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História da Hominização às Primeiras Civilizações

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História da Hominização às Primeiras Civilizações
Capítulo 1 – Como a História e a Arqueologia Estudam o Passado?
Introdução
A hominização é o processo que transformou as primeiras espécies de hominídeos, os antepassados dos seres humanos que já possuíam andar bípede e postura ereta, no Homo sapiens sapiens. Estudar esse processo e a formação das primeiras civilizações são tarefas que dependem da aplicação de diferentes metodologias de pesquisa, que devem ser associadas a disciplinas que estudam o passado e o modo de vida das primeiras populações humanas, bem como o modo de vida nômade, o sedentarismo e a formação dos primeiros espaços urbanos. Você saberia dizer quais são as principais disciplinas responsáveis pelo estudo destes processos? E quais seriam as fontes disponíveis para o estudo desse passado tão remoto? Ou ainda, qual é a importância desse passado para a nossa sociedade, ou seja, qual é a relação entre a Arqueologia e a História e o presente? Neste capítulo vamos conhecer as fontes documentais e responder a estas questões, apresentando diferentes abordagens que podem ser utilizadas no estudo da Pré-História e da História Antiga. Sem o conhecimento sobre o papel dessas disciplinas, bem como sobre os seus objetivos, o estudo do passado se torna uma tarefa árdua e difícil, que pode conduzir o pesquisador ao campo das falsas interpretações, já que somente por meio do uso de fontes documentais confiáveis, obtidas na pesquisa histórica e arqueológica, é possível compreendermos o passado. Primeiramente, vamos estudar as principais características da arqueologia, a ciência responsável pelo estudo do modo de vida e do passado das populações humanas. O segundo tópico aborda a relação entre a arqueologia e o estudo da Pré-História. Depois, vamos identificar os objetivos da pesquisa histórica e, por fim, o quarto tópico procura estabelecer a relação entre os estudos históricos e o mundo antigo.
1.1 Arqueologia: ciência ou ferramenta?
A arqueologia, geralmente, é considerada uma disciplina envolvida em mistérios. Muito do que conhecemos a seu respeito, atualmente, é resultado do que vemos na mídia. Mas qual é o potencial informativo destas pesquisas? Como podemos separar as informações úteis, dos projetos científicos, das pesquisas realizadas por amadores que buscam somente o entretenimento?
Neste tópico, iremos analisar as diversas características referentes à pesquisa arqueológica, desde a compreensão e importância do conceito de arqueologia até a demonstração dos objetivos e dos passos necessários para a realização de uma pesquisa arqueológica sobre a Pré-História. Você sabe como os objetos podem nos trazer informações sobre o passado? O objetivo deste tópico é, justamente, responder a este e outros questionamentos, apresentando uma pequena explicação sobre a prática arqueológica.
1.1.1 Conceito de Arqueologia 
De uma maneira geral, podemos dizer que a arqueologia é conhecida como o estudo das coisas antigas. Tal pensamento é comum, pois imaginamos arqueólogos procurando por artefatos arqueológicos em todo o mundo, tal como o personagem do cinema Indiana Jones. Afinal, esta é a imagem transmitida, principalmente por meio dos filmes e documentários de televisão. Assim, percebemos a arqueologia como uma ciência que envolve aventuras e descobertas extraordinárias. Mas, qual é o foco e o que, de fato, caracteriza a pesquisa arqueológica?
De acordo como Funari (2003, p. 15), a arqueologia estuda diretamente “a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico”, ou, em outras palavras, a pesquisa arqueológica busca todo e qualquer vestígio material não só produzido, mas também utilizado pela sociedade, não importando qual é o período do tempo, desde o passado mais remoto até o presente.
Para ampliarmos nosso conhecimento sobre a arqueologia precisamos desmistificar algumas interpretações ligadas a alguns documentários de canais de televisão, que passam a falsa imagem de construções históricas famosas, como as pirâmides do Egito ou as ruínas da cidade peruana de Machu Picchu, entre outras, como obras de criação do ser humano. Outros filmes e programas de televisão são orientados, exclusivamente, para a descoberta de tesouros arqueológicos, nem sempre reais, onde há uma despreocupação com o contexto cultural destes objetos, além da construção da ideia de que fazer arqueologia é buscar bens preciosos almejando ganhos financeiros.
Outro aspecto que devemos mencionar é a relação entre a arqueologia e a paleontologia. Talvez você já tenha percebido que muitas pessoas associam arqueologia à descoberta de fósseis de dinossauros, encontrados em diversos lugares do país. É importante destacar que este tipo de estudo é realizado por paleontólogos, que estudam os vestígios preservados de seres vivos, como os próprios dinossauros, que foram extintos há, aproximadamente, 65 milhões de anos. Mas, preste atenção, pois, conforme argumentou Funari (2003), ao citar que não importa qual é o período de tempo que pretendemos estudar, aos arqueólogos interessa o passado, em um período que pode alcançar até, aproximadamente, sete milhões de anos atrás, época em que, possivelmente, viveu o hominídeo mais antigo já conhecido até hoje, o Sahelanthropus tchadensis. 
Um dos primeiros da arqueologia, Mortimer Wheeler, já afirmava no início do século XX que a arqueologia “escava pessoas e não coisas” (FUNARI, 2003, p. 20). Podemos afirmar, portanto, que a cultura material, ou seja, a relação entre os vestígios materiais e a sociedade, é o foco da arqueologia. Mas, vale destacar, que o objetivo da disciplina é compreender a história e o modo de vida das pessoas, que produziram e utilizaram esses materiais, desde o passado mais remoto até a atualidade. Portanto, consideramos que o trabalho do arqueólogo não consiste somente na escavação e na coleta de objetos, mas na pesquisa e compreensão dos grupos humanos por trás de sua existência.
Você o conhece?
Mortimer Wheeler (1890 – 1976) foi um dos primeiros arqueólogos a se preocupar com o estudo da sequência de diferentes camadas do solo na escavação e com a posição exata dos artefatos. Além de ter atuado em duas guerras mundiais, realizou importantes escavações em sítios no sul da Índia, incluindo a escavação do sítio arqueológico Arikamedu, a única cidade indiana que apresenta vestígios da antiga civilização romana.
Até meados do século XX, um dos principais objetivos da arqueologia foi a coleção, a descrição e a classificação de objetos, havendo pouco interesse nas pessoas que os produziram (FUNARI, 2003). Existia uma finalidade puramente técnica, baseada na escavação, na coleta e na transferência dos materiais para os museus. Neste momento, a arqueologia estava mais próxima do colecionismo, deixando para outras ciências, como a história e a antropologia, a responsabilidade de interpretar o passado e o modo de vida das populações humanas.
Você quer ver?
O filme Indiana Jones e os caçadores da Arca Perdida (EUA, 1981), estrelado por Harrison Ford e produzido por George Lucas, mostra a saga do arqueólogo mais famoso do cinema contra as forças nazistas de Adolf Hitler. Apesar de apresentar somente o lado aventureiro e pouco científico da arqueologia, este é o mais famoso filme sobre o tema já produzido na história do cinema e foi o responsável pela escolha profissional de muitos arqueólogos contemporâneos.
Ainda hoje existem pessoas que consideram a arqueologia uma atividade, essencialmente, técnica e uma disciplina auxiliar, que só deve ser aplicada na ausência da documentação escrita. Porém, cada vez mais arqueólogos a compreendem como uma ciência independente e interdisciplinar, que compartilha questões comuns a outras disciplinas. Desde meados do século XX, a arqueologia passou, então, a ser considerada, por esses profissionais, como uma disciplina que não se ocupa somente dos artefatos e do seu contexto, e foi reconhecida como as demais ciências sociais: como uma ciênciaque estuda os sistemas socioculturais, sua estrutura, funcionamento e seu comportamento ao longo do tempo (FUNARI, 2003).
Como já dissemos, as pesquisas arqueológicas nos trazem informações relevantes sobre o passado, que até então desconhecíamos. Esse é o caso, por exemplo, das evidências que temos das primeiras populações que viveram no atual território brasileiro. Há pouco tempo, acreditávamos que esses povos chegaram aqui por volta de 12 mil anos atrás. Contudo, novas pesquisas realizadas no Mato Grosso e no Piauí ampliaram esse período para mais de 20 mil anos, modificando completamente o conhecimento que possuíamos sobre o povoamento do nosso continente (BOËDA et al, 2014; VIALOU et al, 2015).
Este é um dos exemplos capazes de demonstrar a importância da arqueologia na nossa sociedade contemporânea. Por meio das pesquisas arqueológicas sabemos, por exemplo, que na pré-história brasileira, antes da chegada dos europeus em nosso país, existiram duas populações com características biológicas distintas (NEVES et al, 2008), que grande parte da biodiversidade amazônica pode ter sido resultado do manejo ambiental realizado por populações indígenas (NEVES, 2000) e que o sítio arqueológico e patrimônio histórico da humanidade Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi o principal porto de entrada de africanos no Brasil até a metade do século XIX (LIMA, 2013).
Você sabia?
O crânio humano encontrado no início dos anos 1970 em Minas Gerais, apelidado de Luzia, é o mais antigo já encontrado na América. Esse fóssil se refere a uma mulher e suas principais características é a morfologia craniana, que demonstra laços semelhantes aos aborígenes australianos e não aos grupos indígenas contemporâneos (NEVES et al, 2008).
Por trás dessas descobertas existem as teorias, que exercem forte influência nos arqueólogos e são os elementos que norteiam as pesquisas arqueológicas. No passado, elas já foram utilizadas, inclusive, para promover a supremacia racial e para tornar invisível a história de populações inteiras, como é o caso dos grupos indígenas da América do Sul (FUNARI, 2003). Dessa forma, devemos reconhecer a importância da fundamentação teórica nas pesquisas arqueológicas e entender que elas são realizadas a partir de diferentes abordagens, que acompanham o desenvolvimento da disciplina desde a sua criação. A seguir vamos conhecer algumas destas abordagens.
· Arqueologia histórico-cultural 
A arqueologia histórico-cultural é utilizada desde o final do século XIX. Neste tipo de pesquisa as sociedades são definidas a partir de distintos estágios, representando diferentes identidades étnicas e culturais, definidas a partir da cultura material, como idade da pedra lascada, da pedra polida, do bronze, do ferro, até chegar à indústria (FUNARI, 2003). Esse modelo histórico-cultural ainda é utilizado no Brasil, apesar de ter sido bastante criticado por modelos teóricos posteriores, principalmente por afirmar que a morfologia dos artefatos é um indicador de cultura, excluindo a ampla quantidade de fatores que podem determinar a forma desses materiais.
· Arqueologia processual
Também conhecida como Nova Arqueologia, é utilizada desde a década de 1960 e busca encontrar regularidades no registro arqueológico e estabelecer leis gerais de comportamento humano. Trata-se de uma abordagem teórica mais próxima da antropologia. Conforme os arqueólogos adeptos desta teoria, todas as sociedades viviam com o intuito de minimizar os esforços, para adquirir recursos e maximizar os resultados, desenvolvendo estratégias cada vez mais eficazes (FUNARI, 2003). Essa vertente teórica surgiu como uma crítica à arqueologia histórico-cultural, sendo ainda bastante utilizada nas pesquisas brasileiras.
As novas teorias que foram surgindo desde a década de 1980 também levantaram críticas à arqueologia histórico-cultural por definir culturas homogêneas a partir da cultura material, e também ao processualismo, por considerar somente o viés econômico das sociedades humanas, como se o único objetivo fosse adquirir recursos de subsistência. Essas novas interpretações deram mais ênfase ao caráter simbólico do registro material e possuem uma grande variedade de pontos de vista teóricos e metodológicos. As abordagens referentes a essas correntes teóricas incluem discussões sobre gênero, a subjetividade das pesquisas arqueológicas, a relação entre os grupos humanos e as paisagens, entre outras.
1.1.2 Objetivo da pesquisa arqueológica 
A pesquisa arqueológica se orienta a partir de princípios teóricos que já devem estar claros na mente do arqueólogo, e não deve depender somente da observação direta dos materiais, mas sim de um conjunto de problemáticas inerentes às discussões já existentes na disciplina. Se a atividade arqueológica consiste somente na escavação e na coleta de materiais, por exemplo, não haveria a necessidade de definirmos metodologias, e o trabalho poderia ser realizado de forma aleatória, ou seja, era só chegar no sítio e abrir um buraco no solo, sem a preocupação de registrar tudo o que acontece. Contudo, as pesquisas arqueológicas são orientadas a partir de metodologias de campo que, por sua vez, são definidas a partir de um conjunto teórico pertinente.
A escavação é a principal e mais conhecida atividade relacionada à pesquisa arqueológica. Mas, antes de escavar, outros passos devem ser planejados pelo arqueólogo, sendo todos necessários para o bom andamento da pesquisa. A primeira etapa da pesquisa é feita no laboratório e consiste no planejamento. Neste momento, alguns dos questionamentos que devem ser feitos são: o que escavar? Por que escavar? Qual é o objetivo? Pois, sem uma problemática definida, o arqueólogo não tem motivos para iniciar uma escavação, sabendo que na maioria dos casos essa atividade é destrutiva, e em muitas situações o sítio que será impactado não poderá ser pesquisado novamente.
A primeira etapa de campo realizada na pesquisa arqueológica é a prospecção, uma atividade que consiste na identificação dos sítios arqueológicos e se baseia na utilização de diferentes estratégias, intrusivas ou não, como, por exemplo, o caminhamento sistemático em áreas com potencial arqueológico (caminhada em linhas paralelas, realizadas em equipes, por toda a área de pesquisa definida pelo arqueólogo), a conversa com moradores da região sobre a existência de sítios, e também a intervenção sistemática do subsolo. Esta atividade é executada por meio da abertura de poços-teste, com o auxílio de uma ferramenta denominada cavadeira articulada e tem o objetivo de encontrar materiais arqueológicos enterrados, identificando as áreas com melhor potencial para a escavação.
Outras estratégias incluem a abertura de pequenas sondagens de até um metro quadrado que, além de identificar vestígios arqueológicos enterrados, permite a interpretação da estratificação do terreno, isto é, das diferentes camadas de solo presentes no sítio. As estratégias de prospecção podem incluir também outros tipos de intervenção, como a utilização de fotografias aéreas, a utilização de técnicas como o radar de penetração no solo (GPR), um método eletromagnético utilizado para identificar as camadas abaixo da superfície e que permite a identificação de estruturas arqueológicas sem a necessidade de uma intervenção no subsolo.
A escavação arqueológica é, de fato, a atividade que melhor representa o trabalho realizado pelos arqueólogos. Nesta etapa é muito comum a utilização de ferramentas de campos como pás, picaretas, colheres de pedreiro, pincéis, baldes, peneiras, cordas, papeis para anotações, trenas etc. É a atividade que demanda maior tempo e que produz grande parte dos resultados de uma pesquisa arqueológica, gerando a coleção que será estudada em laboratório. Para a realização de uma escavação é importante montar uma equipe composta por vários pesquisadores, onde cada um desempenhará atividades distintas, como escavar, peneirar, escrever, coletar materiais, desenhar etc.
O objetivo da escavação é a reconstrução das atividades e das ações que foram realizadasno passado pelas antigas populações que habitaram o sítio arqueológico estudado. No momento em que determinado local foi abandonado por esses grupos humanos, os vestígios materiais remanescentes passaram por uma série de processos naturais que transformaram esse local em um sítio arqueológico.
Portanto, podemos dizer que os materiais arqueológicos são os dados que serão utilizados para a interpretação do que aconteceu nesse local no passado, e o arqueólogo responsável por essa interpretação deve ser fiel às evidências encontradas. Sendo assim, a partir de um contexto que pode ser considerado estático (o sítio arqueológico), o arqueólogo tem como objetivo principal compreender o contexto dinâmico, ou seja, as atividades desempenhadas no sítio em tempos pretéritos.
1.2 Arqueologia e Pré-História 
	Após abordarmos o conceito, a importância e os objetivos da arqueologia, vamos conhecer agora outras características desta disciplina. Quais são as fontes que o arqueólogo tem à disposição para compreender o período anterior à escrita? O que essas fontes podem nos dizer sobre as populações pré-históricas? Por que a arqueologia é uma das principais disciplinas capazes de estudar a Pré-História?
Nesse tópico vamos verificar algumas das possibilidades de estudos das fontes materiais, que costumam aparecer nos sítios arqueológicos pré-históricos. Estudaremos também as principais áreas de pesquisa, além da relação entre a ciência arqueológica e os estudos pré-históricos.
1.2.1 A Pré-História e as origens da humanidade 
Lembre-se que, no século XIX, o passado da humanidade ainda era visto sob uma ótica fortemente religiosa. Tais interpretações foram se modificando na medida em que as pesquisas arqueológicas, baseadas na teoria evolucionista, inspiradas em temas como “A origem das espécies”, de Charles Darwin (2002), deram um novo foco para o estudo do passado da humanidade. A partir deste momento, a arqueologia começou a dar mais ênfase à evolução da espécie humana e intensificaram-se as pesquisas sobre o passado mais remoto, por meio da busca de uma história mais antiga do que as registradas nos estudos bíblicos.
Depois, a partir da metade do século XIX, intensificaram-se os estudos sobre esses períodos mais antigos, na medida em que artefatos arqueológicos, como os instrumentos em pedra lascada, foram cada vez mais associados à criação humana. Foi o estudo dessas ferramentas que deu origem aos termos paleolítico, ou Idade da Pedra Antiga, e o neolítico, ou Idade da Pedra Recente (FUNARI; NOELLI, 2002).
Assim, o termo arqueologia pré-histórica começou a ser utilizado, e se referia ao período anterior ao surgimento da escrita. Contudo, sabemos que essa invenção ocorreu em diferentes momentos e em diferentes regiões do nosso planeta (FUNARI, NOELLI, 2002). No Brasil, a arqueologia pré-histórica, por exemplo, se refere ao período anterior à chegada dos europeus na América. Sendo assim, reconhecemos, atualmente, que o marco inicial da Pré-História do nosso continente se refere ao processo de chegada das primeiras populações humanas, dando origem à história de longa duração dos milhares de povos que aqui existiram. Por outro lado, o termo Pré-História ainda é muito utilizada como uma forma de justificar a suposta inferioridade dos povos indígenas em relação aos europeus.
As principais pesquisas sobre arqueologia pré-histórica, no Brasil, se referem ao povoamento do atual território brasileiro, às características dos esqueletos encontrados em sítios arqueológicos, às reflexões sobre a arte rupestre, às características das sociedades amazônicas e a importância do manejo ambiental nessas sociedades, à importância dos sambaquis do litoral brasileiro, além de uma grande quantidade de pesquisas sobre tecnologia lítica (pedra lascada e polida) e cerâmica em sítios pré-históricos (FUNARI, 2003).
Perceba que a principal maneira de conhecer o passado pré-histórico consiste no estudo das fontes materiais que o arqueólogo tem à disposição. A cultura material, portanto, é a evidência utilizada pelo arqueólogo e, por meio das prospecções e também da escavação, é possível interpretar as características dos sítios arqueológicos, caracterizando o modo de vida das populações pré-históricas.
Em relação à diversidade material presente nos sítios arqueológicos, na arqueologia pré-histórica existem especialistas que trabalham com diferentes artefatos, sendo os mais comuns os produzidos em pedra lascada. A pedra é o material mais duradouro que podemos encontrar no registro arqueológico, e há evidências de sua utilização desde, aproximadamente, 2,6 milhões de anos atrás (KOTTAK, 2013). Essa matéria-prima foi intensamente utilizada para a confecção de instrumentos, como machados e pontas de flecha, muito comuns nas caças e guerras, além de artefatos que serviam para cortar, raspar ou perfurar, e também instrumentos que possuíam finalidades simbólicas.
Além disso, as populações pré-históricas utilizavam com frequência a argila para a produção de materiais cerâmicos. Estes artefatos surgiram em períodos mais recentes, se compararmos com a pedra lascada, há aproximadamente 10 mil anos, e estão associados, principalmente, aos processos de sedentarização das populações humanas. A cerâmica é encontrada, geralmente, em fragmentos, mas o seu estudo em laboratório permite, em alguns casos, a completa remontagem de recipientes, proporcionando também a visualização de suas morfologias, elementos decorativos e a interpretação de suas funcionalidades.
Também são objetos de pesquisa as construções, como é o caso dos sambaquis, que consistem em estruturas de até 25 metros de altura, construídas por populações pré-históricas, constituídas, principalmente, por um amontoado de conchas, instrumentos líticos, ossos de mamífero e até esqueletos humanos, existentes em toda a costa do atual território brasileiro, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Podemos citar ainda os cerritos do Sul do Brasil, que consistem em elevações no terreno, produzidas por ação humana, que podem alcançar até sete metros de altura, e, geralmente, estão presentes em áreas alagadiças.
Você quer ler?
O livro “Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro”, escrito pela arqueóloga Madu Gaspar (1999), é uma ótima referência sobre o histórico das pesquisas arqueológicas referentes aos sambaquis do atual território brasileiro, desde as pesquisas pioneiras no final do século XIX até as pesquisas mais recentes. O livro apresenta também os últimos resultados das escavações ocorridas em Santa Catarina e Rio de Janeiro.
As representações rupestres são conhecidas na Pré-História do Brasil e são evidências e podem trazer inúmeras informações sobre os povos da Pré-História. Essas representações, como pinturas e gravuras, mostram atividades do cotidiano, como a caça, e também apresentam representações simbólicas, como rituais e festas. Em conjunto com outras evidências materiais, as representações rupestres permitem melhor interpretação do passado das populações humanas pré-históricas. 
Os hominídeos também utilizavam, além dos instrumentos em pedra, materiais produzidos em ossos, madeira e outros materiais perecíveis. Contudo, como estamos nos referindo a um passado de milhares de anos atrás, sabemos que os vestígios produzidos nestes materiais possuem baixos índices de preservação e só aparecem em condições excepcionais.
Há também vestígios de pequenas dimensões encontrados nos sítios arqueológicos, como os carvões, que em muitos casos se referem a antigas estruturas de fogueiras, produzidas pelas populações que habitaram este local. É importante destacar que a datação destes materiais por carbono 14 permite associar o contexto arqueológico ao período de ocupação desse sítio, isto é, cria a possibilidade de compreender em que período da história esses materiais foram produzidos.
Existem inúmeros e variados exemplos de abordagens utilizadas na arqueologia pré-histórica. Por ser uma ciência interdisciplinar, a arqueologia conta com profissionais experientes em diversas áreas de conhecimento,incluindo pesquisadores que trabalham, por exemplo, na relação entre a arqueologia e as ciências da terra (geoarqueologia), com os restos de fauna encontrados nos sítios arqueológicos (zooarqueologia), com os vestígios arqueológicos submersos (arqueologia subaquática), com o estudo dos restos de madeira carbonizados e encontrados em sítios arqueológicos (antracologia), com o estudo de remanescentes ósseos humanos (bioarqueologia), entre várias outras áreas, com metodologias e objetivos distintos.
Outro exemplo de pesquisa que está ganhando novos adeptos é o estudo de DNA de humanos, de animais e de plantas presentes nos sítios arqueológicos. Esses estudos são utilizados, por exemplo, para a análise genética de grupos indígenas do continente americano, e o resultado dessas pesquisas tem levantado diferentes hipóteses sobre a origem e as rotas de dispersão das primeiras populações que ocuparam o continente, estabelecendo relações com as populações indígenas contemporâneas (TELLES; DINIZ-FILHO, 2004).
Outros profissionais fundamentais na arqueologia são os museólogos, responsáveis pelo estudo de gestão do patrimônio arqueológico. São eles que pesquisam as diferentes maneiras de preservar e apresentar este patrimônio ao público, buscando mais conscientização sobre sua importância e proteção.
Podemos dizer que, hoje em dia, ainda é pequeno o número de arqueólogos atuando no Brasil. O território do nosso país é imenso e a variedade de abordagens que podem ser utilizadas em um sítio arqueológico, em conjunto com a grande quantidade de coleções disponíveis para estudo, em conjunto com a grande quantidade de coleções disponíveis para estudo, existentes em museus e universidades espalhados pelo país, demonstram a necessidade de formação de mais profissionais nesta área. Nos cursos de História e Antropologia, a Pré-História e a arqueologia ainda são pouco estudadas. Nas escolas, a grade curricular aborda poucas questões referentes à Pré-História brasileira, o que demonstra também a necessidade da valorização da disciplina.
1.3 Teoria e filosofia da história 
	Você sabia que a história e a arqueologia são ciências complementares e não excludentes? Elas se complementam por estarem inseridas no campo das ciências humanas e por possuírem o foco na compreensão do passado do ser humano. Por outro lado, elas se distanciam no que diz respeito às fontes e abordagens utilizadas. Observe: enquanto a cultura material é o objeto de estudo da arqueologia, os documentos não-escritos produzidos no passado são o objeto de estudo da história.
	Como sabemos, a história é a disciplina que está mais preocupada em compreender o passado da humanidade. Neste tópico abordaremos seu conceito, sua relevância no âmbito das ciências humanas, e a importância das fontes documentais para a interpretação do passado. Quais são as principais fontes históricas e qual é a importância da análise rigorosa destas fontes? E, qual é a relação da história com o presente? Estas e outras questões serão abordadas agora. Nosso objetivo é apresentar as principais problemáticas desta disciplina, bem como as possibilidades de uso das fontes documentais. Trata-se de um tópico relevante para avaliarmos, posteriormente, as inúmeras possibilidades de utilização das fontes históricas das fontes históricas no estudo do mundo antigo.
	Marc Bloch (2002, p. 55) define a história como a “ciência dos homens no tempo”. Para ele, essa disciplina não deve se prender somente ao passado e, ao mesmo tempo, não deve estudar fenômenos isolados. Podemos acrescentar ainda que a História estuda o passado a partir do presente, utilizando perspectivas e problemáticas atuais. Para o autor, a história que capturar os homens e o bom historiador deve ser como um “ogro, que fareja carne humana e sabe que ali está a sua caça” (Bloch, 2002, p. 54).
A obra de Bloch (2002) enfatiza o papel da teoria, o rigor científico e a necessidade da crítica documental. De acordo com o autor, a ciência histórica é responsável por articular presente e passado, e também por compreender a experiência humana ao longo do tempo. Bloch acredita que o historiador deve possuir senso crítico, ter critérios adequados ao utilizar as fontes primárias (referentes aos documentos produzidos em seu próprio contexto cultural) e secundárias (baseadas na produção de documentos em períodos posteriormente ao contexto no qual ocorreu) e deve evitar a avaliação ou mesmo o julgamento do que ocorreu passado.
Você o conhece?
Marc Bloch (1886 – 1944) foi um importante historiador francês e um dos fundadores da Escola dos Annales, um movimento histórico que começou em 1929. É considerado um dos maiores historiadores do século XX por seus estudos sobre o feudalismo e por dar importância à relação entre as pessoas e os acontecimentos do passado, em vez de se prender à descrição de nomes de pessoas e datas. Por ser judeu, Bloch se tornou militante da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e acabou sendo detido, torturado e fuzilado pelos nazistas.
Na arqueologia, assim como o colecionismo foi substituído pelo foco nas pessoas, e não nas coisas; na história, o colecionador de fatos deve ser substituído pelo historiador que problematiza as fontes. O acúmulo de fatos não acrescenta nada à pesquisa histórica. Sendo assim, para a história ser considerada uma ciência, ela deve ser teórica, elaborando problemas e sugerindo hipóteses, e deve se apoiar nas fontes primárias de todos os tipos, que devem ser selecionadas rigorosamente. Note que, desta forma, o historiador não será um pesquisador sem ponto de vista, sem apoio teórico, utilizando fontes somente para ser fiel aos fatos.
Bloch (2002) afirmava que a história só poderia ser uma ciência social se explicasse o passado e não se limitasse a descreve-lo. A explicação só seria possível por meio de estudos comparativos, utilizando como exemplo fenômenos universais, ocorridos em culturas separadas no tempo e no espaço ou por meio do estudo de sociedades contemporâneas. Bloch (2002) também destacou a importância do caráter interdisciplinar da história. Para o autor, como ocorre na arqueologia, a história deve basear sua abordagem em métodos e conceitos oriundos de outras ciências, como a geografia, a filosofia, a biologia, a química, entre outras, fornecendo o maior rigor possível na interpretação das fontes documentais.
As teorias utilizadas no estudo da História possibilitam a formulação de problemas e hipóteses de pesquisa, sendo que cada uma delas possui uma maneira distinta de estudar e compreender o passado. Todo historiador de alguma forma segue alguma proposta teórica, o que é percebido a partir dos autores que esse historiador utilizou e da maneira como conduz a sua pesquisa.
Você quer ler?
A obra “Teoria da História”, de autoria de José D’Assunção Barros (2014), é composta por cinco volumes e aborda diferentes temas importantes para futuros historiadores. O primeiro livro é denominado “Conceitos fundamentais da Teoria da História” e permite que o leitor se aprofunde ainda mais nos temas abordados neste capítulo. Vale a leitura por ser uma obra extensa e que apresenta com detalhes as principais discussões sobre a teoria da História.
Por fim, concluindo esse tópico, podemos dizer que ao estudar história ampliamos o conhecimento que temos sobre o presente, e isso nos permite interpretar o que acontece hoje, seja no cenário político, econômico, social ou cultural, a partir de motivos que são históricos e não aleatórios. É importante destacar ainda que tudo o que acontece ao nosso redor é resultado de eventos históricos, tornando o historiador o principal responsável por exemplificar o mundo contemporâneo.
Assim, podemos dizer que as possibilidades de pesquisa histórica são infinitas, e cada historiador pode formular problemas de pesquisa, buscando respostas aos seus questionamentos, por meio de diversas fontes. Assim, se outros historiadores, com problemas de pesquisa distintos, utilizassem a mesma fonte, obteriam diferentes respostas. Somamos a isso ainda o fatode que existem infindáveis fontes que podem ser escolhidas como objeto de análise.
No século XIX as pesquisas históricas utilizavam como fontes, principalmente, os documentos oficiais de instituições e governos. Já no século XX os historiadores começaram a defender a ideia de que todos os elementos que fazem parte da história humana são objetos de análise. Sendo assim, evidências como pinturas, fotografias, mapas, cartas, diários, literaturas, canções etc. passaram a ser consideradas fontes legítimas de pesquisa.
Em relação à arqueologia histórica, que também pesquisa acontecimentos ocorridos em períodos onde já existia a escrita, encontramos uma diversidade de artefatos que podem ser utilizados como fontes documentais, incluindo vidros, metais, louças e outros materiais industrializados, além da pesquisa em construções, como igrejas, engenhos, senzalas, casarões antigos etc. Todas essas fontes são consideradas fontes de pesquisa histórica.
Atualmente, além das instituições responsáveis pela guarda de documentos antigos, como museus, bibliotecas, arquivos históricos, entre outras, surgiram órgãos públicos e privados e institutos de pesquisa que fornecem documentos históricos digitalizados, e que podem ser acessados facilmente por meio de um computador. Além disso, em função do aumento do número de fontes que podem ser utilizadas na pesquisa histórica, o historiador pode encontrar registros tanto em um arquivo histórico, quanto nas lembranças de um indivíduo, no caso da história oral.
Você quer ver?
Band of Brothers (EUA, 2001) é uma série de televisão que mostra a história de uma companhia militar norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos vários aspectos de grande relevância da série é o início de cada episódio, em que ex-combatentes narram vários acontecimentos ocorridos durante a guerra, uma metodologia que acontece de forma semelhante em estudos de história oral.
É importante lembrarmos que as fontes históricas analisadas não são documentos neutros, mas resultado de escolhas realizadas pelos responsáveis pelo seu armazenamento, isto é, são um ponto da sociedade que o produziu e o armazenou. Consequentemente, o historiador deverá utilizar critérios rigorosos para a análise dessas fontes, levando em conta, inclusive, a veracidade das mesmas. No caso da história oral, por exemplo, torna-se necessário a comparação das entrevistas realizadas pelo historiador com a análise de outros documentos referentes ao mesmo período.
1.4 O estudo da antiguidade
	Neste tópico utilizaremos as informações apresentadas no tópico anterior para estudar com mais de profundidade a relação entre as fontes históricas e o estudo do mundo antigo. Também demonstraremos como a história antiga ganhou mais importância ao longo do tempo. Você saberia dizer quando os historiadores passaram a dar mais importância para o estudo da antiguidade clássica e oriental? Será que desde o início da Idade Média já havia uma preocupação em preservar e estudar os monumentos da antiguidade? Vale a pena prosseguir.
1.4.1 O uso das fontes no estudo da história antiga
	A arqueologia possui uma importante relação com a história, pois ambas podem ser consideradas ciências complementares, e juntas contribuem ainda mais para o entendimento do contexto cultural das civilizações antigas. Pedro Funari (2003) utiliza como exemplo o estudo arqueológico da cerâmica grega, que pode ser melhor compreendido caso o arqueólogo pesquise também as fontes escritas. Portanto, podemos dizer que os dados arqueológicos não devem ser considerados auxiliares em relação aos documentos escritos, pois podem tanto confirmar quanto refutar o que já se conhecia, e vice-versa.
	Apesar disso, o mundo antigo tem sido estudado, principalmente, a partir das fontes escritas, pois esta invenção criou a possibilidade de entendermos acontecimentos históricos pela perspectiva de quem vivenciou o período investigado. Trata-se de documentos produzidos no passado, e que servem como forma de registro do que ocorreu na sociedade da época e, dessa forma, essas fontes podem ser consideradas como uma das principais evidências históricas existentes.
	Os textos escritos sobre o mundo antigo começaram a ser mais explorados a partir do século XII (GUARINELLO, 2003, p. 18). A partir deste período difundiu-se a ideia de que existiu um mundo antigo, anterior ao período cristão, e que muito se diferenciava do mundo contemporâneo. Portanto, vários documentos produzidos na antiguidade, principalmente associados às civilizações greco-romanas, passaram a ser novamente editados e lidos pelos intelectuais da época.
	As construções remanescentes do período antigo, e que até então não eram motivo de pesquisas sistemáticas, passaram a serem consideradas importantes evidencias históricas. Portanto, intensificaram-se as elaborações de descrições e desenhos da arquitetura do mundo antigo, os resgates de estátuas e pinturas, e o início do colecionismo de objetos da antiguidade. O objetivo desse resgate cultural era a rejeição de uma história mais recente e a construção de uma nova identidade, voltada para o presente e o futuro.
Você sabia?
	O Coliseu, em Roma, também é conhecido pelo nome de Anfiteatro Flaviano. Após a queda do império ocidental, o Coliseu foi utilizado como cemitério e até como fortificação, além de ter sido, parcialmente, destruído por terrenos e também cenário de diversos saques durante a Idade Média.
	Entretanto, não havia ainda uma preocupação científica com as evidências, considerando que muitos textos escritos sobre o mundo antigo, durante a Idade Média, por exemplo, misturavam evidências do mundo antigo com histórias bíblicas. A preocupação científica surgiu a partir dos séculos XVII e XVIII, e na segunda metade do século XIX houve uma nova retomada dos estudos sobre história antiga, associada ao surgimento de disciplinas como a antropologia, a sociedade e a arqueologia.
Caso
Um arqueólogo realizava a escavação de um sítio arqueológico pré-histórico como parte de sua pesquisa de mestrado no interior do estado de Santa Catarina. Ao finalizar os trabalhos, após obter o carvão de uma estrutura de fogueira para ser enviado ao laboratório, o arqueólogo estava ansioso para descobrir em qual período esse sítio foi habituado. Sua pesquisa era muito relevante, pois esta escavação iria levantar diversas hipóteses sobre a chegada dos antepassados dos grupos indígenas atuais no Sul do Brasil.
Após receber o resultado da análise do carbono 14, o arqueólogo notou que o sítio foi habitado há aproximadamente 300 anos atrás, e se refere a um momento histórico em que os europeus já estavam no Brasil. Mesmo assim, sabendo que a arqueologia pré-histórica trabalha com um período que antecede à escrita e, no caso do Brasil, se refere também ao período anterior à chegada dos europeus no continente americano, podemos considerar esse sítio como pré-histórico. Atualmente, não existem evidências de elementos materiais não-indígenas nos sítios arqueológicos ocupados pelas populações pré-históricas.
O sítio pesquisado por esse arqueólogo não possui evidências de contato com outras populações e, provavelmente, foi ocupado em um momento em que não havia europeus ou descendentes vivendo nessa região. Como a datação é bastante recente, considerando que o Sul do Brasil possui sítios de até 10.000 anos atrás, possivelmente essa datação se refere aos últimos assentamentos indígenas existentes no interior de Santa Catarina antes do contato.
	A arqueologia clássica, que estuda as civilizações grega e romana no período antigo, surgiu já no início do século XIX. Logo em seguida surgiram também as arqueológicas egípcia, bíblica e mesopotâmica, que eram voltadas para a compreensão das primeiras civilizações do mundo antigo. Estes estudos da antiguidade oriental, a partir da arqueologia, fazem parte do que conhecemos como arqueologia histórica. Já entre o final do século XX, os estudos sobre a antiguidade se intensificaram ainda mais, por meio das descobertas arqueológicas ocorridas no Egito e no antigo territóriomesopotâmico.
Síntese
	Concluímos a primeira parte do estudo sobre as fontes documentais, históricas e arqueológicas. Esses conhecimentos são fundamentais para que possamos pensar na melhor abordagem a ser utilizada no estudo dos mais diversos períodos do passado, a partir de uma grande variedade de fontes históricas, seja para compreender a antiguidade do ser humano ou até para compreender o passado mais recente.
	Neste capítulo, você teve oportunidade de:
· Compreender os conceitos de arqueologia e história;
· Compreender a importância das pesquisas arqueológicas e históricas no âmbito da pré-história e da história antiga, respectivamente;
· Verificar as principais fontes históricas utilizadas na pesquisa arqueológica e nos estudos da documentação escrita.
Capítulo 2 –Como os Hominídeos Conquistaram o Planeta?
Introdução 
	Nesse capítulo, conheceremos diversas características dos primeiros hominídeos eu povoaram nosso planeta. Quais foram essas espécies? Como as populações humanas mudaram o modo de vida nômade e se tornaram sedentárias? Quais eram as características principais das primeiras cidades que surgiram no Oriente Antigo?
	Esses questionamentos são importantes, pois se referem aos primeiros momentos da história humana, que compreendem um gigantesco período de mais de 7 milhões de anos, muito mais difíceis de se compreender – em função das fontes documentais disponíveis – do que o período posterior à invenção da escrita. Sendo assim, apresentaremos aqui alguns tópicos que auxiliarão na compreensão de alguns desses processos.
	Abordaremos no primeiro tópico deste capítulo os debates e as evidências dos primeiros hominídeos que ocuparam o planeta e que são os antepassados dos seres humanos modernos. Trataremos no segundo tópico algumas problemáticas sobre a dispersão dos primeiros hominídeos para fora do continente africano e algumas interpretações sobre a chegada dessas populações em vários cantos do planeta. Descreveremos, no terceiro tópico, alguns processos que ocorreram durante os últimos 10 mil anos, os quais ocasionaram grandes mudanças no modo de vida do ser humano. Por fim, no quarto tópico, relataremos alguns dos principais processos históricos ocorridos na Mesopotâmia (do grego meso = no meio de; potânia = rio), portanto, “[terra] entre rios” (MICHAELIS, 2018) durante a História Antiga.
2.1 Principais debates sobre os primeiros hominídeos
	Neste tópico, abordaremos algumas das principais discussões sobre os primeiros hominídeos eu surgiram ao longo da Pré-História. As espécies citadas aqui possuem características que se inserem no quadro geral da evolução de nossa espécie e que demonstram o processo histórico que transformou esses hominídeos com pouca capacidade cerebral e pequena estatura em espécies mais evoluídas, que ocuparam diversas partes do globo. Apresentaremos as principais espécies que fazem parte desse longo período de tempo e desconsideraremos outras que ainda são motivos de debate entre os especialistas e não se confirmaram ainda como as que fazem parte da linhagem originária do ser humano moderno.
	O livro mais famoso de Charles Darwin, “A Origem das Espécies”, publicado inicialmente em 1859, causou um grande impacto na comunidade científica e religiosa no século XIX ao afirmar que as espécies pertencentes a um mesmo gênero são sucessoras de outras já extintas. Dessa maneira, o ser humano começou a ser visto como uma espécie que não era o resultado de uma construção divina, mas sim de um processo evolutivo. Esse foi o momento histórico muito importante durante esse período, pois despertou o interesse no estudo de vestígios mais antigos relacionados às origens do ser humano.
	A ideia apresentada por Darwin (1859) só começou a ser aceita à medida que os fósseis de hominídeos mais antigos começaram a ser encontrados em vários lugares da África e da Europa. Entre as primeiras descobertas, podemos citar como exemplo a calota craniana de um Neandertal, descoberta em 1856, no vale do rio Neander. Em relação à origem da nossa espécie e ao restante dos hominídeos já conhecidos, a hipótese mais aceita pela comunidade científica – baseada em evidências sólidas – é que surgiram na África.
Você sabia?
No estudo “Complete Khoisan and Bantu genomes from Southern Africa” (SCHUSTER; MILLER; HAYER, 2010), publicado na revista Nature, foi comparado o DNA dos povos caçadores-coletores sul-africanos do deserto de Kalahari e dos povos Bantu, reforçando a teoria de que os seres humanos modernos têm sua origem na África. Os resultados indicaram a existência de uma maior diversidade genética entre esses grupos culturais, confirmando que são a população mais antiga, enquanto europeus e asiáticos seriam descendentes de uma população que saiu da África há dezenas de milhares de anos.
	Atualmente, sabemos que essa antiguidade compreende um período de mais de 7 milhões de anos, muito mais recuado do que se imaginava. Como principais descobertas (FUNARI; NOELLI, 2002), podemos citar a identificação de inúmeros fósseis, entre eles: Sahelanthropus tchadensis (7 milhões de anos), Orrorin tugenensis (6 milhões de anos), Ardipithecus ramidus kadabba (5 milhões e meio de anos), Ardipithecus ramidus ramidus (4 milhões e meio de anos), Australopithecus anamensis (3 milhões e meio de anos), Australopithecus africanus (3 milhões de anos), Paranthropus aethiopicus (2 milhões e meio de anos), Paranthropus boisei (2 milhões de anos) e o Paranthropus robustus (1 milhão e 800 mil anos). No fim desse período, há o surgimento das espécies do gênero Homo, como o Homo rudolfensis (2 milhões de anos), Homo habilis (1 milhão e 800 mil anos), Homo erectus (1 milhão e 800 mil anos), Homo heidelbergensis (500 mil anos), Homo sapiens (300 mil anos) e o Homo neanderthalensis (150 mil anos).
	Veja, na figura a seguir, essa evolução:
	O período que se estende de 2 milhões até 10 mil anos atrás é considerado o mais importante da evolução humana, pois foi quando houve muitas mudanças biológicas, as quais transformaram os primeiros hominídeos na espécie que somos hoje. Vale lembrar que o Homo sapiens não é uma espécie descendente dos macacos, mas que estes e os seres humanos possuem uma ancestralidade em comum. Ainda não sabemos qual seria esse ancestral, pois os restos encontrados até hoje são poucos e não permitem uma associação precisa. Nesse sentido, ao longo desse tópico, citaremos algumas descobertas importantes na história da evolução da nossa espécie.
Você o conhece?
Louis Leakey e sua esposa Mary Leakey trabalharam na África e foram responsáveis por algumas das principais descobertas de hominídeos em tal continente. O casal contribuiu, principalmente, para comprovar que a espécie humana surgiu na África, e não na Ásia, como se acreditava até então. Louis Leakey foi também o pesquisador responsável pela descoberta dos primeiros fósseis de Homo habilis, enquanto Mary Leakey desenterrou fósseis de Paranhropus boisei e argumentou que os primeiros hominídeos eram bípedes há milhões de anos. (PASSOS, 1975).
	Um dos grupos mais antigos de hominídeos que já existiram é o Australopithecus (PASSOS, 1975). Eles eram bípedes, possuíam feições de símios, dentes molares desenvolvidos e habitavam principalmente ambientes abertos. A mais conhecida das descobertas foi denominada como Lucy, um fóssil de Australopithecus afarensis encontrado na Etiópia. Entretanto, a maioria dos fósseis encontrados até hoje pertence à espécie Australopithecus africanus. Evidências indicam que eles possuíam prognatismo acentuado, mediam aproximadamente 1, 50 metro de altura e, apesar de comerem vegetais, eram predominantemente carnívoros. Além disso, sua locomoção bípede e a postura ereta possibilitavam a fabricação de instrumentos de pedra e osso, encontrados com seus fósseis.
	No grupo dos Paranthropus, podemos citar como uma das espécies mais conhecidas os hominídeos Paranthropus robustus, também conhecido como Australopithecus robustus (PASSOS, 1975). Algumas das suas características principais eram a face larga e maciça, onariz chato, o prognatismo pouco acentuado e o maxilar inferior forte. Sua arcada dentária indicava uma alimentação composta principalmente por vegetais e uma pequena porcentagem de consumo de carne. Eles mediam aproximadamente 1,50 metro de altura, possuíam uma musculatura bem desenvolvida e um andar mais vagaroso e, ao que tudo indica, não eram grandes caçadores.
	Em relação ao gênero Homo, podemos citar o Homo habilis. Esses hominídeos foram descobertos na década de 1970 (PASSOS, 1975), na Garganta de Olduvai, na Tanzânia. Sua denominação deriva dos artefatos de pedra lascada, encontrados em grande quantidade junto aos fósseis, sendo um dos registros mais antigos de produção de ferramentas. Eles possuíam uma dieta diversificada, composta por carnes, frutos e vegetais. Alguns pesquisadores acreditam que seriam uma variação do Australopithecus, por possuírem características morfológicas similares e, por isso, não seriam avançados ao ponto de serem incluídos no gênero Homo.
	Os Homo erectus situam-se entre o Australopithecus e o Homo sapiens. Alguns pesquisadores, como Passos (1975), acreditam que esses hominídeos seriam uma espécie que se desenvolveu a partir do Australopithecus, enquanto outros estudiosos acreditam que foi a partir do Homo habilis. Eles surgiram na África e também ocuparam a Europa e a Ásia, tendo sobrevivido neste último continente mais do que em qualquer outro lugar. Possuíam aproximadamente 1,60 metro de altura, apresentavam uma redução dos molares e caninos menores, e sua estrutura facial se assemelhava muito mais ao Homo sapiens. A estrutura óssea permitia mais equilíbrio em pé e caminhadas mais longas. Eles produziam instrumentos em pedra e caçavam grandes animais.
	A calota craniana do primeiro Homo erectus encontrado possuía uma capacidade entre 775 e 900 cm³, demonstrando uma evolução considerável quando comparada com fósseis de espécies mais antigas, embora outros dessa espécie apresentassem capacidade craniana variando entre 900 e 1.200 cm³ (MARCONI; PRESOTTO, 2001). O Homo erectus pekinensis (Homem de Pequim) foi uma das mais importantes descobertas na Ásia. Diversos fósseis dessa espécie foram encontrados na caverna de Zhoukodian, indicando que estiveram nessa região há aproximadamente 700 mil anos e representaram algumas dezenas de indivíduos, bem como muitos mamíferos de grande porte, além de claras evidências do uso do fogo e da fabricação de instrumentos de pedra, com uma perícia técnica mais apurada do que os instrumentos produzidos anteriormente.
	Os Homo sapiens neanderthalensis surgiram há aproximadamente 150 mil anos, tendo seu apogeu estimado entre 70 e 40 mil anos atrás (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Foram encontrados em vários lugares da Europa, Ásia e África. Eram hominídeos pequenos, com aproximadamente 1,50 metro de altura, com cérebro mais volumoso do que o homem moderno (1.500 cm³, aproximadamente). Sua estrutura facial era maciça, com o rosto proeminente, nariz largo e comprido, e com o maxilar inferior largo e afundado. Eles tinham uma grande capacidade muscular, e o esqueleto era mais volumoso do que o ser humano moderno, com ossos mais espessos e pesados. As mãos e os pés eram largos, e os dedos eram robustos. Viveram principalmente em cavernas ou abrigos rochosos, usaram o fogo, praticaram a caça e a coleta e aperfeiçoaram bastante as técnicas de produção de instrumentos em pedra lascada, osso e madeira. Foi a primeira espécie a utilizar ossos para produzir instrumentos musicais, utilizavam peles de animais como vestimenta e enterravam seus mortos.
	O problema do desaparecimento do Homem de Neandertal é ainda hoje um fenômeno sem explicação. Um dos últimos refúgios foi localizado no sul da Espanha, e as datações indicam que habitaram essa região aproximadamente há 30 mil anos. Alguns pesquisadores argumentam que esse hominídeo não teria convivido com o Homo sapiens, enquanto outra teoria propõe que houve processos de miscigenação. Recentes descobertas na Croácia apontam para uma possível miscigenação entre os dois grupos, assim como o Menino do Lapedo, encontrado em Portugal (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Essa descoberta se refere a uma criança de quatro ou cinco anos, morta há mais de 25 mil anos, que possuía traços de Neandertais e humanos modernos.
	Em relação ao Homo sapiens primitivo, citamos alguns achados, como o Homem de Kibish (na Etiópia), o Homem de Vertesszöllös (na Hungria) e o Homem de Swanscombe (na Inglaterra). A datação mais antiga se refere aos fósseis do sítio Jebel Irhoud, no Marrocos, com uma datação de aproximadamente 300 mil anos atrás, e dos fósseis Omo I e Omo II, que habitaram o atual território da atual Etiópia há 195 mil anos. Esses hominídeos se diferenciavam, pois apresentavam características de seres humanos modernos, porém com alguns traços de hominídeos mais antigos. As descobertas associadas a essa subespécie indicam que possuíam cérebros grandes: a análise dos crânios de Swanscombe indicava um volume de aproximadamente 1.300 cm³ (MARCONI; PRESOTTO, 2001), enquanto os homens de Kibish possuíam uma capacidade craniana de 1.400 cm³ (DAY, 1969), fabricavam instrumentos de pedra, manipulavam o fogo e, em vários casos, foram encontrados em associação com animais de grande porte, indicando atividades de caça especializada.
Você quer ver?
O filme A guerra do fogo (BRACH, 1981) aborda um período pré-histórico anterior ao uso da linguagem tal qual a conhecemos. Ao longo da película, são mostradas interações entre distintos hominídeos e a relação existente entre eles. Trata-se de um exemplo interessante para quem quer conhecer um pouco mais da história dos antepassados humanos.
	O último grupo de seres humanos conhecidos atrás do estudo de fósseis é denominado de Cro-Magnon. Acredita-se que estão entre os fósseis de Homo sapiens mais antigos encontrados na Europa e apresentavam características de seres humanos modernos (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Viveram entre 35 e 10mil anos atrás, habitaram a Europa, Ásia e África, chegando mais tarde à América e Austrália. Apresentavam caixa craniana de 1.200 a 1.600 cm³, e a altura que alcançava até 1,86 metro. O rosto era reto, com nariz desenvolvido e mais fino, e a testa larga. Possuía forte mandíbula, estrutura robusta e esqueleto bem construído. A tecnologia material foi a mais avançada entre todas as espécies de hominídeos, e a capacidade criativa deu origem às extraordinárias pinturas e gravuras rupestres encontradas em diversos lugares do planeta. Eram hábeis caçadores e coletores e, com o passar do tempo, desenvolveram outras técnicas baseadas em atividades de forrageio e horticultura. 
2.2 Hipóteses sobre a saída dos primeiros hominídeos da África e sua dispersão pelo mundo
	Os hominídeos que fizeram parte do gênero Homo, como o Homo habilis, Homo erectus e o Homo sapiens, ocuparam outras partes do planeta, diferentemente de espécies como os Australopithecus e Paranthropus, que habitaram somente o território africano (SANTOS, 2014). Neste tópico, abordaremos alguns dos processos associados à migração dessas espécies para fora da África, em direção à Ásia e Europa. Posteriormente, apresentaremos algumas discussões sobre a chegada do Homo sapiens sapiens à Austrália e ao continente americano.
	A discussão sobre esses fenômenos é um elemento importante no desenvolvimento deste tópico, pois aqui explicamos o processo de dispersão que levaram os hominídeos a diferentes ambientes onde, com o passar do tempo, foram modificados pela ação humana e transformados nas primeiras cidades conhecidas do mundo antigo.
	Para dividir os períodos da Pré-História humana, os instrumentos de pedra lascada produzidos pelos primeiros hominídeos e encontrados em sítios arqueológicos foram classificados no início do século XX pelos europeus conforme diferentes morfologias, técnicas de produção e períodos em que foram produzidos. Dessa forma, a cronologia da Pré-História foi dividida entre o período Paleolítico (idade da pedra lascada) e o Neolítico (idade da pedra polida) (FUNARI; NOELLI, 2002). Não háum consenso e uma definição precisa sobre a cronologia desses momentos, porém, de uma maneira geral, costuma-se chamar de Paleolítico Inferior o período que vai de 2 milhões e meio de anos até 300 mil anos atrás, seguido do Paleolítico Superior, que se estende até 10 mil anos atrás. Já o Neolítico se situa entre 10 mil e 4 mil anos atrás, aproximadamente, e se refere ao surgimento das primeiras civilizações.
	A cultura material associada ao período Paleolítico se baseia, principalmente, na produção de instrumentos de pedra lascada, o material arqueológico mais comum de se encontrar nos sítios arqueológicos pré-históricos. O conjunto de diversos artefatos encontrados em um sítio é chamado de indústria lítica. Esses artefatos foram fabricados por diferentes hominídeos, como o Australopithecus africanus, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e Homo sapiens sapiens (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
	A indústria lítica é definida pela utilização de diferentes técnicas de fabricação de instrumentos com distintas morfologias, incluindo machados, raspadores, pontas de flecha e de lança, lascas e lâminas de corte, entre outros, que poderiam ter sido fabricados também em osso e em madeira (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Como exemplos, citamos a cultura Musteriense, que se refere à produção de distintos instrumentos de pedra, como pontas, facas e raspadores, que foram fabricados pelo Homo sapiens neanderthalensis, e a cultura Solutrense, caracterizada principalmente pela perícia técnica aplicada às pontas de projétil com morfologia foliácea, produzida pelo Homo sapiens. Outras culturas presentes em distintos períodos do Paleolítico são a Olduvaiense, Acheulense e Magdaleniense. 
	Com base na leitura deste e-book, podemos afirmar que todas as espécies de Australopithecus, o gênero Paranthropus e o Homo habilis foram encontrados na África, assim como algumas das indústrias líticas do Paleolítico Inferior, como a cultura Olduvaiense (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Por outro lado, hominídeos como o Homo sapiens neanderthalensis, Homo erectus e o Homo heidelbergensis desenvolveram artefatos característicos ao habitarem os continentes europeus e asiático, e muitas dessas culturas podem ter sido precursoras de outras encontradas em outros continentes. A indústria lítica Acheulense, por exemplo, tem seus conjuntos mais antigos encontrados na África, porém foi definida a partir de um sítio arqueológico encontrado na França (Saint-Acheul) e é comum ser encontrada no continente europeu.
Essas culturas arqueológicas nos trazem evidências da produção dos mesmos instrumentos em diferentes regiões do planeta e demonstram alguns das primeiras evidências de migração ocorridas no passado. As indústrias líticas e os fósseis humanos são as principais evidências que comprovam esses fenômenos e estão relacionadas à dispersão de diversos hominídeos pelo mundo, como o Homo erectus, na Ásia. Existem evidências científicas desse hominídeo encontradas no Cáucaso e em Israel, datadas em aproximadamente 1, 6 milhão de anos atrás, e os fósseis e materiais líticos de Homo erectus que habitaram a China há aproximadamente 2 milhões de anos (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
Em relação aos dados existentes sobre a dispersão do Homo sapiens sapiens para fora da África, sabemos que esse processo migratório deve ter ocorrido há aproximadamente 60 mil anos. Contudo, há novas evidências que sugerem a ocorrência de outro processo migratório, que ocorreu por volta de 125 mil anos, com base nas pesquisas científicas que aconteceram no sítio arqueológico Jebel Faya, nos Emirados Árabes Unidos (ARMITAGE et al,. 2011). Esses dados são significativos, pois recuam ainda mais o período de entrada do Homo sapiens sapiens em outros continentes e sugerem que o contato com outro hominídeos ocorreu muito antes do que se imaginava.
As principais hipóteses sobre a chegada do Homo sapiens à Austrália indicam que esse processo migratório ocorreu entre 50 mil e 60 mil anos atrás. Contudo, novas pesquisas publicadas na conceituada revista científica Nature indicam que homens modernos já habitavam o continente australiano há 65 mil anos (CLARKSON, 2017). Essas evidências reforçam ainda mais a ideia de que os processos migratórios para fora do continente africano poderiam ter ocorrido em períodos mais antigos do que afirmam as pesquisas, desmistificando a ideia de que somente em períodos mais recentes o Homo sapiens poderia ter realizado grandes travessias, tanto marítimas quanto terrestres.
Em relação à presença de outros hominídeos na América, novos dados sempre têm trazido novas problemáticas e hipóteses: há publicações que afirmam, por exemplo, que têm trazido novas problemáticas e hipóteses: há publicações que afirmar, por exemplo, que o Homo erectus ocupou a América ou que o Brasil teria sítios arqueológicos de mais de 70 mil anos atrás. Contudo, até o momento, não há dados coerentes e ninguém da comunidade científica internacional considera a validade dessas teorias. Sendo assim, os dados presentes até o momento comprovam que o Homo sapiens sapiens foi o primeiro e único hominídeo a ocupar a América (FUNARI; NOELLI, 2002).
A principal hipótese sobre a chegada do Homo sapiens à América, defendida pela grande maioria dos pesquisadores que estuda a Pré-História americana, diz respeito à entrada das primeiras populações pelo Estreito de Behring, uma região localizada entre a Ásia e América do Norte. Essas populações teriam chegado ao continente em um dos três últimos períodos de glaciação, que ocorreram em três momentos distintos: em 40 mil, 25 mil e 14 mil anos atrás, aproximadamente. A cultura arqueológica mais conhecida e que por muito tempo foi considerada a primeira na América é a Cultura Clovis, caracterizada pelas pontas de projétil produzidas em pedras lascada. Esse modelo seria, então, a principal hipótese que explicaria o povoamento inicial do continente.
Além dessa hipótese, outros dados sugerem que esse processo ocorreu muito antes do que prevê o modelo da Cultura Clovis e, inclusive, pode ter sido iniciado a partir de outras rotas migratórias. Desde a década de 1970, por exemplo, a arqueóloga Niède Guidon foi a responsável pelas pesquisas arqueológicas realizadas no sítio Boqueirão da Pedra Furada, no Piauí (GUIDON, 1991). Essa pesquisadora argumentou sobre a possibilidade dos primeiros seres humanos terem chegado à região há 50 mil anos e utilizado outras rotas. Entretanto, a maioria dos pesquisadores não aceita um período tão antigo, argumentando que as fogueiras antigas e as pedras lascadas identificadas nessas pesquisas seriam naturais ou até produzidas por macacos-prego.
Somente a partir dos anos 2000 é que alguns estudos foram retomados, e pesquisadores têm obtido evidências incontestáveis sobre a chegada das primeiras populações à América do Sul, que ocorreu em períodos bem mais recuados do que se imaginava – como é o caso, por exemplo, das datações de mais de 20 mil anos no Vale da Pedra Furada, no Piauí (BOEDA et al, 2014), e em Santa Elina, no Mato Grosso (VIALOU;VIALOU, 2009). Esses dados possuem mais validade e cada vez mais têm sido aceitos pela comunidade científica. Na América do Norte, também foram encontrados sítios arqueológicos – como o sítio Bluefish Caves, em Yukon, no Canadá – com datas que alcançaram até 24 mil anos.
Outra problemática sobre a arqueologia brasileira é a descoberta de Luzia, um fóssil de Homo sapiens de 10 mil anos atrás encontrado em Minas Gerais. Uma as características mais interessantes dessa descoberta é o fato de que seu crânio se distingue da morfologia craniana das populações indígenas que ocuparam o continente. Essas diferenças foram exploradas pelo arqueólogo Walter Neves, responsável pela criação do modelo de dois componentes biológicos principais (NEVES; BERNARDO; OKUMURA, 2007), baseado na análise da variabilidade morfológica dos crânios de populações nativas extintas.
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Pré-História no Brasil, escrito por Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noelli, é um excelente texto didático que introduzo leitor às principais discussões sobre a Pré-História do continente americano e, principalmente, do atual brasileiro. Os dados utilizados são coerentes e as discussões apresentadas ainda são atuais.
Os grupos nativos americanos se dividiam em dois padrões: o primeiro foi o paleoamericano, com registros arqueológicos distintos e morfologia semelhante às encontradas em populações africanas e australianas; já a segunda morfologia, denominada como mongoloide, caracterizou os grupos que se tornaram dominantes entre as populações nativas da América (NEVES; BERNARDO; OKUMURA, 2007). O modelo sugere que teriam ocorrido dois eventos migratórios para o continente, sendo um associado às populações com traços morfológicos semelhantes à Luzia e outro com as populações com traços morfológicos semelhantes às populações indígenas atuais.
2.3. Do nomadismo ao sedentarismo
Neste tópico, apresentaremos algumas discussões sobre o processo que levou os seres humanos a transformarem o modo de vida que era centrado na caça, na coleta e na alta mobilidade, em um modo de vida sedentário, que passou para a formação de assentamentos permanentes e na realização de atividades agrícolas e pastoris em algumas regiões do Oriente Próximo. Nosso objetivo é introduzir mudanças que ocorreram na história humana durante os últimos 10 mil anos em ambientes como a Mesopotâmia.
Enquanto o período Paleolítico pareceram diferentes hominídeos nos continentes africanos, europeus e asiáticos e surgiram inúmeras culturas arqueológicas caracterizadas pelos instrumentos de pedra lascada (como vimos nos tópicos anteriores), no Neolítico houve uma grande transformação no modo de vida das populações humanas em um “curto” espaço de tempo, considerando que estamos falando de ilhares de anos. A história do Brasil, por exemplo, possui um pouco mais de 500 anos e, quando comparamos com a Pré-História, percebemos que nossa história é ainda bem recente.
Nos primeiros momentos da história humana, o Homo sapiens foi predominantemente caçador e coletor. Houve momentos em que os recursos necessários para a sobrevivência eram obtidos a partir da utilização de outras estratégias, como o aproveitamento dos restos de alimentos deixados por animais selvagens ou o canibalismo que, apesar de já ter sido praticado por questões simbólicas, pode ter sido em função da própria necessidade de se obter recursos necessários à sobrevivência. Contudo, na maior parte da Pré-História, as populações desenvolveram como principais fontes de subsistência as estratégias de caça e de coleta de alimentos (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
Até o surgimento do comércio, a alimentação que os primeiros hominídeos tinham à disposição se limitava à distribuição natural dos recursos. As populações eram pequenas e então caçavam e coletavam o que existia no ambiente em que viviam. A mobilidade desses grupos dependia, muitas vezes, de movimentos sazonais, orientados para a procura de áreas onde existiam os principais recursos de subsistência. Ao longo da Pré-História, encontramos exemplos de populações que consumiam recursos marinhos durante uma época do ano e, em outra, precisavam se deslocar para áreas onde caçavam pequenos animais; em outros casos, esses grupos habitavam regiões cuja distribuição de recursos não apresentava variações ao longo do ano (MARCONI: PRESOTTO, 2001). Dessa maneira, os seres humanos possuíam distintas características de mobilidade e territorialidade e puderam manter a caça e a coleta como um dos principais meios de subsistência.
Por outro lado, alguns sítios arqueológicos que foram ocupados entre o fim do Paleolítico Superior e o início do Neolítico apresentam algumas evidências da mudança de um modo de vida baseado na caça e na coleta para a realização de atividades que indicam os primeiros processos de sedentarização do Homo sapiens. Esse é o caso dos sítios arqueológicos da cultura Natufiana, encontrados na Palestina (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Esses povos podem ter sido os antepassados daqueles que formaram os primeiros núcleos urbanos e as primeiras civilizações durante a história da Mesopotâmia, e em seus sítios foram observados vestígios materiais que sugerem a realização de distintas atividades culturais, por exemplo: a produção de instrumentos líticos, sugerindo a realização de atividades ligadas à produção de alimentos, além de outras evidências arqueológicas que indicam a existência de práticas inéditas durante o período, com a domesticação demais animais e o cultivo de cereais.
O período Neolítico é caracterizado por diferentes mudanças no modo de vida nômade, entre elas o aparecimento das primeiras evidências da coleta de vegetais, a permanência de grupos humanos em regiões mais favoráveis à habitação, a produção de alimentos (que favoreceu a criação de recursos próprios), a invenção da cerâmica (que propiciou o armazenamento e a cocção de alimentos) e o polimento da pedra (que proporcionou a fabricação de instrumentos mais eficientes do que aqueles produzidos pelas técnicas de lascamento). Outros processos que podemos citar são: domesticação de animais e de plantas, surgimento do pastoreio e agricultura. Todos esses fenômenos contribuíram e fizeram parte do processo de sedentarização das populações humanas e da formação das cidades (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
O Neolítico ocorreu na região conhecida como Crescente Fértil (MARCONI; PRESOTTO, 2001), que corresponde atualmente aos territórios da Palestina, de Israel, da Jordânia, do Kuwait, do Líbano e do Chipre, assim como algumas partes da Síria, do Iraque, do Egito, da Turquia e do Irã. Esse imenso território possuía importantes redes hidrográficas, como os rios Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo. Ao longo dessa rede fluvial, estabeleceram-se populações de caçadores, coletores e, posteriormente, agricultores, dando início à formação dos primeiros centros urbanos. Algumas das atividades identificadas no registro arqueológico e associadas ao período são o cultivo do trigo, da cevada e do linho, a caça, a pesca, as atividades pastoris, a criação de ovelhas, cabras, porcos, bois etc.
O modo de vida sedentário influenciou o grande aumento populacional ocorrido em diversas áreas no Crescente Fértil e, desta maneira, as aldeias se tornaram cada vez mais comuns na região. Alguns dos sítios arqueológicos mais conhecidos desse período e que representam os primeiros momentos de formação de centros urbanos são: Jericó, Mallaha, Çatalhüyük, Hacilar, Khirokitia (ou Choirokoitia), Hassuna, entre outros (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
O sítio arqueológico de Khirokitia, descoberto em 1934 no Chipre, por exemplo, foi listado como um dos patrimônios culturais da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2018). Ele é bastante conhecido pelos arqueólogos, porque apresenta vestígios de um assentamento coletivo composto por fortificações e é caracterizado pela realização de atividades, como a criação de ovelhas, cabras e porcos.
A agricultura também foi um processo importante para o surgimento das cidades, pois proporcionava a produção de alimentos e, consequentemente, a permanência de muitas pessoas em uma mesma região. Todavia, ao contrário do que se imaginava, o processo de sedentarização não é resultado somente dessa prática, mas envolve outros fenômenos, como a arquitetura de monumentos, os primeiros registros de escrita e comunicação, o comércio ocorrido nas aldeias ou entre aldeias, as estruturas políticas, entre outros exemplos. Há inúmeros casos de cidades que se formaram sem a agricultura, como é o caso do sítio arqueológico Çatalhüyük, localizado na Turquia, cercado por uma extensa planície bem abastecida de água, tornando a pesca uma atividade atrativa para a população, além da exploração de plantas e animais. Havia, nesse centro urbano, a elaboração de atividades específicas – como a produção de implementos de pedra, tecelagem e produtos feitos em metal e cerâmica (GOUCHER; WALTON, 2016).
Diferentemente de Çatalhüyük, outros aglomerados urbanos eram especializados em atividadesdistintas, por exemplo: a vila de Mallaha, na Palestina, foi caracterizada pela preferência às atividades de caça, pesca e coleta, e não apresentava evidências de cultivo ou domesticação, com exceção de alguns dados que indicavam a domesticação de cães (VALLA et al, 2017). Outros exemplos demonstram que alguns centros urbanos obtiveram êxito e se consolidaram na região, enquanto outros se formaram por curtos períodos de tempo e acabaram sendo abandonados por diversos motivos políticos, econômicos, culturais etc.
A continuação das atividades de caça e coleta entre as populações humanas durante o período Neolítico, mesmo após o surgimento das cidades, foi uma escolha estratégica realizada pelos grupos humanos que ocuparam o Crescente Fértil. Esse modo de vida era menos vulnerável às mudanças climáticas extremas ou aos fenômenos de cheia que ocorriam na região, que poderiam tanto fornecer os recursos hídricos necessários para as plantações quanto causar alagamentos e destruir os assentamentos. Ao longo do tempo, essas populações encontraram soluções para esses problemas, e as atividades agrícolas e pastoris foram se intensificando cada vez mais.
2.4 Ocupação do oriente próximo
A história da Mesopotâmia se configura como um dos processos históricos mais importantes da Antiguidade. Como objetivo deste tópico, mostraremos alguns aspectos importantes sobre as civilizações que surgiram nessa região, nos sistemas fluviais dos rios Tigre e Eufrates, que demonstram algumas das mais importantes invenções que surgiram no período, como os monumentos, a escrita e os códigos de leis mais antigos que temos conhecimento até hoje.
O território compreendido como Mesopotâmia corresponde a uma vasta área onde se localizam os rios Tigre e Eufrates, e atualmente estão localizados países como o Iraque, o Kuwait e a Síria. Essa região é conhecida por muitos historiadores como o berço da civilização, pelo fato de que lá não somente surgiram as primeiras sociedades da humanidade, mas também ocorreram importantes fenômenos culturais: a invenção da escrita, o cultivo de cereais, a invenção da roda, a agricultura, entre outros (JOÃO, 2013). Durante o período Neolítico, vários povos se estabeleceram na região, dando início ao processo de sedentarização e de formação dos primeiros núcleos urbanos, por exemplo as cidades de Ur, Uruk e Akad (PINSKY, 2011).
Você quer ver?
O documentário Mesopotâmia: retorno ao Éden (Discovery Channel, 2012) mostra diversas imagens e fatos sobre a Babilônia, Assíria e Suméria. Se você busca obter mais informações sobre os povos antigos da Mesopotâmia, o documentário pode ser uma ótima opção.
Existem importantes acontecimentos que merecem destaque na história da Mesopotâmia, como as obras de irrigação, o desenvolvimento da escrita cuneiforme pelos sumérios, a formação do primeiro império unificado babilônico e a invenção do Código de Hamurabi (um dos conjuntos de leis escritas mais bem preservados da Antiguidade). Além disso, é nessa região que foram erguidos os zigurates, espécie de tempos antigos que foram construídos pelo seu povo (sumérios, assírios e babilônios). Essas construções tinham o formato de pirâmide e possuíam finalidades religiosas, com idolatração aos deuses e realização de cerimônias púbicas. O zigurates, de Ur, é um dos mais notáveis, construído há aproximadamente 4 mil anos (GOUCHER; WALTON, 2016).
Durante a Antiguidade, a Mesopotâmia foi marcada pelos regimes de cheias dos rios Tigre e Eufrates. Esse fenômeno impulsionou a criação de complexos sistemas hidráulicos, como diques, barragens, reservatórios e canais de irrigação, que conduziam a água na medida adequada para as plantações e o restante para outros lugares, impedindo a inundação e o aparecimento de predadores, favorecendo as atividades agrícolas (GOUCHER; WALTON, 2016). Além disso, esses sistemas hidráulicos que permitiam o armazenamento de água durante todo o ano.
Você quer ler?
O texto de Jaime Pinsky, 100 textos de história antiga, é uma aproximação do mundo antigo com a nossa atualidade. Nesse livro (2003), foram reunidos cem documentos antigos que foram traduzidos e organizados em diversos temas: escravismo, educação, mitos, entre outros.
Nos primeiros momentos da história da Mesopotâmia, não havia ainda uma unificação política na região. Dessa forma, os núcleos urbanos existentes eram caracterizados por manifestações de poder, que eram independentes entre si. Entretanto, a formação de alianças e o surgimento de conflitos entre diversas aldeias motivaram a expansão de algumas cidades-estado e o predomínio de alguns povos sobre outros (PINKSY, 2011). Esses processos históricos podem ter sido alguns dos fatores que influenciaram o surgimento das principais civilizações da época, das chefias religiosas e das guerras pelo controle do território.
A invenção da escrita, a construção das primeiras arquiteturas monumentais e outras inovações, como o sistema de irrigação e a invenção da roda, são atribuídas aos sumérios, uma das primeiras civilizações conhecidas da Mesopotâmia. A maioria das informações que conhecemos atualmente sobre a Mesopotâmia deriva dos registros escritos que foram produzidos na época. A complexidade das relações políticas, econômicas e culturais existentes no período exigiam informações que precisavam ser registradas, pois a comunicação era um grande problema entre as primeiras sociedades. Sendo assim, a escrita se originou a partir do registro de pictogramas gravados em pedaços de argila, que funcionavam praticamente como símbolos autoexplicativos, representando ideias, objetos e conceitos, os quais, com o passar do tempo, se tornaram cada vez mais comuns também em outras civilizações (PINSKY, 2011).
Os acádios habitaram a Mesopotâmia, enquanto essa região foi dominada pelos sumérios. O rei Sargão, da Acádia, se tornou um personagem célebre na história dessa civilização por ter conquistado cidades-estado que pertenciam aos sumérios, tendo inclusive dominado toda a Mesopotâmia (PINSKY, 2011). Esse rei foi percebido como uma referência para outros líderes que governaram a Mesopotâmia posteriormente, pois sua dinastia durou mais de um século, realizando conquistas de territórios mesopotâmicos por volta de 2370 a.C. (PINSKY, 2011).
Outros povos que se destacavam na história da Mesopotâmia são os assírios, conhecidos por sua alta capacidade militar e que ocuparam muitos territórios no Oriente Médio. Faziam parte de seu poderoso exército os famosos carros de guerra e também as unidades de cavalaria e infantaria. O império assírio era governado por chefes que eram guerreiros, e o processo expansionista, associado a essa civilização, permitiu que vários historiadores a considerassem uma das mais organizadas e eficientes do mundo antigo.
Os babilônicos foram os responsáveis pela formação do primeiro império unificado na Mesopotâmia. Um de seus reis foi Hamurabi, responsável pela ampliação da hegemonia babilônica por quase todo o território mesopotâmico e pela criação dos primeiros códigos de controle da sociedade, como as leis de talião (caracterizadas por punições que eram aplicadas de acordo com a gravidade dos delitos cometidos e conhecidas pela célebre frase “olho por olho, dente por dente”). Os babilônicos também desenvolveram o primeiro sistema de mensuração do tempo, que era baseada nas revoluções lunares e permitia, entre outras coisas, conhecer melhor as cheias dos rios e melhorar as condições agrícolas.
Você o conhece?
Hamurabi foi considerado um dos principais personagens da história. Além de ter criado o código de leis mais famoso da Antiguidade, foi um grande militar e administrador. Como militar, possuiu conquistas notáveis em quase toda a Mesopotâmia e, como administrador, realizou pessoalmente a coordenação de diversas obras que foram construídas durante seu império, como edifícios públicos e canais de irrigação (PINSKY, 2011).
A Mesopotâmia também é conhecida pelas civilizações que possuíam notáveis conhecimentos em Astronomia, Matemática e Medicina, além de diferenciarem os planetas, dividirem

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