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Ist’s, Vulvovaginites, Dip e Violencia Sexual Violência Sexual: A vulnerabilidade da vítima de violência sexual deve fundamentar a organização das instituições médicas que irão acolhê-la. O acolhimento inicial, o exame médico, a coleta de materiais, a proteção contra as doenças de transmissão sexual, a notificação e o seguimento devem ser estruturados segundo preceitos humanitários, médicos e legais. Acolhimento: Devem ser disponibilizados serviços capacitados para acolher as vítimas de violência sexual aptos a desencadear todos os procedimentos médicos e legais necessários. Dessa forma, a mulher vitimizada pode ser encaminhada diretamente às instituições de saúde credenciadas, e não somente ao IML. A principal característica desses serviços é o treinamento das equipes, constituídas por assistentes sociais, psicólogos e médicos, que, desde o acolhimento da vítima, seguem os preceitos fundamentais da ética, privacidade e sigilo. O acolhimento é realizado em ambiente reservado, estando a paciente amparada desde o início por um membro da equipe capacitada, um enfermeiro, assistente social ou psicólogo. Nesse momento, cria-se um ambiente seguro, buscando identificar a pertinência ou não daqueles que a acompanham de permanecerem com ela durante todo o atendimento. Após a obtenção de um breve histórico dos fatos que caracterizaram a violência sexual, realiza-se contato com as delegacias de referência para a solicitação dos exames periciais, acionando-se as unidades da Delegacia da Mulher ou, nos casos de vítimas menores de 14 anos, os Núcleos de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria). Dessa forma, enfatiza-se que a vítima de violência sexual pode dirigir-se diretamente a uma das instituições de saúde credenciadas, não havendo a necessidade de previamente realizar boletim de ocorrência na delegacia ou de comparecer à sede do IML, evitando-se constrangimentos com consequente aumento na procura de atendimento médico e notificações dos casos de violência. A partir da análise inicial da equipe de atendimento, são solicitados exames periciais, podendo ser de conjunção carnal, ato libidinoso, lesões corporais e exame toxicológico. A conjunção carnal conceitualmente refere-se à penetração completa ou incompleta do pênis na cavidade vaginal e o ato libidinoso relaciona-se a qualquer outro ato de natureza sexual, diverso da conjunção carnal, incluindo- se o coito anal, sexo oral, manipulação genital e masturbação. Atendimento Clínico: Priorizam-se a avaliação do estado geral de saúde, a orientação e proteção contra as doenças de transmissão sexual, a prevenção de gravidez e a coleta de materiais biológicos ou outros indícios materiais que permitam a identificação do agressor. É fundamental que o prazo decorrido entre o momento da violência sexual e o atendimento hospitalar seja o menor possível, não ultrapassando 72 horas. Após esse período, tanto a profilaxia para as doenças sexualmente transmissíveis e prevenção de gravidez como a coleta de material biológico para identificação do agressor tornam-se muito pouco eficazes. O Decreto Presidencial nº 7.958/2013 “Estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde” e os posteriores dispõem sobre os registros que devem constar em prontuário: A anamnese deve transcorrer de maneira livre e espontânea, evitando- se na sequência das perguntas imprimir o caráter de depoimento pré- formatado. As informações, por mais distantes que possam parecer do quadro clínico da paciente ou do incidente, podem gerar importantes subsídios para a reconstrução do cenário da violência, fornecendo registros essenciais para a investigação policial e possível identificação do agressor. As pacientes que apresentam déficit cognitivo, alterações mentais ou deficiência física, assim como as menores de 14 anos, são consideradas vítimas de violência presumida, pela vulnerabilidade em que se encontram. A procura dos pais para a realização de exames em menores vítimas de suposto abuso sexual, mesmo na ausência de evidências do fato, deve ser valorizado e incentivado. Exame Médico Pericial: O exame é realizado pelo médico perito obrigatoriamente com a presença de uma auxiliar e, quando a vítima for menor de 14 anos, com a presença da mãe ou responsável. Inicialmente, procede-se ao exame geral à procura de lesões motivadas por agressão ou contenção forçada, historiando-as e localizando-as nas diversas regiões do corpo. Descrevem-se as características de tamanho, número, forma, e grau de comprometimento, diferenciando-as como recentes ou não. Esquemas gráficos com metâmeros facilitam a descrição. Alternativamente, após o consentimento da paciente e de forma que não a identifique, podem ser obtidas fotografias das lesões. No reconhecimento das lesões, é importante definir as suas principais características: Exames Laboratoriais: → Exames Protetivos: Destinam-se à proteção da vítima de violência sexual: o Conteúdo Vaginal: exame bacterioscópico; pesquisa de clamídia e gonococo; o Sangue: pesquisa de HIV; hepatite B (HbsAG e anti-Hbs); hepatite C (anti-HCV); sífilis e β-HCG (para mulheres em idade fértil). Independentemente da coleta do material, devem ser iniciadas de imediato a profilaxia para as doenças sexualmente transmissíveis e a proteção para gravidez nas pacientes sem métodos de anticoncepção efetivo. → Exames Forenses: Os exames laboratoriais de interesse médico legal são realizados pelo médico perito e subsidiam a investigação e identificação do(s) agressor(es), assim como a elaboração de laudos periciais. São eles: o Sangue da Pessoa Agredida: para possível posterior confronto de DNA, para dosagem alcoólica/toxicológica e ß HCG para mulheres em idade fértil; o Urina: para análise toxicológica; o Swabs: para pesquisa de sangue, espermatozóide e PSA (antígeno prostático específico), nas seguintes regiões: vagina, boca, vulva, ânus e pênis (esfregaços de regiões excepcionais podem ser realizados, dependendo do histórico da agressão, região entre seios, interglútea, ou outras superfícies corporais com relato de ejaculação por parte do agressor). o Outros Materiais: absorvente, papel higiênico, vestes íntimas (calcinhas, cuecas, soutiens) e roupas em geral. Cuidados Médicos Posteriores: Após a identificação das lesões e a coleta de materiais para os exames, o médico perito detalhará, ao médico plantonista da instituição que acolheu a paciente, as lesões decorrentes de agressões físicas e/ou sexuais que possam requerer cuidados. O atendimento passa a integrar a rotina dos serviços de emergência. Procedimentos como suturas na região genital ou perianal são de responsabilidade do serviço de emergência do hospital. Com a paciente estabilizada e devidamente orientada quanto aos procedimentos submetidos e a necessidade de realizar sua proteção diante das possíveis consequências da agressão sexual, recomendam-se as seguintes ações: → Anticoncepção de Emergência: Indicada para todas as mulheres em período reprodutivo que tiveram conjunção carnal ou diante da possibilidade de contato com o sêmen na região genital. As pacientes que apresentam relatos duvidosos ou que tenham dificuldades de caracterizar a agressão sofrida devem igualmente receber proteção anticonceptiva. A AE deve ser administrada o mais precocemente possível, dentro das primeiras 72 horas após o abuso. A pessoa vítima de abuso sexual deve ser orientada quanto ao uso de preservativos nas relações sexuais subsequentes à violência até que sejam descartadas possíveis contaminações. No momento do atendimento emergencial a pessoa pode não dispor de interesse em ouvir sobre atividade sexual futura, desta forma, poderá receber apoio e informação nos atendimentosposteriores nas Unidades de Atenção Primária à Saúde ou no Hospital de Referência. → Prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis: É fundamental a ênfase a ser dada pela equipe de saúde para essa proteção. A profilaxia deve ser iniciada de imediato, com orientação para continuidade domiciliar. Os exames coletados são enviados aos laboratórios de referência, com agendamento do retorno para a verificação dos resultados no serviço de infectologia. A profilaxia é realizada em todos os casos de exposição com risco de transmissão, independentemente da presença de lesões. A profilaxia ARV do HIV é considerada abordagem protocolar de emergência nos casos de violência sexual com contato de fluidos do agressor e deve ser iniciada idealmente nas primeiras 02 horas, ou, no máximo em 72 horas (após este intervalo não existem evidências para a indicação) e o esquema terapêutico deve ser mantido por quatro semanas consecutivas. Caso seja possível a identificação sorológica do agressor e este seja negativo para HIV, a quimioprofilaxia poderá ser interrompida ou não iniciada. Nos casos de estupro por pessoa desconhecida, deve-se considerar como soropositivo o agressor. Porém, resultados falso-negativos devem ser analisados dentro da condição clínica e contexto epidemiológico do agressor. O esquema medicamentoso nos casos em que o agressor é sabidamente soropositivo e está em tratamento deverá ser indicado por especialista, porém, até o atendimento deste profissional, a profilaxia deve ser iniciada considerando o esquema recomendado. Nos casos de abuso crônico, com exposição repetida ao mesmo agressor, a profilaxia não está indicada, devido às possibilidades de contaminação já terem ocorrido. Porém, o ciclo de violência deve ser interrompido e o contexto ser avaliado e individualmente. A imunoprofilaxia contra a hepatite B deve ser considerada nos casos em que haja suspeita ou confirmação de exposição da vítima ao sêmen, sangue ou outros fluidos corpóreos do agressor; pois pessoas com esquema vacinal completo não necessitam de reforço ou uso de imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB). Nos casos em que não haja contato com fluidos, o agressor seja vacinado ou use preservativo durante todo o ato de violência sexual ou nos casos de violência crônica (geralmente intrafamiliar), a imunoprofilaxia contra hepatite B não está recomendada. O início da profilaxia está indicado nos casos de dúvida, desconhecimento do estado vacinal ou esquema vacinal incompleto e não deve estar condicionada a coleta e análise de exames. A primeira dose da vacina contra hepatite B deve ser administrada na ocasião do atendimento e as doses posteriores realizadas nas unidades de atenção primária à saúde, após análise dos exames de primeira consulta. A IGHAHB poderá ser administrada em até, no máximo, 14 dias após a violência sexual, mas recomenda-se aplicação nas primeiras 48 horas após a violência nos casos de não imunização, esquema vacinal desconhecido ou incompleto das vítimas. A gestação não contraindica a imunização com vacina ou soro, em qualquer idade gestacional. Vulvovaginites: O equilíbrio do ecossistema vaginal se deve a complexas interações entre a flora vaginal normal, os produtos metabólicos microbianos, o estado hormonal e a resposta imune da mulher (imunidade natural, humoral e celular). Quando este equilíbrio se rompe, ocorrem os processos inflamatórios e infecciosos. Dependendo do agente etiológico envolvido na gênese das vulvovaginites, estas podem ser classificadas em vaginites e vaginoses infecciosas e não infecciosas. As três principais causas de vulvovaginites infecciosas são: o Vaginose Bacteriana (VB); o Candidíase Vulvovaginal; o Tricomoníase; As três primeiras são responsáveis, respectivamente, por 46, 23 e 20% dos corrimentos vaginais no Brasil. Entre as vaginites e vaginoses não infecciosas incluem-se: o Vaginose Citolítica; o Vaginite Atrófica; o Vulvovaginites Inespecíficas; o Outras causas: fatores físicos (traumas), químicos (uso de lubrificantes e de absorventes internos e externos), hormonais (hiper e hipoestrogenismo), anatômicos e orgânicos (imunodepressão secundária à doença sistêmica, ou outras imunodepressões). Vaginose Bacteriana (VB): Por razões desconhecidas, a relação simbiótica da flora vaginal se altera, passando a haver supercrescimento de espécies anaeróbias, incluindo Gardnerella vaginalis, Ureaplasma urealyticum, Mobiluncus spp., Mycoplasma hominis e Prevotella spp. A vaginose bacteriana (VB) também está associada à ausência ou redução significativa de espécies normais de Lactobacillus produtores de peróxido de hidrogênio. É importante destacar que todos os fatores que fazem diminuir a quantidade de oxigênio nos tecidos e, portanto, o seu potencial de oxirredução, favorecem a infecção por anaeróbios estritos. Como resultado, ocorre liberação de citocinas, prostaglandinas e enzimas líticas por estes patógenos que respondem por algumas das manifestações clínicas (teste de whiff positivo) e pelo substrato fisiopatológico das complicações da VB. Há também um pequeno aumento dos leucócitos que justifica a resposta inflamatória discreta. É a principal causa de corrimento vaginal. Ocorre com maior frequência em mulheres com vida sexual ativa. Entretanto, pode acometer de forma esporádica crianças e mulheres celibatárias, o que sugere a existência de outras formas de transmissão além da sexual. → Fatores de Risco: Fatores de risco para VB incluem mulheres não brancas, gravidez prévia, múltiplos e novos parceiros do sexo feminino e masculino, uso de DIU, uso de duchas vaginais, tabagismo e a não utilização de condom. Embora a atividade sexual seja um fator de risco, a VB pode ocorrer em mulheres que nunca tiveram um intercurso sexual. Existe uma alta ocorrência de VB em mulheres que tem intercurso sexual com parceiras do mesmo sexo, o que sugere a importância da transmissão sexual neste cenário. No entanto, ainda não está claro se um tipo de atividade sexual é mais importante para a patogênese da infecção do que outro. Em outras palavras, não é possível concluir se o sexo oral é um fator de risco mais importante do que o coito vaginal. → Quadro Clínico: O quadro clínico caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido (caracterizado frequentemente como “odor de peixe” ou amoniacal). Por vezes, a paciente refere apenas o odor, estando o corrimento ausente. O odor fétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas (putrescina, cadaverina, dimetilamina) resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. O corrimento vaginal é fluido, homogêneo, branco acinzentado (mais comum) ou amarelado (raro), normalmente em pequena quantidade e não aderente, e pode formar microbolhas. A presença de sintomas inflamatórios, como dispareunia, irritação vulvar e disúria, é exceção. A parede vaginal das mulheres com VB é de aparência normal e não eritematosa. → Diagnóstico: A VB é relatada por alguns especialistas como a causa mais frequente dos sintomas vaginais que resultam em consultas médicas. Entre os sintomas, descarga vaginal sem irritação e com mau cheiro é característica, mas nem sempre está presente. Em regra, a vagina não se encontra eritematosa, e o exame do colo uterino não revela anormalidades. Os critérios diagnósticos clínicos foram inicialmente propostos por Amsel e incluem: (1) avaliação microscópica de uma preparação salina da secreção vaginal, (2) liberação de aminas voláteis produzidas pelo metabolismo anaeróbio e (3) determinação do pH vaginal. No primeiro, a preparação salina da secreção vaginal, para o exame conhecido como “a fresco”, contém uma amostra coletadada secreção misturada a gotas de soro fisiológico em uma lâmina de microscópio. As clue cells são as indicadoras mais confiáveis de VB. Essas células epiteliais vaginais contêm muitas bactérias aderidas, que criam uma borda celular pontilhada mal definida. O valor preditivo positivo desse teste para VB é de 95%. Nas pacientes com VB, o pH vaginal caracteristicamente está. 4,5 e resulta da redução na produção de ácido pelas bactérias. De forma similar, a infecção por Trichomonas vaginalis também está associada a supercrescimento anaeróbio e produção de aminas. Por isso, as mulheres diagnosticadas com VB não devem apresentar evidência microscópica de tricomoníase. O escore de Nugent é um sistema empregado para diagnosticar VB utilizando o exame microscópico de esfregaço de secreção vaginal corado pelo Gram. Utilizado mais em pesquisa do que na prática clínica, a pontuação é calculada avaliando-se a predominância de três tipos de morfologia e coloração bacterianas: (1) grandes bastonetes gram-positivos (Lactobacillus spp.), (2) pequenos bastonetes com resultado variável pelo Gram (G. vaginalis ou Bacteroides spp.) e (3) bastonetes curvos de Gram variável (Mobiluncus spp.). Pontuações entre 7 e 10 são consistentes com VB. Vários desfechos ginecológicos adversos são observados em mulheres com VB, incluindo vaginite, endometrite, endometrite pós- abortamento, doença inflamatória pélvica (DIP) não associada à N. gonorrhoeae ou à Chlamydia trachomatis e infecções pélvicas agudas após cirurgia pélvica, em especial histerectomia. → Tratamento: Três esquemas foram propostos pelo grupo de trabalho em VB do CDC, em 2010, e destinam-se a mulheres não grávidas. Entre as alternativas estão tinidazol 2 g por via oral, diariamente, durante três dias ou clindamicina 300 mg por via oral durante sete dias. Candidíase Vulvovaginal (CVV): Candidíase Vulvovaginal (CVV) é a segunda causa mais comum de corrimento vaginal, representando 23% dos casos de vulvovaginites, sendo uma infecção da vulva e vagina causada por um fungo do gênero Candida, Gram-positivo, dimorfo, saprófita do trato genital e gastrointestinal, com virulência limitada. A Candida é capaz de se proliferar em ambiente ácido, apesar da ação dos lactobacilos. Aproximadamente 85% dos casos são atribuídos à espécie Candida albicans e 10 a 15% dos casos a outras espécies não albicans (C. glabrata, C. tropicalis). Outras espécies menos comuns são a C. Krusei, C. lusitânia e C. parapsilosis. O que explica a maior prevalência da C. albicans em relação às outras espécies é a maior capacidade de aderência as células vaginais. A Candida é capaz de proliferar em ambiente ácido, apesar da ação dos lactobacilos. A via sexual não constitui a principal forma de transmissão, pois segundo livros didáticos recentes, este fungo Gram-positivo é encontrado na vagina em 30% das mulheres sadias e assintomáticas. A candidíase é frequente no menacme, sendo rara em crianças ou na menopausa, sugerindo que a colonização do trato genital por fungos é hormônio dependente. Condições associadas com elevada produção de hormônios como gestação, diabetes, contraceptivos de alta dosagem podem associar-se a candidíase. → Fatores de Risco: Episódios esporádicos de CVV geralmente ocorrem sem fator desencadeante identificado. No entanto, existem situações que predispõem ao seu aparecimento, como: gravidez; uso de contraceptivos orais com altas dosagens de estrogênio; terapia de reposição hormonal somente com estrogênio; diabetes mellitus (descompensado); uso de DIU; tireoidopatias; obesidade; uso de antibióticos, corticoides ou imunossupressores; hábitos de higiene e vestuário inadequados (diminuem a ventilação e aumentam a umidade e o calor local); contato com substâncias alérgenas e/ou irritantes (ex.: talco, perfume, desodorante); alterações na resposta imunológica (imunodeficiência, estresse), inclusive a infecção pelo HIV. → Quadro Clínico: O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza-se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”); dependendo da intensidade do processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, é frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras. O exame especular mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo vaginal esbranquiçado, em quantidade escassa, moderada ou abundante, de aspecto espesso ou flocular, aderido ou não às paredes vaginais. O pH vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. O teste das aminas (whiff test) é negativo na candidíase. → Diagnóstico: Na maioria dos casos, o quadro clínico e o exame a fresco são suficientes para o diagnóstico. Na vigência de candidíase vulvovaginal recorrente, a realização de cultura (meios de ágar- Sabouraud ou Nickerson) pode ser útil para avaliar a presença de espécies não albicans. O exame microscópico a fresco com hidróxido de potássio a 10% revela a presença de pseudo -hifas em cerca de 70% dos casos. Além da anamnese e do exame ginecológico cuidadosos, é necessária a comprovação laboratorial para o correto diagnóstico. Assim, diagnósticos baseados apenas na descrição dos sintomas (“diagnóstico por telefone”) ou na visualização do “corrimento” geralmente incorrem em erros. Deve-se também orientar a paciente para evitar o “autodiagnóstico” e o uso indiscriminado de medicações sem a devida avaliação médica. Importante lembrar a possibilidade presença de outros agentes microbiológicos (como por exemplo, Trichomonas vaginalis, Chlamydia trachomatis, microorganismos associados à vaginose bacteriana) associados à candidíase. Tais associações, embora pouco frequentes, reforçam a necessidade do diagnóstico laboratorial. Os exames microbiológicos compreendem: 1) Bacterioscopia a Fresco: realizada colocando-se em uma lâmina de vidro uma gote de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina ou de hidróxido de potássio a 10%. Visualizam-se ao microscópio as hifas e/ou esporos, característicos da infecção. O exame com KOH, embora evidencie claramente o fungo pode dificultar a visualização das células descamativas. Lembrar que o exame a fresco pode ser negativo em aproximadamente 50% das pacientes com culturas positivas. Assim, se existirem sintomas e o exame a fresco for negativo, deve-se prosseguir a investigação diagnóstica. 2) Bacterioscopia com Coloração pelo Método de Gram: permite melhor definição das hifas e esporos. Estudos tem demonstrado que a positividade na bacterioscopia correlaciona-se com a concentração de fungos na vagina. Assim em mais baixas o fungo será identificado apenas pela cultura. 3) Culturas em Meios Específicos: os mais utilizados são os de Sabouraud e Nickerson, possibilitando também a identificação das espécies de fungos. 4) PCR: utilizado basicamente para pesquisas. → Tratamento: Para o tratamento e prevenção de novos episódios, é importante a eliminação ou pelo menos o controle de fatores predisponentes como diabetes mellitus descompensada, estados de imunossupressão, tabagismo, distúrbios alimentares com excesso de ingestão de hidratos de carbono, hábitos de higiene ou vestuário inadequados, estresse excessivo e outros fatores, se presentes. A terapêutica dever ser individualizada, optando-se por via local ou sistêmica, dependendo da preferência da paciente e da experiência do profissional. Tricomaníase: Diferentemente de outras DSTs, alguns estudos mostram que sua incidência parece aumentar com a idade da paciente. A tricomoníase é mais comumente diagnosticada em mulheres, uma vez que a maioria dos homens é assintomática. No entanto, até 70% dos parceiros masculinos de mulheres com tricomoníase vaginal terão tricomonas no seu trato urinário. Em geral, esse parasita éum marcador do comportamento sexual de alto risco, e a coinfecção com patógenos sexualmente transmissíveis é comum, em especial N. gonorrhoeae. O Trichomonas vaginalis tem predileção pelo epitélio escamoso, e as lesões podem facilitar o acesso para outras espécies sexualmente transmissíveis. A transmissão vertical durante o parto é possível, podendo persistir por um ano. A tricomoníase é a infecção causada por um protozoário flagelado denominado Trichomonas vaginalis, anaeróbico facultativo, que possui os seres humanos como os únicos hospedeiros conhecidos. É a terceira causa mais comum de corrimento vaginal, correspondendo a 20% dos casos, sendo que na maioria dos casos, a tricomoníase encontra-se associada a outras doenças de transmissão sexual, além de facilitar a transmissão do HIV. As mulheres são em sua maioria sintomáticas, podendo, em algumas circunstâncias, permanecerem assintomáticas, como após a menopausa. Pode cursar de forma assintomática nos homens. → Fatores de Risco: A tricomoníase somente se relaciona com a prática da atividade sexual desprotegida. Não há ligação com a idade da mulher, fase do ciclo menstrual, uso de anovulatórios, uso frequente de antibióticos ou frequência de intercursos sexuais. Assim, a tricomoníase é uma DST e sua via de transmissão é quase unicamente sexual. → Quadro Clínico: Os sintomas classicamente descritos na infecção são corrimento geralmente profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado, frequentemente acompanhado de ardor genital, sensação de queimação, disúria e dispareunia. Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da hemoglobina pelo parasita, o que aumenta sua virulência. Ao exame ginecológico, geralmente se observam hiperemia dos genitais externos e presença de corrimento espesso, de aspecto purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar. Ao exame especular, verifica-se aumento do conteúdo vaginal, de coloração amarelada ou amarelo-esverdeada, por vezes acompanhado de pequenas bolhas. As paredes vaginais e a ectocérvice apresentam- se hiperemiadas, observando-se ocasionalmente o “colo uterino com aspecto de morango” (colpitis maculáreis), devido às pequenas sufusões hemorrágicas. A medida do pH vaginal revela valores acima de 4,5 e o teste das aminas (whiff test) pode ser positivo devido à presença de germes anaeróbios associados à VB. É importante lembrar que em muitas mulheres os sintomas podem ser discretos ou mesmo ausentes. → Diagnóstico: A tricomoníase costuma ser diagnosticada com a identificação microscópica de parasitas em um preparado salino da secreção. Os tricomonas são protozoários anaeróbios com flagelo anterior e, portanto, móveis. São ovais e ligeiramente maiores que um leucócito. Os tricomonas tornam-se menos móveis com o frio, e as lâminas devem ser observadas no prazo de 20 minutos. O exame direto do preparado salino é altamente específico, ainda que a sensibilidade não seja tão alta quanto seria desejável (60 a 70%). Além dos achados microscópicos, o pH vaginal frequentemente está elevado. A técnica diagnóstica mais sensível é a cultura, que é impraticável, porque um meio especial (meio Diamante) é necessário, e poucos laboratórios estão equipados. Além disso, os testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs, de nucleic acid amplification tests) para DNA de tricomonas são sensíveis e específicos, mas não estão amplamente disponíveis. Como alternativa, o teste rápido para tricomonas (OSOM Genzyme, Cambridge, MA) é um exame imunocromatográfico com 88% de sensibilidade e 99% de especificidade. Está disponível para uso em consultório, e os resultados ficam prontos em 10 minutos. Os tricomonas também podem ser observados no rastreamento por esfregaço de Papanicolaou, e a sensibilidade é de quase 60%. Se houver descrição de tricomonas na lâmina do exame preventivo, sugere-se que se procedaa exame microscópico para confirmação antes de iniciar o tratamento. As pacientes com infecção por tricomonas devem ser testadas para outras doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, o(s) contato(s) sexual(is) deve(m) ser avaliado(s) ou encaminhado(s) para exames. → Tratamento: Deve ser sistêmico, pois o tratamento tópico não atinge níveis terapêuticos nas glândulas vaginais e na uretra. Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s): Herpes Genital: O herpes genital é a doença ulcerosa genital de maior prevalência e é uma infecção crônica. O vírus penetra nas terminações dos nervos sensoriais e é transportado retrogradamente pelo axônio para as raízes dos gânglios dorsais, onde fica potencialmente latente por toda a vida. A reativação espontânea por várias causas resulta no transporte anterógrado de partículas/proteínas do vírus para a superfície, onde se dissemina, com ou sem formação de lesões. Há dois tipos do vírus herpes simples (HSV, de herpes simplex virus), o HSV-1 e o HSV-2. O HSV-1 é a causa mais frequente das lesões orais. O HSV-2 costuma ser encontrado nas lesões genitais, embora ambos os tipos possam causar herpes genital. Muitas mulheres infectadas com HSV-2 carecem desse diagnóstico em razão de infecções leves ou não reconhecidas. As pacientes infectadas podem transmitir o vírus quando assintomáticas, e muitas infecções são sexualmente transmitidas por pacientes que desconhecem sua infecção. O maior número (65%) com infecção ativa é de mulheres. → Etiologia: Estima-se que das mulheres norte-americanas entre 14 e 49 anos de idade, 21% tenham sido infectadas por HSV-2, e 60 % das mulheres são soropositivas para HSV-1. → Quadro Clínico: Os sintomas do paciente na apresentação inicial dependem basicamente de o paciente, durante o episódio atual, apresentar ou não anticorpos em função de exposição prévia. O período médio de incubação é de aproximadamente uma semana. O vírus infecta células epidermais viáveis, e a resposta à infecção é formada por eritema e pápulas. Com a morte celular e a lise da parede celular, formam-se bolhas. A cobertura rompe-se, levando, em regra, à úlcera dolorosa. Essas lesões desenvolvem uma crosta e cicatrizam, mas podem ser infectadas secundariamente. As três fases das lesões são: (1) vesícula com ou sem formação de pústula, com duração de aproximadamente uma semana, (2) ulceração e (3) crosta. Pode-se predizer que o vírus se dissemina durante as duas primeiras fases do surto infeccioso. Queimação e dor intensas acompanham as lesões vesiculares iniciais, e os sintomas urinários, como frequência e/ ou disúria, podem estar presentes em caso de lesões na vulva. É possível haver edema local causado por lesões vulvares levando à obstrução uretral. De forma alternativa ou adicional, as lesões por herpes podem envolver vagina, colo uterino, bexiga, ânus e reto. É comum a paciente apresentar outros sinais de viremia, como febre baixa, mal-estar e cefaleia. Para um paciente não infectado anteriormente, a fase vesicular ou inicial é mais longa. Há aumento no período de formação da nova lesão e a cicatrização é mais demorada. A dor persiste pelos primeiros 7 a 10 dias, e a cicatrização da lesão requer 2 a 3 semanas. Se um paciente tiver sofrido exposição anterior ao HSV-2, o episódio inicial será significativamente menos grave. A duração da dor e da sensibilidade dolorosa será menor, e o tempo de cicatrização será de aproximadamente duas semanas. Em geral, o vírus dissemina-se apenas durante a primeira semana. É comum haver recorrência após infecção por HSV-2, e quase dois terços dos pacientes apresentam sintomas prodrômicos ao surgimento da lesão. As parestesias precursoras, em geral, são descritas como prurido ou formigamento na região, antes da formação da lesão. Entretanto, os sintomas prodrômicos podem ocorrer sem que haja formação de lesão. As manifestações clínicasde pacientes com recorrência são mais limitadas, com sintomas perdurando apenas aproximadamente uma semana. → Transmissão: Transmissão sexual, inclusive orogenital. Os casais não devem ter relação se houver lesões ativas. → Tratamento: O herpes é uma doença recorrente e incurável. O tratamento possui o objetivo de encurtar o curso da doença, diminuir sua intensidade e recorrências. o Visão Geral do Tratamento: o controle clínico é realizado com a terapia antiviral disponível atualmente. Há indicação para analgesia com fármacos anti-inflamatórios não esteroides ou com um narcótico leve, como a associação paracetamol e codeína. Além disso, anestésicos tópicos, como pomada de lidocaína, podem produzir alívio. O cuidado local para prevenir infecção bacteriana secundária é importante. As mulheres portadoras de herpes vaginal devem abster- se de atividade sexual com parceiros não infectados quando na fase dos sintomas prodrômicos ou com lesões aparentes. O uso de preservativos de látex potencialmente reduz o risco de transmissão herpética. o Tratamento Antiviral: inclui aciclovir, fanciclovir e valaciclovir. Embora esses agentes possam acelerar a cicatrização e reduzir os sintomas, a terapia não erradica o vírus latente nem afeta a história futura de infecções recorrentes. Para as mulheres com infecção estabelecida por HSV-2, talvez a terapia não seja necessária, caso seus sintomas sejam mínimos e tolerados. A terapia episódica para doença recorrente deve ser iniciada, no máximo, no primeiro dia de eclosão da lesão ou durante a fase prodrômica, se houver. As pacientes devem ter a prescrição antecipadamente para que tenham a medicação disponível para começar a terapia assim que se iniciem os sintomas prodrômicos. o Tratamento Supressivo: pode eliminar as recorrências e reduzir a transmissão sexual do vírus em cerca de 50%. A dose única diária resulta em aumento da adesão e redução do custo. o Tratamento em Casos Graves: em caso de manifestações graves o uso de aciclovir deverá ser venoso (5 a 10 mg/kg, 8/8h, 5-7 dias ou até regressão). o Tratamento das Recorrências: no caso de recorrência, o tratamento deve ser iniciado aos primeiros sintomas prodrômicos, por cinco dias de duração. → Diagnóstico: O padrão-ouro para o diagnóstico de lesão(ões) herpética(s) é a cultura tecidual. A especificidade é alta, mas a sensibilidade é baixa e declina à medida que as lesões cicatrizam. Embora existam outros testes que são utilizados para confirmar a infecção por herpes simples, o tratamento e o rastreamento-padrão adicional podem ser iniciados nos casos clinicamente evidentes logo após o exame físico. Sífilis: A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Representa uma doença infecciosa, sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e a períodos de latência. Na maior parte dos casos, é transmitida pela via sexual. Sua evolução caracteriza-se por episódios sintomáticos (doença ativa) interrompidos por períodos de latência. Apresenta fácil detecção, terapêutica simples, barata, e com alta eficácia. A contaminação durante a gestação implica em acometimento fetal, de gravidade preocupante. A umidade é fator indispensável para o seu desenvolvimento e, por isso, as lesões crescem preponderantemente na boca e nas regiões genitoanais. → Etiologia: Estima-se uma prevalência de 3,5 milhões de novos casos de sífilis em todo mundo anualmente, os quais são mais prevalentes em países em desenvolvimento. A prevalência no Brasil é estimada entre 10 e 15% no grupo das gestantes. → Quadro Clínico: Pode ser transmitida pela via sexual ou transplacentária, podendo ser classificada, respectivamente, em sífilis adquirida ou congênita. Em termos epidemiológicos, ambas são divididas em recente e tardia. Clinicamente, classifica-se em sífilis primária, secundária e terciária. Denomina-se latência o intervalo aparentemente silencioso entre as manifestações clínicas, detectáveis por sinais e sintomas. o Sífilis Primária: a história natural de sífilis em pacientes não tratados pode ser dividida em quatro fases. A lesão indicadora dessa infecção é chamada de cancro, onde as espiroquetas são abundantes. É uma úlcera clássica, isolada, firme ao toque, com bordas arredondadas levemente elevadas e uma base integrada não infectada. No entanto, pode se tornar infectada secundariamente e dolorosa. Em geral, os cancros são encontrados no colo uterino, na vagina ou na vulva, mas também podem se formar na boca ou ao redor do ânus. Essa lesão pode se desenvolver em 10 dias a 12 semanas após a exposição, com um período médio de incubação de três semanas. O período de incubação está diretamente relacionado ao grau de inoculação. Sem tratamento, essas lesões cicatrizam espontaneamente em até seis semanas. → Transmissão: A infecção ocorre na sífilis recente pelo contato e na sífilis latente por meio do fluido corporal (principalmente pelo sangue). A grande maioria dos casos ocorre através do contato sexual, e uma menor parte através da transmissão vertical ou transfusão sanguínea. O contágio pode ser direto, quase sempre genital, e, mais raramente, cutâneo e bucal. A espiroqueta é capaz de penetrar o organismo através da pele ou das mucosas, determinando, no local da inoculação, a lesão característica da fase primária, o protossifiloma. Um terço dos indivíduos expostos a parceiro sexual infectado adquire a doença. → Diagnóstico: As espiroquetas são finas demais para reter a coloração pelo Gram. A sífilis precoce é diagnosticada principalmente pelo exame em campo escuro ou pelo teste de imunofluorescência direta do líquido da lesão. Na ausência de diagnóstico positivo, o diagnóstico suposto pode ser confirmado com os testes sorológicos não treponêmicos: (1) teste VDRL (Venereal disease Research Laboratory) ou (2) teste da reagina plasmática rápida (RPR). Como alternativa, pode-se optar pelos testes treponêmicos: (1) teste de absorção de anticorpo de treponema fluorescente ou (2) teste de aglutinação passiva para anticorpo contra Treponema pallidum. Os médicos devem estar familiarizados com o uso dos testes sorológicos para sífilis. Para rastreamento na população, os testes RPR ou VDRL são apropriados. Para aferições quantitativas dos títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento, costuma-se utilizar os testes RPR ou VDRL. O resultado positivo em uma paciente que tenha sido tratada pra sífilis ou o aumento de quatro vezes no título (duas diluições) em paciente previamente tratada para sífilis determina a necessidade de confirmação com testes específicos para treponema. Assim, para a confirmação do diagnóstico em uma paciente com resultado positivo para teste não treponêmico de anticorpo ou com suspeita clínica de sífilis, as melhores opções são FTA-ABS ou TP-PA. Finalmente, para as medições quantitativas de títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento, os testes mais utilizados são RPR ou VDRL. → Tratamento: A penicilina é o agente terapêutico de primeira linha para essa infecção, e a escolha primária é a penicilina benzatina. Com o tratamento, pode haver uma resposta aguda e febril autolimitada, chamada de reação de Jarisch-Herxheimer, dentro das primeiras 24 horas após o tratamento da doença inicial, acompanhada de cefaleia e mialgia. Assim como com todas as DSTs, as pacientes tratadas para sífilis e seus contatos sexuais devem ser testadas para outras DSTs. As pacientes com envolvimento neurológico ou cardíaco evidente devem ser tratadas por um especialista em doenças infecciosas. Após o tratamento inicial, as mulheres devem ter consultas agendadas em intervalos de seis meses para avaliação clínica e novos testes sorológicos. Espera-se redução de quatro vezes na titulação. Caso isso não ocorra,o tratamento terá fracassado ou a paciente foi reinfectada. Nesse caso deve ser reavaliada e retratada. A recomendação para retratamento é penicilina G benzatina, 2,4 milhões de unidades IM/semana, por três semanas. Assim, no caso de não ser possível acompanhar de perto as pacientes alérgicas à penicilina ou quando sua adesão ao tratamento for questionável, recomenda-se teste cutâneo, dessensibilização e tratamento com penicilina benzatina IM. Cancro Mole: Cancro mole é uma das DSTs clássicas. Aparece como erupção local, predominantemente em homens negros e hispânicos. É causada por um bacilo sem motilidade, não formador de esporos, facultativo, gram-negativo, o Haemophilus ducreyi. Em geral, o período de incubação é de 3 a 10 dias, e o acesso ao hospedeiro requer a presença de fissura na pele ou na mucosa. O cancro mole não causa reação sistêmica, e não há síndrome prodrômica descrita. → Etiologia: É mais acentuada em populações desfavorecidas economicamente, e em locais com clima quente, como África e norte do Brasil. É comum sua apresentação concomitante a outras DST. Aproximadamente 10% das pacientes com cancro mole podem estar coinfectadas pelo T. pallidum ou pelo HSV. A OMS estima o surgimento de dois milhões de casos novos por ano no mundo. É uma moléstia de transmissão exclusivamente sexual. → Quadro Clínico: A paciente com a doença se apresenta inicialmente com uma pápula eritematosa que evolui para pústula que sofre ulceração em 48 horas. As bordas dessas úlceras dolorosas, em geral, são irregulares, com limites eritematosos sem enduração. A base da úlcera costuma ser avermelhada e granular e, em contraste com o cancro sifilítico, tem consistência amolecida. Em regra, as lesões são recobertas com material purulento e, quando secundariamente infectadas, exalam odor fétido. Nas mulheres as localizações mais comuns são a fúrcula vulvar, o vestíbulo, o clitóris e os grandes lábios. As úlceras no colo uterino ou na vagina podem ser duras. Simultaneamente, quase metade das pacientes desenvolverá linfadenopatia inguinal mole unilateral ou bilateral. Quando as úlceras são grandes e flutuantes, são chamadas de bubão. Às vezes podem supurar e formar fístulas, e sua drenagem resultará na formação de outra úlcera. → Transmissão: Acredita-se que a infecção ocorra por múltiplas microabrasões epidérmicas durante o coito. Este dado baseia-se em experiências clínicas, que demonstraram a necessidade de abrasão cutânea para ocorrência da infecção. → Diagnóstico: Nenhum método de identificação possui uma sensibilidade adequada. 1) Exame Físico: é bem sugestivo. O achado de úlcera dolorosa com adenopatia inguinal dolorosa é bastante sugestivo e quando se associa à presença de supuração, é considerada patognomônica. Sua diferenciação clínica pode ser difícil mesmo quando realizada por observadores muito experientes. Em 10% dos casos pode coexistir com outra doença. 2) Bacterioscopia com Coloração de Gram ou Giemsa: pode ser utilizado com material da punção do bubão ou raspado das bordas da lesão, com sensibilidade de 70%. Serão encontrados germes Gram- negativos intracelulares (cocobacilos) com as extremidades mais coradas, dispostos em cadeias longas e paralelas (paliçada ou impressão digital), em disposição em “cardume de peixe” ou em cadeias isoladas. É grande a chance de falso-negativos. 3) Cultura: a cultura com identificação do Haemophilus ducreyi faz o diagnóstico definitivo. No entanto, apresenta difícil execução pelas exigências de crescimento do bacilo que necessita do fator X (ferriprotoporfirina, derivada da hemoglobina não destruída por ocasião do aquecimento indispensável para o preparo do Ágar chocolate). Possui 80% de sensibilidade. Na cultura identifica-se crescimento em pares e em cadeias paralelas. O CDC não recomenda o diagnóstico de cancroide baseado na identificação do micro- organismo pela cultura. 4) PCR: alta sensibilidade, porém de alto custo e pouco disponível. Segundo o CDC (2015), o diagnóstico presuntivo do cancro mole é definido por: presença de uma ou mais lesões ulceradas; ausência de evidência do T. pallidum em exame de campo escuro ou teste sorológico (este realizado após sete dias do aparecimento da lesão); aspecto da úlcera e da linfadenopatia regional característicos do cancroide; teste negativo (PCR, cultura) para herpesvírus na lesão ulcerada. → Tratamento: O tratamento bem-sucedido resultará em melhora sintomática em três dias e evidência objetiva de melhora em uma semana. A linfadenopatia cura mais devagar e, se flutuante, podem ser necessárias uma incisão e uma drenagem. Aquelas mulheres com infecção por HIV coexistente podem precisar de um tratamento mais prolongado, e as falhas de tratamento são mais comuns. Portanto, alguns regimes mais longos são recomendados para o tratamento inicial de pacientes sabidamente infectadas com HIV. Linfogranuloma Venéreo: Essa doença genital ulcerativa é causada pela Chlamydia trachomatis, sorotipos L1, L2 e L3. O ciclo de vida da clamídia é formado por três fases. Inicialmente, partículas infectantes (corpos elementares) penetram na célula do hospedeiro, onde se desenvolvem, evoluindo para corpos reticulares metabolicamente ativos. A divisão binária dentro da célula permite que os corpos reticulares se transformem em múltiplos corpos elementares. Finalmente, estes corpos são liberados por exocitose. → Etiologia: Assim como outras DSTs, essa infecção é encontrada em grupos socioeconômicos desfavorecidos, entre os indivíduos com múltiplos parceiros sexuais. → Quadro Clínico: Em geral, a infecção divide-se em três fases, como se segue: (1) vesícula ou pápula pequena; (2) linfadenopatia inguinal ou femoral; e (3) síndrome anogenitorretal. Seu período de incubação varia entre três dias e duas semanas. As pápulas iniciais cicatrizam rapidamente e não deixam cicatrizes. Surgem principalmente na fúrcula vulvar e na parede vaginal posterior até o colo uterino. A inoculação repetida pode resultar em lesões em várias regiões. Durante a segunda fase, algumas vezes denominada síndrome inguinal, observa-se o aumento progressivo dos linfonodos inguinal e femoral. Os linfonodos aumentados e dolorosos podem fundir-se em qualquer lado do ligamento inguinal, criando um “bubão” característico, que aparece em até 20% das mulheres infectadas. Além disso, os linfonodos aumentados podem romper completamente a pele, resultando em drenagem crônica por fístulas. É possível haver febre antes do rompimento. É comum as mulheres com LGV desenvolverem infecção sistêmica e manifestarem mal-estar e febre. Além disso, pneumonia, artrite e hepatite são relatadas com essa infecção. Na terceira fase do LGV, a paciente desenvolve prurido retal e descarga mucoide pelas úlceras retais. Se forem infectadas, a descarga tornar-se-á purulenta. Essa apresentação é resultado da obstrução linfática que sucede a linfangite e que, em princípio, pode resultar em elefantíase da genitália externa e fibrose do reto. O sangramento retal é comum, e a paciente pode se queixar de cólicas, dores abdominais com distensão abdominal, dor retal e febre. É possível haver peritonite em consequência de perfuração intestinal. Também há relatos de estenose da uretra e da vagina. → Diagnóstico: O LGV pode ser diagnosticado depois da avaliação clínica com exclusão de outras etiologias e teste positivo para clamídia. Uma sorologia com título > ou = 1:64 corrobora o diagnóstico. Além disso, pode ser realizada cultura para C. trachomatis ou teste por imunofluorescência ou PCR de amostras obtidas nos linfonodos por esfregaço ou aspiração. → Tratamento: O esquema recomendado pelo CDC (2010) é doxiciclina, 100 mg, por via oral (VO), duas vezes ao dia, por 21 dias. Como alternativa, eritromicina base, 500 mg, VO,quatro vezes ao dia, pelo mesmo período. Recomenda-se que parceiros sexuais dos 60 dias anteriores sejam testados para infecção uretral ou cervical e tratados de modo idêntico com o esquema-padrão anticlamídia. HPV: Trata-se de um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de atipias. Estudos recentes revelaram que o HPV possui proteínas que interagem com os genes supressores de tumor p53 e erb. Na maioria das vezes a infecção cervical pelo HPV é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição. No pequeno número de casos nos quais a infecção persiste e, especialmente, é causada por um tipo viral oncogênico, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras, cuja identificação e tratamento adequado possibilitam a prevenção da progressão para o carcinoma cervical invasivo (OMS). Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e carga viral, infecção única ou múltipla), outros fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e, também a progressão para lesões precursoras ou câncer. A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. → Etiologia: O HPV pode acometer pessoas de qualquer idade, mas é mais frequente na faixa compreendida entre 20 e 40 anos, período de maior atividade sexual. Podemos dizer que ela é endêmica entre os indivíduos sexualmente ativos. Pelo menos 50% das mulheres sexualmente ativas são ou já foram portadoras aos 50 anos de idade. A literatura revela que a incidência das infecções pelo Papilomavírus Humano (HPV) vem aumentando significativamente no mundo ocidental. É a infecção sexualmente transmitida mais comum do trato genital feminino. O aumento da promiscuidade sexual, a diminuição da idade da primeira relação sexual e a abolição do uso de condom a favor da contracepção oral aumentam a frequência de infecção por HPV. No Brasil, os dados estatísticos são escassos e não traduzem, certamente, a verdadeira magnitude da infecção induzida pelo HPV. No entanto, confirmam a tendência mundial de avanço da virose. → Quadro Clínico: Após a exposição, o vírus coloniza todo o epitélio do trato genital inferior. Pode, então, existir uma ampla variação individual de manifestações clínicas, que, provavelmente, são reguladas pela resposta imunológica local ou sistêmica do hospedeiro, além da presença ou ausência de cofatores. A infecção pelo HPV pode ter diferentes evoluções: cura espontânea, com desaparecimento do vírus; persistência do vírus associada à citologia normal ou a alterações citopáticas discretas; alterações celulares transitórias que desaparecem espontaneamente; alterações celulares que, apesar de persistentes, não progridem; alterações celulares que evoluem para carcinoma in situ ou invasivo. A lesão mais evidente é o condiloma acuminado, que acomete a vulva e a pele do períneo e, menos frequentemente, o colo uterino. → Transmissão: A infecção é transmitida por contato, e não apenas pelo coito. O uso regular de preservativo pode conseguir algo em torno de 60% de proteção, mas áreas não protegidas podem estar associadas à transmissão. Há grande possibilidade de transmissão genital sem que tenha havido a coitarca, apenas com o contato pele a pele dos genitais dos parceiros. Por razões ainda não entendidas, nem todo parceiro sexual se contamina, e a concordância de infecção por HPV entre parceiros sexuais varia de 40% a 60%. A transmissão pode também ser não sexual, transmissão por fômites. Pode haver passagem de HPV de mãe para o concepto, em especial em casos de lesões genitais na passagem do canal de parto, o que pode causar a papilomatose respiratória. Tem sido sugerido que haja transmissão vertical em uma taxa de aproximadamente 20%. No entanto, a maioria dos neonatos elimina a infecção até o primeiro ano de vida. → Diagnóstico: Os HPV, atualmente não podem ser propagados em sistemas de culturas de células. Por este motivo, o diagnóstico da infecção por HPV é obtido pela detecção dos seus efeitos morfológicos sobre a citologia e histopatologia, ou do seu Ácido Desoxirribonucleico (DNA). É importante salientar que não existe método ideal para identificação do HPV. Cada método é limitado pela sensibilidade, pela especificidade, pela praticidade, pelo custo e pela disponibilidade. → Tratamento: A conduta deve variar conforme a apresentação do quadro infeccioso. (1) Infecção latente em qualquer sítio: conduta expectante. (2) Lesão subclínica: → LSIL: pode ser expectante com seguimento até sua involução. Quadros persistentes podem ser tratados com métodos destrutivos, imunomodulação ou exérese dependendo do sítio; → HSIL: dependendo da idade pode ser seguimento (≤ 24 anos) ou tratamento (> 24 anos). (3) Lesão clínica: pode ser por imunomodulação, exérese ou destruição conforme o sítio, número de lesões e experiência do especialista. Gonorreia: Muitas mulheres com N. gonorrhoeae no colo uterino são assintomáticas. Por essa razão, as mulheres em grupo de risco devem ser rastreadas periodicamente. Neisseria gonorrhoeae é um cocobacilo gram-negativo que invade as células epiteliais colunares e transicionais, passando para o meio intracelular. Por essa razão, o epitélio vaginal não é envolvido. → Etiologia: Os fatores de risco para pacientes portadoras de gonococos com infecção potencial do trato reprodutivo superior são as seguintes: idade igual ou inferior a 25 anos, presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, antecedente de infecção por gonococos, parceiro sexual recente ou múltiplos parceiros, prática sexual sem preservativos, compartilhamento de seringas ou objetos cortantes com resíduo de sangue e profissionais do sexo. O rastreamento de mulheres não gestantes e de baixo risco não é recomendado. → Quadro Clínico: A gonorreia sintomática do trato reprodutivo inferior feminino pode se apresentar na forma de vaginite ou de cervicite. Em geral, as mulheres portadoras de cervicite descrevem uma secreção vaginal profusa sem odor, não irritante e de cor branca-amarelada. Os gonococos também podem infectar as glândulas de Bartholin e de Skene e a uretra, e ascender para o endométrio e as tubas uterinas, causando infecção no trato reprodutivo superior. → Diagnóstico: Para a identificação do gonococo estão disponíveis os testes NAAT que substituíram a cultura na maioria dos laboratórios. Anteriormente as amostras ideais eram coletadas da ectocérvice ou da uretra. Entretanto, novos testes NAAT estão disponíveis para coletas específicas de vagina, ectocérvice ou urina. Para as mulheres submetidas à histerectomia (sem colo uterino), coleta-se amostra da primeira urina da manhã. Para aquelas com colo uterino, amostras coletadas por swab vaginal são tão sensíveis e específicas quanto aquelas obtidas com swab cervical. Amostras do colo uterino são aceitáveis nos casos em que se esteja realizando exame físico da pelve. As amostras de urina, embora aceitáveis, não são preferenciais nas pacientes com colo uterino uterina. Contudo, se esta for a opção, deve- se coletar o jato inicial de urina, e não o intermediário. Observe-se que esses testes não culturais não estão habilitados pela FDA para a identificação diagnóstica da doença no reto ou na faringe. Assim, nos pacientes que estejam sendo pesquisados para esses locais anatômicos, devem ser realizadas culturas. Todas as pacientes investigadas para gonorreia devem ser testadas para outras infecções sexualmente transmissíveis, e seus parceiros sexuaisavaliados e tratados ou encaminhados para exame e tratamento. Deve haver abstinência sexual até que a terapia tenha sido concluída e até que a paciente e os parceiros tratados tenham seus sintomas resolvidos. → Tratamento: Clamídia: Chlamydia trachomatis é um parasita intracelular obrigatório que depende de células do hospedeiro para sobreviver, causando causa infecção no epitélio colunar. → Etiologia: Este organismo é a segunda espécie mais prevalente entre as DSTs nos Estados Unidos, e sua maior prevalência está entre os jovens com menos de 25 anos de idade. Uma vez que muitas pessoas com esses organismos são assintomáticas, recomenda-se rastreamento anual nas mulheres sexualmente ativas com idade ≥ 25 anos e naquelas consideradas de risco. → Quadro Clínico: Os sintomas refletem a infecção de glândulas ectocervicais, com resultante descarga mucopurulenta ou secreções ectocervicais. Se infectado, o tecido ectocervical costuma se apresentar edemaciado e hiperêmico. A uretrite é outra infecção do trato genital inferior que pode ocorrer com intensa disúria. → Diagnóstico: A análise microscópica das secreções em preparado salino em geral revela 20 ou mais leucócitos por campo microscópico. Como exames mais específicos, cultura, NAAT e ensaio imunoenzimático (Elisa) estão disponíveis para amostras ectocervicais. A alternativa mais utilizada é um teste combinado para gonococo e clamídia. Assim como ocorre para gonorreia, surgiram novos kits de NAAT que permitem coletas seletivas de vagina, endocérvice ou urina. Os swabs com material de vagina são tão sensíveis e específicos quanto os de colo uterino. Amostras de colo uterino são aceitas quando a paciente estiver sendo submetida a exame físico da pelve, mas amostras obtidas da vagina são consideradas adequadas mesmo nos casos de exame físico completo da pelve. As amostras de urina, embora aceitas, são menos utilizadas em mulheres que tenham colo uterino. Contudo, para pacientes histerectomizadas dá-se preferência ao primeiro jato de urina. Novamente, estes testes diagnósticos sem cultura não estão aprovados pela FDA para confirmação de doença retal ou faríngea e, para estes locais, há indicação de cultura. Se for diagnosticada C. trachomatis ou houver suspeita, recomenda-se rastreamento para outras DSTs. → Tratamento: A azitromicina tem a óbvia vantagem de garantir a adesão ao tratamento por permitir ao médico observar a ingestão do medicamento no momento do diagnóstico. Após o tratamento, não há necessidade de novo teste caso os sintomas tenham sido resolvidos. Para evitar outras infecções, recomenda-se abstinência sexual até que a paciente e seu(s) parceiro(s) tenham sido tratados e estejam assintomáticos. Os parceiros sexuais devem ser encaminhados para investigação ou examinados, orientados, testados e tratados. Assim como para a gonorreia, o CDC sancionou o uso de EPT para pacientes selecionados. Donovanose: É uma IST crônica progressiva, causada pela bactéria Klebsiella granulomatis. Acomete preferencialmente a pele e mucosas das regiões da genitália, da virilha e do ânus. Causa úlceras e destrói a pele infectada. → Quadro Clínico: Após o contágio, aparece uma lesão que se transforma em ferida ou caroço vermelho. Não dói e não tem íngua. A ferida vermelha sangra fácil, pode atingir grandes áreas e comprometer a pele ao redor, facilitando a infecção por outras bactérias. → Transmissão: A transmissão ocorre pelo sexo desprotegido com uma pessoa infectada. Por isso, recomenda-se sempre o uso da camisinha masculina ou feminina. Doença Inflamatória Pélvica (DIP): Doença inflamatória pélvica (DIP) é síndrome clínica aguda atribuída à ascensão de micro-organismos do trato genital inferior, espontânea ou secundária à manipulação, comprometendo endométrio, anexos uterinos e/ ou estruturas contíguas, não relacionadas com ciclo gravídico-puerperal ou cirurgias pélvicas. → Etiopatogenia: A DIP é um processo agudo, que ocorre quando agentes patogênicos do trato genital inferior ascendem através do colo uterino, levando a endometrite, salpingite e peritonite1,5. São infecções frequentemente polimicrobianas, com envolvimento de bactérias anaeróbias e facultativas, sendo 90% originárias de agentes sexualmente transmissíveis cuja apresentação clínica varia em diferentes regiões geográficas. Os germes de infecções sexualmente transmissíveis, como Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, são identificados universalmente como agentes etiológicos da DIP; estima-se que 10 a 20% das infecções por gonococo ou clamídia evoluam para a doença e esses germes são isolados no trato genital superior em cerca de 70% das mulheres acometidas. Há casos excepcionais, em que a doença é provocada por micro- organismos extragenitais, como as micobactérias e actinomicetos, entre outros, que infectam a pelve através dos sistemas linfático ou sanguíneo, justificando os casos de DIP em mulheres submetidas previamente a salpingectomia, que podem ter seu diagnóstico retardado e apresentar formas mais leves. A maioria dos casos de DIP ocorre em duas etapas. A primeira etapa envolve a aquisição de uma infecção vaginal ou cervical, que pode permanecer assintomática. A segunda etapa ocorre pela ascensão propriamente dita de micro-organismos da vagina e do colo uterino. Uma vez que os germes atingem as tubas, promovem lesão direta e indireta do epitélio ciliar, levando a intensa reação inflamatória. O processo cicatricial na superfície tubária inflamada ocasiona a formação de aderências, que pode resultar em oclusão do lúmen ou formação de traves, possíveis responsáveis pelo aumento da incidência de gestações ectópicas. As fímbrias tubárias podem aglutinar-se, causando oclusão total e formação de piossalpinge e, eventualmente, envolver os ovários, levando a peri-ooforite, com possível comprometimento dos parênquimas e evolução para abscesso tubovariano. Em alguns casos, o conteúdo purulento pode cair na cavidade peritoneal e formar abscesso no fundo de saco de Douglas, entres as alças intestinais ou espaço subdiafragmático. A vaginose bacteriana (VB) pode estar associada à DIP em até dois terços dos casos, uma vez que os agentes microbianos desta condição potencializam o desenvolvimento de inflamação do colo do útero e podem facilitar a infecção ascendente por microrganismos cervicais e vaginais outros. Portanto, não só facilita a propagação de micro- organismos ascendente vaginal, interferindo com as defesas do hospedeiro, mas também fornece uma inoculação de microrganismos potencialmente patogênicos. → Epidemiologia: Uma série de fatores contribuem para a dificuldade em determinar a real incidência e prevalência da DIP no mundo, incluindo a falta de reconhecimento da doença pelo paciente, as dificuldades no acesso aos serviços de saúde, a subjetividade no diagnóstico clínico, a falta de acesso a testes diagnósticos laboratoriais e, mormente em países em desenvolvimento, o sub-financiamento e a sobrecarga do sistema público de saúde. → Fatores de Risco: o Mulheres jovens com atividade sexual; o Promiscuidade sexual sem uso de preservativos; o Troca de parceiro recente (menos de 3 meses); o História anterior de doença sexualmente transmissível (no paciente ou seu parceiro); o As adolescentes apresentam fatores biológicos e comportamentais próprios que favorecem o aparecimento da DIP, com baixa prevalência de anticorpos contra clamídia, ectopia cervical mais frequente e muco cervical mais permeável; o Tabagismo, alcoolismo e uso de drogas ilícitas, como cocaína, também se associam positivamente ao desenvolvimento de DIP. → Diagnóstico: A DIP aguda é difícil de diagnosticar devido à grande variedade dos sinais e sintomas; as queixas iniciais podem ser leves e passar despercebidas, e o atraso no diagnósticoe tratamento provavelmente contribuem para as sequelas reprodutivas. O médico precisa considerar a DIP no diagnóstico diferencial de mulheres que o procuram no ambulatório ou nas emergências com dor no abdominal inferior. O diagnóstico depende da avaliação da paciente: história clínica, exame físico, estudos de laboratório e de imagem. o Diagnóstico Clínico: na história clínica deve-se levar em consideração os fatores de risco, ou seja, mulheres sexualmente ativas, sem uso de preservativos, com história de DIP prévia, múltiplos parceiros sexuais, parceiro recente ou, ainda, parceiro com uretrite. Para o diagnóstico clínico sindrômico, é necessária a presença de três critérios maiores mais um critério menor; ou um critério elaborado. o Diagnóstico Diferencial: deve incluir gravidez ectópica, apendicite aguda, endometriose, torção ou rotura de cisto ovariano, litíase ureteral, mioma uterino, infecção urinária, abortamento espontâneo e síndrome do colo irritável. o Exames Complementares: → Classificação: o Estágio I: mulheres com endometrite e salpingite aguda sem peritonite; o Estágio II: mulheres com salpingite e peritonite; o Estágio III: mulheres com salpingite aguda com oclusão tubária ou comprometimento tubo-ovariano. Abscesso íntegro; o Estágio IV: mulheres com abscesso tubo-ovariano roto. → Tratamento: Os objetivos do tratamento variam de acordo com o estádio clínico que ela seja identificada, quanto menor melhor o prognóstico. o Estádio I: cura da infecção; o Estádio II: preservação da função tubária; o Estádio III: preservação da função ovariana; o Estádio IV: preservação da vida da paciente. o Tratamento Ambulatorial: aplica-se a mulheres que apresentam quadro clínico leve e que não apresentam critérios para tratamento hospitalar. Inclui-se pacientes em estágio I, cujas medidas gerais são repouso, abstinência sexual, retirada do DIU se inserção recente, tratamento sintomático (analgesia, antitérmicos e anti-inflamatórios não hormonais) e antibioticoterapia. Reavaliar paciente após 72 horas do início do tratamento para avaliar evolução do quadro. o Tratamento Hospitalar: é recomendado quando há sinais de peritonite, abscesso tubo-ovariano roto, incerteza da gravidade do diagnóstico, imunodepressão, intolerância ou incapacidade de adesão ao tratamento por via oral (VO), ou, ainda, fracasso deste. Inclui-se pacientes em estágios II, III e IV, sendo as medidas gerais as mesmas. Pacientes em estágio II antibioticoterapia intravenosa deve ser mantida por 24-48 horas, dependendo da melhora do quadro clínico. Em seguida, iniciar esquema ambulatorial até completar 14 dias com Clindamicina 450mg, VO, quatro vezes ao dia, ou Doxiciclina 100mg, ou Ofloxacina 400mg, ou Ciprofloxacina 500mg e Metronidazol 250mg, VO, 2 comprimidos duas vezes ao dia. O uso de ceftriaxona não está respaldado pelos dados atuais. Pacientes em estágio III antibioticoterapia intravenosa deve ser mantida por 48-72 horas, dependendo da melhora do quadro clínico. Em seguida, iniciar esquema ambulatorial até completar 14 dias com Clindamicina 450mg, VO, de 6/6 horas, ou Doxiciclina 100mg ou Ofloxacina 400mg ou Ciprofloxacina 500mg e Metronidazol 400mg, VO, duas vezes por dia. Já pacientes em estágio IV realizar esquema de antibioticoterapia do estádio II e fazer a cirurgia com paciente estabilizada. o Tratamento Cirúrgico: indica-se tratamento cirúrgico em qualquer estádio em caso de falha do tratamento clínico; presença de massa pélvica que persiste ou aumenta, apesar do tratamento clínico; suspeita de ruptura de abcesso tubo-ovariano; hemoperitôneo; abscesso do fundo de saco de Douglas. → Acompanhamento: Aconselhar e orientar, ofercendo sorologias para sífilis, hepatites B e C, e vírus da imunodeficiência humana (HIV). Notificar e fazer acompanhamento por até seis meses após tratamento, podendo repetir testes para clamídia ou gonococo. Encorajar a paciente a comunicar sobre sua doença a todas as pessoas com as quais manteve contato sexual durante os últimos dois meses para que possam fazer tratamento. Referências Bibliográficas: • Tratado de Ginecologia / Manoel João Batista Castello Girão, Edmund Chada Baracat, Geraldo Rodrigues de Lima, editores associados Afonso Celso Pinto Nazário... [et al.]. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. a. Vol2. Seção 10. Cap 102 – Doenças sexualmente transmissíveis – páginas 1247 a 1256. b. Vol2. Seção 16. Cap 142 –Vulvovaginites de repetição – páginas 1669 a 1682. • Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. Ginecologia de Williams. 2ª. Edição, Editora Artmed, 2014. a. Capítulo - 3 páginas 64 a 109 • FEBRASGO - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_ Novos/Doencas-_Infectocontagiosas.pdf • Donovanose: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao- ist/donovanose#:~:text=%C3%89%20uma%20IST%20cr%C3%B4n ica%20progressiva,e%20destr%C3%B3i%20a%20pele%20infectada . • Resumos de Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96313532/is-ts- vulvovaginites-dip https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_%20Novos/Doencas-_Infectocontagiosas.pdf https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_%20Novos/Doencas-_Infectocontagiosas.pdf http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/donovanose#:~:text=%C3%89%20uma%20IST%20cr%C3%B4nica%20progressiva,e%20destr%C3%B3i%20a%20pele%20infectada http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/donovanose#:~:text=%C3%89%20uma%20IST%20cr%C3%B4nica%20progressiva,e%20destr%C3%B3i%20a%20pele%20infectada http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/donovanose#:~:text=%C3%89%20uma%20IST%20cr%C3%B4nica%20progressiva,e%20destr%C3%B3i%20a%20pele%20infectada http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/donovanose#:~:text=%C3%89%20uma%20IST%20cr%C3%B4nica%20progressiva,e%20destr%C3%B3i%20a%20pele%20infectada https://www.passeidireto.com/arquivo/96313532/is-ts-vulvovaginites-dip https://www.passeidireto.com/arquivo/96313532/is-ts-vulvovaginites-dip
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