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1 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P Revisão MISCO M1 ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS A diferenciação dos estudos epidemiológicos mais comum refere-se ao posicionamento do pesquisador em relação à investigação (ativo/analítico ou passivo/experimental), podendo ser classificados em observacionais ou experimentais. Ainda, podem ser do tipo observacional experimental: relatos de casos ou série de casos, ecológico, transversal, de coorte, caso-controle e ensaios clínicos. Estudos observacionais: • O pesquisador não controla a exposição nem distribui os indivíduos entre os grupos de expostos e não expostos. • Tem uma atitude passiva e de observador. • Geralmente não apresentam problemas de natureza ética para investigação de fatores de risco. • Podem fazer uso de dados secundários e primários (coletados para o desenvolvimento do estudo). • Podem ser descritivos ou analíticos. Estudos descritivos: • Objetivo: determinar a distribuição de doenças ou condições relacionadas à saúde segundo o tempo, o lugar e a pessoa (características dos indivíduos) – responder “quando”, “onde” e quem adoece”. • A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde varia de acordo com determinadas características (Sexo, idade, escolaridade, renda etc). Estudos analíticos: • São delineados para examinar a existência de associação entre uma exposição e uma doença ou condição relacionada à saúde. • Tem capacidade para responder hipóteses de associações entre variáveis. Estudos experimentais: • São conhecidos como de intervenção, clinical trials (Quando aplicados de modo individual) ou Community trials (quando aplicados em comunidades inteiras). • Apresentam atitude ativa do pesquisador (experimentação). • São essencialmente analíticos. • O investigador determina os grupos de indivíduos expostos e não expostos – alocação aleatória. Tempo em relação ao surgimento do desfecho: Quando se investiga a frequência do desfecho ou de fatores associados, no presente e ao mesmo tempo, menciona-se o estudo transversal ou seccional (no tempo). Contudo, em muitos casos, a investigação transversal não é suficiente, existindo a possibilidade de recorrer a desenhos chamados de longitudinais, ou seja, quando o desfecho e/ou os fatores associados não estão no presente. Isso geralmente é necessário quando se deseja conhecer a incidência de doença ou fatores de risco com maior precisão. RELATOS DE CASO OU SÉRIE DE CASOS: Descrição cuidadosa e detalhada por 1 ou mais profissionais de saúde das características clínicas de 1 único paciente ou série de pacientes. Aguça a interpretação de sinais e sintomas e constitui farto material par discussões que alavancam o aprendizado de jovens médicos. Nesse tipo de trabalho, não existe comparação analítica, não sendo possível a realização de inferência acerca da ocorrência daquele ou daqueles casos. Contudo, uma apresentação de caso benfeita pode auxiliar na descrição de um quadro clínico específico, que pode ser importante para a Epidemiologia conhecer um padrão de doença ou de doentes. ESTUDO ECOLÓGICO: Analisa um grupo ou determinada população de um dado local, com grande relevância para Saúde Pública Analisa um grupo ou determinada população de um dado local, com grande relevância para Saúde Pública, pois permite avaliar a ocorrência de uma doença na comunidade e a efetividade das intervenções feitas nesse local. • A unidade de análise é uma população ou um grupo de pessoas, que geralmente pertence a uma área geográfica definida, como um país, um estado, uma cidade, um município ou um setor censitário. • São feitos com dados secundários – bases de dados de grandes populações. 2 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P • Objetivos: gerar hipóteses etiológicas a respeito da ocorrência de determinada doença e avaliar a efetividade de intervenções na população, testando a aplicação de determinado procedimento para prevenir doença ou promover saúde em grupos populacionais. Pode ser delineado em um eixo transversal – avaliando-se vários agregados com dados no mesmo período, como um estudo que comparou a taxa de mortalidade em diversos países, no ano de 2018 (presente); ou por meio de análise de série histórica – são necessários dados retrospectivos (passado) para todas as unidades de análise existentes. Trata-se de um tipo de delineamento muito interessante para a Saúde Pública e a Gestão em Saúde; pode-se, por exemplo, avaliar uma série histórica de mortalidade infantil para diferentes municípios e levantar aqueles em que a queda do indicador não foi significativa ou se houve modificação na tendência. Deve-se lembrar que a qualidade desse tipo de estudo depende do sistema de informação de origem da base de dados. Com relação ao tempo pode ter: Característica transversal – quando faz avaliação como um corte no tempo, podendo inclusive estudar associação, nesse sentido. Característica longitudinal – estudos ecológicos de tendencia histórica ou séries históricas, é possível analisar o comportamento de uma doença/desfecho no tempo. Classificam 2 subtipos de estudos ecológicos, de acordo com a base de referência para produção de dados: • Estudo territorial – há definição geográfica das unidades/blocos de observação (bairros, distritos, municípios, países) • Estudo institucional – toma organizações coletivas como parâmetros (fábricas, escolas). Podem ser avaliadas medidas provenientes dos agregados (grupos de indivíduos), como proporções de indivíduos com certa característica (renda familiar, taxa de fumantes); medidas ambientais, como as características físicas do lugar onde os membros de cada grupo vivem ou trabalham; e medidas globais, como indicadores de saúde, densidade demográfica ou existência de determinado nível de saúde. Correlação – método que estuda variação concomitante entre 2 ou mais variáveis quantitativas contínuas. Vantagens: • Examinar associações entre exposição e doença (desfecho) relacionada nessa coletividade. • Facilidade e rapidez de execução • Baixo custo relativo • Simplicidade analítica • Capacidade de geração de hipóteses • Facilidade de encontrar maior variação na exposição média entre diferentes regiões • Possibilidade de mensurar “efeitos ecológicos” (exemplo: implementação de nova legislação em saúde). Desvantagens: • Baixo poder analítico • Pouco desenvolvimento das técnicas de análise de dados • Ausência de acesso aos dados individuais • Vulnerabilidade à falácia ecológica (atribuir a um individuo o que se observou com base em análises de grupo) • Dificuldade de controlar fatores de confusão • Variação na qualidade de informações (fontes de dados podem ser diferentes). Os estudos ecológicos não podem tirar conclusões sobre a causa da doença porque não há informação sobre o status de cada pessoa quanto à exposição e ao desfecho; trata-se do viés ecológico (ou falácia ecológica). ESTUDOS TRANSVERSAIS OU DE PREVALÊNCIA: Também chamado de estudo seccional, de corte ou de inquérito epidemiológico. É um delineamento observacional que pode apresentar caráter descritivo ou analítico, ambos de base individual. Caracteriza-se pela seleção de pessoas de toda uma população ou amostra – os indivíduos são selecionados sem considerar a exposição ou estado da doença. Objetivo principal: estimar a prevalência de uma doença ou de fatores associados nessa população. As determinações da doença (entenda-se doença como desfecho) e da exposição são realizadas simultaneamente, e subpopulações de diferentes níveis de exposição são comparadas com relação à prevalência da doença e aos fatores que se julgam associados a ela. 3 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P As coletas de dados tanto da exposição (levantamento de fatores associados) como dodesfecho são feitas transversalmente, em um único ponto do tempo (no mesmo tempo – presente). Seleciona-se uma amostra da população de interesse e avalia-se essa amostra, que deve ser semelhante à população. Quando se pesquisa desfecho binário (por exemplo, presença/ausência de uma doença), é comum haver esses 4 estados para cada parcela da amostra: exposto e doente, exposto e não doente, não exposto e doente e não exposto e não doente. Por avaliarem um único ponto do tempo, os estudos transversais não podem avaliar causalidade, visto que não se pode obedecer ao critério de temporalidade (isto é, o fator em estudo acontece antes do desfecho). Esse fato faz que os estudos transversais possam ocasionar o fenômeno (viés) de causalidade reversa, ou seja, atribuir o desfecho como consequência, quando pode ser, na verdade, causa. Os estudos transversais, por lidarem exclusivamente com a medida de frequência do tipo prevalência, são mais indicados para estudar as doenças de longa duração e exposição que pouco se modificam com o tempo. São úteis, também, para fornecer informações sobre distribuição e características do evento investigado na população, avaliar as necessidades de serviços de saúde e planejamento em Saúde Pública e contribuir para o estudo da etiologia das doenças. Planejamento e execução: A seleção da população depende do objetivo do estudo. Amostragem – com base na observação de um grupo de indivíduos, obtém parâmetros do todo (população). Para ser possível a realização de inferência, a amostra deve ser representativa da população que lhe deu origem. Tipos de amostragem: • Aleatória simples • Estratificada • Sistemática • Por conglomerados Amostras por conveniência: obtidas sem processo de aleatoriedade – não garante representatividade. Estudos transversais feitos em intervalos periódicos de tempo são úteis, pois podem refletir mudanças na situação de saúde. Todavia, uma de suas desvantagens importantes refere-se à impossibilidade de seguimento, uma vez que indivíduos diferentes são avaliados em cada amostra. Vantagens: • É rápido e de baixo custo (não há seguimento) • Permite estimar a proporção de expostos na população • Permite estudar múltiplas exposições e/ou múltiplas doenças • Fornece informações úteis para o planejamento de serviços e programas de saúde (tomadores de decisão/políticas de saúde) • É adequado para descrever a situação de saúde • Compreende subsídio para estudos mais complexos – geração de hipóteses Desvantagens: • Não permite estabelecer relação temporal entre exposição e efeito • Tem dificuldade para estabelecer relação causal • Doentes com evolução rápida tem menor chance de inclusão • Doenças com exacerbação/remissão (pessoas em fase de remissão podem ser incluídas como não tendo a doença) • É pouco útil se o evento é raro • É suscetível a baixa participação Avaliam-se desfecho e exposição em dada população em um momento específico de tempo. A prevalência representa o peso da doença em um momento específico de tempo. Baseia-se no número total de casos da doença existentes na população total, mostrando, então, a proporção de indivíduos doentes nessa população, naquele momento definido. Não mede o risco de se desenvolver a doença. ESTUDOS DE COORTE OU DE INCIDÊNCIA: Principal característica: seleção de indivíduos saudáveis (sem o desfecho) classificados segundo o grau de exposição a um fator de interesse que se deseja investigar. Os indivíduos são acompanhados ao longo do tempo para apurar a incidência do desfecho de interesse. O interesse do investigador é saber a frequência com que as pessoas se tornam doentes, ou seja, a incidência. Nos estudos tipo coorte, o pesquisador cataloga os indivíduos como expostos e não expostos ao fator de estudo, segue-os por determinado período e, ao 4 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P final, verifica a incidência da doença entre eles, comparando-a nos 2 grupos. Há 2 tipos de estudo de coorte, segundo a localização temporal do delineamento: prospectivo ou concorrente e retrospectivo ou não concorrente (também chamado de coorte histórica). Tais estudos também são chamados de “estudo de acompanhamento”, “de incidência” ou “follow-up”. O objetivo do estudo é a comparação da incidência entre os grupos, e para tanto é preciso garantir que todos os participantes não apresentem o desfecho de interesse no início do estudo (o que caracterizaria um caso prevalente). Essa característica do estudo de coorte permite determinar uma relação temporal confiável entre exposição e desfecho, essencial para determinar causalidade. Coorte prospectiva ou concorrente: Uma coorte clássica inicia-se com um grupo de indivíduos acompanhados ao longo do tempo. No caso de uma coorte prospectiva, seleciona-se uma parcela da população com alguma característica de interesse, como uma coorte de gestantes, que terá como base de inclusão uma mulher que se torne gestante. São selecionadas, então, as variáveis de exposição (álcool, tabaco, violência), e essas gestantes são subdivididas em expostas e não expostas aos fatores. Segue-se no tempo o desfecho (incidência ou casos novos), por exemplo, abortamento. No final do estudo, existirão mulheres que abortaram e estavam expostas aos fatores, que abortaram e não estavam expostas, que não abortaram e estavam expostas e que não abortaram e não estavam expostas. Os fatores de risco são reconhecidos por meio da análise de proporção de casos novos nesses grupos. A amostra inicial apresenta apenas indivíduos não doentes ou sem o desfecho. Cabe lembrar que os eventos de interesse podem ser: ocorrência de novos casos, mortalidade por determinada causa ou mudanças de um marcador biológico. Podem investigar respostas a tratamentos, mas não são indicados para a inclusão de novos tratamentos visto que os participantes não estão randomizados e, consequentemente, com fatores de confusão desbalanceados. Corte retrospectiva ou não concorrente: A investigação inicia-se em um ponto no tempo em que tanto exposição quanto desfecho já ocorreram. Nesse caso, o registro inicial depende dos dados já coletados para outros propósitos. É necessário confiar na memória dos participantes para estabelecer a data de desenvolvimento do desfecho e para saber se este não estava presente no início do estudo (caso prevalente). A qualidade e o grau de detalhamento da informação obtida dependem largamente do indivíduo e da sua memória, porém é um estudo que pode ser feito de forma mais rápida e econômica, desde que haja dados passados disponíveis. A estrutura de uma coorte histórica é a mesma que a de uma coorte prospectiva, porém na primeira a coleta de dados é feita no presente, ou seja, a definição entre exposição e desfecho é feita no presente, mas a coorte já havia sido formada e iniciada anteriormente. No geral, o estudo de coorte apresenta como vantagens permitir o cálculo de incidência de um desfecho entre expostos e não expostos, bem como a flexibilidade em escolher variáveis para registro sistemático ao longo do estudo. Em contrapartida, ao se estudar um desfecho raro, é preciso acompanhar um grupo muito grande de indivíduos para obter algum resultado. Talvez a desvantagem mais significativa do estudo de coorte seja comum a 5 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P todos os estudos observacionais: a posição do pesquisador é passiva, e ele não influencia a distribuição dos indivíduos nos grupos. Vantagens: • Permite o cálculo de taxas de incidência em expostos e não expostos e, por meio delas, o cálculo do RR • É o melhor método para conhecer com precisão a história natural de uma doença, assim como sua incidência • O fator de exposição é definido no início do estudo, não sofrendo influencias da presença ou ausência do evento de interesse. • Permite o estudo de múltiplos efeitos/consequênciasde um mesmo fator de exposição • Vieses de confusão são mais fáceis de controlar • Permite o estudo de fatores de exposição pouco frequentes. O fator principal a ser avaliado é a incidência do desfecho na população estudada. O risco (ou incidência) de uma doença é a probabilidade de ela ocorrer em um período determinado de tempo. O risco é estimado contando-se o número de casos novos da doença durante um período específico de tempo, dividido pelo número específico de pessoas que no, momento inicial, eram não doentes, porém estavam em risco de contraí-la. ESTUDOS CLÍNICOS: Arma de teste de intervenções para a saúde. São estudos analíticos, prospectivos e experimentais e tem por obrigação testar o efeito de uma intervenção. Um grupo de pessoas é acompanhado (como na coorte), porém há intervenção terapêutica ou preventiva (exame de rastreamento) pelo pesquisador. Os estudos de intervenção com indivíduos são chamados de ensaios clínicos, e outros que envolvem agregados populacionais, ou seja, uma comunidade inteira, são os ensaios clínicos comunitários. A grande vantagem dos ensaios clínicos é serem passíveis de terem a ferramenta mais poderosa para controle dos fatores confundidores entre os grupos: a randomização. Quando selecionamos uma amostra e a randomizamos em 2 grupos ou mais, presume-se que todos os fatores confundidores, pelas leis das probabilidades, estão balanceados entre os grupos. Isso significa que, para qualquer intervenção realizada, o desfecho será devido à intervenção e não a outros fatores. Por isso, o ensaio clínico randomizado é o desenho que mais se aproxima do ideal para inferência causal. A 1ª forma de classificar um ensaio clínico depende da presença de controles. Um estudo de intervenção é dito controlado quando são acompanhados 2 grupos: o primeiro é tratado com o esquema terapêutico em estudo, e o outro recebe placebo ou convencional (grupo-controle). Um exemplo de estudos não controlados é o chamado estudo “antes depois”, em que todos os participantes recebem a mesma intervenção e suas condições são verificadas no início do tratamento e depois dele. Os ensaios clínicos apresentam a mesma estrutura de uma coorte prospectiva. No entanto, aqui os grupos de exposição não ocorrem naturalmente, pois são expostos/não expostos experimentalmente, em geral por critérios de randomização (aleatórios). O que será verificado, com o tempo, é a diminuição da frequência do desfecho: o fator experimental tem algum impacto na diminuição da característica que agregava esses indivíduos nesse grupo, como uma doença. Deve-se lembrar que, diferentemente da coorte, os estudos clínicos sempre se iniciam com todos os indivíduos com a doença/desfecho. 6 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P Uma 2ª divisão desse método valoriza a forma de composição dos grupos. De forma simplificada, o ensaio clínico controlado pode ser randomizado, quando a alocação dos participantes nos grupos de intervenção e controle é feita de forma aleatória; ou não randomizado, quando os grupos experimental e controle são formados com base em critérios de disponibilidade e conveniência, havendo, portanto, maior possibilidade de viés. Para o estudo ser considerado randomizado, a alocação deve ser aleatória. Em outras palavras, deve haver, necessariamente, um sorteio. Caso contrário, fatores confundidores podem estar presentes. Além disso, quem deve ser randomizado são os indivíduos, e não as comunidades. Caso elas sejam randomizadas e suas taxas avaliadas após a intervenção, tratar-se-á de um ensaio comunitário, podendo correr o mesmo risco de falácia ecológica. Além disso, quando não há randomização, mas há experimento (por exemplo, avaliar a taxa de mortalidade de um hospital antes e após a inauguração de um centro de hemodinâmica), tratar- se-á de um quase-experimento. Uma opção para alocação do grupo de intervenção é o ensaio clínico controlado cruzado (crossover). Nesse caso, um grupo de pacientes recebe um tratamento, e outro, o placebo. Após uma pausa temporal, faz-se uma inversão, com a 1ª metade recebendo o placebo, e a segunda, o tratamento. Esse tipo de estudo permite comparar os resultados em conjunto e, como cada indivíduo participa 2 vezes no experimento, pode-se reduzir pela metade o número da casuística em relação ao ensaio clínico controlado simples. Porém, deve-se afastar a possibilidade de o tratamento ou sua falta na 1ª fase não ter repercussão na segunda. Por fim, vale fazer um comentário sobre a chamada técnica de mascaramento ou avaliação cega, que consiste em qualquer tentativa de evitar que os participantes do estudo saibam qual é o tratamento administrado. O mascaramento é uma das formas de controlar o efeito Hawthorne – consiste na mudança positiva de comportamento de um grupo devido ao fato de eles se sentirem valorizados. O fato de o paciente saber que está recebendo um novo tratamento pode ter efeito positivo e, ao contrário, o fato de ele reconhecer que está no grupo de tratamento convencional, ou sem tratamento, pode gerar um efeito desfavorável. Para viabilizar o mascaramento, muitas vezes, é necessário o uso de um placebo, substância de aparência, forma e administração semelhantes às do tratamento que está sendo testado, porém sem princípio ativo. Por questões éticas, o placebo só deve ser utilizado caso não exista um tratamento- padrão alternativo de eficácia conhecida. O ensaio clínico, como os demais estudos, deve recrutar um número suficiente de pessoas para obter uma estimativa da resposta desejada. Quando o tamanho da amostra necessária é muito grande, o ensaio pode ser realizado em vários centros, o que caracteriza o chamado ensaio multicêntrico (megaensaio ou megatrial). Análise por intenção de tratar (intention to treat): A análise por intenção de tratar não irá considerar a 7 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P intervenção que os pacientes receberam, e sim para qual grupo os pacientes foram randomizados. Essa estratégia é utilizada por 2 motivos: o primeiro é porque se aproxima mais da prática médica real; o 2º motivo é que, ao usar essa técnica, introduz-se um viés conservador (isto é, contra a hipótese) no estudo, de modo que, caso o tratamento continue a ser eficaz mesmo usando a técnica, isso significa que, de fato, o tratamento é eficaz. É quando há cruzamento de tratametnos. A avaliação ética transforma-se em um marco essencial da investigação clínica para assegurar que os seres humanos sejam respeitados nos termos de sua dignidade, integridade e valores, evitando que sejam usados apenas como instrumentos para a obtenção de resultados. Ao tratar-se de estudos longitudinais de intervenção (ensaios clínicos), também se pode lançar mão dos cálculos de incidência entre expostos e não expostos à intervenção. ESTUDOS CASO-CONTROLE: Seleciona indivíduos que desenvolveram e que não desenvolveram um desfecho de interesse (ou seja, casos e controles) e procura avaliar a frequência de exposição passada a fatores que se acreditam ser associados ao desfecho. Assim, trata-se de estudo observacional, longitudinal e unicamente retrospectivo. Os controles devem ser pertencentes à mesma população a que pertencem os casos, ou a comparação deixa de ser válida. Para esse estudo, é imprescindível definir a população-base, em que os casos devem ser uma amostra fidedigna dos casos totais e os controles da mesma forma, inclusive para a exposição ao fator que se deseja estudar. Caso haja restrição para a seleção de casos (por exemplo, idade), essa mesma restrição deve ser aplicada aos controles e enumerada no momento da inferência. A inferência será válida para uma população com aquela restrição de idade imposta à amostragem. Casos e controles devem ser comparáveis - O pareamento refere-se ao procedimento pelo qual, para cada caso selecionado, são recrutados1 ou mais controles idênticos com relação a certas características (no máximo 4), como sexo, idade e nível socioeconômico. A escolha das variáveis para o pareamento deve envolver possíveis variáveis de confusão. Um estudo caso-controle inicia-se sempre com um grupo de indivíduos afetados pelo desfecho de interesse. O que os pesquisadores fazem é buscar outros indivíduos com características semelhantes e comparar a presença dos fatores entre os casos e os controles. Para isso, após a seleção dos controles (grupo de comparação), ambos os casos e controles são pesquisados sob exposições diversas de 8 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P interesse, no passado. As situações existentes, no final, serão casos que foram expostos, casos que não foram expostos, controles que foram expostos e controles que não foram expostos. A coleta de dados sobre exposição ao fator de interesse e possíveis variáveis de confusão deve ser feita com o mesmo nível de detalhamento para casos e controles, para que esses dados sejam comparáveis. O ideal é utilizar o mesmo método de coleta desses dados e, se possível, que o entrevistador não saiba quais são casos ou controles. Os controles devem ser selecionados da população sob risco de ocorrência do desfecho. O contraponto é que não é possível estimar a proporção de expostos e não expostos na população-base (exceto no delineamento aninhado). Assim como no estudo de coorte retrospectiva, é preciso confiar na memória dos participantes sobre exposição a determinados fatores, e esta pode ser difícil de validar. A incidência do desfecho em expostos e não expostos não pode ser calculada (consequentemente, o RR também não), e, como em todos os demais estudos observacionais, a distribuição dos grupos de expostos e não expostos pode não ser aleatória em relação a outras variáveis que representam risco (conhecido ou não), o que levaria a uma inferência causal errônea, caso o pesquisador não tomasse as devidas precauções. Existe, além do estudo caso-controle convencional, o chamado caso-controle aninhado (nested), um tipo de estudo em que a população total é enumerada e acompanhada. Assim, o número de casos descritos é o total de casos da população ou uma fração representativa destes, enquanto os controles são selecionados entre os indivíduos que estavam na população no momento em que cada caso ocorreu. A grande vantagem dessa estratégia é minimizar o viés de seleção, por termos certeza de que os controles são selecionados da mesma população de casos. Esse tipo de estudo permite estimar a frequência do desfecho por expostos e não expostos, o que é incomum em estudos caso controle convencionais. É muito comum o desenvolvimento de estudos casos controle aninhados a coortes, formando, assim, estudos híbridos. Não são utilizadas medidas de frequencia, nesse caso, o estimador de associação utilizado é o odds ratio (que é uma razão de chance, e não probabilidade). ENSAIOS DE CAMPO: Envolvem pessoas que estão livres de doença, mas sob risco de desenvolvê-la. Os dados são coletados no campo – entre pessoas da população geral não institucionalizadas. Os participantes estão livres da doença e o propósito é prevenir a ocorrência de doença mesmo entre aquelas de baixa frequencia. Envolvem muitas pessoas tornando-os caros e complicados. Os ensaios de campo podem ser utilizados para avaliar intervenções que objetivam reduzir a exposição sem necessariamente medir a ocorrência dos efeitos sobre a saúde. ENSAIOS COMUNITÁRIOS: Os grupos de tratamento são comunidades ao invés de indivíduos. 9 Laís Flauzino | MEDICINA 5°P Apropriado para doenças que tenham suas origens nas condições sociais e que possam ser facilmente influenciadas por intervenções dirigidas ao comportamento do grupo ou do indivíduo. É difícil isolar as comunidades onde a intervenção está sendo conduzida devido a mudanças sociais em curso. Referência: MEDCEL 2019 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s &source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4r pUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2 Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.p hp%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX- XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjLg5_ltav2AhX4rpUCHRIOAu8QFnoECAwQAw&url=https%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2346693&usg=AOvVaw1VGBicaX-XT_9xxGEmqlS5
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