversões e hábitos regionais sem perder o equilíbrio nutricional. • O cliente/paciente tem direito ao diálogo com relação a dietas que lhe serão servidas. • Elimina o aspecto de refeição de hospital. • A alimentação tem boa aparência, sabor e apresentação. • O gosto e a temperatura dos alimentos são adequados e o indivíduo recebe informações sobre isso, passando a aceitar melhor o tratamento. • Contribui com a competitividade do hospital. As características diferenciais da alimentação e do atendimento podem gerar boa imagem, sendo divulgadas pelos pacientes/clientes. De acordo com Martins et al. (2014), a criatividade inerente à área da gastronomia deve ser alinhada à dietética, a fim de promover refeições apetecíveis, e não monótonas. As possibilidades de forma, textura, cores e sabores são limitadas pelas exigências dietéticas, que possuem a seguinte variação: líquida, pastosa, restrita em gordura, em glúten ou em ovos. Todos esses desafios podem ser amparados pelos conhecimentos gastronômicos, por meio da utilização culinária de substâncias preservadoras de características sensoriais, como ervas e especiarias para resgatar o sabor; ainda, espessantes e farináceos para agregar textura e estrutura ao alimento. Mahan et al. (2013) ressaltam que o uso de ervas, de alimentos integrais e a suplementação de nutrientes são terapias de base biológica não inclusas na medicina convencional, mas consideradas uma prática terapêutica, sendo inclusas na lista de medicina complementar e alternativa. Diante do exposto, não é difícil imaginar a presença de gastrólogos compondo a equipe de nutrição hospitalar, de modo a formar uma parceria completa e constante a favor da excelência no atendimento às pessoas hospitalizadas. 6 PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA DE ALIMENTOS Segurança de alimentos é o termo que se refere a medidas de prevenção de contaminações nos alimentos e, por conseguinte, proteção à saúde e segurança do consumidor. As medidas de controle são adotadas em todas as etapas de produção, a fim de garantir a qualidade dos alimentos, desde a área agrícola até a entrega ao consumidor. Um alimento seguro é um alimento livre de contaminações, que 87 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS são chamadas de perigos. Estes são classificados em três tipos: físico, biológico e químico. Conhecer os perigos aos quais os alimentos estão sujeitos durante as diferentes fases, desde a matéria‑prima até o produto final, é fundamental para definir medidas de controle durante sua produção, manipulação e distribuição. 6.1 Legislações As legislações sanitárias que regem a produção de alimentos no Brasil são encontradas em forma de decretos, leis, portarias, resoluções e instruções normativas. O Ministério da Agricultura (Mapa) e o Ministério da Saúde (MS) são os órgãos responsáveis pela publicação e verificação do cumprimento dessas leis, com a seguinte distinção entre as competências de ambos: • Mapa: controla alimentos de origem animal, da produção primária à distribuição do produto final, além de bebidas e polpas congeladas de frutas primárias; analisa contaminantes e resíduos de defensivos agrícolas. • MS: faz a supervisão de manipulação, envase, industrialização, porcionamento e distribuição, comercialização de alimentos de origem vegetal e água potável. Para ser produzido e comercializado no País, o alimento está sujeito à inspeção sanitária, que é feita com base em requisitos de legislações de origem federal, estadual e municipal; todas elas são consideradas em conjunto ou prevalece a legislação mais rigorosa. Com isso, é vital que os profissionais de alimentos fiquem atentos aos conteúdos específicos de sua região, os quais estão contidos no Código Sanitário Estadual. Inspeção sanitária é: [...] um procedimento da fiscalização efetuado pela autoridade sanitária que avalia em toda a cadeia alimentar as Boas Práticas de Produção e/ou as Boas Práticas de Prestação de Serviços com vistas ao atingimento do Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) estabelecido através da verificação do cumprimento dos procedimentos previstos nos seus manuais, na utilização do Sistema de APPCC, e no atendimento à legislação sanitária. Orienta ainda a intervenção, objetivando a prevenção de agravos à saúde do consumidor no que se refere às questões sanitárias, inclusive quanto ao teor nutricional (BRASIL, 1993). A relação de legislações vinculadas ao Ministério da Saúde é extensa e pode ser encontrada no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As principais estão listadas a seguir: 88 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III Quadro 12 – Legislações sanitárias Legislação (nº e data) Conteúdo Portaria nº 1.428, de 26 de novembro de 1993 Regulamento técnico para inspeção sanitária de alimentos. Diretrizes para o estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de Prestação de Serviços na área de alimentos. Regulamento técnico para o estabelecimento de Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) para serviços e produtos na área de alimentos. Determina que os estabelecimentos relacionados à área de alimentos adotem, sob responsabilidade técnica, as suas próprias Boas Práticas de Produção e/ou Prestação de Serviços, seus programas de qualidade e atendam aos PIQs para produtos e serviços na área de alimentos. Portaria nº 326, de 30 de julho de 1997 Regulamento técnico sobre as condições higiênico‑sanitárias e de BPF para estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 Regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Lista de verificação das BPF em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004 Regulamento técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Resolução RDC nº 218, de 29 de julho de 2005 Regulamento técnico de procedimentos higiênico‑sanitários para manipulação de alimentose bebidas preparados com vegetais. Segundo Brasil (1999), Anvisa é uma autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, cuja finalidade é promover “a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização”, assim como “dos ambientes, dos processos, dos insumos, das tecnologias dos portos, aeroportos e de fronteiras relacionados a produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária”, entre os quais na área alimentícia são elencados a seguir: — alimentos; — bebidas; — águas envasadas; — insumos alimentares; — embalagens; — aditivos alimentares; — saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação em ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos (BRASIL, 1999). Além de estabelecer e fiscalizar normas e padrões, a Anvisa atua corretivamente em relação a violações da legislação pertinente ou em caso de risco iminente à saúde da população. Algumas de responsabilidade são: 89 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS — Determinação de limite de contaminantes orgânicos. — Determinação de limite de resíduos de agrotóxicos. — Determinação de limite de medicamentos veterinários. — Administração e arrecadação de taxa de fiscalização de vigilância sanitária. — Autorizar o funcionamento de empresas de fabricação, distribuição e importação dos produtos. — Interditar os locais inadequados de fabricação, controle, importação, armazenamento, distribuição e venda de produtos e de prestação de serviços de saúde. — Proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e a comercialização de produtos e insumos irregulares. — Cancelar a autorização de funcionamento e a autorização especial de funcionamento de empresas, em caso de violação de legislações. — Coordenar e executar análises previstas na legislação sanitária, ou de programas especiais de monitoramento da qualidade em saúde. — Autuar e aplicar as penalidades previstas em lei (BRASIL, 1999). Lembrete A Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, é um Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação com foco nas vistorias da Anvisa. 6.2 Perigo Sabemos que um alimento de qualidade exerce a função de nutrir, construir e renovar o organismo humano, promovendo bem‑estar e prazer. Contudo, também devemos saber que perigos circundam os alimentos, deixando‑os suscetíveis a se tornarem ofensivos, tanto para a saúde humana quanto para a economia governamental e industrial. De acordo com o Codex Alimentarius (FAO, 2006, p. 57), perigos são “agentes biológicos, químicos ou físicos indesejados ou propriedade do alimento com potencial de causar efeito adverso à saúde”. 90 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III Conforme a Portaria nº 46/1998, do Mapa, perigo representa qualquer uma das seguintes situações: — presença inaceitável de contaminantes biológicos, químicos ou físicos na matéria‑prima ou nos produtos semiacabados ou acabados; — crescimento ou sobrevivência inaceitável de micro‑organismos patogênicos e a formação inaceitável de substâncias químicas em produtos acabados ou semiacabados, na linha de produção ou no ambiente; — contaminação ou recontaminação inaceitável de produtos semiacabados ou acabados por micro‑organismos, substâncias químicas ou materiais estranhos; — não conformidade com o Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) ou Regulamento Técnico estabelecido para cada produto (BRASIL, 1998). 6.2.1 Perigo físico É todo material estranho que eventualmente entre em contato com o alimento, podendo afetar a segurança do consumidor. Exemplos: papel, plástico, vidro, entre outros. Algumas medidas para prevenir a ocorrência de perigo físico são: • não usar adornos, joias e relógios na área de produção; • não carregar objetos nos bolsos; • manter o local de trabalho organizado; • não fazer consertos provisórios; • ter atenção e cuidado; • fazer inspeções visuais dos alimentos e do ambiente; • sempre fazer o treinamento de colaboradores. 6.2.2 Perigo químico Representa toda substância química não pertencente ao produto, sendo capaz de provocar alterações indesejadas no material, como mudança de sabor, cor, aspecto e toxidade. Vejamos algumas recomendações essenciais: • Não reaproveitar embalagens de artigos de limpeza e outros produtos químicos. • Não utilizar embalagens de produtos para armazenar outros, evitando confusão. 91 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS • Usar produtos aprovados, em concentração adequada e com rótulo completo. • Sempre armazenar itens de limpeza separados de alimentos ou materiais descartáveis. • Lubrificar corretamente os equipamentos, com produto permitido e em quantidade recomendada, e em horário conveniente, ou seja, quando não houver alimentos próximos. • Fazer a limpeza adequada das linhas de produção e dos utensílios, jamais deixando resíduos de produto de limpeza, por exemplo. • Identificar corretamente os artigos. • Ter atenção e cuidado. • Efetuar o treinamento de colaboradores. Com vistas à segurança de alimentos para evitar possíveis danos à saúde da população e controlar o perigo químico proveniente do uso de defensivos agrícolas, foi regulamentado o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), que é uma ação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), coordenado pela Anvisa em conjunto com os órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária e laboratórios estaduais de saúde pública. Funciona como um indicador da ocorrência de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Segundo Brasil (2003), as análises têm o objetivo de avaliar a presença de agrotóxico nos alimentos em relação ao seguinte: • autorização de uso: a Anvisa verifica se o ingrediente ativo encontrado no vegetal tem o uso autorizado; • limite máximo: a Anvisa avalia se a quantidade de resíduo encontrada está dentro do limite estabelecido como aceitável. 6.2.3 Perigo biológico Por que não descongelar alimentos em temperatura ambiente? Por que não consumir ou elaborar enfeites com hortaliças não higienizadas? Essas são questões simples, mas algumas vezes negligenciadas, não levadas em consideração. A resposta se encontra na microbiologia de alimentos, como veremos a seguir. Os micro‑organismos são os principais responsáveis pelas alterações dos alimentos. Por isso, quase todos os métodos de conservação são baseados na eliminação total ou parcial dos agentes microbianos ou então na criação de condições que desfavoreçam seu crescimento. A eliminação total de micro‑organismos é obtida apenas através da esterilização, um processo de conservação que não é aplicado nem indicado para todos os tipos de produto, pois as altas temperaturas empregadas são agressivas para alguns alimentos, como os in natura e os frescos. Desse modo, quantidades significativas de micro‑organismos permanecem no alimento e acabam sendo ingeridas por meio da alimentação, 92 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III resultando em infecção, intoxicação ou toxinfecção, sintomas de doenças transmitidas por alimentos (MARTINS et al., 2014). Consta no quadro adiante a definição de cada um desses três sintomas. Subsequentemente, destacamos uma tabela com os respectivos micro‑organismos relacionados, abordando aspectos que favorecem a proliferação bacteriana, como a temperatura ótima, e aspectos fundamentais para evitar o desenvolvimento dos micro‑organismos indesejáveis. De acordo com Mahan et al. (2013), em situações normais os micro‑organismos ingeridos são reduzidos pela acidez estomacal, cujo pH é baixo (em média 1 a 4) devido a ações combinadas do ácido clorídrico e das enzimas proteolíticas do estômago. Entretanto,em situações favoráveis os micro‑organismos podem escapar do estômago e entrar no intestino. Isso ocorre quando a quantidade de micro‑organismo ingerido é excessiva, quando o indivíduo está desnutrido ou sob efeito de medicamento, suprimindo a secreção ácida. A RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001, da Anvisa, estabelece o padrão microbiológico sanitário para alimentos, indicando a tolerância máxima para a presença de micro‑organismos por tipo de alimento. Essa informação é utilizada para fins de fiscalização dos serviços de alimentação e considera os seguintes aspectos: • Produtos em condições sanitárias satisfatórias: são aqueles cujos resultados analíticos estão abaixo ou são iguais aos fixados. • Produtos em condições sanitárias insatisfatórias: possuem resultados analíticos acima dos limites estipulados ou demonstram a presença ou a quantificação de outros micro‑organismos patogênicos ou toxinas que representem risco à saúde do consumidor. Quadro 13 – Efeitos que a contaminação biológica de alimentos causa no organismo humano Infecção Ingestão de alimento contaminado por micro‑organismo. Intoxicação Ingestão de alimento contaminado pela toxina do micro‑organismo. Toxinfecção Ingestão de alimento contaminado por micro‑organismo patogênico que libera toxina no organismo humano. Adaptado de: Tortora, Funke e Case (2000). Como o principal risco biológico é representado pelos micro‑organismos, é fundamental considerar que eles são provenientes de vias diversas, desde o ar e o solo até o manipulador de alimentos. Então, a fim de evitar o perigo biológico, é indispensável a adoção de todas as diretrizes de BPF, além de treinamentos, qualificação de fornecedores e qualidade da matéria‑prima. 93 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Observação A área de microbiologia de alimentos também engloba o estudo de micro‑organismos importantes e desejáveis, por exemplo, para a produção de alimentos como iogurte, cerveja, queijo e pães. Tabela 10 – Resumo das características dos micro‑organismos Micro‑organismo Característica Fontes Doenças Sintomas Período de incubação Tratamento Prevenção S. aureus — Anaeróbio facultativo. — Temperatura ótima: 30 a 37 ºC. Cavidades nasais e pele de pessoas e animais. Intoxicação estafilocócica por toxinas termorresistentes. Náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese, prostração e diarreia. 2 a 6 horas. É autolimitada, mas é preciso ingerir bastante líquido por causa dos vômitos. Rigorosas medidas de higiene durante a manipulação dos alimentos. Bacillus cereus — Mesófilos (crescem a 36 ºC). — Formadores de esporos. Estão presentes no meio ambiente. Alimentos (de origem animal, grãos, vegetais etc.). Síndrome diarreica. Diarreia intensa e dores abdominais, com vômito raro. 8 a 16 horas. Ingestão de líquidos constantemente. Não é necessária a ingestão de medicamentos. — Ingestão de alimentos bem cozidos. — Boas Práticas de Higiene.Síndrome emética. Náuseas e vômitos. 30 minutos a 5 horas. Listeria monocytogenes — Temperatura ótima: 30 e 37 ºC. — pH entre 4,3 e 9,6. — Toleram até 25,5% de cloreto de sódio. Ambiente: esgoto, solo, fertilizantes e água. Alimento: leite, queijos, embutidos, carnes e vegetais crus. Listeriose. Tecidos inflamados com pequenas lesões e necroses localizadas. – – — Prevenção da entrada do micro‑organismo. — Controle da matéria‑prima. — Evitar a contaminação cruzada. — Controle de qualidade: ambiente e pessoal. Clostridium sp — Formam esporos. — Vivem em solo, água, intestino do homem e em animais. Enlatados, produtos cárneos, embutidos etc. – – – – Clostridium perfringens — pH ótimo: 7,2 (5,5 – 9,0). — Aw mínima: 0,93. — Temperatura ótima: 43 a 47 ºC (12 – 50 ºC). — Morrem rapidamente: 0 a 10 ºC. — Geração: 10 minutos a 45 ºC. — Esporos resistentes ao cozimento D90 ºC entre 15 e 145 minutos. — Ingestão de alimentos com grande quantidade de bactérias, sobretudo carne bovina, suína e de frango. — Preparo é termicamente inadequado, e os esporos sobrevivem. — Com armazenamento inadequado, pode ocorrer um aumento do número de bactérias. Intoxicação alimentar causada pela toxina tipo A. — Dores abdominais e agudas. — Diarreias com náuseas e febre. — Vômitos raros. 8 a 12 horas. – — Aquecimento do alimento em 60 ºC. — Cozinhar bem os alimentos, principalmente carnes, antes de consumi‑las, pois alguns C. perfringens resistem à temperatura elevada. Enterite necrótica causada pela toxina tipo C. — Dores abdominais agudas e intensas. — Diarreias sanguinolentas. — Alguns episódios de vômito. — Inflamação do intestino delgado. 94 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III Clostridium botulinum Esporulados — Conservas de baixa acidez, batatas assadas em papel‑alumínio. — Conservas de peixes. — Feridas e esporos que germinam no intestino e produzem a doença. — Botulismo. — Toxinas A, B, E e F causam doenças no homem. — Doença neurológica. — Pode levar à morte. — Afeta o sistema nervoso central. 18 a 36 horas. Contudo, aparecem em 6 horas ou após 10 dias. – – Cromobacter sakazakii — Temperatura ótima: 40 ºC. — Alimentos com baixa Aw, carne moída, embutido, hortaliças. — Fórmulas lácteas desidratadas. — Utensílios: liquidificadores e escovas de limpar mamadeira em lactários. — Meningite (inflamação das meninges). — Choque séptico. — Bacilo contamina o corpo todo. — Bacteriemia (bactéria no sangue). – – – — Evitar contaminação cruzada. — Treinamento de lactaristas. — Higiene dos lactários e locais de preparo das fórmulas. — Evitar armazenamento > 5 ºC. Vibrio cholerae — Temperatura ótima: 5 a 43 ºC. — pH ótimo: 5 a 11. Pescados e mariscos. Toxinfecção: toxina colérica (exotoxina) atua sobre as células epiteliais da mucosa intestinal. — Diarreia aquosa súbita sem vômitos ocasionais. — Desidratação e óbito. — Infecções assintomáticas. – – Reposição de líquidos (soros de reidratação oral). — Saneamento básico. — Higiene. — BPF. — Cocção adequada. — Controle da recontaminação. — Pessoas debilitadas: evitar o consumo de alimentos marinhos. Vibrio parahaemolyticus — Gastroenterites brandas. — Gastroenterites graves. — Diarreia, febre, calafrios, náusea vômitos e dor de cabeça. — Fezes sanguinolentas. 4 a 96 horas. – — Evitar consumo de alimentos marinho crus. — Aquecimento acima de 70 ºC. — BPF. Vibrio vulnificus — Invade e se multiplica na corrente sanguínea. — Maior taxa de mortalidade. — Febre, calafrio, náusea e hipotensão. 16 a 38 horas. – – Adaptado de: Trabulsi e Toledo (1998); Tortora, Funke e Case (2000). 6.3 Risco “Risco é a probabilidade de ocorrência de um perigo à saúde pública, de perda da qualidade de um produto ou alimento ou de sua integridade econômica” (BRASIL, 1998). Após a análise do perigo, que consiste na identificação e determinação de quais são os potenciais perigos (físico, químico e biológico) associados a uma matéria‑prima ou processo, uma análise de risco deve ser conduzida. Essa avaliação tem o objetivo de verificar a possibilidade de o perigo atingir níveis graves e prejudiciais à saúde; precisa ser realizada em todas as etapas do processo, desde o recebimento de matéria‑prima até a distribuição. As medidas de controle, que visam ao monitoramento constante das situações nas quais ocorre o perigo, também fazem parte da análise do risco. Para obter um produto de 95 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS qualidade, é fundamental que a conclusão da análise de risco indique que o perigo será reduzido a níveis aceitáveis ou está eliminado.A metodologia e ferramenta completa para essas atividades chama‑se APPCC. Saiba mais A ISO 9001/2015 traz os requisitos para a organização entender seu contexto e determinar seus riscos visando à satisfação do cliente. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 9001: sistemas de gestão da qualidade: requisitos. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=345041>. Acesso em: 19 dez. 2017. 6.4 Doença Transmitida por Alimentos (DTA) A DTA é representada por debilitações do organismo em razão da ingestão de alimentos ou água contaminada por “bactérias, vírus, parasitas, toxinas, príons, agrotóxicos, produtos químicos e metais pesados” (BRASIL, 2017c). 30% 17%16% 19% 8% 7% 3% Diarreia Dor abdominal Vômitos Cefaleia Outros Náuseas Febre Neurológicos (0%) Figura 13 – Sintomas de DTAs (2007 a maio de 2017) Como vimos, os sintomas variam conforme o contaminante (agente etiológico) envolvido, podendo ser desde distúrbio no sistema gastrointestinal até manifestações no sistema urinário e no sistema nervoso. Brasil (2017c) destaca outros sintomas: • anorexia; • náuseas; • vômitos; 96 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III • diarreia; • febre; • afecções nos rins – insuficiência renal aguda; • afecções no fígado; • afecções no sistema nervoso central; • desidratação grave; • diarreia sanguinolenta. É vital destacar que o “surto alimentar é caracterizado como episódio em que duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sinais/sintomas após ingerir alimentos e/ou água da mesma origem” (BRASIL, 2017c). O Brasil iniciou a vigilância dos surtos alimentares em 1999, porém apenas em 2016 regulamentou‑se a obrigatoriedade da notificação das ocorrências para os serviços de saúde. Qualquer cidadão pode notificar, por telefone, correio eletrônico ou pessoalmente o setor municipal de saúde responsável pela vigilância epidemiológica. O histórico de dez anos de ocorrência (gráfico a seguir) mostra que o ano de 2011 foi o que mais indicou surtos, com o total de 17.884 pessoas doentes; os agentes etiológicos que aparecem com maior frequência são as bactérias patogênicas Salmonella, E. coli, B. cereus, S. aureus e C. perfringens. De 2009 até hoje, a região Sudeste lidera o ranking, apresentando em todos os anos o maior número de notificações de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. Na sequência, aparece a região Sul (BRASIL, 2017c). 2007 683 11.635 2008 641 8.736 2009 594 9.407 2010 498 8.628 2011 795 17.884 2012 863 14.670 2013 861 17.455 2014 886 15.700 2015 673 10.676 2016 543 9.907 2017 133 2.014 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Do en te s N º d e su rt os Surtos Doentes Figura 14 – Histórico de surtos alimentares (de 2007 a maio de 2017) 97 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS 28% E. coli 27% Salmonella 22% S. aureus 10% B. cereus 7% Coliformes 6% C . perfringens Figura 15 – Bactérias causadoras de DTA (de 2007 a maio de 2017) Qualquer esquema terapêutico para tratamento deve ser conduzido ou supervisionado por médicos. O tempo de duração da manifestação dos sintomas nos indivíduos pode variar de acordo com o período que o agente etiológico permanece incubado no organismo e também conforme as seguintes características do indivíduo (BRASIL, 2010b): • estado de saúde; • faixa etária; • estado nutricional; • o número ou quantidade do agente de DTA específico; • a quantidade ingerida; • virulência/patogenicidade do agente. 98 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III 500 400 300 200 100 450 350 250 150 50 0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Ano Su rt os 2013 2014 2015 2016 2017 Centro‑Oeste NorteNordeste Sudeste Sul Figura 16 – Surtos de DTA por região (de 2007 a maio de 2017) “A deficiência no controle da qualidade sanitária em qualquer uma das etapas da ‘cadeia alimentar’ é um fator predisponente à ocorrência de casos ou surtos de DTA” (BRASIL, 2010b). Com isso, os métodos e cuidados para a adequada manipulação de alimentos devem ser conhecidos e adotados pelos gestores e manipuladores das áreas alimentícias. 6.5 Contaminação cruzada É o termo usado para designar casos em que contaminantes físicos, químicos ou biológicos são transferidos entre locais e/ou materiais. Tal ocorrência muitas vezes é inesperada ou realizada sem desconfiança de que seja um risco. Durante a preparação dos alimentos, devem ser adotadas medidas a fim de minimizar o risco de contaminação cruzada. Deve‑se evitar o contato direto ou indireto entre alimentos crus, semipreparados e prontos para o consumo (BRASIL, 1997). É preciso avaliar e determinar as medidas necessárias para os possíveis e eventuais cruzamentos. O cruzamento pode estar associado ou ser intrínseco às medidas de controle, levando à falsa consideração de que não se trata de um risco. O cruzamento também pode ocorrer devido à falha operacional na execução de procedimento. Em todos os casos, é preciso definir medidas corretivas pertinentes para eventuais desvios a serem regularizados, evitando a possibilidade de o contaminante aderir ao alimento – no produto final, nas matérias‑primas ou nas embalagens. Elencamos a seguir algumas medidas para prevenir a ocorrência de contaminação cruzada: • É vital criar a distinção física e conceitual das áreas de acordo com a criticidade, por exemplo, estabelecer “área suja” e “área limpa” ou “área de limpeza” e “área de processo” (BRASIL, 1997). 99 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS • Os manipuladores que manuseiam matérias‑primas consideradas “sujas” não devem manipular em seguida e diretamente os produtos acabados e semiacabados, a menos que troquem o uniforme e higienizem as mãos. Se existir possibilidade de contaminação, as mãos devem ser cuidadosamente lavadas entre uma e outra manipulação de produtos nas diversas fases do processo. [...] Equipamento e utensílios que tenham entrado em contato com matérias‑primas ou com material contaminado devem ser limpos e desinfetados cuidadosamente antes de serem utilizados para entrar em contato com produtos acabados (BRASIL, 1997). Quadro 14 – Fatores de risco e alimentos suscetíveis à contaminação bacteriana Agente etiológico Alimentos Fatores de risco E. coli (enterotoxigênica, enteroinvasiva) O157:H7 Carne bovina mal cozida e leite cru. 1. Cocção inadequada dos alimentos. 2. Manipulação de alimentos por pessoas infectadas. 3. Água contaminada para lavagem e preparo dos alimentos. 4. Refrigeração insuficiente. Salmonella (S. enteritidis, S. tiphymurium) Carne bovina e suína, aves e seus produtos. Produtos à base de ovos crus e outros alimentos contaminados. 1. Refrigeração insuficiente. 2. Armazenamento de alimentos a temperaturas elevadas. 3. Cocção e reaquecimento inapropriados. 4. Preparo de alimentos várias horas antes de servi‑los. 5. Contaminação cruzada. 6. Falta de limpeza da equipe. 7. Trabalhadores infectados que manipulam alimentos cozidos. 8. Alimentos de fontes contaminadas. Toxina S. aureus Bolos e similares com recheio e cobertura. Produtos de confeitaria, doces e salgados, tortas salgadas, massas salgadas com recheio e/ou cobertura, carne moída, presunto etc. 1. Refrigeração deficiente. 2. Manipulação inadequada. 3. Preparo de alimentos várias horas antes do consumo. 4. Manipulação de alimentos em temperaturas elevadas. 5. Manipuladores com infecções purulentas. 100 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III Toxina B. cereus Produtosde cereais, arroz, molhos, almôndegas de carne e outros alimentos contaminados. 1. Refrigeração deficiente. 2. Manipulação inadequada. 3. Preparo de alimentos várias horas antes do consumo. 4. Manipulação de alimentos em temperaturas elevadas. 5. Reaquecimento inadequado de restos de alimentos. Toxina C. perfringens Carne cozida de bovino, ave ou de suínos, caldos, molhos e sopas. 1. Refrigeração deficiente. 2. Manipulação inadequada. 3. Preparo de alimentos várias horas antes do consumo. 4. Manutenção de alimentos em temperaturas elevadas. 5. Reaquecimento inadequado de restos de alimentos. Adaptado de: Brasil (2010b). Quadro 15 – Potenciais riscos de contaminação cruzada (O quê) Potencial fonte de contaminação cruzada (Quando) Situações com risco de contaminação Equipamentos Quando mal higienizados. Quando contiverem resíduos de graxa. Água Quando não possuir potabilidade comprovada e for usada na forma de gelo, vapor ou diretamente sobre o alimento. Iluminação Quando lâmpadas quebram sobre o alimento. Veículos de transporte Quando a temperatura de transporte não for controlada. Embalagem Soltar resíduos ou substâncias tóxicas. Colaborador Não cumprir conduta de higiene. Higienização Se feita incompletamente ou se deixar resíduos de produtos químicos. Superfícies de contato com alimento Quando for rugosa ou porosa, acumular sujidade e for de difícil limpeza. Corrimão de escada Quando a higienização não contemplar sua limpeza e os manipuladores tocarem o corrimão e a seguir tocarem o alimento. Fluxograma Quando houver cruzamento indevido na linha de produção, transporte ou acúmulo de lixo próximo do alimento. Ar Quando o fluxo de ar da rua incidir diretamente sobre o alimento. Processo Em caso de utilização de óleo contaminado por repetidos usos. Armazenamento Quando descoberto ou sem controle de temperatura. Matéria‑prima Quando estiver imprópria para consumo ou não estiver dentro do padrão de qualidade estabelecido. Lixo Quando estiver acumulado e cair sobre o alimento. Controle de pragas Quando resíduo de produto químico estiver em contato com equipamentos e passar para o alimento. 101 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Resumo Vimos que a gestão da qualidade e da segurança de alimento se dá por meio de dois fatores básicos: conhecimento e conhecedor. Este último é o profissional que detém o conhecimento e pode transformá‑lo em ação eficaz, de modo a diferenciar a organização onde atua e também multiplicar e formar opiniões. Nesta unidade, acentuamos que as técnicas alimentares e os princípios de segurança de alimentos buscam amparar as funções que devem ser exercidas pelo profissional de gastronomia, que invariavelmente dependerá de visão estratégica e capacidade de análise para resolver problemas e atingir a satisfação de todos os envolvidos. As técnicas dietéticas, como indicador de partes comestíveis, fator de correção, índice de cocção, métodos para conservação e preparação de alimentos, além dos conceitos de dietoterapia e gastronomia hospitalar, são ferramentas que certamente vão auxiliar esses profissionais na execução de diversas funções do dia a dia. A origem e o propósito da segurança de alimentos são entendidos como a proteção do consumidor. Esta inicia‑se a partir de um cuidadoso preparo de alimentos, e todas as atividades existentes no processo são realizadas para garantir o aporte nutricional, evitar a veiculação de contaminantes através do alimento e preservar a saúde dos consumidores. Finalmente, estudamos que a gestão da qualidade e da segurança visa contribuir com os objetivos da organização por meio de ações que atendam aos custos e orçamentos planejados, bem como medidas para cumprir com a segurança alimentar e nutricional. Exercícios Questão 1. (Enade 2015) O cardápio é a ferramenta que inicia todo o processo produtivo em um restaurante ou similar. Por isso, deve ser planejado desde o início da abertura do restaurante. A partir dele é que se determinará o que será produzido, por quem, quando, em que quantidade, com que matérias‑ primas, com que equipamentos e quais serão os procedimentos. É importante ferramenta de venda e de controle de custos do restaurante e não pode ser elaborado sem conhecimento prévio dos tipos de serviços e de restaurantes, pois é a um desses tipos que o cardápio estará diretamente relacionado. VASCONCELLOS, F.; CAVALCANTI, E.; BARBOSA, M. L. Menu: como montar um cardápio eficiente. São Paulo: Roca, 2002 (adaptado). Considerando o exposto, no que se refere ao que deve ser levado em consideração na elaboração de um cardápio, avalie as regras a seguir. 102 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 Unidade III I. Combinar alimentos de cores iguais na mesma preparação. II. Conhecer as funções dos alimentos: emocional, de veículo de nutrientes, de estimulante do apetite e da saciedade e de agregador social. III. Combinar cores, sabores, texturas, formas, cortes, temperaturas e níveis de saciedade. IV. Utilizar novas tecnologias culinárias e matérias‑primas. V. Utilizar alimentos e formas de cocção semelhantes. É correto apenas o que se afirma em A) III e V. B) I, II e IV. C) I, III e V. D) II, III e IV. E) I, II, IV e V. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I) Afirmativa incorreta. Justificativa: cada preparação tem características próprias que podem conferir uma coloração padrão, contudo é obtida com a utilização de diversos ingredientes, de cores, texturas, sabores e odores muitas vezes diferentes, mas complementares. II) Afirmativa correta. Justificativa: na montagem de um cardápio, os alimentos devem ser considerados em toda a sua complexidade. III) Afirmativa correta. Justificativa: esses aspectos são importantes para conferir ao cardápio determinadas características que possam atender a um público variado e cada vez mais exigente. 103 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : L uc as /J ef fe rs on - 0 2/ 01 /1 8 NUTRIÇÃO E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS IV) Afirmativa correta. Justificativa: as novas tecnologias e outros tipos de matérias‑primas são necessárias às cozinhas profissionais modernas, de modo a oferecer novas experiências aos consumidores, com segurança. V) Afirmativa incorreta. Justificativa: alimentos e formas de cocção semelhantes podem conferir monotonia às preparações e menor valor nutricional e sensorial. Questão 2. (Enade 2016) O número de passageiros de avião em rotas nacionais no Brasil aumentou 170% entre os anos de 2004 e 2014. Consequentemente, os serviços de catering aéreo também aumentaram consideravelmente, o que exigiu das empresas responsáveis pela produção das refeições servidas nos aviões investimentos em modernos sistemas de controle de qualidade na produção. Além da aquisição de gêneros alimentícios de qualidade e boa procedência e do controle rigoroso no recebimento e armazenamento de insumos, o planejamento criterioso do cardápio é um dos pontos fundamentais para se garantir a qualidade sensorial, nutricional e sanitária das refeições produzidas pelos serviços de catering aéreo. MENDONÇA, R. T. Cardápios técnicas e planejamento. Rio de Janeiro: Rubio, 2014 (adaptado). Considerando esse contexto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. Além das alterações nutricionais, microbiológicas e sensoriais que podem ocorrer nas refeições transportadas, a elaboração de um cardápio para o serviço de catering aéreo exige atenção redobrada quanto à utilização de alimentos indigestos. PORQUE II. A pressurização dos aviões potencializa o efeito de alguns alimentos de difícil digestão, podendo causar desconfortos gastrointestinais em quem os consome. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativacorreta da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Resolução desta questão na plataforma.
Compartilhar