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Cristo | 177
III. A NATUREZA DE CRISTO
Tendo visto o desenvolvimento do pensamento cristão sobre a pessoa 
de Cristo na história, vamos agora examinar o que a Escritura nos ensina 
acerca da natureza dele. Em princípio já podemos afirmar que, segundo as 
Escrituras, Jesus Cristo é tanto divino quanto humano.
A. A Natureza Divina de Cristo
1. Evidências no Antigo Testamento.
A natureza divina de Cristo é revelada nas Escrituras, tanto nas 
profecias do Antigo Testamento como no testemunho do Novo Testamento. 
No Antigo Testamento, há várias passagens messiânicas que apontam para 
a natureza divina do Messias. O profeta Isaías fala do “menino” que nos 
nasceu cujo nome será “Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, 
Príncipe da Paz” (Is 9.6). Os designativos “Deus Forte” e “Pai Eterno” 
apontam para o aspecto divino do “menino”. Miquéias se refere à eternidade 
do Messias: aquele “cujas origens são desde os tempos antigos, desde os 
dias da eternidade” (Mq 5.2). Há outras passagens messiânicas do Antigo 
Testamento que são interpretadas no Novo Testamento, indicando que o 
Messias é alguém de natureza divina (cf. Hb 1.5-13).
2. Evidências no Novo Testamento.
É no Novo Testamento que se encontra maior testemunho de que 
Jesus Cristo é divino. Destacamos os seguintes fatos.
a) Os aspectos miraculosos na vida de Jesus. Cristo, em sua vida e 
obras, esteve envolvido em tantos fatos miraculosos, que não se pode negar 
que ele tinha poderes divinos. Ele foi gerado de maneira sobrenatural 
(Lc 1.34,35); operou muitos e variados milagres, demonstrando poder sobre 
a natureza, o ser humano e os espíritos maus. Ele ressurgiu dentre os mortos, 
e de maneira sobrenatural apareceu depois aos discípulos, várias vezes, e 
por fim foi elevado aos céus. Tudo isto revela a natureza divina de Jesus. 
Ninguém foi como ele nestes aspectos.
b) A consciência de Jesus da sua divindade. O próprio Cristo tinha 
consciência da sua divindade. Ele se igualou ao Pai na vida (Jo 5.26), na 
honra (Jo 5.23), na glória (Jo 17.5), na eternidade (Jo 8.58), no nome (Jo 8.24), 
na fórmula batismal (Mt 28.19). Ele declarou sua unidade com o Pai (Jo 5.18; 
10.33,38). Portanto, não foram só os discípulos que creram ser Jesus o Filho 
de Deus. O próprio Cristo sabia da sua relação essencial com o Pai celeste.
17 8 I Manual de Teologia Sistemática - Revisado e Ampliado
c) As prerrogativas divinas de Cristo. Ele disse ter “Toda autoridade... 
no céu e na terra” (Mt 28.18); “autoridade sobre toda a humanidade, para 
que conceda a vida eterna” (Jo 17.2); autoridade para perdoar pecados 
(Mc 2.10) e salvar os homens (Mt 1.21; Jo 8.34-36). Ele era “senhor do sábado” 
(Mc 2.28) e da vida das pessoas (Mt 16.24-26). Suas obras são próprias de um 
ser divino, como ressuscitar os mortos (Jo 5.28,29), exercer a função de juiz 
da humanidade (Jo 5.22), ser o criador do universo (Jo 1.3). Além disto, ele 
recebe adoração (Hb 1.6; Ap 5.8-14) e recebe orações dos homens (At 7.60). 
Se ele tem toda essa autoridade e poder, é porque é divino.
d) Textos que afirmam que Jesus é Deus. Há textos que dizem clara­
mente que Jesus é Deus. Citamos os principais, grifando as expressões de 
maior relevância. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e 
o Verbo era Deus” (Jo 1.1). “Tomé lhe respondeu: Senhor meu e Deus meu\” 
(Jo 20.28). Falando aos israelitas, Paulo diz que “deles são os patriarcas e 
deles descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus 
bendito eternamente.” (Rm 9.5). Noutra carta, ensina que os cristãos devem 
viver “aguardando a bendita esperança e o aparecimento da glória do nosso 
grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13).
O autor de Hebreus argumenta em favor da divindade de Cristo, e 
num dos textos expõe: “Mas sobre o Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsiste 
pelos séculos dos séculos” (Hb 1.8). Por último citamos ljoão 5.20, onde se lê: 
“Sabemos também que o Filho de Deus já veio e nos deu entendimento, para 
conhecermos aquele que é verdadeiro; e estamos naquele que é verdadeiro, 
isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é 0 verdadeiro Deus e a vida eterna.”
A divindade de Cristo é essencial para a obra que ele veio realizar. Só 
um ser divino poderia assumir a pena de todos os pecados da humanidade e 
trazer salvação aos homens. Nenhuma criatura finita poderia fazer isto. Mas, 
pela misericórdia divina, “o Verbo (que “era Deus”) se fez carne e habitou 
entre nós, pleno de graça e de verdade: e vimos a sua glória, como a glória 
do unigénito do Pai” (Jo 1.14). O Senhor Jesus Cristo, “sendo rico, tornou-se 
pobre por vossa causa, para que fôsseis enriquecidos por sua pobreza” 
(2Co 8.9).
B. A Natureza Humana de Cristo
Dificilmente alguém negaria hoje a humanidade de Jesus Cristo, 
embora uma espécie de docetismo disfarçado - isto é, um Cristo muito 
distante da humanidade - ainda seja possível em algumas teologias ou
Cristo | 179
crenças populares. Vamos estudar a natureza humana de Cristo, conside­
rando suas evidências, a necessidade de ele ser humano para a obra que veio 
realizar, e a permanência da natureza humana nele.
1. Evidências da humanidade de Cristo
a) Sua vida humana foi natural. Jesus Cristo viveu como qualquer ser 
humano. Ele está na lista das genealogias humanas (Mt 1.1-16; Lc 3.23-38). 
Seu nascimento foi normal e humano (Mt 1.25; Lc 2.7; G14.4). Seu crescimento 
e desenvolvimento aparentemente foram normais (Lc 2.40-52; Hb 5.8). 
Ele esteve sujeito às limitações físicas, como cansaço (Jo 4.6), fome 
(Mt 21.18), sede (Mt 11.19); sofreu intensa agonia de alma e corpo antes 
da morte física (Mc 14.33-36; Lc 22.63; 23.33). Ele experimentou todas as 
categorias de emoções humanas: alegria (Lc 10.21), tristeza (Mt 26.37), 
amor (Jo 11.5), compaixão (Mt 9.36), surpresa (Lc 7.9), ira (Mc 3.5). Padeceu 
e morreu nas mãos dos homens (Lc 22.44; Jo 19.33). Todos estes fatores 
indicam que Cristo era perfeitamente humano.
b) Ele teve uma vida religiosa. Ele foi religioso, como um judeu. 
Participou da adoração pública (Lc 4.16); estudou, meditou e explicou as 
Escrituras (Mt 4.4-10; 19.4; Lc 2.46; 24.27). Orava, publicamente (Lc 3.21) 
e individualmente, e às vezes orava durante toda a noite (Lc 6.12). Ele foi 
submisso ao Pai e totalmente dependente dele, que o enviara ao mundo 
(Jo 6.38; 12.49). A vida religiosa de Cristo mostra a sua condição humana.
c) Seu conhecimento estava limitado. Embora Cristo fosse incompara­
velmente superior aos homens no seu conhecimento (Jo 1.47,48; 4.29; Lc 6.8; 
9.47) e compreendesse a Escritura do Antigo Testamento de maneira singular 
(Mt 22.29; 26.54,56; Lc 4.21; 24.27,44), contudo, o conhecimento de Cristo 
mostrava-se de alguma forma limitado. Ele fazia perguntas para se informar 
de algo: “Quem tocou as minhas vestes?” (Mc 5.30), “Quantos pães tendes?” 
(Mc 6.38), “Há quanto tempo isso lhe aconteceu?” (Mc 9.21). Quanto ao dia 
e à hora da vinda do Filho do homem ele afirmou que “ninguém sabe, nem 
os anjos no céu nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13.32). Esta circuns­
tância de ter seu conhecimento limitado evidencia aspecto da sua natureza 
humana.
d) Ele foi tentado como nós. A Bíblia diz que Cristo foi tentado como 
nós em todas as coisas, mas não pecou: “à nossa semelhança, foi tentado em 
todas as coisas, porém sem pecado” (Hb 4.15). Neste ponto podem surgir 
duas objeções: Primeiro, as tentações de Cristo não foram reais, porque ele 
não tinha natureza pecadora como nós. A resposta a esta objeção é que os 
puros também sofrem tentações, assim como Adão e os anjos que caíram.
i8 o | Manual de Teologia Sistemática - Revisado e Ampliado
Segundo, mesmo que ele fosse tentado, não poderia pecar, dada a sua 
natureza sem pecado. Respondemos que é preciso considerar a intensidade 
das tentações. Em nosso caso, Deus filtra as tentações antes que elas cheguem 
até nós (ICo 10.13). Qual teria sido a medida da intensidade da tentação que 
Deus permitiu para o seu Filho? (cf. Mt 4.4-10; Lc 22.44). Certamente Cristofoi tentado como nós em tudo, e as tentações para ele foram reais. E isto 
revela que ele tinha a nossa natureza original, sem pecado.
Podemos então afirmar que, à luz da Escritura, Jesus Cristo era um 
ser perfeitamente humano, mas não tinha a natureza corrompida que nós 
temos, nem praticou qualquer pecado em toda a sua existência (Hb 4.15; 
7.26; 2Co 5.21). Ele foi um ser humano sui generis - único no gênero.
2. A necessidade da humanidade de Cristo.
Mas era necessário que Cristo fosse plenamente humano? Seguimos 
Wayne Grudem,146 respondendo afirmativamente esta questão. Quatro 
razões para que ele fosse humano:
Primeiro, para possibilitar uma obediência representativa. Cristo 
assumiu a forma humana para representar a humanidade diante de Deus e 
como tal cumprir perfeitamente a lei divina e, assim, abrir caminho para a 
salvação da humanidade (cf. Rm 5.18,19; ICo 15.47-49).
Segundo, para compadecer-se de nós como sumo sacerdote. Diz a Bíblia 
que “todo sumo sacerdote é designado dentre os homens” (Hb 5.1), quer 
dizer, uma pessoa como as demais. Por isto, “era necessário que em tudo 
[Cristo] se tornasse semelhante a seus irmãos, para que viesse a ser um sumo 
sacerdote misericordioso e fiel nas coisas que dizem respeito a Deus, a fim de 
fazer propiciação pelos nossos pecados” (Hb 2.17).
Terceiro, para ser nosso exemplo e padrão de vida. Ele é o homem 
perfeito, o modelo de Deus para todos (Rm 8.29; ICo 15.49). É o exemplo 
para ser seguido por todos os que nele creem (IPe 2.21; ljo 2.6).
Quarto, para cumprir o propósito original de dominar a criação. 
O homem não cumpriu de modo satisfatório esse propósito original de Deus 
(Gn 1.26-28), por causa do pecado. Mas Cristo veio como homem perfeito e 
com o poder de dominar a criação, cumprindo o propósito original de Deus 
para o ser humano (Hb 2.8-10; Ef 1.22,23; Ap 3.21), e dando aos seus irmãos 
a condição de chegar à mesma posição de honra e glória (Hb 2.10).
146 GRUDEM, Wayne. Op. cit. p. 4 4 4 a 447.
Cristo | 18 1
Por todas essas razões, entendemos que foi absolutamente necessário 
que Jesus Cristo se tornasse um ser humano perfeito, para tornar-se “a fonte 
da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5.9).
3 .A permanência da natureza humana de Cristo.
Por quanto tempo Cristo assumiu a natureza humana? Estaria ele com 
essa natureza no seu atual estado de glória? A evidência bíblica é que Jesus 
permanece para sempre com a natureza humana. Apontamos quatro razões 
para esta afirmação:
Primeiro: Após a ressurreição, ele apareceu e mostrou as marcas 
da cruz no seu corpo (Jo 20.25-27; Lc 24.39) e comeu com os discípulos 
(Lc 24.41-43), para provar que era ele mesmo e tinha ressuscitado. Segundo: 
Estevão viu “o Filho do homem em pé à direita de Deus” (At 7.56).
Terceiro: Cristo se apresentou emvisão a João como “alguém semelhante 
a um ser humano” (Ap 1.13). Quarto: Além disto, Cristo voltará com corpo 
visível (At 1.11) e vai transformar os nossos corpos e torná-los semelhantes 
ao seu corpo glorioso (Fp 3.21), para estarmos em comunhão com ele para 
sempre (lTs 4.17). Significa que Cristo é o padrão da humanidade salva. 
Ele continua com a verdadeira natureza humana.
C. A União das Duas Naturezas em Cristo
Como vimos, Cristo tinha a natureza divina e a humana. Mas como 
que as duas naturezas estavam relacionadas na pessoa de Cristo? Este é um 
problema teológico difícil. Primeiro, porque demanda a combinação de duas 
naturezas que, por definição, possuem atributos contraditórios. De um lado, 
Deus é infinito em conhecimento, poder e presença; de outro lado, o homem 
é limitado nas mesmas qualidades, quer dizer, em conhecimento, poder e 
presença. A questão é também complicada porque há pouco material bíblico 
que trata do assunto. Não há na Bíblia nenhuma afirmação direta acerca da 
relação entre as duas naturezas em Cristo. O que temos que fazer é inferir 
a partir do auto-conceito de Jesus, de suas ações e de afirmações didáticas a 
respeito dele.
Mas o assunto é de extrema importância. Como afirmou Millard 
J. Erickson, “A transposição do abismo metafísico, moral e espiritual 
entre Deus e os homens - e, portanto, nossa própria salvação - depende 
da unidade entre a divindade e a humanidade em Jesus Cristo”.147 Vamos
147 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, 
p. 300.
18 2 I Manual de Teologia Sistemática - Revisado e Ampliado
apontar algumas concepções acerca da questão, e depois tentar esclarecer o 
assunto.
1. Concepções diversas.
a) Concepções rejeitadas pelos concílios. Como já foi apresentado no 
início deste capítulo, nos primeiros séculos apareceram algumas concepções 
inadequadas sobre as duas naturezas em Cristo. Uma delas foi o nestorianis- 
mo, que entendia que as duas naturezas estavam separadas em Cristo, e não 
unidas, implicando em duas personalidades. Essa heresia foi condenada no 
concílio de Éfeso (431).
Outra concepção falsa foi o eutiquianismo, que, em linhas gerais, via 
a divindade e a humanidade de Jesus como estando fundidas, formando 
uma terceira natureza. Uma terceira posição foi o adocionismo que afirmava 
que Deus adotou Jesus como Filho, provavelmente no batismo. Essa inter­
pretação encontra grandes obstáculos, como a preexistência de Cristo e o 
nascimento virginal.
Além destas ideias, que surgiram nos primeiros séculos e que foram 
reiteradamente rejeitadas pela Igreja nos concílios de Nicéia (325), Constan­
tinopla (381) e Calcedônia (451), há outras interpretações que merecem a 
nossa atenção.
b ) A comunicação de atributos. Alguns ensinam que os atributos 
de uma natureza foram comunicados à outra. Segundo Berkhof, Lutero e 
alguns dos primitivos luteranos falavam de uma comunicação em ambas 
as direções, da natureza divina para a humana, e desta para a divina. Pos­
teriormente, a comunicação da natureza humana para a divina deixou de 
ser vista, e somente se deu ênfase à comunicação da natureza divina para a 
humana.
Ainda segundo o mesmo autor, os escolásticos luteranos ensinavam 
que somente alguns atributos, como onipresença, onipotência e onisciência 
foram transferidos à natureza humana. Outros atributos, como infinidade, 
eternidade, etc, não. Mas, como enquadravam isto no retrato de Jesus 
descrito na Bíblia, que não é de um homem onipresente e onisciente? 
Alguns diziam que Cristo exerceu esses atributos secretamente; outros, que 
o exercício desses atributos estava sujeito à vontade divina, que voluntaria­
mente os deixou inoperantes, durante o período da humilhação.148
148 BERKHOF, L. Teologia sistem ática. Campinas: Luz para o Caminho, 1990, p. 325, 326.
Cristo | 18 3
Berkhof afirma que essa interpretação é inadequada, porque: (a) não 
tem base bíblica; (b) implica a fusão das duas naturezas de Cristo; (c) é 
incoerente com a descrição bíblica do Cristo encarnado durante o tempo 
de sua vida terrena, pois ele não é descrito como um homem onipresente e 
onipotente.
A teologia reformada difere dos luteranos na interpretação da comu­
nicação dos atributos. Afirma que as propriedades de ambas as naturezas 
passaram a ser propriedades da pessoa de Jesus, quer dizer, elas são atribuídas 
à pessoa e não à outra natureza. Assim, pode-se dizer que a pessoa de Jesus 
é todo-poderosa, onisciente, onipresente, etc., mas também é varão de dores, 
de conhecimento e poder limitados, e sujeito às necessidades e misérias 
humanas. Portanto, não há uma interpenetração das duas naturezas, com o 
resultado que o divino é humanizado e o humano é divinizado.149
c) O esvaziamento ou “kenosis”. No meado do século XIX surgiu 
a interpretação do kenosis, baseada em Filipenses 2.7, que diz que Cristo 
“esvaziou a si mesmo [ekenosen], assumindo a forma de servo e fazendo-se 
semelhante aos homens”. Outros textos, como 2Coríntios 8.9 e João 17.5 
também são usados como base para essa doutrina.
A interpretação do kenosis ou do esvaziamento comporta diferentes 
nuanças. Alguns afirmam que na encarnação o Verbo divinorenunciou por 
completo a sua divindade. Assim, o Filho de Deus passou a ser apenas um 
ser humano. Outros dizem que na encarnação o Filho de Deus renunciou 
apenas alguns dos seus atributos divinos, como onipotência, onisciência 
e onipresença, e, no lugar deles, assumiu qualidades humanas. Outras 
qualidades divinas, como o amor, a santidade, a justiça, foram mantidas em 
Jesus. Segundo essa concepção, a encarnação implicou em trocar uma parte 
da natureza divina por características humanas. Neste caso, na encarnação 
Jesus se tornou menor do que Deus. Essas duas posições (esvaziamento de 
toda a divindade ou de apenas alguns atributos) não nos parecem coerentes 
com a revelação bíblica, onde Cristo se apresenta em igualdade com o Pai 
em aspectos essenciais da sua vida.
Mas há ainda outro entendimento do kenosis, que sustenta que 
os atributos divinos não foram renunciados ou deixados de lado, e sim 
tornados latentes ou exercidos apenas a intervalos ou ainda que o kenosis 
relacionava-se apenas com a consciência de Cristo e não com o seu ser. 
Neste caso, na encarnação, Cristo não perdeu nenhuma de suas qualidades
149 Ibidem , p. 324.
sobrenaturais, mas ao assumir as condições humanas ele ficou limitado no 
exercício de algumas de suas prerrogativas divinas. Esta posição, segundo 
a qual Cristo não renunciou os atributos divinos, e sim o exercício inde­
pendente deles, parece bem coerente com os dados bíblicos, como veremos 
mais adiante.
2 . Aspectos a serem considerados acerca da união das duas naturezas.
a) A possibilidade da união. O fato do ser humano ter sido criado à 
imagem e semelhança de Deus dá base para a possibilidade da união das 
duas naturezas na pessoa de Cristo. Quer dizer, a posse de uma natureza 
racional e espiritual por parte do homem torna possível a encarnação do 
Verbo. O irracional é incapaz de viver em união com Deus. Mas, no caso do 
ser humano isto é possível.
b) Síntese da doutrina. Entendemos que o ensino da Escritura é que a 
pessoa de Jesus Cristo foi dotada da natureza divina e da humana. Que cada 
uma delas permaneceu inalterada em essência e não perdeu seus atributos 
e poderes normais. Que Jesus Cristo é uma única personalidade indivisível 
em quem as duas naturezas estão vital e inseparavelmente unidas de modo 
que Cristo é não Deus e homem, mas Deus-homem. As duas naturezas estão 
ligadas não por laço moral de amizade, nem por laço espiritual que liga o 
crente ao Senhor, mas um laço único e inescrutável que os constitui uma 
pessoa com uma só vontade e consciência.150
Uma evidência dessa união é que Cristo fala de si mesmo e outros 
também falam dele como uma só pessoa. Não há nenhuma colocação do tipo 
“eu” e “tu” entre as duas naturezas como a encontramos entre as pessoas da 
Trindade. Conforme afirma Strong: “a divindade de Cristo nunca é objetiva 
para a humanidade, nem a sua humanidade para a sua divindade”.151
Também as constantes referências das Escrituras sobre o infinito valor 
da expiação de Cristo e da união da raça humana com Deus assegurada 
em Cristo só são inteligíveis quando Cristo é considerado, não como um 
homem de Deus, mas como um Deus-homem, em quem as duas naturezas 
são unidas de tal modo que o que cada uma faz tem o valor de ambas.
O fato de as duas naturezas não estarem separadas em Cristo, mas 
unidas, significa que elas não atuaram independentemente. Jesus não exerceu 
sua deidade em certas ocasiões e sua humanidade em outras. “Seus atos
18 4 I Manual de Teologia Sistemática - Revisado e Ampliado
150 Ibidem , p. 1209.
151 Ibidem , p. 1210.
Cristo I 18 5
sempre eram da divindade e da humanidade”.152 Por isto não é correto dizer 
que “a natureza humana fez isto” ou “a natureza divina fez aquilo”, porque 
tudo o que pertence a uma natureza sempre deve ser atribuído à pessoa de 
Jesus Cristo. A expressão correta deve ser: “Cristo fez isto” ou “Cristo disse 
aquilo”. Não esta ou aquela natureza fez...
c) Limitação dos atributos divinos em Cristo. A ideia do auto-esvazia­
mento de Cristo tem fundamento bíblico, mas não com a noção de que ele 
deixou de ser divino, nem que ele renunciou a alguns de seus atributos em 
troca de qualidades humanas. Segundo o entendimento de alguns teólogos153, 
aquilo de que Jesus se esvaziou (Fp 2.6,7) não foi da essência divina, mas “de 
ser igual a Deus” no uso independente de seus atributos, para viver como 
servo, funcionalmente subordinado ao Pai durante o período de encarnação. 
Deste modo, Cristo não renunciou a sua divindade nem qualquer de seus 
atributos; mesmo na condição humana, ele nunca deixou de possuir a 
natureza divina (Cl 2.9).
Parece evidente que Cristo estava, de alguma forma, limitado quanto 
ao exercício dos poderes da sua divindade. Como ser humano, ele tinha 
a plenitude da divindade, mas nas limitações do seu corpo. Assim, por 
exemplo, ele não podia estar em toda parte - estava limitado no uso do 
atributo da onipresença -, mas isto não significa uma redução do seu poder 
e das suas capacidades, mas uma limitação circunstancial no exercício do 
seu atributo divino.
Para ilustrar essa situação, alguém imaginou um campeão velocista 
que escolhe correr com uma de suas pernas atrelada à perna de um 
companheiro que não corre como ele. Neste caso, sua capacidade física 
não está diminuída, mas as condições sob as quais ele a exerce o deixam 
limitado. Assim também podemos pensar de Cristo que, por estar unido 
à humanidade, ficou limitado no exercício de alguns de seus atributos 
divinos, mas sem deixar de tê-los. Neste sentido, Strong afirma que “a posse 
dos atributos divinos por parte de Cristo não implica necessariamente seu 
constante exercício deles. Na verdade, sua humilhação consistiu em abrir 
mão do seu exercício independente”.154
d) O Filho submisso ao Pai. Em consonância com a ideia da limitação 
das prerrogativas divinas em Cristo, exposta acima, o evangelho de João
152 ERICKSON, M. J. Op. cit. p. 306.
153 Entre os que pensam assim, estão Millard J. Erickson, Louis Berkhof, Franklin Ferreira e 
Alan Myatt.
154 STRONG, A. H. Op. cit, p. 1215.
enfatiza que Cristo é alguém que vive em absoluta dependência do Pai 
(Jo 4.34; 6.38; 7.16,17; 10.18). O Verbo participa da natureza divina em toda 
a sua plenitude, e como Filho, é sempre proveniente do Pai. Essa geração 
divina é expressa por ele vivendo sob as condições humanas, em dependência 
completa e cheia de adoração ao Pai. Em cada momento e detalhe, todas 
as prerrogativas e perfeições da divindade estão ao seu dispor, mas ele se 
submete à vontade do Pai em todas as coisas: conhecimento, palavras, atos, 
conflitos e sofrimentos. É provável que o Senhor Jesus tenha sido tentado 
no sentido de lançar mão das prerrogativas da sua divindade para aliviar os 
sofrimentos da sua humanidade, o que ele recusou terminantemente fazer 
(Mt 4.4ss; Mt 26.53,54), em estrita obediência à vontade do Pai.
3. Efeitos da união das duas naturezas em Cristo.
Com a união das duas naturezas em uma só pessoa, Cristo tornou-se 
o perfeito mediador dos homens (lTm 2.5; ljo 2.2; Ef 2.16-18). A união do 
divino com o humano em Cristo trouxe a glória do Filho de Deus para o 
homem e a morte do homem para o Filho de Deus. Sem dúvida, este foi o 
maior efeito da união.
Depois de provar e vencer a morte, Cristo foi glorificado, retornando 
ao seu estado de glória eterna (Jo 17.5). Ele está assentado sobre o trono 
do universo junto com o Pai; e deixou preparado o caminho para a glori­
ficação dos que o seguem. Ele é, para sempre, Deus-homem (glorificado) 
(Hb 7.24-28).
i8 6 | Manual de Teologia Sistemática - Revisado e Ampliado

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