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Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Habilidades Médicas Cardiopatias Congênitas • O sistema cardiovascular é o primeiro sistema a se formar intraútero, por volta da 3ª semana. • As cardiopatias congênitas são relacionadas a fatores ambientais. Elas são qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração presentes desde o nascimento. Surgem nas primeiras oito semanas de gestação e podem ou não produzir sintomas. • As causas são várias: infecções, uso de medicamentos pela gestante, agentes físicos ou químicos, mas na maioria das vezes não se consegue estabelecer relação entre o defeito congênnito e uma possível causa. • Elas podem ser divididas entre cardiopatia cianótica e acianótica. Na vida fetal temos a comunicação entre o AD e o AE, chamado forame oval, e uma comunicação entre a Aorta e a artéria pulmonar, chamada canal arterial. Nos primeiros dias de vida eles tendem a desaparecer (por volta de 24-48h). Cardiopatias acianóticas Não tem manifestações de má perfusão periférica. As principais são: 1. Comunicação interartrial (forame oval) 2. Comunicação interventricular 3. Persistência do canal arterial (alguns dias) Hiperfluxo//hipertensão pulmonar COMUNICAÇÃO INTERATRIAL Segundo defeito mais comum; A sua principal característica é o hiperfluxo pulmonar (maior fluxo de sangue indo para o pulmão) decorrente do desvio de sangue do átrio esquerdo para o direito, pela comunicação existente nessas cavidades (orifício na fossa oval). SHUNT E-D (fluxo) -> Por algum motivo o forame oval não se fecha completamente, e como o AE possui maior pressão, o sangue flui do AE para o AD devido a esta comunicação. Os sintomas costumam ocorrer na 3ª década de vida -> dispneia de esforço e infecções de repetições (infecções de vias aéreas costumam ser comuns). No RX de tórax, evidencia-se dilatação de AD e VD, abaulamento do arco médio e sinais de hiperfluxo pulmonar. AUSCULTA: Desdobramento constante e fixo de B2 no foco pulmonar; Sopro sistólico, de ejeção, de pequena intensidade, localizado na área pulmonar. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR É a mais frequente dentre as cardiomiopatias acionóticas. Há um defeito do septo interventricular na sua porção membranosa, logo abaixo da valva aórtica. 1/3 das comunicações entre ventrículos se fecham espontaneamente no primeiro ano. Nestes casos, o defeito costuma ser pequeno. A sua principal característica é a passagem de sangue do VE para o VD (SHUNT E-D) durante a sístole ventricular, o que resulta em hiperfluxo pulmonar com aumento do retorno sanguíneo ao átrio esquerdo, que vai elevar sua pressão, causando, em consequência hipertensão venocapilar pulmonar. Manifestações clínicas vão depender do tamanho do orifício. Quando pequeno o paciente é assintomático. Nas comunicações de porte mediano, a criança apresenta dispneia ao mamar, ganho de peso anormal e infecções respiratórias de repetição. Nas grandes comunicações, a criança desenvolve precocemente uma insuficiência cardíaca. O RX evidencia aumento da circulação pulmonar e crescimento dos ventrículos. INSPEÇÃO E PALPAÇÃO: Impulsão ventricular direita e esquerda com características hipercinéticas. Frêmito sistólico mais intenso na região mesocárdica. AUSCULTA: Hiperfonese de 2ª bulha cardíaca no foco pulmonar. Sopro holossistólico de regurgitação (4 e 5º EIE). Sopro mesodiastólico no foco mitral. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL O canal arterial se fecha em torno de 24h após o nascimento. Nesse defeito congênito ocorre passagem de sangue da aorta para a artéria pulmonar. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Comum no sexo feminino. Mães com rubéola na gravidez possuem costumam desenvolver isso em seus filhos. No RX observam-se dilatação do AE e do VE, abaulamento da artéria pulmonar e aumento da circulação pulmonar. AO EXAME FÍSICO: Sobrecarga de VE. Presença da 3ª bulha cardíaca. Sopro contínuo, audível no 1º e 2º EIE, chamado “sopro em maquinaria”. Sinais periféricos – pulso célere (“pulso em martelo d’água”), pulsações arteriais amplas no pescoço e aumento da pressão diferencial. COARCTAÇÃO DA AORTA Há um aumento da resistência da aorta (aumento da RVP) e por isso o coração precisa exercer mais força para ejetar o sangue, desenvolvendo uma hipertrofia do VE -> Aumento da pós carga de VE. ESTENOSE PULMONAR 10% dos casos Caracteriza-se pela presença de valvas semilunares malformadas, que impossibilita a abertura normal da valva. Como consequência da obstrução, há hipertrofia de VD cuja magnitude depende do grau da estenose da valva. Os pacientes com estenose leve ou moderada são praticamente assintomáticos. Contudo, quando é grave, advém insuficiência ventricular direita, com os clássicos sinais de hipertensão venosa. EXAME FÍSICO: Estenose Leve –> clique de ejeção, desdobramento da 2ª bulha cardíaca e sopro sistólico de ejeção Estenose Moderada -> desdobramento da 2ª bulha é mais amplo, e o sopro é mais intenso, acompanhando- se de frêmito. Estenose Grave -> aparece ritmo de galope atrial, sopro de grande intensidade e acompanhado de frêmito. Cardiopatias Congênitas cianóticas Diferente das outras cardiopatias, nessa temos um SHUNT D-E (devido à diferença de pressão), hipofluxo pulmonar e presença de cianose em extremidades. TETRALOGIA DE FALLOT Mais frequente dentre as cianóticas. É decorrente de quatro defeitos anatômicos: 1. Comunicação interventricular 2. Estenose pulmonar infundibulovalvar 3. Dextroposição da aorta (está deslocada) 4. Hipertrofia de VD. O desvio anterior do septo infundibular provoca obstrução na via de saída do VD (estenose pulmonar infundíbulovalvar) e uma comunicação interventricular (CIV). A gravidade é dependente da estenose infundíbulovalvar. Quando a estenose é pronunciada, grande parte do sangue que chega ao VD passa diretamente para a aorta, por meio da comunicação interventricular; nesses casos, irá sangue pouco oxigenado para o corpo e a cianose é permanente e intensa. Em contrapartida, se a obstrução na via de saída do ventrículo direito não for grave, boa parte do sangue que chega a esta cavidade consegue alcançar os pulmões, em que será oxigenado, de tal modo que a cianose só vai aparecer durante a execução de esforço físico. Muitas crianças com este defeito não apresentam cianose ao nascer, a qual só vai se manifestar após alguns meses de vida. Estes pacientes estão sujeitos a “crises de hipoxia”, após algum esforço, que se caracterizam por aumento da cianose, taquipneia e perda da consciência. A causa é espasmo do infundíbulo do ventrículo direito. É uma situação grave, com alta mortalidade. Nas crianças de mais idade, é possível observar a “posição de cócoras” que elas adotam intuitivamente -> nesta posição, há um aumento da RVP, que é transmitido para a Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO aorta e consequentemente para o VE. Isso diminui o SHUNT da D-E, tendo uma maior quantidade de sangue indo para os pulmões (aumento do fluxo pulmonar) e desenvolvendo uma maior troca gasosa, o que diminui a hipóxia. O RX de tórax mostra um coração de tamanho normal ou hipertrofia do VD, além da diminuição da circulação pulmonar. INSPEÇÃO: Abaulamento precórdio e hipertrofia de VD. AUSCULTA: 2ª bulha mais audível no foco tricúspide, diminuído no foco mitral e no foco pulmonar. Sopro sistólico de ejeção. Valvulopatias Nas valvulopatias há uma alteração no padrão de funcionamento das valvas. Na estenose há um prejuízo na abertura das válvulas, enquanto a insuficiência se trata do prejuízo no fechamento. Insuficiência aórtica Incapacidade de fechamento das sigmoides aórticas, permitindo o refluxo de certa quantidade de sangue para o VE durante a diástole. Temos como causas a Aterosclerose, endocardite infecciosa ou doença primária das valvas semilunares. A origem congênita é rara. Temos como consequência uma hipertrofia ventricular excêntrica -> necessidade de um volume maior. Sintomas de insuficiência ventricularesquerda: dispneia e angina. MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS Ictus cordis deslocado para baixo e para esquerda, indicativo da hipertrofia do VE. Sopro diastólico audível em foco aórtico. Nos casos graves pode haver a presença do Sopro sistólico de ejeção e do hiperfluxo de sangue para a valva aórtica. MANIFESTAÇÕES PERIFÉRICAS Aumento da pressão sistólica e diminuição da pressão diatólica. Pulso radial amplo e célere - pulso martelo d’água Pulsações visíveis da carótida Pulsação na base da língua - Sinal de Minervini Oscilações da cabeça acompanhando os batimentos cardíacos - Sinal de Musset Estenose aórtica Consiste na redução do orifício da valva aórtica e em alterações da via de saída do VE. A causa por malformação congênita é representada por uma valva biscúspide que vai se tornando espessa, fibrótica e calcificada com redução da mobilidade de seus folhetos e diminuição da área orificial. Na causa por doença reumática, o processo inflamatório determina espessamento dos folhetos da valva e fusão das comissuras, impedindo sua abertura normal. Na causa por degeneração senil com deposição de cálcio, mais frequente em pacientes acima de 60 anos, acompanha-se de alterações degenerativas e deposição de cálcio nos folhetos valvares. Há uma diminuição do fluxo sanguíneo através das estruturas valvares calcificadas. Manifestações clínicas dependem da hipertrofia ventricular esquerda, que é o mecanismo de que dispõe o coração para vencer a obstrução e manter um débito cardíaco adequado. Essa hipertrofia só é benéfica até certo limite, acima do qual ocorre hipoxemia da musculatura Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO ventricular por não haver desenvolvimento proporcional da circulação coronariana. Mais comum em idosos, por volta da 6ª década de vida. Presença de dor torácica anginosa, síncope pós esforço e dispneia. A presença de angina do peito e síncope condiz com uma estenose grave. Diagnóstico precoce. EXAME FÍSICO: Pulso radial de pequena amplitude – pulso parvus e tardus. Ictus cordis deslocado para baixo e para esquerda. Frêmito sistólico. Sopro mesossistólico de ejeção. Clique sistólico que antecede o sopro. Desdobramento invertido da 2 ª bulha cardíaca. Insuficiência Mitral Ocorre devido ao fechamento incompleto da valva mitral, ocorrendo refluxo de sangue para o AE durante a sístole ventricular. Causas: Doença reumática, prolapso valvar mitral e o IAM. Como ela deveria estar fechada na sístole do ventrículo, acontece um aumento do AE enquanto o VE sofre uma sobrecarga de volume. EXAME FÍSICO: Presença de B3 Sopro holossístolíco (durante toda a sístole) Click mesosistólico – prolapso de valva mitral, degeneração mixematosa. Ictus cordis palpável a longo prazo Estenose Mitral Estreitamento do orifício atrioventricular esquerdo devido a espessamento e fibrose das cúspides valvares com fusão das suas comissuras. Causas: Doença reumática, síndrome carcinoide, artrite reumatoide, lúpus eritematoso. Uma das suas características é a sua lenta progressão. Pode ter manifestações leve, moderada e grave, a depender da estenose. Leve -> paciente assintomático mesmo aos esforços. Há apenas aumento da pressão no AE, que por si só é capaz de manter o volume/minuto dentro dos limites normais. Moderada -> Aparece dispneia e palpitações após os esforços, que traduzem a congestão na circulação pulmonar. Grave -> intensificação da dispneia que pode ocorrer aos mínimos esforços e na posição deitada, dispneia paroxística noturna, tosse seca e hemoptise. EXAME FÍSICO: Abaulamento paraesternal esquerdo -> desenvolvimento de hipertensão pulmonar grave. Presença de cianose das mãos e do rosto. Ictus cordis é impalpável, pois há um aumento do AE e não do VE. 1ª bulha no foco mitral e a 2ª bulha no foco pulmonar são palpáveis. Hiperfonese da 1ª bulha no foco mitral e da 2ª bulha no foco pulmonar Estalido da abertura mitral (nos 4 focos cardíacos) Sopro diastólico (com características de ruflar), com reforço pré sistólico na área mitral. Mais evidente em decúbito lateral esquerdo e durante exercício físico. Insuficiência tricúspide Fechamento incompleto da valva tricúspide, com regurgitação de sangue para o AD, durante a sístole ventricular. Presença de hipertrofia de VD. Evidência de hipertensão pulmonar Sintomas de insuficiência ventricular direita aparecem tardiamente na evolução do paciente. No RX de tórax, temos evidências de aumento de AD associado à dilatação de VD. EXAME FÍSICO: Sopro holossistólico de alta frequência, audível na área tricúspide que aumenta com a inspiração (manobra de Rivero-Carvallo). Se a insuficiência for grave pode haver pulsação hepática sistólica. Prolapso da Valva Mitral Caracteriza-se pela protrusão de uma ou ambas as cúspides valvares para dentro do átrio esquerdo durante a sístole ventricular; Sintomas: arritmias e dor precordial sem as características da dor de isquemia miocárdica. O dado mais importante para o reconhecimento dessa valvulopatia é a ocorrência de um clique mesossitólico na área mitral, podendo estar acompanhado ou não de um sopro mesotelessístólico. Referências: Porto, Celmo Celeno. Semiologia médica / Celmo Celeno Porto; coeditor Arnaldo Lemos Porto. - 8. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. CASOS CLÍNICOS DO HAM PRÁTICO 1) J.S.F., 60 anos, branco, ex-tabagista, há cerca de 6 meses apresenta dispneia e angina na realização de moderados esforços. Ao realizar o exame físico constatou-se PA 100/80 mmHg, FC 88 (bom), pulso de baixa amplitude e ascensão lenta, ACV RCR 2T, sopro mesosistólico 3+/6 em borda esternal direita superior com irradiação para carótidas, AR MVF, ARA, extremidades bem perfundidas e sem edemas. “pulso de baixa amplitude e ascensão lenta” = pulso parvus e tardus. “ACV RCR 2T” = aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em 2 tempos. “AR MVF, ARA” = aparelho respiratório: mrumúrio vesicular fisiológico, ausência de ruídos adventícios. Hipótese diagnóstica: estenose aórtica. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO 2) J.P.C, 3 anos, sexo feminino, parda, natural e procedente do interior da Bahia, comparece na UBS acompanhado pela mãe que procurou atendimento com queixa de “desmaio” há 1 dia. Refere que a criança apresentou “boca e mãos azuladas” após esforço físico e irritabilidade. Menciona ainda, melhora do quadro quando ela adota a posição de cócoras. Nega doenças prévias, alergias e cirurgias. Não há relatos de hipertensão e diabetes na família. PA 100/70 mmHg; AR MVF ARA; ACV ictus impalpável, RCR 2T, SS de ejeção em foco tricúspide, ausência de turgência jugular. “SS de ejeção” = sopro sistólico de ejeção. Hipótese diagnóstica: tetralogia de fallot. 3) A.C.M, 30 anos, sexo masculino, comparece em unidade com queixa de dispneia iniciada há 6 meses, com piora progressiva do quadro nos últimos 30 dias. Refere ser hipertenso e dislipidêmico em uso de losartana 50mg, hidroclorotiazida 25mg, sinvastatina 20mg. Nega prática de atividade física. Ao exame FC 80 bpm, PA 160/80 mmHg, ictus palpável no 7º EIE. Havia sopro diastólico audível em aorta. Pulsos estavam presentes, pulso radial abrupto e de forte intensidade, pulsação de carótidas, pulsação do leito ungueal. Hipótese diagnóstica: insuficiência aórtica.
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