Buscar

Aula1 - Generos discursivos no Ensino de lingua

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GÊNEROS DISCURSIVOS NO 
ENSINO DE LÍNGUA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Daíne Cavalcanti da Silva 
 
 
 
02 
CONVERSA INICIAL 
Olá, seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Gêneros discursivos no 
ensino de língua. 
Nesta aula estudaremos a teoria bakhtiniana dos gêneros do discurso. 
Mikhail Mikhailovich Bakhtin, filósofo russo, é a maior referência quando se fala 
em gêneros do discurso. Sua teoria tem sido estudada ao longo dos anos por 
diferentes pesquisadores no mundo e é base teórica de muitos documentos que 
norteiam o ensino na área de linguagem no Brasil. 
Para termos uma visão ampla da teoria bakhtiniana estudaremos nesta 
aula um pouco sobre nosso autor-base, Bakhtin, e também o que foi o chamado 
Círculo de Bakhtin. Em um segundo momento, estudaremos, especificamente, a 
teoria dos gêneros do discurso e os conceitos de enunciado, discurso e 
dialogismo. E finalizaremos nossa aula com uma aplicação prática acerca dos 
diferentes gêneros com que nos deparamos no dia a dia. 
CONTEXTUALIZANDO 
Os estudos sobre Bakhtin têm ganhado cada vez mais força. São 
pesquisadores, professores, professores-pesquisadores e documentos oficiais 
que o trazem como constructo teórico, porém, vale trazer a visão do professor 
José Luiz Fiorin: “Bakhtin é um autor que está moda”, mas veremos o que mais o 
autor tem a dizer sobre isso. 
Fiorin, no seu livro Introdução ao pensamento de Bakhtin (2016), diz que 
existem duas vertentes de estudiosos: os que têm a teoria como única verdade, 
algo quase como religioso, e aqueles que a simplificam excessivamente. Então, o 
que devemos seguir? Nas palavras do professor Fiorin: 
Nosso propósito é fugir de uma e outra posição. Bakhtin apresenta um 
pensamento absolutamente original sobre a linguagem e podemos 
continuar a desenvolver sobre seu projeto, seja operacionalizando 
melhor seus conceitos, seja refinando-os cada vez mais. Nada mais 
antibakhtiniano do que a compreensão passiva ou a aplicação mecânica 
de uma teoria. (Fiorin, 2016, p. 8) 
É importante que você, professor de língua portuguesa, tenha o propósito 
indicado pelo professor Fiorin em mente, pois é esse propósito que será adotado 
nesta disciplina e é dessa forma que se espera o uso da teoria bakhtiniana em 
sala de aula. 
Esclarecida a proposta da disciplina e o posicionamento que se espera a 
partir da teoria de Bakhtin, vamos aos conceitos e aplicações? 
 
 
03 
TEMA 1 – BAKHTIN E O CÍRCULO 
Como já dito, Bakhtin tornou-se um nome de referência quando se fala em 
estudos da linguagem no Brasil, principalmente quando o tema são os gêneros do 
discurso. 
Os estudos acerca do pensamento bakhtiniano, em um primeiro olhar, são 
muito complexos e podem causar certo receio. Tal sentimento pode estar atrelado 
às diversas ramificações de estudos tanto de Bakhtin como do Círculo. 
Você deve estar se perguntando: “O que foi o Círculo de Bakhtin?”, não é? 
O chamado Círculo de Bakhtin, formado por intelectuais de diferentes 
áreas, se reuniu de 1919 a 1929, discutindo conceitos em áreas como a linguagem 
e a literatura. Esse grupo multidisciplinar era assim formado, de acordo com 
Faraco (2009): 
 Matvei I. Kagan (filósofo); 
 Ivan I. Kanaev (biólogo); 
 Maria V. Iudina (pianista); 
 Lev V. Pumpianski (professor e estudioso de literatura); 
 Mikhail M. Bakhtin (professor e pesquisador de história e filologia); 
 Valentin N. Volóchinov (professor, pesquisador de história da música e 
estudos linguísticos); 
 Pavel N. Medvedev (formado em direito, educador, jornalista, professor de 
literatura); 
 entre outros. 
Bakhtin, Volóchinov e Medvedev serão os pensadores a quem daremos 
destaque, uma vez que Volóchinov e Medvedev são os seguidores que eram mais 
próximos a Bakhtin. Ainda além, tem-se a dúvida acerca da autoria de certos 
textos de Bakhtin, os quais são atribuídos a tais intelectuais. 
A dúvida acerca da autoria dos textos do Círculo surgiu quando o linguista 
Viatcheslav V. Ivanov afirmou que o livro Marxismo e filosofia da linguagem, 
publicado com a autoria de Volóchinov, e o livro O método formal nos estudos 
literários, publicado com autoria de Medvedev, eram, na verdade, livros escritos 
por Bakhtin. 
A afirmação de Ivanov até hoje não foi comprovada, sendo assim, tem-se 
três vertentes acerca da autoria de tais textos. Elas são apresentadas por Faraco 
(2009) e Fiorin (2016) da seguinte maneira: 
04 
a) a primeira é a daqueles que respeitam as autorias das edições
originais e, por consequência, só reconhecem como autoria do
próprio Bakhtin os textos publicados sob seu nome ou encontrado
nos seus arquivos.
b) A segunda direção é a daqueles que atribuem a Bakhtin todos os
textos disputados.
c) Há, por fim, uma solução de compromisso que inclui dois nomes na
autoria. Assim, Freudismo e Marxismo e filosofia da linguagem são
atribuídos a Bakhtin/Voloshinov; e O método formal nos estudos
literários, a Bakhtin/Medvedev. (Faraco, 2009, p. 12. Grifo do autor)
Tanto Faraco (2009) como Fiorin (2016) adotam a postura de reconhecer 
Bakhtin como autor dos textos que foram publicados em seu nome ou foram 
encontrados em seus arquivos, e esta será também a postura adotada para esta 
disciplina. 
A vida do filósofo russo foi de vários escritos, prisão e exílio, findando-se 
em 1975. Bakhtin casou-se, e sua carreira como professor não teve vínculos 
institucionais, pois além de ter sido preso, sua saúde era debilitada. 
O nome Círculo de Bakhtin não foi uma denominação adotada pelo próprio grupo, 
foi escolhido posteriormente. De acordo com Faraco (2012), a escolha do nome 
de Bakhtin deu-se por ser ele autor de obra “de maior envergadura”. 
A dificuldade nos estudos das obras bakhtinianas se dá, entre outras 
coisas, pela não linearidade em que as obras chegaram ao conhecimento da 
sociedade – não só no Brasil, mas também na Rússia. Além de os textos não 
terem sido conhecidos em uma ordem cronológica, muitos deles são textos 
inacabados, rascunhos que foram reunidos, publicados e traduzidos para outras 
línguas. O fato é que os estudos do Círculo tiveram grande contribuição para os 
estudos da linguagem. 
A linguagem aqui é vista atrelada aos sujeitos, a ideologias e à relação 
entre o eu e o outro. De acordo com Faraco (2009), ideologia é o que o Círculo de 
Bakhtin designa como uma gama de atividades que envolvem manifestações 
superestruturais. Essas manifestações seriam: a arte, a ciência, a política etc. 
Não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou 
mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou 
desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo 
ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que aprendemos as 
palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós 
ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. (Volóchínov, 2014, 
p. 98-99. Grifo do autor.)
Para o Círculo, a palavra é um meio de interação social. Nessa interação 
social tem-se a enunciação, em que há um emissor e um receptor, sujeitos da 
interação verbal: “toda enunciação, mesmo na forma imobilizada da escrita, é uma 
resposta a alguma coisa e é construída como tal” (Volóchinov, 2014, p. 101). 
 
 
05 
Essa atitude responsiva indicada pelos estudos do círculo é premissa para 
compreensão dos temas seguintes, principalmente ao falarmos dos gêneros do 
discurso. 
De acordo com Silva (2017, p. 31), para se afirmar que a palavra procede 
de alguém e para alguém deve-se considerar que os sujeitos dessa interação 
adequam seu discurso de acordo com o falante ou ouvinte, o campo discursivo 
em que emite seu enunciado, o gênero discursivo esperado para tal discurso etc. 
Nesse caso, cabe dizer que todo discurso prevê uma atitude responsiva, 
que o ouvinte se torna interlocutor e que sua atitude responsiva pode não ser 
imediata ao ato de fala. O fato é que a palavra, aindaque seja produto interativo 
entre sujeitos, compõe uma estrutura maior que é o enunciado, a enunciação, que 
veremos a seguir. 
TEMA 2 – ENUNCIADO 
Toda compreensão da fala viva, do enunciado 
vivo é de natureza ativamente responsiva 
(embora o grau desse ativismo seja bastante 
diverso); toda compreensão é prenhe de 
resposta, e nessa ou naquela forma a gera 
obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante. 
Bakhtin 
Para iniciarmos nossos estudos sobre enunciado, consideremos os 
seguintes trechos: 
A enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente 
organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser 
substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o 
locutor. A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa 
desse interlocutor: variará se tratar de uma pessoa do mesmo grupo 
social ou não, se esta for de inferior ou superior hierarquia social, se 
estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai, 
mãe, marido, etc.). Não pode haver interlocutor abstrato. (Volóchinov, 
2014, p. 116) 
E ainda: 
Enunciado é o elo essencial da cadeia de comunicação, e é dotado de 
uma tridimensionalidade comunicativa histórica e cultural que reúne 
passado (o antecedente), presente (o continuum) e futuro (o 
consequente) do processo de comunicação como um fenômeno da 
cultura perene em sua substancialidade e aberto como forma de 
existência e comunicação entre os homens no devir histórico e na 
unidade aberta de cultura e história. (Bezerra, 2016 citado por Bakhtin, 
p. 153) 
 
 
06 
O primeiro destaque que se faz é do termo enunciação, que foi substituído 
por enunciado na última tradução de Paulo Bezerra para o texto Os gêneros do 
discurso (2016). 
Considerando as duas citações trazidas no início deste tópico deve-se 
entender que as atitudes responsivas estão atreladas às fronteiras do enunciado. 
Para Bakhtin (2011), trata-se de um começo absoluto e um fim absoluto. Essa 
afirmação evidencia a alternância de falantes, já que um emissor tem seu 
enunciado precedido de enunciados de outros e, ao finalizar, terá uma atitude 
responsiva, mesmo que não seja proferida. Para exemplificar tal conceito, traz-se 
a analogia estabelecida por Bakhtin entre o enunciado e o eco. Segundo o autor, 
os enunciados estão repletos de “ecos e ressonâncias de outros enunciados com 
os quais está ligado pela identidade da esfera da comunicação discursiva” 
(Bakhtin, 2011, p. 297). 
Dessa forma, aquilo que dizemos, que mencionamos, é resultado dos 
campos das atividades pelos quais circulamos, das vozes que ouvimos e que 
fazem parte da nossa constituição enquanto sujeitos. Então, quando nos referimos 
aos campos da atividade humana, estamos nos referindo também “à orientação 
cultural e identitária de uma sociedade, em que cada enunciado é uma resposta 
a outros enunciados” (Silva, 2017, p. 34). 
Quando Bakhtin afirma que o enunciado tem um início e um fim, deve-se 
ter em mente que as fronteiras entre os enunciados dos sujeitos de um discurso 
são apresentadas por meio do diálogo, que, segundo Bakhtin (2011, p. 279), é “a 
forma mais simples e clássica da comunicação discursiva”. 
A compreensão do conceito de enunciado ficará mais clara ao discutirmos 
discurso e dialogismo, e principalmente os gêneros do discurso. Sendo assim, 
passemos para o nosso próximo tema: discurso e dialogismo. 
TEMA 3 – DISCURSO E DIÁLOGO 
A vida [...] não afeta um enunciado de fora; ela 
penetra e exerce influência num enunciado de 
dentro, enquanto unidade e comunhão da 
existência que circunda os falantes e unidade e 
comunhão de julgamentos de valor 
essencialmente sociais, nascendo deste todo 
sem o qual nenhum enunciado intelegível é 
possível. A enunciação está na fronteira entre a 
vida e o aspecto verbal do enunciado; ela, por 
 
 
07 
assim dizer, bombeia energia de uma situação 
da vidada para o discurso do verbal, ela dá a 
qualquer coisa linguisticamente estável o seu 
momento histórico vivo, o seu caráter único. 
Finalmente, o enunciado reflete a interação 
social do falante, do ouvinte e do herói como o 
produto e a fixação, no material verbal, em um 
ato de comunicação viva entre eles. 
Volóchinov/Bakhtin 
Os estudos bakhtinianos nos permitem afirmar uma característica dialógica 
da língua. O diálogo, portanto, constitui-se como uma das formas mais 
importantes de interação verbal. 
Cabe aqui destacar, como cita Faraco (2012), que a palavra diálogo tem 
como um dos significados a conversa de personagens em uma narrativa ou a 
interação entre falantes em uma conversa. No constructo teórico da teoria 
bakhtiniana, tem-se outro conceito para a palavra diálogo. 
Como vimos no tema anterior, o enunciado é um dos conceitos centrais do 
Círculo de Bakhtin. Ele está associado à interação verbal que discute a 
participação dos sujeitos em um discurso na sociedade. 
Para entender a relação entre enunciado, discurso e diálogo, trazem-se 
alguns conceitos do livro Marxismo e filosofia da linguagem: “a unidade real da 
língua que é realizada na fala não é a enunciação monológica individual e isolada, 
mas a interação de pelo menos duas enunciações, isto é, o diálogo” (Volóchinov, 
2014, p. 127). O diálogo, por sua vez, é assim descrito: 
O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma 
das formas, é verdade que das mais importantes, da interação verbal. 
Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido amplo, isto 
é, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas 
face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. 
(Volóchinov, 2014, p. 127) 
As duas afirmações e os conceitos vistos anteriormente nos levam a 
ratificar a ideia de que todo diálogo é uma interação verbal e que todo diálogo é 
resultado de outros discursos, ecos de enunciados de outro. Para Bakhtin, o 
falante não é um Adão bíblico, aquele que falou a primeira vez sem que tivesse 
circulado por diversos campos da atividade humana e sem estabelecer uma 
relação dialógica com outros discursos: 
 
 
 
 
08 
o falante não é um Adão bíblico, só relacionado com objetos virgens 
ainda não nomeados, aos quais dá o nome pela primeira vez. As 
concepções simplificadas sobre comunicação como fundamento lógico-
psicológico da oração lembram obrigatoriamente esse Adão mítico. 
(Bakhtin, 2011, p. 300) 
Pelo que vimos até agora, você deve estar pensando: “Em que os gêneros 
do discurso, o diálogo e o discurso impactam na vida desses falantes? Há 
diferentes formas de impacto em diferentes falantes?”. 
Para iniciarmos a discussão sobre os sujeitos é necessário relembrar que 
os enunciados e gêneros do discurso são meio de interação social. Precisamos 
pensar nos sujeitos como falantes oriundos de culturas diferentes, as quais se 
cruzam e entram em interação. Ao se pensar em diferentes culturas, também se 
pensa em diversidade de vozes que se encontram, gerando discursos em 
variados campos e tempos. 
As vozes que são encontradas são as mais diversas possíveis. Tais vozes 
são retratos das experiências vividas, dos campos pelos quais os sujeitos do 
processo circularam. Essas vozes se juntam a outros discursos que o falante já 
carrega e formam, novamente, um outro discurso, permeado de vozes de 
diferentes falantes. 
Nesse momento é válido retomarmos o conceito de atitude responsiva, pois 
um sujeito pode, por exemplo, ler um livro hoje e daqui a dez anos elaborar um 
discurso que traga a voz desse texto. Nesse processo, houve uma interação entre 
os interlocutores, ainda que tardia. 
Quando falamos em sujeito, precisamos também considerar que todo 
enunciado é escrito para um sujeito, ainda que não seja um sujeito único e 
definido. Nesse caso, teríamos o representante médio de um grupo social, eleito 
a partir da ideia que se tem do grupo que ele representa. 
A fala de um sujeito pode, ainda, ter como interlocutorum 
superdestinatário. Isso ocorre quando temos um sujeito elaborando seus 
enunciados para uma pessoa que não é exatamente o seu interlocutor – seria uma 
terceira pessoa para quem ele fala. 
De acordo com Emerson e Morson (2008, p. 151), 
às vezes, falamos a alguém como se nossa verdadeira preocupação 
fosse um possível ouvinte não-presente, alguém, cujo juízo importasse 
de fato ou cujo conselho nos ajudasse efetivamente. Para dizê-lo mais 
positivamente: o superdestinatário incorpora um princípio de esperança. 
Ele está presente, mais ou menos, em qualquer enunciado. (Grifo dos 
autores.) 
 
 
 
09 
Talvez você esteja pensando que são muitas informações e não consegue 
colocá-las em um plano que faça sentido na realidade. Pensemos então em uma 
situação prática, em um campo da atividade humana e em sujeitos que 
conhecemos. 
No nosso exemplo, o campo da atividade humana será a escola e os 
sujeitos serão os que compõem a comunidade escolar, alunos, professores e pais, 
principalmente. Na escola temos o sujeito aluno, que traz as vozes da sua família, 
da sua religião, da comunidade em que vive, dos programas televisivos a que 
assiste etc.; o professor, por sua vez, também traz suas vozes que também são 
oriundas dos diferentes campos da atividade humana pelos quais ele circulou e 
circula. 
Pensemos em uma proposta de atividade na aula de língua portuguesa: O 
professor solicita aos alunos que escrevam um texto que fale sobre amor. O aluno 
Pedro escolhe o gênero discursivo poesia e fala sobre o abandono da família. O 
aluno do nosso exemplo é filho adotivo e foi deixado pelos pais biológicos em um 
abrigo, sem que ele soubesse o motivo. 
Nesse caso, Pedro traz para o seu discurso a voz dos abrigos, lares de 
apoio, voz de outras crianças e adolescentes que foram abandonados. Ele 
escolhe o gênero discursivo poesia porque sabe que esse gênero permite a 
expressão de sentimentos. Como interlocutor do seu texto temos o professor, 
pois foi ele quem solicitou o texto e será ele quem o lerá. Temos ainda o 
superdestinatário que, nesse caso, podem ser os pais biológicos de Pedro, pois 
ainda que os pais sejam ouvintes não presentes, a mensagem do discurso da 
poesia foi direcionada para eles. 
Ao longo da disciplina veremos outros conceitos e teremos outros exemplos 
que permitirão a ampla compreensão sobre o tema, mas, para exemplificar os 
conceitos até então discutidos, observe a imagem a seguir: 
 
 
010 
Figura 1 – Conceitos discutidos na aula 
 
Na imagem pode-se ver que determinado sujeito circula por diferentes 
campos da atividade humana – por exemplo, família, escola, Estado, igreja –, e 
nesses diferentes campos há diferentes vozes e discursos com os quais esse 
sujeito tem contato. A partir desse contato, relações dialógicas são estabelecidas, 
e as tais vozes resultam em um discurso desse sujeito, que, ainda que seja um 
novo discurso, um novo enunciado, está permeado de diversas outras vozes e 
discursos do outro. Sendo assim, aos pensadores do Círculo interessavam “as 
forças que se mantêm constantes em todos os planos da interação social, desde 
os eventos mais banais e fugazes do cotidiano, até as obras mais elaboradas do 
vasto espectro da criação dialógica” (Faraco, 2009, p. 61). Ao se falar em relações 
dialógicas, entende-se que quaisquer enunciados que sejam comparados terão 
uma relação dialógica, independentemente do tempo ou espaço que haja entre 
eles. 
Proferimos diferentes enunciados organizados de acordo com escolhas do 
falante, e dentre tais escolhas tem-se a opção por um gênero discursivo. Ao 
falarmos sobre a escolha de um gênero do discurso, chegamos à principal 
discussão desta disciplina, conforme propôs Bakhtin: os gêneros do discurso. 
Veremos então o que são os gêneros do discurso. 
Igreja 
Estado 
Família 
Escola 
Campos da 
atividade 
humana 
D
is
cu
rs
o
s/
vo
ze
s 
Su
je
it
o
 
Sujeito e 
Discurso; 
Enunciados 
Relações 
dialógicas 
 
 
011 
TEMA 4 – O QUE SÃO OS GÊNEROS DO DISCURSO? 
Como já foi dito no início desta aula, Fiorin afirmou que Bakhtin é um "autor 
da moda". Vale ressaltar que a fala do professor Fiorin não tem, de forma alguma, 
o intuito de menosprezar os estudos bakhtinianos, e sim levar à compreensão 
correta das propostas apresentadas pelo autor russo. 
Diz-se um autor da moda pois, no Brasil, a partir de 1998 (quando foram 
publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais, em que há a indicação do 
ensino a partir dos gêneros discursivos), muitos livros e professores passaram a 
seguir os PNC como regra, quando, na verdade, os estudos do Círculo de Bakhtin 
levam a uma proposta de entendimento como processo, não como mero produto. 
Para compreendermos o que são os gêneros discursivos recorremos ao 
próprio Bakhtin (2016, p. 11-12): 
o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) 
concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele 
campo de atividade humana. Esses enunciados refletem as condições 
específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu 
conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção 
dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima 
de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos 
– o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão 
indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente 
determinados pela especificidade de um determinado campo da 
comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, 
mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente 
estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. 
(Grifo do autor.) 
Já vimos no tema anterior o que são enunciados e também já falamos sobre 
os campos da atividade humana. Mas o que são tais campos, exatamente? 
De acordo com Fiorin (2016, p. 68), 
os seres humanos agem em determinadas esferas de atividades, as da 
escola, as da igreja, as do trabalho num jornal, as do trabalho numa 
fábrica, as da política, as das relações de amizade e assim por diante. 
Essas esferas de atividades implicam a utilização na forma de 
enunciados. 
Unindo esses dois trechos, temos a informação de que não há produção 
de enunciados fora dos campos/esferas de atividade humana. Sabendo que os 
enunciados são organizados em gêneros do discurso, logo, cada campo de 
atividade humana também tem seus enunciados e gêneros mais típicos. 
É importante que você, professor, tenha em mente que sempre nos 
comunicamos por meio de gêneros discursivos e fazemos nossas escolhas de 
acordo com o campo da atividade humana, com os interlocutores, com o conteúdo 
 
 
012 
temático do nosso discurso e assim por diante. Devido a este esse fato – a 
comunicação por meio dos gêneros do discurso – é que se trabalha o ensino de 
línguas a partir dos gêneros. 
Segundo Bakhtin (2011, p. 282), 
a vontade discursiva do falante se realiza antes de tudo na escolha de 
um gênero de discurso. Essa escolha é determinada pela especificidade 
de um dado campo da comunicação discursiva, por considerações 
semântico-objetais (temáticas), pela situação concreta da comunicação 
discursiva, pela composição pessoal dos seus participantes, etc. 
A “vontade discursiva do falante” na escolha do gênero no seu momento 
enunciativo não é uma escolha aleatória, mas também não se pode dizer que é 
consciente, uma vez que as informações que temos sobre os gêneros nos é 
passada desde o início da nossa vida de forma natural, pois, como já dito, 
comunicamo-nos por meio de gêneros. Cabe aqui destacar que, ao afirmarmos 
que a escolha do gênero discursivo não é sempre consciente, considera-se que, 
segundo Bakhtin (2011, p. 282), “em termos práticos, nós os empregamos de 
forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos pode-se desconhecer 
inteiramente a sua existência" (grifos do autor). 
Retomando a definiçãode gênero do discurso em que os elementos 
conteúdo temático, estilo, e construção composicional estão ligados ao enunciado 
e à especificidade de um campo da atividade humana, convém detalhá-los. 
O conteúdo temático diz respeito ao sentido de um gênero e não ao 
assunto específico de um texto. O professor Fiorin (2016) nos traz o exemplo das 
cartas de amor: nesse caso, as relações amorosas são o conteúdo temático, mas 
as cartas podem ter diferentes assuntos específicos. 
O estilo está relacionado à escolha dos meios linguísticos. São escolhas 
lexicais, gramaticais e fraseológicas, ou seja, é a utilização da linguagem pelo 
falante. 
A construção composicional diz respeito à organização do texto . Seria 
uma estrutura geral, um “formato” prévio para composição de enunciados. 
É importante que você compreenda que embora sejam amplos os estudos 
acerca dos gêneros discursivos e que se tenha estudos acerca da estrutura e até 
mesmo dicionários que abordam o tema, os estudos bakhtinianos não têm 
interesse em classificar e catalogar os diferentes gêneros existentes, até porque 
nos comunicamos por meio de gêneros, e as mudanças sociais que acontecem 
na linguagem e na sociedade podem resultar no surgimento de novos gêneros, 
 
 
013 
na modificação de gêneros existentes e até mesmo em gêneros que caem em 
desuso de acordo com a necessidade imposta pela sociedade. 
Sendo assim, destaca-se que os enunciados se organizam em tipos 
relativamente estáveis, logo, isso não significa em estrutura fixa e estanque, e sim 
estrutura reconhecida, mas que passa por mudanças. 
Dentro dos estudos sobre gêneros do discurso, há a divisão proposta por 
Bakhtin, que separou os gêneros em primários e secundários. Essa divisão é o 
que veremos a seguir. 
TEMA 5 – GÊNEROS DISCURSIVOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS 
Como dito anteriormente, comunicamo-nos por meio de gêneros 
discursivos, que são organizados a partir de enunciados que estabelecem uma 
relação dialógica com outros discursos. 
Bakhtin, em seu livro Estética da criação verbal (2011, p. 263) assim dividiu 
os gêneros discursivos: 
Os gêneros discursivos secundários (complexos – romances, dramas, 
pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos, 
etc.) surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e 
relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o 
escrito) – artístico, científico, sociopolítico, etc. No processo de sua 
formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários 
(simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva 
imediata. 
Diante de tal afirmação, temos gêneros discursivos em diferentes campos 
da atividade humana, que podem ser primários ou secundários. 
Uma comunicação mais direta faz uso dos gêneros primários, pois é vista 
em situações do cotidiano, enquanto os gêneros secundários retratam uma 
situação mais complexa, mais organizada (Bakhtin, 2016). 
Dentre os gêneros primários usados na sociedade atual, de acordo com 
Silva (2017), pode-se citar: os bilhetes, os e-mails, áudios e mensagens de texto 
suportados pela tecnologia, uma roda de conversa entre amigos. Já para os 
gêneros secundários, que são mais formais, destacamos os romances, os textos 
científicos, as leis. Enfim, todos os gêneros, sejam orais ou escritos, são 
considerados diálogos porque promovem a interação entre sujeitos, sejam eles 
primários ou secundários. 
Veremos ao longo de toda essa disciplina que a variedade de gêneros 
discursivos é premissa para o ensino de línguas. Quando se fala em tal variedade, 
espera-se que você, professor, leve para a sala de aula gêneros discursivos 
 
 
014 
primários e secundários, orais e escritos, que sejam de diferentes campos de 
atividade humana e que não sejam vistos apenas como estrutura, tampouco como 
pretexto para o ensino de outras temáticas, desconsiderando todo o discurso 
presente no conceito de gêneros do discurso. 
FINALIZANDO 
Nesta aula discutimos o que são os gêneros discursivos e quais os 
conceitos que os cercam. Vimos que nos comunicamos por meio de gêneros 
discursivos e que a escolha de um gênero não é feita de forma aleatória, mas 
também não é consciente, no sentido de que não fazemos uma grande reflexão 
acerca da escolha do gênero. 
É importante que você tenha em mente as relações dialógicas que 
permeiam os gêneros do discurso e considere os campos da atividade humana 
pelos quais circularam os sujeitos do discurso. 
Na escola, como professor, você precisa compreender o sujeito aluno, 
saber quais são os campos pelos quais ele circula para que entenda o discurso 
dialógico por ele utilizado e, assim, faça boas escolhas de gêneros para o ensino 
de língua portuguesa. 
Compreendido o que são os gêneros do discurso, retomaremos na próxima 
aula o que são os campos, quem são os sujeitos da escola e a diversidade de 
gêneros nos mais diferentes campos da atividade humana. 
 
 
 
015 
REFERÊNCIAS 
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 6. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 2011. 
______. Os gêneros do discurso. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: 
Editora 34, 2016. 
BRAIT, B. (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2014. 
______. Bakhtin: outros conceitos-chave. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012. 
FARACO, C. A. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. 
São Paulo: Parábola, 2009. 
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Contexto, 
2016. 
MORSON, G. S.; EMERSON, C. Mikhail Bakhtin: criação de uma prosaística. 
Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: EDUSP, 2008. 
SILVA, D. C. Os gêneros discursivos digitais no livro didático de língua 
portuguesa: um possível campo de hibridação. 144 f. Dissertação (Mestrado em 
Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017. Disponível em: 
<http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/49091/R%20-%20D%20-
%20DAINE%20CAVALCANTI%20DA%20SILVA.pdf?sequence=1&isAllowed=y>
. Acesso em: 28 dez. 2017. 
VOLÓCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel 
Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2014.

Outros materiais