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Douglas Manoel Antonio Dos Santos Clínica e Psicomotricidade Relacional 1ª Edição | Junho | 2014 Impressão em São Paulo / SP Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Douglas Manoel Antonio Dos Santos Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 S237p Santos, Douglas Manoel Antonio dos. Psicomotricidade clínica e relacional. / Douglas Manoel Antonio dos Santos. – São Paulo : Know How, 2014. 126 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 1. Psicomotricidade clínica. 2. Terapias aquáticas. 3. Equoterapia. I. Título. CDD 152.3 Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Marilia Lopes Revisão Ortográfica Vanessa Almeida 1a Edição: Junho de 2014 Impressão em São Paulo/SP Psicomotricidade Clínica e Relacional Apresentação Seja bem-vindo ao maravilhoso mundo da Psi- comotricidade. Este livro foi cuidadosamente ela- borado para lhe instruir e capacitar com o que há de mais atual na ciência psicomotricista. Em quatro unidades, o material tratará este ambiente de forma esclarecedora. Começaremos estudando os aspectos históricos, as especificidades e terminações do aten- dimento a crianças, o ligamento entre seus sintomas e a dinâmica geral. Em seguida, ressaltaremos a im- portância da clínica em Psicomotricidade Relacional com adolescentes e o setting para a elaboração dos lutos infantis, o reencontro com o desejo e a retifica- ção da própria subjetividade. Desejo a você um excelente trabalho e, com sensibilidade, aproveite ao máximo a aquisição de conhecimento neste valoroso tema. Bons estudos e sucesso! Prof. Douglas Manoel A. Santos Sumário Unidade 1 10 A Psicomotricidade Clínica, Funcion- al E Relacional Desde O Seu Firmamento No Brasil 1.1 A História Da Psicomotricidade 1.2. Os Fundamentadores da Psicomotricidade 1.3 A Psicomotricidade Relacional 1.4 A Psicomotricidade defi nida como Terapia Assertiva no Brasil 1.5 A chegada da Psicomotricidade relacional da Europa 1.6 A Inclusão da Psicomotricidade relacional no Brasil 1.7. Diversifi cação dos principais conceitos e concepções 1.8 A extrema importância do brincar para desenvolver 1.9 Quais as principais áreas de atuação para um psicomotricista? 1.10 A Psicomotricidade relacional no ambiente escolar 1.11 A Psicomotricidade relacional na empresa 1.12 A clínica psicomotricista 1.13 Psicomotricidade Relacional 1.14 Fatores diferenciais na Psicomotricidade Unidade II 35 A Psicomotricidade Com Foco Nos Limites e as Diversas Possibilidades 2.1 Limites E Possibilidades Na Clínica Infantil E Infanto-Juvenil. 2.1 As habilidades motoras no contexto escolar 2.2. A quem é destinada a Psicomotricidade Funcional? 2.3. É recomendado iniciar as sessões a partir de qual momento? 2.4. O que devo considerar como alarmante para que eu procure um especialista na primeira infância? 2.5. A Metodologia nas intervenções psicomotricistas 2.6. A Iniciação ao observatório da Psicomotricidade Clínica 2.7. Por que observar para intervir? Unidade III 47 Técnicas de Trabalho Clínico Na Psicomotricidade E Terapias Aquáticas 3.1. Material para intervenção 3.1.1. Quem Brinca, Seus Males Espanta 3.2. Sinopse Sobre As Fases do Desenvolvimento Motor 3.3 Sugestões de Músicas 3.4 Dinâmica 3.5. Iniciação Nas Atividades Clínicas A Partir Das Funções Psico- motoras 3.5.1 Identifi cação de Dominantes na Psicomotricidade 3.6. Clínica Psicomotora II 3.7. A Psicomotricidade Relacional e o meio aquático. Metodologias de trabalho a partir da ludicidade com foco no Autismo 3.8. Regra para o setting de trabalho com o autista 3.9. Metodologia do trabalho psicomotor no meio aquático para a educação infantil Unidade IV 81 Equoterapia e a Psicomotricidade Com Foco Na Inclusão De Necessi- dades Consideradas Graves 4.1 A Psicomotricidade Relacional com foco na Equoterapia: postu- ra e posicionamento. 4.2. A importância da visão e a estimulação da criança cega com a Psicomotricidade no setting clínico e terapêutico. 4.2. Estimulação psicomotora da criança cega 4.3 Atividades que enfocam a estimulação do controle dos movimentos 4.4. Vocabulário de Psicomotricidade Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas Complementares 9 Introdução Todos os seres humanos, em um natural e ir- revogável processo de nascer, crescer e morrer, passam por situações traumáticas ou carregadas de significados únicos que, psicofisiologicamente, ab- sorvem um trauma e causam um sofrimento tanto para si como para aqueles com quem convivem. A originalidade e a assertividade dos métodos de intervenção psicomotora relacional estão totalmente ligadas à problemática corporal, que compreende di- retamente o corpo em seu modo singular de atuação, reduzindo o foco na problemática colocada por pes- soas desprovidas do conhecimento científico. Sendo assim, na clínica psicomotora relacional, é preciso levar-se em conta que fraturas emocionais e físicas, em geral, marcadas na fase inicial da infância, são consequências da falta de contato proveniente da mãe ou responsáveis. A falta de afeto dos genito- res é que causa essas cicatrizes emocionais. Agora, quando tocamos no assunto, a criança e o adolescente são conduzidos pelos caminhos do pró- prio corpo em direção ao desconhecido por ele (causa do sintoma) que o faz sofrer, ajudando-o, assim, a se reabilitar nas funções físicas e psicológicas, trazendo, ao mesmo tempo, mais qualidade de vida com previ- são de sucesso em curto, médio e longo prazo. 10 Unidade 1 A Psicomotricidade Clínica, Fun- cional E Relacional Desde O Seu Firmamento No Brasil 1.1 A História Da Psicomotricidade Quando falamos em Movimento Corporal, o ser humano, em sua complexa forma, é estudado, aprendido, analisado e redescoberto em constante frequência desde a sua origem. Não há definido exa- tamente onde começaram os registros no campo da Psicomotricidade, mas algumas evidências empíricas afirmam que na Europa, especificamente na Grécia, iniciaram-se os estudos neste tema. A extrema alie- nação e adoração dos greco-romanos ao corpo era tamanha que se chegou ao ponto de compararem a beleza física e estética ao intelecto, pensamento este traduzido na frase “mens sana in corpore sano” (mente sã num corpo são). Sendo todos eles prati- cantes da corpolatria de forma extremista. As sociedades secretas que cultuavam o corpo em rituais com diversas formas de adoração pude- ram, ainda, serem vistas nas obras de arte dos viven- tes daquela época. Ainda hoje, na Europa, há várias exposições grandiosas, e artigos de decoração em todo o mundo. 11 Tempos mais tarde alguns filósofos vieram, de forma extremamente exacerbada, afirmar que a di- cotomia corpo e alma são duas matérias completas, porém diferentes, colocando o corpo como conti- nuidade e a alma como o pensamento, um elemento simples sem extensão, sendo esta a única em relação ao corpo, completa e imortal. Entretanto, estabelece certa ligação entre a alma e o corpo, havendo uma relação entre eles além de simples convivência, para haver interação de movimentos. Este pensamento de propor uma mínima possi- bilidade de interação entre corpo e alma gerou gran- de dificuldade de ser mantido, uma vez que, para al- guns estudiosos, corpo e alma continuam a ser duas substâncias completas e firmemente opostas. O dita- do que diz: “os opostos se atraem” não é uma regra, mas, talvez, senão por isso, tenha sido criada a ideia de força, destinada à função da união da alma e do corpo, como sendo algo primitivo que encontramos em nós, pela quala alma age sobre o corpo. Partindo agora por um contexto da neurologia e da neuropsicofisiologia, decorrentes de inúmeras ne- cessidades de se explicar graves lesões corporais sem que, aparentemente, houvesse lesões cerebrais que as- sim justificassem, aparecem os primeiros estudos sobre corpo e o movimento não mais como sendo simples extensão, como uma porção de material, uma máquina com exatos e visíveis correspondentes cerebrais. 12 Para explorar e deixar mais claro este estudo, sur- ge um estudioso e referência em Psicomotricidade e Ciências, Levin (1995), afirmando que a primeira vez que a Psicomotricidade foi nomeada como palavra, em 1870, foi em decorrência da imposição em massa da classe médica para explicar os fenômenos clínicos de ordem neurológica e motora, através do desenvol- vimento e descobertas da neurofisiologia e neurologia pediátrica, possibilitando conhecer diferentes disfun- ções medias e graves que não mantinham, necessaria- mente, relação com lesões cerebrais, ou, na existência dessas que fossem claramente localizadas em exames protocolares de ordem médica. Ainda neste caminho histórico é importante salientar a grande contribuição do médico francês Tissé, que atendeu e tratou um caso de instabilidade mental com a chamada ginástica médica, por acredi- tar que, se direcionado de forma correta, dentro de procedimentos médicos, o trabalho muscular com- pensaria as impulsões enfermas dos seus pacientes, assim como o controle respiratório interferiria nas redes cerebrais das quais se origina a vontade, onde se alojam os pensamentos. Todavia, apesar da prática clínica de Tissé, te- mos como regra entre a maioria dos autores, Ernest Dupré, neurologista francês, sendo visto como pai da Psicomotricidade Relacional ao realizar os pri- meiros estudos abordando distúrbios da cognitivida- 13 de e demência mental, e introduzindo a dissociação entre as duas síndromes, a mental e a motora, expli- cada pela independência relativa das zonas psíquicas e motoras no córtex cerebral. Outro elemento estudado foi a importância do movimento corporal, inserido nos seus movimentos, na formação do ser, tanto no que diz respeito à inte- ligência, como em relação a ser um meio importante de manifestação do indivíduo. Se você que está fazendo este curso e quer se tornar um psicomotricista, então comece refletindo sobre a seguinte afirmação de Dupré: A atividade física tem, para o médico, o duplo interesse de ser o único meio, para o indivíduo traduzir para o exterior seus sentimentos e suas ideias e de construir, por ela mesma, um elemento primordial e objetivamen- te perceptível da personalidade. (DUPRÉ – 1993 apud MESQUITA K; ZIMMERMAN E, 2006). Então, após cair por terra a visão ambígua cor- po-mente, e diante da concepção científica, temos a Psicomotricidade, cujo nome já traduz por si uma síntese do que é: o psico, irrevogavelmente ligado ao movimento motor, caracterizada por ser a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu 14 mundo interno e externo, bem como suas inúmeras possibilidades perceptivas, motoras de atuar, agir, ou seja, de interagir com o outro, com os objetos e con- sigo mesmo, tendo o corpo o importante papel de originar as aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. A Psicomotricidade vai muito além do campo clínico onde segue atuando também na compreen- são da terapia, nas atividades diárias da vida e na educação e da reeducação, ou seja, são inúmeras as possibilidades de atuação e intervenção utilizando a Psicomotricidade como ciência comprovada em seus efeitos, sendo também assertiva e eficaz. 1.2. Os Fundamentadores da Psicomotricidade Julian de Ajuriaguerra (1911-1993) Neuropsiquiatria, psicanalista, pesquisador e teó- rico, discípulo de Henri Wallon, conquistou reconhe- cimento em vários campos da psiquiatria e da psico- logia, com foco sempre no desenvolvimento humano. Focou suas pesquisas cientificas em genética e patologia, readaptou vários estudos de desconhe- cidos de forma mais clara, falando sobre os trans- tornos psicomotores que pendem entre os fatores neurológicos e psiquiátricos, redefinindo o conceito de deficiência motora ao considerá-la uma síndrome com todas as suas singularidades. 15 Anos depois conheceu Jean Piaget, com quem pôde comparar suas pesquisas e aprender muitos fatores que vieram a fazer com que intensificasse seus estudos em Psicomotricidade e, apesar de tudo, um fato muito curioso é que este autor rejeita toda a ideia de que a Psicomotricidade poderia ter como foco exclusivamente o fator motor. E, nos dias de hoje, muitos que se dizem psi- comotricistas erram ao praticar tal ciência por não estudarem o suficiente algumas matérias essenciais para exercerem esta prática, como Psicofisiologia e Neuroanatomia, fazendo com que muitos pacientes fiquem rodando de mão em mão sem significativas melhoras em sua qualidade de vida. Jean Piaget (1896-1980) Referência mundial em Psicologia da Educação. Foi considerado um dos maiores conhecedores do desenvolvimento cognitivo, tornou-se um dos mais respeitáveis representantes da Psicologia da Apren- dizagem e do desenvolvimento cognitivo, tornando- -se, em sua época, um escritor polêmico em todos os padrões já estabelecidos como regra. Atuou como grande pesquisador e observador do processo de aquisição do conhecimento, dentro de uma rigorosa metodologia científica, a fim de ex- plicar como se desenvolve a inteligência nos indiví- duos a partir da cognição, principalmente, na fase 16 infantil, razão pela qual sua ciência é denominada de Epistemologia Genética. Jean Le Boulch (1924-2001) Foi um grande especialista em Reabilitação Funcional, cuja obra pode ser dividida em duas fa- ses: a primeira traz rejeição à Educação Física es- tabelecida pelas instituições, levando-o a abandonar o ensino da disciplina. E na segunda fase temos a criação do método/teoria psicocinética – ciência do desenvolvimento humano. Tema que hoje ainda é defendido em muitas teses de doutorado. Bernard Aucouturier (1934) Professor de Educação Física, psicomotricista internacionalmente reconhecido, fundador da PPA (Prática Psicomotora Aucouturier). Seus estudos ganharam grande reconhecimento pela classe cien- tifica nas áreas da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicanálise, Bernard seguiu muito dos estudos de Jean Piaget e de Henry Wallon, que enfatizavam a importância do movimento, do “diálogo tônico” na aquisição de todas as fases do desenvolvimento. André Lapierre (1923-2008) Atuou por muitos anos como professor de Educação Física e escreveu diversas obras em Psico- motricidade. Este autor tinha como foco pesquisas 17 sobre o corpo, sua estrutura e atividade motora. Ao evoluir em seus estudos, Lapierre rejeita a técnica de Educação Física utilizada na época, pois os cientistas da área não dominavam a Fisiologia e a Neuroanato- mia como deveriam, o que faz deste autor um gran- de questionador, derrubando em sequência diversas teses que eram utilizadas como regra para o exercí- cio da Educação Física. 1.3 A Psicomotricidade Relacional A Psicomotricidade Relacional passa por al- gumas regras básicas e precisam ser seguidas com rigidez e protocolo definido e em conjunto mul- timodal. O psicomotricista precisa ter a capacida- de de escutar sempre, considerando e anotando o diálogo direto e indireto entre o corpo e os as- pectos psicológicos da criança ou adolescente a sua frente, tendo total compreensão dos fatores psicológicos, problemas relacionais, interpesso- ais, oferecendo um setting de jogo espontâneo, dando incentivo e facilitando ao indivíduo mani- festar e expressar suas diversas dificuldades, ne- cessidades e desejos reprimidos, potencializando a socialização através de uma linguagem clara e simbólica do comportamento natural e descon- traído, por meio de uma leitura de seu conteúdo comunicativo-simbólico, a fim de intervirna es- 18 truturação e evolução da dimensão do problema apresentado para iniciar o processo de ajuda sig- nificativa para aquele indivíduo. O psicomotricista terá grande sucesso em to- das as suas intervenções se praticar o ato de obser- var e documentar todos os detalhes constantemente e jamais ser imediatista, pois é aí que o profissional comete erros irrecuperáveis, então, jamais afirme ou confirme algo sem primeiro praticar a “super visão”, ou seja, o psicomotricista precisa ser um observador de excelência. 1.4 A Psicomotricidade definida como Terapia Assertiva no Brasil Em meados de 1970, a Psicomotricidade Re- lacional foi cientificamente comprovada e institu- ída como instrumento de terapia completamente eficaz e mais poderosa do que se imaginava, pois, até então, era vista apenas como fonte de traba- lho unicamente pedagógico. Lapierre investigou e defendeu, sendo aceita decisivamente a terapia psi- comotricista através de inúmeras expressões cor- porais no processo de evolução cognitiva e motora do desenvolvimento infantil. A partir desta década, até os dias atuais, a terapia com Psicomotricidade é válida e reconhecida em todo o mundo.
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