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Preconceito e Estigma na Sociedade

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– 1
1. Introdução
A questão do preconceito sempre foi muito polê -
mica, mas esse debate tornou-se obrigatório e o
silêncio sobre o assunto pode ser uma forma de se
reproduzir posturas preconceituosas que emergem
constantemente nas relações sociais.
A Constituição Federal do Brasil de 1988 tornou
criminosa qualquer postura de preconceito racial, e
grupos de construção de identidade têm-se fortale -
cido na luta contra toda expressão de discriminação.
Vivemos em um mundo cada vez mais marcado
pela diversidade, pelo multiculturalismo e pela
convivência entre grupos étnicos diferentes. A
construção de uma sociedade mais justa conta com o
trabalho de dessegregação e superação das posturas
preconceituosas. Assim, políticas de inclusão social
contam, sobretudo, com a dissolução dos nós da
discriminação que têm origem histórica.
2. Desnaturalizar
O senso comum comete o erro de naturalizar
comportamentos e aspectos da cultura que, na ver -
dade, são resultantes de processos históricos. Em
outros termos, a ideologia e o senso comum
naturalizam a realidade, escondendo a sua origem
temporal e espacial. Assim, acredita-se ser natural a
existência de ricos e pobres, ou justifica-se o racismo
com base nas próprias diferenças de cor e aspectos
físicos dos seres humanos.
É um lugar-comum dizer que todos os homens
são ambiciosos, tornando a ambição uma verdade
universalmente válida, e então se deixa escapar a
construção cultural dos sentimentos humanos, como
a ambição, o ciúme ou o amor romântico.
Desnaturalizar a realidade social significa recusar
argumentos que justificam injustiças, e isso se faz
pelo resgate dos conteúdos históricos perti nentes.
3. Três Categorias Fundamentais
Minoria, em Sociologia, é todo grupo social,
racial, cultural ou de nacionalidade, autoconsciente,
em procura de melhor status compartilhado do
mesmo habitat, economia, ordem política e social
com outro grupo (racial, cultural ou de naciona -
lidade), que é dominante (ecológica, econômica,
política ou socialmente) e que não aceita os membros
do primeiro em igualdade de condições.
Preconceito é a atitude social que surge em
condições de conflito com a finalidade de auxiliar a
manutenção do status ameaçado.
Estigma é um termo recorrente em Medicina e
Biologia, pois se trata de marcas e sinais físicos apa -
rentes que restaram de uma doença ou deficiência.
Em Sociologia, o termo adquire uma dimensão mais
complexa. Uma pessoa carrega um estigma quando,
por algum motivo, é portador, em sua história pes -
soal, de algo que o pode tornar alvo de preconceito.
A diversidade torna-se motivo de discriminação.
4. Texto
A violência do estigma e do preconceito à luz
da representação social
(Mary Rangel)
A representação social é uma forma de conheci -
mento prático, de senso comum, que circula na
sociedade. Esse conhecimento é constituído de con -
ceitos e imagens sobre pessoas, papéis, fenômenos
do cotidiano.
Estigma, Preconceito e Minoria SocialMÓDULO 1
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 11:16 Página 1
As pessoas constroem suas representações nos
seus grupos sociais, por meio das conversas, das vi -
sões, das crenças que veiculam.
Assim, conceitos e imagens vão sendo aceitos,
naturalizados, considerados verdadeiros, embora se -
jam apenas representações. Muitos dos precon ceitos,
dos estigmas, das exclusões de pessoas, decorreram
desse processo e dos equívocos que pode gerar.
O confronto das representações com a realidade,
quando submetido a uma análise crítica e fundamen -
tada, pode demonstrar esses equívocos.
Quando se discute violência, como fator de
ameaça à vida, não se pode omitir ou dispensar a
discussão de conceitos que podem gerá-la. Esse, sem
dúvida, é o caso dos conceitos de estigma, exclusão,
ironia, indiferença, preconceito.
A construção, aceitação e divulgação do precon -
ceito e do estigma já são, em si, processos violentos,
que geram violência. Essa construção é realizada por
homens, seres pensantes, capazes de raciocínio e de
intenções.
É preciso, portanto, compreender melhor o estig -
ma e o preconceito. O estigma é uma marca, um
rótulo que se atribui a pessoas com certos atributos
que se incluem em determinadas classes ou cate -
gorias diversas, porém comuns na perspectiva de
desqualificação social. Os rótulos dos estigmas
decorrem de preconceitos, ou seja, de ideias precon -
cebidas, cristalizadas, consolidadas no pensamento,
crenças, expectativas socioindividuais.
Assim, percorrendo vários campos das ações e
relações sociais, os estigmas alcançam tanto os
pobres e os meninos de rua como os portadores de
HIV, os que apresentam necessidades especiais
(físicas, mentais, psicológicas) e os homossexuais.
Os preconceitos (portanto, os conceitos prévios ou
previamente estabelecidos) antecedem os atributos
ou características pessoais a que se referem.
Desse modo, os atributos ou características que
justificam o estigma são previamente avaliados, com
pouca ou nenhuma oportunidade de análise crítica e
consciente, que os associe às circunstâncias reais da
vida e das relações humanas, sociais. Consequen -
temente, o preconceito é inflexível, rígido, imóvel,
prejudicial à discussão, ao exame fundamentado e à
revisão do que está preconcebido.
Os que constroem ou aceitam preconceitos,
constroem e aceitam estigmas. Ambos – precon cei tos
e estigmas – promovem e naturalizam palavras ou
ações violentas. Por conseguinte, essa construção
pode ser a origem e o início da violência.
Sabe-se que a violência não se define somente no
plano físico; apenas a sua visibilidade pode ser maior
nesse plano. Essa observação se justifica quando se
constata que violências como a ironia, a omissão e a
indiferença não recebem, no meio social, os mesmos
limites, restrições ou punições que os atos físicos de
violência. Entretanto, essas “armas” de repercussão
psicológica e emocional são de efeito tão ou mais
profundo que o das armas que atingem e ferem o
corpo, porque as “armas brancas” da ironia ferem um
valor precioso do ser humano: a autoestima. 
A luta e o remédio contra o preconceito e o
estigma encontram-se nas análises críticas e situadas
que encaminham novos significados, ou seja, que
argumentam e apoiam ressignificações. Dessas
ressignificações podem surgir novos conceitos, mais
reais, mais consistentes, mais abertos e flexíveis e,
portanto, mais humanos. O Ministério da Saúde
promoveu, durante o ano de 2003, uma série de
encontros para a discussão da violência e da saúde no
Centro Cultural de Saúde, sediado no Rio de Janeiro.
A questão da violência baseada em estigmas e
preconceitos foi um dos temas debatidos. Esses
encontros, como o da “Sociedade Viva” realizado em
agosto de 2003 no referido centro, são oportu ni dades
expressivas, relevantes, para as ressignifi cações que
se fazem necessárias, prementes, para os avanços da
vida, da convivência e da consciência social.
As novas ressignificações por uma vida, uma
convivência e uma consciência social mais inclu sivas
requerem, sobretudo, atitudes que assumam um dos
valores mais expressivos dos tempos contem -
porâneos: a aceitação da pluralidade e, portanto, das
diferenças, das especificidades, das singularidades.
Mais uma vez recorrendo à análise crítica e
fundamentada, que aproxima visões e consciências
das circunstâncias reais da vida, observa-se que cada
indivíduo é singular, é diferente, é único em suas
características; respeitá-lo, qualificá-lo, acolhê-lo,
não é uma concessão, mas sim um direito; esse
direito é social, é político, é de cidadania.
2 –
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 2
– 3
1. Leia o texto abaixo e relacione-o com o item 2 da
aula, intitulado Desnaturalizar.
Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos,
naturalizados, considerados verdadeiros, embora
sejam apenas representações. Muitos dos precon -
ceitos, dos estigmas e das exclusões de pessoas
decorreram desse processo e dos equívocos que pode
gerar.
(M. Rangel)
RESOLUÇÃO:
A ideologia e o senso comum naturalizam a realidade,
escondendo a origem histórica e culturaldela. Assim,
desnaturalizar a realidade social significa recusar
argumentos que justificam as injustiças, e isso se faz
pelo resgate dos conteúdos históricos pertinentes.
2. Sobre o texto de M. Rangel, julgue as afirma tivas
a seguir, colocando V para as verdadeiras e F para as
falsas.
I. Representação social é o contrário de senso
comum. ( )
II. O preconceito é uma expressão de violência. ( )
III. A ironia, omissão e indiferença são armas de
repercussão emocional com efeitos mais suaves
se comparados com aqueles provocados por
armas que ferem o corpo. ( )
IV. O preconceito corrói a autoestima do sujeito, o
que pode promover um efeito desastroso para a
sua história pessoal.
Resposta: F V F V
3. Por que a autora (Rangel) afirma que o pre -
conceito é inflexível?
RESOLUÇÃO:
Porque os atributos ou características que justificam o
estigma são previamente avaliados, com pouca ou
nenhuma oportunidade de análise crítica e consciente
que os associe às circunstâncias reais da vida e das
relações humanas, sociais.
4. O que a autora pretende afirmar ao empregar a
palavra “ressignificações”?
RESOLUÇÃO:
Das ressignificações podem surgir novos conceitos,
mais reais, consistentes, abertos e flexíveis e, portanto,
mais humanos. Novas ressignificações por uma vida e
uma consciência social mais inclusivas requerem
atitudes que assumam a aceitação da pluralidade e,
portanto, das diferenças, das especificidades e das
singularidades.
Exercícios Propostos
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 3
A criatividade só pode ter origem na diferença.
(Yiehudi Menuhin – um dos maiores 
violinistas da história)
1. Introdução
A ideia de raça surgiu aproximadamente no sé -
culo XVIII, antecedida por vagas noções de des -
cendência formuladas na Bíblia. Raça, portanto, é
uma categoria construída há pouco tempo e não tem
muita relação com a natureza humana, mas com
interpretações acerca da diversidade. No século XIX,
o referencial teórico dos homens era baseado no
conceito de progresso, evolução e civilização e
acreditava-se que esses conceitos fossem verdades
universais e naturais. Assim, a desigualdade humana
também deveria ter uma origem natural e a noção de
raça tornou-se uma explicação biológica para a
diversidade cultural e humana.
A sociedade brasileira, fortemente miscigenada,
tem características de uma sociedade “racializada”, ou
seja, em que a questão das raças ainda está muito
presente e colocá-la em debate é tarefa necessária, sem
a qual não se constituirá um país mais justo e melhor.
Vê-se, no Brasil e no mundo, que o cotidiano está
repleto de atitudes preconceituosas e racistas e que,
muitas vezes, são encaradas com certa naturalidade.
Considerando que o nosso país traz uma herança
escravocrata em sua história recente, tais números
revelam que a questão racial não está solucionada e
escondê-la significa compactuar com a situação e
contribuir para reproduzi-la.
Os negros e pardos, no Brasil, são menos da
metade da população, mas 64% dos pobres e 69%
dos indigentes são negros. Com o mesmo nível de
formação de um branco, o trabalhador negro ganha
53,99% a menos. A mulher negra recebe um salário
49,47% menor do que o de uma branca. 27% dos
estudantes da população negra, entre 11 e 14 anos,
estão entre o 6º e o 9º ano, enquanto, entre os bran -
cos, o índice é de 44%. A taxa de analfabetismo é três
vezes maior entre os negros.
Uma visão científica e rigorosa não permite
naturalizar tais dados, ou seja, faz-se necessário
perceber que tal situação resulta de um processo
histórico e que urge a adoção de políticas e posturas
capazes de alterar esse quadro. 
A diversidade étnica e cultural enriquece a existência humana.
2. Conceito de Etnia e Cultura Brasi leira
(Roque de Barros Laraia – antropólogo)
Falar em etnia brasileira é uma forma de sim -
plificação, pois o Brasil foi historicamente cons -
tituído a partir da fusão de muitas etnias. Mas o que
é uma etnia? Em primeiro lugar, o conceito de etnia
é diferente do conceito de raça. Enquanto o que
caracteriza a etnia são fatores culturais, como tra -
dição, língua e identidade, o que distingue raça são
fatores biológicos como a cor da pele, o formato da
cabeça, o tipo de cabelo etc. Assim, os membros de
uma etnia compartilham de valores culturais próprios
e se comunicam por meio de uma língua que é
também própria. As pessoas que constituem essa
população se identificam e são reconhecidas pelos
outros como membros da etnia.
Faz parte de nosso jargão histórico dizer que o
Brasil foi formado por três raças, omitindo muitas
vezes o fato de ser ele um país pluriétnico. Esta
multiplicidade étnica já existia muito antes da
chegada de Cabral. As populações indígenas, de
origem asiática, eram compostas de centenas de
etnias, o que significava uma enorme diversidade
linguística e cultural. Ainda hoje existem mais de
duzentas etnias indígenas.
4 –
Raça, Etnia e RacismoMÓDULO 2
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 4
Por outro lado, todo o mundo sabe que as
populações de origem africana que vieram para o
Brasil pertenciam a inúmeras etnias portadoras de
costumes, crenças e idiomas diferentes que muito
contribuíram para a formação da cultura brasileira.
No entanto, hoje, é muito difícil falar em uma etnia
afro, tendo em vista que o intenso processo de acul -
turação praticamente extinguiu as línguas de origem
africana – embora muitas de suas palavras se tenham
incorporado ao idioma nacional – e também fez
desaparecer as identidades étnicas originais.
Finalmente, a população branca também não é
originária de uma mesma etnia. Os primeiros colo -
nizadores vieram de Portugal, mas, a partir da
segunda metade do século XIX, o País foi palco de
um grande processo imigratório, e muitos dos imi -
grantes europeus que aqui chegaram se identificavam
muito mais por meio de suas identidades étnicas do
que nacionais. Basta lembrar, como exemplo, que,
quando a imigração italiana se iniciou no Brasil, a
Itália mal tinha completado a sua unificação como
Estado-Nação. No início do século XX, um novo
contingente de etnias asiáticas chegou ao Brasil.
Esta grande diversidade étnica que constituiu o
País, longe de ser um problema, resultou em uma
riqueza cultural que se expressa por intermédio das
artes – da música principalmente –, da culinária, das
crenças, do próprio modo de ser dos brasileiros etc.
O mais importante fator de unidade nacional foi a
língua, este português falado no Brasil, diferente do de
Portugal, porque se formou pela adição de pa lavras
originárias das muitas etnias que compõem o País.
O Brasil é um país marcado pela miscigenação.
3. Texto: Racismo
(Ana Sofia Ribeiro Durão)
O racismo é a tendência do pensamento, ou do
modo de pensar, em dar grande importância à noção
da existência de raças humanas distintas e superiores
umas às outras. Trata-se da convicção de que alguns
indivíduos e sua relação entre características físicas
hereditárias e determinados traços de caráter e
inteligência ou manifestações culturais são superiores
a outros.
O racismo não é uma teoria científica, mas um
conjunto de opiniões preconcebidas cuja principal
função é valorizar as diferenças biológicas entre os
seres humanos – alguns acreditam ser superiores aos
outros de acordo com sua matriz racial. A crença da
existência de raças superiores e inferiores foi
utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o
domínio de determinados povos por outros e os
genocídios que ocorreram durante toda a história da
humanidade.
Os racistas definem raça como um grupo de
pessoas que têm a mesma ascendência. Diferenciam
as raças com base em características físicas como a
cor da pele e o aspecto do cabelo. Investigações re -
centes provam que a “raça” é um conceito inven tado.
A noção de “raça” não possui nenhum funda -
mento biológico. A palavra “racismo” é igualmente
usada para descrever um comportamento abusivo ou
agressivo para com os membros de uma “raça
inferior”.
O racismo reveste-se de várias formas nos di -
versos países, consoante a sua história,cultura e ou -
tros fatores sociais. Uma forma relativamente recen te
de racismo, por vezes denominada “dife renciação
étnica ou cultural”, defende que todas as raças e
culturas são iguais, mas não se deviam misturar, a fim
de conservar a sua originalidade. Não há nenhuma
prova científica da existência de raças diferentes. A
Biologia só identificou uma raça: a raça humana. A
importância que o homem dá à cor da pele do seu
semelhante é deveras preocupante. Na realidade, em
muitos casos a diferença da cor da pele é uma
barreira muito mais determinante para a comunicação
entre as pessoas do que a própria diferença
linguística, isto pode ser considerado um fenômeno
antinatural, uma vez que não vemos na natureza os
animais minimamente preocupados com as
diferenças de pelagem ou penas.
– 5
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 5
A diferença de cor entre as pessoas tem uma
explicação científica para a qual o homem não con -
tribui minimamente: a maior ou menor concentração
de melanina da pele, que torna a pele da pessoa mais
o menos escura.
O racismo começa quando a diferença, real ou
imaginária, é usada para justificar uma agressão. Uma
agressão que assenta na incapacidade para
compreender o outro, para aceitar as diferenças e para
se empenhar no diálogo.
(Mário Soares – antigo presidente de Portugal)
O conceito de raça não é natural; ao contrário, trata-se de uma
construção humana.
Legislação que proíbe as discriminações no exercício
de direitos, por motivos baseados na raça, cor,
nacionalidade ou origem étnica: Lei nº 134/99, de 28
de agosto; Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de julho.
6 –
Exercícios Propostos
1. Com base nas leituras desta aula, julgue as
proposições abaixo, colocando V para as verdadeiras
e F para as falsas.
I. Raça e etnia são sinônimas e fazem referência à
diversidade das espécies humanas. ( )
II. Raça é uma categoria consistente e científica para
explicar a natureza humana. ( )
III. Segundo muitos biólogos, há uma única raça: a
raça humana. ( )
IV. O Brasil possui índices sociais que revelam que
os afrodescendentes são portadores de um
estigma social. ( )
Resposta: F F V V
2. Afirma-se que o Brasil é um país formado por
três raças, mas, segundo o professor Roque Laraia, o
Brasil já era um país pluriétnico antes mesmo do seu
descobrimento. Teça um comentário com base no
texto de Laraia.
RESOLUÇÃO:
O autor não leva em consideração a categoria raça,
mas a etnia, que faz referência à cultura e não aos
aspectos biológicos. Os grupos indígenas brasileiros
são de diversas etnias, assim como os brancos e negros.
Para Laraia, a diversidade étnica do nosso país
resultou numa grande riqueza do tecido cultural,
particularmente na formação da língua nacional.
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 11:16 Página 6
3. Segundo o texto de Ana S. Durão, existe uma
tendência hoje de se afirmar que todas as raças são
iguais, mas que não deveriam se misturar, para
permitir a preservação das raças originais. O que a
autora pensa sobre tal tendência? Justifique. 
RESOLUÇÃO:
Segundo a autora, a proposta é in coerente, pois não
existe nenhuma prova científica que sustenta a
categoria de raça original ou raça pura.
4. Elabore uma reflexão pessoal relacionando a
ideia de diferenças e igualdade.
RESOLUÇÃO:
Espera-se que o aluno compreenda que a construção
de uma sociedade mais justa, marcada pela equidade,
deve saber incorporar as diferenças culturais,
biológicas e existenciais, por exemplo.
– 7
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 7
8 –
1. Introdução
O cidadão e as instituições em geral possuem
deveres e obrigações para com a sociedade. Nos últi -
mos anos, tem crescido a consciência e o trabalho em
torno da responsabilidade social por parte das
empresas de capital privado.
O desenvolvimento da ciência ecológica contri -
buiu para aumentar a preocupação com o meio
ambiente. Certas atividades industriais ou a implan -
tação de uma fábrica podem provocar um impacto
sobre atividades econômicas das populações locais.
Assim, seria um exemplo de responsabilidade social
se a fábrica desenvolvesse um projeto para minimi zar
tais impactos, criando alternativas de sobrevi vência
das pessoas que viviam e trabalhavam no local antes
das instalações fabris, e se esforçasse para estabelecer
um novo cenário no local.
A empresa passa a se preocupar com os impactos
sociais e naturais, desenvolvendo projetos para
compensar os prejuízos. Assim, podemos afirmar que
o chamado desenvolvimento sustentável é um aspecto
da responsabilidade social. Uma empresa poderá
patrocinar e desenvolver programas de inclusão
social, educação e qualifica ção, bem como incentivar
um esporte ou outra área cultural. 
Responsabilidade social empresarial é a forma de
gestão ética que tem a organização com suas partes
interessadas, com o objetivo de minimizar impactos
negativos no meio ambiente e na comunidade local. A
ideia é estabelecer um canal de diálogo entre as partes
interessadas e envolvidas, com a percepção clara de que
todos ganham, inclusive os empresários, investindo
recursos com preocupações sociais e ambientais.
Mãos Terra EUVI Marketing. Sustentabilidade é a conciliação
entre progresso e proteção ambiental.
2. Texto
Sociologia da empresa e
responsabilidade social das empresas
(Ana Maria Kirschner – socióloga)
Até os anos 1980, as ciências sociais não se apro -
ximavam muito das empresas, seja para tomá-las
como objeto de estudo, seja para tentar intervir sobre
o mundo social das empresas. Em meados da década
de 1980, esta situação se reverte. A sociedade passa
a interpelar a empresa, que aparece mais na mídia,
agora de forma mais favorável, não mais apontada
apenas como o lócus onde se dá a ex ploração do
trabalho pelo capital. Nos anos 1990, associações e
fóruns empresariais, assim como empresários,
isoladamente discutem a função social da empresa e
a sua responsabilidade social.
A noção de responsabilidade social da empresa
está na moda na linguagem empresarial e da
administração, porém ainda não tem um substrato
conceitual, dando margem, portanto, a muitos
equívocos. Esta imprecisão é tão mais séria porque
estamos vivendo uma época em que a sociedade
interpela as empresas e simultaneamente os empre -
sários sentem necessidade de melhorar sua imagem
pública promovendo debates sobre ações sociais e
intervindo de fato no social. (...)
As empresas têm um triplo projeto: realizar um
produto, obter lucro e assegurar a coerência dos
indivíduos que as compõem. Se a empresa falhar em
um destes pontos, sua existência fica comprometida.
Segundo Michel Liu, a empresa deve ser consi derada
como um sistema aberto, pois conjuga as noções de
autonomia e dependência em relação aos ambientes
em que se insere. As trocas com o meio são
necessárias e contínuas. Liu utiliza o conceito de
fronteira seletiva para analisar a relação empresa-
sociedade: se por um lado a empresa sofre diferentes
tipos de constran gimentos do meio em que atua –
econômicos, técnicos, políticos, culturais, entre
outros –, ela devolve à sociedade algo diferente
daquilo que recebe. Seus funcionários são pessoas
que trazem as mais distintas culturas e formações e,
juntas, devem dar sua parte para que a empresa
realize seu triplo projeto. Em outras palavras, os
membros de uma empresa formam um coletivo que
Responsabilidade SocialMÓDULO 3
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 11:16 Página 8
– 9
apresenta uma identidade e uma cultura próprias. Isto
se dá porque a empresa é criadora do social, no
sentido daquilo que une os indivíduos e constitui uma
sociedade. Atualmente já dispomos de instrumento
para conhecer a força e a coesão das estruturas
sociais. É o modelo SIC, desenvolvido pelo
sociólogo de empresa Renaud Sainsaulieu, com base
na análise de milhares de empresas. Este modelo
permite conhecer as regulações sociais observadas
entre estruturas, interação e cultura. O modelo da
sociologia de empresa – SIC – possibilita identificar
os atores e as situações que eles estão vivendo e
conhecer as relaçõesentre os atores.
Pela ótica da Sociologia, as empresas são
construções sociais no sentido clássico do termo, e
questões como eficiência, competitividade e qualida -
de podem ser vistas com base no papel social que
cabe às empresas assumir em tempos de globalização
e reformas para o mercado.
A empresa contemporânea não se limita a gerir e
manter recursos econômicos, técnicos e humanos,
como foi o caso até alguns anos atrás. Hoje, a in -
venção e desenvolvimento de novos recursos se im -
põem como exigência de sobrevivência econômica.
Uma das chaves para resolver este problema é a
qualidade da estrutura social das relações humanas
de trabalho, pois esta é uma das fontes cruciais de
criatividade. 
Ao contrário do que sugeriria uma abordagem
que visse na empresa um agente passivo ante a socie -
dade em que está inserida, não se trata de uma
adaptação mecânica da empresa às imposições
econômicas e técnicas que vêm de fora: os atores no
seio da organização têm sempre escolhas possíveis;
eles constroem uma organização cujo resultado é
sancionado pelo exterior. (...)
A Sociologia da Empresa vai além dos modelos
que definem o espaço fabril como espaço de relações
antagô nicas de classe. A empresa tem uma função
identificadora na sociedade e constitui, portanto,
verdadeira instituição social: ela instaura um
conjunto de relações sociais e culturais e produz,
assim, identidades novas. Nela se desenvolvem
relações de oposições e de alianças e o ator vivencia
as relações de trabalho de forma interativa e
estratégica.
A Sociologia da Empresa rompe com os modelos
que interpretam as estratégias dos atores apenas em
termos das oportunidades de poder, que omitem da
análise a função dos valores e lógicas coletivas que
permeiam as práticas sociais.
A mobilização dos recursos humanos para fins
econômicos depende não só das capacidades pro -
fissionais, mas também das regulações das relações
sociais de produção, para suscitar a complemen ta ri da -
de das ações coletivas, a solidariedade, a comu nicação
e a criatividade no seio do sistema social.
As práticas econômicas devem levar em consideração o aspecto
socioambiental.
Glossário:
Desenvolvimento sustentável: conceito que propõe uma
conciliação entre desenvolvimento econômico e proteção
ambiental.
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 9
10 –
1. Leia o texto de Ana Maria Kirschner e julgue as
proposições abaixo. Coloque V para as verdadeiras e
F para as falsas.
I. De acordo com a autora, hoje a empresa tem
apenas dois grandes objetivos: realizar um
produto e obter lucro. ( )
II. Empresários isoladamente discutem a função
social da empresa e a sua responsabilidade so cial,
motivados, em parte, pela necessidade de melho -
rar a imagem pública de suas empresas. ( )
III. A Sociologia da Empresa incorpora a função dos
valores e lógicas coletivas que permeiam as
práticas sociais. ( )
Resposta: F V V
2. Por que a autora Kirschner afirma que a empresa
é criadora do social? E o que isso significa?
RESOLUÇÃO:
A empresa é criadora do social porque uma instituição
une e organiza os indivíduos e constitui uma sociedade.
Isso significa que os membros de uma empresa
formam um coletivo que apresenta uma identidade e
uma cultura próprias. Investir em responsabilidade
social fortalece a coesão e permite conhecer as relações
entre os atores e sua cultura.
3. “Ao contrário do que sugeriria uma abordagem
que visse na empresa um agente passivo ante a
sociedade em que está inserida, não se trata de uma
adaptação mecânica da empresa às imposições
econômicas e técnicas que vêm de fora...”
(A. M. Kirschner)
Conclua o pensamento acima.
RESOLUÇÃO:
Os atores no seio da organização empresa rial têm
sempre escolhas possíveis, segundo a autora, e
constroem uma organização cujo resultado é san -
cionado pelo exterior. Assim, a empresa instaura um
conjunto de relações sociais e culturais e produz
identidades novas. Nela se desenvolvem relações de
oposições e de alianças e o ator vivencia as relações de
trabalho de forma interativa e estratégica.
Exercícios Propostos
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 10
– 11
1. Introdução
Políticas de inclusão social consistem em ações
positivas de combate à exclusão social e econômica
de pessoas muito pobres, de baixo grau de instrução,
portadoras de deficiências físicas ou ainda perten -
centes a alguma minoria social. Assim, espera-se
poder oferecer condições dignas de vida e maiores
possibilidades de participação social a todos.
Para realizar tal empresa humanitária, foram
elaboradas leis, políticas e programas voltados ao
atendimento imediato de excluídos, contando com a
participação dos setores público e privado e da
sociedade civil.
Nos últimos anos, por exemplo, no Brasil, foram
criadas leis que facilitam a vida das pessoas na ter -
ceira idade e de deficientes físicos. Até recente mente,
não se via a circulação de coletivos em condi ções de
transportar cadeiras de rodas, ou banheiros especiais
para deficientes físicos. Hoje, são produ zidos e
exigidos mecanismos que adaptem os defi cientes aos
sistemas sociais, facilitando a frequência de institui -
ções comuns e, quando necessário ou aconselhável,
são gerados sistemas especiais separados. 
Há uma preocupação e esforço em inserir cida -
dãos, antes excluídos, naturalmente, desenvolvendo
habilidades de circulação, programas de educação,
sistemas de acesso à cultura, lazer e atividades pro -
fissionais. Além disso, a legislação condena qual quer
forma de discriminação e segregação.
No Brasil, a Lei Federal n° 7.853, de 24 de ou -
tubro de 1989, assegura os direitos básicos dos por -
tadores de deficiência. Em seu artigo 8º, será julgado
por crime punível com reclusão (prisão) de 1 a 4 anos
e multa quem
1. recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem
justa causa, a inscrição de aluno em estabe leci -
mento de ensino de qualquer curso ou grau, público
ou privado, porque é portador de defi ciência;
2. impedir o acesso a qualquer cargo público,
porque é portador de deficiência;
3. negar trabalho ou emprego, porque é portador de
deficiência;
4. recusar, retardar ou dificultar a internação hos -
pitalar ou deixar de prestar assistência médico-hos -
 pitalar ou ambulatória, quando possível, a pessoa
portadora de deficiência.
A inclusão social consiste, portanto, na constru -
ção de uma sociedade nova, alterando a mentalidade
de todas as pessoas. O Brasil é considerado um dos
países com mais avançada legislação nesse esforço.
O destaque está na acessibilidade por parte de pes -
soas com deficiências. A chamada lei de aces si -
bilidade está no Decreto Federal 5.296/2004. Po rém,
muitas pessoas desconhecem as leis e outras vivem
ainda à margem das políticas de inclusão social.
Coreografia de inclusão: programa desenvolvido pela
Universidade Paranaense.
2. Texto 1
Ações afirmativas e políticas públicas de
inclusão social
(João do Nascimento)
Karl Marx, historiador alemão (1818-1883), entre
os teóricos do socialismo científico, afirmou durante
sua vida que “a sociedade capitalista é antes de tudo
uma sociedade de classes” e a “história do homem é
a própria luta de classes”. Sendo assim, o conflito
social interclasses gera a apropriação dos bens e das
oportunidades sociais por alguns segmentos. É a
partir da análise do pensamento de Marx dos
propósitos capitalistas que vigoram no Brasil há mais
de 400 anos que se insere a exploração do povo
Políticas de Inclusão SocialMÓDULO 4
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 11
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afrodescendente como mera ferramenta de utilidade
material, força de trabalho e bem comercializável.
Não há o devido reconhecimento do desmantela men -
to de centenas de milhares de etnias que compunham
o continente africano e que se dispersaram por todo
o mundo ocidental, constituindo o capitalismo, em
suas múltiplas contradições sociais.
Para tentar superar as mazelas sociais e promover
a inclusão e a justiça, a partir dos anos 1990, o Brasil
tem sido alvo em potencial dos programas de açõesafirmativas que visam reconhecer e corrigir situações
de direitos negados socialmente ao longo da história.
As ações afirmativas vêm sofrendo críticas por uma
pequena parcela da sociedade brasileira (a elite), que
há muito tempo vem acumulando riquezas e opor -
tuni dades. O que o negro e os outros segmentos
excluí dos da participação e usufruto dos bens,
riquezas e oportunidades querem é o direito à cida -
dania, à cultura, educação, trabalho digno e partici -
pação das políticas públicas de caráter social. Os
programas de ações afirmativas são, na verdade,
políticas de correção de desigualdades sociais e
formas de efetivação de direitos. Portanto, defender
as ações afirmativas é de fato se posicionar contra o
mito da democracia racial e a exclusão social
existente no Brasil.
É preciso agir na raiz do problema para erradicar
a situação de exclusão social. O programa de cotas
para negros e afrodescendentes é uma das ações
afirmativas de caráter radical, pois mexe com privi -
légios estabelecidos por determinados segmentos da
sociedade brasileira.
“Ações afirmativas são medidas especiais e tem -
porárias, tomadas pelo Estado e/ou pela iniciativa pri
vada, espontânea ou compulsoriamente, com o obje -
tivo de eliminar desigualdades historicamente acu -
mu ladas, garantindo a igualdade de oportuni dade e
tratamento, bem como compensar perdas pro vocadas
pela discriminação e marginalização, por motivos
raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.”
(Ministério da Justiça, 1996, GTI População Negra)
As políticas afirmativas visam reconhecer as
diversidades entre a população negra e a não negra e
direcionar os esforços para minimizar e gradati -
vamente diminuir as distâncias socioeconômicas que
permeiam a vida social brasileira.
3. Texto 2
Sobre exclusão social e políticas de inclusão
(Henrique Rattner)
Os programas oficiais e das ONGs encaram o
problema da exclusão de modo parcial, privilegiando
ora a geração de renda (bolsa de escola, cesta básica
etc.), ora a questão de emprego por meio de frentes
de trabalho, particularmente no Nordeste flagelado
pelas secas recorrentes. Nenhum desses programas
atinge o objetivo de inclusão social, no sentido mais
lato e profundo da palavra, por omitir a dimensão
central do fenômeno – a perda de autoestima e de
identidade de pertencer a um grupo social
organizado.
A inclusão torna-se viável somente quando,
através da participação em ações coletivas, os
excluídos são capazes de recuperar sua dignidade e
conseguem – além de emprego e renda – acesso à
moradia decente, facilidades culturais e serviços
sociais, como educação e saúde.
Esta tarefa ultrapassa o âmbito estreito dos
programas de filantropia desenvolvidos por ONGs e
exige o engajamento contínuo do poder público atra -
 vés de políticas proativas e preventivas em nível
federal, sobre tudo na área econômica, que per meiem
as ações dos governos estaduais e municipais. 
As políticas em nível macro executadas pelas
diversas instâncias do poder público não devem ser
concebidas como competitivas ou substitutivas dos
programas e projetos realizados pelas ONGs e outras
entidades da sociedade civil. Ambos são necessários
e complementares, à condição de que não haja
cooptação ou aproveitamento dos programas
desenvolvidos para fins político-partidários.
Em retrospectiva, nas últimas décadas percebe-se
o avanço gradual da sociedade civil nas disputas
sobre sua admissão nas esferas de decisão, até mesmo
com a alocação de recursos dos orçamentos gover -
namentais.
Assim, é possível prever um longo período de
poder dual em que as autoridades e instituições
tradicionais procurem manter o status quo na defesa
dos interesses das classes proprietárias e da tecno -
cracia a elas aliada. Por outro lado, as múltiplas
organizações da sociedade civil, adquirindo saber e
experiência no manejo e na defesa das causas
públicas, conquistam maior autonomia e autocon -
fiança na sua capacidade de gerir o próprio destino
no processo de transformação social e política.
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– 13
Exercícios Propostos
1. “O conceito de inclusão nos ensina não a tolerar,
respeitar ou entender a deficiência, mas sim a
legitimá-la, como condição inerente ao ‘conjunto
humanidade’…”
(Cláudia Werneck)
Por que a autora afirma que inclusão social não nos
ensina a tolerar?
RESOLUÇÃO:
O termo “tolerar” é de fato ambíguo. Pode significar
aceitar ou aguentar. A autora sugere com a frase acima
que a política de inclusão vai além da simples
compreensão de uma suposta infelicidade do outro. A
deficiência passa a ser vista como uma das muitas
condições humanas dentro da diversidade e múltiplas
possibilidades de existência autenticamente humana.
2. “Um ponto importante sobre a inclusão social é
percebermos que o fato de incluir significa também
que devemos capacitar...”
(Juliana Mafra)
Teça um comentário que continue a frase, dando-lhe
sentido.
RESOLUÇÃO:
Devemos capacitar todas as pessoas (empresas, alunos,
trabalhadores, professores) para assumir a
responsabilidade de colaborar no processo de inclusão.
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 13
14 –
3. “A falta de conhecimento da sociedade, em geral,
faz com que a deficiência seja considerada uma
doença crônica, um peso ou um problema. O estigma
da deficiência é grave, transformando as pessoas
cegas, surdas e com deficiências mentais ou físicas
em seres incapazes, indefesos, sem direitos, sempre
deixados para o segundo lugar na ordem das coisas.
É necessário muito esforço para superar este
estigma.”
(Maria Regina Cazzaniga Maciel)
Comente o sentido do texto acima.
RESOLUÇÃO:
O potencial e as habilidades de pessoas com
deficiências são pouco valorizados nas suas comuni da -
des de origem, que, obviamente, possuem pouco escla -
recimento a respeito de tais deficiências.
4. Leia o texto de João do Nascimento e julgue as
afirmativas abaixo, colocando V para as verdadeiras
e F para as falsas.
I. O autor não posiciona historicamente o problema
de exclusão do afrodescendente no Brasil. ( )
II. O autor afirma que no Brasil não existem ações afir -
mativas e políticas adequadas de inclusão. ( )
III. O autor posiciona-se a favor das propostas de
cotas para afrodescendentes, porém afirma que
elas contrariam interesses de classe.
Resposta: F F V
5. Leia o texto de Henrique Rattner e julgue as
afirmativas abaixo, colocando V para as verdadeiras
e F para as falsas.
I. Segundo o autor, as ONGs e as políticas públicas
possuem um enfoque inadequado, no Brasil, na
superação dos problemas sociais. ( )
II. Para o autor, o trabalho das ONGs pode substi -
tuir perfeitamente a responsabilidade pública do
Estado. ( )
III. Os interesses e trabalhos das ONGs devem compe -
tir com as políticas de administração pública,
embora a sociedade civil esteja conquistando,
com a sua participação política representada pelas
ONGs, crescente autonomia. ( )
Resposta: V F F
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– 15
1. Introdução
Globalização é a interligação do mundo, ou o
processo de aprofundamento da integração mundial,
particularmente econômica, com repercussões no
plano social, cultural e político.
No final do século XX, surgiram novas tecnolo -
gias que aceleraram o processo de produção, de
informação e de comércio. Um exemplo desse fenô -
meno histórico é a Internet.
Trata-se de uma nova fase de produção capitalista
e de sua expansão baseada na formação de uma
“aldeia global”. Ocorre a invasão de mercadorias,
informação, pessoas, serviços e tecnologias de várias
partes do mundo em diversos lugares.
Pode-se dizer que o mundo está em processo de
globalização desde o início da história. As viagens,
as guerras, a expansão marítima estão inseridas num
processo de mundialização. Porém, o fenômeno a que
hoje chamamos de globalização é um processo mais
recente e muito específico. O colapso do mundo
socia lista e o fim da Guerra Fria inauguram uma nova
ordem mundial.
Vê-se um processo de homogeneização dos cen -
tros urbanos,a expansão das corporações, o forta -
lecimento das organizações supranacionais e a
reor ganização das estruturas sociais e culturais.
Manuel Esteves, O Mundo na Era Global.
Uma característica da globalização é a insa -
ciabilidade de acúmulo de capital a baixos custos e
no prazo de tempo mais curto possível. Aqui entra a
ação dos agentes especulativos, conhecidos como
smart money ou hot money (respectivamente, “di -
nhei ro esperto” e “dinheiro quente”). Os fluxos de
capi tais internacionais crescem significativa mente e
redesenham o palco em que se disputam poderes e
influências.
Essa nova fase do capitalismo define-se por um
mundo ordenado de forma multipolar, com a atuação
marcante das transnacionais e formação de blocos
econômicos.
2. Texto
O lado perverso da globalização na sociedade
da informação
(Maria Elza Miranda Ataíde)
Introdução
Passados alguns anos da entrada do Brasil na era
da globalização, podemos constatar a mudança de
paradigmas econômicos, políticos e sociais. 
O objetivo do desenvolvimento econômico é o
aumento contínuo do bem-estar do povo, propor cio -
nando a satisfação de necessidades básicas e minimi -
zando desigualdades de acesso a bens e serviços.
A globalização prometia abertura de mercado e
igualdade de oportunidades para todos. Isto signi -
ficaria que todos os indivíduos fariam ou poderiam
fazer parte de um mesmo mundo, de uma mesma
realidade. A democracia pressupõe uma sociedade
livre, com igualdade de direitos e deveres ou, no
mínimo, sem grandes desigualdades entre os
cidadãos. A globalização está permitindo as mesmas
oportunidades para todos? Ou está privilegiando
pequenos grupos? Em um rápido balanço de final de
século, que conclusões podemos elencar?
Alguns resultados do processo de globalização 
O Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) divulgou um relatório
sobre o desenvolvimento humano no qual revela um
quadro bastante negativo no período de 1990 a 1995,
que podemos relacionar com os primeiros resultados
do processo de globalização. Segundo este relatório,
o nível de pobreza aumentou no mundo. Antes se
concentrava na América Latina, no sul da Ásia e na
África. Hoje, sabemos que os países da Europa
Oriental e os da antiga União Soviética engrossam a
lista dos excluídos. Até os países ricos viram o índice
de pobreza subir de forma alarmante.
Globalização e SociedadeMÓDULO 5
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16 –
O desemprego alcançou níveis iguais aos da
década de 1930, e a desigualdade de renda cresceu
ainda mais. O mercado tornou-se mais agressivo com
a globalização da economia. O capital estrangeiro
entrou no Brasil. O monopólio agonizou. O governo
brasileiro lançou uma política de privatização. Para
Forrester, as privatizações, sob a alegação de reduzir
o tamanho dos Estados, desejam mesmo é poupá-los
de realizar cortes de pessoal. Segundo ela, a
globalização e a informatização significam a
privatização do máximo de empresas estatais que for
possível, seu enxugamento e o enfraquecimento dos
trabalhadores pelo terror do desemprego.
As empresas brasileiras, para se tornarem com -
pe titivas e sobreviverem nesta economia globalizada,
tiveram de introduzir modificações em suas
estratégias de competição e crescimento. Muitas
desapareceram, ou estão fechando suas portas. O
desemprego aumenta a cada dia.
A globalização pode estar acentuando as
desigualdades sociais no mundo.
A globalização pode estar acentuando as desigualdades sociais
no mundo.
Os Perigos da Globalização
(Prof. Vanderlei de Barros Rosas)
I. O perigo da construção de uma sociedade
hedonista. O prazer pelo prazer. Sexo, drogas
e música (antigamente era rock, agora é funk)
são objetivos prioritários para nossa
juventude. Fico assustado quando ouço nos
meios de comuni cação de massa músicas com
apologias ao crime organizado, drogas e a
prática de sexo livre em grupo. Tais músicas
fazem sucesso porque encon tram guarita em
um mundo glob alizado, no qual o ser humano
tem procu rado satisfazer suas necessidades
básicas através de suas realizações de prazer.
Creio que até Freud ficaria assustado com
tanta libido social.
II. O perigo da construção de uma sociedade
niilista. A ausência total de referencial.
Deleuze, filósofo francês, apontou uma crítica
que Nietzsche fez à filosofia de Schopenhauer.
Para Schopenhauer, existe um nada de
vontade, enquanto, para Nietzsche, existe a
vontade do nada. Hoje estamos vivendo mais
um negativismo schopenhaueriano do que o
niilismo proposto por Nietzsche, que se
apropriou deste conceito da religião budista.
Nossa sociedade caminha para uma ausência
total de desejo, pois os velhos paradigmas
estão sendo quebrados, porém não estamos
construindo outros no lugar. Há uma total
ausência de ícones na sociedade pós-moderna.
III. O perigo da construção de uma sociedade
alienada. Nas grandes empresas, fala-se muito
sobre a questão da transversalidade, associada
à questão da qualidade total (a velha reenge -
nharia, lembra-se?). Este modelo neoliberal
imperialista seria melhor definível como
“Trans ver salidade Ideológica”. Missão, decla -
ração de propósito, lema da empresa, qualquer
que seja o título que se emprega a esta
modalidade, nada mais é do que a tentativa de
desviar o homem dos temas centrais, reais e
necessários à sua sobrevivência, e alienar
principalmente os países do Terceiro Mundo
dos temas centrais que interessam tão somente
aos imperialistas.
IV. O perigo da construção de uma sociedade de
consumo adicto. O vício do consumismo. O
im portante é o ter e o consumir, e não o ser e
o existir.
O direito do cidadão virou direito do
consumidor. Tudo agora está girando pela
questão do patrocinador (...).
LEITURA COMPLEMENTAR
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 16
V. O perigo da construção de uma sociedade
individualista. A relação de competição é tão
grande que fica difícil identificar sociologi -
camente onde há conflito e competição. Esta -
mos evoluindo para a lei da selva. Meu pai
falava sobre a lei do MURICI: Cada um cuida
de si. Quando era criança, não entendia muito
o que ele queria dizer com isto, e ainda não sei
se entendi plenamente, mas seja o que for
estamos vivendo momentos em que as rela -
ções humanas não têm valor algum, a não ser
na base de troca. A pergunta básica é: o que
eu vou ganhar com isso? Este individualismo
acerbado tem trazido terríveis danos à nossa
sociedade. Precisamos resgatar valores como
cooperação, amizade, companheirismo,
recipro cidade etc.
VI. O perigo da construção de uma sociedade “tec -
no lo gicêntrica”. Com base na teoria de
Descartes, passamos a adotar o falso mito da
racionalidade humana como veículo de domí -
nio da explicação do mundo. Isto tomou força
com o racionalismo Kantiano, em que a razão
passa, através do turbilhão, a ser o instrumento
da visão e de entendimento do mundo. O
iluminismo permeado desta tão grande razão
perpetuou tais conceitos, culminando com
Augusto Comte através de sua filosofia
positivista, quando coloca o estágio tecnológico
como o final do processo evolutivo do homem
(Mito – Filosofia – Ciência). O tecnicismo e o
cientificismo em que estamos mergulhados
tende a um processo de desuma nização das
relações humanas. Estamos nos relacionando
mais com máquinas do que com seres
humanos. A máquina é o fim, o homem o meio.
Devemos usar a máquina e amar o ser
humano; inverter esta ordem causa problemas.
VII. O perigo da construção de uma sociedade amo -
ral. Diante das recentes descobertas científicas,
prin ci palmente na área biogenética, o homem
precisa, mais do que nunca, estabelecer
referenciais, condu tas e posturas éticas para que
não venhamos a proce der contra a própria
natureza humana (se é que existe uma natureza
humana no homem). A clonagem, as
informações do mapeamento genético, os trans -
gênicos e outras novas descobertas: qual é o
limite do homem?
Numa sociedade na qual o capitalismo se
instaurou como único modelo econômico, o
imperialismo opri me os mais fracos, o prazer
está pelo prazer, a pornografia(principalmente
a pedofilia) tem cresci do assustadoramente e o
comércio do narcotráfico é o mais rentável, o
que devemos esperar?
VIII. O perigo da construção de uma sociedade com
perda de identidade cultural. O imperialismo do
Primeiro Mundo ocorre principalmente pelo
processo de globalização. Tal domínio começa
a se estabelecer através da linguagem, na qual
aportuguesamos várias expressões importadas:
deletar, escanear etc. Não sou xenófobo –
aquele que tem aversão ao que é estrangeiro –,
mas acre dito na valorização daquilo que é nosso
cultural mente, até como princípio de preser -
vação de nossa identidade cultural. Também
não sou tão radical, pois, se formos considerar
a cultura brasileira como nossa identidade
cultural, precisaremos res gatar o tupi-guarani
nas escolas e reavaliar a cultura afro-europeia.
Concluo, se é que podemos concluir um
assunto desta natureza, com uma pequena
comparação: um certo homem decidiu
derrubar sua velha casa onde foi criado desde
sua infância e, de um dia para outro, demoliu
tudo, porém não planejou a sua nova morada,
ficando ao relento. Assim estamos vivendo
nesta era da pós-modernidade com terríveis
consequências deste mundo globalizado, onde
estamos perdendo não somente nossa morada,
mas principalmente nossa identidade. O que
será do futuro? Só o futuro dirá. 
Glossário:
Paradigma: referencial teórico.
– 17
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1. São características do mundo globalizado ou da
nova ordem mundial:
I. Fortalecimento do conceito de soberania do
Estado.
II. Formação de uma ordem multipolar marcada pela
disputa econômica e de mercados.
III. Criação de blocos militares como a Otan.
IV. A democratização econômica e de informação,
diminuindo a distância entre ricos e pobres.
É (são) coerente (s):
a) todas. 
b) I e III, apenas. 
c) II, apenas.
d) IV, apenas.
e) III e IV, apenas.
Resposta: C
2. Há uma ideologia, hoje, que considera o cres -
cimento econômico como fim, quando o correto seria
vê-lo como meio. Elabore uma reflexão relacionando
essa afirmação com o texto de Maria Elza Miranda
Ataíde.
RESOLUÇÃO:
A autora afirma que o objetivo do desenvolvimento
econômico é o aumento contínuo do bem-estar do
povo, proporcionando a satisfação de necessidades
básicas e minimizando desigualdades de acesso a bens
e serviços. Porém não é isso que se vê. Fala-se no
desenvolvimento econômico como um fim em si
mesmo. Durante os anos 1970, propagava-se a ideia de
que era preciso primeiro deixar o bolo crescer para
depois dividi-lo, mas o que ocorreu foi um modelo de
contínua concentração de renda.
3. A globalização dinamiza economias e integra
mercados, porém ela traz em si alguns problemas
novos e acentua outros velhos para a humanidade.
Escolha um dos perigos da globalização previstos
pelo filósofo e teólogo Vanderlei de Barros Rosas e
use-o para elaborar uma reflexão pessoal.
RESOLUÇÃO:
O aluno deve ser orientado a escrever um pequeno
texto com coerência e baseado na realidade social.
18 –
Exercícios Propostos
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– 19
1. Introdução
É evidente que a globalização registra profundas
marcas na cultura. É observável a mudança e
inovação de padrões de comportamentos, assim como
uma exposição às influências culturais externas em
cada cultura nacional e local. Tornou-se até mesmo
um lugar-comum afirmar que a glo balização
homogeneizará as culturas, extinguindo as tradições e
as localidades. Por isso, fala-se em pro ces sos de
destradicionalização e de desterri to rialização. O
professor e sociólogo Renato Ortiz (Mundialização e
Cultura, Brasiliense, 1998), que utiliza os termos
acima, não acredita, porém, numa homogeneização,
mas em processos de reinter pretação das culturas e
das tradições. Ortiz fala em novos estilos de vida,
marcados pela aceleração do tempo e redução do
espaço geográfico. Assim, a nova ordem inaugura
uma cultura fast-food, que não significa uma ame rica -
nização da cultura global. Não há, portanto, segundo
o autor citado, um movimento de unicidade cultural.
Apresentação de música étnica (world music) na Holanda, em
Maastricht.
2. Texto
Efeitos culturais da globalização
(Antonio Inácio Andrioli – Doutorando em Ciências Sociais
na Universidade de Osnabrück – Alemanha)
“Nós vivemos na era da globalização, tudo con -
verge, os limites vão desaparecendo.” Quem não ouviu,
no mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? A
globalização é um chavão de nosso tempo, uma
discussão que está na moda, em que opiniões fatalistas
conflitam com afirmações críticas e o temor de uma
homogeneização está no centro do debate. Suposições
de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou,
simplesmente, de uma economia mundial surgem
segui damente, e suas consequências levariam a proces -
sos de unificação e adaptação aos mesmos modelos de
consumo e a uma massificação cultural. Mas há que se
perguntar: trata-se apenas de conceitos em disputa ou
há algo que aponte, de fato, nesta direção? Quais são,
afinal, os efeitos culturais da globalização?
O processo de constituição de uma economia de
caráter mundial não é nada novo. Já no período
colonial houve tentativas de integrar espaços inter -
continentais num único império, quando a ideia de
“dominar o mundo” ficou cada vez mais próxima.
Por outro lado, a integração das diferentes culturas e
povos como “um mundo” já foi desejada há muito
tempo e continua como meta para muitas gerações.
Sob esta ótica, o conceito de globalização poderia ter
um duplo sentido, se ele não fosse tão marcado pelo
desenvolvimento neoliberal da política internacional.
Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o
termo “globalização” são identificados processos que
têm por consequência a subjugação e a ligação
transversal dos Estados nacionais e sua soberania
através de atores transnacionais, suas oportunidades
de mercado, orientações, identidades e redes. Por isso,
ouvimos falar de defensores da globalização e de
críticos à globalização, num conflito pelo qual di fe -
ren tes organizações se tornam cada vez mais conhe -
cidas. Neste sentido, não se trata de um conflito stricto
sensu sobre a globalização, mas sobre a prepotência e
a mundialização do capital. Esse proces so, da forma
pela qual ele atualmente vem aconte cendo, não deveria
sequer ser chamado de glo ba lização, já que atinge o
globo de forma dife renciada e exclui a sua maior parte
– se observarmos a circulação mundial de capital,
podemos constatar que a maioria da população
mundial (na Ásia, na África e na América Latina)
permanece excluída.
Essa forma de globalização significa a predo -
minância da economia de mercado e do livre mer -
cado, uma situação em que o máximo possível é
mercantilizado e privatizado, com o agravante do
desmonte social. Concretamente, isso leva ao do mínio
mundial do sistema financeiro, à redução do espaço
Globalização e CulturaMÓDULO 6
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20 –
de ação para os governos – os países são obri gados a
aderir ao neoliberalismo – ao aprofun damento da
divisão internacional do trabalho e da concorrência e,
não por último, à crise de endivi damento dos Estados
nacionais. Condições para que essa globalização
pudesse se desenvolver foram a interconexão mundial
dos meios de comunicação e a equiparação da oferta
de mercadorias, das moedas nacionais e das línguas,
o que se deu de forma pro gressiva nas últimas
décadas. A concentração do capital e o crescente
abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem
a mesma renda de 600 milhões de outras pessoas em
conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhão
de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de
pessoas passam fome) são os principais problemas
sociais da globalização neoliberal que vêm ganhando
cada vez mais significado.
É evidente que essa situação tem efeitos sobre a
cultura da humanidade, especialmente nos países
pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais
perceptíveis. Em primeiro lugar, podemos falar de
uma espécie de conformidadee adaptação. Em razão
da exigência de competitividade, cada um se vê como
adversário dos outros e pretende lutar pela
manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos
são taxados de incompetentes e os pobres tendem a
ser responsabilizados pela sua própria pobreza.
Paralelamente a isso, surge nos países industria -
lizados uma nova forma de extremismo de direita, de
forma que a xenofobia e a violência aparecem
entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho. É
claro que a violência surge também como reação dos
excluídos, e a lógica do sistema, baseada na com -
petição, desenvolve uma crescente “cultura da
violência” na sociedade. Também não podemos es -
quecer que o próprio crime organizado oferece opor -
tunidades de trabalho e segurança aos excluídos.
Embora tenham sido desenvolvidos e disponi -
bilizados mais meios de comunicação, presencia mos
um crescente isolamento dos indivíduos, de forma que
as alternativas de socialização têm sido, parado -
xalmente, reduzidas. A exclusão de muitos grupos na
sociedade e a separação entre camadas sociais têm
contribuído para que a tão propalada integração entre
diferentes povos não se efetive; pelo contrário, isso tem
levado a um processo de atomização da sociedade. O
valor está no frag mento, de modo que o engajamento
político da maioria ocorre de forma isolada como, por
exemplo, o feminismo, o ambientalismo, movimentos
contra a discriminação ética e sexual etc. Tudo isso sem
que se perceba um fio condutor que possa unificar as
lutas isoladas num projeto coletivo de sociedade. Nessa
perspectiva, fala-se de um “fim das utopias”, que se
combina com uma nova forma de relativismo: “A
verdade em si não existe; a maioria a define.”
No que se refere à educação, cresce a sobre -
valorização do pragmatismo, da eficiência mera mente
técnica e do conformismo. O mais importante é a
formação profissional, concebida como único meio de
acesso ao mercado de trabalho. A ideia é a de que, com
uma melhor qualificação técnica, se tenha maiores
possibilidades de conseguir um emprego num mercado
de trabalho em declínio. Em conse quência a isso, a
reflexão sobre os problemas da sociedade assume cada
vez menos importância e valores como engajamento,
mobilização social, soli dariedade e comunidade perdem
seus significados. Importante é o luxo, o lucro, o
egocentrismo, a “liberdade do indivíduo” e um lugar no
“bem-estar dos poucos”. Esses valores são difundidos
pelos grandes meios de comunicação e os jovens são,
nisto, os mais atingidos. A diminuição do su jei -
to/indivíduo surge como decorrência, pois o ser humano
é cada vez mais encarado como coisa e estimulado a
satisfazer prazeres supérfluos. Os excluídos são
descartados sem perspectiva e encontram cada vez
menos espaço na sociedade que, afinal de contas, está
voltada aos consumidores, enquanto o acesso público é
continuamente reduzido.
Por outro lado, há reações que se desenvolvem
internacionalmente contra essa tendência. A amplia -
ção das possibilidades de comunicação tem contri -
buído para que protestos isolados se encontrem e
constituam redes. O lema “pensar globalmente e agir
localmente” pôde ser superado, de forma que uma
ação global se tornou possível, alterando a visão de
mundo e os limites de tempo e de espaço. Para além
das diferenças étnicas, religiosas e linguísticas dos
povos, podemos falar de uma nova divisão do
mundo: de um lado, uma minoria que é beneficiada
pela globalização neoliberal e, de outro, a maioria
que é prejudicada com a ampliação do livre mercado.
Esse conflito está no centro do debate atual da
humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do
nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade
futura. Se a imagem das futuras gerações será
fragmentada ou mais homogeneizada, ainda não se
sabe, mas a possibilidade de uma crescente
desumanização é muito grande. 
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 20
– 21
Exercícios Propostos
1. Para existir enquanto língua mundial, o inglês
deve se nativizar, adaptando-se aos padrões das
culturas específicas. A diversidade de usos determina
estilos e registros particulares.
(Renato Ortiz, Mundialização e Cultura)
Com base nesse texto, pode-se concluir que
a) a globalização implica padronização.
b) há perda total das identidades e culturas nacio -
nais.
c) a mundialização não se identifica à uniformidade.
d) há homogeneidade e pasteurização das culturas
locais.
e) ocorre a americanização do estilo de vida.
Resposta: C
2. Quais as consequências que a globalização está
imprimindo no tempo, no espaço e nas culturas?
RESOLUÇÃO:
Ocorre uma redução do espaço geográfico e uma
aceleração do tempo por meio do desenvol vimento dos
transportes e meios de comunicação. Alguns autores,
como o sociólogo Renato Ortiz, afir mam estar
acontecendo um processo de desterri torialização dos
elementos culturais, isto é, a perda da definição de um
espaço geográfico específico de um determinado
elemento cultural. Assim, por exemplo, a imagem do
cowboy já não se refere somente ao Texas americano,
mas a uma cultura rural globa lizada.
3. Essa forma de globalização significa a predo -
minância da economia de mercado e do livre
mercado, uma situação em que o máximo possível é
mercantilizado e privatizado, com o agravante do
desmonte social. Concretamente, isso leva ao
domínio mundial do sistema financeiro, à redução
do espaço de ação para os governos — os países são
obrigados a aderir ao neoliberalismo —, ao
aprofundamento da divisão internacional do
trabalho e da concorrência e, não por último, à crise
de endividamento dos estados nacionais.
(Antonio Andrioli)
Segundo o texto, é possível afirmar que o processo
a) gerará uma concentração de capital e crescente
abismo entre ricos e pobres.
b) formará Estados nacionais totalitários e endivi -
dados.
c) levará a uma perda do espaço privado, diante da
valorização crescente do espaço público.
d) promoverá um maior entrosamento entre todas as
economias nacionais, caracterizando efetiva -
mente a globalização.
e) trará maior acesso à informação, permitindo
maior competitividade social e definindo uma
verdadeira meritocracia social.
Resposta: A
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22 –
1. Introdução
A modernidade é a atmosfera cultural que per -
meou o desenvolvimento do capitalismo, na sua fase
de acúmulo de capital e de ascensão da burguesia.
Alguns autores marcam o início da modernidade na
Expansão Marítima da Revolução Comercial; outros,
no advento do racionalismo filosófico do século
XVII ou Iluminismo. O pilar da modernidade é a
crença no conceito de progresso, na noção do sujeito
e na racionalidade humana. O tempo era percebido
como um todo, pois a noção de progresso dava uma
estrutura à história e, sobretudo, o homem era visto
como um projeto para a emancipação, no sentido de
que o progresso acabaria resolvendo as mazelas
sociais e existenciais da humanidade.
Como projeto cultural, a modernidade apresenta
ambiguidades, pois, se trouxe bem-estar material e
conforto para muitas pessoas, não resolveu muitos
problemas fundamentais da humanidade. O avanço
tecnológico e as revoluções industriais colaboraram
para desenhar um tecido social repleto de nós como as
desigualdades, a intolerância e os impactos ambientais.
Assim, é evidente que tal quadro exigia um novo olhar
sobre o mundo e sobre a condição humana. Por outro
lado, as constantes mudanças no modo de produção
capitalista redefiniram contextos culturais e estilos de
vida. Muitos autores passaram a chamar de pós-moder -
nidade essas mudanças com portamentais, teóricas e
estéticas que marcam a atual fase do capitalismo.
A arte pós-moderna
valoriza a forma, sem
conteúdo. A imagem
sugere um culto ao
consu mismo:
característica da 
pós-modernidade.
2. O que é a pós-modernidade
Pós-modernidade é a condição sociocultural e
estética do capitalismo contemporâneo, também
denominado pós-industrial ou financeiro. Alguns
autores se opõem ao uso da expressão, pois afirmam
não perceber efetivas rupturas com a modernidade;
por isso,o filósofo francês Gilles Lipovetsky prefere
o termo hipermodernidade.
Para François Lyotard, a condição pós-moderna
caracteriza-se pelo fim das metanarrativas. Os
grandes esquemas explicativos teriam caído em
descrédito e não haveria mais garantias, pois nem
mesmo a ciência pode hoje ser considerada como a
fonte da verdade e das certezas. O sociólogo polonês
Zygmunt Bauman prefere usar a expressão
modernidade líquida: uma realidade ambígua, multi -
forme, na qual, como escreveu Marx, tudo o que é
sólido se desmancha no ar. Já o filósofo alemão
Jürgen Habermas afirma que a pós-modernidade traz
tendências políticas e culturais neoconservadoras,
determinadas a combater os ideais iluministas.
As principais características da pós-moder nidade
são o fim da crença no conceito de progresso e da
visão total da história, portanto a chamada frag -
mentação do tempo, em que os fatos são vistos
apenas como episódios isolados; a valorização do
efêmero, o individualismo; o consumismo e a ética
hedonista. No plano estético e da produção artística
– geralmente se emprega o termo pós-modernismo –
ocorre a valorização da forma sem conteúdo.
3. Texto
O lugar do coletivo na pós-modernidade
(Nete Benevides – Mestra em Artes Cênicas, Arte-Educadora,
Atriz e Diretora Teatral)
Por que será que, apesar de todas as facilidades
da vida moderna, o homem contemporâneo não
consegue estabelecer laços afetivos que lhe
produzam satisfação pessoal? Por que será que,
mesmo diante de tantos avanços científicos e
tecnológicos, ele ainda se acha angustiado?
Na obra O Mal-Estar da Pós-Modernidade, o
sociólogo polonês Zygmunt Bauman argumenta que
isso acontece, sobretudo, porque corresponde à
característica da pós-modernidade, uma sociedade
Modernidade e Pós-ModernidadeMÓDULO 7
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– 23
marcada pelo capitalismo pós-industrial, consumo
exacerbado, movimento constante, efemeridade e
fragilidade dos laços afetivos entre as pessoas. O im -
pacto desses fenômenos nos relacionamentos afe tivos
interfere nas relações transformando-as “em amores
líquidos”, reflete Bauman, que, amparado nas ideias
dos pensadores franceses Jacques Derrida e Emmanuel
Lévinas, vai chamar atenção para a baixa cotação da
alteridade dos indivíduos que vivem este tempo, para
o irreconhecimento do outro em todas as relações de
um modo geral, permitindo, dessa forma, o “blo -
queio” de um exercício cotidiano que envolva ques -
tões éticas como tolerância, respeito, solidariedade etc.
Assim, substitui-se o “investimento” no amor e no
outro pela prática das “redes de relações”, uma vez
que, conforme afirma o sociólogo Michel Maffesoli
em sua obra A Contemplação do Mundo, as cidades
contemporâneas desta sociedade são povoadas por
“tribos”. Maffesoli defende que, na sua pluralidade de
origens e comportamentos, as sociedades não nascem
da redução da diversidade até chegar a um elemento
centralizador único, mas da conjunção de elementos
díspares, que formam uma grande “colcha de
retalhos”. Se na sociedade pós-moderna se destaca
fundamentalmente o movimento cotidiano de entrar e
de sair das “redes de relações”, esta prática não permite
que as relações humanas possam amadurecer e nem
exigir dos indivíduos um “investimento afetivo”. Tudo
isso provoca a incapacidade de se manter laços
duradouros, a substituição da durabilidade pela
transitoriedade e pela novidade, o encurtamento do
período de tempo entre o desejo de sua realização e a
utilidade e desejabilidade das posses de sua inutilidade
e rejeição. 
Neste cenário, Zygmunt Bauman observa que a
“síndrome do consumismo” nos conduz à presença de
reciprocidade entre velocidade de aquisição e lixo, tudo
o que vem a ser descartado. Porém, a pós-moder nidade
“não se fundamenta em distinções precisas e simples,
mas em uma complexidade que integra tudo e seu
contrário”, destaca Maffesoli naquela obra, acrescen -
tando que o estilo de um homem ou de um determinado
grupo nada mais é que a cristalização da época em que
este homem vive, o que lhe permite servir de revelador
da complexidade social deste quadro geral que exprime
sincronicamente a vida social.
Esse estilo funciona como uma linguagem
comum e nos remete à compreensão do social como
interação e como vivência de momentos em que é
partilhado o convívio entre as pessoas e são criados
laços e uniões que permanecem presentes na memó -
ria das pessoas. Essa ideia compreende as atitudes
emocionais, as formas de pensar e de agir e nos faz
entender, nesse quadro social, a relação que se
estabelece entre subjetividade, intersubjetividade e
intrassubjetividade.
A vida social, de acordo com Michel Maffesoli, é
uma sequência de copresença, ou como disse
Rimbaud: “Eu é um outro”, pois é preciso partir da
alteridade, que se acha no âmago do eu, para com -
preen der a sociedade pós-moderna, sobretudo
porque, apesar de o pensamento racional ainda
nortear o comportamento e as atitudes dos homens
que têm o poder de dizer e fazer, esta sociedade traz
na essência de sua caminhada características
associadas à temática de Dionísio, deus grego da
versatilidade, do jogo, do trágico e do desperdício de
si mesmo. Assim, como no domínio desse mito reina
a ambiguidade, a narrativa fragmentada e a magia
como metáfora, a pós-modernidade, em sua particu -
laridade, também deve aliar contrários, fazendo-os
entrar em sinergia e permitindo uma originalidade ao
seu tempo histórico. Desse modo, as culturas se
interpenetram e suas diversas tempora lidades conta -
minam as formas de ser e pensar e, neste sentido, a
história registra uma mitologia plural e diversificada.
A socialidade maffesoliana se remete a um
sentimento de comunidade que é marcado, predo -
minantemente, pelo corpo coletivo sobre o indivi -
dual. No estilo pós-moderno, o particular se apaga
para dar lugar ao típico, podendo-se observar nesse
cená rio, por exemplo, o “tipo musical”, “tipo polí -
tico”, “tipo guru” etc. O viver social como estilo de
um tempo está permeado por imagens e simbolismos
que constituem a vida em uma grande ou banal
aventura, na qual coexistem emoção e razão, tornan -
do mais próximas as experiências vividas em
comum. Este processo ético-estético coloca em jogo
uma “paixão operante” cuja vitalidade constitui a
base de toda “socialidade” ou solidariedade de base.
A solidariedade de base reafirma o ethos do viver
comum, aglutinando os indivíduos pela vontade de
“ligação” instaurada pelo simples fato de estarem juntos,
envolvidos pela “banalidade” da vida cotidiana. Este
sentimento de agregação, este compartilhar acentua,
conforme Maffesoli, o caráter ético da emoção estética;
ele faz com que o pertencimento aos grupos, ou às
“tribos”, se transforme no “cimento” que sustenta a vida
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social. Portanto, esta “argamassa” que fundamenta a
comunidade também está apoiada por elementos
“objetos” e concretos, que são a ação militante, os
grandes eventos culturais, a moda, a caridade, a ação
voluntária etc. Todavia, esses elementos devem ser
reconhecidos como pretextos cuja função é possibilitar
e legitimar a relação de alguém por outrem.
Além disso, essa estruturação de base, ou socia -
lidade de base, está igualmente vinculada aos “pal -
cos” onde se desenrolam as cenas da vida cotidiana:
os shoppings, eventos esportivos e culturais,
megaeventos religiosos, a vida nos condomínios e as
relações de vizinhança de toda a ordem. São esses
“cenários” que ajudam a compor as formas que
caracterizam a vida social, lembrando que formas e
conteúdos são uma e mesma coisa.
É preciso concordar com Michel Maffesoli
quando afirma a ligação existente entre a emoção
estética e a socialidade (ou solidariedade de base),
porque é esta relação que possibilita a emergência de
um viver ético-estético-afetivo, que surge da am -
biência comunitária e se fortalece pelos princípios de
simpatia social. Trata-se mesmo de empatia porque
tal sentimento pode ser compartilhado por meio da
generosidade de espírito, da proximidade e da
correspondênciamútua entre as pessoas.
A noção de empatia ressalta a emoção comuni -
tária, isto é, um movimento em direção ao outro que
assinala a disponibilidade de compartilhar experiên -
cias que brotam das razões e das sensações do
“pluralismo societal”. Portanto, esta orientação em
direção ao outro, esta correspondência social, é
acentuada pela ideia de empatia e se constitui em
característica exemplar do “estetismo”, ou estilo
estético-afetivo. 
O estilo estético-afetivo exalta a ideia de um
sentimento de religare aos sentidos sociais, ou ainda
de “religação” ao outro; por isso, permite pensar uma
ética estética nascida da vida de todo dia, isto é, dos
significados dos vivenciados comuns na qual ética é
um compromisso “sem obrigação nem sanção”,
nenhuma outra obrigação que não seja aquela de se
agregar, “de ser membro do corpo coletivo” e, neste
sentido, conforme Maffesoli, o estilo estético: ao se
tornar atento à globalidade das coisas, à
reversibilidade dos diversos elementos dessa
globalidade e à conjunção do material com o
imaterial, tende a favorecer um “estar junto” que não
busca um objetivo a ser atingido, não está voltado
para o devir, mas empenha-se, simplesmente, em
usufruir dos bens deste mundo, em cultivar aquilo que
Michel Foucault chamava de “cuidado de si” ou “uso
dos prazeres”, em buscar, no quadro reduzido das
tribos, encontrar o outro e partilhar com ele algumas
emoções e sentimentos comuns. No balanço cíclico
dos valores sociais, assiste-se ao retorno do ideal
comunitário, em detrimento do ideal societário. Uma
tal pulsão comunitária é encontrada no que chamei de
tribalismo pós-moderno, cujos efeitos se fazem sentir
tanto nas efervescências juvenis quanto na
multiplicação das agregações que foram elaboradas
com base nos gostos sexuais, culturais, religiosos ou
até mesmo políticos. São agregações que não mais se
devem a uma programação racional, mas, em vez
disso, repousam sobre o desejo de estar com o
semelhante, com o risco de excluir o diferente. É a
“homossocialidade”, que predomina em todos os
domínios e não deixa nada indene: a política torna-se
uma história de clãs; a universidade ou a imprensa
fragmentam-se em igrejinhas concorrentes e opostas;
as instituições, sejam elas quais forem, dividem-se em
grupos, mais ou menos hostis, e com muita frequência
lutam entre si. (Maffesoli, 1995, p. 54)
Então, qual é mesmo o lugar do coletivo na 
pós-modernidade? Do mesmo modo que na Idade
Média observamos o “estilo teológico” e durante a
modernidade verificamos o “estilo econômico”, na
pósmodernidade vem sendo elaborado o “estilo
estético” e uma nova ordem se esboça. É com base
nessa ordem que se deve buscar, conforme Nietzsche,
“a profundidade na superfície das coisas”. Para isso, é
necessário olhar novamente para as coisas e, nesse
novo olhar, buscar uma identificação (que é um
conceito mais “móvel” que a identidade) com as várias
culturas e “tribos”, apreendendo e apreciando cada
coisa com base na nossa coerência interna e não em um
julgamento exterior que dita o que ela deve ser, como
se fosse possível estabelecer a supremacia de um
código, principalmente quando compreendemos que a
ideia central da trajetória do “aprender a viver” possui
a mesma dimensão filosófica de se “aprender a morrer”
– angústia maior do homem.
Glossário:
Ética hedonista: doutrina moral que considera ser o prazer a
finalidade da vida. Há pessoas que professam naturalmente o
“hedonismo” — termo originário de uma palavra grega que
significa “prazer”.
24 –
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– 25
1. São elementos da cultura contemporânea que
acusam, segundo alguns autores, o advento da 
pós-modernidade:
I. História como entidade unitária.
II. Colapso da ideia de progresso.
III. Morte dos meios de comunicação de massa.
IV. Suposta ou possível crise das ideologias.
V. Valorização do conceito de sujeito histórico.
VI. Esvaziamento de sentido da busca da verdade e
do justo.
São coerentes apenas:
a) I, II, III e IV. 
b) II, III e IV. 
c) III, IV e V.
d) II, IV e VI. 
e) I, III e V.
Resposta: D
2. Leia o texto:
Se na sociedade pós-moderna se destaca funda -
mentalmente o movimento cotidiano de entrar e sair
das “redes de relações”, esta prática não permite
que as relações humanas amadureçam e exijam dos
indivíduos um “investimento afetivo”.
(Nete Benevides)
Disso advém
a) a incapacidade de se manter laços duradouros.
b) a formação de uma rede social solidária.
c) uma cultura baseada no consumismo e coleti -
vismo.
d) a crença na noção de temporalidade total.
e) a coesão das relações humanas baseada num
“cimento” racional.
Resposta: A
3. Que consequências a pós-modernidade imprime
no tecido social, segundo a autora Nete Benevides?
RESOLUÇÃO:
A sociedade urbana pós-moderna seria constituída por
tribos que agrupam pessoas de comportamentos e
estéticas afins, em que se formam redes de relações
efêmeras e instáveis. A sociedade pós-moderna se
assemelha mais a uma complexa colcha de retalhos do
que a um tecido único. Assim, as relações se
estabelecem mais por uma pulsão de comunitarismo
do que por um ideal de sociedade.
Exercícios Propostos
2o_Ano_Sociologia_2016_Keli 28/03/16 09:38 Página 25
26 –
A articulação social da diferença, da perspectiva da minoria,
é uma negociação complexa, em andamento, que procura
conferir autoridade aos hibridismos culturais que emergem
em momentos de transformação histórica
(Homi Bhabha)
1. Introdução
Já vimos que a globalização imprime profundas
mudanças nas relações sociais e na cultura. As
constantes migrações intercontinentais e interna -
cionais colocam em convivência pessoas de culturas
diversas e a política atual orienta-nos a um com -
portamento de tolerância e entendimento mútuo.
Multiculturalismo é um termo que revela a coe -
xistência de múltiplas culturas num mesmo lugar, isto
é, descreve uma sociedade composta de pessoas de
“mundos” diferentes. O multiculturalismo, portanto,
implica um trabalho de assimilação das minorias, em
que seus agentes representantes sejam publicamente
reconhecidos, combatendo formas de discriminação.
O Canadá e a Austrália são exemplos comuns de
multiculturalismo. Já o Brasil é uma sociedade mar -
ca da pela forte miscigenação étnica e sincre tismo dos
elementos culturais.
O multiculturalismo está em oposição ao etno -
centrismo e ao monoculturalismo, típico das socie -
dades nacionalistas e com forte sentimento de
solidariedade fechada.
Há um movimento multicultural de resistência à
ho mogeneidade cultural; daí a preocupação em
defender a sobrevivência das tradições culturais
diversas. 
Trata-se de um projeto de enriquecimento e aber -
tura de novas e diversas possibilidades, como confir -
mam o sociólogo Michel Wieviorka e o histo riador
Serge Gruzinski, ao demonstrarem que o hibridismo e
a maleabilidade das culturas são fatores positivos de
inovação. Charles Taylor, autor de Multiculturalismo,
Diferença e Democracia, atesta que toda política
identitária não deve ultrapassar a liberdade individual.
Indivíduos são únicos e não podem ser categorizados.
Taylor definiu a democracia como a política do
reconhecimento do outro, ou seja, da diversidade. De
fato, não há democracia sem o direito e o respeito às
diferenças. Alguns grupos sociais contestam o
multiculturalismo, pois enxergam nele mais um mal da
globalização. Porém, na atualidade, a convivência com
a diversidade é inevitável e faz-se necessária uma
postura política bem orientada. 
A imagem expressa a aversão
que alguns grupos devotam
contra o multiculturalismo,
afirmando que o mundo não
é um supermercado de
culturas.
2. Texto
Multiculturalismo
(Extraído da Enciclopédia Itaú Cultural)
Hibridismo, diversidade étnica e racial, novas
identidades políticas e culturais: estes são termos dire -
tamente relacionados ao rótulo multicultura lis mo. Se a
diversidade cultural acompanha a história da humanidade,
o acento político nas diferenças culturais data da
intensificação dos processos de globalização econômica
que anunciam, segundo os analistas, uma

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