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LDaniel Amorim Assumpção Neves
Sumário
1. PETIÇÃO INICIAL ....................................................................................................................... 3
I – ENDEREÇAMENTO ............................................................................................................................................................................ 3
II – NOME E QUALIFICAÇÃO DAS PARTES .............................................................................................................................. 4
III – FATO E FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO ..................................................................................................... 5
IV – PEDIDO ................................................................................................................................................................................................. 8
V – VALOR DA CAUSA .......................................................................................................................................................................... 9
VI – REQUERIMENTO DE PROVAS ................................................................................................................................................. 10
VII – NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO ....................................................... 10
VIII – GRATUIDADE DE JUSTIÇA ..................................................................................................................................................... 10
2. CONTESTAÇÃO ........................................................................................................................... 11
3. APELAÇÃO .................................................................................................................................. 16
4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ................................................................................................. 19
5. AGRAVO DE INSTRUMENTO .................................................................................................... 22
6. AGRAVO INTERNO ..................................................................................................................... 25
7. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO ...................................................... 27
8. RECURSO ESPECIAL .................................................................................................................. 28
9. RECURSO EXTRAORDINÁRIO ................................................................................................... 31
10. PETIÇÃO INICIAL DE TUTELA PROVISÓRIA ANTECEDENTE.............................................. 34
Material Complementar Profissional
Neste material você encontrará dicas valiosas para a prática forense. Trata-se 
de roteiros em que são apresentados, de forma detalhada, os elementos indispen-
sáveis das seguintes peças processuais civis: petição inicial, contestação, apelação, 
embargos de declaração, agravo de instrumento, agravo interno, recurso especial 
e recurso extraordinário.
1. PETIÇÃO INICIAL
I ! ENDEREÇAMENTO
O art. 319, I, do CPC, exige a indicação do juízo ao qual a petição inicial é dirigida.
Juízo significa vara, mas em realidade o endereçamento, ao menos em primeiro grau, deve 
também conter o foro (comarca na Justiça Estadual e seção/subseção judiciária na Justiça Federal).
Nos foros de vara única o endereçamento será para “VARA ÚNICA DA COMARCA/SEÇÃO/
SUBCEÇÃO JUDICIÁRIA); nos foros com mais de uma vara o endereçamento será para “UMA DAS 
VARAS CÍVEIS DA COMARCA/SEÇÃO/SUBCEÇÃO JUDICIÁRIA).
Nos foros em que exista vara especializada pela pessoa (p. ex. Vara da Fazenda Pública) ou 
pela matéria (p. ex. Vara da Família e Sucessões), sendo a competência absoluta, o endereçamento 
deverá ser dirigido a ela ou a uma delas.
No art. 282, I, do CPC/1973, havia previsão de endereçamento ao juiz ou tribunal, e passou 
a ser extremamente comum a seguinte forma de endereçamento: “EXCELENTISSIMO SENHOR 
DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA/SEÇÃO/SUBSEÇÃO JUDICI-
ÁRIA”. É uma tradição que se mantem até hoje, ainda que já se encontrem peças com tais dize-
res de forma simplificada: “POR FAVOR COLOCAR CONFORME COMENTADO NA REUNIÃO”. Com 
o CPC/2015 passou-se a discutir se essa forma de endereçamento ainda seria correta, já que o 
art. 319, I, do CPC, não indica mais o “juiz”. A verdade é que a discussão é absolutamente inútil 
na praxe forense. Havendo a informação mínima do juízo e do foro, o advogado do autor pode 
redigir o endereçamento da maneira que entender mais adequada.
No processo eletrônico, além do cuidado do endereçamento escrito no topo da primeira pá-
gina da petição inicial, também cabe ao advogado ser diligente na complementação dos dados 
eletrônicos, afinal, a petição inicial irá para o juízo e foro indicados no peticionamento eletrônico, 
ainda que esses sejam diferentes daqueles indicados por escrito na petição inicial. Quem sabe 
um dia cheguemos à conclusão pela absoluta inutilidade de endereçamento na peça escrita, mas 
esse dia ainda não chegou.
Ainda que o advogado do autor saiba o juiz que receberá sua petição inicial, o que é pos-
sível em foros de vara única e em distribuições por dependência, não convém indicar o nome 
do magistrado no endereçamento. Ainda que possa ser considerada uma mera irregularidade se 
constar do endereçamento o juízo e foro, o ideal é não fazer.
Nos processos de competência originária dos tribunais, o ideal e mais simples é sempre di-
recionar a petição inicial à presidência do tribunal, órgão responsável pela distribuição. É claro 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves4
que tecnicamente a pessoa do presidente do tribunal e o órgão jurisdicional “presidência” não 
se confundem, mas é tradicional o endereçamento ser feito da seguinte forma: “EXCELENTISSÍMO 
SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR/MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA/
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL/SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA/SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL).
Em tribunais maiores, em que exista divisão interna em diferentes seções, vale consultar o 
Regimento Interno para descobrir se os presidentes das seções são os responsáveis pela distri-
buição, o que obviamente afetará o conteúdo do endereçamento de sua petição inicial.
Havendo prevenção no tribunal, e sendo o objetivo do autor a distribuição por dependência, 
o endereçamento deve conter o órgão prevento, e como nos tribunais a prevenção não é só do 
órgão, mas também do relator, convêm incluir o seu nome no endereçamento.
A exigência formal prevista no art. 319, I, do CPC, se satisfaz com a indicação do juízo e foro 
no endereçamento, não havendo para tanto qualquer valoração a respeito da competência do 
juízo ou foro indicados. Naturalmente, se o advogado quiser acertar a competência da demanda, 
deverá seguir os passos descritos no Capítulo 4.3. do Manual de Direito Processual Civil:
1.ª etapa: Verificação da competência da Justiça brasileira. Os arts. 21 a 23 do CPC tratam 
do fenômeno da competência internacional, disciplinando as hipóteses de competência exclusiva 
do juiz brasileiro e as hipóteses de competência concorrente deste com o juiz estrangeiro. Sendo 
exclusiva ou concorrente, será competente a Justiça brasileira para julgar o processo.
2.ª etapa: Analisar se a competência para julgamento é dos Tribunais de superposição (a 
competência originária do STF vem disciplinada pelo art. 102, I, da CF e a competência originária 
do STJ no art. 105, I, da CF) ou de órgão jurisdicional atípico (por exemplo, o Senado Federal – 
art. 52, I e II, da CF.
3.ª etapa: Verificar se o processo será de competência da justiça especial (Justiça do Trabalho, 
Justiça Militar ou Justiça Eleitoral) ou justiça comum (Justiça Estadual eJustiça Federal). 
4.ª etapa: Sendo de competência da justiça comum, definir entre a Justiça Estadual e a Fede-
ral. A Justiça Federal tem sua competência absoluta prevista pelos arts. 108 (TRF) e 109 (primeiro 
grau) da CF. A competência da Justiça Estadual é residual, ou seja, sendo de competência da justiça 
comum e, não sendo de competência da Justiça Federal, será de competência da Justiça Estadual.
5.ª etapa: Descoberta a Justiça competente, verificar se o processo é de competência origi-
nária do Tribunal respectivo (TRF ou TJ) ou do primeiro grau de jurisdição.
6.ª etapa: Sendo de competência do primeiro grau de jurisdição, determinar a competência 
do foro. Por foro deve-se entender uma unidade territorial de exercício da jurisdição. Na Justiça 
Estadual, cada comarca representa um foro, enquanto na Justiça Federal cada seção judiciária 
representa um foro.
7.ª etapa: Determinada o foro competente, a tarefa do operador poderá ter chegado ao fi-
nal. Haverá hipóteses, entretanto, nas quais ainda deverá ser definida a competência de juízo, o 
que será feito no mais das vezes por meio das leis de organização judiciária (responsáveis pela 
criação de varas especializadas em razão da matéria e da pessoa) ou ainda pelo Código de Pro-
cesso Civil (definição de qual juízo é competente quando duas ações são conexas e tramitam no 
mesmo foro – art. 58 do CPC).
II ! NOME E QUALIFICAÇÃO DAS PARTES
O art. 319, II, do CPC exige do advogado do autor a indicação na petição inicial de uma série 
de dados pessoais de autor e réu. Quanto aos dados do autor não haverá qualquer dificuldade 
em termos de obtenção, bastando ao advogado perguntar a seu cliente, o mesmo, entretanto, 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 5
não se verificando com relação ao réu. O advogado, no mais das vezes, recebe as informações 
sobre dados pessoais do réu de seu cliente (autor) e esse nem sempre terá acesso a todas as 
informações exigidas pela lei.
Caso o advogado do autor não tenha acesso a elementos mínimos de identificação do réu, 
deverá requerer auxílio ao juiz, nos termos do art. 319, § 1º, do CPC. Ainda que o dispositivo 
tenha forte inspiração no princípio da cooperação, é possível que o juiz não concorde com o 
requerimento, em especial se estiver convencido que os dados podem ser obtidos pelo próprio 
autor. Convém, portanto, até para evitar um desconforto já no início do processo com o juiz, 
que o autor faça as devidas diligências possíveis na busca dos dados do réu, e que só requeira 
o auxílio judicial quando para tanto for necessária pesquisa de dados sigilosos.
Sendo possível, pela indicação dos dados do réu sua identificação para fins de citação, ainda 
que a qualificação dele não esteja completa, o processo seguirá regularmente seu procedimento. 
Nesse caso, muitas vezes a ausência de dados exigidos pela lei pode demandar do advogado do 
autor a indicação de outros dados atípicos. Se é desconhecido o pronome do réu, mas sabe-se 
seu apelido, a informação pode ser importante para sua individualização. Se não se conhece 
seu endereço de domicílio ou residência, mas se tem conhecimento de algum estabelecimento 
comercial que o réu atende com regularidade, essa informação deverá ser incluída na sua quali-
ficação. Até mesmo a descrição física poderá ajudar. Coloque-se na posição do oficial de justiça 
e imagine tudo que possa ajudá-lo a encontrar e identificar o réu e coloque essas informações 
na petição inicial.
O art. 319, § 3º, do CPC, prevê uma hipótese de dispensa da qualificação do réu: “se a obten-
ção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça”. Sempre 
que exista no caso concreto réus incertos, cuja característica é justamente a dificuldade de sua 
individualização, o advogado do autor poderá se socorrer do dispositivo legal. Ações possessórias 
quando a violação ou ameaça de violação à posse é praticada por um número considerável de 
indivíduos é um bom exemplo de aplicação do dispositivo legal.
Só tem sentido a exigência de indicação de endereço eletrônico das partes se for possível a 
realização de comunicação de atos processuais por meio deles. Significa dizer que essa exigência 
legal só tem cabimento quando houver endereço eletrônico da parte devidamente registrado no 
tribunal, nos termos dos arts. 1.050/1051 do CPC. Cabe ao advogado do autor diligenciar perante 
o tribunal para descobrir se existe tal cadastro e nele o endereço eletrônico do réu.
Além dos requisitos previstos no art. 319, II, do CPC, cabe ao advogado indicar na petição 
inicial seu endereço profissional (art. 287, caput, CPC), mesmo que esteja litigando em nome 
próprio (art. 105 do CPC). A juntada de procuração com o endereço já é o suficiente para o pre-
enchimento do requisito formal, mas é praxe a indicação do endereço do advogado do autor na 
própria petição inicial, ao menos constante do papel timbrado do escritório.
III ! FATO E FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO
O art. 319, III, do CPC, exige do autor, à luz da teoria da substanciação, a narrativa de sua 
causa de pedir composta por dois elementos: fato (s) e fundamento (s) jurídico (s). Na petição 
inicial será o tradicional “DOS FATOS” e do “DIREITO”.
A narração fática deve conter todos os fatos relacionados à crise jurídica que motivou o autor 
a ingressar com o processo judicial. Ainda que somente os fatos jurídicos façam parte da causa 
de pedir, e com a narração apenas deles esteja cumprida a exigência formal imposta pelo dispo-
sitivo legal, não tem sentido o advogado do autor deixar de narrar fatos simples que, associados 
ao fato jurídico, possam levá-lo a uma situação de vantagem perante o adversário.
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves6
Os fatos não são conhecidos pelo advogado, mas por seu cliente. As reuniões entre ambos 
são essenciais para que o advogado consiga entender a circunstância fática envolvida na crise 
jurídica. É natural que se o advogado não entende completamente o que ocorreu, jamais conse-
guirá fazer uma petição inicial de qualidade. O ideal é que o advogado ouça sem filtro o cliente, 
agregando todas as informações fáticas possíveis. Será num segundo momento realizado o filtro, 
descartando-se os fatos irrelevantes, impertinentes e mesmo prejudiciais ao autor, esses desde 
que a omissão não comprometa a compressão da narrativa fática.
Quanto mais fatos a serem alegados, mais complexa é a tarefa do advogado de narrá-los na 
petição inicial. A ordem aqui é objetividade, simplicidade e logicidade. Por mais fatos e por mais 
complexos que eles sejam, a narração fática tem que ser feita de forma objetiva, sem delongas 
desnecessárias. A descrição minuciosa do fato só deve ser feita quando se mostrar imprescindível 
à compressão da controvérsia. Seja breve e direto, até porque longas narrações fáticas costumam 
levar a perda de interesse do leitor, nesse caso, o juiz. Não há aqui espaço para rebuscamento 
ou incompreensível demonstração de erudição linguística. Seja simples, valendo-se de palavras 
comumente utilizadas. Por fim, mantenha uma lógica entre a narração dos fatos, invariavelmen-
te cronológica: indique os fatos na ordem em que ocorreram, e somente quando essencial, faça 
alguma remissão a fato já narrado, de forma ainda mais simples e objetiva.
Na doutrina e jurisprudência é pacífico tanto que o fundamento jurídico não se confunde 
com o fundamento legal como que esse segundo é dispensável na petição inicial. Nesses termos, 
é possível que o advogado do autor explique à luz do ordenamento jurídico porque seu cliente 
merece receber o que está pedindo sem sequer indicar um artigo de lei. Ocorre, entretanto, que 
não ser exigido por lei não significa que não seja interessante, para dizer o mínimo, indicar artigos 
de lei que corroborem sua pretensão. É óbvio que se esse dispositivo legal existir, o advogado do 
autor não só deve mencioná-lo como transcrevê-lo, com certo destaque, mas sem cafonice, em 
sua petiçãoinicial. Um cuidado, entretanto. Por vezes o advogado fica tão feliz com a localização 
do dispositivo que se esquece que sua simples menção não será suficiente para que, como num 
passe de mágica, o juiz acolha seu pedido. Existe sempre um ônus argumentativo na petição 
inicial, mesmo quando exista um artigo de lei que explique e justifique a pretensão do autor. 
Caberá ao advogado, portanto, descrever como o dispositivo legal se adequa ao caso concreto, 
momento da peça em que invariavelmente, de maneira objetiva e clara, relembrará ao juízo fatos 
que já descreveu de forma mais pormenorizada anteriormente.
Por vezes não haverá um artigo de lei que resolva de forma clara e direta a questão jurídica. 
Pode nesse caso tanto existir artigos de lei que possam ser usados como fundamentos de argu-
mentação da tese jurídica, como pode a tese jurídica ser inteiramente construída com base num 
princípio, escrito ou não. Nesse caso, a descrição da normal jurídica – legal ou princípio – deve 
ser realizada de forma mais explicativa, construindo-se um raciocínio que resulte na compreensão 
e final aceitação da tese jurídica exposta.
A utilização de lições doutrinárias é sempre bem-vinda na petição inicial, mas com parci-
mônia. Não se deve usar de citações doutrinárias que digam o óbvio ou se limite a descrever o 
que já está expressamente consagrado em lei. Reserve as citações doutrinárias para conclusão de 
pensamento de doutrinadores renomados que possam auxiliar na tarefa de convencimento do 
juiz. Afinal, por melhor que você seja como advogado, é sempre confortável ao juiz que decidirá 
a causa saber que seus argumentos encontram respaldo em lições de renomados doutrinadores. 
Quanto mais estudioso for o magistrado, mais conhecerá a doutrina e se impressionará positiva-
mente com suas citações. 
Nas citações doutrinárias o advogado deve sempre buscar apenas o essencial para corro-
borar ou explicar sua fundamentação jurídica. Trechos curtos e objetivos são sempre preferíveis 
e capazes de prender a atenção do leitor mais facilmente. Caso o trecho que pretende citar for 
muito longo, e houver dificuldade de recortá-lo para aquilo que é essencial à sua argumentação, 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 7
é possível resumir a lição com suas próprias palavras, citando a obra doutrinária a apontando 
que as lições ali estão no mesmo sentido do que restou alegado.
Não tenho dúvida de que ainda mais importante na prática que citações doutrinárias são as 
citações jurisprudenciais, que novamente devem ser utilizadas com parcimônia pelo advogado 
do autor.
A melhor citação jurisprudencial é de precedentes vinculantes ou súmulas com o mesmo 
efeito de tribunais superiores, porque nesse caso mesmo que o julgador do processo não con-
corde com o entendimento consagrado, só poderá decidir de forma contrária se demonstrar a 
distinção do caso concreto ou a superação do entendimento pelo próprio tribunal (art. 489, § 1º, 
V, do CPC). Caso o precedente ou súmula com eficácia vinculante encontrado seja em sentido 
contrário à pretensão do autor, o ônus argumentativo aumentará porque não vale a pena o risco 
de simplesmente omitir a existência desse entendimento consolidado, como se nem o réu e nem 
o juiz fossem conhecê-lo. Essa postura exige uma confiança exagerada na ignorância alheia. O 
mais adequado a fazer nesse caso, é indicar o precedente ou súmula e já, desde a petição inicial, 
construir a fundamentação de que deve ser aplicado ao caso concreto a distinção ou a superação.
Não sendo encontrado precedentes ou súmulas com eficácia vinculante, a busca deve se dar 
por precedente e súmulas persuasivas, ainda dos tribunais superiores, considerando-se que esses 
são os que dão a última palavra a respeito da intepretação e aplicação das normas federais (Su-
perior Tribunal de Justiça) e das normas constitucionais (Supremo Tribunal Federal). Nesse caso, 
como não há eficácia vinculante, não entendo como interessante a menção quando o precedente 
ou súmula for contrário à pretensão do autor, salvo se for caso nítido de distinção ou superação, 
que nesse caso já deve ser alegada na petição inicial. Se a pretensão do autor for simplesmente 
contrária ao entendimento dominante meramente persuasivo de tribunal superior, não há razão 
para sua menção na petição inicial.
Não havendo precedentes de tribunal superior que possam ser utilizados, volta-se a atenção 
para a jurisprudência do tribunal local. Primeiro deve se buscar, novamente, precedentes vincu-
lantes, como, por exemplo, acórdãos de IAC ou IRDR transitados em julgado no tribunal local. 
Não havendo, parte-se para a busca de precedentes meramente persuasivos. Sempre de dentro 
para fora: (1º) do próprio órgão julgador; (2º) de outro órgão julgador do mesmo tribunal; (3º) 
de outro tribunal de segundo grau
há diversas formas de se fazer uma citação jurisprudencial: (i) apenas indicando os dados 
do julgado; (ii) transcrevendo a ementa; (iii) transcrevendo trechos da ementa; (iv) transcrevendo 
trechos do acórdão. Prefira se valer das transcrições de forma objetiva e curta, sendo irrelevante 
se o trecho destacado tiver sido retirado da ementa ou do corpo do acórdão. Havendo mais de 
um precedente, e o interesse seja justamente demonstrar quantidade de julgamentos no mesmo 
sentido, para se convencer o julgador de que o entendimento está devidamente consagrado no 
tribunal, não convêm transcrever dezenas de ementas ou trechos de acórdão repetindo o mes-
mo entendimento. Indique aquele que mais se adequa ao caso concreto e apenas mencione a 
existência dos demais, indicando em nota de rodapé seus dados.
É sempre instrutivo, quando o advogado encontra um precedente que parece atender aos 
seus interesses de citação, a leitura do acórdão e a identificação de seus fundamentos determi-
nantes (ratio decidendi). Ainda que não tenha sentido transcrever a integra do acórdão para a 
petição inicial, a ciência dos fundamentos utilizados no julgamento muitas vezes auxilia a nar-
rativa jurídica a ser realizada e que necessariamente estará desenvolvida entre uma citação e 
outra de precedentes. É como se o advogado “pegasse emprestado” o raciocínio desenvolvido 
pelo julgador para utilizar com seu. Não se trata, naturalmente, de plágio do texto, mas de ins-
piração pelas ideias. Por outro lado, a leitura do acórdão pode demonstrar que a ementa não 
representa exatamente o que se imaginava, e que a utilização daquele precedente não terá a 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves8
força persuasiva que se esperada dele. Nesse caso o ideal é, ao menos num primeiro momento, 
abandoná-lo e buscar outro que se mostre mais adequado ao caso concreto, só o utilizando de 
nada mais for encontrado.
IV ! PEDIDO
O pedido guarda necessária correlação lógica com a causa de pedir, sendo a síntese con-
clusiva do raciocínio descrito na narração dos fatos e do fundamento jurídico. É natural que o 
advogado do autor tome especial precaução no momento da elaboração do pedido, que deve 
representar da forma mais clara e possível o que se pretende efetivamente obter com o proces-
so. Nada é mais frustrante do que ganhar o que se pediu e perceber que não era exatamente 
aquilo que se pretendia obter.
O pedido tem sempre dois aspectos: o processual, chamado de pedido imediato, é a espécie 
de tutela jurisdicional pretendida, enquanto o material, chamado de pedido mediato, é o bem 
da vida pretendido.
O pedido imediato é finito, já que limitadas são as espécies de tutela jurisdicional disponíveis 
aos interessados. Existem diversos critérios de classificação de tutela jurisdicional, muitos deles 
cumuláveis, que se oferecem ao autor dependendo de sua pretensão.
O critério da espécie de crise jurídica que se busca resolver apresenta três espécies de tutela 
jurisdicional ao autor: (a) se a pretensão é tão somente resolver uma crise de incerteza jurídica 
(dúvida fundada a respeito da existência, inexistência ou modo de serde uma relação jurídica 
ou da falsidade ou autenticidade de um documento), a tutela cabível é a meramente declarató-
ria; (b) se a pretensão é resolver uma crise da situação jurídica, por meio da extinção, criação ou 
modificação de uma relação jurídica, a tutela cabível é a constitutiva; (c) se a pretensão é resolver 
uma crise de inadimplemento, por meio da imputação ao cumprimento de uma obrigação – de 
pagar, fazer, não fazer e entregar coisa - pelo réu, a tutela cabível é a condenatória.
O critério da natureza jurídica dos resultados jurídicos-materiais apresenta duas espécies de 
tutela jurisdicional: (a) tutela preventiva é aquela que busca evitar a prática de ato ilícito (tutela 
inibitória) e da continuação da geração de efeitos de ato ilícito (remoção do ilícito); (b) tutela repa-
ratória/ressarcitória é aquela que busca a recomposição patrimonial em razão de dano suportado 
pela parte. O advogado do autor não precisa se preocupar em demasia com as nomenclaturas 
das diferentes espécies de tutela jurisdicional, mas especialmente saber que ele tem tutela tanto 
voltado para o passado (reparatória) como para o futuro (inibitória), podendo, inclusive, a depen-
der do caso concreto, haver cumulação das duas espécies de tutela.
O advogado do autor, quando elaborar pedido de tutela inibitória deve sempre ter em mente 
o disposto no art. 497, parágrafo único, do CPC, que prevê ser irrelevante para fins de concessão 
de tutela preventiva a culpa/dolo do réu e a ocorrência de dano. Essa dispensa é importante para 
direcionar o advogado na narrativa da causa de pedir, evitando-se a narração de fatos e funda-
mentos jurídicos estranhos ao objeto da pretensão requerida.
Ao elaborar um pedido de tutela reparatória, cabe ao advogado do autor, durante a descri-
ção da causa de pedir, ter em mente o disposto no art. 186 do CC, que apesar de estar previsto 
como artigo que conceitua o ato ilícito, na verdade descreve os requisitos da tutela reparatória: 
ato contrário ao direito, praticado por culpa/dolo a depender da espécie de responsabilidade e 
geração de dano de qualquer espécie.
No pedido de tutela reparatória, é importante ao advogado do autor lembrar que a regra do 
sistema é o pedido determinado, ou seja, que caberá já na petição inicial do valor pretendido. 
As hipóteses de pedido genérico estão previstas no art. 324, § 1º, do CPC, e liberam o autor da 
determinação, podendo nesses casos elaborar um pedido ilíquido.
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 9
Quanto ao pedido mediato, ou seja, o bem da vida, cabe ao autor indicar com precisão e da 
forma mais didática e objetiva possível qual a vantagem prática no plano dos fatos que pretende 
obter com a demanda judicial. Não há segredo, e tampouco uma diretriz definitiva de como fazer 
isso, cabendo ao advogado do autor apenas explicar ao juiz o que seu cliente pretende obter. 
Ainda que o ideal seja que o pedido não se alongue em demasia, tampouco é salutar encurtá-lo 
a ponto de dificultar sua compreensão; se for necessário se alongar um pouco mais, melhor um 
pedido nesses termos e bem claro do que um enigmático pedido elaborado de forma mais curta.
Um erro até certo ponto comum verificável na praxe forense é o advogado de o autor voltar 
a narrar, ainda que de forma resumida, os fatos e os fundamentos jurídicos para fazer o pedido. 
A dica é óbvia: não faça. Primeiro porque é algo absolutamente desnecessário; segundo porque 
torna a leitura do pedido cansativa; terceiro porquê pode confundir o juiz. Aqui é mais interes-
sante valer-se do tradicional: “Diante de todo o narrado, requer-se:”
a cumulação de pedidos na mesma petição inicial é admitida, desde que o advogado 
do autor respeite os limites impostos pelo art. 327 do CPC. Os requisitos previstos 
nos incisos I e III do § 1º do art. 327 do CPC são flexibilizados ou parcialmente afas-
tados nos termos do § 3º e 2º do mesmo dispositivo, respectivamente. Quanto ao 
requisito previsto no inciso II, é bom lembrar que sendo os pedidos conexos, ou seja, 
derivados de uma mesma causa de pedir (o que não é requisito para a cumulação), 
mesmo que para cada um deles haja abstratamente um foro competente, será cabível 
a cumulação do foro escolhido pelo autor.
V ! VALOR DA CAUSA
O art. 291 do CPC exige que a toda causa seja dado um valor, cabendo ao autor definir no 
caso concreto que valor será esse. Para tanto, existem três critérios que devem ser observados 
em ordem sucessiva: (1º) critério legal; (2º) critério estimativo; (3º) critério aleatório.
O primeiro critério aplicável ao caso concreto é o legal, ou seja, a situação concreta é tipifi-
cada por lei, de forma que basta ao advogado do autor encontrar a norma legal correspondente 
à hipótese. No art. 292 do CPC há inúmeros exemplos de regras legais para diferentes circuns-
tâncias fático-jurídicas, mas naturalmente o rol não é exauriente, considerando-se que em legis-
lação extravagante também haverá regras legais de valor da causa, como, por exemplo, na Lei 
de Locações (art. 58, III, da Lei 8.245/1991).
O segundo critério é estimativo, devendo ser aplicado somente na hipótese de não haver 
regra legal que contemple o caso concreto. Nesse caso caberá ao advogado do autor fazer uma 
estimativa do valor econômico do bem da vida (vantagem prática a ser obtida no plano dos fa-
tos) pretendido. Mesmo tratando-se de mera estimativa, é importante que se aproxime o máximo 
possível do valor econômico real.
Na hipótese de não haver regra legal a respeito do valor da causa, e o bem da vida preten-
dido não ter valor econômico (por exemplo, numa ação de busca e apreensão de incapaz ou na 
qual se discute sua guarda) ou que o valor é inestimável (sempre que for elaborado pedido ge-
nérico, nos termos do art. 324, § 1º, do CPC), não restará alternativa ao advogado do autor que 
não seja indicar um valor qualquer, de forma aleatória, apenas para cumprir a exigência formal 
do art. 291 do CPC.
Ainda que naturalmente seja o mais adequado acertar o valor da causa quando da elabora-
ção da petição inicial, deve se lembrar que eventual equívoco gera um vício formal sanável, de 
forma que tanto de ofício como pelo acolhimento da impugnação ao valor da causa elaborada 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves10
pelo réu em preliminar de contestação, o vício tem natureza dilatória, não colocando, portanto, 
fim ao processo.
VI ! REQUERIMENTO DE PROVAS
O art. 319, VI, do CPC, prevê como requisito formal da petição inicial a indicação das provas 
com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Não há necessidade de, 
nesse momento, se especificar os meios de prova pretendidos e tampouco de justificá-los. Basta, 
portanto, um protesto genérico de produção de provas, sem qualquer indicação específica de 
meios de prova
VII ! NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO
O art. 334, § 4º, I, do CPC, prevê que não será realizada a audiência de conciliação e media-
ção se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual. 
Significa dizer que mesmo constando da petição inicial o desinteresse na realização de referida 
audiência por parte do autor, o juiz continuará a designá-la e na citação intimará o réu ao seu 
comparecimento. De qualquer forma, é importante para o autor já fazer tal afirmativa na petição 
inicial porque com isso o réu, quando citado, já saberá da predisposição do autor contra a solução 
consensual do conflito, o que poderá motivá-lo a também requerer a não realização da audiência.
Não se exige do autor qualquer motivação a respeito de seu desinteresse na realização da 
audiência prevista no art. 334 do CPC, bastando, em uma simples frase, apontar não pretender 
a realização de referido ato processual.
Nas demandas que versarem sobre direitos que não admitem autocomposição, o art. 4º, II, 
do CPC, dispensa a realização da audiência de conciliação e mediação por razões lógicas, de for-
ma que nesse caso não éadequado ao autor requerer a não realização da audiência, já que tal 
circunstancia é uma imposição da lei, sendo, nesse caso, irrelevante a vontade das partes.
VIII ! GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Não obstante inexistir preclusão temporal para o requerimento de gratuidade de justiça (art. 
99, caput, do CPC), caso o autor seja juridicamente pobre desde a propositura, o mais conveniente 
e adequado é já na petição inicial ser requerida sua concessão. Ainda que não exista qualquer re-
gra a respeito do local da petição inicial para a elaboração de tal requerimento, como se trata de 
tema distinto do objeto do processo, o ideal é criar um tópico específico antes do (s) pedido (s).
Sendo o autor uma pessoa natural, o requerimento de concessão da gratuidade de justiça 
deve ser acompanhado da declaração de pobreza, documento que deverá nesse caso instruir a 
petição inicial. A declaração gera presunção relativa de pobreza, o que dispensa o autor de fun-
damentar seu requerimento em circunstâncias fáticas aptas a atestar seu estado de pobreza e 
tampouco a produção de provas nesse sentido. Ainda que o juiz possa de ofício indeferir o pe-
dido, nos termos do art. 99, § 2º, do CPC, deverá sempre intimar o requerente antes de proferir 
a decisão dando-lhe oportunidade de comprovar seu real estado de pobreza. Significa dizer que 
não há sentido de tal comprovação ser feita já no momento da propositura da ação, sendo mais 
racional esperar a eventual intimação do juiz ou mesmo a impugnação do réu.
Sendo o autor uma pessoa jurídica, a realidade é bem diferente considerando-se que, nos 
termos do art. 99, § 3º do CPC, a presunção de pobreza gerada pela declaração limita-se à pessoa 
natural. Dessa forma, de nada adianta colher uma declaração de pobreza do representante legal 
da pessoa jurídica, o que, inclusive, não deve ser feito pelo advogado do autor. Caberá nesse 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 11
caso a descrição de fatos que se não demonstrem cabalmente a situação de pobreza jurídica 
da pessoa jurídica, que ao menos funcionem como indícios dessa condição. É natural que nesse 
caso a concessão dependa não somente das alegações do autor, mas de alguma prova que as 
corrobore, que, nesse momento procedimental, só poderá ser uma prova documental ou docu-
mentada. Havendo necessidade de produção de prova causal (oral ou pericial), o requerimento 
de concessão de gratuidade deve vir acompanhado de requerimento para a produção da prova 
necessária a comprovação da situação de pobreza jurídica.
2. CONTESTAÇÃO
A contestação é a forma procedimental de defesa do réu estabelecida pelo Código de Pro-
cesso Civil. Há dois importantes princípios que devem ser bem conhecidos dos advogados de 
réus: princípio da impugnação específica dos fatos, prevista no art. 341 do CPC e o princípio da 
eventualidade, previsto no art. 342, CPC.
O princípio da impugnação específica dos fatos é importante na elaboração da contestação 
ao alertar ao advogado que todo fato alegado pelo autor que não for especificamente impugna-
do, tornar-se-á incontroverso, de forma que o juiz o considerará verdadeiro independentemente 
da produção da prova. Impugnar de forma especifica significa criticar de forma pontual todo fato 
que se pretende tornar controvertido. Há duas formas de fazer isso: (a) simplesmente negando a 
ocorrência do fato alegado, e (b) narrar um fato logicamente incompatível com o fato alegado pelo 
autor (o chamado “contra-fato”. Assim, se o autor alega que o réu estava num bar em determinado 
momento, tal fato será impugnado tanto se o réu afirmar que não estava como que estava em 
sua casa naquele determinado momento. O advogado do réu não deve temer alegar o contra-fa-
to, porque esse tipo de alegação não altera o ônus da prova do autor: no exemplo dado, se ao 
final o juiz estiver em dúvida de onde o réu estava, não poderá concluir que ele estava no bar.
O princípio da eventualidade cria um importante ônus ao advogado do réu: a concentração 
de todas as matérias de defesa na contestação, “sob pena” de preclusão consumativa. Ou seja, fora 
das exceções previstas pelos incisos do art. 342 do CPC, tudo aquilo que o réu deixar de alegar em 
sua defesa na contestação não poderá ser alegado por ele posteriormente. As matérias de defesa 
devem ser apresentadas sucessivamente, para que na eventualidade da primeira apresentada não 
ser acolhida, seja analisada a seguinte e assim por diante. É aquele momento da contestação na 
qual o réu descarta eventualmente o acolhimento de uma matéria de defesa valendo-se de ex-
pressões como: “caso a matéria de defesa não seja acolhida, o que se admite somente por apego 
ao debate”, “apego à dialética”, “ad argumentantum”, “em respeito à eventualidade”.
Na cumulação de diferentes matérias defensivas, além da lógica ordem defesas processuais-
-defesas de mérito, cabe ao réu escolher, dentro dessas espécies de defesa, qual matéria apresen-
tará antes de outra. Por vezes o caso concreto mostra que sob o aspecto lógica é mais adequada 
uma determinada ordem, numa forma de construção de uma defesa sólida quando analisada em 
seu conjunto. Essa percepção não deve ser desprezada pelo advogado do réu, devendo nesse 
caso respeitar a ordem imposta por questão de lógica sistêmica da petição de defesa. Quando 
isso não ocorrer, sendo irrelevante sob o aspecto lógica a ordem das matérias de defesa, cabe 
uma entre duas estratégias processuais: (a) começar pelas defesas mais fracas e ir aumentando 
a intensidade (aqui compreendida como grau de probabilidade de acolhimento); (b) já começar 
pela defesa mais intensa e a partir daí narrar defesas com menor probabilidade de acolhimento, 
geralmente fundadas em teses ainda não exploradas, não pacificadas, com jurisprudência contrá-
ria, nessa ordem. As duas ordens têm suas vantagens e desvantagens: começar fraco e ir aumen-
tando a intensidade criar uma crescente de convencimento no juiz, que pode ir se convencendo 
aos poucos que o réu tem razão em sua defesa, passo a passo; começar forte e ir diminuindo a 
intensidade tem a vantagem de gerar uma grande impressão no juiz desde o início da leitura da 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves12
contestação, podendo, inclusive, impressionar tanto o julgador que ele não se dará ao trabalho 
nem de ler o restante da peça.
As defesas processuais, também chamadas de preliminares, já que alegadas antes das defesas 
de mérito, tem como objeto um vício formal, ou seja, alguma irregularidade formal da pretensão 
do autor. Aqui não se discute o direito de o autor obter o bem da vida, mas tão somente a forma 
viciada pela qual materializou sua pretensão. 
Não há, naturalmente, qualquer exigência legal ou ônus do réu de se alegar defesas preli-
minares na contestação. Aliás, se não for o caso, melhor não ficar povoando a peça com defesas 
pouco criveis que só farão o juiz perder a paciência na leitura completa da peça. Afinal, se as 
primeiras páginas forem preenchidas por defesas abusivas e inadequadas, o humor do julgador 
ao enfrentar as matérias mais seriamente fundamentadas estará abalado. Alega-se preliminar e 
houver preliminar a ser alegada. Caso contrário, segue-se imediatamente à defesa de mérito.
As defesas preliminares estão previstas no art. 337 do CPC, dividindo-se em defesas dilató-
rias (cujo acolhimento apenas aumenta o tempo de duração do processo), defesas peremptórias 
(acolhimento leva a extinção terminativa do processo) e dilatórias potencialmente peremptórias 
(acolhimento leva a intimação do autor dando-lhe oportunidade de saneamento do vício, o que 
se não for realizado gerará a extinção terminativa do processo.
Com relação às defesas processuais dilatórias, cabe ao réu analisar a conveniência de sua 
alegação, já que as transformações geradas pelo seu acolhimento podem não ser benéficas a ele. 
Nesse caso, mesmo que o aumento do tempo de duração do processo possa funcionar como um 
atrativo, a mudança que se operará no processopor conta do acolhimento do pedido faz não 
valer a pena a alegação. Tome-se como exemplo a alegação de incompetência (art. 337, II, do 
CPC) e de conexão (art. 337, VII, do CPC): em ambos os casos a consequência será a mudança do 
foro/juízo do processo, o que, obviamente, nem sempre será benéfico ao autor. A mesma cautela 
deve ter o advogado do réu ao alegar o vício ou inexistência de citação (art. 337, I, do CPC), mas 
por outra razão. Mesmo que exista o vício descrito na hipótese analisada, caso o advogado do 
réu tome ciência do processo em tempo hábil a elaboração da defesa, muitas vezes nem vale 
a pena a alegação da preliminar, porque o juiz poderá, apesar de reconhecer o vício, aplicar o 
princípio da instrumentalidade das formas, apontando que não declarará nulidade porque não 
houve prejuízo, posto que a defesa foi apresentada de forma completa e exauriente. Então quando 
a preliminar deverá ser utilizada? Quando a ciência for tão tardia que não permita a elaboração 
de defesa de forma completa e adequada. Nesse caso, cabe ao advogado do réu caprichar na 
preliminar e fazer as demais defesas da forma possível, deixando claro ao juiz que a defesa não 
é a ideal justamente porque a ciência da existência do processo se deu de forma tardia em razão 
da nulidade ou inexistência da citação.
A alegação de incorreção do valor da causa, prevista no art. 337, III, do CPC, pode ser consi-
derada uma espécie de defesa dilatória, já que seu acolhimento apenas modifica o valor da causa, 
o que, naturalmente, não é o suficiente para a extinção do processo. Pode, entretanto, o valor ser 
aumentado, e não sendo o autor beneficiário da assistência judiciária, ele será intimado a recolher 
a diferença, sendo o processo extinto em caso de omissão do autor. De qualquer forma, deve o 
réu analisar se a ele é interessante a alegação dessa defesa, porque uma eventual mudança no 
valor da causa nem sempre lhe trará benefício. Ainda que o valor possa ser corrigido de ofício, se 
o réu entender não lhe ser benéfica a mudança, não há sentido valer-se do art. 337, III, do CPC.
A alegação de indevida concessão do benefício de gratuidade, prevista no art. 337, XIII, do CPC, 
terá forma e conteúdo distinto a depender do autor. Tratando-se de pessoa jurídica, a concessão 
terá dependido de prova produzida pelo autor já na petição inicial, de forma que a impugnação 
à gratuidade nesse caso parte de uma análise crítica da valoração do juiz das provas produzidas 
pelo autor. Não será uma tarefa fácil, daí porque deverá ser bem desempenhada, porque o réu 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 13
tentará mudar a percepção inicial do juiz apenas com argumentos a respeito da inadequada va-
loração probatória. Além disso, cabe também ao réu a apresentação de prova pré-constituída ou 
mesmo o pedido de produção de prova causal para contrapor-se à prova documental apresenta-
da pelo autor. Nos dois casos o réu poderá alegar fato novo que corrobore sua alegação contra 
a concessão da gratuidade, podendo sempre produzir prova do alegado. Tratando-se de pessoa 
humana, a concessão terá se baseado na presunção relativa de pobreza gerada pela declaração 
de pobreza, de forma que nesse caso a impugnação partirá do zero, considerando-se que em 
nenhum momento o juiz fez qualquer análise concreta a respeito da condição financeira do autor. 
O réu pode valer-se de informações levadas ao processo pelo próprio autor, como o objeto do 
processo ou outras circunstâncias, além de alegar fatos novos a respeito do tema. Novamente, 
o direito de produção de prova será amplo, devendo o réu especificar os meios de prova que 
pretende produzir. Uma vez acolhida a defesa, o autor será intimado a recolher as custas iniciais, 
havendo a extinção do processo em caso de sua omissão. 
Nas defesas dilatórias, como seu acolhimento não gera a extinção do processo, não cabe ao 
advogado do réu fazer tal espécie de requerimento. Alegada a incompetência, requer-se a re-
messa do processo ao juízo competente; alegada a conexão, a reunião dos processos perante o 
juízo prevento, e alegada a nulidade ou inexistência de citação, a devolução do prazo de defesa.
As defesas processuais peremptórias estão previstas nos incisos IV, V, VI, VII, X e XI do art. 337 
do CPC. Ainda que o acolhimento dessa espécie de defesa leve a extinção do processo, o que 
abstratamente é algo sempre favorável ao réu, cabe ao advogado do réu também aqui analisar 
a concreta adequação da alegação da matéria defensiva. Afinal, uma decisão de improcedência 
é sempre mais vantajosa que uma decisão terminativa, porque ao transitar em julgado produz 
coisa julgada material, colocando um fim definitivo ao conflito. De qualquer forma, é muito difícil, 
por mais seguro que o réu esteja quanto à sua defesa de mérito, deixar de alegar uma defesa 
processual peremptória. Até porque, se a defesa é forte nesse processo, muito provavelmente 
continuará a sê-lo em outro processo caso o autor reproponha a ação. Registre-se, apenas, que 
de todas essas defesas, apenas aquela prevista no inciso X do art. 337 do CPC depende da ale-
gação o réu para ser conhecida pelo juiz, de forma que mesmo optando o réu por não alegar as 
demais defesas processuais peremptórias, o juiz sempre poderá conhece-las de oficio e extinguir 
o processo.
A alegação de convenção de arbitragem – cláusula compromissória ou compromisso arbi-
tral – que depende da vontade do réu para ser reconhecida, só deve ser feita se o réu estiver 
convencido de que a solução da crise jurídica se dê na arbitragem. Caso faça a alegação e o 
processo arbitral seja iniciado pelo autor da ação, o réu não poderá alegar ser a competência do 
juízo estatal, porque assim o fazendo violará a vedação do venire contra factum proprium (boa-fé 
objetiva). A alegação também poderá, mesmo que acolhida, não gerar a extinção do processo, mas 
sim a sua diminuição objetiva: nesse caso a alegação se limitará à parcela da pretensão do autor.
As defesas processuais dilatórias potencialmente peremptórias estão previstas nos incisos VIII 
e XI do art. 337 do CPC. Em todas elas, convencendo-se o juiz de que o vício formal apontado 
pelo réu existe, intimará o autor para que esse o saneia, somente extinguindo o processo na hi-
pótese de o autor não se aproveitar da oportunidade. Mesmo que o réu tenha firme convicção 
que, chamado ao saneamento, o terceiro não deixará o processo ser extinto, vale a pena a alega-
ção da defesa, porque na pior das hipóteses para o réu ele terá exigido algum esforço do autor 
que, em muitas vezes, lhe será oneroso, como ocorre com a prestação da caução exigida em lei.
Caso sejam cabíveis no caso concreto a alegação de defesas processuais das três espécies, há 
uma ordem lógica que deve nortear a elaboração da contestação: primeiro se alegam as defesas 
dilatórias, porque seu acolhimento mudará o juízo competente ou retroagirá o procedimento 
para a elaboração de uma nova contestação; depois alega-se a defesa peremptória, que uma vez 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves14
acolhidas extinguem o processo; por fim, alega-se a defesa dilatória potencialmente peremptória 
e coloca-se na responsabilidade do autor o destino do processo.
As defesas de mérito, que na contestação são sempre alegadas depois das defesas proces-
suais, naturalmente quando essas existirem, visam o conteúdo da pretensão do autor, sendo di-
vididas em duas espécies: defesa direta e indireta. Sendo cabível a alegação de ambas, a ordem 
é exatamente essa: primeiro a defesa de mérito direta e depois a indireta.
A defesa de mérito direta é construída dentro da causa de pedir alegada pelo autor, ou seja, 
o réu impugnará os fatos e/ou os fundamentos jurídicos do pedido. As formas de impugnação dos 
fatos narrados pelo autor já foram descritas (alegação de falsidade ou do contra-fato). A impugnação 
ao fundamento jurídico pode ser elaborada de duas formas: (a) alegação de que o fundamento 
jurídico não écabível no caso concreto, já que da narração dos fatos não há no ordenamento 
jurídico fundamento para justificar o acolhimento do pedido. Ainda que a fundamentação jurí-
dica não se confunda com a legal, invariavelmente a pretensão do autor vem fundamentada em 
normas legais; sendo esse o caso, cabe ao réu demonstrar que aqueles dispositivos legais não 
são cabíveis no caso concreto; (b) alegação de que o fundamento jurídico narrado pelo autor, não 
obstante ser o adequado ao caso concreto, merece uma intepretação diversa daquela dada pelo 
autor, de forma a justificar a improcedência de seu pedido; novamente, havendo fundamentação 
legal na petição inicial, o que invariavelmente ocorre, cabe ao réu demonstrar que a interpretação 
dada pelo autor aos dispositivos legais é inadequada ao caso concreto.
À defesa de mérito jurídica aplicam-se as considerações feitas quanto a narração da causa 
de pedir no que toca à indicação doutrinária e jurisprudencial. Para o réu demonstrar o não ca-
bimento ou a indevida interpretação dada pelo autor ao seu fundamento jurídico, além de uma 
narrativa jurídica que explique ao juiz porque o fundamento jurídico do autor não pode ser aco-
lhido, é sempre interessante fundamentar esse raciocínio jurídico de defesa em lições doutrinárias 
e jurisprudência, da exata mesma forma que deve fazer o autor ao elaborar sua petição inicial.
Na defesa de mérito indireta o réu não faz qualquer impugnação às alegações do autor 
contidas na petição inicial. Nesse tipo de defesa o réu leva ao processo um fato novo, que seja 
impeditivo (p. ex. incapacidade da parte), modificativo (p. ex. compensação parcial) ou extintivo 
(p. ex. prescrição ou decadência) do direito do autor. Nesse caso, nos termos do art. 373, II, do 
CPC, o ônus de provar a veracidade da alegação será do réu.
A reconvenção, prevista no art. 343 do CPC, é um contra-ataque do réu contra o autor, que 
no processo em tramite proposto pelo autor propõe uma ação contra ele, tornando assim o 
processo objetivamente complexo: um processo com duas ações. Não deixa de ser uma forma 
de defesa do réu, se você concordar que a “melhor defesa é o ataque”, mas por ter natureza de 
ação, passa a ter algumas condições e requisitos bem específicos.
O CPC/2015 não exige mais a elaboração de uma petição inicial para a elaboração da recon-
venção, que deve atualmente ser feita como mero tópico da petição inicial, de preferência após 
a descrição das matérias defensivas propriamente ditas. Essa maior informalidade na alegação da 
reconvenção tem uma consequência prática importante: como mero tópico da contestação, não 
se exige da reconvenção os requisitos formais próprios de uma petição inicial. Entendo que mes-
mo se limitando o réu a reconvir, sem apresentar contestação, o que, aliás, é no mínimo exótico 
e nada recomendável, não haverá a exigência de uma petição inicial.
O advogado do réu, entretanto, deve compreender plenamente essa informalidade: tratan-
do-se de uma ação, mesmo sem as formalidades de uma petição inicial, é inevitável a narrativa 
de uma causa de pedir e da elaboração de pedido, nos exatos termos que seria feito numa ge-
nuína petição inicial. Além de todas as considerações já feitas quanto ao tema, na reconvenção 
a narrativa da causa de pedir deve respeitar a exigência prevista no art. 343, caput, do CPC: a 
conexão com a ação principal ou com os fundamentos de defesa. 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 15
A conexão com a ação principal é aquela tradicional, prevista no art. 55, caput, do CPC. Ou 
seja, na reconvenção deve o réu repetir os mesmos fatos narrados pelo autor na ação principal 
ou o mesmo pedido. Já a conexão com os fundamentos defesa decorre da alegação em contes-
tação de defesa de mérito indireta, valendo-se o réu do fato novo alegado em sua defesa para 
fundamentar seu contra-ataque contra o autor. Nesse caso, fatalmente a defesa de mérito jurídica 
fundada no fato novo também se prestará a fundamentar juridicamente a reconvenção.
A exigência de indicação de valor da causa à reconvenção, e mais importante, da exigência 
de recolhimento de custas processuais, dependerá da lei de organização judiciária, cabendo ao 
advogado do réu estudar a legislação local a respeito do tema.
Conforme já asseverado, a reconvenção, tendo a natureza de ação que tem, exige a elabo-
ração por parte do réu de um pedido. Nos mesmos moldes do pedido elaborado em qualquer 
petição inicial, ou seja, pedido imediato (aspecto processual) e mediato (aspecto material). O lo-
cal da contestação mais adequado para a elaboração desse pedido é o final da peça, logo após 
o pedido de acolhimento das preliminares quando alegadas e da improcedência do pedido. A 
ordem cronológica, inclusive, é essa. Nada impede, entretanto, que no próprio tópico destinado 
à reconvenção já seja desde logo expresso o pedido o réu, o que já será em termos formais o 
suficiente, inclusive dispensando-se nesse caso a formulação do pedido ao final.
A exemplo do que ocorre com a petição inicial, também cabe ao réu na contestação requerer 
a produção de provas. E novamente a exigência formal se cumprirá com um protesto genérico de 
produção probatória, sem a necessidade de especificação de provas nesse momento procedimental.
Nos Juizados Especiais não cabe reconvenção, mas o contra-ataque do réu pode ser feito por 
via do pedido contraposto, conforme previsão do art. 31, caput, da Lei 9.099/95. O cabimento do 
pedido contraposto é mais restrito do que o da reconvenção, porque a norma legal exige que ele 
seja fundamentado nos mesmos fatos que constituem o objeto da controvérsia. A intepretação 
que se dá a norma é que o réu poderá alegar fatos novos para fundamentar seu pedido contra-
posto, desde que pertençam à mesma circunstância fática narrada pelo autor.
A forma de elaboração do pedido contraposto não difere da forma de elaboração da recon-
venção, também sendo feito como tópico da contestação e exigindo-se do advogado do réu a 
narrativa de uma causa de pedir e de um pedido. Tudo naturalmente, de forma mais simplificada, 
como é regra no Juizados Especiais. O pedido contraposto, por ser elaborado como tópico da 
contestação, depende dessa para ser realizado, e pode ser feito tanto de forma oral como escri-
ta, a depender da vontade do advogado. Caso o advogado do réu pretenda fazer a resposta de 
forma oral, deve se preparar adequadamente para conseguir expor com clareza sua defesa e seu 
contra-ataque. 
Quanto ao pedido contraposto importante lembrar de dois enunciados do FONAJE: Enuncia-
do 27: “Na hipótese de pedido de valor até 20 salários mínimos, é admitido pedido contraposto 
no valor superior ao da inicial, até o limite de 40 salários mínimos, sendo obrigatória à assistên-
cia de advogados às partes” e Enunciado 31: “É admissível pedido contraposto no caso de ser a 
parte ré pessoa jurídica”.
A denunciação da lide provocada pelo réu e o chamamento ao processo devem ser feitos 
como tópico da contestação. Apesar de ambas serem intervenções de terceiro facultativas, ou seja, 
sua realização depende da vontade do réu, caso o réu pretenda denunciar à lide um terceiro ou 
chama-lo ao processo o prazo é o de contestação e a forma de alegação é tópico da contesta-
ção. A denunciação da lide, com hipóteses de cabimento previstas no art. XX do CPC, é sempre 
fundada em direito material de regresso da parte contra terceiro, de forma que na fundamenta-
ção jurídica da denunciação sempre haverá a descrição fática e jurídica desse direito material. O 
chamamento ao processo, com hipóteses de cabimento previstas no art. XX do CPC, é sempre 
fundada em coobrigação, permitindo que o obrigado escolhido pelo autor para compor o polo 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves16
passivo chame ao processo os obrigados que, não escolhidos pelo autor, são no momento da 
contestação terceiros.
Na denunciação da lide como no chamamento ao processo o réu fará um pedido condena-
tório:na denunciação pedirá a condenação do réu ao pagamento dos danos que eventualmente 
suportar por conta de sua derrota na ação principal e no chamamento ao processo não haverá 
tecnicamente pedido nesse sentido, porque o chamamento ao processo criar um litisconsórcio 
passivo entre os coobrigados, de forma que o pedido originariamente elaborado pelo autor pas-
sará a se dirigir a todos os réus. Nesse sentido, é mais técnico pedir a integração dos terceiros ao 
polo passivo para que eventualmente respondam por sua cota parte de responsabilidade.
3. APELAÇÃO
A primeira dúvida a respeito da formatação de uma apelação é se o recurso deve ser ela-
borado em suas peças ou somente em uma. É interessante notar que se tomarmos como base 
de análise para responder a essa pergunta o art. 1.010 do CPC, a apelação deverá ser elaborada 
em apenas uma peça. A praxe forense, entretanto, consagrou a elaboração de duas peças: uma 
primeira de interposição, dirigida ao juízo de primeiro grau e uma segunda de razões, dirigida ao 
tribunal de segundo grau. Na realidade tanto faz como a apelação será elaborada, em uma ou 
duas peças, desde que preencha os requisitos formais do dispositivo mencionado.
Caso o advogado do autor opte pela elaboração de suas peças, o que é mais comum na 
praxe forense, a primeira peça será endereçada para o órgão prolator da sentença a ser impugna-
da. Esse órgão não tem mais competência para fazer o juízo de admissibilidade da apelação, de 
forma que não cabe mais ao apelante requerer que a apelação seja recebida pelo órgão julgador. 
A atuação do primeiro grau é na apelação é meramente cartorial, cabendo apenas a intimação 
do apelado para apresentação de contrarrazões em 15 dias e posterior remessa do processo ao 
tribunal de segundo grau. A maioria dos advogados não percebeu ainda esse fato, continuando 
a requerer que a apelação seja recebida pelo juízo de primeiro grau. Correto não é, mas trata-se 
de mera irregularidade da peça recursal que não gerará qualquer consequência prática em termos 
de invalidade do ato processual.
Como o primeiro grau não tem mais competência para fazer o juízo de admissibilidade da 
apelação, também não tem competência para determinar em quais efeitos o recurso deve ser 
recebido. Afinal, o recurso só passa gerar seus efeitos após a sua admissão, que será analisada 
exclusivamente em segundo grau de jurisdição. Ainda que se admita espaço para uma discussão 
doutrinária no sentido de que a interposição do recurso já seja capaz de liberar alguns de seus 
efeitos, o fato importante para a praxe forense é que o juízo de primeiro grau não se manifes-
ta mais a respeito dos efeitos da apelação. Os que continuam a fazer estão fazendo errado. Ao 
apelante, portanto, não cabe nem pedir o recebimento da apelação e tampouco os efeitos em 
que o recurso será recebido. 
Nessa primeira peça – de interposição do recurso – o advogado do apelante deve cumprir 
o requisito consagrado no inciso I do art. 1.010, do CPC: “os nomes e a qualificação das partes”. 
Não há dúvida de que os nomes de apelante e apelado devem constar da peça de apelação, ain-
da com mais relevância prática se houver litisconsórcio no processo. A qualificação, entretanto, 
é dispensável porque em regra as partes no recurso já terão sido qualificadas na petição inicial 
e na contestação, salvo na hipótese de apelação interposta por terceiro prejudicado, que deverá 
se qualificar na peça de interposição.
A segunda peça – de razões recursais – que deverá sempre ser apresentada juntamente com 
a primeira peça – de interposição – será dirigida ao tribunal competente, com os tradicionais 
“Egrégio Tribunal”, “Colenda Câmara”, “Ínclitos Julgadores”. Obviamente todas essas formalidades 
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves 17
são dispensáveis, tendo sido criadas na praxe forense e se consolidado. O que importa no caso 
concreto é o conteúdo da apelação, e não essas frívolas formalidades. Será nessa peça que o 
apelante cumprirá os requisitos previstos nos incisos II, III e IV do art. 1.010, do CPC.
A segunda peça começa tradicionalmente por um breve resumo do processo, sendo muito 
comum e extremamente útil o aproveitamento do relatório constante da sentença para a elabo-
ração dessa parte da peça recursal. Afinal, se o art. 489, I, do CPC, exige que conste do relatório “a 
identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocor-
rências havidas no andamento do processo”, não há porque o apelante deixar de se aproveitar do 
trabalho já desenvolvido pelo juízo de primeiro grau. É claro que o advogado do apelante não 
pode confiar plenamente no relatório da sentença, porque dele podem faltar atos praticados em 
primeiro grau que sejam importantes constar da breve narrativa da demanda feita pelo apelante. 
O relatório, portanto, serve apenas de guia para a elaboração dessa parte da petição recursal.
Os fundamentos recursais são substancialmente dois: (a) error in procedendo (vício formal 
do procedimento ou da decisão, e (b) error in judicando (vício do conteúdo da decisão). Natural-
mente nem sempre o apelante poderá alegar essas duas espécies de vício, o que dependerá do 
caso concreto, mas sempre que isso seja viável há uma ordem lógica na alegação dessas defesas: 
primeiro vem a alegação de vício formal e depois a alegação de vício de conteúdo.
O error in procedendo pode ser intrínseco ou extrínseco. No primeiro o vício formal é da 
própria sentença recorrida, como, por exemplo, uma sentença extra, ultra ou citra petita, sem 
fundamentação, sem dispositivo, etc. No segundo o vício formal é do procedimento, precedendo 
a sentença, como, por exemplo, a ausência de um litisconsórcio necessário, uma incompetência 
absoluta, a ausência do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica, etc. Note-se que esses 
vícios formais extrínsecos devem necessariamente levar à uma nulidade absoluta, porque tratan-
do-se de nulidade relativa o art. 278, parágrafo único do CPC, exige a alegação do vício no pri-
meiro momento em que a parte falar nos autos, de forma que só será possível a alegação desse 
tipo de vício na apelação se o recurso for a primeira manifestação da parte após a ocorrência 
do vício. Deve também o advogado do apelante atentar para o entendimento consagrado pelo 
Superior Tribunal de Justiça no sentido de não admitir a chamada “nulidade de algibeira” (STJ, 3ª 
Turma, REsp 1.714.163/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/09/2019, DJe 26/09/2019), ou seja, se ficar 
caracterizado que a alegação do vício de nulidade absoluta deu-se somente na apelação como 
forma de tática processual do advogado para tirar vantagem dessa alegação tardia, em respeito 
ao princípio da boa-fé processual o tribunal não admitirá a alegação.
O error in judicando é sempre intrínseco, porque envolve o conteúdo da sentença recorrida. 
A impugnação nesse caso se dirige a parte da fundamentação da sentença, que em regra será 
dividida em fundamentação fática e jurídica. O apelante pode criticar as conclusões fáticas uti-
lizadas pelo juízo de primeiro grau, havendo substancialmente duas formas de proceder nesse 
sentido: (a) impugnação a respeito dos fatos considerados pelo juiz em sua decisão. Nesse caso 
o apelante pode alegar que fatos que não fazem parte do objeto do processo foram indevida-
mente considerados ou que se deu o contrário, deixando o juiz de analisar fatos relevantes para 
a solução da controvérsia; (b) impugnação a respeito da valoração probatória realizada pelo juiz, 
alegando-se que fatos devidamente provados não foram considerados dessa forma e vice-versa. 
É natural que não havendo rigorosamente nenhuma prova a corroborar a alegação de fato dada 
como provada pelo juiz, a impugnação será feita de forma objetiva, mas o mais comum é que 
exista prova, inclusive mencionada pelo juiz, e que a impugnação se dirija justamente à carga de 
convencimento dessa prova. Nesse caso cabe ao advogado do apelante buscar provas em senti-
do contráriopara contrapor a prova considerada pelo juiz como fonte de seu convencimento e, 
quando não existir essa prova, tentar convencer o tribunal de que a prova produzida é insuficiente 
para demonstrar a veracidade do fato alegado.
MATERIAL COMPLEMENTAR PROFISSIONAL ! Daniel Amorim Assumpção Neves18
Na parte da impugnação fática da sentença não há muita objetividade quanto ao conven-
cimento do juiz derivado das provas produzidas, porque embora o juiz não possa decidir inde-
pendentemente das provas, cabe a ele valorá-las no caso concreto. Cabe nesse caso ao advogado 
do apelante demonstrar a fragilidade da prova em termos confirmatórios da alegação de fato 
considerada verdadeira.
Outra possibilidade na impugnação fática da sentença, bem específica, é o juiz decidir o pro-
cesso valendo-se da regra de julgamento do ônus da prova. Nesse caso o advogado do apelante 
pode alegar que a prova produzida no processo era suficiente para a formação do convencimento 
do juiz, voltando novamente a discutir a carga de convencimento da prova produzida. Também é 
possível a alegação de que o ônus da prova foi aplicado incorretamente, mas nesse caso a fun-
damentação, apesar de refletir na parte fática da decisão, terá como objeto uma questão jurídica: 
a correta distribuição do ônus probatório. 
Na impugnação da parte fática da decisão não há espaço para citações doutrinárias ou juris-
prudenciais, porque nesse caso será tudo especificamente relacionado ao caso concreto. Eventu-
almente, entretanto, poderá ser utilizada alguma lição doutrinária ou mesmo precedente judicial 
que se adeque ao caso concreto, mas geralmente essas citações são ou genéricas demais para 
serem aproveitadas ou exigem tal grau de comparação que não chegam a impressionar o tribu-
nal. Importa mais aqui o advogado analisar de forma exaustiva todo o teor da prova produzida 
(todas as palavras registradas na produção da prova oral, todos os detalhes do laudo pericial, 
todos os elementos dos documentos juntados aos autos) do que se perder em citações geral-
mente inúteis e inadequadas.
Na impugnação da parte jurídica da sentença cabe ao advogado do apelante criticar a apli-
cação do Direito aos fatos considerados pelo juiz em sua decisão. Substancialmente a impugna-
ção se dará de duas formas: (a) alegação de que a norma jurídica aplicada ao caso concreto é 
inadequada, e (b) alegação de que a intepretação dada pelo juiz a norma jurídica não é correta. 
Essa parte da apelação em regra tem muito do já alegado na petição inicial ou na contestação, 
porque a matéria jurídica já terá sido objeto de apresentação pelas partes nesses momentos pro-
cedimentais. Ainda assim, o advogado do apelante deve tomar cuidado com um mero “recorta 
e cola” de suas alegações prévias para fugir do risco de ter sua apelação inadmitida por ausên-
cia de impugnação espécies dos fundamentos da decisão recorrida. Se substancialmente a tese 
jurídica já foi apresentada pelo apelante e rejeitada pelo juiz de primeiro grau, é fato que existe 
uma decisão ser impugnada, e se isso não ocorrer de forma especifica o recorrente não passará 
do juízo de admissibilidade recursal. Caberá ao advogado, portanto, se dirigir de forma irresigna-
da pontualmente a cada um dos fundamentos da sentença, trazendo no desenvolvimento dessa 
fundamentação alegações citações doutrinárias e jurisprudenciais já presentes na petição inicial 
ou contestação.
Após a fundamentação recursal cabe ao advogado do autor elaborar o pedido da apelação. 
Em regra, tendo sido alegada a existência de um error in procedendo, será cabível o pedido de 
anulação. Sendo o vício formal intrínseco, caberá o pedido de anulação da própria sentença e 
sendo o vício formal extrínseco, a anulação de todo o procedimento desde o momento em que 
passou a existir o vício. Nesse segundo caso a sentença será anulada por conta do efeito expan-
sivo das nulidades, podendo, mas não sendo necessário, que o advogado do apelante enfatize 
isso em sua peça recursal, como requerendo de forma expressa a nulidade desde determinado 
momento do processo, inclusive com a anulação da sentença.
Nem sempre, entretanto, a alegação de um vício formal leva ao pedido de anulação da sen-
tença. O art. 1.013, § 3º, III, do CPC, consagra uma singular espécie de pedido na apelação: a de 
integração da decisão. Nesse caso o advogado do apelante alegará que o vício da sentença é 
ter sido citra petita, ou seja, deixou-se de decidir um ou mais dos pedidos formulados, quando 
então não pedirá a anulação daquilo que já foi julgado, mas simplesmente que o pedido ou pe-
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didos sejam julgados originariamente pelo tribunal em sede de apelação. Caso a sentença, além 
de ser citra petita, padeça de outro vício formal, será caso de pedido de anulação daquilo que 
foi decidido, dependendo da espécie de vício a aplicação ou não do art. 1.013, § 3º, III, do CPC. 
Caso o vício seja um daqueles previstos nos incisos II e IV do § 3º, do art. 1.013 do CPC, é possí-
vel que o tribunal anule a sentença e já a substitua no julgamento da própria apelação, quando 
será adequado ao advogado do apelante, além de pedir o rejulgamento do que já foi decidido, 
o julgamento originário do que já deveria ter sido, mas ainda não foi decido na própria apelação. 
Por outro lado, caso o vício formal alegado seja daqueles que não permite a aplicação da teoria 
da causa madura, ou seja, com a anulação da sentença o processo retornará ao primeiro grau, não 
tem sentido pedir o julgamento imediato pelo tribunal do pedido ainda não decidido. Se haverá 
uma nova sentença em primeiro grau, que nela sejam julgados todos os pedidos formulados.
Sendo a fundamentação recursal um error in judicando, em regra o pedido será de reforma 
da sentença, ou seja, um pedido para que a decisão da apelação substitua a sentença. Há, en-
tretanto, a possibilidade de o pedido ser de anulação da senteça. O fim normal do processo/fase 
de conhecimento é o julgamento de mérito após o desenvolvimento das fases postulatória, de 
saneamento e probatória. Sempre que o processo/fase de conhecimento for extinto antes disso, 
pode-se considerar que teve um fim anômalo. Numa situação como essa, o recorrente pretende 
fazer com que a sentença desapareça, para que o procedimento possa continuar seu normal trâ-
mite, não sendo correto imaginar um pedido de reforma da decisão. Um julgamento antecipado 
da lide pode conter um error in judicando, consistente na indevida aplicação do art. 355 do CPC, 
mas a parte que apela dessa sentença alegando cerceamento de defesa não pretende sua refor-
ma, mas simplesmente invalidar a sentença para que o processo prossiga em seu procedimento, 
com a realização da necessária prova e posterior prolação de nova sentença. Também no julga-
mento liminar de improcedência consagrado no art. 332 do CPC é possível se pedir a anulação da 
sentença com base em error in judicando. O mesmo ocorre na má aplicação do art. 485 do CPC, 
com prolação de sentença terminativa em processo no qual o mérito deveria ser enfrentado. Na 
ausência de melhor solução, apesar de não se tratar de vício formal, o pedido adequado nesse 
caso é de anulação da decisão.
Segundo o entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça a teoria da causa 
madura, atualmente consagrada no § 3º do art. 1.013 do CPC, faz parte da profundidade do 
efeito devolutivo (STJ, 3ª Turma, REsp 1.735.004/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/06/2018, DJe 
29/06/2018). Na prática esse entendimento significa que a aplicação da teoria da causa madu-
ra independe da vontade e/ou de requerimento das partes, devendo ser aplicada pelo tribunal 
sempre que presente a hipótese legal. Isso, entretanto, não impede que o advogado do apelante 
abra um tópico de sua apelação para tratar do tema, seja para adiantar seu entendimento pela 
não aplicação da teoria no caso concreto como o inverso. Isso não condicionará o tribunal, mas 
pode eventualmente influenciar os julgadoresa respeito do tema.
O juízo de retratação, quando cabível, independe de requerimento do apelante, mas nesse 
caso vale a pena lembrar ao juiz de primeiro grau de seu poder de se retratar de sua sentença. 
Nesse caso o requerimento deve ser feito exclusivamente na peça de interposição, considerando-se 
que a competência para a retratação é do juízo de primeiro grau e a segunda peça – de razões 
recursais – é dirigida ao tribunal de segundo grau. Algo como requer a retratação nos termos 
do artigo correspondente do CPC, e caso não seja esse o entendimento, o encaminhamento do 
recurso ao tribunal de segundo grau após o contraditório.
4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
O recurso de embargos de declaração tem fundamentação vinculada, ou seja, as matérias 
alegáveis nessa espécie de recurso são pré-determinadas em lei, o que condiciona o fundamento 
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recursal àquilo que o legislador permite que seja alegado: obscuridade, omissão, contradição e 
erro material.
Excepcionalmente admite-se a impugnação fora dos limites legais, quando se dá ao recurso 
o nome de embargos de declaração com efeitos infringentes. Nesse caso não há alegação de 
um vício de forma, dirigindo-se a irresignação ao próprio conteúdo da decisão. Essa espécie de 
embargos de declaração dificilmente será admitida, reservando-se o julgamento de seu mérito 
a situações teratológicas, verdadeiras aberrações jurídicas. Ainda que de rara admissibilidade, 
quando o advogado da parte se dispõe a ingressar com embargos de declaração com efeitos in-
fringentes, o pedido não será daqueles tipicamente elaborados nessa espécie de recurso, já que 
por meio dele não se estará buscando o esclarecimento ou integração da decisão, mas sim a sua 
reforma ou anulação. O mais comum nesses casos é a tentativa do advogado de esconder sua 
verdadeira intenção por meio de alegação de um vício formal previsto em lei, mas que não está 
presente no caso concreto. Geralmente são recursos destinados a inadmissibilidade, porque fica 
patente o objetivo não declarado do embargante. Entendo que nesse caso o mais adequado é 
ser sincero, expor o vício de conteúdo como teratológico, citar brevemente uma lição doutrinária 
e eventualmente uma citação jurisprudencial que se adeque ao caso concreto para demonstrar o 
excepcional cabimento dos embargos de declaração, e já fazer o pedido adequado à fundamen-
tação: anulação ou reforma da decisão.
O advogado não deve confundir os embargos de declaração com efeitos infringentes com 
os embargos de declaração com efeitos modificativos. A nomenclatura para a prática forense 
nesse caso é irrelevante, devendo se focar na distinção de hipóteses. No chamado embargos de 
declaração com efeitos modificativos, a fundamentação e o pedido são típicos, ou seja, o em-
bargante alegará um vício formal previsto no art. 1.022 do CPC e requererá o esclarecimento ou 
integração da decisão. A partir daí que virá a atipicidade, quando o acolhimento do pedido e 
consequente saneamento do vício formal, for capaz, de forma incontornável, a anular ou refor-
mar a decisão recorrida. Nesse caso a reforma ou anulação é uma consequência inexorável do 
saneamento do vício formal, cabendo ao advogado do agravante limitar-se a pedir a integração 
ou esclarecimento da decisão, porque a reforma ou anulação dai resultante, por ser inexorável, 
independe de pedido expresso da parte. É conveniente, inclusive, evitar tal pedido de forma ex-
pressa, porque isso pode levar equivocadamente ao julgador entender trata-se de embargos de 
declaração com efeitos infringentes.
A omissão refere-se à ausência de apreciação de ponto ou questão relevante sobre a qual o 
órgão jurisdicional deveria ter se manifestado, inclusive as matérias que deva conhecer de ofício 
(art. 1.022, II, do CPC). Ao órgão jurisdicional é exigida a apreciação tanto dos pedidos como dos 
fundamentos de ambas as partes a respeito desses pedidos. Sempre que se mostre necessário, 
devem ser enfrentados os pedidos e os fundamentos jurídicos do pedido e da defesa, salvo quan-
do o acolhimento de um tornar os demais prejudicados. A omissão, dessa forma, só será alegável 
em sede de embargos de declaração quando prejudicar a parte, deixando o órgão de enfrentar 
alegação ou questão que uma vez enfrentada e acolhida reformaria a decisão ora recorrida.
O parágrafo único do art. 1.022 do CPC especifica duas espécies de omissão; a ausência de 
manifestação sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assun-
ção de competência aplicável ao caso sob julgamento e quando não cumpridas as exigências 
formais de fundamentação consagradas no art. 489, § 1º, do CPC. O advogado naturalmente deve 
se valer de tais previsões quando cabíveis, fazendo em sua peça expressa remição ao dispositivo 
legal, mas não deve se impressionar por ele, considerando-se ser o rol de omissões ali previstos 
meramente exemplificativo.
Alegada a omissão da decisão o pedido adequado é o de sua integração, ou seja, cabe ao 
advogado do embargante requerer o saneamento do vicio por meio do enfrentamento daquilo 
que já deveria ter sido enfrentado e não foi.
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A obscuridade, que pode ser verificada tanto na fundamentação quanto no dispositivo, 
decorre da falta de clareza e precisão da decisão, suficiente a não permitir a certeza jurídica a 
respeito das questões resolvidas. Trata-se do vício de mais difícil objetivação, porque é possível 
que o advogado da parte não compreenda plenamente o decisório ainda que não haja qualquer 
obscuridade: tem-se nesse caso um estado de dúvida não por culpa da decisão em si, mas da 
dificuldade de compreensão de quem a lê. Como a dúvida não é vício previsto como hipótese 
de cabimento dos embargos de declaração, sempre que o advogado não compreender a decisão, 
deve formular sua pretensão com fundamento em obscuridade da decisão. 
Sendo o fundamento recursal dos embargos de declaração a obscuridade o pedido deve ser 
o de esclarecimento da decisão. Nesse ponto cabe ao advogado do embargante considerar que 
o pedido, mesmo recursal, deve ser certo e determinado, de forma que, identificada a obscuri-
dade que gerou a dúvida na compreensão da decisão, cabe nos embargos ser especificamente o 
saneamento do vício apontado. Naturalmente não é admitido um pedido genérico e indefinido, 
limitando-se ao requerimento de esclarecimento da decisão. Outro aspecto interessante desse 
pedido é que o esclarecimento em tese é neutro, porque ao esclarecer o ponto obscuro o próprio 
embargante pode ter sua situação piorada. Ainda que, evidentemente o esclarecimento dependa 
exclusivamente do juízo, é possível, e por vezes recomendável, que o pedido do embargante já 
seja direcionado a um determinado esclarecimento que lhe favoreça. Não condiciona o juiz em 
sua decisão, mas pode influenciá-lo em determinado sentido.
Há contradição quando existirem na decisão proposições inconciliáveis entre si, de forma que 
a afirmação de uma logicamente significará a negação da outra. Essas contradições podem ocorrer 
na fundamentação, na solução das questões de fato e/ou de direito, bem como no dispositivo, 
não sendo excluída a contradição entre a fundamentação e o dispositivo, considerando-se que o 
dispositivo deve ser a conclusão lógica do raciocínio desenvolvido durante a fundamentação. O 
mesmo poderá ocorrer entre a ementa e o corpo do acórdão e o resultado do julgamento pro-
clamado pelo presidente da sessão e constante da tira ou minuta, e o acórdão lavrado.
É muito comum na praxe forense a tentativa de advogados de emplacarem embargos de 
declaração com fundamento em contradição apontando eventual contradição entre a prova pro-
duzida e sua valoração ou entre a situação fática e a aplicação da norma jurídica ao caso concre-
to. Não se trata de contradição e sim de opções judiciais que não agradam a parte, que nesse 
sentido se irresigna inadequadamente por

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