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1 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S 2 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S 3 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Gildenor Silva Fonseca PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S 6 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Flávia Cristina Soares 7 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade possui como principal objetivo apresentar as dis- cussões sociológicas e antropológicas que permeiam a cultura, enfati- zando o etnocentrismo, o relativismo cultural, a identidade e a socieda- de de consumo. No primeiro capítulo, veremos discussões a respeito de aspectos culturais contemporâneos, com um breve recorte de ten- dências históricas. No segundo capítulo, será possível observar como se dão as relações sociais na pós-modernidade. No terceiro capítulo, veremos sobre representações sociais através dos movimentos sociais. Os três capítulos se relacionam na medida em que os argumentos so- bre as relações sociais na pós-modernidade, a divisão social do traba- lho, as classes sociais e a desigualdade social serão explicitadas com o objetivo de demonstrar como se consolidam as relações no mundo moderno. Para tanto, foi realizada uma pesquisa a partir dos principais teóricos da sociologia e antropologia, visto que é de suma importância compreender como se deu o processo de transição entre as sociedades tradicionais e as modernas. Assim sendo, pode-se concluir que, apesar dos mais diferentes estudos abordados nesta unidade, é necessário sa- ber identificar os acontecimentos primordiais que caracterizam a pós- -modernidade. Cultura. Relações sociais. Nova ordem social. Movimentos sociais. 9 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 DAS INVESTIGAÇÕES SOBRE CULTURA AOS ASPECTOS CULTURAIS CONTEMPORÂNEOS Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 12 16 21 15 19 24 27 O que é Cultura? _______________________________________________ O conceito de Identidade ______________________________________ A modernidade tardia e a Identidade Nacional __________________ Relativismo Cultural ___________________________________________ Hall e a Identidade em constante mudança _____________________ A Sociedade de Consumo ______________________________________ Recapitulando _________________________________________________ CAPÍTULO 02 RELAÇÕES SOCIAIS NA PÓS-MODERNIDADE Relações Sociais na Pós-modernidade: as formas de distinção social __________________________________________________________ Etnocentrismo _________________________________________________ Identidade na Modernidade Líquida ____________________________ Cultura do Consumo ___________________________________________ A Sociedade Pós-industrial _____________________________________ 33 14 17 22 25 10 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 03 MOVIMENTOS SOCIAIS E A NOVA ORDEM SOCIAL Os Direitos Universais e a Organização da Sociedade a partir do Básico _________________________________________________________ Relações sociais na pós-modernidade: a divisão social do trabalho A Importância dos Movimentos Sociais para a Sociedade Demo- crática _________________________________________________________ Relações Sociais na Pós-modernidade: o modo de vida burguês como ideal de civilidade ________________________________________ A Agenda dos Movimentos Sociais a partir dos Direitos Básicos __ Movimentos sociais como reação à dinâmica global: a Batalha de Seattle _________________________________________________________ Fechando a Unidade ___________________________________________ Conceitos de Classe Social e Estratificação Social _______________ As Estruturas Sociais e o Racismo ______________________________ A Acumulação de Capitais e o Novo Imperialismo _______________ Recapitulando _________________________________________________ Movimentos Sociais Contemporâneos __________________________ Referências ____________________________________________________ Minorias Sociais ________________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 54 36 53 34 55 58 77 41 44 56 70 59 80 43 47 11 A SP E C TO SSO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Muito embora esta unidade apresente as discussões sociológi- cas e antropológicas que permeiam a cultura, além de explicitar sobre as relações e os movimentos sociais na pós-modernidade, é possível observar uma série de nuances que perpassam tais conceitos. Em re- lação à cultura, destaca-se que os estudos de Branislaw Malinowski e de Clifford Geertz se fazem necessários, uma vez que o etnocentrismo e o relativismo cultural são de fundamental importância para que se construa um olhar crítico no que se refere aos diversos estilos de vida construídos pelos indivíduos que compõem a sociedade. É a partir da cultura que as pessoas constituem a sua identidade social. Por outro lado, Stuart Hall destaca que as identidades na pós-modernidade estão em constante transformação e mudança. De outra forma, nota-se que as relações sociais nas socieda- des tradicionais se consolidaram através de papéis sociais engessados. Cita-se como exemplo a família patriarcal em que o homem era respon- sável pelo trabalho e a mulher pelos cuidados da casa e dos filhos. Na contemporaneidade, os papéis são negociados e percebemos a inser- ção da mulher no mercado de trabalho e a divisão de tarefas domés- ticas com os homens. Essa perspectiva ainda está se transformando, dado que os direitos das mulheres e a igualdade em termos salariais ainda são objetos das lutas sociais. Partindo desse princípio, assistimos uma série de movimentos sociais nos últimos anos em que os diferentes estratos sociais contestam e lutam pelos seus direitos. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha, o feminicídio e as cotas raciais são exemplos claros das consequências das lutas dos movimentos sociais. Por último, destacam-se os últimos acontecimentos no Brasil e no Mundo (Jornadas de Junho e Primavera Árabe) como contestações políticas e econômicas na perspectiva de primar por uma ordem demo- crática e destituir as relações pautadas no poder, prestígio social e no acúmulo de capital. Esperamos que vocês possam adquirir os conhecimentos ne- cessários para a atuação profissional e não se esqueçam de assistir aos vídeos e ler as referências citadas ao longo desta unidade. Bons estudos! 12 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S O QUE É CULTURA? De acordo com o antropólogo polonês Bronislaw Malinowsky (1884-1942), a cultura é um processo social, não biológico, resultante da aprendizagem e dos processos de socialização. São bens, proces- sos técnicos, hábitos e valores herdados e cada sociedade transmite às novas gerações, o cumulativo do patrimônio cultural que recebeu de seus antepassados. Assim, segundo a teoria de Malinowsky, a cultura é também uma espécie de herança social. Cultura não é apenas o que reconhece- mos como manifestação cultural em nossa limitada visão de sociedade. Nas sociedades em que a língua escrita não é a principal forma de co- municação, a transmissão de valores e práticas culturais se dá através DAS INVESTIGAÇÕES SOBRE CULTURA AOS ASPECTOS CULTURAIS CONTEM- PORÂNEOS A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S 13 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S da oralidade, da convivência em família ou mesmo da convivência com grupos de adultos. Já nas sociedades em que há estruturação de sistemas de en- sino, através da escola, essas instituições se encarregam de completar a transmissão da cultura iniciada na família e em outros grupos sociais. Nesse caso, há uma verticalização e um planejamento sistemático da cultura, que obedece ao modelo estabelecido e padronizado. O conceito de cultura na antropologia tem outras formas de compreensão, por exemplo, em Geertz (1978) temos que a construção teórica de que é necessário compreender a cultura em seu contexto de acordo com seus povos dentro das normalidades estabelecidas, sem reduzir a aspectos particulares da realidade. A cultura humana é um conjunto de textos a qual o antropólogo deve saber ler sobre os ombros daqueles a quem esta cultura pertence (GEERTZ, 2008). Nesse senti- do, destacamos os estudos de Clifford Geertz sobre a cultura. A figura 1 ilustra o autor em seu escritório. Figura 1 – Clifford Geertz Fonte: Medium, 2020. 14 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Ao longo dos últimos séculos, podemos citar vários autores da antropologia que apresentaram seu terreno teórico, diferentes formas pelas quais entendiam a cultura. O estudo e as reflexões sistemáticas sobre o conceito de cultura só começaram a ganhar mais importância quando a Antropologia surgiu como área de conhecimento, basicamen- te a partir do século XVIII. A consolidação da antropologia como um sistema de conheci- mentos gera novas formas e temas de pesquisas. Inicialmente, os an- tropólogos buscam estabelecer o conhecimento a partir de leis gerais para interpretação e descrição da cultura. Sendo assim, nesse primeiro momento, o conceito de cultura tinha como referência o modelo de civi- lização ao qual os antropólogos estavam inseridos, ou seja, a medição era pela régua moral dos teóricos. Leia “Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos baline- sa” de Clifford Geertz para aprender sobre as várias nuances de cultu- ras em seu âmbito particular e com toda sua complexidade dentro de sistemas simbólicos específicos. O autor analisa uma prática cultural de Bali onde a briga de galos, apesar de proibida, é uma espécie de espor- te local. Além disso, a partir da briga de galos, Geertz consegue fazer uma leitura da sociedade balinesa que se comunica a partir de expres- sões comuns no esporte. A Briga de Galos analisada por Geertz exerce um papel simbólico na construção da realidade, influenciando inclusive na estruturação da própria sociedade balinesa. Assim sendo, entender a briga de galos é entender Bali. GEERTZ, C. Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa. In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978b. ETNOCENTRISMO A partir das reflexões sobre o trabalho de Geertz, a geração posterior de antropólogos entendeu que o que foi feito com o conceito de cultura gerava assimetrias e julgamentos em termos de sociedades mais desenvolvidas ou menos desenvolvidas. A partir dessa discussão 15 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S surge o conceito de etnocentrismo, que pode ser entendido como uma visão preconceituosa e limitada sobre outros povos, culturas e etnias (geralmente, povos não europeus). Através do contato com outras situações sociais, o hábito de julgar como inferior uma cultura diferente da sua foi considerado absur- do pelos pesquisadores. Em alguns casos, a antropologia foi denomi- nada de ferramenta de “colonização cultural”, onde os povos eram sub- jugados por outros, considerando o nível de desenvolvimento cultural. O etnocentrismo é uma tendência a observar o mundo através da perspectiva particular do povo e da cultura a que se pertence. Isto quer dizer que fomentou muitas relações entre grupos sociais, povos e até mesmo países, conforme observamos na história da humanidade. Com isso, uma visão unilateral e colonizadora tem consequências de- sastrosas, afetando as relações sociais em vários níveis, desrespeitan- do princípios fundamentais como os direitos humanos e perpetuando práticas como a xenofobia, a homofobia, o racismo, a discriminação, a segregação, o desrespeito, entre outras que visam à uniformização de populações à morte das diferenças. RELATIVISMO CULTURAL Coube às gerações posteriores de antropólogos entender que não há formas de culturas corretas, mas sim manifestações culturais diversas de acordo com os contextos. As ideias etnocêntricas foram substituídaspelo “relativismo cultural”, que tende a olhar para as dife- renças e peculiaridades das outras culturas e reconhecê-las como tão legítimas quanto a sua própria. Aqui nos aproximamos de um conceito fundamental para a discussão sobre a cultura e processos de formação de identidade, o conceito de alteridade nos conduz a pensar o ser humano em constante relação com o outro, ou seja, o “eu” só é possível de ser compreendido a partir da relação com o “outro”. Cabe destacar que o objetivo do conceito de alteridade é, entre outros pontos, evitar que as narrativas dos colonizadores destruam ou 16 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S diminuam as culturas dos outros. Se há um entendimento que as pes- soas são singulares como eu sou, preciso entender que estas pessoas têm o direito de exercer sua própria individualidade e sua própria cultu- ra, seja em caso de grupos sociais antigos, tribos, diferentes gerações e outras situações sociais que compõem a nossa sociedade plural. A ideia de sociedade plural vem da noção de que as pessoas com diferentes identidades, etnias, interesses convivem em liberdade em um contexto onde seus conflitos são resolvidos dentro dos limites de um ordenamento jurídico comum, refletindo a noção de justiça e a garantia de direitos fundamentais dos indivíduos. Leia o livro “Entre nós: Ensaios sobre a alteridade” escrito por Emanuel Lévinas. O autor considera que a alteridade se baseia na constante constatação das diferenças que se estabelecem entre o eu e o outro. A partir dessas diferenças, o eu passa a conferir ao outro uma existência como sujeito (com desejos, sonhos, vontades, necessidades assim como o eu), de modo que ele não se constitua num objeto para mim. A partir do momento em que atribuo esse significado ao outro, esse é o processo de alteridade. Isso quer dizer sobre a possibilidade de conviver com o que é diferente, reconhecer seus direitos e cooperar para o bem-estar comum. LEVINAS, Emmanuel. Entre nós: Ensaios sobre a alteridade. Trad. Pergentino Stefano Pivatto (Coord.), 2ª ed., Petrópolis: Editora Vozes, 2005. O CONCEITO DE IDENTIDADE Definir o conceito de identidade com base nas centenas de pesquisadores das áreas de sociologia e antropologia é uma enorme missão, que deve considerar alguns fatores tal como a cultura, a his- tória, o local e o idioma, que são determinantes para que possamos entender como um grupo compartilha elementos identitários. Dessa forma, retomamos dois autores que têm grande alcance nas áreas das ciências humanas como um todo, trata-se de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês que se preocupa com o tema focalizando o que denomina de modernidade líquida, e do inglês Stuart Hall, também 17 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S sociólogo, que estuda as construções de identidades culturais da pers- pectiva da pós-modernidade e contemporaneidade. Em comum, além da notoriedade e o alcance de suas obras, os autores escolhidos têm a perspectiva da identidade em processo, em constante reformulação, tendo como ponto de partida os processos de socialização, mas com reformulações a partir das relações sociais as quais os sujeitos estão inseridos, para Bauman, a existência de for- mas diferentes de identidades só é possível a partir das intenções de segregação e de inclusão. Aqui, vemos uma luta entre fragmentação e dissolução de identidades que se misturam e se complementam. Hall complementa essa discussão, trazendo elementos que ele chama de paisagens culturais, como classe, gênero, sexualidade, etnia, raça, na- cionalidade e até mesmo trabalho, que, em décadas e séculos anterio- res, eram fatores definitivos das identidades e na contemporaneidade são apenas elementos de sujeitos integrados de formas diferentes a todas essas paisagens. IDENTIDADE NA MODERNIDADE LÍQUIDA A definição de identidade para Bauman (2005) se dá a partir da autodeterminação em relação às comunidades de pares sociais. Para este autor, há duas variedades de comunidades: as chamadas “de vida e destino”, que são aquelas que conduzem seus membros a viverem juntos em uma ligação absoluta, e as comunidades de ideias, que são formadas a partir dos princípios. Para Bauman, no contexto da modernidade líquida, a identida- de deixa de ser algo ditado, é determinada pela sociedade e torna-se uma missão do indivíduo elaborar sua própria identidade. O indivíduo é sujeito de suas decisões, sendo um agente social responsável pela sua autocriação a partir dos acessos e opções que vivenciou em sociedade. Para muitas pessoas, é necessário controlar o peso, pintar os cabelos grisalhos, tirar a barba ou realizar depilação, são aspectos da identidade a partir do que a sociedade disponibiliza e o indivíduo usa para remontar sua própria identidade, unindo aspectos físicos, mentais, psicológicos, econômicos e espirituais de forma a manter-se em segu- rança e confiante. A autodeterminação é um processo constante, mais potente em sociedades de acordo com seu grau de modernidade e acesso dos indivíduos a informações e a cultura de massa, formas pelas quais a sociedade moderna baseada na liquidez das relações alcança o grau máximo de intensidade. 18 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S A questão da identidade é mais presente nas comunidades do segundo tipo, onde há a presença de diferentes ideias e, em conse- quência, há também a crença na necessidade de escolhas continua- mente alinhadas a essas ideias. Na modernidade líquida, as identida- des se revelam a partir de esforços, de objetivos e de construções. Os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘res- pingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, ‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’, são ‘filtra- dos’, ‘destilados’; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos - contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. [...] Associamos ‘leveza’ ou ‘ausência de peso’ à mobilidade e à inconstância: sabemos pela prática que quanto mais leves viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos (Bauman, 2001, p. 8). Bauman afirma que esse processo é constante e nunca será concluído, já que há uma infinidade de identidades à escolha, e outras ainda para serem inventadas (Bauman, 2005). Na próxima figura, visua- liza-se uma variedade de livros escritos pelo autor sobre a modernidade líquida. Figura 2 – Livros de Zygmund Bauman Fonte: Escola trabalho e vida, 2011. A partir dessa concepção sociológica, a identidade é o que preenche o espaço entre o nosso interior e o nosso exterior, ou seja, en- tre o que podemos chamar de mundo pessoal e mundo público. Bauman destaca que projetamos em nós mesmos identidades e expectativas, a partir das bases culturais as quais estamos inseridos. Se retomarmos o exemplo da sociedade balinesa estudada por Geertz, a identidade cultural é estritamente relacionada à briga de galos, assim como na so- ciedade brasileira podemos estabelecer relações com o futebol. Essa identidade cultural faz parte de nós e contribui para alinhar subjetividades, sentimentos, linguagens, lugares e objetivos que plane- 19 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S jamos em nosso mundo social, é a cultura que nos vincula às estruturas sociais conhecidas. É a identidade que cria estabilidade entre os com- portamentos e expectativas dos sujeitos em um mundo tão fluído. O conceito de modernidade líquida permeia toda a obra de Zygmunt Bauman, conhecido como um dos sociólogos mais lidos em todo o mundo. De acordo com Bauman (2001), a liquidez e volatilidade das relações seriam características que desorganizam todas as esferas da vida social, como o amor, a cultura, o trabalho, entre outros, tal qual se conhece até o presente momento. Os comportamentos se tornam mais rápidos efluidos, principalmente influenciados pelo capitalismo globalizado. HALL E A IDENTIDADE EM CONSTANTE MUDANÇA Como vimos em Bauman, o mundo do capitalismo globalizado está em constante mudança e, com isso, as identidades são fluidas e mutáveis. A globalização não afeta da mesma forma todos os lugares do mundo, com isso, temos a chamada modernidade tardia, um aspecto que caracteriza as modernas é a mudança constante, rápida e permanente. Nas sociedades tradicionais, o passado é admirado e retoma- do a todo o tempo, os símbolos são valorizados e ajudam a perpetuar a experiência de gerações. Para lidar com o tempo, as sociedades tra- dicionais entendem qualquer atividade ou experiência particular como uma na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes. As sociedades modernas são sociedades de mudança cons- tante, rápida e permanente. Esta é a principal referência de diferen- ciação conceitual entre as sociedades “tradicionais’’ e as “modernas’’. David Harvey descreve a modernidade como um rompimento impie- doso com toda e qualquer condição precedente, caracterizada por um processo sem fim de rupturas e fragmentações internas no seu próprio interior (HARVEY, 1989, p.12). A modernidade tardia é resultado de mu- danças estruturais e institucionais, da complexa e incompleta transição entre sociedades tradicionais e modernas. 20 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Por outro lado, Stuart Hall (2006) organiza esse debate sobre as várias concepções possíveis de identidade que se relacionam às visões de sujeito ao longo da história. A primeira tem a ver com o su- jeito do Iluminismo, que expressa uma visão individualista de sujeito, caracterizado principalmente pelo uso da razão e da consciência. Já a segunda concepção se refere à identidade do sujeito em relação à complexidade do mundo moderno, sendo esse sujeito constituído na relação com outras pessoas, cujo papel é de mediação da cultura. Essa concepção de sujeito se tornou clássica na Sociologia, visto que o su- jeito se constitui na interação com a sociedade, em um diálogo contínuo com os mundos interno e externo. Uma vez que a identidade muda de acordo com o contexto de resposta e representação, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida através dos elementos de sua caracterização. A identidade tornou-se politizada, a ser estabelecida em processos cons- tantes de comunicação. Por outro lado, as identidades podem inclusive ser contraditórias, nem mesmo quando nos referimos à identidade de classe social como uma categoria, podemos alinhar as mais diversas formas de identidades. As pessoas não se identificam mais com seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe, pois, na mo- dernidade, a classe não pode mais servir como um dispositivo agluti- nador ou uma categoria mobilizadora através da qual todos os variados interesses e todas as variadas identidades das pessoas possam ser representados. A partir dessa concepção clássica, vemos a noção de identi- dade cultural, a qual se associa a partir do conjunto de objetivos, sím- bolos e representações sociais. Assim sendo, as identidades variam de acordo com a história local e as construções sociais estabelecidas e as práticas religiosas. A identidade social e a identidade cultural são pro- cessos em construção ao longo do tempo e fazem parte da construção de identidade nacional (JUNIOR; PERUCELLI, 2019). Sempre que for realizada uma discussão sobre identidades, cabe questionar: a identidade é para quem? Para o grupo ou para os de fora do grupo? O conceito de identidade só faz sentido a partir da validação, uma vez que as análises sociais sobre identidades devem sempre considerar esse aspecto e pensar que as identidades só exis- tem quando há uma relação de reconhecimento e são reconhecidas pu- 21 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S blicamente desta forma. Processos de identificação, etnicidade, alteri- dade, diferença, fronteiras, conflitos, cultura e estilo de vida são apenas algumas possibilidades de apurarmos de uma melhor forma o debate sobre identidades. A MODERNIDADE TARDIA E A IDENTIDADE NACIONAL A formação de uma identidade nacional de um grupo deve-se ao reconhecimento recíproco dos padrões coletivos de comportamento e costumes. A cultura só existe enquanto memória coletiva da socieda- de, impossível a existência de uma cultura a partir apenas de relatos, ou mesmo o desenvolvimento individual e artificial de uma cultura de forma isolada. Por exemplo, se considerarmos os impactos produzidos na sociedade através dos meios de comunicação tais como a rádio e a televisão no início dos anos 30. Com o advento da indústria cultural, é possível observar claramente como uma manifestação cultural ba- seada em padrões coletivos de comportamento e costumes provocou modificação no estilo de conduta, atitudes, costumes e tendências das populações mundiais. Leia o livro Dialética do esclarecimento para se obter conheci- mento sobre como a indústria cultural engana uma quantidade signifi- cativa de pessoas. ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. Outra mudança importante nos processos de formação de identidade tem a ver com as comunicações por satélite e o posterior surgimento da internet que intensificaram tais mudanças, reduzindo as distâncias e conectando pessoas do mundo inteiro. Esse processo ficou conhecido como mundialização ou globalização. Para abordar com qualidade uma discussão sobre o Brasil e a identidade nacional, é necessário entender os processos de globaliza- ção e atentar-se a como o país absorveu de forma singular tais proces- 22 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S sos. No Brasil, temos uma sociedade plural com enorme diversidade cultural, são diversas culturas, tradições e, apesar de ter uma língua comum, os modos de se comunicar, vestir-se e suas crenças variam bastante na extensão territorial nacional. Se os meios de comunicação via satélite conduziram a mais um salto no sentido da modernidade, mais uma vez, as sociedades que tiveram a implantação tardia desses processos foram atravessadas por diferentes construções de identidade. As identidades estáveis do pas- sado são colocadas em perspectiva com o mundo de possibilidades de novas identidades. Mas, desta vez, presenciamos um diferente tipo de mudança estrutural no final do século XX. As antigas definições cultu- rais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que nos forneciam sólidas localizações como indivíduos sociais, estão em ruínas. Essas transformações afetam diretamente as nossas identida- des do ponto de vista interno, abalam as ideias que construímos acerca de nós como sujeitos integrados, uma vez que todas as estruturas de integração são colocadas em perspectiva. Para muitos estudiosos, principalmente da psicologia social, esse processo de perda de um “sentido de si” estável é chamado, algu- mas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Uma vez que há um constante deslocamento, tanto dos lugares sociais, como de si mesmos, constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo. CULTURA DO CONSUMO O aprendizado sobre culturas é uma prática comum e neces- sária para o conhecimento do outro e para conhecimento do eu. A partir das consolidações de disciplinas como antropologia, filosofia e as ciên- cias humanas em geral, podemos aprender sobre as nações passadas e as mais diversas formas de relações, subsidiando informações sobre como devemos pensar o mundo atual. A partir dos processos de globa- lização, além de conhecer em teoria as culturas, foi possível também conhecer e vivenciar hábitos e cotidianos de povos e grupos até entãodesconhecidos. Conforme foi discutido nos tópicos anteriores, a globalização mudou a velocidade e a forma das relações humanas. Além disso, in- fluenciou diretamente nossas formas de pensar e agir, algumas rela- ções sociais passaram a ser mediadas e até mesmo a organização so- cial passou a ser diretamente afetada pelo acesso que temos a bens de consumo em geral. 23 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Quando o acesso a bens de consumo também passa a orga- nizar a sociedade, temos o que convencionalmente os sociólogos cha- mam de cultura do consumo. O conceito de cultura do consumo surge no final do século XVIII a partir dos estudos do sociólogo norte ameri- cano Don Slater (2002), do qual argumentou que o consumo é um pro- cesso de distinção e diferenciação social. Na figura 3, observamos uma pessoa com o desejo de adquirir diversos produtos. Figura 3 – Consumo Fonte: Oficina da criação. Em contextos de modernidade, liberdade e racionalidade, os indivíduos buscam no consumo reproduzir sistemas e ideias. De acordo com Slater (2002), antes mesmo da produção industrial e da participa- ção em massa no consumo, a cultura do consumo já estava presente em nossos meios sociais. Não sendo, assim, um efeito da moderniza- ção industrial e sim parte da própria consolidação do mundo moderno. O autor aponta que a cultura do consumo está diretamente as- sociada à modernidade. O mundo moderno se apresenta liberto de tra- dições, em que os sujeitos livres podem de maneira racional e científica vivenciar plenamente suas escolhas por causa da oferta abundante de possibilidades proporcionadas pela experiência do consumo que agre- ga e atribui significados ao consumidor. 24 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Há escolas teóricas, principalmente da área de marketing, que estudam diretamente o consumo com base em aspectos sociais e cul- turais, há também possibilidades de abordar essa temática pelo viés econômico ou mesmo psicológico. Em CANCLINI, Néstor G. Consumidores e Cidadãos: confli- tos multiculturais da globalização. 4ª ed., Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999. A SOCIEDADE DE CONSUMO A sociedade de consumo foi um termo cunhado por Baudrillard (2008), em que se refere às motivações para aquisição de determina- do produto, sem levar em conta as necessidades básicas, mas sim na relação de aquisição pelo significado dado ao produto pelo sujeito. Com isso, temos a modernização das relações de consumo, visto que é constituída por uma relação de símbolos que atribuem “valor” ao produ- to, não sendo mais um condicionante para a aquisição da utilidade, ou seja, o valor de uso. Baudrillard (2008) afirma que esse modelo de sociedade de consumo acontece em contextos de economia de mercado, em situa- ções de produções e consumos de massa, em que os capitais tenham livre circulação. A sociedade de consumo é a sociedade pós-moderna ou pós-industrial na qual vivenciamos o tempo dos objetos. Um exemplo dessa construção teórica é o fato de que, em civilizações anteriores, os objetos (monumentos e instrumentos) sobreviviam às gerações. Na sociedade pós-industrial, as organizações criam produtos e objetos com prazos limitados, visando ao seu consumo constante deno- minado de obsolescência planejada. Assista ao documentário “A conspiração da lâmpada elétrica e a obsolescência programada” o qual retrata um conjunto de relatos que comprovam como a indústria de lâmpadas tem trabalhado por quase 25 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S cem anos para promover o aumento do consumo e o crescimento eco- nômico produzindo produtos de qualidade inferior, mesmo já existindo meios para produzir produtos de melhor qualidade. A CONSPIRAÇÃO DA LÂMPADA ELÉTRICA E A OBSO- LESCÊNCIA PROGRAMADA. Cosima Dannoritzer: Espanha, 2010. (52 min). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4e7Df- C0ytlY> Acesso em: 17 out. 2020. A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL Figura 4 – Tempos Modernos Fonte: Cinema Sétima Arte, 2016. O mundo industrializado foi retratado por Charlie Chaplin no fil- me conhecido por Tempos Modernos, ilustrado na figura 4. A referência conceitual para tratarmos a sociedade industrial é a produção de bens e o poder nela instituído pertence aos donos dos meios de produção. Po- demos ter como referência de poder na sociedade pós-industrial a in- formação, o domínio dos meios de informação e os serviços por estes oferecidos. 26 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Para saber mais sobre a pós-modernidade, podemos elencar características estruturantes como: • Consumo como forma de expressão pessoal e manifestação identitária; • Forte presença das mídias eletrônicas na construção de iden- tidades; • Forte presença dos mercados (econômico, político, cultural e social); • Pluralidade cultural; • Distanciamento social; • Falências das narrativas emancipadoras e grandes ideais. Como vimos, as discussões sobre o conceito de pós-moder- nidade permeiam a arte, a literatura e a teoria social, mas uma melhor referência da noção de pós-modernidade podemos observar a partir de vários conceitos e modelos de pensamento, todos precedidos do prefixo “pós”: sociedade pós-industrial, pós-estruturalismo, pós-fordismo, pós- -comunismo, pós-marxismo, pós-hierárquico, pós-liberalismo, pós-im- perialismo, pós-urbano, pós-capitalismo. A pós-modernidade coloca-se ainda em relação com o feminismo, a ecologia e o ambiente, confor- me veremos no próximo capítulo sobre consumo, trabalho e racismo (CUNHA; AUGUSTIN, 2014). Para entender historicamente a pós-modernidade, devemos pensar que esta época foi propícia para o surgimento de uma nova es- pécie de sociedade. Baseada em novos padrões de consumo, carac- terizada pelo aceleramento da vida, há agora um padrão a partir do indivíduo. As histórias coletivas, em muitos casos, têm perdido o seu sentido, vive-se um constante presente que é intensamente mutável. O tempo na pós-modernidade é fragmentado em “agoras”. A modernidade cumpriu seu papel de crítica à sociedade, e a pós-modernidade repro- duz a lógica do capitalismo, conduzindo-nos a um modelo de sociedade pautado pelo consumo como componente identitário universal. 27 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2018 Banca: Fundação para o Vestibular da Universidade Es- tadual Paulista (VUNESP) Órgão: Polícia Militar de São Paulo - SP (PM/SP/SP) Prova: Aluno Oficial/Aspirante a Soldado - PM (Língua Inglesa) Nível: Médio. No Brasil, diferenças sociais entre homens e mulheres prejudicam a democracia porque: a) Desigualdade entre os gêneros é fundamental para preservar o Es- tado de Direito. b) A legislação brasileira torna legítimas várias formas de dominação entre os gêneros. c) A dominação de gênero impõe às mulheres uma cidadania de segun- da categoria. d) A ampliação do poder social das mulheres é prejudicial para o Estado de Direito. QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: Fundação Getúlio Vargas (FGV) Órgão: Secreta- ria Municipal de Educação de São Paulo - SP (SME/SP) Prova: Pro- fessor de Ensino Fundamental II e Médio - Área Sociologia Nível: Superior. A Sociologia é um corpo organizado de conceitos e metodologias científicas que se ocupa de: a) Descrever a realidade dos sistemas social, político e econômico que se sucederam historicamente. b) Estudar os fenômenos sociais e identificar regularidades e normas nas formas de comportamento. c) Compreender a interdependência dos seres vivos e definir suas for- mas de interação social. d) Estabelecer os fatos sociais com base nos sistemas culturais e sim- bólicos. e) Analisar os tipos sociais e classificá-los em função das estruturas que os definem. QUESTÃO 3 Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: DPE-RO Prova:Defensor Públi- co Substituto Nível: Superior. Para ________________, a sociologia tem como meta a compreen- são interpretativa da ação social, de maneira a obter uma explica- ção de suas causas, de seu curso e dos seus efeitos. O referido 28 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S sociólogo assim escreveu, em uma de suas obras, acerca da ação social: Por “ação” se designará toda a conduta humana, cujos sujeitos vinculem a esta ação um sentido subjetivo. Tal comportamento pode ser mental ou exterior; poderá consistir de ação ou de omis- são no agir. O termo “ação social” será reservado à ação cuja in- tenção fomentada pelos indivíduos envolvidos se refere à conduta de outros, orientando-se de acordo com ela. A lacuna é corretamente preenchida por: a) Augusto Comte. b) Friedrich Hegel. c) Émile Durkheim. d) Karl Marx. e) Max Weber. QUESTÃO 4 Ano: 2018 Banca: COPESE - UFT Órgão: UFT Prova: COPESE - UFT - Administrador Nível: Superior De acordo com o conceito de “modernidade líquida” de Zygmunt Bauman, assinale a alternativa INCORRETA. a) A modernidade é “líquida”, ou seja, está sempre em transformação. Como um líquido, ela não é capaz de conservar sua forma por muito tempo. b) A modernidade “líquida” é comparada aos elementos de conteúdos fluidos, os quais são considerados difíceis de se solidificarem. c) Na “modernidade líquida”, as formas atuais de vida são percebidas com vulnerabilidade, pois são incapazes de permanecerem com a mes- ma identidade por muito tempo. d) Na “modernidade líquida”, as pessoas estão conscientes de que os recursos naturais e ambientais são infinitos e deverão ser acomodados a cada tipo de filosofia de vida individual. e) Na modernidade líquida, a identidade não sofre nenhum tipo de mo- dificação. QUESTÃO 5 Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: SEDUC-MT Prova: IBFC - 2017 - SEDUC-MT - Professor de Educação Básica - Sociologia Nível: Superior “[…] a sociedade de consumo não é nada além de uma sociedade do excesso e da fartura – e, portanto, da redundância e do lixo”. (BAUMAN, 2007, 111). Assinale a alternativa correta acerca da afirmação acima: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/copese-uft https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/uft https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/copese-uft-2018-uft-administrador https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/copese-uft-2018-uft-administrador https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/ibfc https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/seduc-mt https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ibfc-2017-seduc-mt-professor-de-educacao-basica-sociologia https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ibfc-2017-seduc-mt-professor-de-educacao-basica-sociologia 29 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S a) As novas tecnologias permitem que se produza mais com menos recursos, o que tem evitado a degradação ambiental. b) Os centros urbanos, mas não só estes, têm encontrado soluções para a questão do descarte de lixo de seus habitantes, impondo cotas de despacho de resíduos sólidos, por exemplo. c) Com o aperfeiçoamento tecnológico todas as mercadorias tendem a se transformarem em bens de consumo duráveis. d) A obsolescência acelerada dos produtos é marca deste momento. e) A facilidade com que se descartam as mercadorias em nada refletem na sociabilidade dos sujeitos na modernidade líquida a que se referem Bauman (2007). QUESTÃO 6 Ano: 2015 Banca: IF-RS Órgão: IF-RS Prova: Professor - Ciências Sociais/Sociologia Nível: Superior. A diversidade étnica e cultural dos Povos Indígenas no Brasil constitui um dos mais valiosos patrimônios de nossa sociedade, e torna-se fundamental abordar esta temática junto aos alunos da Educação Básica. Sobre tais povos, assinale as alternativas COR- RETAS: I. De acordo com as concepções aceitas atualmente, um índio é alguém que se reconhece e é reconhecido como membro de uma comunidade indígena, e as comunidades indígenas são aquelas fundadas em relações de parentesco ou vizinhança que mantêm laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré-colombianas. II. A contínua influência da população não indígena sobre os povos indígenas tem representado um efetivo processo de transforma- ção de culturas que anteriormente eram voltadas às suas tradições milenares e tendiam a um baixo dinamismo cultural. III. Os grupos chamados de Índios Isolados representam aqueles que ainda não tiveram contato com populações não-indígenas, havendo inclusive um departamento na FUNAI para tratar destes povos. IV. Até meados dos anos 70, no Brasil, acreditava-se que o desa- parecimento dos indígenas seria inevitável. Contrariando tal ideia, nas décadas seguintes, verificou-se um crescimento desta popula- ção, e atualmente existem mais de 240 povos indígenas em nosso território. V. Costuma-se classificar os povos indígenas brasileiros a partir de suas línguas, sendo os dois maiores troncos linguísticos, na atualidade, o Macro-Jê e o Tupi. 30 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Estão CORRETAS a) Apenas I, II e IV e V. b) Apenas I, III e IV e V. c) Apenas II, III e IV. d) Apenas I, IV e V e) I, II, III, IV e V. QUESTÃO 7 Ano: 2015 Banca: IF-RS Órgão: IF-RS Prova: Professor - Ciências Sociais/Sociologia Nível: Superior Para Max Weber, em sua perspectiva de construção de tipos ideais, o estudo das relações de poder implica na compreensão das for- mas de legitimação da dominação. Sobre a teoria da dominação do sociólogo alemão, assinale a alternativa INCORRETA: a) A Dominação Tradicional é aquela sustentada pelos valores das insti- tuições que perduram no tempo em uma dada sociedade. b) A Dominação Legal-Racional é aquela que tem sua legitimidade funda- da em um estatuto, ou um corpo de regras em um determinado sistema. c) O conceito de Legitimidade permite dar conta dos fundamentos do poder em uma sociedade, como valor que leva as pessoas a aceitarem uma forma de dominação. d) A Dominação Carismática é aquela fundamentada no apreço ou afeto para com um Líder. e) A Dominação Estatal é aquela própria de um Estado Moderno, em que a legalidade da burocracia acaba por minimizar os outros tipos de dominação. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE A partir dos estudos sobre cultura, evidencia-se que o objetivo da so- ciologia é entender e discutir criticamente sobre as relações sociais, assim como as consequências planejadas ou imprevistas com base nas mudanças que acontecem em nossa sociedade. Sobre o enunciado, comente a respeito das teorias sobre as diferentes formas de manifes- tações culturais e relações entre diferentes sociedades. TREINO INÉDITO Uma geração de estudiosos da cultura, entendeu que o que foi feito com o conceito de cultura gerava assimetrias e julgamentos em termos de sociedades mais desenvolvidas ou menos desenvolvidas e chamou esse processo de etnocentrismo. Quais as referências eram usadas pe- 31 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S los estudiosos que tinham o etnocentrismo como prática? a) A cultura própria aos povos colonizados. b) A cultura dos povos colonizados e mais avançados tecnologicamente. c) A cultura dos povos que narram e elaboram os discursos sobre os demais. d) A cultura antepassada. e) As manifestações culturais inferiores. NA MÍDIA Etnocentrismo político Cultura, religião, gênero, economia, etnia, hoje nada escapa, tudo é utilizado como base para discurso político, o tópico hipócrita deste de- bate é que uma figura que tem como dever lutar por toda uma nação simplesmente a trata por classificação, falas como “a minoria deve se adequar a maioria” são exemplos desta divisão de patentes, não respei- tando direitos e a sua própria constituição (Art. 5º), que relataque todos são iguais perante a lei. Outro exemplo de fala etnocêntrica e egoísta da parte de nosso presidente da República foi ao tratar da Ancine, seu discurso e afirmação fala que “não vai admitir produções que vão contra interesses e tradição judaico-cristã”, novamente, querendo colocar sua posição acima dos outros e até da própria lei (referência ao artigo 5º, inciso VI). É um total e verdadeiro perigo quando chefes de estado procuram colocar suas vontades, sua cultura, sua religião, seu modo de agir no dia a dia para a sociedade que ali estar, nem todos pensam e agem igual a ele, e nem acreditam no mesmo Deus (ou, às vezes, não acreditam em nenhum ser divino) igual ao dele, desta diversidade de pensamentos e opiniões é que se faz a democracia (palavra que vem do grego demo, que significa povo, e kratos, que significa poder), sem ela não temos debates, sem ela não temos liberdade de ir e vir ( art. 5º, inciso XV) e nem liberdade de expressão, em um mundo sem democracia não temos uma diversidade cultural, o que vai predominar é um único pensamento, uma única religião, conhecemos esse fenômeno como puro autoritarismo. Fonte: Diário de Pernambuco. Data: 18/09/2019. Leia a notícia na íntegra: PEREIRA, Otto Manoel Rufino. Etnocentrismo político. Diário de Per- nambuco. 18/09/2020. Disponível em: <https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/opiniao/2019/09/etno- centrismo-politico.html> Acesso em: 17 out. 2020. https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/opiniao/2019/09/etnocentrismo-politico.html https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/opiniao/2019/09/etnocentrismo-politico.html 32 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S NA PRÁTICA Ainda sobre a discussão a respeito de contatos entre diferentes socie- dades e culturas, o etnocentrismo está vivo em nossa sociedade mais intensamente do que podemos perceber. Há ocasiões onde atitudes e comentários são baseados em preceitos etnocêntricos, um exemplo prático no contexto brasileiro é se considerarmos os conflitos étnicos e raciais que acontecem entre moradores dos diferentes estados e re- giões do país. Por exemplo, nas regiões sul e sudeste do Brasil, há em muitos casos uma completa ignorância em relação a hábitos, costumes, linguagens e outros aspectos culturais dos povos do norte e nordeste do país e, por isso, mesmo em um século com acesso a fontes de informação, ainda temos diversos problemas de compreensão e aceitação de populações de culturas diferentes, igualmente pode ser dito a respeito de popula- ções tradicionais e indígenas, que sofrem diversas formas de discrimi- nação praticadas pelas populações urbanas e ou que reproduzem o status quo e a cultura dominante. Em última instância, o etnocentrismo se trata de uma classificação a partir de juízos de valor daquilo que é considerado diferente, precisa- mos cuidar e valorizar as diferenças, conferindo-lhes espaço e posições para que possam expressar suas necessidades. A destruição de modos de vida e de pensamentos diferentes dos compartilhados não reconhe- ce o valor das diferenças e a enorme contribuição que todos podem oferecer à nossa sociedade. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Pantera Negra. Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=T0qYBzEjLsI PANTERA Negra. Ryan Coogler. África do Sul: Universal, 2018. Dis- ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=T0qYBzEjLsI> Acesso em: 17 out. 2020. https://www.youtube.com/watch?v=T0qYBzEjLsI https://www.youtube.com/watch?v=T0qYBzEjLsI 33 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A SRELAÇÕES SOCIAIS NA PÓS-MODERNIDADE: AS FORMAS DE DISTINÇÃO SOCIAL Na pós-modernidade, os bens de consumo são tratados como necessários para dar visibilidade e estabilidade à cultura de um deter- minado grupo social. As interações internas e externas ao grupo são significadas a partir da formação da identidade dos grupos dentro do espaço social tendo em vista que o consumo é um processo ativo em que todas as categorias sociais são redefinidas. Como vimos anteriormente, consumir não está restrito somen- te à satisfação de um desejo, mas se relaciona a reconhecer-se so- cialmente. Nestor Canclini é um sociólogo argentino que discute sobre relações sociais e relações de consumo, para ele: RELAÇÕES SOCIAIS PÓS-MODERNIDADE A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S 34 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S As lutas de gerações a respeito do necessário e desejável mostram outro modo de estabelecer identidades e construir a nossa diferença. Vamos nos afastando da época em que as identidades se definiam por essências a-his- tóricas: atualmente configuram-se no consumo, dependem daquilo que se possui, ou daquilo que se pode chegar a possuir (CANCLINI, 1999, p.15). Como vimos na sociedade pós-industrial, o controle dos meios de comunicação constitui o maior poder e este tem como pauta a per- manente e constante louvação e incentivo ao consumo, como afirmação de identidade, realização pessoal e inserção social. Esses processos direcionam, produzem e ocultam preconceitos de uns homens em rela- ção aos outros, em função de seu acesso e sua inserção no mundo do consumo, “se você não tem a nova tecnologia de smartphones, ficará para trás”, são com imperativos como este que são construídos valores sociais. Não há nada de errado em consumir mercadorias. Esse é um direito inalienável, mas a busca pouco racional de saciar desejos a partir da orientação para o consumo é uma questão a ser debatida de forma crítica por nossa sociedade. Embora possa apresentar-se como um ca- minho para algum tipo de felicidade, talvez seja o agravamento dos pro- cessos de egocentrismo, ainda mais considerando aspectos comuns à nossa sociedade (conforme veremos no tópico sobre racismo), a cons- trução da autoestima depende da negação e desvalorização do outro. Em contextos como o brasileiro, o consumo marca a ascensão social, o acesso a crédito e aos bens dos quais possibilitam que as po- pulações historicamente marginalizadas tenham acesso ao mundo do consumo e a sua ideologia. No entanto, isso não garante uma inclusão social com a qualidade necessária. RELAÇÕES SOCIAIS NA PÓS-MODERNIDADE: O MODO DE VIDA BURGUÊS COMO IDEAL DE CIVILIDADE A partir do aumento expressivo das atividades comerciais, as cidades, a partir do século XI, ocorrem uma explosão demográfica que impacta diretamente nas formas de vida. As feiras e as atividades co- merciais realizadas pelos mercadores nas beiras das estradas ganham espaço no centro das cidades, tornando-se o principal atrativo e forma de comercialização de produtos. As cidades começam a se desenvolver economicamente e os donos dos meios de produção começam a ter maior participação econômica e política nas decisões. A consolidação do grupo de comerciantes se dá a partir de sua mentalidade empreen- dedora, baseada na racionalidade e na acumulação de capitais. Com 35 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S isso, resumidamente, temos o surgimento da burguesia como classe social. Em um tempo pós-industrial onde conhecimento e informação é o novo poder, ainda há nas relações sociais, traços da dominação de classes anteriormente estabelecida pela burguesia. Esta classe social, agora, além de dona dos meios de produção, controla os meios de in- formação e comunicação, além de exercer controle ideológico sobre as demais classes. O sociólogo Norbert Elias, em seu estudo sobre “O Processo Civilizador”, demonstra como uma sociedade em constante transição estabelece de acordo com cada época, instrumentos de condiciona- mento. Estes são impostos aos indivíduos, de forma a criar modelos de identidade e modelos sociais, que refletem suas ideias de que há de ser a moralidade e, por consequência, osmodelos de civilização. Ao discutir o processo civilizador, Norbert Elias reconstrói uma trajetória a partir do que seriam considerados os comportamentos típi- cos do homem inserido na sociedade judaico-cristã-ocidental. Ele rela- ciona os padrões de “bom comportamento” à autoimagem que certas categorias sociais fazem de si mesmas durante certos períodos de tem- po, bem como relaciona padrões estabelecidos com o surgimento de alguns termos como os de cortesia, de civilidade e de civilização. A análise de Elias incide, inicialmente, nas grandes cortes feudais atingindo mais tarde todos os estratos sociais, buscando com- preender o processo civilizador começando por examinar os significa- dos do que comumente é definido como uma civilização. O conceito de civilização conforme cunhado por Elias, diz respeito a uma grande variedade de fatores: deve-se considerar o nível de avanço tecnológico, o desenvolvimento de conhecimentos científicos, as ideias a respeito de religiões e os costumes. Além disso, as formas de habitação e alimen- tação, relações entre homens e mulheres, sistemas de justiça, entre ou- tros aspectos contribuem para a formação da consciência da sociedade ocidental. De acordo com Elias, o conceito de civilização: [...] expressa a autoconsciência do Ocidente. Poderíamos inclusive afirmar: a consciência nacional. Ele resume tudo em que a sociedade ocidental dos últimos dois ou três séculos se julga superior a sociedades mais antigas ou a sociedades contemporâneas ‘mais primitivas’. Com esse termo, a socie- dade ocidental procura descrever em que constitui seu caráter especial e tudo aquilo de que se orgulha: o nível de sua tecnologia, a natureza de suas maneiras (costumes), o desenvolvimento de seu conhecimento científico ou visão de mundo, e muito mais (Elias, 2000, p. 5). Aqui, vemos novas formas de relações entre os membros da sociedade, novas ordens se consolidando, essas ordens sociais vão 36 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S além da racionalidade ou simples vontade das pessoas que compõem a sociedade. É a partir da ordem social que as mudanças na história são realizadas, é uma reorganização dos relacionamentos humanos, formando os sentimentos mais tarde denominados “civilizados”. À me- dida que as pessoas se relacionam, os indivíduos desempenham um papel social, que deve ser mais regular, específico, uniforme e estável (ELIAS, 2000). O controle do comportamento passa a ser ensinado desde a socialização primária nos primeiros anos de vida de uma criança. Em meio a essa teia de ações tão complexas, que conduz o indivíduo a comportar-se ‘corretamente’ através de formas de controle consciente, somado a um complexo aparelho de controles sociais, relacionam-se os modos de vida, baseados em ideais burgueses. Leia o livro “A condição da pós-modernidade” de David Harvey, um geógrafo britânico que discute sobre a reorganização das cidades e grandes metrópoles, realizadas no século 19, das quais atuam como ferramentas de contenção e repressão das classes trabalhadoras. Cita- -se como exemplo Paris, Belo Horizonte, Brasília e Buenos Aires, isto é, cidades planejadas que criaram separações geográficas para as clas- ses sociais e que tem os centros administrativos afastados da grande população. RELAÇÕES SOCIAIS NA PÓS-MODERNIDADE: A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO O século XIX e o século XX apresentaram mudanças econômi- cas e sociais de diversas ordens. Entretanto, em paralelo a essas mu- danças, ocorreu a consolidação da burguesia como classe dominante financeira e ideologicamente. A divisão social do trabalho é uma conse- quência desta consolidação. A divisão social do trabalho, em sua origem, está relacionada à forma pela qual as tarefas são organizadas e divididas no ambiente de trabalho. A intenção inicial era delimitar as funções realizadas e, com isso, impulsionar o processo de produção, garantindo o funcionamento de um sistema de forma rápida e eficiente. Além disso, do ponto de vista 37 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S sociológico, a divisão do trabalho delimita e define a maneira pela qual os indivíduos, inseridos em uma sociedade, organizam-se com a finali- dade de produzir bens, produtos ou mercadorias. A divisão do trabalho sempre existiu. Inicialmente, dava-se ao acaso, pela divisão sexual, de acordo com a idade e vigor corporal. Com a complexida- de da vida em sociedade e o aprofundamento do sistema de trocas entre diferentes grupos e sociedades, identifica-se a divisão do trabalho em espe- cialidades produtivas, designada pela expressão ‘divisão social do trabalho’ ou divisão do trabalho social. Esta forma de divisão do trabalho ficou bem caracterizada na estrutura dos ofícios da Idade Média. Os artesãos organi- zados nas guildas, ou corporações de artífices, constituíam uma unidade de produção, de capacitação para o ofício e de comercialização dos produtos. Apesar de existir, entre mestres-companheiros-aprendizes, divisão do traba- lho, hierarquia e atividades de coordenação e gerenciamento do processo de produção, estas eram diferentes da divisão parcelar do trabalho e da hierar- quia verificada na emergência das fábricas e do modo de produção capitalis- ta (PEREIRA; LIMA, 2008, p. 126). De acordo com Marx (1980), a sociedade capitalista carrega marcas sociais da divisão social do trabalho que ditam regras e pro- priedades que determinam a matéria, os instrumentos, os produtos e o sentido do trabalho, dentro de cada contexto histórico. Sistematizando a divisão social do trabalho, podemos observar a reprodução do fenômeno em termos técnicos, termos sexuais e em termos internacionais. A divisão técnica do trabalho Também conhecida como ‘divisão parcelar do trabalho’, ocorre na esteira de processos amplos de mudanças. O primeiro aspecto de destaque é o fato da apropriação dos meios de produção por grandes capitalistas (força de trabalho, objetos de trabalho e instrumentos). Em segundo, ressalta-se a divisão técnica do trabalho através da aloca- ção de diversos trabalhadores em um mesmo espaço físico, sendo que cada um desempenha uma tarefa específica para o desenvolvimento de um produto que só é obtido como resultado do trabalho coletivo. Logo, a divisão técnica do trabalho é o controle do processo e da força de trabalho e, pôr fim, a expropriação do trabalhador do produto do seu trabalho, conforme destacado por Marx (1980). O maior exemplo das divisões técnicas do trabalho pode ser observado no contexto de indústrias, a divisão entre os trabalhos ma- nuais e os trabalhos intelectuais/de gestão cria uma relação (às vezes tensa) entre trabalhadores técnicos-científicos e trabalhadores ma- http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html 38 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S nuais. Sendo que cada tipo de trabalhador tem sua função, cabendo aos técnicos-científicos organizar os processos e rotinas de trabalho, e aos trabalhadores manuais/braçais/operários cabe a execução dessas rotinas. Essa relação à hierárquica, reproduz a lógica do capital para as relações sociais, perpetuando um sistema baseado na manutenção de privilégios no contexto do trabalho. Essa divisão técnica do trabalho opera tanto na transformação de objetos como na transformação da consciência do trabalhador que, por fim, muitas vezes, não conheceo resultado final de seu trabalho. A divisão sexual do trabalho A discussão sobre a divisão sexual do trabalho tem enorme destaque no contexto dos estudos de gênero, uma vez que é uma ca- tegoria fundamental para expressar a existência de diferentes papéis atribuídos a homens e mulheres na sociedade como um todo e especi- ficamente nos processos produtivos. Mesmo que as diferenças entre homens e mulheres do ponto de vista biológico e reprodutivo sejam óbvias, a divisão sexual do traba- lho qualifica a discussão ao trazer críticas sobre a separação das esfe- ras públicas e privadas na sociedade capitalista. A partir dessa perspec- tiva, fica evidenciado que cabe às mulheres a esfera privada; o cuidado dos filhos e os serviços domésticos, e aos homens a esfera pública; a vida externa com trabalhos formais e remunerados, principalmente, com atividades de maior prestígio social. Além das divisões do trabalho, a urbanização é um fenômeno social que influencia diretamente as relações sociais. A partir da urba- nização no século XX e no século XXI, ocorre a ampliação do acesso à educação e as conquistas dos movimentos de mulheres. Além dis- so, verificamos também uma ampliação do ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Mas, segue ainda significativa a desigualdade em termos de valorização (tanto financeira como em termos de status) do trabalho feminino em relação ao masculino. Em diferentes empresas, países e culturas, muitas mulheres recebem menor remuneração do que os homens, e mesmo considerando trabalhos iguais, a situação se mantém. A divisão internacional do trabalho – DIT Ao tratar sobre a divisão internacional do trabalho, precisamos retomar os papéis e posições dos países no mercado e no processo produtivo global. A DIT – é a distribuição de papéis que os países exer- 39 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S cem frente à ordem econômica mundial, essa divisão foi feita a partir do poder de escolha dos países centrais na economia mundial. Assim, perpetua-se uma lógica implementada desde o surgimento do sistema capitalista, passando pelos momentos de expansão colonial a partir do século XVI. A DIT se manifesta de forma que não é possível para um único país dispor de todo os tipos de produções, matérias-primas e mer- cadorias. Estabelece-se, assim, processos de especialização produtiva que, apesar de sofrer alterações ao longo do tempo, obedecem às de- terminações da economia de demandas vindas das nações desenvol- vidas e que submetem as nações subdesenvolvidas ao atendimento dessas demandas. Podemos observar três períodos diferentes da DIT, o primeiro é o capitalismo comercial, baseado em trocas simples de produtos. O segundo tem estrita relação com o capitalismo industrial, baseado na produção em larga escala e acumulação de recursos. O terceiro e mais atual é baseado no capitalismo financeiro e em formas de circulação e acumulação dos capitais financeiros pelas nações. Há uma dinâmica dos padrões de acumulação de capital no contexto mundial e essa dinâmica coloca países produtores de com- modities e produtos de origem agrícola e ou mineral em posição de fornecedores a países consumidores, criando, assim, uma relação de dependência dos mercados. 40 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Figura 5 – Charge Por Que Existem Países Pobres? Fonte: Pictoline Brasil, 2016. No atual estágio da globalização, é possível verificar constan- tes mudanças na distribuição dos capitais e das empresas, que esco- lhem os melhores mercados e cadeias produtivas para se instalarem nos mais variados países, considerando também o acesso a bens e ser- 41 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S viços e a carga de impostos. Os países capitalistas desenvolvidos têm o poder de influenciar diretamente mercados emergentes em países em desenvolvimento e ou pobres, que têm menor potencial competitivo. O capitalismo funciona a partir da circulação e acumulação de capital, os valores monetários se deslocam na economia global em dire- ção aos lucros. Este arranjo é uma espécie de espiral infinita, onde ha- veria condições para expansão dos lucros infinitamente. No entanto, há os limites naturais de produção, questões geopolíticas, ambientais e de diversas ordens que influenciam diretamente nas divisões do trabalho e nas relações sociais. O modelo existente de acumulação de capital baseado no consumo apresenta muitos problemas e dá sinais de uma potencial e iminente saturação. À medida que o consumismo excessivo aumenta, também aumenta a degradação ambiental que conduzirá todo o sistema à sua completa falência. SOBRE DIVISÕES DO TRABALHO: Leia o capítulo “Origem e funções do parcelamento das tare- fas” do livro “Crítica da Divisão do Trabalho” para se obter conhecimen- tos acerca do tema exposto. MARGLIN, S. A. Origem e funções do parcelamento das tare- fas. Para que servem os patrões? In: GORZ, A. (Org.) Crítica da Divi- são do Trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1980. (1.ed., 1973) CONCEITOS DE CLASSE SOCIAL E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL De acordo com Karl Marx, as classes sociais são divididas em dois grupos de interesses antagônicos e concorrentes. O primeiro grupo, geralmente menor em número de indivíduos, é formado pelos possuidores dos meios de produção (terras, bancos, equipamentos e fábricas) chamados de burguesia. O outro grupo é formado pela grande maioria, ou seja, pelos indivíduos que possuem apenas sua força de trabalho, isto é, os proletários. Há uma constante disputa entre esses grupos, uma vez que a divisão da riqueza produzida tem foco na acu- mulação de capital pela burguesia. 42 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Ainda de acordo com Marx, a principal motivação dessa divi- são em classes é o aspecto econômico. Há interesses comuns internos a cada classe, e a partir desses interesses comuns, são promovidas as mudanças sociais por meio de ações coletivas. Outro autor clássico da sociologia que teorizou sobre as clas- ses sociais foi Max Weber (1864-1920). Para este autor, o fenômeno das classes sociais não se restringe ao critério econômico para elaborar as definições de classes. Segundo Weber, a posição social de um indi- víduo é obtida a partir de três fatores principais: • O status (ou seja, a honra ou o prestígio que este indivíduo possui junto a seus pares); • A riqueza (basicamente a disponibilidade financeira em ter- mos de renda, ou posses); • O poder (este, por sua vez, é um conjunto de fatores, mas pode ser resumido como a capacidade de influência que um indivíduo tem na sociedade em que está inserido). Para Weber, o processo de estratificação acontece a partir das relações onde o status social está em jogo, além de manifestar a partir dos poderes político, econômico e das oportunidades que os indivíduos ou grupos sociais têm para adquirirem bens e influenciarem a socie- dade. Para adquirir maiores conhecimentos sobre o tema, leia o livro “Economia e Sociedade” de Max Weber. WEBER, Max. Economia e sociedade. Fundamentos da so- ciologia compreensiva. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Brasília: Editora Universidade de Brasília. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. Weber não visa contradizer Marx e não minimiza a preponde- rância do aspecto econômico, no entanto, qualifica a discussão a res- peito da situação de classe ao apontar aspectos importantes que não se explicam exclusivamente pela renda. Para Weber, as sociedades são divididas em estratos, e o status remete a uma dimensão subjetiva, simbólica e cultural, um atributo de posição dentro da sociedade e do respectivo sistema de estratificação social. 43 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Classes Sociais no Brasil Conformedemonstrado, nas sociedades capitalistas, há uma estrutura social que visa a manutenção do status quo ou das classes no poder. Em sociedades como a brasileira, com economias emergentes, a possibilidade de mudança e ou ascensão de classe social é limitada por diversos fatores. A ascensão na hierarquia se dá através, principal- mente, dos estudos e da conquista de direitos fundamentais, questões como gênero e etnia também estão presentes nas discussões sobre classe no Brasil. Conforme dados da FGV Social, no ano de 2018, o Brasil se tornou o segundo país mais desigual do mundo, atrás apenas do Catar. Apenas 1% da população (cerca de 1,5 milhão de pessoas) concentra 23,2% da renda total conforme declarações de Imposto de Renda. Essa situação se repete a algumas décadas, desde os anos 1930, esse 1% detém em torno de 20% a 25% da renda total do país, ou seja, vemos um grupo homogêneo com poucas variações. De acordo com o IBGE, as famílias consideradas ricas e classe média alta (classes A e B) no Brasil eram de 14,4%, o que corresponde a cerca de 30 milhões de pessoas. Destaca-se o fato de que a escolari- dade média desse grupo é de 13,2 anos contra 8,7 da média brasileira. Esses grupos concentram também uma quantidade maior de donos dos meios de produção (empregadores, empresários e comer- ciantes) de 12,9% contra 4,8% da média da população. A classe C, chamada de “nova classe média”, correspondia a 55,3% da população brasileira em 2018, em torno de 115,3 milhões de pessoas. As maiores classes sociais do Brasil são a classe D com 51,7 milhões de pessoas e a classe E com 43,3 milhões, ou seja, de acordo com o Censo 2010 quase metade da população brasileira se concentra nas classes mais baixas do estrato social. MINORIAS SOCIAIS Uma forma comum das relações sociais direcionadas a grupos socialmente excluídos (seja pelo seu acesso a formas de propagação do seu conhecimento conforme vimos no etnocentrismo, seja pela falta de acesso ao mundo do consumo) é a atitude hostil. Gordon Allport (1954) inicia uma investigação sobre o precon- ceito, ao observar que vários grupos socialmente desvalorizados per- tenciam a grupos minoritários na estrutura de poder (preconceito contra as mulheres ou sexismo, preconceito contra os homossexuais ou homo- fobia, preconceito contra os velhos, preconceito contra pessoas gordas, 44 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S preconceito contra pessoas com deficiências físicas e/ou mentais, pre- conceito contra os nordestinos no Brasil), denominado de preconceito étnico. Segundo Allport (1954), isto é baseado em uma antipatia, numa generalização falha e inflexível, que pode ser sentida ou expressa e que pode ser dirigida a um grupo como um todo ou a um indivíduo porque ele faz parte daquele grupo, conhecido pela sociologia como minorias. Sendo assim, as minorias não têm relação direta com o núme- ro de pessoas e sim com o fato de serem grupos sociais que se carac- terizam pelos processos de discriminação direta ou indireta, a que são submetidas pessoas socialmente identificadas como pertencentes a determinados grupos sociais (negros, judeus, mulheres, pessoas LGBT etc.). Essa discriminação é sistemática, acontece no dia a dia através de pequenos processos e interações sociais que se consolidam histori- camente criando uma estratificação social que se reverte em inúmeras desvantagens, sejam estas políticas e/ou econômicas aos grupos mi- noritários. Estes vivenciam essas desvantagens na forma de pobreza, uma vez que só tem acesso à oferta de piores empregos e salários mais baixos, através do menor acesso aos sistemas de saúde e educação e por terem maiores chances de encarceramento e morte. Todo processo discriminatório está diretamente vinculado à ló- gica econômica e política, por assim dizer, todos os grupos visam acú- mulo de poderes ao subjugar minorias, a partir da reprodução das con- dições sociais e políticas desses mecanismos discriminatórios, temos uma reprodução sistêmica e ideológica de formas de discriminação. Considerando a sociedade contemporânea, fica evidente que formas de discriminação como o racismo só se estabelecem a partir da repro- dução dessas relações pelo Estado. O Estado por sua vez, ao tomar decisões que podem atuar diretamente na classificação de pessoas e nos processos discriminató- rios (escravidão, apartheid e nazismo) ou de forma indireta, quando se omite em relação à discriminação e ao racismo, permitindo que esses mecanismos continuem se reproduzindo de forma a excluir grupos so- ciais na distribuição econômica (no acesso a estudos, emprego e renda, por exemplo) e na ocupação de espaços de poder e decisão no próprio Estado. AS ESTRUTURAS SOCIAIS E O RACISMO O racismo é um sistema de perpetuação de distinções sociais, diferente do preconceito, constituindo um processo que visa à hierarqui- zação, à exclusão e à discriminação contra indivíduos ou toda uma ca- 45 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S tegoria social que é definida como diferente com base em algum aspec- to externo (real ou imaginário). Esses aspectos com o passar do tempo se constituem como uma marca cultural, que irá influenciar diretamente os padrões de comportamento. Durante muitos anos no Brasil, a cor da pele sendo preta era lida como típica de sujeitos preguiçosos, agressi- vos e ou festivos, sendo assim, o racismo é uma redução do cultural ao pretensamente biológico. Figura 6: “Black Lives Matter” George Floyd e João Pedro, vítimas de crimes baseados no racismo. Fonte: Chuteira FC, 2020. Outra diferença entre racismo e preconceito é que o primeiro, diferentemente do segundo, não existe apenas a um nível individual, mas também a nível cultural e institucional, principalmente em face do racismo ser um sistema que reproduz processos de exclusão social e de discriminação e (GUIMARÃES, 2004). Mas, a partir do momento em que um homem precisou do auxílio de outro, a partir do momento em que se aperceberam ser útil a um só possuir provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade introduziu-se, o trabalho tornou-se necessário, e as vastas florestas transformaram-se em campos vicejantes que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas (Rousseau, 1989, p. 92-93). 46 A SP E C TO S SO C IO A N TR O P O LÓ G IC O S - G R U P O P R O M IN A S Rousseau acrescenta de forma interessante à escravidão e à miséria ao surgimento do preconceito e do racismo. Com efeito, o pre- conceito e o racismo parecem ser tão antigos quanto são as relações assimétricas de poder, perpetuando-se desde sociedades escravocra- tas a pós-modernidade. O racismo não tem necessariamente fundamentos teóricos, parte de um dogma equivocado sobre a superioridade de uma raça sobre a outra, um discurso de dominação. Esse sistema de relações sociais se adapta de acordo com os contextos, e o racismo brasileiro possui características bastante particulares. No Brasil, através principal- mente dos meios de comunicação, foi propagado o mito da democracia racial, de um país pacificamente miscigenado no qual todas as raças convivem em perfeita harmonia. Para adquirir maiores conhecimentos sobre o processo de mis- cigenação brasileiro, leia a reportagem da Revista Super Interessante intitulada “Estupro de mulheres negras e indígenas deixou marca no genoma dos brasileiros”. Há anos, essas ideias foram tratadas como verdades absolu- tas, o que criou uma noção de que não existia racismo no Brasil. Atual- mente, com a ascensão de negros ao ensino superior e a produção aca- dêmica, mais pesquisadores têm refutado essas teorias. Durante pelo menos três séculos de nossa história nacional, as pessoas negras foram reduzidas a mercadorias, que tinham como função construir as riquezas desse país, sem
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