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Semiologia Cardiovascular Caio Márcio Silva Cruz Página 1 Exame cardiovascular Na prática diária, os sintomas mais comuns relacionados ao aparelho cardiovascular são: dor torácica, dispneia, cansaço, síncope, palpitações e edema. A realização do exame físico, aliada à uma anamnese coerente, pode fazer com que o exame cardiovascular por si só seja suficiente para realizar o diagnóstico de 90% das patologias desse sistema. 1. ANAMNESE CARDIOVASCULAR Um exame clínico cardiovascular adequado busca ativamente por manifestações cardíacas. É importante que as queixas sejam comparadas com o nível de atividade basal do paciente, a qual deve ser mensurada. Por exemplo, um paciente que há um ano corria maratonas e hoje não consegue sequer realizar uma caminhada, puder sugerir progressão de doença crônica. Outro ponto é a caracterização da queixa, bem como a limitação que a causa. Um paciente que se queixa de dispneia deve ser interrogado quanto à intensidade dessa dor (geralmente por meio de uma mensuração de 0 a 10), fatores associados à dor: Acontece somente em determinado tipo de movimento? Ao realizar esforços maiores? Limita sua força? Se essa é progressiva, o quanto é incapacitante para realizar atividades (sente-se fraco para andar até qual distância?). A dor torácica consiste em um dos graves sintomas referidos pelos pacientes, consistindo na manifestação mais frequente da doença arterial coronariana. Uma vez que o paciente se queixa de dor torácica, deve-se ter em mente sempre os diagnósticos eminentemente fatais, como angina instável, infarto agudo do miocárdio, aneurisma dissecante de aorta e embolia pulmonar. Segue-se com perguntas mais específicas, questionando a relação da dor com esforços físicos, o tipo de atividade que desencadeia a dor, a intensidade da dor, possíveis irradiações, sintomas associados, como dispneia, sudorese, palpitações, náuseas etc. As palpitações consistem numa percepção desconfortável quanto aos batimentos cardíacos. Os pacientes podem se queixar desse sinal de diversos modos, como se o coração estivesse pulando, acelerado, tremendo, batendo forte etc. As palpitações podem decorrer de: Batimentos cardíacos irregulares, Rápido aumento ou redução da frequência cardíaca Contração cardíaca mais vigorosa. Nota: Dor clássica aos esforços, sensação de opressão ou desconforto torácico, nos ombros, no dorso, no pescoço ou no braço acompanhando de dor anginosa, ocorre em cerca de 50% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio. Pode haver descrições atípicas, como cãibra, sensação de aperto, dor perfurante e, em alguns casos, dor irradiante para os dentes, mandíbula ou maxilares. Semiologia Cardiovascular Caio Márcio Silva Cruz Página 2 É importante salientar que as palpitações não são necessariamente sinais de cardiopatias, doenças do coração, como arritmias mais graves (a exemplo da taquicardia ventricular), muitas vezes não geram palpitações. A dispneia paroxística noturna consiste em episódios de dispneia e ortopneia súbitas, que despertam o paciente do sono, cerca de uma ou duas horas após deitar-se. É como uma sensação de “se afogar”. Junto ao quadro, pode haver sibilos e tosses associados, sendo que esses episódios costumam ceder, mas também podem recorrer no mesmo horário, em noites subsequentes. Quadros desse tipo pode ocorrer na insuficiência cardíaca ventricular esquerda ou na estenose mitral, podendo ser confundidas com crises asmáticas noturnas. O edema representa o acúmulo exagerado de líquido do espaço intersticial, ocorrendo absorção de grandes volumes de líquido, podendo cursar com grande aumento de peso (cerca de 10%) até que seja identificável. Deve-se concentrar a investigação nos quesitos de localização e cronologia, bem como nas circunstâncias de aparecimento de edema e nos sinais e sintomas associados. 2. EXAME VASCULAR ARTERIAL Busca-se avaliar os pulsos arteriais quanto à sua presença ou ausência, bem como a simetria desses, como seu enchimento e amplitude, uma vez que possíveis diferenças podem estar presentes por conta de: Obstruções parciais ou por vasoconstrições; Por diferenças de fluxo por acometimentos à montante, como ocorre na dissecção de aorta. É importante ressaltar aqui que o exame de simetria deve ser feito comparando cada pulso com o seu contralateral, podendo avaliar cada pulso separadamente ou comparando-os de modo simultâneo. Pulsos a serem aferidos: 1. Carotídeos: para esses, deve ser tomado cuidado especial com os barorreceptores em idosos, que podem estimular bradicardia, bem como há a possibilidade de embolização de placas ateromatosas, podendo levar a um AVC. 2. Braquiais 3. Radiais 4. Femorais 5. Poplíteos 6. Tibiais 7. Pediosos Tipos de Pulsos Pulso Definição Parvus Amplitude pequena em razão da redução do volume ejetado, podendo ser decorrente de hipovolemia, insuficiência de ventrículo esquerdo, estenose aórtica ou mitral. Tardus Amplitude tardia, podendo ser decorrente de estenose aórtica. Célere (hipercinético) Circulação hipercinética, decorrente de insuficiência aórtica, persistência do canal arterial e vasodilatação acentuada. Bisferiens Pulsação sistólica dupla na insuficiência aórtica e miocardiopatia hipertrófica. Alternante Alteração regular na amplitude da pressão de pulso (disfunção grave de ventrículo esquerdo). Paradoxal Redução acentuada da pressão arterial sistólica durante a inspiração (> 10 mmHg), podendo ser decorrente de tamponamento pericárdico e DPOC. Semiologia Cardiovascular Caio Márcio Silva Cruz Página 3 3. EXAME VASCULAR VENOSO Tem-se que a distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, pericardite constritiva, tamponamento pericárdico e obstrução da veia cava superior. Essa distensão é também chamada de turgência jugular, pela qual se pode avaliar indiretamente o estado da pressão venosa central, que reflete a dinâmica das câmaras cardíacas direitas. Essa Turgência consiste em uma distensão decorrente do aumento de volume, sendo realizado da seguinte maneira: 1. Eleva-se a cabeceira do leito do paciente para 30º. A partir daí, identifica-se a veia jugular externa dos dois lados, prosseguindo-se com a pesquisa das pulsações venosas jugulares internas. 2. O paciente deve estar em decúbito dorsal, com o tronco inclinado a 30º; 3. Deve ser traçada uma reta da fúrcula esternal até o pescoço do paciente; 4. Verifica-se se a visibilidade da veia jugular supera o nível traçado; 5. Caso a resposta seja positiva, tem-se que existe um comprometimento quanto ao retorno venoso; 6. No caso de a turgência jugular ultrapassar o limite superior da linha traçada, tem-se a presença da chamada estase jugular. A distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, na pericardite constritiva, no tamponamento pericárdico e na obstrução da veia cava superior. Geralmente, quando inspiramos, a pressão venosa jugular diminui (uma vez que a inspiração facilita o retorno venoso), mas em casos de pericardite constritiva, por exemplo, ela pode aumentar, gerando o chamado sinal de Kussmaul. 4. EDEMA Esse achado, quando relacionado a causas metabólicas e cardíacas, é resultado do aumento da pressão hidrostática nos capilares arteriais, a tal ponto que essa supera a pressão oncótica para o vaso, gerando um gradiente pressórico a favor do extravasamento de fluido plasmático para o interstício. Pele local lisa e brilhosa. Quando palpamos a região, a digito pressão forma uma depressão local, que se desfaz lentamente. - Sinal de Godet ou do cacifo. Devem-secomparar os membros quanto à sua simetria. Se apresenta sinais flogísticos (indicativos de inflamação), como calor, rubor e dor. Geralmente, o edema com causa cardiovascular ou metabólica, geralmente obedece à gravidade, sendo que acomete inicialmente extremidades para depois acometer regiões superiores. Por isso, podemos classificar tais edemas em cruzes, de acordo com a sua extensão, da seguinte maneira: Semiologia Cardiovascular Caio Márcio Silva Cruz Página 4 Edema somente nos pés, até o nível maleolar: + Edema que se estende até o terço médio da perna: ++ Edema que acomete o membro inferior até o nível do joelho: +++ Edema que acomete todo o membro superior, da extremidade até a raiz da coxa: ++++ Edemas que se estendem superiormente, além da raiz da coxa, configuram quadro de edema generalizado, denominado de anasarca.
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