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Desafio7dias 01

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DESAFIO 07 DIAS 
DEDICAÇÃO DELTA 
DIA 01 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIA 01 
 
DESAFIO 07 DIAS 
DEDICAÇÃO DELTA 
DIA 01 
2 
 
 
Futuro(a) Delegado(a) 
Te convidamos para participar do Desafio 07 dias DEDICAÇÃODELTA. 
Ao longo dos próximos 07 dias iremos fornecer metas variadas de estudos com os respectivos 
materiais para que você possa se aperfeiçoar e aprender sobre alguns dos temas mais importantes 
relacionados à concursos de Delegado de Polícia. 
Nossa proposta é que ao final do desafio você fique mais preparado para encarar as bancas 
examinadoras. Afinal, gestão e planejamento de estudos é nossa especialidade. 
Apenas precisamos que você faça uma única coisa: se comprometa. Leia os materiais que 
forneceremos, estude-os com afinco e absorva seus conteúdos. 
Ficar no status quo ou trilhar o caminho rumo à aprovação. 
A escolha é sua. 
Vamos juntos! 
 
Equipe DedicaçãoDelta 
 
USE A #DESAFIO7DD 
DIA 01 
 
3 
 
Sumário 
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE................................................................... 5 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 6 
2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................................................ 7 
3. CONCEITO ................................................................................................................................................ 8 
4. SUJEITO ATIVO DO DELITO ....................................................................................................................... 8 
5. SUJEITO PASSIVO ....................................................................................................................................10 
6. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................................................11 
7. DA AÇÃO PENAL ......................................................................................................................................14 
8. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE ..............................15 
9. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO ..............................................................................................................16 
10. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ..........................................................................................................19 
11. DAS SANÇÕES CÍVEIS E ADMINISTRATIVAS ............................................................................................21 
12. EFEITOS CIVIS DA ABSOLVIÇÃO PENAL ..................................................................................................22 
13. DA PARCIAL INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA ..............................................................................23 
14. DOS CRIMES EM ESPÉCIE NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................................................25 
14.1 Decretar Medida de Privação de Liberdade em Desconformidade com a Lei – Art. 9, Caput ............25 
14.2 Decretação de Condução Coercitiva Investigado Manifestamente Descabida ou sem Prévia Intimação 
de Comparecimento ao Juízo – Art. 10. ...................................................................................................29 
14.3 Deixar Injustificadamente de Comunicar Prisão em Flagrante à Autoridade Judiciária no Prazo Legal
 ...............................................................................................................................................................31 
14.4 Constrangimento de Preso ou Detento – Art. 13..............................................................................35 
14.5 Constrangimento a depor de pessoa que deva guardar segredo ou resguardar sigilo em razão de 
função, ministério ou profissão, e figuras equiparadas – Art. 15 ..............................................................38 
14.6 Omissão de identificação ou identificação falsa ao preso – Art. 16 ..................................................41 
14.7 Submissão de Preso a Interrogatório Policial Durante o Período de Repouso Noturno – Art. 18.......43 
14.8 Impedimento ou Retardamento do Envio de Pleito do Preso à Autoridade Judiciária Competente – 
Art. 19.....................................................................................................................................................44 
14.9 Restrição, sem justa causa, da entrevista pessoal ou reservada com seu advogado .........................45 
14.10 Manutenção de presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento ................49 
14.11 Violação de Domicílio em um contexto de abuso de autoridade – Art. 22 ......................................51 
14.12 Fraude processual especial em caso de abuso de autoridade – Art. 23 ..........................................56 
14.13 Constrangimento de funcionário ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir 
para tratamento pessoa morta – Art. 24 .................................................................................................58 
14.14 Obtenção de prova por meio manifestamente ilícito – Art. 25 .......................................................60 
14.15 Requisição ou Instauração de Procedimento Investigatório sem quaisquer indícios – Art. 27 .........62 
USE A #DESAFIO7DD 
DIA 01 
 
4 
 
14.16 Divulgação de Gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade 
ou a vida privada do investigado ou acusado ..........................................................................................64 
14.17 Falsa Informação sobre Procedimento Judicial, Policial, Fiscal ou Administrativo – Art. 29 .............66 
14.18 Deflagração de persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra 
quem sabe inocente – Art. 30 .................................................................................................................68 
14.19 Procrastinação Injustificada de Investigação em Prejuízo do Investigado .......................................69 
14.20 Negativa de acesso aos autos de procedimento investigatório e de extração de cópias de 
documentos ............................................................................................................................................71 
14.21 Exigência de informação ou do cumprimento de obrigação sem expresso amparo legal ................73 
14.22 Decretação da indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapola exacerbadamente 
o valor estimado para a satisfação da dívida e subsequente negativa de correção do excesso.................74 
14.23 Demora Demasiada e Injustificada no Exame de Processo de que Tenha Requerido Vista em Órgão 
Colegiado ................................................................................................................................................76 
14.24 Antecipação de Atribuição de Culpa por Meio de Comunicação, Inclusive Rede Social, Antes de 
Concluídas as Apurações e Formalizada a Acusação – Art. 38 ..................................................................76 
15. DEFESA OU RESPOSTA PRELIMINAR ......................................................................................................77 
16. VIOLAÇÃO DE DIREITOS E PRERROGATIVAS DO ADVOGADO..................................................................78 
17. VIGÊNCIA DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE .............................................................................79 
 
 
 
 
 
 
 
 
USE A #DESAFIO7DD 
DIA 01 
 
5 
 
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 
 
TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA 
Lei 13.869/2019 inteira 
 
CF/88 
⦁ Art. 5º, XLVIII 
⦁ Art. 5º, LVI 
⦁ Art. 5º, LXII 
⦁ art. 5°, LXIV 
⦁ Art.5º, LXXVIII 
⦁ Art. 109, IV, CF/88 
 
CPP 
⦁ Art. 3º-B, II 
⦁ Art. 29 
⦁ Art. 157, §1º e 5º 
⦁ Art. 207 e 217 
⦁ Art. 239 
⦁ Art. 282, §§2º e 4º 
⦁ Art. 289-A 
⦁ Art. 306, 310 e 311 
⦁ Art. 319, VI e 322 
⦁ Art. 514 
 
CP 
⦁ Art. 13, §2º 
⦁ Art. 44 
⦁ Art. 91 e 91-A 
⦁ Art. 96, I, CP 
⦁ Art. 150 
⦁ Art. 211 
⦁ Art. 243 e seguintes 
⦁ Art. 316 e 317 
⦁ Art. 347 
 
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS 
⦁ Art. 9°, II, alínea "c", Código Penal Militar 
⦁ Art. 120 e 121 do ECA 
⦁ art. 6º da Lei nº 10.216/2001 
⦁ Art. 1º, Lei 9.455/97 
⦁ art. 7º, XIV, XIX da Lei nº 8.906/94 
⦁ Art. 7º, §10 a §12 da Lei nº 8.906/94 
⦁ Art. 7º-B da Lei nº 8.906/94 
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6 
 
⦁ Art. 82, §1º, LEP 
 
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER! 
 
 Lei 13.869/2019 
⦁ Art. 1º 
⦁ Art. 2º, §único 
⦁ Art. 4º, §único 
⦁ Art. 7º e 8º 
⦁ Art. 12, 15, 18, 21, 27, 29, 31 e 32 
 
CF/88 
⦁ Art. 5º, XLVIII 
⦁ Art. 5º, LVI 
⦁ Art. 5º, LXII 
⦁ art. 5°, LXIV 
⦁ Art. 5º, LXXVIII 
 
CPP 
⦁ Art. 157, §1º e 5º 
⦁ Art. 207 
⦁ Art. 217 
⦁ Art. 239 
⦁ Art. 282, §§2º e 4º 
⦁ Art. 306, 310 e 311 
CP 
⦁ Art. 44 
⦁ Art. 91 e 91-A 
⦁ Art. 96, I, CP 
 
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS 
⦁ Art. 1º, Lei 9.455/97 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A lei em comento tem como finalidade orientar e estabelecer normas de básicas para a tutela e 
proteção dos usuários de serviços públicos diversos, prestados mediata ou imediatamente pela 
administração pública direta ou indireta, garantindo o respeito aos princípios da legalidade, impessoalidade, 
moralidade e publicidade, estampados no art. 37 da Constituição de 88. 
A lei 13.869 se propõe a modernizar o tratamento dado ao abuso de autoridade, visto que a legislação 
anterior datava de 1965, ano em que o Brasil passava por um período de flexibilização de garantias e o 
governo estruturava-se a partir de uma cúpula de oficiais superiores das forças armadas, sendo os crimes de 
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DIA 01 
 
7 
 
abuso de autoridade punidos com penas de detenção que variavam de dez dias a seis meses, afetando 
claramente o princípio da proporcionalidade em sua faceta de vedação à proteção ineficiente. 
Nesse sentido, a principal função da Lei nº 13.869/2019 é a prevenção e repressão de 
comportamentos abusivos de poder, protegendo os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos contra 
quaisquer abusos e arbitrariedades praticadas por agentes públicos, impondo maior rigor na observância do 
princípio da legalidade pelo agente público, sob pena de punição em todas as esferas (civil, penal, 
administrativa). 
 
Nas palavras de Renato Brasileiro: 
 
De fato, dotada de dispositivos vagos e abertos, a revogada Lei n. 4.898/65 
dispensava aos crimes de abuso de autoridade uma sanção penal absolutamente 
incompatível com o desvalor do injusto, deixando-a, assim, desprovida de qualquer 
poder dissuasório sobre os agentes públicos. Com efeito, a pena privativa de 
liberdade cominada aos crimes de abuso de autoridade pelo antigo diploma 
normativo – detenção, por 10 (dez) dias a 6 (seis) meses (art. 6º, §3º, alínea “b”) – 
já não guardava mais compatibilidade com a gravidade de tais condutas, pois 
tratava a integralidade desses crimes como infrações de menor potencial ofensivo, 
logo, da competência dos Juizados Especiais Criminais, sujeitos, portanto, aos 
institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95. Contribuía, ademais, para 
o advento da prescrição da pretensão punitiva, que, in casu, ocorria em apenas 3 
(três) anos, consoante disposto no art. 109, inciso VI, do Código Penal, com redação 
dada pela Lei n. 12.234/10 
 
2. BEM JURÍDICO TUTELADO 
 
A Lei n. 13.869/19 pretende, na realidade, abranger dois aspectos distintos (crime pluriofensivo): 
 
1) Direitos fundamentais do cidadão: A depender do delito em questão, visa proteger, 
diretamente: 
 Liberdade de locomoção (arts. 9º, 10, 12, etc.), 
 Liberdade individual (arts. 13, 15, 18, etc.), 
 Direito à assistência de advogado (arts. 20, 32, etc.), 
 Intimidade ou a vida privada (arts. 22, 28, 38); 
 
2) Protege, ainda, indiretamente, o bom funcionamento do Estado, bem como o dever do 
funcionário público de conduzir-se com lealdade e probidade, preservando-se, assim, 
princípios básicos da Administração Pública. 
 
Nas palavras de Renato Brasileiro: 
 
“A eficiência do Estado está diretamente relacionada à credibilidade, honestidade 
e probidade de seus agentes, pois a atuação do corpo funcional reflete-se na 
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8 
 
coletividade, influenciando decididamente na formação ético-moral e política dos 
cidadãos, especialmente no conceito que fazem da organização estatal. Daí a 
importância de se coibir todo e qualquer desvio funcional, enfim, de toda e 
qualquer conduta que, a pretexto de atender ao interesse público, visa à satisfação 
de interesse pessoal do agente público, importando em evidente desvio de 
finalidade.” 
 
3. CONCEITO 
 
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente 
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. 
 
O conceito de abuso de poder é um gênero de ato ilícito cometido pela autoridade, podendo ser 
dividido em duas espécies: 
 
⦁ Excesso de poder - o agente público atua sem competência, seja por sua total ausência, seja 
por extrapolar os limites da competência que lhe foi legalmente atribuída. O ato pode ser 
considerado válido até o limite em que não foi extrapolada a competência, exceto se o 
excesso o comprometer inteiramente. 
 
⦁ Desvio de poder – é caracterizado quando o agente pratica o ato visando a fim diverso 
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. 
 
Em ambas as hipóteses, a tipificação do delito está condicionada, como deixa entrever o caput do 
art. 1º, ao fato de o agente público praticar a conduta em questão no exercício de suas funções ou a 
pretexto de exercê-las. Ou seja: deve haver a correlação entre o abuso e as funções desempenhadas pelo 
agente. 
 
4. SUJEITO ATIVO DO DELITO 
 
 Quem pode praticar o crime de abuso de autoridade? 
O artigo 2º traz um rol exemplificativo de sujeitos ativos para o crime de abuso de autoridade, que 
tem por característica ser um crime próprio, tendo em vista que se exige uma característica específica para 
que o agente incorra no tipo penal, qual seja, ser agente público, independentemente de ser servidor ou 
não. 
A utilização da expressão “compreendendo, mas não se limitando” deixa claro o caráter 
exemplificativo do rol, entretanto, deve-se atentar para a utilização da expressão “taxativo, mas não 
exaustivo”, utilizada em recentes decisões do Superior Tribunal De Justiça, para que eventual questão 
objetiva não cause confusão ou estranheza. 
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9 
 
 
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, 
servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, 
compreendendo, mas não se limitando a: 
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; 
II - membros do Poder Legislativo; 
III - membros do Poder Executivo; 
IV - membros do Poder Judiciário; 
V - membros do Ministério Público; 
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. 
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele 
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou 
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos 
pelo caput deste artigo [norma penal explicativa] 
 
Para a doutrina, o conceito de funcionário público previsto no art. 327 do CP não se aplica à Lei de 
Abuso de Autoridade, pois o conceito trazido pela novel lei é muito mais amplo do que aqueleprevisto no 
Código Penal. Isso porque, para ser considerado autoridade para fins da Lei 13.869/2019, basta que o agente 
tenha algum vínculo com o Estado, pouco importando a forma de investidura, e ainda que não seja detentor 
de estabilidade ou de remuneração. 
Ressalta-se que NÃO são considerados agentes públicos aqueles que exercem apenas um múnus 
público (função privada com interesse público), como, por exemplo: 
 Curadores e tutores dativos 
 Inventariantes judiciais 
 Administradores judiciais 
 Depositários judiciários 
 Leiloeiros dativos 
 
 Lembrando que, para o STF, os advogados dativos, ou seja, aqueles nomeados pelo Juízo para prestar 
assistência jurídica aos hipossuficientes no local onde não há Defensoria Pública devidamente instalada, 
podem ser considerados funcionários públicos para fins penais, motivo pelo qual podem praticar o crime de 
abuso de autoridade. 
 
ATENÇÃO! De acordo com a doutrina, para a caracterização dos crimes de abuso de 
autoridade, não se faz necessário que a conduta seja contemporânea ao exercício efetivo da 
função. Ou seja: O abuso de autoridade pode ser praticado por qualquer agente público, servidor 
ou não, que abusa do poder que lhe foi conferido em virtude de uma função que ocupa, ainda que 
no momento do abuso não esteja exercendo a função. 
 
USE A #DESAFIO7DD 
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10 
 
Explica Renato Brasileiro: 
 
“Subsistirá a infração penal, portanto, ainda que o agente se encontre licenciado, 
em férias ou não tenha assumido o cargo, mas já tenha sido, por exemplo, 
aprovado no concurso público ou nomeado formalmente para exercer 
determinada função. É exatamente nesse sentido, aliás, o disposto no art. 1º, caput, 
da Lei n. 13.869/19, que define como crimes de abuso de autoridade aqueles 
cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções 
ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.” 
 
Contudo, embora não se exija efetivo exercício funcional no momento da conduta, é imprescindível 
que o sujeito ativo goze do status de agente público no sentido do art. 2º da Lei n. 13.869/19. Caso 
contrário, a ele não se poderá imputar o delito. 
Ex.: É o que ocorre com o funcionário público aposentado, que não pode figurar como sujeito ativo 
dos crimes de abuso de autoridade, vez que, à época do delito, já havia se desvinculado funcionalmente da 
Administração Pública. 
 
Agente público demitido, agente público de fato ou aposentado NÃO podem praticar o crime de abuso de 
autoridade, em razão da ausência de vínculo com o Estado! 
 
Obs.: O crime de abuso de autoridade admite concurso de pessoas com particulares eventualmente 
envolvidos, desde que SAIBAM da condição de agente público. Isso porque, apesar de se tratar de um crime 
próprio, a condição especial de agente público se comunica a eventuais coautores e partícipes por ser uma 
elementar do tipo, nos termos do art. 30 do Código Penal. 
Por outro lado, caso o particular desconheça a condição de agente público, estará incurso em erro 
de tipo, que afasta a tipicidade do crime de abuso de autoridade, podendo responder, contudo, por outro 
crime em razão da cooperação dolosamente distinta prevista no art. 29, §2º do CP. 
 
CESPE - O particular que atuar em coautoria ou participação com uma autoridade pública no cometimento 
de crime de abuso de autoridade não responderá por esse crime porque não é agente público. Item 
incorreto! 
 
5. SUJEITO PASSIVO 
 
Em regra, os crimes de abuso de autoridade são delitos de dupla subjetividade passiva (quando o 
crime prevê a existência de duas vítimas), porquanto o cidadão que teve um direito fundamental violado por 
uma autoridade figurará como sujeito passivo imediato (direto e eventual), enquanto o Estado será o sujeito 
passivo mediato (indireto e permanente). 
∘ Sujeito passivo imediato – cidadão 
∘ Sujeito passivo mediato – Estado 
 
USE A #DESAFIO7DD 
DIA 01 
 
11 
 
6. ELEMENTO SUBJETIVO 
 
O crime de abuso de autoridade só pode ser punido a título de dolo (direto ou eventual**), de 
modo que não existe abuso de autoridade culposo. Eventual imprudência, imperícia ou negligência por parte 
do agente público devem ser apuradas no âmbito civil e ou administrativo. 
 
** Os crimes de abuso de autoridade admitem também o dolo eventual, ou 
apenas o dolo direto? 
- 1ª C (Renato Brasileiro) - não há qualquer incompatibilidade dos crimes de abuso 
de autoridade, ao exigir o dolo específico, com o dolo eventual. Assim, se restar 
comprovado que o agente público não queria o resultado (dolo direto), mas 
assumiu o risco de produzi-lo, deverá responder pelo crime de abuso de autoridade 
em questão a título de dolo eventual, se assim o fizer, logicamente, para prejudicar 
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou 
satisfação pessoal 
- 2ª C (Rogério Sanches e Grecco) – para os autores, a exigência deste elemento 
subjetivo em todos os tipos incriminadores restringe a norma de tal forma que o 
dolo eventual fica descartado, devendo a finalidade específica ser apontada na 
peça inaugural, sob pena de ser rejeitada, pois o réu não conseguirá se defender 
das acusações. 
 
 
Exige ainda um dolo específico, de modo que o agente só terá sua conduta considerada típica 
quando além, do dolo genérico, tiver o dolo de produzir um resultado específico. Ou seja: a conduta do 
agente deve ser voltada, necessariamente, a uma das seguintes finalidades: 
 Prejudicar outrem 
 Beneficiar a si mesmo ou a terceiro 
 Por mero capricho ou satisfação pessoal 
 
Art. 1º § 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de 
autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de 
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero 
capricho ou satisfação pessoal 
 
A) Prejudicar outrem: deve ser compreendido como a provocação de um prejuízo que transcenda o exercício 
regular das funções do agente público. 
Ex.: Delegado de Polícia que, a despeito da absoluta falta de quaisquer indícios da prática de crime, 
determina a instauração de um inquérito policial em detrimento de um adversário político, com o nítido 
propósito de prejudicá-lo às vésperas de uma iminente disputa eleitoral. 
 
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B) Beneficiar a si mesmo ou a terceiro: é qualquer vantagem, proveito ou benefício que possa vir a ser obtido 
pelo agente público, pouco importando se se trata de interesse de ordem patrimonial ou moral. 
Ex.: Haverá abuso de autoridade se um Delegado de Polícia, com o objetivo de buscar sua 
autopromoção para posteriormente se candidatar a determinado cargo eletivo, usar a máquina estatal 
indevidamente, seja exibindo presos à curiosidade pública em suas redes sociais, seja antecipando atribuição 
de culpa a determinada pessoa em casos de maior repercussão local, etc. 
 
C) Por mero capricho ou satisfação pessoal: 
▪ Capricho - significa a vontade repentina desprovida de qualquer justificativa, uma obstinação 
arbitrária. 
▪ Satisfação pessoal - guarda relação com algum tipo de sentimento pessoal capaz de provocar 
certo grau de contentamento para o agente público, como, por exemplo, a amizade, o ódio, a 
vingança, etc. 
Ex.: Se um Promotor de Justiça requisitar a instauração de um inquérito policial em desfavor de 
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, assim agindo por vingança devido à inimizade 
provocada por uma briga no condomínio em que ambos moravam, o agente público deverá responder pelo 
crime do art. 27, caput, da Lei n. 13.869/19, pois agiu perseguindo uma satisfação pessoal – e não o interesse 
público. 
 
 Nesse sentido, ausente esse especial fim de agir, não há falar em crime de abuso de autoridade, 
podendo, a depender do caso concreto, subsistir a prática de outro crime. 
 
 
 ATENÇÃO: CRIMES DE HERMENÊUTICA: 
 
 2º - A divergência na interpretaçãode lei ou na avaliação de fatos e provas não 
configura abuso de autoridade 
 
De acordo com Rui Barbosa, crimes de hermenêutica consistem em criminalizar a interpretação 
jurídica, fática ou probatória que o agente público atribui aos fatos que lhe são trazidos para sua 
apreciação. Em outras palavras: crimes de hermenêutica são tipos penais que valoram de forma negativa a 
conduta do responsável pela interpretação da lei. 
No entanto, os crimes de hermenêutica NÃO são aceitos pela doutrina e, tampouco, pela 
jurisprudência. Ou seja: a interpretação diversa de determinada regra legal ou de valoração de fatos e de 
provas não pode ser considerada como prática de abuso de autoridade. Isso porque: 
(1) O exercício regular de um direito não pode ser empregado para criminalizar um agente 
estatal no desempenho de sua função prevista em lei. 
(2) O próprio especial fim de agir já inviabiliza que o agente seja punido pela sua 
interpretação da lei. 
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13 
 
 
Exemplo: Não há que se falar em crime de abuso de autoridade se o magistrado determinou a 
custódia cautelar de alguém com base em tese jurídica minoritária 
 
O tema não é novo e, mesmo na vigência da revogada Lei de Abuso de Autoridade, a jurisprudência 
já afastava a possiblidade de se responsabilizar criminalmente o magistrado pela mera divergência de 
interpretação: 
 
“(...) AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. ABUSO DE AUTORIDADE. ART. 4º, “A”, DA LEI N.º 
4.898/65. DESEMBARGADOR. DECISÃO JUDICIAL. CONFRONTO COM DECISÃO DE 
RELATOR DO STF. CONDUÇÃO COMPULSÓRIA PARA LAVRATURA DE TERMO 
CIRCUNSTANCIADO. QUESTÕES ATINENTES À ATIVIDADE JUDICANTE. ATRIBUTOS 
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões 
com o vício in judicando e in procedendo, razão por que, para a configuração do 
delito de abuso de autoridade há necessidade da demonstração de um mínimo de 
“má-fé” e de “maldade” por parte do julgador, que proferiu a decisão com a 
evidente intenção de causar dano à pessoa. 2. Por essa razão, não se pode acolher 
denúncia oferecida contra a atuação do magistrado sem a configuração mínima do 
dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não restou demonstrado 
na própria descrição da peça inicial de acusação para se caracterizar o abuso de 
autoridade. 3. Ademais, de todo o contexto, o que se conclui é que houve uma 
verdadeira guerra de autoridades no plano jurídico, cada qual com suas armas e 
poderes, que, ao final, bem ou mal, conseguiram garantir a proteção das 
instituições e dos seus representantes, não possibilitando a esta Corte a inferência 
da prática de conduta penalmente relevante. 4. Denúncia rejeitada (STJ, Apn, 
858/DF, Dje 21.11.2018) 
 
Cuidado! Renato Brasileiro adverte que a excludente do dolo NÃO será cabível quando a 
interpretação for absurda, teratológica, manifestamente descabida ou contrária à limitação literal ou 
jurisprudencial sobre o tema. 
 
É possível afirmar, portanto, que não haverá crime de abuso de autoridade apenas 
quando se tratar de divergência razoável na interpretação da lei ou na avaliação de 
fatos e provas. Logo, em se tratando de interpretação absurda, teratológica, 
manifestamente descabida, é dizer, em contrariedade a essa limitação literal ou 
jurisprudencial anteriormente explicada, não será cabível a aplicação da causa 
excludente do dolo constante do art. 1º, §2º, da nova Lei de Abuso de Autoridade 
 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM 
Enunciado 2 - divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas, 
salvo quando teratológica, não configura abuso de autoridade, ficando excluído o 
dolo. 
 
 
 
USE A #DESAFIO7DD 
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APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS! 
Qual a natureza jurídica do § 2º do art. 1? Há divergência. Para uma corrente, trata-se de exclusão de 
ilicitude. No entanto, para Rogério Greco e Rogério Sanches, trata-se de excludente do fato típico, pois 
elimina o dolo da conduta, razão pela qual o § 2º foi colocado logo em seguida, topograficamente, ao artigo 
2º que trata da finalidade especial que deve animar o agente público. 
 
7. DA AÇÃO PENAL 
 
Os delitos da lei de abuso de autoridade, assim como na legislação anterior, em que pesa sua infeliz 
confusão entre a representação civil e a legitimidade penal, são de ação civil pública incondicionada. Nesse 
sentido: 
 
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo 
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia 
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de 
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, 
retomar a ação como parte principal. 
2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da 
data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia [PRAZO 
DECADENCIAL IMPRÓPRIO] 
 
Há ainda possibilidade de oferecimento de ação penal privada subsidiária da pública, na hipótese de 
inércia do Ministério público em oferecer a denúncia, cabendo ao Parquet, na forma do artigo 29 do Código 
de Processo Penal; 
⦁ Aditar a queixa (chamada de queixa substitutiva), repudiá-la e oferecer denúncia 
substitutiva. 
⦁ Intervir em todos os termos do processo. 
⦁ Fornecer elementos de prova, 
⦁ Interpor recurso. 
⦁ A todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. 
 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM 
Enunciado 3 - Os crimes da Lei de Abuso de Autoridade são perseguidos mediante 
ação penal pública incondicionada. A queixa subsidiária pressupõe comprovada 
inércia do Ministério Público, caracterizada pela inexistência de qualquer 
manifestação ministerial. 
 
 
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8. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE 
 
• Regra: Justiça Comum Estadual. 
Não se trata, porém, de regra absoluta, de modo que, a depender das circunstâncias do caso 
concreto, é perfeitamente possível que os crimes de abuso de autoridade sejam julgados por outras Justiças. 
 
• Exceção: 
 
1. JUSTIÇA FEDERAL - presente uma das hipóteses constantes do art. 109 da Constituição Federal, a 
competência para o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade será da Justiça Federal. 
Ex.1: crime de abuso de autoridade praticado no interior de Delegacia da Polícia Federal. 
Ex.2: crime de abuso de autoridade cometido por (ou contra) funcionário público federal em razão 
das funções (súmula n. 147 do STJ), conforme disposto no art. 109, IV, da CF/88. Ou seja: se o delito foi 
praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa função, o crime será de competência da 
Justiça Federal, considerando que, neste caso, o delito terá sido praticado em detrimento de um serviço 
público federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88. 
 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, 
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas 
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar 
e da Justiça Eleitoral; 
 
Súmula 147-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados 
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da 
função. 
 
 
2. JUSTIÇA MILITAR - Com a Lei n. 13.491/17, pode-se dizer que a Justiça Militar da União ou dos 
Estados passou a ter competência para o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade. 
Ex.: Se um Policial Militar do Estado do Paraná, no exercício da função, com a finalidade específica 
de prejudicar um preso, constrangê-lo mediante violência a ter seu corpo exibido à curiosidade pública, 
caberá à Justiça Militar dorespectivo Estado o processo e julgamento do crime militar previsto no art. 13, 
inciso I, da Lei n. 13.869/19, c/c art. 9°, II, alínea "c", do Código Penal Militar, com redação dada pela Lei n. 
13.491/17. 
 
A súmula 172 do STJ - “Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de 
autoridade, ainda que praticado em serviço” - foi superada pela Lei n° 13.491/2017 que promoveu reformas 
no Código Penal Militar. 
 
Explicação @viadizerodireito 
USE A #DESAFIO7DD 
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A súmula foi superada pela Lei nº 13.491/2017, que alterou o art. 9º, II, do CPM. Antes da alteração, se o 
militar, em serviço, cometesse abuso de autoridade, ele seria julgado pela Justiça Comum porque o art. 9º, 
II, do CPM afirmava que somente poderia ser considerado como crime militar as condutas que estivessem 
tipificadas no CPM. Assim, como o abuso de autoridade não estava previsto no CPM, mas sim na Lei nº 
4.898/65, este delito não podia ser considerado crime militar e nem podia ser julgado pela Justiça Militar. 
Isso, contudo, mudou com a nova redação dada pela Lei nº 13.491/2017 ao art. 9º, II, do CPM. Com a 
mudança, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º, pode estar 
prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”. Dessa forma, o abuso de autoridade, 
mesmo não estando previsto no COM, pode agora ser considerado crime militar (julgado pela Justiça Militar), 
bastando incidir em alguma das hipóteses previstas no art. 9º, II, do CPM. 
 
 
3. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO - Se a autoridade que praticou o delito no exercício das 
suas funções goza de foro por prerrogativa de função, deverá ser julgada pelo respectivo Tribunal. Exemplo: 
Juiz Federal que pratica abuso de autoridade será julgado pelo Tribunal Regional Federal, nos termos do art. 
108, I, a, da CF/88. 
 
9. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO 
 
Art. 4º São efeitos da condenação: 
I - Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, 
a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos 
danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
II - A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo 
período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; 
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são 
condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não 
são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. 
 
Inicialmente, devemos diferenciar dos efeitos da condenação genéricos e específicos. Vejamos: 
 
• Efeitos genéricos – estão previstos no art. 91 do Código Penal (ou na Legislação Especial) e são aplicáveis 
por força de lei, independentemente de expressa declaração por parte da autoridade jurisdicional, 
qualquer que seja a pena imposta. 
Na verdade, a única condição para o implemento desses efeitos é o trânsito em julgado da sentença 
penal condenatória. 
Recebem essa denominação por serem aplicáveis, em tese, a toda e qualquer condenação criminal 
 
• Efeitos específicos - previstos nos arts. 91-A (confisco alargado) e 92 do Código Penal (ou na Legislação 
Especial). Esses efeitos não são automáticos, nem tampouco obrigatórios, de modo que demandam 
declaração expressa e fundamentada constante da sentença condenatória. 
 
 
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EFEITOS DA CONDENAÇÃO 
CÓDIGO PENAL LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 
Tornar certa a obrigação de indenizar o 
dano causado pelo crime (art. 91, I do CP); 
Tornar certa a obrigação de indenizar o dano 
causado pelo crime (efeito obrigatório de 
qualquer sentença penal com trânsito em 
julgado), devendo o juiz, a requerimento do 
ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para 
reparação dos danos (material, moral, estético) 
causados pela infração, considerando os 
prejuízos por ele sofridos (semelhante ao art. 
384, IV do CPP, a única diferença é a necessidade 
de requerimento do ofendido). 
A perda em favor da União, ressalvado o 
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: 
a) dos instrumentos do crime, desde que 
consistam em coisas cujo fabrico, alienação, 
uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; 
b) do produto do crime ou de qualquer bem 
ou valor que constitua proveito auferido 
pelo agente com a prática do fato 
criminoso. 
 
 
A inabilitação para o exercício de cargo, 
mandato ou função pública, pelo período de 1 
(um) a 5 (cinco) anos. 
Não é efeito automático, deve ser declaro na 
sentença. E, ainda, o agente público deverá ser 
reincidente em crime de abuso de autoridade. 
A perda de cargo, função pública ou 
mandato eletivo: a) quando aplicada pena 
privativa de liberdade por tempo igual ou 
superior a um ano, nos crimes praticados 
com abuso de poder ou violação de dever 
para com a Administração Pública; b) 
quando for aplicada pena privativa de 
liberdade por tempo superior a 4 (quatro) 
anos nos demais casos 
A perda do cargo, do mandato ou da função 
pública. 
Não é efeito automático, deve ser declaro na 
sentença 
Além disso, aqui, não há exigência de 
condenação à pena privativa de liberdade e nem 
tempo de pena. Contudo, o agente público 
deverá ser reincidente em crime de abuso de 
autoridade. 
 
Vamos analisar os efeitos previstos na Lei de Abuso de Autoridade? 
 
∘ Inciso I - Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a 
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela 
infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; 
 
A obrigação de reparar o dano causado pelo crime é um efeito extrapenal genérico e obrigatório 
em relação aos crimes de abuso de autoridade. 
Obs.: A segunda parte (“a requerimento do ofendido fixar valor mínimo para reparação dos 
danos...”) é um efeito específico e não automático, que deve ser expressamente mencionado na sentença. 
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Se a vítima não requerer, caberá a ela tão somente liquidar, no juízo cível, a sentença penal condenatória, 
que funciona como um título executivo judicial. Portanto, prevalece que este pedido deve constar 
expressamente da denúncia ou queixa. 
Obs.: esse efeito equivale ao efeito previsto no art. 91, I do CP, no entanto, em razão do princípio da 
especialidade, em se tratando de crimes de abuso de autoridade, deve-se aplicar o efeito previsto nessa lei. 
Compare: 
 
 Art. 91 - São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; 
 
∘ Inciso II - A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 
5 (cinco) anos; 
 
∘ Inciso III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. 
 
Os efeitos da condenação previstos nos incisos II e III são ESPECÍFICOS e NÃO AUTOMÁTICOS, pois 
dependem de motivação específica na sentença, conforme prevê o próprio §único da lei. 
Além disso, o §único também prevê que só será possível o juiz implementar tais efeitos se houver 
reincidência específica em crimes de abuso de autoridade. 
Obs.: Segundo Renato Brasileiro, em que pese serem efeitos específicos, não há necessidade de que 
o Ministério Público formule pedido expresso na denúncia, tendo em vista que a aplicação do efeito decorre 
de expressa previsão legal. Em suas palavras: 
 
“Na verdade, exige-se que o magistrado aponte a necessidade e adequação de tal 
medida às circunstâncias fáticas que deram ensejo à condenação do acusado. 
Enfim, deve a sentença declarar, motivadamente, os fundamentos da inabilitação 
ou da perda do cargo, mandato ou função, em fiel observância ao art. 93, IX, da 
Constituição Federal, sob pena de reconhecimento da nulidade do dispositivo da 
sentença condenatória em relação a esse ponto. Em conclusão, a despeito de 
necessidadede motivação na sentença, a aplicação desses efeitos específicos não 
está condicionada à formulação de pedido expresso na denúncia, vez que decorre 
de previsão legal expressa.” 
 
Obs.: Essas consequências jurídicas extrapenais são decorrentes de sentença penal condenatória 
irrecorrível. Isso não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente 
homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. 
 
 
 
 
 
 
 
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Vamos esquematizar? 
TORNAR CERTA A OBRIGAÇÃO DE REPARAR 
O DANO 
• Efeito genérico (1ª parte) 
• Efeito específico (2ª parte) 
• Não precisa de fundamentação na 
sentença 
INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO 
• Efeito específico 
• Depende de fundamentação expressa 
na sentença condenatória 
• Condicionada à reincidência específica 
em crimes da Lei de Abuso de 
Autoridade. 
 
PERDA DO CARGO, DO MANDATO OU DA 
FUNÇÃO PÚBLICA 
 
Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: Teórcrito, servidor público municipal, foi 
condenado por abuso de autoridade, nos termos da Lei nº 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), tendo 
sido reconhecida sua reincidência em crime da mesma espécie. Assim, tem-se como efeito automático da 
sentença a perda do cargo público. 
 
10. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS 
 
Primeiramente, deve-se lembrar que as penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas à 
pena privativa de liberdade. Isso quer dizer que não se pode admitir que alguém seja condenado a cumprir 
determinada pena privativa de liberdade e, simultaneamente, ao cumprimento de penas restritivas de 
direito. 
A Lei 13.689/2019 elenca apenas 2 penas restritivas de direito, de modo que, na hipótese de alguém 
ser condenado pelo crime de abuso de autoridade, as únicas penas restritivas de direito que podem ser 
aplicadas são a prestação de serviços à comunidade e a suspensão do exercício do cargo, função ou 
mandato pelo prazo de 1 a 6 meses, não podendo aplicar nenhuma outra pena restritiva de direitos, ainda 
que prevista no Código Penal. 
 
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade 
previstas nesta Lei são: 
I - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; 
II - Suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 
(um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; 
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou 
cumulativamente. 
 
 
 
 
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ATENÇÃO: Caso um agente público tenha sido condenado a 2 anos por um crime de abuso de autoridade, e 
tenha havido a substituição por 2 penas restritivas de direito (art. 44, §2º), ele vai prestar serviços à 
comunidade e ficar suspenso do exercício do cargo. 
O período da prestação de serviços é o mesmo da pena privativa de liberdade fixado, nesse caso hipotético, 
2 anos (art. 55). Lembrando que é facultado ao réu cumprir a PRD em um tempo menor, mas nunca inferior 
à metade da pena privativa de liberdade fixada. 
 
Código Penal. Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às 
condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. 
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em 
menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. 
 
Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração 
da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46. 
 
No entanto, a Lei 13.869/19 não trouxe os requisitos a serem cumpridos para que haja a substituição 
da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos. Nesse sentido, diante do silêncio da lei 
especial, aplica-se o Código Penal quanto aos requisitos cumulativamente considerados para efetuar a 
substituição, quais sejam: 
• Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for 
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, 
se o crime for culposo. 
 Na Lei de Abuso de Autoridade não existem crimes culposos, todos os crimes são 
dolosos e a pena máxima prevista é de 4 anos; 
 
• O réu não for reincidente em crime doloso. 
 Em regra, o réu não pode ser reincidente em crime doloso. No entanto, em 
havendo reincidência em crime doloso, será possível substituir a PPL por PRD caso 
a substituição seja socialmente recomendável, e desde que não se trate de 
específica. (art. 44, §3º) 
 
• A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem 
como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. 
 Não se exige a análise das consequências do crime e do comportamento da vítima. 
 
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas 
de liberdade, quando: 
I – Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não 
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena 
aplicada, se o crime for culposo; 
II – O réu não for reincidente em crime doloso; 
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III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do 
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa 
substituição seja suficiente. 
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por 
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa 
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou 
por duas restritivas de direitos. 
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde 
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e 
a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. 
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando 
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena 
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena 
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou 
reclusão. 
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz 
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for 
possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. 
 
ATENÇÃO!!! CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR! 
 
A suspensão do exercício de cargo, mandato ou função, prevista no art. 5°, inciso II, da Lei n. 
13.869/19 não se confunde com a medida cautelar diversa da prisão de suspensão do exercício de função 
pública prevista no art. 319, inciso VI, do CPP. 
 
• Suspensão do exercício de cargo, mandato ou função (como PRD) - é espécie de pena restritiva de 
direito, aplicável, portanto, ao final do processo em substituição à pena privativa de liberdade 
• Suspensão do exercício de função pública (como medida cautelar) - é espécie de medida cautelar, 
passível de decretação durante a investigação preliminar ou no curso do processo, desde que 
presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis (necessidade para aplicação da lei penal, 
para a investigação ou a instrução criminal ou para evitar a prática de infrações penais). 
 
11. DAS SANÇÕES CÍVEIS E ADMINISTRATIVAS 
 
Art. 6° As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das 
sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. 
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta 
funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. 
 
Em regra, os crimes cometidos com abuso de autoridade não afetam somente o sujeito passivo do 
delito, mas afetam também a administraçãopública em suas várias facetas, agredindo vários princípios 
constitucionais implícitos e explícitos. 
Nesse sentido, a doutrina define que o sujeito passivo dos crimes de abuso de autoridade, ao menos 
mediatamente, é também a própria administração pública, de modo que a conduta faz ensejar também 
responsabilidade civil e administrativa, sem que isso configure bis in idem. 
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Assim, considerando o princípio da independência das instâncias, o agente pode receber três 
espécies de sanção: administrativa, cível e penal, sem que isso configure bis in idem. Tais sanções são 
autônomas e podem ser aplicadas cumulativamente. 
 
Veja a explicação do professor Renato Brasileiro: 
 
(...) Por outro lado, a depender da gravidade do abuso de autoridade cometido pelo 
agente público, é perfeitamente possível a utilização de técnicas distintas para a 
proteção dos bens jurídicos tutelados, hipótese em que o agente estará sujeito às 
sanções passíveis de aplicação não apenas pelo Direito Penal, mas também pelo 
Direito Administrativo Sancionador e pelo Direito Civil. Nesse caso, não há falar 
em violação ao princípio do ne bis in idem. Afinal, estamos diante de ilícitos de 
natureza diversas, cujas sanções devem ser aplicadas pelas respectivas autoridades 
competentes, sempre respeitando-se o princípio do devido processo legal.” 
 
12. EFEITOS CIVIS DA ABSOLVIÇÃO PENAL 
 
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, 
não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando 
essas questões tenham sido decididas no juízo criminal. 
 
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, 
a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de 
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no 
exercício regular de direito. 
 
No art. 7º, o legislador exarou dois posicionamentos importantes. Veja: 
1) A já referida independência entre as esferas 
2) A materialidade e a autoria, após decididas no juízo criminal, não podem ser mais questionadas 
em qualquer esfera. 
 
Assim, é possível concluir que a sentença absolutória não exerce qualquer influência sobre o processo 
cível e administrativo (em razão da independência das instâncias), SALVO quando reconhece, 
categoricamente, a inexistência material do fato ou afasta peremptoriamente a autoria ou participação, 
hipóteses em que não caberá qualquer questionamento nas demais esferas. 
No mesmo sentido, se o crime de abuso de autoridade for praticado no bojo de uma excludente de 
ilicitude real (não é valido para excludentes de ilicitude putativas), também não caberá qualquer 
questionamento nas instâncias civil ou administrativa. Em outras palavras, o reconhecimento de uma causa 
excludente de ilicitude delimitada no artigo 23 do Código Penal, em sentença penal definitiva, obsta a 
rediscussão do assunto na esfera cível e administrativo-disciplinar, gerando a eficácia preclusiva 
subordinante. 
Mas CUIDADO! O que este artigo veda é a rediscussão sobre a existência ou não da excludente de 
ilicitude, porém, nada impede que, na análise do caso concreto, ainda que reconhecida a excludente no 
âmbito criminal, busque no cível a devida reparação. Inclusive, no caso de estado de necessidade agressivo, 
USE A #DESAFIO7DD 
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em que o bem sacrificado é de terceiro e não do causador do perigo, embora seja reconhecido no âmbito 
penal o estado de necessidade, no âmbito cível é sempre possível a cobrança de indenização. 
 
Tais ensinamentos também estão em consonância com os artigos 65 e 66 do CPP. Veja: 
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento 
de dever legal ou no exercício regular de direito. 
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá 
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência 
material do fato. 
 
Vamos esquematizar? 
NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE... NAS DEMAIS INSTÂNCIAS... 
Inexistência material do fato 
 
FAZ COISA JULGADA: Não podem mais ser 
questionadas no âmbito cível ou 
administrativo. 
 
Negativa de autoria 
Legítima defesa 
Estado de Necessidade 
Exercício Regular do Direito 
Estrito Cumprimento do Dever legal 
 
13. DA PARCIAL INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA 
 
No que pese o princípio da presunção de constitucionalidade das leis, em virtude de sua legitimidade 
e do processo legislativo a qual sua confecção é exposta, importa deixar claro que há pendência de diversas 
ADI’s que tem como objeto a nova lei de abuso de autoridade. 
Em comum, as ações diretas alegam que a norma criminaliza a atuação funcional de funcionários 
públicos e fere a independência e a autonomia de juízes, promotores, procuradores de Justiça e do Ministério 
Público Federal, ou seja, defende-se que trata de norma criadora de “crimes de hermenêutica”, tratados de 
forma abjeta pelo direito penal e pelo Estado democrático de direito. 
Na ADI 6238, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), a Associação 
Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e a Associação dos Procuradores da República (ANPR) 
sustentam que, conforme a lei, é possível que promotores sejam julgados por investigar, processar e requerer 
providências judiciais. Argumentam, entre outros pontos, que tipos penais criados pela nova legislação “são 
extremamente vagos, imprecisos, indeterminados e abertos, possibilitando as mais diversas interpretações 
do que constituiria crime de abuso de autoridade”. Para elas, os dispositivos atingem princípios do serviço 
público, como os da eficiência, publicidade, moralidade e legalidade, e ferem os princípios da razoabilidade, 
da proporcionalidade, da isonomia, da liberdade de expressão e da separação dos Poderes. 
Já a ADI 6239 foi proposta pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), com a alegação de 
que os dispositivos contestados avançam indevidamente no espaço próprio de atuação dos membros do 
Poder Judiciário mediante a criação de tipos penais que passam a incidir sobre a sua conduta no exercício da 
prestação jurisdicional. A entidade também afirma que as atividades dos juízes devem ser disciplinadas por 
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lei complementar, conforme estabelece a Constituição Federal, e não em lei ordinária, como no caso. Por 
fim, a Ajufe sustenta que a criminalização das condutas de magistrados enfraquece o Poder Judiciário e viola 
princípios e garantias constitucionais, a exemplo do livre convencimento motivado. 
As ADIs 6238 e 6239 foram distribuídas, por prevenção, ao ministro Celso de Mello, que já relata 
outras duas ações que tratam do mesmo assunto - a ADI 6234, ajuizada pela Associação Nacional dos 
Auditores Fiscais de Tributos dos Municípios e Distrito Federal (Anafisco), e a ADI 6236, de autoria da 
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). 
Por óbvio, não se deve se ater aos pormenores da constitucionalidade em abstrato dos artigos 
objetos da ADI, entretanto é premente conhecê-los, pois, o posicionamento eventual da jurisprudência pode 
torna-los preferenciais para eventual cobrança em fases preliminares dos concursos para delegado de polícia. 
As ações diretas de inconstitucionalidade visam declarar inconstitucionais os artigos 9º, parágrafo 
único, I, II, III, artigo 10, artigo 19, artigo 20, artigo 27 e seu parágrafo único, artigo 30, artigo 32, artigo 33, 
artigo 36, e artigo 43, abaixo elencados. 
 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade 
com as hipóteses legais: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de 
prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II- substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder 
liberdade provisória, quando manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado 
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à 
autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou 
das circunstâncias de sua custódia: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com 
seu advogado: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de 
infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer 
indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa: 
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa 
causa fundamentada ou contra quem sabe inocente: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de 
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer 
outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim 
como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a 
diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo 
seja imprescindível: 
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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer 
ou de não fazer, sem expresso amparo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em 
quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da 
dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, 
deixar de corrigi-la: 
 
14. DOS CRIMES EM ESPÉCIE NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 
 
14.1 Decretar Medida de Privação de Liberdade em Desconformidade com a Lei – Art. 9, Caput 
 
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade 
com as hipóteses legais: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de 
prazo razoável, deixar de: 
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder 
liberdade provisória, quando manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. 
 
ANÁLISE DO CAPUT: 
a) Bem jurídico tutelado: O crime do art. 9°, caput, tutela não apenas a Administração Pública, mas também 
a liberdade de locomoção do indivíduo (CF, art. 5°, incisos XV e LXI), diretamente prejudicado pela decretação 
de medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais. 
 
b) Sujeito do delito 
• Sujeito Ativo: Em relação ao sujeito ativo, podemos citar duas correntes doutrinárias. 
 
 1ª C – Apenas o juiz poderá ser o sujeito ativo, tendo em vista que é o único capaz de 
decretar uma medida de privação de liberdade (por se tratar de tema afeto à cláusula de 
reserva de jurisdição). 
 2ª C – Para o caput do art. 9º qualquer agente público pode ser sujeito ativo. O núcleo verbal 
“decretar” foi utilizado em sentindo amplo, devendo ser entendido como determinar, 
decidir, ordenar. Ademais, apenas o parágrafo único se refere à autoridade judiciária, não 
havendo restrição no caput. Ex.: Delegado de Polícia que ordena a prisão em flagrante delito 
fora das hipóteses legais pratica o crime do art. 9º, caput. (Prevalece!) 
 
Enunciado 5 do CNPG e do GNCCRIM: “O sujeito ativo do art. 9º, caput, da Lei de 
Abuso de Autoridade, diferentemente do parágrafo único, não alcança somente 
autoridade judiciária. O verbo núcleo ‘decretar’ tem o sentido de determinar, 
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decidir e ordenar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade 
com as hipóteses legais”. 
 
• Sujeito passivo: É o cidadão que tem o seu direito de locomoção violado por uma autoridade, 
que exorbita de seu poder. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado 
figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente). 
c) Medida de privação da Liberdade 
 O que o artigo quis dizer com medida de privação da liberdade? 
R.: Trata-se de uma expressão ampla que abrange: 
 Prisão em flagrante 
 Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva); 
 Prisão penal (que resulta de sentença condenatória transitada em julgado) 
 Medidas cautelares diversas da prisão 
 Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP); 
 Prisão do militar nos casos de transgressão disciplinar ou crime propriamente militar 
 Semiliberdade (art. 120 do ECA); 
 Internação (art. 121 do ECA); 
 Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001) 
 
Obs.: é indispensável que a medida decretada seja teratológica, ou seja, que se trate de uma 
ilegalidade chapada, manifesta, flagrante, justamente para não cair na hipótese de ser um crime de 
hermenêutica, como visto anteriormente. 
Ex.: Se um juiz da instrução e julgamento de primeira instância decretar, de ofício, a prisão 
temporária de alguém durante a fase processual, em virtude da prática de um crime de ameaça, parece não 
haver qualquer dúvida de que se trata de decisão em manifesta desconformidade com as hipóteses legais, 
ensejando a responsabilização pelo art. 9º, caput da Lei. Isso porque: 
∘ A prisão temporária tem seu âmbito de aplicação restrito à fase investigatória. 
∘ O crime de ameaça não está elencado entre aqueles que admitem a prisão temporária. 
∘ Com o advento do Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), nenhuma espécie de medida cautelar 
pode ser decretada de ofício, seja na fase investigatória, seja na fase processual da 
persecução penal (CPP, art. 282, §§2° e 4°, c/c art. 311). 
 
d) Consumação 
Trata-se de crime formal que se consuma no momento em que a autoridade profere a decisão que 
decreta a ilegal prisão de alguém, ainda que tal medida de privação de liberdade não se concretize. 
Portanto, não há necessidade da efetiva privação da liberdade do indivíduo, que, se vier a ocorrer, 
deverá ser compreendida como mero exaurimento do crime. 
 
e) Pena: 
Não se trata de infração de menor potencial ofensivo 
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Como o crime é praticado sem violência ou grave ameaça, e a pena cominada é até 4 anos, é possível 
que seja oferecido o acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP). 
Não sendo cabível o acordo de não persecução penal, poderá haver suspensão condicional do 
processo, já que requisito básico é a pena mínima de 1 ano. 
 
ANÁLISE DO §ÚNICO – CONDUTAS EQUIPARADAS: 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de 
prazo razoável, deixar de: 
I - Relaxar a prisão manifestamente ilegal; 
II - Substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder 
liberdade provisória, quando manifestamente cabível; 
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. 
 
a) Conduta: Perceba que se trata de um crime omisso próprio, tendo em vista que o verbo do tipo 
é “deixar de”. Assim, haverá crime quando a autoridade deveria ter praticado determinada 
conduta, mas se omitiu. 
 
 LEMBRANDO QUE OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE EXIGEM DOLO GENÉRICO 
+ DOLO ESPECÍFICO! 
 
Para não incorrer no crime em questão, a autoridade judiciária deve decidirdentro de prazo razoável. 
No entanto, a Lei não definiu o que seria prazo razoável. Vejamos, então, as soluções trazidas pela doutrina: 
Quando a referida decisão é proferida em sede de audiência de custódia - deve-se levar em 
consideração o prazo de 24h previsto no art. 310, CPP, com redação determinada pela Lei n. 13.964/19 
 
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 
(vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência 
de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da 
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz 
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
I - relaxar a prisão ilegal; ou 
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
 
Caso não tenha ocorrido audiência de custódia - a doutrina entende que o prazo será de até 48h, 
nos termos do art. 322, parágrafo único do CPP, já que a fiança é uma das cautelares diversas da prisão, 
portanto, seria possível aplicar para as demais hipóteses. 
 
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de 
infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) 
anos. 
 Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá 
em 48 (quarenta e oito) horas. 
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b) Sujeito ativo: crime próprio 
 Apenas o juiz poderá ser sujeito ativo, podendo ser o juiz das garantias (decisão proferida na 
fase investigatória – embora esteja com eficácia suspensa) ou o juiz da instrução e do julgamento, 
assim como desembargadores e Ministros. 
Ex.: Se o réu está preso preventivamente há 90 dias sem que tenha sido reavaliada a necessidade da 
restrição de liberdade, poderá acarretar uma prisão manifestamente ilegal e, consequentemente, a prática 
do crime de abuso de autoridade. Lembrando que, em outubro/2020, o STF entendeu que a ausência de 
revisão da prisão não acarreta sua revogação automática! 
Obs.: Em relação ao inciso III (deixar de conceder liminar ou HC quando cabível), não se esqueça que 
um juiz de primeira instância também pode incorrer nesta conduta, como, por exemplo, na hipótese de haver 
um HC impetrado em face de um delegado de polícia. 
 
c) Consumação: 
O delito estará consumado quando a autoridade judiciária: 
1) Deixar de relaxar a prisão manifestamente ilegal dentro de prazo razoável. (Inc. I) 
2) Deixar de substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa da prisão ou de 
conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível, dentro de prazo razoável 
(inc. II). 
3) Deixar de deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível, 
dentro de prazo razoável (inc. III). 
Por se tratar de crime omissivo próprio, a tentativa é inadmissível. É dizer, se ainda não houve o 
decurso do prazo razoável para que o magistrado proferisse sua decisão, não há falar em tentativa, pois 
sequer teve início a execução do delito. Porém, expirado o prazo razoável, se a autoridade judiciária 
permanecer inerte, o delito já estará consumado. 
 
Obs.: NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 
O art. 310 do CPP, com a redação dada pelo pacote anticrime, prevê a realização da audiência de 
custódia. Por sua vez, o §3º determina que a autoridade que deixar de realizar a audiência de custódia, sem 
motivação idônea, responderá administrativa, civil e penalmente. Vejamos: 
 
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da 
audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá 
administrativa, civil e penalmente pela omissão 
 
Diante disso, indaga-se: a não realização de audiência de custódia configura crime de abuso de 
autoridade? 
 
 1ªC – o parágrafo único do art. 9º da Lei 13.869/2019 não previu a não realização de custódia 
como crime de abuso de autoridade, por isso não poderá ser tipificado. Além disso, é 
possível conceder liberdade provisória, o que não causará prejuízo à pessoa presa. 
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 2ªC – de fato a Lei de Abuso de Autoridade não previu a não realização de audiência de 
custódia. Contudo, o §4º do art. 3101 prevê que, transcorrido o prazo de 24h após o decurso 
do prazo em que deveria ter sido realizada a audiência de custódia (24h da prisão), a prisão 
passa a ser ilegal, devendo ser relaxada. Perceba, portanto, que estaremos diante da 
hipótese prevista no inciso I, do parágrafo único, do art. 9º da Lei 13.869/2019. 
 
Conclui-se, assim, que o crime, em si, não seria a não realização da audiência de custódia, mas sim o 
fato da não realização da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão, e o juiz se omitir quanto ao 
dever de relaxamento em prazo razoável. 
 
14.2 Decretação de Condução Coercitiva Investigado Manifestamente Descabida ou sem Prévia Intimação 
de Comparecimento ao Juízo – Art. 10. 
 
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado 
manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
a) Conceito: Condução coercitiva consiste em uma medida cautelar pessoal, diversa da prisão, em que há a 
condução de determinada pessoa contra a sua vontade para prática de um ato que depende da sua presença. 
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: 
 
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, 
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a 
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. 
 
 
Obs.: O STF, na ADPF 395/DF, firmou entendimento de que a condução coercitiva do investigado ou 
do réu para interrogatório no âmbito da investigação ou da ação penal não foi recepcionada pela CF/88. 
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi 
recepcionada pela Constituição Federal, tendo em vista, dentre outros fundamentos, o princípio da 
presunção de inocência e a liberdade de locomoção. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de 
investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: 
✓ A responsabilidade disciplinar e civil do agente ou da autoridade 
✓ A ilicitude das provas obtidas 
✓ A responsabilidade civil do Estado 
✓ Crime de abuso de autoridade previsto no art. 10. 
 
 
1 § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não 
realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela 
autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. (Incluído pela 
Lei nº 13.964, de 2019) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
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Portanto, manifestamente descabida será a condução do investigado para fins de interrogatório. 
Como a decisão do STF possui efeito vinculante, não se aplica o art. 1º, §2º da Lei 13.869/2019, que versa 
sobre o crime de hermenêutica. 
 
Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM 
 
Enunciado 6 - Os investigados e réus não podem ser conduzidos coercitivamente à 
presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados. Outras 
hipóteses de condução coercitiva, mesmo de investigados ou réus para atos 
diversos do interrogatório, são possíveis, observando-se as formalidades legais. 
 
Enunciado 7 - A condução coercitiva pressupõe motivação e descumprimento de 
prévia notificação. 
 
b) Sujeito ativo: 
 Prevalece na doutrina que somente a autoridade judiciária pode decretar a condução coercitiva, 
haja vista se tratar de evidente espécie de supressão absoluta, ainda que temporária,da liberdade de 
locomoção, sujeita, portanto, à cláusula de reserva de jurisdição, nos termos do art. 5°, inciso LXI. 
Obs.: Na eventualidade de a condução coercitiva ser decretada no curso da fase de investigação, o 
juiz competente será o juiz das garantias. 
 
c) Sujeito passivo: 
 Só podem ser sujeito passivo do crime em questão as TESTEMUNHAS (mesmo que o STF não tenha 
inviabilizado a condução coercitiva das testemunhas) e o INVESTIGADO. 
⦁ Assim, a condução coercitiva do ofendido ou do perito, por exemplo, não enseja crime de 
abuso de autoridade, pois caracterizaria espécie de analogia in malan partem. 
⦁ Sujeito passivo indireto ou mediato é o Estado 
⦁ E o ACUSADO? 
Márcio Cavalcante acredita que o STJ responderá que o termo investigado abrange 
o acusado. Isso porque existem precedentes daquele Tribunal analisando o crime 
do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 e dizendo que a palavra “investigação” não 
se limita à fase do inquérito policial. A “investigação” da infração penal se prolonga 
durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a 
ação penal iniciada com o recebimento da denúncia: 
 (...) 3. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 
12.850/13 cinge-se à fase do inquérito, não deve prosperar, eis que as investigações 
se prolongam durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito 
policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da denúncia. Com efeito, 
não havendo o legislador inserido no tipo a expressão estrita "inquérito policial", 
compreende-se ter conferido à investigação de infração penal o sentido de 
persecução penal, até porque carece de razoabilidade punir mais severamente a 
obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução da ação penal. 
Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o 
contraditório diferido, de tal sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal 
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como dois momentos absolutamente independentes da persecução penal. (...) STJ. 
5ª Turma. HC 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019. 
 
d)Conduta: Somente haverá abuso de autoridade quando a condução coercitiva de testemunha ou 
investigado for decretada em uma das seguintes hipóteses alternativas: 
⦁ Condução coercitiva manifestamente descabida 
⦁ Sem prévia intimação de comparecimento ao juízo 
 
Nas palavras do professor Renato brasileiro: 
“A doutrina processual penal sempre impôs, como condição sine qua non para a 
condução coercitiva de alguém, prévia intimação para comparecimento à Polícia 
(ou ao juízo). De fato, se alguém está sendo privado de sua liberdade de locomoção, 
ainda que momentaneamente, para a prática de determinado ato investigatório 
(ou processual), isso deveria ocorrer tão somente após uma tentativa frustrada de 
comparecimento voluntário.” 
 
e)Consumação: 
Trata-se de crime formal que se consuma com a mera prolação da decisão determinando a condução 
coercitiva, ainda que esta não seja concretizada. 
 
14.3 Deixar Injustificadamente de Comunicar Prisão em Flagrante à Autoridade Judiciária no Prazo Legal 
 
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade 
judiciária no prazo legal: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
I - Deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou 
preventiva à autoridade judiciária que a decretou; 
II - Deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde 
se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; 
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de 
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e 
das testemunhas; 
IV - Prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de 
prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo 
justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após 
recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou 
legal. 
 
a) Introdução sobre o dever de comunicação: 
A própria CF/88 prevê, no art. 5º, LXII, como uma garantia processual constitucional, a comunicação 
da prisão ao juiz (das garantias), à família ou a pessoa por ele indicada. 
 
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LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele 
indicada; 
 
A ausência dessa comunicação acarreta o obrigatório relaxamento da prisão? Ou será que se trata 
de mera irregularidade, sem o condão de determinar o relaxamento da prisão? Há divergência sobre o tema: 
⦁ Tribunais Superiores: Há julgados antigos do STF e STJ, segundo os quais a ausência de 
comunicação da prisão à autoridade judiciária não teria o condão de excluir a legalidade da 
prisão, gerando tão somente responsabilidade funcional e criminal por parte da autoridade 
que presidiu o auto de prisão em flagrante. 
⦁ Doutrina amplamente majoritária: a ausência de comunicação do flagrante à autoridade 
judiciária configura grave violação a preceito constitucional (CF, art. 5°, LXII), gerando a 
perda da força coercitiva do auto de prisão, e o consequente relaxamento da prisão. 
 
 Obs.: No entanto, eventual relaxamento da prisão em flagrante por conta da ausência de 
comunicação ao juiz das garantias não impede a imposição de medidas cautelares de natureza pessoal, 
inclusive a própria prisão preventiva (ou temporária), desde que presentes seus pressupostos legais, inclusive 
o requerimento por parte da autoridade policial ou do MP. 
 
b) Conduta: Vamos analisar os verbos contidos no caput e no §único (condutas equiparadas) para 
melhor compreensão e memorização: 
 
 Trata-se de crime omissivo próprio na medida em que: 
 
 1) A autoridade policial deixa de comunicar, injustificadamente, à autoridade judiciária, no prazo legal, a 
ocorrência de: 
⦁ Prisão em flagrante 
⦁ Prisão temporária 
⦁ Prisão preventiva 
 
2) A autoridade policial deixa de comunicar à família ou à pessoa indicada; 
⦁ A prisão do indivíduo 
⦁ Local onde se encontra 
 
3) A autoridade policial deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas: 
⦁ A nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor 
e das testemunhas; 
 
 A própria Constituição garante ao preso o direito de identificação dos responsáveis por sua prisão, 
visando inibir a tortura e eventuais abusos, através do recebimento da nota de culpa nos casos de prisão em 
flagrante. Assim, a ausência da entrega da nota de culpa, desde que presente o especial fim de agir, 
caracterizará o crime de abuso de autoridade 
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Em regra, da nota de culpa deverá constar o nome do condutor e de testemunhas. 
Porém, as Lei 12.880/13 e 9.807/99 prevêem a possibilidade de ocultar os nomes 
das testemunhas com o intuito de protegê-la. 
 
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Enunciado 8 - Com o fim de preservar a sua identidade, imagem e dados pessoais, 
é possível, nas exceções legais, que da nota de culpa não conste o nome do 
condutor, das testemunhas e das vítimas. 
 
4) A autoridade policial deixa de executar alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover 
a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. 
⦁ Prologando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, a execução de pena privativa de 
liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de 
internação. 
 
Obs.: O crime do inciso IV, diferente dos incisos anteriores e do caput, é um crime permanente, 
porque a autoridade prolonga a execução da pena privativa de liberdade, deixando, sem motivo 
justo, de executar o alvará

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