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DESAFIO 07 DIAS DEDICAÇÃO DELTA DIA 01 1 DIA 01 DESAFIO 07 DIAS DEDICAÇÃO DELTA DIA 01 2 Futuro(a) Delegado(a) Te convidamos para participar do Desafio 07 dias DEDICAÇÃODELTA. Ao longo dos próximos 07 dias iremos fornecer metas variadas de estudos com os respectivos materiais para que você possa se aperfeiçoar e aprender sobre alguns dos temas mais importantes relacionados à concursos de Delegado de Polícia. Nossa proposta é que ao final do desafio você fique mais preparado para encarar as bancas examinadoras. Afinal, gestão e planejamento de estudos é nossa especialidade. Apenas precisamos que você faça uma única coisa: se comprometa. Leia os materiais que forneceremos, estude-os com afinco e absorva seus conteúdos. Ficar no status quo ou trilhar o caminho rumo à aprovação. A escolha é sua. Vamos juntos! Equipe DedicaçãoDelta USE A #DESAFIO7DD DIA 01 3 Sumário LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE................................................................... 5 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 6 2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................................................ 7 3. CONCEITO ................................................................................................................................................ 8 4. SUJEITO ATIVO DO DELITO ....................................................................................................................... 8 5. SUJEITO PASSIVO ....................................................................................................................................10 6. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................................................11 7. DA AÇÃO PENAL ......................................................................................................................................14 8. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE ..............................15 9. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO ..............................................................................................................16 10. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ..........................................................................................................19 11. DAS SANÇÕES CÍVEIS E ADMINISTRATIVAS ............................................................................................21 12. EFEITOS CIVIS DA ABSOLVIÇÃO PENAL ..................................................................................................22 13. DA PARCIAL INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA ..............................................................................23 14. DOS CRIMES EM ESPÉCIE NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ................................................................25 14.1 Decretar Medida de Privação de Liberdade em Desconformidade com a Lei – Art. 9, Caput ............25 14.2 Decretação de Condução Coercitiva Investigado Manifestamente Descabida ou sem Prévia Intimação de Comparecimento ao Juízo – Art. 10. ...................................................................................................29 14.3 Deixar Injustificadamente de Comunicar Prisão em Flagrante à Autoridade Judiciária no Prazo Legal ...............................................................................................................................................................31 14.4 Constrangimento de Preso ou Detento – Art. 13..............................................................................35 14.5 Constrangimento a depor de pessoa que deva guardar segredo ou resguardar sigilo em razão de função, ministério ou profissão, e figuras equiparadas – Art. 15 ..............................................................38 14.6 Omissão de identificação ou identificação falsa ao preso – Art. 16 ..................................................41 14.7 Submissão de Preso a Interrogatório Policial Durante o Período de Repouso Noturno – Art. 18.......43 14.8 Impedimento ou Retardamento do Envio de Pleito do Preso à Autoridade Judiciária Competente – Art. 19.....................................................................................................................................................44 14.9 Restrição, sem justa causa, da entrevista pessoal ou reservada com seu advogado .........................45 14.10 Manutenção de presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento ................49 14.11 Violação de Domicílio em um contexto de abuso de autoridade – Art. 22 ......................................51 14.12 Fraude processual especial em caso de abuso de autoridade – Art. 23 ..........................................56 14.13 Constrangimento de funcionário ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa morta – Art. 24 .................................................................................................58 14.14 Obtenção de prova por meio manifestamente ilícito – Art. 25 .......................................................60 14.15 Requisição ou Instauração de Procedimento Investigatório sem quaisquer indícios – Art. 27 .........62 USE A #DESAFIO7DD DIA 01 4 14.16 Divulgação de Gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada do investigado ou acusado ..........................................................................................64 14.17 Falsa Informação sobre Procedimento Judicial, Policial, Fiscal ou Administrativo – Art. 29 .............66 14.18 Deflagração de persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente – Art. 30 .................................................................................................................68 14.19 Procrastinação Injustificada de Investigação em Prejuízo do Investigado .......................................69 14.20 Negativa de acesso aos autos de procedimento investigatório e de extração de cópias de documentos ............................................................................................................................................71 14.21 Exigência de informação ou do cumprimento de obrigação sem expresso amparo legal ................73 14.22 Decretação da indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapola exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida e subsequente negativa de correção do excesso.................74 14.23 Demora Demasiada e Injustificada no Exame de Processo de que Tenha Requerido Vista em Órgão Colegiado ................................................................................................................................................76 14.24 Antecipação de Atribuição de Culpa por Meio de Comunicação, Inclusive Rede Social, Antes de Concluídas as Apurações e Formalizada a Acusação – Art. 38 ..................................................................76 15. DEFESA OU RESPOSTA PRELIMINAR ......................................................................................................77 16. VIOLAÇÃO DE DIREITOS E PRERROGATIVAS DO ADVOGADO..................................................................78 17. VIGÊNCIA DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE .............................................................................79 USE A #DESAFIO7DD DIA 01 5 LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA Lei 13.869/2019 inteira CF/88 ⦁ Art. 5º, XLVIII ⦁ Art. 5º, LVI ⦁ Art. 5º, LXII ⦁ art. 5°, LXIV ⦁ Art.5º, LXXVIII ⦁ Art. 109, IV, CF/88 CPP ⦁ Art. 3º-B, II ⦁ Art. 29 ⦁ Art. 157, §1º e 5º ⦁ Art. 207 e 217 ⦁ Art. 239 ⦁ Art. 282, §§2º e 4º ⦁ Art. 289-A ⦁ Art. 306, 310 e 311 ⦁ Art. 319, VI e 322 ⦁ Art. 514 CP ⦁ Art. 13, §2º ⦁ Art. 44 ⦁ Art. 91 e 91-A ⦁ Art. 96, I, CP ⦁ Art. 150 ⦁ Art. 211 ⦁ Art. 243 e seguintes ⦁ Art. 316 e 317 ⦁ Art. 347 OUTROS DIPLOMAS LEGAIS ⦁ Art. 9°, II, alínea "c", Código Penal Militar ⦁ Art. 120 e 121 do ECA ⦁ art. 6º da Lei nº 10.216/2001 ⦁ Art. 1º, Lei 9.455/97 ⦁ art. 7º, XIV, XIX da Lei nº 8.906/94 ⦁ Art. 7º, §10 a §12 da Lei nº 8.906/94 ⦁ Art. 7º-B da Lei nº 8.906/94 USE A #DESAFIO7DD DIA 01 6 ⦁ Art. 82, §1º, LEP ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER! Lei 13.869/2019 ⦁ Art. 1º ⦁ Art. 2º, §único ⦁ Art. 4º, §único ⦁ Art. 7º e 8º ⦁ Art. 12, 15, 18, 21, 27, 29, 31 e 32 CF/88 ⦁ Art. 5º, XLVIII ⦁ Art. 5º, LVI ⦁ Art. 5º, LXII ⦁ art. 5°, LXIV ⦁ Art. 5º, LXXVIII CPP ⦁ Art. 157, §1º e 5º ⦁ Art. 207 ⦁ Art. 217 ⦁ Art. 239 ⦁ Art. 282, §§2º e 4º ⦁ Art. 306, 310 e 311 CP ⦁ Art. 44 ⦁ Art. 91 e 91-A ⦁ Art. 96, I, CP OUTROS DIPLOMAS LEGAIS ⦁ Art. 1º, Lei 9.455/97 1. INTRODUÇÃO A lei em comento tem como finalidade orientar e estabelecer normas de básicas para a tutela e proteção dos usuários de serviços públicos diversos, prestados mediata ou imediatamente pela administração pública direta ou indireta, garantindo o respeito aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, estampados no art. 37 da Constituição de 88. A lei 13.869 se propõe a modernizar o tratamento dado ao abuso de autoridade, visto que a legislação anterior datava de 1965, ano em que o Brasil passava por um período de flexibilização de garantias e o governo estruturava-se a partir de uma cúpula de oficiais superiores das forças armadas, sendo os crimes de USE A #DESAFIO7DD DIA 01 7 abuso de autoridade punidos com penas de detenção que variavam de dez dias a seis meses, afetando claramente o princípio da proporcionalidade em sua faceta de vedação à proteção ineficiente. Nesse sentido, a principal função da Lei nº 13.869/2019 é a prevenção e repressão de comportamentos abusivos de poder, protegendo os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos contra quaisquer abusos e arbitrariedades praticadas por agentes públicos, impondo maior rigor na observância do princípio da legalidade pelo agente público, sob pena de punição em todas as esferas (civil, penal, administrativa). Nas palavras de Renato Brasileiro: De fato, dotada de dispositivos vagos e abertos, a revogada Lei n. 4.898/65 dispensava aos crimes de abuso de autoridade uma sanção penal absolutamente incompatível com o desvalor do injusto, deixando-a, assim, desprovida de qualquer poder dissuasório sobre os agentes públicos. Com efeito, a pena privativa de liberdade cominada aos crimes de abuso de autoridade pelo antigo diploma normativo – detenção, por 10 (dez) dias a 6 (seis) meses (art. 6º, §3º, alínea “b”) – já não guardava mais compatibilidade com a gravidade de tais condutas, pois tratava a integralidade desses crimes como infrações de menor potencial ofensivo, logo, da competência dos Juizados Especiais Criminais, sujeitos, portanto, aos institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95. Contribuía, ademais, para o advento da prescrição da pretensão punitiva, que, in casu, ocorria em apenas 3 (três) anos, consoante disposto no art. 109, inciso VI, do Código Penal, com redação dada pela Lei n. 12.234/10 2. BEM JURÍDICO TUTELADO A Lei n. 13.869/19 pretende, na realidade, abranger dois aspectos distintos (crime pluriofensivo): 1) Direitos fundamentais do cidadão: A depender do delito em questão, visa proteger, diretamente: Liberdade de locomoção (arts. 9º, 10, 12, etc.), Liberdade individual (arts. 13, 15, 18, etc.), Direito à assistência de advogado (arts. 20, 32, etc.), Intimidade ou a vida privada (arts. 22, 28, 38); 2) Protege, ainda, indiretamente, o bom funcionamento do Estado, bem como o dever do funcionário público de conduzir-se com lealdade e probidade, preservando-se, assim, princípios básicos da Administração Pública. Nas palavras de Renato Brasileiro: “A eficiência do Estado está diretamente relacionada à credibilidade, honestidade e probidade de seus agentes, pois a atuação do corpo funcional reflete-se na USE A #DESAFIO7DD DIA 01 8 coletividade, influenciando decididamente na formação ético-moral e política dos cidadãos, especialmente no conceito que fazem da organização estatal. Daí a importância de se coibir todo e qualquer desvio funcional, enfim, de toda e qualquer conduta que, a pretexto de atender ao interesse público, visa à satisfação de interesse pessoal do agente público, importando em evidente desvio de finalidade.” 3. CONCEITO Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê- las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. O conceito de abuso de poder é um gênero de ato ilícito cometido pela autoridade, podendo ser dividido em duas espécies: ⦁ Excesso de poder - o agente público atua sem competência, seja por sua total ausência, seja por extrapolar os limites da competência que lhe foi legalmente atribuída. O ato pode ser considerado válido até o limite em que não foi extrapolada a competência, exceto se o excesso o comprometer inteiramente. ⦁ Desvio de poder – é caracterizado quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. Em ambas as hipóteses, a tipificação do delito está condicionada, como deixa entrever o caput do art. 1º, ao fato de o agente público praticar a conduta em questão no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. Ou seja: deve haver a correlação entre o abuso e as funções desempenhadas pelo agente. 4. SUJEITO ATIVO DO DELITO Quem pode praticar o crime de abuso de autoridade? O artigo 2º traz um rol exemplificativo de sujeitos ativos para o crime de abuso de autoridade, que tem por característica ser um crime próprio, tendo em vista que se exige uma característica específica para que o agente incorra no tipo penal, qual seja, ser agente público, independentemente de ser servidor ou não. A utilização da expressão “compreendendo, mas não se limitando” deixa claro o caráter exemplificativo do rol, entretanto, deve-se atentar para a utilização da expressão “taxativo, mas não exaustivo”, utilizada em recentes decisões do Superior Tribunal De Justiça, para que eventual questão objetiva não cause confusão ou estranheza. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 9 Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo [norma penal explicativa] Para a doutrina, o conceito de funcionário público previsto no art. 327 do CP não se aplica à Lei de Abuso de Autoridade, pois o conceito trazido pela novel lei é muito mais amplo do que aqueleprevisto no Código Penal. Isso porque, para ser considerado autoridade para fins da Lei 13.869/2019, basta que o agente tenha algum vínculo com o Estado, pouco importando a forma de investidura, e ainda que não seja detentor de estabilidade ou de remuneração. Ressalta-se que NÃO são considerados agentes públicos aqueles que exercem apenas um múnus público (função privada com interesse público), como, por exemplo: Curadores e tutores dativos Inventariantes judiciais Administradores judiciais Depositários judiciários Leiloeiros dativos Lembrando que, para o STF, os advogados dativos, ou seja, aqueles nomeados pelo Juízo para prestar assistência jurídica aos hipossuficientes no local onde não há Defensoria Pública devidamente instalada, podem ser considerados funcionários públicos para fins penais, motivo pelo qual podem praticar o crime de abuso de autoridade. ATENÇÃO! De acordo com a doutrina, para a caracterização dos crimes de abuso de autoridade, não se faz necessário que a conduta seja contemporânea ao exercício efetivo da função. Ou seja: O abuso de autoridade pode ser praticado por qualquer agente público, servidor ou não, que abusa do poder que lhe foi conferido em virtude de uma função que ocupa, ainda que no momento do abuso não esteja exercendo a função. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 10 Explica Renato Brasileiro: “Subsistirá a infração penal, portanto, ainda que o agente se encontre licenciado, em férias ou não tenha assumido o cargo, mas já tenha sido, por exemplo, aprovado no concurso público ou nomeado formalmente para exercer determinada função. É exatamente nesse sentido, aliás, o disposto no art. 1º, caput, da Lei n. 13.869/19, que define como crimes de abuso de autoridade aqueles cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.” Contudo, embora não se exija efetivo exercício funcional no momento da conduta, é imprescindível que o sujeito ativo goze do status de agente público no sentido do art. 2º da Lei n. 13.869/19. Caso contrário, a ele não se poderá imputar o delito. Ex.: É o que ocorre com o funcionário público aposentado, que não pode figurar como sujeito ativo dos crimes de abuso de autoridade, vez que, à época do delito, já havia se desvinculado funcionalmente da Administração Pública. Agente público demitido, agente público de fato ou aposentado NÃO podem praticar o crime de abuso de autoridade, em razão da ausência de vínculo com o Estado! Obs.: O crime de abuso de autoridade admite concurso de pessoas com particulares eventualmente envolvidos, desde que SAIBAM da condição de agente público. Isso porque, apesar de se tratar de um crime próprio, a condição especial de agente público se comunica a eventuais coautores e partícipes por ser uma elementar do tipo, nos termos do art. 30 do Código Penal. Por outro lado, caso o particular desconheça a condição de agente público, estará incurso em erro de tipo, que afasta a tipicidade do crime de abuso de autoridade, podendo responder, contudo, por outro crime em razão da cooperação dolosamente distinta prevista no art. 29, §2º do CP. CESPE - O particular que atuar em coautoria ou participação com uma autoridade pública no cometimento de crime de abuso de autoridade não responderá por esse crime porque não é agente público. Item incorreto! 5. SUJEITO PASSIVO Em regra, os crimes de abuso de autoridade são delitos de dupla subjetividade passiva (quando o crime prevê a existência de duas vítimas), porquanto o cidadão que teve um direito fundamental violado por uma autoridade figurará como sujeito passivo imediato (direto e eventual), enquanto o Estado será o sujeito passivo mediato (indireto e permanente). ∘ Sujeito passivo imediato – cidadão ∘ Sujeito passivo mediato – Estado USE A #DESAFIO7DD DIA 01 11 6. ELEMENTO SUBJETIVO O crime de abuso de autoridade só pode ser punido a título de dolo (direto ou eventual**), de modo que não existe abuso de autoridade culposo. Eventual imprudência, imperícia ou negligência por parte do agente público devem ser apuradas no âmbito civil e ou administrativo. ** Os crimes de abuso de autoridade admitem também o dolo eventual, ou apenas o dolo direto? - 1ª C (Renato Brasileiro) - não há qualquer incompatibilidade dos crimes de abuso de autoridade, ao exigir o dolo específico, com o dolo eventual. Assim, se restar comprovado que o agente público não queria o resultado (dolo direto), mas assumiu o risco de produzi-lo, deverá responder pelo crime de abuso de autoridade em questão a título de dolo eventual, se assim o fizer, logicamente, para prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal - 2ª C (Rogério Sanches e Grecco) – para os autores, a exigência deste elemento subjetivo em todos os tipos incriminadores restringe a norma de tal forma que o dolo eventual fica descartado, devendo a finalidade específica ser apontada na peça inaugural, sob pena de ser rejeitada, pois o réu não conseguirá se defender das acusações. Exige ainda um dolo específico, de modo que o agente só terá sua conduta considerada típica quando além, do dolo genérico, tiver o dolo de produzir um resultado específico. Ou seja: a conduta do agente deve ser voltada, necessariamente, a uma das seguintes finalidades: Prejudicar outrem Beneficiar a si mesmo ou a terceiro Por mero capricho ou satisfação pessoal Art. 1º § 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal A) Prejudicar outrem: deve ser compreendido como a provocação de um prejuízo que transcenda o exercício regular das funções do agente público. Ex.: Delegado de Polícia que, a despeito da absoluta falta de quaisquer indícios da prática de crime, determina a instauração de um inquérito policial em detrimento de um adversário político, com o nítido propósito de prejudicá-lo às vésperas de uma iminente disputa eleitoral. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 12 B) Beneficiar a si mesmo ou a terceiro: é qualquer vantagem, proveito ou benefício que possa vir a ser obtido pelo agente público, pouco importando se se trata de interesse de ordem patrimonial ou moral. Ex.: Haverá abuso de autoridade se um Delegado de Polícia, com o objetivo de buscar sua autopromoção para posteriormente se candidatar a determinado cargo eletivo, usar a máquina estatal indevidamente, seja exibindo presos à curiosidade pública em suas redes sociais, seja antecipando atribuição de culpa a determinada pessoa em casos de maior repercussão local, etc. C) Por mero capricho ou satisfação pessoal: ▪ Capricho - significa a vontade repentina desprovida de qualquer justificativa, uma obstinação arbitrária. ▪ Satisfação pessoal - guarda relação com algum tipo de sentimento pessoal capaz de provocar certo grau de contentamento para o agente público, como, por exemplo, a amizade, o ódio, a vingança, etc. Ex.: Se um Promotor de Justiça requisitar a instauração de um inquérito policial em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, assim agindo por vingança devido à inimizade provocada por uma briga no condomínio em que ambos moravam, o agente público deverá responder pelo crime do art. 27, caput, da Lei n. 13.869/19, pois agiu perseguindo uma satisfação pessoal – e não o interesse público. Nesse sentido, ausente esse especial fim de agir, não há falar em crime de abuso de autoridade, podendo, a depender do caso concreto, subsistir a prática de outro crime. ATENÇÃO: CRIMES DE HERMENÊUTICA: 2º - A divergência na interpretaçãode lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade De acordo com Rui Barbosa, crimes de hermenêutica consistem em criminalizar a interpretação jurídica, fática ou probatória que o agente público atribui aos fatos que lhe são trazidos para sua apreciação. Em outras palavras: crimes de hermenêutica são tipos penais que valoram de forma negativa a conduta do responsável pela interpretação da lei. No entanto, os crimes de hermenêutica NÃO são aceitos pela doutrina e, tampouco, pela jurisprudência. Ou seja: a interpretação diversa de determinada regra legal ou de valoração de fatos e de provas não pode ser considerada como prática de abuso de autoridade. Isso porque: (1) O exercício regular de um direito não pode ser empregado para criminalizar um agente estatal no desempenho de sua função prevista em lei. (2) O próprio especial fim de agir já inviabiliza que o agente seja punido pela sua interpretação da lei. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 13 Exemplo: Não há que se falar em crime de abuso de autoridade se o magistrado determinou a custódia cautelar de alguém com base em tese jurídica minoritária O tema não é novo e, mesmo na vigência da revogada Lei de Abuso de Autoridade, a jurisprudência já afastava a possiblidade de se responsabilizar criminalmente o magistrado pela mera divergência de interpretação: “(...) AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. ABUSO DE AUTORIDADE. ART. 4º, “A”, DA LEI N.º 4.898/65. DESEMBARGADOR. DECISÃO JUDICIAL. CONFRONTO COM DECISÃO DE RELATOR DO STF. CONDUÇÃO COMPULSÓRIA PARA LAVRATURA DE TERMO CIRCUNSTANCIADO. QUESTÕES ATINENTES À ATIVIDADE JUDICANTE. ATRIBUTOS DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício in judicando e in procedendo, razão por que, para a configuração do delito de abuso de autoridade há necessidade da demonstração de um mínimo de “má-fé” e de “maldade” por parte do julgador, que proferiu a decisão com a evidente intenção de causar dano à pessoa. 2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do magistrado sem a configuração mínima do dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não restou demonstrado na própria descrição da peça inicial de acusação para se caracterizar o abuso de autoridade. 3. Ademais, de todo o contexto, o que se conclui é que houve uma verdadeira guerra de autoridades no plano jurídico, cada qual com suas armas e poderes, que, ao final, bem ou mal, conseguiram garantir a proteção das instituições e dos seus representantes, não possibilitando a esta Corte a inferência da prática de conduta penalmente relevante. 4. Denúncia rejeitada (STJ, Apn, 858/DF, Dje 21.11.2018) Cuidado! Renato Brasileiro adverte que a excludente do dolo NÃO será cabível quando a interpretação for absurda, teratológica, manifestamente descabida ou contrária à limitação literal ou jurisprudencial sobre o tema. É possível afirmar, portanto, que não haverá crime de abuso de autoridade apenas quando se tratar de divergência razoável na interpretação da lei ou na avaliação de fatos e provas. Logo, em se tratando de interpretação absurda, teratológica, manifestamente descabida, é dizer, em contrariedade a essa limitação literal ou jurisprudencial anteriormente explicada, não será cabível a aplicação da causa excludente do dolo constante do art. 1º, §2º, da nova Lei de Abuso de Autoridade Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM Enunciado 2 - divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas, salvo quando teratológica, não configura abuso de autoridade, ficando excluído o dolo. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 14 APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS! Qual a natureza jurídica do § 2º do art. 1? Há divergência. Para uma corrente, trata-se de exclusão de ilicitude. No entanto, para Rogério Greco e Rogério Sanches, trata-se de excludente do fato típico, pois elimina o dolo da conduta, razão pela qual o § 2º foi colocado logo em seguida, topograficamente, ao artigo 2º que trata da finalidade especial que deve animar o agente público. 7. DA AÇÃO PENAL Os delitos da lei de abuso de autoridade, assim como na legislação anterior, em que pesa sua infeliz confusão entre a representação civil e a legitimidade penal, são de ação civil pública incondicionada. Nesse sentido: Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. § 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia [PRAZO DECADENCIAL IMPRÓPRIO] Há ainda possibilidade de oferecimento de ação penal privada subsidiária da pública, na hipótese de inércia do Ministério público em oferecer a denúncia, cabendo ao Parquet, na forma do artigo 29 do Código de Processo Penal; ⦁ Aditar a queixa (chamada de queixa substitutiva), repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva. ⦁ Intervir em todos os termos do processo. ⦁ Fornecer elementos de prova, ⦁ Interpor recurso. ⦁ A todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM Enunciado 3 - Os crimes da Lei de Abuso de Autoridade são perseguidos mediante ação penal pública incondicionada. A queixa subsidiária pressupõe comprovada inércia do Ministério Público, caracterizada pela inexistência de qualquer manifestação ministerial. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 15 8. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE • Regra: Justiça Comum Estadual. Não se trata, porém, de regra absoluta, de modo que, a depender das circunstâncias do caso concreto, é perfeitamente possível que os crimes de abuso de autoridade sejam julgados por outras Justiças. • Exceção: 1. JUSTIÇA FEDERAL - presente uma das hipóteses constantes do art. 109 da Constituição Federal, a competência para o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade será da Justiça Federal. Ex.1: crime de abuso de autoridade praticado no interior de Delegacia da Polícia Federal. Ex.2: crime de abuso de autoridade cometido por (ou contra) funcionário público federal em razão das funções (súmula n. 147 do STJ), conforme disposto no art. 109, IV, da CF/88. Ou seja: se o delito foi praticado por autoridade (agente público) federal no exercício dessa função, o crime será de competência da Justiça Federal, considerando que, neste caso, o delito terá sido praticado em detrimento de um serviço público federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; Súmula 147-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. 2. JUSTIÇA MILITAR - Com a Lei n. 13.491/17, pode-se dizer que a Justiça Militar da União ou dos Estados passou a ter competência para o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade. Ex.: Se um Policial Militar do Estado do Paraná, no exercício da função, com a finalidade específica de prejudicar um preso, constrangê-lo mediante violência a ter seu corpo exibido à curiosidade pública, caberá à Justiça Militar dorespectivo Estado o processo e julgamento do crime militar previsto no art. 13, inciso I, da Lei n. 13.869/19, c/c art. 9°, II, alínea "c", do Código Penal Militar, com redação dada pela Lei n. 13.491/17. A súmula 172 do STJ - “Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço” - foi superada pela Lei n° 13.491/2017 que promoveu reformas no Código Penal Militar. Explicação @viadizerodireito USE A #DESAFIO7DD DIA 01 16 A súmula foi superada pela Lei nº 13.491/2017, que alterou o art. 9º, II, do CPM. Antes da alteração, se o militar, em serviço, cometesse abuso de autoridade, ele seria julgado pela Justiça Comum porque o art. 9º, II, do CPM afirmava que somente poderia ser considerado como crime militar as condutas que estivessem tipificadas no CPM. Assim, como o abuso de autoridade não estava previsto no CPM, mas sim na Lei nº 4.898/65, este delito não podia ser considerado crime militar e nem podia ser julgado pela Justiça Militar. Isso, contudo, mudou com a nova redação dada pela Lei nº 13.491/2017 ao art. 9º, II, do CPM. Com a mudança, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º, pode estar prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”. Dessa forma, o abuso de autoridade, mesmo não estando previsto no COM, pode agora ser considerado crime militar (julgado pela Justiça Militar), bastando incidir em alguma das hipóteses previstas no art. 9º, II, do CPM. 3. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO - Se a autoridade que praticou o delito no exercício das suas funções goza de foro por prerrogativa de função, deverá ser julgada pelo respectivo Tribunal. Exemplo: Juiz Federal que pratica abuso de autoridade será julgado pelo Tribunal Regional Federal, nos termos do art. 108, I, a, da CF/88. 9. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO Art. 4º São efeitos da condenação: I - Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; II - A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença. Inicialmente, devemos diferenciar dos efeitos da condenação genéricos e específicos. Vejamos: • Efeitos genéricos – estão previstos no art. 91 do Código Penal (ou na Legislação Especial) e são aplicáveis por força de lei, independentemente de expressa declaração por parte da autoridade jurisdicional, qualquer que seja a pena imposta. Na verdade, a única condição para o implemento desses efeitos é o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Recebem essa denominação por serem aplicáveis, em tese, a toda e qualquer condenação criminal • Efeitos específicos - previstos nos arts. 91-A (confisco alargado) e 92 do Código Penal (ou na Legislação Especial). Esses efeitos não são automáticos, nem tampouco obrigatórios, de modo que demandam declaração expressa e fundamentada constante da sentença condenatória. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 17 EFEITOS DA CONDENAÇÃO CÓDIGO PENAL LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I do CP); Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (efeito obrigatório de qualquer sentença penal com trânsito em julgado), devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos (material, moral, estético) causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos (semelhante ao art. 384, IV do CPP, a única diferença é a necessidade de requerimento do ofendido). A perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Não é efeito automático, deve ser declaro na sentença. E, ainda, o agente público deverá ser reincidente em crime de abuso de autoridade. A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos A perda do cargo, do mandato ou da função pública. Não é efeito automático, deve ser declaro na sentença Além disso, aqui, não há exigência de condenação à pena privativa de liberdade e nem tempo de pena. Contudo, o agente público deverá ser reincidente em crime de abuso de autoridade. Vamos analisar os efeitos previstos na Lei de Abuso de Autoridade? ∘ Inciso I - Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; A obrigação de reparar o dano causado pelo crime é um efeito extrapenal genérico e obrigatório em relação aos crimes de abuso de autoridade. Obs.: A segunda parte (“a requerimento do ofendido fixar valor mínimo para reparação dos danos...”) é um efeito específico e não automático, que deve ser expressamente mencionado na sentença. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 18 Se a vítima não requerer, caberá a ela tão somente liquidar, no juízo cível, a sentença penal condenatória, que funciona como um título executivo judicial. Portanto, prevalece que este pedido deve constar expressamente da denúncia ou queixa. Obs.: esse efeito equivale ao efeito previsto no art. 91, I do CP, no entanto, em razão do princípio da especialidade, em se tratando de crimes de abuso de autoridade, deve-se aplicar o efeito previsto nessa lei. Compare: Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; ∘ Inciso II - A inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; ∘ Inciso III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Os efeitos da condenação previstos nos incisos II e III são ESPECÍFICOS e NÃO AUTOMÁTICOS, pois dependem de motivação específica na sentença, conforme prevê o próprio §único da lei. Além disso, o §único também prevê que só será possível o juiz implementar tais efeitos se houver reincidência específica em crimes de abuso de autoridade. Obs.: Segundo Renato Brasileiro, em que pese serem efeitos específicos, não há necessidade de que o Ministério Público formule pedido expresso na denúncia, tendo em vista que a aplicação do efeito decorre de expressa previsão legal. Em suas palavras: “Na verdade, exige-se que o magistrado aponte a necessidade e adequação de tal medida às circunstâncias fáticas que deram ensejo à condenação do acusado. Enfim, deve a sentença declarar, motivadamente, os fundamentos da inabilitação ou da perda do cargo, mandato ou função, em fiel observância ao art. 93, IX, da Constituição Federal, sob pena de reconhecimento da nulidade do dispositivo da sentença condenatória em relação a esse ponto. Em conclusão, a despeito de necessidadede motivação na sentença, a aplicação desses efeitos específicos não está condicionada à formulação de pedido expresso na denúncia, vez que decorre de previsão legal expressa.” Obs.: Essas consequências jurídicas extrapenais são decorrentes de sentença penal condenatória irrecorrível. Isso não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 19 Vamos esquematizar? TORNAR CERTA A OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO • Efeito genérico (1ª parte) • Efeito específico (2ª parte) • Não precisa de fundamentação na sentença INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO • Efeito específico • Depende de fundamentação expressa na sentença condenatória • Condicionada à reincidência específica em crimes da Lei de Abuso de Autoridade. PERDA DO CARGO, DO MANDATO OU DA FUNÇÃO PÚBLICA Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: Teórcrito, servidor público municipal, foi condenado por abuso de autoridade, nos termos da Lei nº 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), tendo sido reconhecida sua reincidência em crime da mesma espécie. Assim, tem-se como efeito automático da sentença a perda do cargo público. 10. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Primeiramente, deve-se lembrar que as penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas à pena privativa de liberdade. Isso quer dizer que não se pode admitir que alguém seja condenado a cumprir determinada pena privativa de liberdade e, simultaneamente, ao cumprimento de penas restritivas de direito. A Lei 13.689/2019 elenca apenas 2 penas restritivas de direito, de modo que, na hipótese de alguém ser condenado pelo crime de abuso de autoridade, as únicas penas restritivas de direito que podem ser aplicadas são a prestação de serviços à comunidade e a suspensão do exercício do cargo, função ou mandato pelo prazo de 1 a 6 meses, não podendo aplicar nenhuma outra pena restritiva de direitos, ainda que prevista no Código Penal. Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta Lei são: I - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; II - Suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 20 ATENÇÃO: Caso um agente público tenha sido condenado a 2 anos por um crime de abuso de autoridade, e tenha havido a substituição por 2 penas restritivas de direito (art. 44, §2º), ele vai prestar serviços à comunidade e ficar suspenso do exercício do cargo. O período da prestação de serviços é o mesmo da pena privativa de liberdade fixado, nesse caso hipotético, 2 anos (art. 55). Lembrando que é facultado ao réu cumprir a PRD em um tempo menor, mas nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Código Penal. Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. § 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46. No entanto, a Lei 13.869/19 não trouxe os requisitos a serem cumpridos para que haja a substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos. Nesse sentido, diante do silêncio da lei especial, aplica-se o Código Penal quanto aos requisitos cumulativamente considerados para efetuar a substituição, quais sejam: • Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo. Na Lei de Abuso de Autoridade não existem crimes culposos, todos os crimes são dolosos e a pena máxima prevista é de 4 anos; • O réu não for reincidente em crime doloso. Em regra, o réu não pode ser reincidente em crime doloso. No entanto, em havendo reincidência em crime doloso, será possível substituir a PPL por PRD caso a substituição seja socialmente recomendável, e desde que não se trate de específica. (art. 44, §3º) • A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Não se exige a análise das consequências do crime e do comportamento da vítima. Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – Aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II – O réu não for reincidente em crime doloso; USE A #DESAFIO7DD DIA 01 21 III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. ATENÇÃO!!! CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR! A suspensão do exercício de cargo, mandato ou função, prevista no art. 5°, inciso II, da Lei n. 13.869/19 não se confunde com a medida cautelar diversa da prisão de suspensão do exercício de função pública prevista no art. 319, inciso VI, do CPP. • Suspensão do exercício de cargo, mandato ou função (como PRD) - é espécie de pena restritiva de direito, aplicável, portanto, ao final do processo em substituição à pena privativa de liberdade • Suspensão do exercício de função pública (como medida cautelar) - é espécie de medida cautelar, passível de decretação durante a investigação preliminar ou no curso do processo, desde que presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis (necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal ou para evitar a prática de infrações penais). 11. DAS SANÇÕES CÍVEIS E ADMINISTRATIVAS Art. 6° As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração. Em regra, os crimes cometidos com abuso de autoridade não afetam somente o sujeito passivo do delito, mas afetam também a administraçãopública em suas várias facetas, agredindo vários princípios constitucionais implícitos e explícitos. Nesse sentido, a doutrina define que o sujeito passivo dos crimes de abuso de autoridade, ao menos mediatamente, é também a própria administração pública, de modo que a conduta faz ensejar também responsabilidade civil e administrativa, sem que isso configure bis in idem. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 22 Assim, considerando o princípio da independência das instâncias, o agente pode receber três espécies de sanção: administrativa, cível e penal, sem que isso configure bis in idem. Tais sanções são autônomas e podem ser aplicadas cumulativamente. Veja a explicação do professor Renato Brasileiro: (...) Por outro lado, a depender da gravidade do abuso de autoridade cometido pelo agente público, é perfeitamente possível a utilização de técnicas distintas para a proteção dos bens jurídicos tutelados, hipótese em que o agente estará sujeito às sanções passíveis de aplicação não apenas pelo Direito Penal, mas também pelo Direito Administrativo Sancionador e pelo Direito Civil. Nesse caso, não há falar em violação ao princípio do ne bis in idem. Afinal, estamos diante de ilícitos de natureza diversas, cujas sanções devem ser aplicadas pelas respectivas autoridades competentes, sempre respeitando-se o princípio do devido processo legal.” 12. EFEITOS CIVIS DA ABSOLVIÇÃO PENAL Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal. Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. No art. 7º, o legislador exarou dois posicionamentos importantes. Veja: 1) A já referida independência entre as esferas 2) A materialidade e a autoria, após decididas no juízo criminal, não podem ser mais questionadas em qualquer esfera. Assim, é possível concluir que a sentença absolutória não exerce qualquer influência sobre o processo cível e administrativo (em razão da independência das instâncias), SALVO quando reconhece, categoricamente, a inexistência material do fato ou afasta peremptoriamente a autoria ou participação, hipóteses em que não caberá qualquer questionamento nas demais esferas. No mesmo sentido, se o crime de abuso de autoridade for praticado no bojo de uma excludente de ilicitude real (não é valido para excludentes de ilicitude putativas), também não caberá qualquer questionamento nas instâncias civil ou administrativa. Em outras palavras, o reconhecimento de uma causa excludente de ilicitude delimitada no artigo 23 do Código Penal, em sentença penal definitiva, obsta a rediscussão do assunto na esfera cível e administrativo-disciplinar, gerando a eficácia preclusiva subordinante. Mas CUIDADO! O que este artigo veda é a rediscussão sobre a existência ou não da excludente de ilicitude, porém, nada impede que, na análise do caso concreto, ainda que reconhecida a excludente no âmbito criminal, busque no cível a devida reparação. Inclusive, no caso de estado de necessidade agressivo, USE A #DESAFIO7DD DIA 01 23 em que o bem sacrificado é de terceiro e não do causador do perigo, embora seja reconhecido no âmbito penal o estado de necessidade, no âmbito cível é sempre possível a cobrança de indenização. Tais ensinamentos também estão em consonância com os artigos 65 e 66 do CPP. Veja: Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. Vamos esquematizar? NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE... NAS DEMAIS INSTÂNCIAS... Inexistência material do fato FAZ COISA JULGADA: Não podem mais ser questionadas no âmbito cível ou administrativo. Negativa de autoria Legítima defesa Estado de Necessidade Exercício Regular do Direito Estrito Cumprimento do Dever legal 13. DA PARCIAL INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA No que pese o princípio da presunção de constitucionalidade das leis, em virtude de sua legitimidade e do processo legislativo a qual sua confecção é exposta, importa deixar claro que há pendência de diversas ADI’s que tem como objeto a nova lei de abuso de autoridade. Em comum, as ações diretas alegam que a norma criminaliza a atuação funcional de funcionários públicos e fere a independência e a autonomia de juízes, promotores, procuradores de Justiça e do Ministério Público Federal, ou seja, defende-se que trata de norma criadora de “crimes de hermenêutica”, tratados de forma abjeta pelo direito penal e pelo Estado democrático de direito. Na ADI 6238, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e a Associação dos Procuradores da República (ANPR) sustentam que, conforme a lei, é possível que promotores sejam julgados por investigar, processar e requerer providências judiciais. Argumentam, entre outros pontos, que tipos penais criados pela nova legislação “são extremamente vagos, imprecisos, indeterminados e abertos, possibilitando as mais diversas interpretações do que constituiria crime de abuso de autoridade”. Para elas, os dispositivos atingem princípios do serviço público, como os da eficiência, publicidade, moralidade e legalidade, e ferem os princípios da razoabilidade, da proporcionalidade, da isonomia, da liberdade de expressão e da separação dos Poderes. Já a ADI 6239 foi proposta pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), com a alegação de que os dispositivos contestados avançam indevidamente no espaço próprio de atuação dos membros do Poder Judiciário mediante a criação de tipos penais que passam a incidir sobre a sua conduta no exercício da prestação jurisdicional. A entidade também afirma que as atividades dos juízes devem ser disciplinadas por USE A #DESAFIO7DD DIA 01 24 lei complementar, conforme estabelece a Constituição Federal, e não em lei ordinária, como no caso. Por fim, a Ajufe sustenta que a criminalização das condutas de magistrados enfraquece o Poder Judiciário e viola princípios e garantias constitucionais, a exemplo do livre convencimento motivado. As ADIs 6238 e 6239 foram distribuídas, por prevenção, ao ministro Celso de Mello, que já relata outras duas ações que tratam do mesmo assunto - a ADI 6234, ajuizada pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais de Tributos dos Municípios e Distrito Federal (Anafisco), e a ADI 6236, de autoria da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Por óbvio, não se deve se ater aos pormenores da constitucionalidade em abstrato dos artigos objetos da ADI, entretanto é premente conhecê-los, pois, o posicionamento eventual da jurisprudência pode torna-los preferenciais para eventual cobrança em fases preliminares dos concursos para delegado de polícia. As ações diretas de inconstitucionalidade visam declarar inconstitucionais os artigos 9º, parágrafo único, I, II, III, artigo 10, artigo 19, artigo 20, artigo 27 e seu parágrafo único, artigo 30, artigo 32, artigo 33, artigo 36, e artigo 43, abaixo elencados. Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; II- substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa: Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível: USE A #DESAFIO7DD DIA 01 25 Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la: 14. DOS CRIMES EM ESPÉCIE NA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE 14.1 Decretar Medida de Privação de Liberdade em Desconformidade com a Lei – Art. 9, Caput Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. ANÁLISE DO CAPUT: a) Bem jurídico tutelado: O crime do art. 9°, caput, tutela não apenas a Administração Pública, mas também a liberdade de locomoção do indivíduo (CF, art. 5°, incisos XV e LXI), diretamente prejudicado pela decretação de medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais. b) Sujeito do delito • Sujeito Ativo: Em relação ao sujeito ativo, podemos citar duas correntes doutrinárias. 1ª C – Apenas o juiz poderá ser o sujeito ativo, tendo em vista que é o único capaz de decretar uma medida de privação de liberdade (por se tratar de tema afeto à cláusula de reserva de jurisdição). 2ª C – Para o caput do art. 9º qualquer agente público pode ser sujeito ativo. O núcleo verbal “decretar” foi utilizado em sentindo amplo, devendo ser entendido como determinar, decidir, ordenar. Ademais, apenas o parágrafo único se refere à autoridade judiciária, não havendo restrição no caput. Ex.: Delegado de Polícia que ordena a prisão em flagrante delito fora das hipóteses legais pratica o crime do art. 9º, caput. (Prevalece!) Enunciado 5 do CNPG e do GNCCRIM: “O sujeito ativo do art. 9º, caput, da Lei de Abuso de Autoridade, diferentemente do parágrafo único, não alcança somente autoridade judiciária. O verbo núcleo ‘decretar’ tem o sentido de determinar, USE A #DESAFIO7DD DIA 01 26 decidir e ordenar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais”. • Sujeito passivo: É o cidadão que tem o seu direito de locomoção violado por uma autoridade, que exorbita de seu poder. Lembre-se que em todos os crimes de abuso de autoridade o Estado figurará como sujeito passivo mediato (indireto e permanente). c) Medida de privação da Liberdade O que o artigo quis dizer com medida de privação da liberdade? R.: Trata-se de uma expressão ampla que abrange: Prisão em flagrante Prisão cautelar (prisão temporária, prisão preventiva); Prisão penal (que resulta de sentença condenatória transitada em julgado) Medidas cautelares diversas da prisão Medida de segurança detentiva (internação) (art. 96, I, do CP); Prisão do militar nos casos de transgressão disciplinar ou crime propriamente militar Semiliberdade (art. 120 do ECA); Internação (art. 121 do ECA); Internação psiquiátrica (art. 6º da Lei nº 10.216/2001) Obs.: é indispensável que a medida decretada seja teratológica, ou seja, que se trate de uma ilegalidade chapada, manifesta, flagrante, justamente para não cair na hipótese de ser um crime de hermenêutica, como visto anteriormente. Ex.: Se um juiz da instrução e julgamento de primeira instância decretar, de ofício, a prisão temporária de alguém durante a fase processual, em virtude da prática de um crime de ameaça, parece não haver qualquer dúvida de que se trata de decisão em manifesta desconformidade com as hipóteses legais, ensejando a responsabilização pelo art. 9º, caput da Lei. Isso porque: ∘ A prisão temporária tem seu âmbito de aplicação restrito à fase investigatória. ∘ O crime de ameaça não está elencado entre aqueles que admitem a prisão temporária. ∘ Com o advento do Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), nenhuma espécie de medida cautelar pode ser decretada de ofício, seja na fase investigatória, seja na fase processual da persecução penal (CPP, art. 282, §§2° e 4°, c/c art. 311). d) Consumação Trata-se de crime formal que se consuma no momento em que a autoridade profere a decisão que decreta a ilegal prisão de alguém, ainda que tal medida de privação de liberdade não se concretize. Portanto, não há necessidade da efetiva privação da liberdade do indivíduo, que, se vier a ocorrer, deverá ser compreendida como mero exaurimento do crime. e) Pena: Não se trata de infração de menor potencial ofensivo USE A #DESAFIO7DD DIA 01 27 Como o crime é praticado sem violência ou grave ameaça, e a pena cominada é até 4 anos, é possível que seja oferecido o acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP). Não sendo cabível o acordo de não persecução penal, poderá haver suspensão condicional do processo, já que requisito básico é a pena mínima de 1 ano. ANÁLISE DO §ÚNICO – CONDUTAS EQUIPARADAS: Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I - Relaxar a prisão manifestamente ilegal; II - Substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível. a) Conduta: Perceba que se trata de um crime omisso próprio, tendo em vista que o verbo do tipo é “deixar de”. Assim, haverá crime quando a autoridade deveria ter praticado determinada conduta, mas se omitiu. LEMBRANDO QUE OS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE EXIGEM DOLO GENÉRICO + DOLO ESPECÍFICO! Para não incorrer no crime em questão, a autoridade judiciária deve decidirdentro de prazo razoável. No entanto, a Lei não definiu o que seria prazo razoável. Vejamos, então, as soluções trazidas pela doutrina: Quando a referida decisão é proferida em sede de audiência de custódia - deve-se levar em consideração o prazo de 24h previsto no art. 310, CPP, com redação determinada pela Lei n. 13.964/19 Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - relaxar a prisão ilegal; ou III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. Caso não tenha ocorrido audiência de custódia - a doutrina entende que o prazo será de até 48h, nos termos do art. 322, parágrafo único do CPP, já que a fiança é uma das cautelares diversas da prisão, portanto, seria possível aplicar para as demais hipóteses. Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 28 b) Sujeito ativo: crime próprio Apenas o juiz poderá ser sujeito ativo, podendo ser o juiz das garantias (decisão proferida na fase investigatória – embora esteja com eficácia suspensa) ou o juiz da instrução e do julgamento, assim como desembargadores e Ministros. Ex.: Se o réu está preso preventivamente há 90 dias sem que tenha sido reavaliada a necessidade da restrição de liberdade, poderá acarretar uma prisão manifestamente ilegal e, consequentemente, a prática do crime de abuso de autoridade. Lembrando que, em outubro/2020, o STF entendeu que a ausência de revisão da prisão não acarreta sua revogação automática! Obs.: Em relação ao inciso III (deixar de conceder liminar ou HC quando cabível), não se esqueça que um juiz de primeira instância também pode incorrer nesta conduta, como, por exemplo, na hipótese de haver um HC impetrado em face de um delegado de polícia. c) Consumação: O delito estará consumado quando a autoridade judiciária: 1) Deixar de relaxar a prisão manifestamente ilegal dentro de prazo razoável. (Inc. I) 2) Deixar de substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa da prisão ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível, dentro de prazo razoável (inc. II). 3) Deixar de deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível, dentro de prazo razoável (inc. III). Por se tratar de crime omissivo próprio, a tentativa é inadmissível. É dizer, se ainda não houve o decurso do prazo razoável para que o magistrado proferisse sua decisão, não há falar em tentativa, pois sequer teve início a execução do delito. Porém, expirado o prazo razoável, se a autoridade judiciária permanecer inerte, o delito já estará consumado. Obs.: NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA O art. 310 do CPP, com a redação dada pelo pacote anticrime, prevê a realização da audiência de custódia. Por sua vez, o §3º determina que a autoridade que deixar de realizar a audiência de custódia, sem motivação idônea, responderá administrativa, civil e penalmente. Vejamos: § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão Diante disso, indaga-se: a não realização de audiência de custódia configura crime de abuso de autoridade? 1ªC – o parágrafo único do art. 9º da Lei 13.869/2019 não previu a não realização de custódia como crime de abuso de autoridade, por isso não poderá ser tipificado. Além disso, é possível conceder liberdade provisória, o que não causará prejuízo à pessoa presa. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 29 2ªC – de fato a Lei de Abuso de Autoridade não previu a não realização de audiência de custódia. Contudo, o §4º do art. 3101 prevê que, transcorrido o prazo de 24h após o decurso do prazo em que deveria ter sido realizada a audiência de custódia (24h da prisão), a prisão passa a ser ilegal, devendo ser relaxada. Perceba, portanto, que estaremos diante da hipótese prevista no inciso I, do parágrafo único, do art. 9º da Lei 13.869/2019. Conclui-se, assim, que o crime, em si, não seria a não realização da audiência de custódia, mas sim o fato da não realização da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão, e o juiz se omitir quanto ao dever de relaxamento em prazo razoável. 14.2 Decretação de Condução Coercitiva Investigado Manifestamente Descabida ou sem Prévia Intimação de Comparecimento ao Juízo – Art. 10. Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. a) Conceito: Condução coercitiva consiste em uma medida cautelar pessoal, diversa da prisão, em que há a condução de determinada pessoa contra a sua vontade para prática de um ato que depende da sua presença. O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. Obs.: O STF, na ADPF 395/DF, firmou entendimento de que a condução coercitiva do investigado ou do réu para interrogatório no âmbito da investigação ou da ação penal não foi recepcionada pela CF/88. O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada pela Constituição Federal, tendo em vista, dentre outros fundamentos, o princípio da presunção de inocência e a liberdade de locomoção. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: ✓ A responsabilidade disciplinar e civil do agente ou da autoridade ✓ A ilicitude das provas obtidas ✓ A responsabilidade civil do Estado ✓ Crime de abuso de autoridade previsto no art. 10. 1 § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3 USE A #DESAFIO7DD DIA 01 30 Portanto, manifestamente descabida será a condução do investigado para fins de interrogatório. Como a decisão do STF possui efeito vinculante, não se aplica o art. 1º, §2º da Lei 13.869/2019, que versa sobre o crime de hermenêutica. Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM Enunciado 6 - Os investigados e réus não podem ser conduzidos coercitivamente à presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados. Outras hipóteses de condução coercitiva, mesmo de investigados ou réus para atos diversos do interrogatório, são possíveis, observando-se as formalidades legais. Enunciado 7 - A condução coercitiva pressupõe motivação e descumprimento de prévia notificação. b) Sujeito ativo: Prevalece na doutrina que somente a autoridade judiciária pode decretar a condução coercitiva, haja vista se tratar de evidente espécie de supressão absoluta, ainda que temporária,da liberdade de locomoção, sujeita, portanto, à cláusula de reserva de jurisdição, nos termos do art. 5°, inciso LXI. Obs.: Na eventualidade de a condução coercitiva ser decretada no curso da fase de investigação, o juiz competente será o juiz das garantias. c) Sujeito passivo: Só podem ser sujeito passivo do crime em questão as TESTEMUNHAS (mesmo que o STF não tenha inviabilizado a condução coercitiva das testemunhas) e o INVESTIGADO. ⦁ Assim, a condução coercitiva do ofendido ou do perito, por exemplo, não enseja crime de abuso de autoridade, pois caracterizaria espécie de analogia in malan partem. ⦁ Sujeito passivo indireto ou mediato é o Estado ⦁ E o ACUSADO? Márcio Cavalcante acredita que o STJ responderá que o termo investigado abrange o acusado. Isso porque existem precedentes daquele Tribunal analisando o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 e dizendo que a palavra “investigação” não se limita à fase do inquérito policial. A “investigação” da infração penal se prolonga durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal iniciada com o recebimento da denúncia: (...) 3. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/13 cinge-se à fase do inquérito, não deve prosperar, eis que as investigações se prolongam durante toda a persecução criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da denúncia. Com efeito, não havendo o legislador inserido no tipo a expressão estrita "inquérito policial", compreende-se ter conferido à investigação de infração penal o sentido de persecução penal, até porque carece de razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução da ação penal. Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o contraditório diferido, de tal sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal USE A #DESAFIO7DD DIA 01 31 como dois momentos absolutamente independentes da persecução penal. (...) STJ. 5ª Turma. HC 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019. d)Conduta: Somente haverá abuso de autoridade quando a condução coercitiva de testemunha ou investigado for decretada em uma das seguintes hipóteses alternativas: ⦁ Condução coercitiva manifestamente descabida ⦁ Sem prévia intimação de comparecimento ao juízo Nas palavras do professor Renato brasileiro: “A doutrina processual penal sempre impôs, como condição sine qua non para a condução coercitiva de alguém, prévia intimação para comparecimento à Polícia (ou ao juízo). De fato, se alguém está sendo privado de sua liberdade de locomoção, ainda que momentaneamente, para a prática de determinado ato investigatório (ou processual), isso deveria ocorrer tão somente após uma tentativa frustrada de comparecimento voluntário.” e)Consumação: Trata-se de crime formal que se consuma com a mera prolação da decisão determinando a condução coercitiva, ainda que esta não seja concretizada. 14.3 Deixar Injustificadamente de Comunicar Prisão em Flagrante à Autoridade Judiciária no Prazo Legal Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: I - Deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária que a decretou; II - Deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada; III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; IV - Prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. a) Introdução sobre o dever de comunicação: A própria CF/88 prevê, no art. 5º, LXII, como uma garantia processual constitucional, a comunicação da prisão ao juiz (das garantias), à família ou a pessoa por ele indicada. USE A #DESAFIO7DD DIA 01 32 LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; A ausência dessa comunicação acarreta o obrigatório relaxamento da prisão? Ou será que se trata de mera irregularidade, sem o condão de determinar o relaxamento da prisão? Há divergência sobre o tema: ⦁ Tribunais Superiores: Há julgados antigos do STF e STJ, segundo os quais a ausência de comunicação da prisão à autoridade judiciária não teria o condão de excluir a legalidade da prisão, gerando tão somente responsabilidade funcional e criminal por parte da autoridade que presidiu o auto de prisão em flagrante. ⦁ Doutrina amplamente majoritária: a ausência de comunicação do flagrante à autoridade judiciária configura grave violação a preceito constitucional (CF, art. 5°, LXII), gerando a perda da força coercitiva do auto de prisão, e o consequente relaxamento da prisão. Obs.: No entanto, eventual relaxamento da prisão em flagrante por conta da ausência de comunicação ao juiz das garantias não impede a imposição de medidas cautelares de natureza pessoal, inclusive a própria prisão preventiva (ou temporária), desde que presentes seus pressupostos legais, inclusive o requerimento por parte da autoridade policial ou do MP. b) Conduta: Vamos analisar os verbos contidos no caput e no §único (condutas equiparadas) para melhor compreensão e memorização: Trata-se de crime omissivo próprio na medida em que: 1) A autoridade policial deixa de comunicar, injustificadamente, à autoridade judiciária, no prazo legal, a ocorrência de: ⦁ Prisão em flagrante ⦁ Prisão temporária ⦁ Prisão preventiva 2) A autoridade policial deixa de comunicar à família ou à pessoa indicada; ⦁ A prisão do indivíduo ⦁ Local onde se encontra 3) A autoridade policial deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas: ⦁ A nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; A própria Constituição garante ao preso o direito de identificação dos responsáveis por sua prisão, visando inibir a tortura e eventuais abusos, através do recebimento da nota de culpa nos casos de prisão em flagrante. Assim, a ausência da entrega da nota de culpa, desde que presente o especial fim de agir, caracterizará o crime de abuso de autoridade USE A #DESAFIO7DD DIA 01 33 Em regra, da nota de culpa deverá constar o nome do condutor e de testemunhas. Porém, as Lei 12.880/13 e 9.807/99 prevêem a possibilidade de ocultar os nomes das testemunhas com o intuito de protegê-la. Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal – GNCCRIM Enunciado 8 - Com o fim de preservar a sua identidade, imagem e dados pessoais, é possível, nas exceções legais, que da nota de culpa não conste o nome do condutor, das testemunhas e das vítimas. 4) A autoridade policial deixa de executar alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. ⦁ Prologando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação. Obs.: O crime do inciso IV, diferente dos incisos anteriores e do caput, é um crime permanente, porque a autoridade prolonga a execução da pena privativa de liberdade, deixando, sem motivo justo, de executar o alvará
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