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SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO INTRODUÇÃO ➢ Na prática diária, os sintomas mais comuns relacionados ao aparelho cardiovascular são: dor torácica, dispneia, cansaço, síncope, palpitações e edema. ➢ A realização do exame físico, aliada à uma anamnese coerente, pode fazer com que o exame cardiovascular por si só seja suficiente para realizar o diagnóstico de 90% das patologias desse sistema. ➢ Vários dados relativos a um exame físico mínimo, devem ser obtidos por uma boa avaliação cardiovascular: ANAMNESE CARDIOVASCULAR ➢ é importante que as queixas sejam comparadas com o nível de atividade basal do paciente, a qual deve ser mensurada. ➢ Isso é importante porque muitas doenças cardíacas possuem características crônicas, não basta simplesmente perguntar se o paciente está conseguindo se locomover normalmente. ➢ Um exemplo disso consiste no uso dessa pergunta para um paciente que a responde de modo positivo. ➢ Porém, se o médico investigasse mais profundamente essa questão, o paciente teria dito que há um ano corria maratonas, mas que ultimamente não tem mais forças para realizar uma caminhada sequer. ➢ Na visão do paciente, a sua locomoção está normal, mas é um dado de extrema relevância, pois demonstra progressão de doença incapacitante, com importante perda funcional. ➢ Outro ponto consiste na caracterização da queixa, bem como a limitação que essa causa. ➢ Um paciente que se queixa de dispneia deve ser interrogado: ▪ quanto à intensidade dessa dor (geralmente por meio de uma mensuração de 0 a 10); ▪ fatores associados à dor; (acontece somente em determinado tipo de movimento? ▪ ao realizar esforços maiores?, ▪ limita sua força?), SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO ▪ se essa é progressiva, o quanto é incapacitante para realizar atividades (sente-se fraco para andar até qual distância?). ➢ Por meio dessa caracterização, pode-se estabelecer a gravidade dos sintomas do paciente, assim como a sua importância, a fim de que sejam consideradas as próximas etapas do tratamento. SINAIS E SINTOMAS DOR TORÁCICA ➢ A dor torácica consiste em um dos mais graves sintomas referidos pelos pacientes, consistindo na manifestação mais frequente da doença arterial coronariana, grande causa de morte ao redor do mundo. ➢ Uma vez que o paciente se queixa de dor torácica, deve-se ter em mente sempre os diagnósticos eminentemente fatais, como angina instável, infarto agudo do miocárdio, aneurisma dissecante de aorta e embolia pulmonar. ➢ A caracterização da dor é importante, principalmente nos casos atípicos (considerando que ninguém deixará passar uma dor tipicamente anginosa); ▪ a falha em identificar causas cardíacas de dor torácica pode trazer severas repercussões, sendo que a liberação inapropriada desses pacientes do pronto- socorro traz consigo uma taxa de mortalidade de 25%. ➢ Em quadros não emergenciais (uma vez que na síndrome coronariana aguda, o paciente procurará ativamente o serviço de emergência por dor precordial), deve-se realizar uma pergunta introdutória abrangente, como: ▪ “O senhor (ou a senhora) sente dor ou desconforto no peito”, devendo ser investigada a queixa específica do paciente, solicitando para que esse aponte a localização da dor e descreva os atributos relacionados ao sintoma descrito. ➢ Segue-se com perguntas mais específicas, questionando a relação da dor com esforços físicos, o tipo de atividade que desencadeia a dor, a intensidade da dor, possíveis irradiações, sintomas associados, como dispneia, sudorese, palpitações, náuseas etc. ➢ Deve-se também questionar se há dor em repouso, se essa dor incomoda o paciente durante a noite para dormir, bem como medidas que aliviem a dor. PALPITAÇÕES ➢ As palpitações consistem numa percepção desconfortável quanto aos batimentos cardíacos. ➢ Os pacientes podem se queixar desse sinal de diversos modos, como se o coração estivesse pulando, acelerado, tremendo, batendo forte etc. ➢ As palpitações podem decorrer de batimentos cardíacos irregulares, rápido aumento ou SE LIGA! Dor clássica aos esforços, sensação de opressão ou desconforto torácico, nos ombros, no dorso, no pescoço ou no braço acompanhando de dor anginosa, ocorre em cerca de 50% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio. Pode haver descrições atípicas, como cãibra, sensação de aperto, dor perfurante e, em alguns casos, dor irradiante para os dentes, mandíbula ou maxilares. SE LIGA! Dor na região anterior do tórax, de caráter dilacerante, irradiando-se para costas e/ou pescoço, ocorrem nos casos de dissecção aguda de aorta. SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO redução da frequência cardíaca, bem como de uma contração cardíaca mais vigorosa. ➢ As palpitações não são necessariamente sinais de cardiopatias, doenças do coração, como arritmias mais graves (a exemplo da taquicardia ventricular), muitas vezes não geram palpitações. DISPNEIA ➢ A falta de ar consiste numa queixa comum dos pacientes, podendo representar quadros de dispneia, ortopneia ou dispneia paroxística noturna. ➢ A dispneia consiste na percepção consciente e desconfortável da respiração, incompatível com o nível de esforço realizado pelo paciente. ➢ Essa queixa é mais comum nos casos de pacientes com doenças cardíacas ou pulmonares. ORTOPNEIA ➢ A ortopneia consiste na dispneia que ocorre com o paciente deitado, melhorando quando esse se senta. ➢ De modo geral, pode-se classificá-la numerando-se a quantidade de travesseiros que o paciente utilizar para conseguir dormir, uma vez que esse carece de dormir sentado. ➢ Deve-se realizar a certificação de que o paciente utiliza esses travesseiros extras ou dorme em posição ereta em decorrência da falta de ar ao deitar-se e não por outros motivos. ➢ A ortopneia ocorre na insuficiência cardíaca (IC) ventricular esquerda ou na estenose mitral, bem como na doença pulmonar obstrutiva crônica. DISPNEIA PAROXÍTICA ➢ A dispneia paroxística noturna consiste em episódios de dispneia e ortopneia súbitas, que despertam o paciente do sono, cerca de uma ou duas horas após deitar-se. ➢ Esse quadro obrigado o paciente a se sentar, ficar em pé ou ir até a janela para respirar melhor. ➢ Junto ao quadro, pode haver sibilos e tosses associados, sendo que esses episódios costumam ceder, mas também podem recorrer no mesmo horário, em noites subsequentes. ➢ Quadros desse tipo podem ocorrer na insuficiência cardíaca ventricular esquerda ou na estenose mitral, podendo ser confundidas com crises asmáticas noturnas. EDEMA ➢ O edema representa o acúmulo exagerado de líquido do espaço intersticial, ocorrendo absorção de grandes volumes de líquido, podendo cursar com grande aumento de peso (cerca de 10%) até que seja identificável. ➢ As causas variam de locais a sistêmicas; ➢ Deve-se concentrar a investigação nos quesitos de localização e cronologia, bem como nas circunstâncias de aparecimento de edema e nos sinais e sintomas associados. SE LIGA! A dispneia súbita pode ocorrer na embolia pulmonar, no pneumotórax espontâneo e em quadros de ataques de ansiedade. SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO EXAME VASCULAR ARTERIAL ➢ No tocante ao exame vascular periférico, busca-se avaliar os pulsos arteriais quanto à sua presença ou ausência, bem como a simetria desses, como seu enchimento e amplitude; ▪ uma vez que possíveis diferenças podem estar presentes por conta de obstruções parciais ou por vasoconstrições, bem como por diferenças defluxo por acometimentos à montante, como ocorre na dissecção de aorta. ➢ O exame de simetria deve ser feito comparando cada pulso com o seu contralateral, podendo avaliar cada pulso separadamente ou comparando-os de modo simultâneo; ➢ De maneira geral, pode-se dizer que os pulsos a serem aferidos os pulsos carotídeos, braquiais, radiais, femorais, poplíteos, tibiais e pediosos. ➢ Principalmente no tocante ao pulso carotídeo, tem a presença de importantes achados, os quais são sugestivos, cada um, de determinados quadros patológicos. ➢ Os mais importantes e relevantes achados quanto aos pulsos são: ➢ Pulso parvus: amplitude pequena em razão da redução do volume ejetado, podendo ser decorrente de hipovolemia, insuficiência de ventrículo esquerdo, estenose aórtica ou mitral. ➢ Pulso tardus: amplitude tardia, podendo ser decorrente de estenose aórtica. ➢ Pulso célere (hipercinético): circulação hipercinética, decorrente de insuficiência aórtica, persistência do canal arterial e vasodilatação acentuada. ➢ Pulso bisferiens: pulsação sistólica dupla na insuficiência aórtica e miocardiopatia hipertrófica. ➢ Pulso alternante: alteração regular na amplitude da pressão de pulso (disfunção grave de ventrículo esquerdo). ➢ Pulso paradoxal: redução acentuada da pressão arterial sistólica durante a inspiração (> 10mmHg), podendo ser decorrente de tamponamento pericárdico e doença pulmonar obstrutiva grave. SE LIGA! A simetria dos pulsos pode ser classificada e registrada da maneira rotineira com o uso das cruzes, sendo utilizado o seguinte sistema: Pulso normal: (++) Diminuído: (+) Ausente: (-) Não foi possível a verificação: ( ) SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO EXAME VASCULAR VENOSO ➢ Quando da realização do exame venoso, tem- se que a distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, pericardite constritiva, tamponamento pericárdico e obstrução da veia cava superior. ➢ Essa distensão é também chamada de turgência jugular, pela qual pode-se avaliar indiretamente o estado da pressão venosa central, que reflete a dinâmica das câmaras cardíacas direitas. ➢ Essa Turgência consiste em uma distensão decorrente do aumento de volume, sendo realizado da seguinte maneira: o Eleva-se a cabeceira do leito do paciente para 30. o A partir daí, identifica-se a veia jugular externa dos dois lados, prosseguindo-se com a pesquisa das pulsações venosas jugulares internas; o O paciente deve estar em decúbito dorsal, com o tronco inclinado a 30; o Deve ser traçada uma reta da fúrcula esternal até o pescoço do paciente; o Verifica-se se a visibilidade da veia jugular supera o nível traçado; o Caso a resposta seja positiva, tem-se que existe um comprometi- mento quanto ao retorno venoso; o No caso de a turgência jugular ultrapassar o limite superior da linha traçada, tem-se a presença da chamada estase jugular. ➢ A distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, na pericardite constritiva, no tamponamento pericárdico e na obstrução da veia cava superior. ➢ Geralmente, quando inspiramos, a pressão venosa jugular diminui (uma vez que a inspiração facilita o retorno venoso), mas em casos de pericardite constritiva, por exemplo, ela pode aumentar, gerando o chamado sinal de Kussmaul. ➢ Para falar sobre as demais alterações quando ao sistema venoso jugular, devemos revisar a curva pressórica relativa à pressão venosa jugular. ➢ A primeira elevação que observamos na curva consiste na onda pré-sistólica, que reflete o discreto aumento na pressão atrial, o qual é um reflexo da contração dessa câmara. ➢ Essa curva geralmente aparece um pouco antes de B1 e do pulso carotídeo. ➢ A queda subsequente denomina-se descenso x, o qual começa com o relaxamento atrial. ➢ Essa queda persiste enquanto o ventrículo direito, o qual está contraído durante a sístole, traciona o assoalho do átrio para baixo. ➢ É importante colocar que durante a sístole ventricular, o sangue continua a fluir para o átrio direito a partir das veias cavas. SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO ➢ Após isso, no ciclo cardíaco, tem-se que a valva tricúspide se encontra fechada, sendo iniciado o enchimento atrial, de modo que a pressão no interior da câmara direita começa a se elevar mais uma vez, produzindo a onda v, que se apresenta como uma segunda elevação. ➢ Quando da abertura da valva tricúspide no início da diástole, o sangue do átrio direito flui de modo passivo para o ventrículo direito, levando a uma nova queda da pressão atrial direita, gerando uma queda da curva denominada descenso y. ➢ Pode-se pensar de modo simplificado nessas oscilações, associando o seguinte raciocínio sequencial: contração atrial, relaxamento atrial, enchimento atrial, esvaziamento atrial. ➢ A onda a pode ser considerada a contração atrial e a onda v, o enchimento venoso. ➢ Os dois colapsos são os mais notáveis no pulso venoso normal, sendo que a depressão abrupta no descenso x na parte final da diástole é mais proeminente, ocorrendo um pouco antes de B2. ➢ O descenso y ocorre após B2, na fase inicial da diástole. ➢ As anormalidades detectadas ao exame físico quanto ao pulso venoso jugular são: o Onda a ampla, que pode ser decorrente de estenose tricúspide, estenose pulmonar, dissociação atrioventricular (o átrio direito contrai com a valva tricúspide fechada). o Onda v ampla, que pode ser decorrente de insuficiência tricúspide e de defeito septo atrial. o Descenso y abrupto, que pode ser decorrente de pericardite constritiva. o Descenso y lentificado, que pode ser oriundo de uma estenose tricúspide. EDEMA ➢ Uma das partes importantes quanto à avaliação do sistema vascular consiste na verificação da presença de edema. ➢ Esse achado, quando relacionado a causas metabólicas e cardíacas, é resultado do aumento da pressão hidrostática nos capilares arteriais, a tal ponto que essa supera a pressão oncótica para o vaso, gerando um gradiente pressórico a favor do extravasamento de fluido plasmático para o interstício. ➢ Em regiões edemaciadas, geralmente encontramos a pele local lisa e brilhosa. ➢ Quando palpamos a região, a digitopressão forma uma depressão local, que se desfaz lentamente. ➢ A esse achado chamamos de Sinal de Godet ou do cacifo. ➢ Uma vez que se busca pela presença de edema, deve-se comparar os membros quanto à sua simetria, verificando, caso haja edema, se esse acomete somente um membro ou ambos, e, caso acometa os dois, se o edema é simétrico e se apresenta sinais flogísticos (indicativos de inflamação), como calor, rubor e dor. ➢ Geralmente, o edema com causa cardiovascular ou metabólica, geralmente obedece a gravidade, sendo que acomete inicialmente extremidades para depois SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO acometer regiões superiores. Por isso, podemos classificar tais edemas em cruzes, de acordo com a sua extensão, da seguinte maneira: ➢ Edema somente nos pés, até o nível maleolar:+; ➢ Edema que se estende até o terço médio da perna: ++; ➢ Edema que acomete o membro inferior até o nível do joelho: +++; ➢ Edema que acomete todo o membro superior, da extremidade até a raiz da coxa: ++++; ➢ Edemas que se estendem superiormente, além da raiz da coxa, configuram quadro de edema generalizado, caracterizando um estado denominado de anasarca. EXAME DO TÓRAX INSPEÇÃO ➢ A inspeção do tórax tem o seu início no primeiro contato com o paciente, podendo colocá-lo deitado em decúbitodorsal para melhor examiná-lo. ➢ Como sempre, o examinador deve se posicionar em pé, à direita do paciente, buscando por abaulamentos, cicatrizes, assimetrias e quaisquer outras anormalidades que podem estar presentes no tórax do paciente. ➢ É importante lembrar que abaulamentos podem ser decorrentes do aumento do tamanho do coração, bem como decorrentes de aneurismas da aorta. PALPAÇÃO ➢ Já a palpação consiste basicamente na identificação de frêmitos e do ictus cordis. ➢ O ictus cordis consiste em uma região geralmente pequena do tórax na qual é possível sentir claramente os batimentos cardíacos, decorrente do choque do coração com a parede torácica. ➢ Essa região pode chegar, em alguns casos, a ser até mesmo visível. ➢ Para a sua correta avaliação, deve-se inicialmente observar o tórax do paciente, averiguando de o ictus é visível (lembrar que essa parte é componente de inspeção). ➢ A sua posição habitual se dá, geralmente, no quinto espaço intercostal, na linha hemiclavicular esquerda. ➢ Ao buscá-lo, deve-se procurar uma pulsação da pele na região citada e em suas proximidades. ➢ Identificando ou não o ictus só pela observação, deve-se partir para a palpação propriamente dita, que consiste em espalmar a mão e buscar sentir a pulsação com a região da transição metacarpofalangiana da mão. ➢ Uma vez identificado, deve-se determinar com exatidão a sua localização com base nas linhas do tórax, avaliar a sua extensão (utilizando como medida as polpas digitais; geralmente usamos o indicador como medida, sendo um valor comum o de duas polpas, ou 2,5cm), classificando a sua intensidade pulsátil SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO por meio do sistema de cruzes (+), sendo esse método bastante subjetivo, mas tem-se que um padrão de duas cruzes é considerado o normal. ➢ Achar a localização do ictus cordis bem como classificá-lo quanto à sua extensão é muito importante, pois esse achado pode evidenciar doenças miocárdicas que cursam com dilatação, como quadros de insuficiência cardíaca. ➢ Nesses casos, poderemos encontrar um ictus cordis localizado além dos limites esperados, bem como com uma extensão aumentada, denunciando a dilatação miocárdica, principalmente quando em decúbito lateral esquerdo esse medir mais do que 3 cm. ➢ Enquanto isso, a sobrecarga ventricular é mais provável quando o esse possuir medida entre 4 e 5 cm, com o paciente em decúbito dorsal. ➢ Em casos em que há dificuldade de se identificar o ictus, pode-se pedir ao paciente para se colocar em decúbito lateral esquerdo para aproximar o coração ainda mais da parede torácica e a partir daí, pesquisar a sua localização através da palpação. ➢ Caso ainda assim não o identificar, pode-se pedir para o paciente que expire completamente, mantendo a respiração presa por alguns segundos. ➢ Pacientes do sexo feminino podem requerer que a mama esquerda seja afastada para cima ou para o lado, devendo o examinador solicitar que ela mesma o faça. ➢ No caso da não identificação do ictus, mesmo diante das manobras citadas, pode-se descrever no prontuário que o paciente possui o ictus não palpável. ➢ Algumas anormalidades que podem ser identificadas quando da palpação do ictus são: o Ictus apical propulsivo, que pode ser decorrente de hipertrofia ventricular esquerda. o Deslocamento lateral e inferior do ictus, decorrente de uma dilatação do ventrículo esquerdo; o Ictus pré-sistólico proeminente, decorrente de hipertensão, estenose aórtica e miocardiopatia hipertrófica. o Ictus sistólico apical duplo, de corrente de miocardiopatia hipertrófica. o Ictus proeminente na borda esternal inferior esquerda, decorrente de hipertrofia ventricular direita. o Ictus discinético (abaulamento externo), que pode ser oriundo de aneurisma ventricular, grande área discinética após infarto agudo do miocárdio e miocardiopatia. ➢ No tocante à palpação de frêmitos, esses são realizado com a mão espalmada, dando preferência ao contato da transição metacarpofalangeana da mão com o tórax do SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO paciente, dado o fato de que essa região possui maior sensibilidade, tocando-se os focos de ausculta no precórdio do paciente (elucidaremos cada um na seção de ausculta), a fim de buscar indícios de sopros. ➢ Os frêmitos nada mais são do que manifestações sensoriais e, em algumas vezes, auditivas, da presença de turbilhonamento do fluxo sanguíneo, geralmente decorrente de sopros. ➢ A sua percepção dá-se quando é sentida uma vibração ou zumbido, como consequência da turbulência vascular. ➢ Uma vez que o frêmito tenha sido identificado, a região em que esse foi sentido deve ser auscultada, buscando-se por sopros. ➢ Apesar da busca centrar-se nos focos de ausculta, o examinador pode palpar as demais regiões do precórdio, a fim de tornar o seu exame mais sensível. AUSCULTA CARDIOVASCULAR ➢ Consiste em uma importante habilidade a ser aprendida, uma vez que conduz diretamente para vários diagnósticos. ➢ Focos de ausculta: o Apesar da existência desses locais específicos, o examinador não colocará o estetoscópio somente nesses locais, devendo haver uma investigação de todo o precórdio, bem como regiões circunvizinhas, como a região axilar esquerda, dorso e pescoço. ➢ Os focos de ausculta não correspondem à localização anatômica das valvas que lhes conferem os seus nomes, sendo apenas projeções sonoras, onde seria mais favorável a ausculta de seus sons. FOCO PULMONAR ➢ Está localizado no segundo espaço intercostal esquerdo, junto do esterno. ➢ Ele possui grande relevância para a análise dos desdobramentos de B2, tanto fisiológicos quanto patológicos. ➢ Fenômenos sonoros advindos de acometimentos das valvas pulmonares, bem como os sons advindos do seu funcionamento fisiológico, são bem audíveis basicamente nesse foco, possuindo pouca ou nenhuma irradiação para outros campos. SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO FOCO AÓRTICO ➢ Está localizado contralateralmente ao foco pulmonar, ou seja, no segundo espaço intercostal direito, na região justaesternal. ➢ Porém, cumpre ressaltarmos que muitos dos fenômenos sonoros relacionados à valva aórtica podem ser mais bem auscultados no foco aórtico acessório, localizado entre o terceiro e quarto espaços intercostais, na região justaesternal. FOCO MITRAL ➢ se localiza no quinto espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular, correspondente ao ictus cordis. ➢ Em pacientes com cardiomegalia em estágio avançado, esse foco se desloca lateralmente, em direção à linha axilar anterior. ➢ Justamente por isso é importante que o ictus seja localizado antes de se iniciar a ausculta, uma vez que na sua região serão mais bem percebidos os fenômenos oriundos de uma valva mitral estenótica ou insuficiente. FOCO TRICÚSPIDE ➢ está localizado na chamada área paraesternal, nas regiões entre o quarto e o sexto espaço intercostal, correspondendo à base do apêndice xifoide, ligeiramente para esquerda. ➢ Fenômenos sonoros advindos da valva tricúspide, como sopro sistólico, decorrente de insuficiência dessa valva, são mais bem auscultados nas proximidadesdo foco mitral. ➢ Além dos focos citados, existem outras regiões estratégicas que podem ser auscultadas, como as regiões laterais do pescoço, importantes para a caracterização de sopro de estenose aórtica, com irradiação seguindo a direção do fluxo sanguíneo ejetado pelo ventrículo esquerdo. ➢ Tem-se também as regiões interescapulovertebrais,principalmente a esquerda, na qual melhor se ausculta o sopro da persistência do canal arterial em recém- nascidos. ➢ Para podermos entender os significados da ausculta, precisamos entender o que significam cada um dos sons e, para isso, revisaremos brevemente o ciclo cardíaco. ➢ Aos sons cardíacos, denominamos bulhas, sendo que o índice de cada uma delas é posto de acordo com a sua posição em relação à sístole. ➢ Durante a diástole, o átrio esquerdo se encontra cheio de sangue, de modo que a pressão em seu interior supera discretamente aquela do ventrículo esquerdo relaxado. ➢ Isso propicia um gradiente pressórico que promove a passagem do sangue do átrio esquerdo para o ventrículo homolateral por meio da abertura da valva mitral. ➢ Um pouco antes do início da sístole ventricular, a contração atrial provoca um pequeno aumento da pressão nas duas câmaras. ➢ Durante a sístole, tem-se o início da contração ventricular esquerda, de modo que a pressão ventricular supera rapidamente a atrial, promovendo o fechamento da valva mitral. ➢ Esse fechamento da valva mitral produz a primeira bulha cardíaca, denominada B1, a qual define a duração da sístole. ➢ A pressão ventricular esquerda continua a aumentar, ultrapassando a pressão da raiz da aorta, induzindo a abertura da valva aórtica. o Em condições patológicas, um sopro de ejeção protossistólico (logo após B1) acompanha a abertura da valva aórtica. SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO o Normalmente, a pressão ventricular esquerda máxima corresponde à pressão arterial sistólica; ➢ Começa a ocorrer a queda da pressão ventricular à medida que o ventrículo esquerdo ejeta a maior parte do volume sanguíneo armazenado. o Quando a pressão ventricular esquerda cai abaixo da pressão aórtica, ocorre o fechamento da valva aórtica. o Esse fechamento da valva aórtica produz a segunda bulha cardíaca, denominada B2, a qual define a duração da diástole. ➢ Durante a diástole, a pressão ventricular continua a cair, alcançando níveis inferiores ao da pressão atrial esquerda, ocorrendo novamente a abertura da valva mitral. o Tal evento costuma ser silencioso, mas pode ser audível como um estalido de abertura patológico, caso haja alguma restrição à movimentação das válvulas das valvas cardíacas, como ocorre na estenose mitral. ➢ Após a abertura da valva mitral, ocorre o enchimento ventricular rápido, com o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, logo no início da diástole. o Em crianças e em adultos jovens, pode surgir desse evento uma terceira bulha, denominada B3, secundária à desaceleração rápida da coluna de sangue contra a parede ventricular. o Quando B3 é auscultada em idosos (fenômeno denominado como galope por B3), geralmente é um indicativo de alteração patológica quanto a uma sobrecarga de volume. ➢ A quarta bulha (B4) assinala a contração atrial, que ocorre após o enchimento ventricular rápido, a fim de ejetar o restante de sangue contido no átrio esquerdo. o Geralmente, ela não é audível em adultos e, quando é auscultada, precede B1 do batimento cardíaco seguinte, refletindo uma alteração patológica na complacência ventricular. o Ou seja: tem-se uma contração atrial em direção a um ventrículo rígido, podendo ocorrer em casos de estenose aórtica, hipertensão arterial, miocardiopatia hipertrófica e doença arterial coronariana; ➢ As bulhas devem ser classificadas quanto à sua fonética (normo, hiper ou hipofonéticas), quanto ao seu ritmo (se regular ou arrítmico) e quanto ao seu tempo (em dois ou três tempos). ➢ Com isso, em pacientes com exame normal, tem-se a famosa anotação dos prontuários de Bulhas Rítmicas, Normofonéticas em dois tempos, ou BRNF2T. ➢ Apesar de termos descrito os eventos do ciclo cardíaco de acordo com as estruturas do coração esquerdo, sabemos que alterações semelhantes ocorrem com as estruturas do coração direito (átrio e ventrículo esquerdo e valvas tricúspide e pulmonar). ➢ Contudo, as pressões direitas são consideravelmente menores quando comparadas às correspondentes do lado esquerdo. ➢ Junto a isso, tem-se o fato de que os eventos do lado direito ocorrem um pouco mais tarde do que os do lado esquerdo. ➢ Desse modo, em algumas situações, podemos auscultar em uma única bulha, dois componentes distintos, sendo o primeiro derivado do fechamento da valva aórtica (A2) e o segundo decorrente de fechamento da valva pulmonar (P2). ➢ Durante a inspiração, ocorre o aumento do tempo de enchimento do coração direito, de modo a incrementar o volume sistólico ventricular direito, fazendo com que a duração da ejeção ventricular direita dure mais do que a esquerda, de modo a retardar o fechamento da valva pulmonar, gerando o chamado desdobramento de B2 em dois componentes audíveis. ➢ Uma vez que, como já discutimos antes, a ausculta dos sons da valva pulmonar são mais restritos à localização do seu foco, o SEMIOLOGIA SISTEMA CARDIOVASCULAR - SANARFLIX MILENA BAVARESCO desdobramento de B2 é melhor percebido nesse foco. ➢ Quanto a B1, também temos dois componentes: o som da valva mitral, mais precoce, e o da valva tricúspide, mais tardio. ➢ Em comparação com o som oriundo da valva tricúspide, o fechamento da valva mitral tende a ser mais hiperfonético, refletindo a alta pressão do coração esquerdo. ➢ Logo, como o som tricúspide é mais suave, o desdobramento de B1 é melhor auscultado no foco tricúspide, ao longo da borda esternal inferior esquerda. ➢ Diferente do desdobramento de B2, o de B1 não varia com a respiração. Ela reflete um discreto e normal assincronismo da contração ventricular, podendo ser auscultada em jovens e em crianças. ➢ No caso de o desdobramento ser muito amplo, levanta-se a suspeita de bloqueio de ramo direito. ➢ Para realizar a ausculta, deve-se ter à disposição, um ambiente silencioso, devendo iniciar o exame pela base ou pelo ápice do coração, com o paciente sentado ou em decúbito dorsal. ➢ Ao auscultar as bulhas, devemos com parar a sua ocorrência com a dos pulsos arteriais, podendo-se ter como parâmetro o pulso carotídeo ou radial. ➢ Assim, deve-se verificar se B1 ocorre imediatamente antes da ocorrência do fluxo sanguíneo que resulta no pulso sentido. ➢ Deve-se comparar as intensidades de cada bulha, deslocando-se o estetoscópio para os demais focos de ausculta, sendo que B2 costuma ser mais hiperfonética na base, enquanto B1 costuma o ser na região apical do coração.
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