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3 - Aspectos sociolinguísticos da Libras

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DESCRIÇÃO
Apresentação dos modelos teóricos da Sociolinguística no
contexto da Libras: a Sociolinguística Variacionista e a
Sociolinguística Interacional.
PROPÓSITO
Discutir os principais conceitos da Sociolinguística Variacionista
e da Sociolinguística Interacional articulados com a realidade
das comunidades usuárias de Libras a fim de ampliar a visão
sobre língua e sociedade.
PREPARAÇÃO
Tenha à mão um dicionário de Linguística para consultar os
termos específicos da área. Na internet, você pode acessar o
Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da
Língua Portuguesa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os tipos de variação linguística e a mudança na
língua
MÓDULO 2
Relacionar a Sociolinguística com o contexto educacional da
Libras
INTRODUÇÃO
Como explicar o fato de que falantes de uma mesma língua a
usem de modo tão diferente?
Você já reparou como uma pessoa modifica seu modo de falar,
quando se encontra em uma festa com amigos ou quando está
em uma reunião de trabalho?
Notou como pessoas de diferentes grupos sociais escolhem
palavras e expressões específicas?
E o que dizer da dificuldade que pessoas mais idosas às vezes
apresentam para entender a fala de adolescentes e vice-versa?
Essas questões nos apontam para alguns fenômenos ou
processos que verificamos no uso de determinada língua e que
nos interessam aqui.
Estudaremos os diferentes tipos de variações pelas quais as
línguas passam, como isso se relaciona com a mudança em
determinada língua e como os aspectos sociais e linguísticos
interferem no diálogo com textos distintos, sem deixar de
considerar em todas essas questões o contexto da Libras, a
Língua Brasileira de Sinais.
MÓDULO 1
 Identificar os tipos de variação linguística e a mudança
na língua
OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
E A SOCIOLINGUÍSTICA
Uma das maiores contribuições da Linguística sobre o
funcionamento e a natureza da linguagem advém da corrente
Sociolinguística, que tem por princípio básico o estudo da
linguagem em diferentes recortes e realidades sociais.
Será por meio da Sociolinguística que trataremos do uso da
língua e das situações de variação e mudança, pois essa
corrente se localiza no campo dos estudos da linguagem como
uma área de teorização e investigação que observa aspectos
relacionados à variação e à mudança linguística.
A Sociolinguística também trata de tendências relacionadas
aos usos que diferentes grupos sociais fazem da língua, e
das ideologias e relações de poder envolvidas no processo
javascript:void(0)
de percepção, legitimação e estigmatização dessas formas de
uso da língua.
LINGUÍSTICA
Disciplina acadêmica voltada para o estudo científico da
linguagem.
 Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock
A Sociolinguística se impõe como um campo de ação diverso,
na medida em que se desdobra em áreas da interface
linguagem/sociedade, trazendo contribuições para o
entendimento das relações interacionais, para a descrição
linguística em diferentes momentos do curso de formação da
língua e para o enriquecimento de outras áreas, como a
educação e a política.
Ao focalizar o uso real e efetivo da língua por indivíduos
socialmente localizados, a Sociolinguística se coloca no campo
das ciências humanas e sociais, subsidiando discussões
voltadas para o valor ou reconhecimento das formas de
expressão de grupos majoritários e minoritários.
 ATENÇÃO
No contexto da discussão sobre as línguas de sinais, em geral
línguas de minorias linguísticas compostas por indivíduos
surdos, por exemplo, a Sociolinguística traz informações
importantes para o combate ao preconceito linguístico.
Aqui vamos tomar dois direcionamentos a fim de entender um
pouco sobre alguns princípios da Sociolinguística e como essa
corrente dialoga com as discussões sobre a Libras e sua
comunidade linguística. Trataremos, portanto, das duas
grandes áreas, tradicionalmente falando, da Sociolinguística:
A VARIACIONISTA
Módulo 1

A INTERACIONAL
Módulo 2
A SOCIOLINGUÍSTICA
No início da década de 1960, William Labov, que
posteriormente se tornaria um dos maiores linguistas da
história, desenvolveu dois grandes estudos:
 
Fonte:
 Legenda: William Labov, autor desconhecido, século XXI. |
Fonte: Alchetron.
Uma grande investigação sobre o inglês falado na ilha
Martha's Vineyard, em Massachusetts, Estados Unidos.
Um estudo de mesma natureza, com o dialeto falado na
cidade de Nova York.
Em ambos os estudos, o pesquisador possuía um único e
importante objetivo:
Mostrar o papel crucial dos fatores sociais na explicação
da variação linguística.
O autor identificou que a variação de usos linguísticos de
funções e significados semelhantes era altamente controlada e
organizada por fatores ligados aos perfis sociais de seus
falantes, além de fatores internos de seus dialetos.
A partir dos estudos de Labov, foi superada a ideia de que a
variação linguística seria aleatória e não sistêmica. A ideia de
que a variação seria ordenada tornou-se um contraponto ao
pensamento de que a língua se organizaria estruturalmente a
despeito de seus falantes e seus usos diversos.
 RESUMINDO
A variação linguística passou a ser entendida como objeto não
aleatório, baseando-se na correlação existente entre fatores
linguísticos e sociais.
Vários pontos são identificados a partir dessa discussão, dos
quais destacamos:
O fato da heterogeneidade sistematizada
O aparato metodológico variacionista
A relação entre variação e mudança linguísticas
O FATO DA
HETEROGENEIDADE
SISTEMATIZADA
A despeito da irregularidade observada no uso da língua, existe
um conceito de homogeneidade advindo de certa concepção
linguística que consiste em entender a língua como um sistema
fechado de regras e possibilidades, como um objeto
homogêneo, estruturalmente consistente e previsível, a partir
de suas próprias possibilidades internas de arranjo. Essa é a
concepção estruturalista da língua.
Nesse sentido, o uso individual da língua é visto como o lugar
do caos, da não regularidade, o lugar onde múltiplas formas
surgem, como as formas menos legitimadas de um grupo
social. Por outro lado, a dimensão coletiva ou social da língua
representa o regular, o sistêmico, o homogêneo.
USO INDIVIDUAL DA LÍNGUA
Caos

USO COLETIVO OU SOCIAL DA LÍNGUA
Regularidade
As pesquisas de Labov e toda a prática sociolinguística
variacionista mostraram, entretanto, que a suposta
homogeneidade linguística, prevista pela perspectiva
estruturalista, poderia ser questionada pela ideia de
heterogeneidade sistematizada.
O QUE VEM A SER ESSA
HETEROGENEIDADE
SISTEMATIZADA?
Trata-se de um fato verificável em qualquer língua natural ao
notarmos que a variação linguística é controlada e fortemente
condicionada por fatores inerentes à língua e por outros a ela
externos: os fatores sociais.
Há, portanto, uma dimensão probabilística nesse contexto: a
tendência de que determinados usos ocorram em dado
contexto, graças à ação desse conjunto de fatores.
É um grande erro acharmos que o modo diferenciado como as
pessoas se expressam para dizer a mesma coisa possa ser
classificado simplesmente como resultado de escolhas
aleatórias, ignorância, deficit cognitivo e tantos outros
argumentos que costumamos testemunhar quando o assunto é
a maneira diferenciada como todos nós nos expressamos.
Qualquer fenômeno de variação linguística é explicável,
portanto, por um conjunto de fatores relacionados que pode
apontar o modo como as possibilidades de usos para um
mesmo sentido se distribuem na língua.
É nessa combinação de fatores que identificaremos o que há
de sistemático na heterogeneidade linguística. A visão de
homogeneidade linguística estruturalista é posta em xeque pela
proposta da heterogeneidade sistematizada da
Sociolinguística, que mostra que nada na língua é, por assim
dizer, caótico.
EXEMPLOS DO
FUNCIONAMENTO DA
VARIAÇÃO
 
Fonte:
Para falar dos fatores que explicam o funcionamento sistêmico
da variação, vejamos o caso dos gerúndiosno português do
Brasil (PB):
Há um fenômeno de variação no uso do gerúndio, a realização
ou apagamento do fonema /d/.
Atualmente, observamos brasileiros usando as formas mais
tradicionais /ando/, /endo/ e /indo/, mas também é comum
encontrarmos o seu uso com apagamento, como verificamos
inclusive no registro escrito das formas <andano>, <bebeno> e
<vino>. Podemos levantar várias hipóteses sobre os fatores
internos e fatores externos relacionados ao fenômeno em
questão. Veja mais sobre isso a seguir:
FATORES INTERNOS
Se pensarmos em termos de fatores internos, veremos que
talvez esse seja um fenômeno relacionado à possibilidade de
ressilabificação, isto é, de reestruturação das sílabas: o
apagamento do fonema /d/ não compromete a recuperação do
sentido da palavra, já que o último fonema da sílaba anterior é
uma consoante que é reanalisada como parte da nova sílaba
em conjunto com a vogal final e guardando o morfema
marcador do gerúndio.
Esse condicionamento está previsto pelas possibilidades de
articulação das palavras no português do Brasil, e o exemplo
nos mostra que existem fatores internos do sistema linguístico
do português que se relacionam à questão do apagamento do
fonema /d/ nesse contexto. Não se trata, portanto, de um
acontecimento (um fenômeno) aleatório.
FATORES EXTERNOS
Se pensarmos em termos de fatores externos, veremos que
talvez pessoas com maior grau de escolaridade apresentem
menos o apagamento que pessoas de menor grau de
escolarização. Veremos, talvez, que pessoas de determinada
região geográfica apresentem menos o apagamento em
comparação com pessoas de outras regiões do país.
Podemos nos perguntar sobre o que estaria contribuindo para
essa variação regional. Talvez percebamos que, a depender do
grau de formalidade de dada situação linguística, as pessoas
possam estar mais ou menos sujeitas a realizar o apagamento
do fonema em questão.
Vale notar que estamos falando de realizações que ocorrem
inconscientemente, o que evidencia a sistematicidade natural
do fenômeno de variação, aqui exemplificado.
 
Fonte:
A heterogeneidade linguística pode ser identificada, também, a
partir do exemplo apresentado, se compararmos a variedade
do português de Portugal e a do PB.
A variedade europeia prevê o uso da forma [ESTAR + a +
Verbo no infinitivo] para construções no gerúndio, como em
<estou a cantar> e <estou a beber>.
Vemos aqui outro desdobramento sobre a discussão da
variação e sobre o fato de ela ser, ou não, prevista a partir de
fatores diversos. Se pensarmos no português brasileiro e no
português europeu como uma mesma língua, teremos um caso
de variação regionalmente orientada e que revela implicações
internas ainda mais complexas e específicas de cada
variedade.
Vemos, assim, que a diversidade linguística pode ser descrita
por fatores internos e externos aos usos, às variedades, aos
dialetos etc.
Considerando os conjuntos de fatores (internos e externos) à
língua, e que atuam na realização (articulação) ou no
apagamento do fonema /d/, vemos que tal fenômeno não é
algo que acontece de modo aleatório ou não previsível. Trata-
se de um fenômeno que pode ser cientificamente descrito.
OS TIPOS DE VARIAÇÕES
LINGUÍSTICAS
O tratamento científico sobre a variação linguística permite a
identificação de ao menos três agrupamentos, três tipos de
variações linguísticas, que são de ordem:
DIASTRÁTICA
Social
DIATÓPICA
Regional
DIAFÁSICA
Estilística/registro
Tais agrupamentos são identificados no uso de qualquer
língua natural, independentemente de serem línguas orais
ou de sinais.
Os fenômenos podem acontecer em qualquer nível da língua:
NÍVEL 
FONOLÓGICO
Na 
pronúncia
NÍVEL SEMÂNTICO/LEXICAL
Entre 
as palavras
NÍVEL MORFOSSINTÁTICO
Na construção 
das frases
NÍVEL DISCURSIVO-PRAGMÁTICO
Em como o discurso é construído
Lembrando que em todos os níveis esses fenômenos estarão
sujeitos tanto à pressão de fatores linguísticos quanto sociais.
Vamos conhecer agora cada um dos três tipos de variações
linguísticas:
VARIAÇÕES DIASTRÁTICAS
O agrupamento das variações diastráticas aponta para os
fenômenos que apresentam condicionamentos de ordem não
especificamente linguística, mas de orientação social. Assim,
identifica-se a distribuição de usos específicos em subgrupos
de macrogrupos sociais.
 Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock
É possível localizar e explicar, por exemplo, as diferenças na
distribuição de formas de mesmo sentido, existentes nas falas
de indivíduos de sexos ou gêneros diversos, crianças e idosos,
pessoas com diferentes graus de escolarização e assim por
diante.
A variação diastrática corresponde aos diferentes modos de
uso da língua em função da classe social ou do grau de
escolaridade.
VARIAÇÕES DIATÓPICAS
As variações diatópicas, por sua vez, são aquelas em que
verificamos diferenças de usos entre subgrupos regionais de
um grupo maior. É possível localizar diferenças de usos entre
falantes, explicáveis em decorrência da localização em que se
encontram.
Assim, a variação diatópica é a que se dá na dimensão
geográfica, do espaço. Os diferentes dialetos de uma língua ou
os regionalismos (o dialeto carioca, o dialeto caipira etc.) são
exemplos de variação diatópica.
 Fonte: Oksana Mizina/Shutterstock
A alternância entre “mexerica”, nas regiões Sudeste e Centro-
Oeste no Brasil, e bergamota, na região Sul, também ilustra a
variação diatópica.
VARIAÇÕES DIAFÁSICAS
Os fenômenos de variação que compõem o agrupamento das
variações diafásicas são aqueles que refletem como o uso da
língua é sensível ao contexto de uso, ao registro, às situações
comunicativas diversas e que nos levam a optarmos, em geral,
inconscientemente, por registros mais ou menos formais e
adequados de usos.
Assim, a variação diafásica corresponde às diferenças de
modalidades expressivas, ou seja, os diferentes usos de uma
mesma língua em função do contexto, da situação de
comunicação, da atividade profissional etc.
 Fonte: Feel good studio/Shutterstock
Por exemplo, a maneira de um professor se expressar em sala
de aula, em um discurso professoral ou acadêmico, é distinta
do jeito como se expressa em uma roda de conversa com
amigos.
Vejamos um exemplo que reúne os três tipos de variação.
Imagine o seguinte diálogo:
- Zé, desta vez cheguei bem cedinho para não perder a
cavalgada! 
- Poxa, fiz ocê madrugá! Coitado!
Nesse pequeno diálogo, podemos ilustrar o funcionamento dos
três agrupamentos de variações que estudamos até aqui:
O uso das formas <ocê> e <madrugá>, sem a pronúncia do /R/
final, pode estar associado à fala de pessoas com menor grau
de escolaridade, opondo-se a formas como <você> e
<madrugar>, as quais possivelmente surgiriam com maior
probabilidade nas falas de grupos de maior escolarização,
ilustrando a variação diastrática.
O uso das formas <você> e <ocê>, por exemplo, ilustra um tipo
de variação existente entre a fala de pessoas de centros
urbanos e pessoas do interior, uma variação regional, ou seja,
diatópica.
O uso de <cedinho>, <Poxa!> e <Coitado!> aponta para o grau
de informalidade da situação comunicativa. Em situações mais
formais, os itens <cedo>, <Lamento!> e <Pobre rapaz!> seriam
preferidos, ilustrando um caso de variação diafásica. 
A variação linguística nas línguas de sinais também se
materializa por fatores linguísticos, em geral, relacionados a
seus parâmetros fonológicos e a fatores sociais ligados aos
seus usuários.
No âmbito da variação diastrática, identificamos diferenças na
forma dos sinais DIA, PAI, SIM e NUNCA. Tais sinais são
tradicionalmente denominados como sinais soletrados,
graças ao uso da datilologia, quando foram incorporados à
Libras via empréstimo do PB.
 Representação do alfabeto manual de Libras. | Fonte:
EnsineMe.
A datilologia é a representação ortográfica, via uso do alfabeto
manual, usada pelos usuários de línguas de sinais para a
representação de palavras das línguas orais que aindanão
possuem um sinal específico na Libras, como nome de
pessoas, lugares e termos técnicos.
A importância dessas palavras no uso diário, sua frequência de
uso e vários outros fatores relacionados à sua incorporação
nesse sistema fizeram com que elas sofressem erosão
fonológica, uma alteração importante na maneira como são
representadas e que indica perda da soletração e a
emergência de um único sinal, em bloco.
 Fonte: fizkes/Shutterstock
De algum modo, esses sinais guardam semelhança com as
formas datilológicas originais, mas são diferentes. Usuários da
Libras mais novos podem, portanto, usar os sinais DIA, PAI,
SIM e NUNCA de maneira diferenciada de falantes mais
velhos, por não terem sido expostos com maior frequência às
formas datilológicas originais, indicando uma mudança
linguística importante nesse sistema linguístico.
Exemplo:
O sinal NUNCA, originado a partir da soletração N-U-N-C-A,
passa a ser realizado com as configurações de mão em <N> e
<U>, alternadamente e com mais velocidade, sem a realização
das letras referentes à palavra no português, como vemos a
seguir: 
 
Fonte: Ensine.me
 Sinal de Nunca com as configurações de mão em <N> e
<U>. | Fonte: EnsineMe
Na Libras, alguns exemplos clássicos de variação diatópica
consistem nos sinais correspondentes às palavras BRANCO,
TREM, ÔNIBUS, PESSOA e FRUTA.
Os conceitos <branco> e <trem> em Libras são formalmente
representados por um item lexical (um sinal) no Rio de Janeiro
e outro em São Paulo.
Isso também ocorre com <ônibus> e <pessoa>, que
apresentam formas diferentes no Rio de Janeiro e no Rio
Grande do Sul. 
Com o item <fruta>, há uma forma em Pernambuco e outra nos
demais estados brasileiros.
Exemplo:
O sinal de FRUTA, no Rio de Janeiro e em vários locais do
Brasil, é o mesmo de MAÇÃ, acrescido da palavra VÁRIOS
[MAÇÃ + VÁRIOS], conforme vemos na figura a seguir:
 
Fonte: Ensine.me
 Sinal de Fruta no Rio de Janeiro e em vários locais do
Brasil. | Fonte: EnsineMe
Em Pernambuco, entretanto, a palavra FRUTA é apresentada
na configuração da letra <F> do alfabeto manual, com
localização na bochecha do usuário, que é pressionada pelo
dedo indicador.
Na composição do sinal, há ainda o movimento esquerda-
direita da mão. Novamente, a diferença de representação
formal do sinal FRUTA, que é orientada por distribuição
regional, é um exemplo de variação diatópica.
A alternância de uso de idiomatismos típicos de contextos
comunicativos de menor grau de formalidade e de outras
expressões de mesmo sentido pode exemplificar a variação
diafásica em Libras: seus usuários saberão qual forma usar
em qual contexto comunicativo apesar da semelhança de
sentido. Do mesmo modo, a interpretação para Libras de
discursos políticos, em geral da maior formalidade, apresentará
marcas linguísticas mais associadas ao registro formal dessa
língua.
 RESUMINDO
A variação linguística, em suma, reflete a diversidade
linguística, por sua vez, espelhada na diversidade sociocultural
das comunidades linguísticas, inclusive a da comunidade
surda.
A visão da heterogeneidade sistematizada reflete a imbricada
teia que constitui os grupos, em todas as suas interfaces e
seus perfis, e revela as idiossincrasias do nível individual.
Assim, os conceitos de dialeto e de idioleto emergem na
discussão sociolinguística, apontando para as variantes usadas
pelos múltiplos agrupamentos sociais, no caso dos dialetos, e
para a língua falada ou sinalizada do indivíduo, no caso dos
idioletos.
Características sociais, identitárias, históricas e culturais
desses grupos são refletidas na língua, que emerge como
espelho do seu contexto social maior, mas que também
funciona como fator identitário no nível do indivíduo.
O APARATO
METODOLÓGICO
VARIACIONISTA
Uma das maiores contribuições do advento da
Sociolinguística Variacionista, ou Teoria da Variação, foi a
incorporação de uma metodologia, proposta para a análise e
interpretação dos fenômenos de variação, contemplando a
observação da interação dos fatores, linguísticos e
extralinguísticos, condicionantes dos fenômenos observáveis.
 Fonte: djile/Shutterstock
A incorporação do tratamento estatístico para as análises
sociolinguísticas, portanto, permite a observação do que é ou
não relevante em termos de condicionamentos estruturantes
dos fenômenos em variação. Assim, atrelada à identificação de
dado fenômeno variável está a observação sobre as formas em
competição, as variantes linguísticas, sobre as quais se voltará
a investigação.
As variantes linguísticas são as diferentes formas identificadas
na língua e que expressam o mesmo sentido, o mesmo valor
de verdade. As variáveis independentes são o conjunto de
fatores, linguísticos ou extralinguísticos, relacionado ao uso de
uma ou outra forma em competição.
Segue-se, então, uma sequência, mais ou menos fixa, mais ou
menos ordenada, de etapas metodológicas que embasam a
investigação científica para a descrição dos fenômenos da
língua:
Levantamento do(s) corpus/corpora para identificação de
dados
Coleta e registro de dados
Formação da amostra
Delimitação dos perfis sociais dos indivíduos
Levantamentos de hipóteses
Transcrição
Submissão ao tratamento estatístico
Análises
CORPUS
Corpus (plural corpora) é o conjunto de textos escritos e
registros orais para fins de análise dos dados reais de
determinada língua. A partir de critérios estabelecidos
previamente, esses dados são coletados para serem objeto
de pesquisa.
Por meio da análise estatística sobre como os diferentes
grupos sociais usam a língua, é possível identificar os fatores
javascript:void(0)
significativamente relevantes para a explicação das
regularidades da variação.

A partir de uma abordagem controlada para o estudo da
linguagem, torna-se possível chegar a conclusões mais
embasadas sobre os fatores condicionantes que explicam a
aparentemente caótica, mas regular natureza da variação.
A escolha criteriosa de um conjunto de textos, orais, escritos ou
sinalizados, consiste na observação dos ambientes de uso em
que determinado fenômeno estará mais suscetível a emergir.


Dessa escolha decorre o trabalho de identificação, coleta e
registro das variantes linguísticas e seus contextos, o que leva
à formação da amostra dos dados a serem analisados.
A identificação dos fatores sociais, dos fatores contextuais
linguísticos e extralinguísticos dos usos e a transcrição dos
dados permitirão o levantamento de hipóteses para as
motivações relacionadas à regularidade do fenômeno
investigado.


O suporte do modelo quantitativo permitirá o trabalho de
análise, que poderá ainda ser acompanhado por alguma
abordagem de orientação qualitativa.
Os fatores envolvidos nos condicionamentos sobre os usos das
formas podem ser diversos. As variáveis linguísticas são as de
natureza fonológica, morfossintática, semântica e
discursivo-pragmática.
As variáveis extralinguísticas, de orientação mais social,
podem ser resumidas em: idade, região, gênero/sexo, estrato
social, grau de escolarização etc., podendo ainda serem
adicionadas variáveis relacionadas ao contexto de uso das
formas e seus gêneros discursivos.
A RELAÇÃO ENTRE
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E
MUDANÇA
 A terceira observação vinda a partir da perspectiva
sociolinguística consiste na relação existente entre variação e
mudança. Se a heterogeneidade linguística é controlada a
partir de fatores condicionantes específicos, esses mesmos
fatores podem ajudar a explicar os motivos que levam
determinada forma competidora, em variação, a ser implantada
no sistema não mais em contexto de alternância, mas como
única possibilidade, implicando a mudança.
 ATENÇÃO
Em primeiro lugar, é preciso salientar que fenômenos em
variação não significam necessariamente mudança linguística
em curso. O dinamismo da língua é refletido na variação e na
mudança, mas isso não significa dizer que toda variação
aponte necessariamente para um processode mudança
linguística em curso.
Considere, por exemplo, o caso dos pronomes “você” e “Vossa
Mercê” no português brasileiro (PB).
Por algum tempo, eles estiveram em variação (ou seja,
competiam pela expressão do significado SEGUNDA PESSOA
DO SINGULAR)

Em algum momento do século XVIII, o “você” venceu a disputa:
seu uso disparou, o de “Vossa Mercê” caiu a zero e, com isso,
o sistema do PB se modificou (LOPES; DUARTE, 2003).
 Assim, a mudança linguística é prevista como
resultado de algum tipo de fenômeno de variação que a
antecede. Nesse sentido, os fatores linguísticos e
extralinguísticos envolvidos no processo de variação podem
evidenciar gatilhos possíveis para alterações nos sistemas,
para a implantação de mudanças. Duas importantes
discussões surgem a partir dessa constatação:
A PRIMEIRA
A SEGUNDA
A PRIMEIRA
Diz respeito ao fato de a mudança ser gradual e de ser
atestada primariamente na fala das crianças. As formas em
competição que se tornam a regra do sistema tendem a ser
verificadas na fala das gerações mais novas, servindo de
indício para o processo de mudança em curso.
A SEGUNDA
Diz respeito à possibilidade de que a implantação de uma
forma não necessariamente se relacione com os parâmetros de
julgamentos sociais, favoráveis ou não, sobre seu uso em
tempos anteriores.
Os estudos sociolinguísticos de orientação histórico-temporal
(diacrônicos) abordam diferentes momentos da língua
(sincronias), nos quais determinado fenômeno em variação
ocorre, podendo atestar possível mudança ao detectarem
tendência de implantação de uma forma em detrimento do
desaparecimento de outra.
É possível observar como determinado fenômeno pode
estar apontando para uma mudança em curso, a partir do
comportamento da variação em diferentes grupos etários
ao longo do tempo.
Da mesma maneira, o tratamento quantitativo associado à
prática sociolinguística permite a observação de que a
mudança linguística é fato inerente às línguas e que ocorrerá
naturalmente a despeito da influência de fatores como
julgamentos sociais de usos linguísticos, convenções
linguísticas aprendidas na escola, normatizações linguísticas
oficiais etc.
 ATENÇÃO
O que queremos salientar, portanto, é que a diversidade
linguística prevê a diversidade dialetal, a coexistência de
variantes, como o padrão culto, a fala popular, a fala regional
etc. O julgamento de valores relacionados a essas formas é
absolutamente independente de sua natureza linguística por si
mesmo.
São julgamentos de orientação social, em geral, associados ao
poder que a norma padrão exerce em toda a sociedade e que
está refletido na própria estratificação social e nas forças
hegemônicas de dada sociedade.
A motivação para tais julgamentos também está no cerne de
discursos preconceituosos que tendem, por exemplo, a colocar
a Libras como uma linguagem não verbal, não reconhecendo
seu caráter de linguagem verbal, ou seja, como uma língua.
 SAIBA MAIS
Mais recentemente, ela se reflete na resistência ao
reconhecimento do uso de formas novas de gênero neutro nas
línguas do mundo, uma demanda de grupos minoritários que
desejam ver na língua o espelhamento da identificação de
gênero não binário.
 
Fonte:
 Fonte: tereza ferreira/Shutterstock
A possibilidade de que determinada forma, objeto de
estigmatização social em outros tempos, possa vir
gradualmente a se tornar legitimada pelo padrão culto de novos
tempos é apenas mais uma evidência da inexistência de
superioridade entre formas, idioletos, dialetos, enfim, entre
línguas.
 EXEMPLO
Exemplos diversos poderiam ser citados para demonstrar que
as formas tidas como socialmente menos privilegiadas podem
se tornar as formas eleitas pela norma culta de outra época.
O pronome pessoal <a gente>, por exemplo, no PB passou a
ser usado amplamente, inclusive em discursos altamente
formais e monitorados, em lugar do pronome <nós>. Um
passeio diacrônico (ao longo da história de uma língua) sobre a
trajetória de mudança da forma <as gentes> à forma atual
mostrará claramente a atuação de pressões internas e
externas ao fenômeno, que chega à sincronia (determinado
estágio ou estado de uma língua) atual com uma carga
ampliada de aceitabilidade de uso em contextos mais formais.
A pesquisa na área da Sociolinguística Variacionista pode
trazer inúmeros benefícios para a documentação e ratificação
da importância da Libras para a comunidade surda brasileira.

 
Fonte: Mdesignstudio/Shutterstock
É possível, por exemplo, aplicar a Teoria da Variação para a
condução de estudos sobre diferentes tipos de variação a fim
de observar como ela se distribui no território nacional.
Por meio da teoria, também podemos compreender como os
usuários de diferentes faixas etárias, gêneros, sexos e classes
sociais usam a língua em todo o Brasil e como os fatores
estruturais podem interagir com os fatores sociais no processo
de variação.
 
Fonte: 3DDock/Shutterstock


 
Símbolo Internacional da Língua de Sinais. Fonte: UFMG.
E, por fim, é possível verificar como a Libras, assim como
qualquer sistema linguístico, evolui e passa por processos de
mudanças linguísticas, decorrentes de motivações endógenas
(internas) da língua, da comunidade surda, do contato
linguístico com o PB, pelo avanço das novas tecnologias de
comunicação, entre outros fatores.
No vídeo a seguir, o professor Roberto Freitas apresenta
alguns exemplos de tipos de variação linguística e possíveis
situações de mudança linguística em línguas de sinais. Vamos
assistir!
VERIFICANDO O
APRENDIZADO
Leia o texto a seguir para responder às perguntas 1 e 2:
[...]
Levanta, preta, que o Sol tá na janela 
Leva a gamela pro xaréu do pescador 
A alforria se conquista com o ganho 
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor 
Mainha, esses velhos areais 
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs 
Pra luta sentem cheiro de angelim 
E a doçura do quindim 
Da bica de Itapuã
[...]
(G.R.E.S. UNIDOS DO VIRADOURO. Samba-enredo 2020 –
Viradouro de Alma Lavada.)
1. AS PALAVRAS “BALAIO” E “MAINHA” SÃO
MUITO USADAS NA REGIÃO DA BAHIA, SOBRE
A QUAL O ENREDO SE REFERE. EM OUTROS
LOCAIS DO BRASIL, AS FORMAS UTILIZADAS
PARA TAIS CONCEITOS PODEM SER “CESTO” E
“MÃEZINHA”. O TIPO DE VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA QUE APONTA PARA DIFERENÇAS
NO ÂMBITO REGIONAL É DENOMINADO:
A) Variação diafásica
B) Variação diatópica
C) Variação diastrática
D) Diacronia
E) Mudança
2. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: 
 
I - O USO DA PALAVRA “MAINHA” ESTÁ
FORTEMENTE ASSOCIADO A CONTEXTOS DE
MENOR GRAU DE FORMALIDADE; SE UM
FALANTE DO DIALETO BAIANO, EM SITUAÇÕES
DE REGISTRO FORMAL, PREFERIR O USO DA
FORMA “MÃE” NO LUGAR DE “MAINHA”,
EVIDENCIARÁ UMA VARIAÇÃO DIAFÁSICA. 
II - A FORMA VERBAL “TÁ” NO LUGAR DE
“ESTAR”, CARACTERIZANDO UM REGISTRO
INFORMAL DA LÍNGUA E MUITO PRÓXIMO DA
ORALIDADE, NÃO É UMA VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA, JÁ QUE A ÚNICA MANEIRA DA
LÍNGUA A SER CONSIDERADA É A LÍNGUA-
PADRÃO. 
III - A LETRA DE UM SAMBA-ENREDO PODE
CONTER REGISTROS MAIS COLOQUIAIS OU
INFORMAIS DA LÍNGUA PARA EFEITOS DE
EXPRESSIVIDADE E ADEQUAÇÃO AO SEU
CONTEXTO, CARACTERIZANDO UMA
VARIAÇÃO DIAFÁSICA. 
IV - SE O BAIANO PREFERE A FORMA
AFETUOSA “MAINHA” E O POVO DE OUTROS
LUGARES PREFERE A FORMA CARINHOSA
“MÃEZINHA”, ESTÃO TODOS USANDO TERMOS
DE DIFERENTES LUGARES PARA A MESMA
DOCE FIGURA, CARACTERIZANDO A VARIAÇÃO
DIATÓPICA. 
 
ESTÃO CORRETAS SOMENTE AS AFIRMATIVAS:
A) I e II.
B) I e III.
C) I, II e III.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.
GABARITO
1. As palavras “balaio” e “mainha” são muito usadas na
região da Bahia, sobre a qual o enredo se refere. Em
outros locais do Brasil, as formas utilizadas para tais
conceitos podem ser “cesto” e “mãezinha”. O tipo de
variação linguística que aponta para diferenças no âmbito
regional é denominado:
A alternativa "B " está correta.
 
O tipo de variação que espelha diferenças regionais de uso da
língua é chamado de variação diatópica, manifestando falaresregionais, dialetos ou expressões tipicamente regionalistas.
2. Considere as afirmativas a seguir: 
 
I - O uso da palavra “mainha” está fortemente associado a
contextos de menor grau de formalidade; se um falante do
dialeto baiano, em situações de registro formal, preferir o
uso da forma “mãe” no lugar de “mainha”, evidenciará
uma variação diafásica. 
II - A forma verbal “tá” no lugar de “estar”, caracterizando
um registro informal da língua e muito próximo da
oralidade, não é uma variação linguística, já que a única
maneira da língua a ser considerada é a língua-padrão. 
III - A letra de um samba-enredo pode conter registros mais
coloquiais ou informais da língua para efeitos de
expressividade e adequação ao seu contexto,
caracterizando uma variação diafásica. 
IV - Se o baiano prefere a forma afetuosa “mainha” e o
povo de outros lugares prefere a forma carinhosa
“mãezinha”, estão todos usando termos de diferentes
lugares para a mesma doce figura, caracterizando a
variação diatópica. 
 
Estão corretas somente as afirmativas:
A alternativa "D " está correta.
 
O tipo de variação que espelha as diferenças de registro de
uso da língua é chamado de variação diafásica, conforme
ilustrado nas afirmativas I, II e III. No entanto, a afirmativa II
contém erro ao não reconhecer que o uso da forma verbal “tá”
é uma variação e que devemos considerar as formas de
variação da língua e não apenas a língua-padrão ou culta. A
afirmativa IV apresenta corretamente uma situação de variação
diatópica, ou seja, diferentes expressões ou palavras para um
mesmo referente em função da região dos falantes ou usuários
da língua.
MÓDULO 2
 Relacionar a Sociolinguística com o contexto
educacional da Libras
A SOCIOLINGUÍSTICA
INTERACIONAL
 Neste módulo, trataremos do segundo caminho teórico
da Sociolinguística, a Sociolinguística Interacional, para
identificarmos algumas relações com a língua em geral e,
posteriormente, com a Libras.
 Diferentemente da perspectiva variacionista, que
observa a língua a partir das variáveis estruturais e sociais que
a definem, a Sociolinguística Interacional propõe seu estudo na
interação dialógica.
SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Observa a língua a partir das variáveis estruturais


SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL
Propõe o estudo da língua na interação dialógica
Os principais nomes da Sociolinguística Interacional e que
estão na base de sua estrutura são:
 
Fonte: DatBot/Wikipedia
ERVING GOFFMAN
(1922-1982)
Antropólogo, sociólogo e escritor canadense
 
Fonte: University of California.
JOHN GUMPERZ
(1922-2013)
Sociolinguista norte-americano, mas nascido na Alemanha
 
Fonte: Alchetron.
DELL HYMES
(1927-2009)
Linguista e antropólogo norte-americano
Nessa proposta, o foco de investigação consiste na construção
da interação, a partir de fatores micro e
macrossociolinguísticos. Nesse sentido, a Sociolinguística
Interacional observa as estruturas sociais, históricas e
culturalmente construídas que subjazem a toda interação
verbal, o uso da língua.
A conjunção de fatores linguísticos com fatores
comportamentais e ideológicos é a base da construção
dialógica e permeia todo o pensamento sociolinguístico
interacional.
Os estudiosos dessa área trabalham na busca do
entendimento sobre como os usuários da língua criam,
reforçam e replicam, no nível micro, significados e crenças
sociais do nível macro.
Nessa perspectiva, a língua não é vista como uma estrutura
formal per se (em si mesma, intrinsecamente), mas como o
resultado das pressões sociais e culturais diversas, espelhadas
em seu contexto de uso, nas intenções comunicativas, nas
escolhas linguísticas, nos perfis sociais de seus usuários e nas
relações de poder que mantêm entre si.
Dessa maneira, a Sociolinguística Interacional permite a
observação das relações sociais, refletindo suas características
no contexto de uso da língua, onde se enquadram múltiplas
comunidades linguísticas, de identidades próprias, e no
contexto social macro, mais abrangente, onde se encontram as
crenças e os valores penetrados nos diferentes contextos
sociais.
 ATENÇÃO
Trata-se, portanto, de uma perspectiva teórica e metodológica
do estudo do uso da língua que envolve a Linguística e outras
áreas sociais, como a Psicologia, a Sociologia e a
Antropologia, ao se dedicar ao que está na interface língua,
sociedade e cultura.
 A natureza interdisciplinar da Sociolinguística
Interacional garante, por consequência, material de análise
importante para o entendimento das sociedades em geral. A
interpretação dos fenômenos atuantes na construção do evento
comunicativo é alimentada pelo conhecimento oriundo de
diversas áreas e, ao mesmo tempo, permite a observação
acerca das engrenagens sociais, subsidiando o trabalho
dessas e de outras áreas das humanidades.
 Em termos metodológicos, há a preocupação do
registro, seja por áudio, vídeo, anotações, transcrições ou
qualquer modo de documentação, das interações reais de
comunicação. A observação dos aspectos do contexto
comunicativo em articulação com os aspectos do contexto
linguístico é fundamental para a análise sociolinguística
interacional.
 RESUMINDO
Os estudos nessa área focalizam, portanto, as escolhas
linguísticas, os aspectos do nível formal e funcional da língua e
as questões culturais comportamentais que inconscientemente
interagem na construção dialógica do uso, revelando a
simbiose natural entre língua e contexto social.
Assim, o uso da língua não é visto como objeto desconexo das
pressões sociais contextuais atuantes na conversação, na aula,
no atendimento médico ou em qualquer forma de interação
verbal e dialógica culturalmente construída. A Sociolinguística
Interacional dialoga, nesse sentido, com a Análise do
Discurso e com a Pragmática.
ANÁLISE DO DISCURSO
A Análise do Discurso entende a interação verbal como
lugar da materialização, da prática, dos valores sociais
estabelecidos. Assim, comportamentos e ideologias que
perpassam o pensamento social vigente são entendidos
como formados e reformados pela e na linguagem.
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javascript:void(0)
PRAGMÁTICA
O nível de análise linguística em que observamos nosso
conhecimento sobre como funciona o uso da língua, ao
trabalhar no nível das implicaturas conversacionais e dos
subentendidos que refletem ideologias, valores e intenções
dos interlocutores do conjunto micro e macrossocial.
Para exemplificar essa discussão, considere o texto de um
meme, gênero digital muito popularizado atualmente, que diz o
seguinte:
MULHERES PARA FICAREM
BONITAS VÃO AO SALÃO DE
BELEZA. HOMENS PARA FICAREM
BONITOS VÃO A UMA
CONCESSIONÁRIA.
(Autor desconhecido)
Uma observação rápida sobre as implicaturas
conversacionais presentes no meme permite verificar que se
trata de um texto marcado por ideologias muito difundidas no
nível macrossocial.
A interpretação sobre as diferentes condições de beleza para
homens e mulheres indica os seguintes pressupostos:
IMPLICATURAS
CONVERSACIONAIS
Correspondem àquilo que é implícito em determinado ato
comunicativo. São inferências que advêm do contexto
extralinguístico.
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Fonte: Alena Gan/Shutterstock
Vaidade feminina, que prevê a obrigação de mulheres irem ao
salão de beleza para que sejam consideradas bonitas.
 
Fonte: North Monaco/Shutterstock
Interesse capitalista feminino, ao indicar que mulheres se
aproximam afetivamente de homens de maior potencial
financeiro.
O trabalho textual do meme é extremamente rico!
Há o uso do paralelismo das formas “mulheres para ficarem
bonitas vão... e homens para ficarem bonitos vão...”;
Temos a oposição de valores sociais relacionados com a
escolha das palavras <salão de beleza> e
<concessionária>;
Existe a opção de falar dos homens após ter falado das
mulheres etc.
Todos esses elementos, em conjunto, contribuem para a
produção do efeito final de sentido no meme.Perceba, ainda, que o texto desse meme circula na internet
geralmente associado a uma personagem cômica, como ocorre
com uma das versões em que vem associado à imagem do
personagem Seu Madruga, do seriado televisivo “Chaves”.
Nesse caso, a escolha da imagem se dá vinculada a um
personagem de uma série cômica, de classe social
desfavorecida e que é constantemente afastado pela
personagem feminina com quem interage no enredo da série
em questão.
 ATENÇÃO
O meme como gênero discursivo está associado à função de
ironia e sarcasmo, o que não é diferente aqui. A única
distinção, entretanto, é o fato de aqui serem tratadas, em tom
de comédia, ideologias completamente preconceituosas e
nocivas à nossa sociedade, mascarando e normalizando o
que elas trazem de ruim do e para o conjunto social. Assim, tal
meme representa a maneira como muitos pensam e, ao
mesmo tempo, difunde essas ideologias.
Um importante conceito emerge, ainda, no contexto da
Sociolinguística Interacional, e merece aqui destaque: o
conceito de competência comunicativa, de Hymes (1974).
A noção de competência comunicativa aponta para uma
habilidade relacionada ao desempenho linguístico: a
capacidade que permite ao falante se comunicar de modo
eficaz em situações comunicativas diversas e específicas.
A ABORDAGEM
SOCIOLINGUÍSTICA
INTERACIONAL E LIBRAS
Todas as características até aqui citadas compõem
desdobramentos do pensamento sociolinguista interacional e
podem ser utilizadas para analisarmos o uso da Libras em
diferentes contextos de uso, em diversas situações de
interação social.
É possível aplicar a metodologia de registro, coleta de dados e
análise da Sociolinguística Interacional para estudarmos como
se diferenciam, por exemplo, uma conversa formal e uma
conversa informal em Libras:
 
Fonte:
 Alunos de escola bilíngue em Libras e português escrito.
Fonte: Agência Brasília/Flickr
como se organizam linguisticamente;
como ocorrem as trocas de turnos;
como essas questões se relacionam com os papéis sociais
exercidos pelos interlocutores;
quais são os valores sociais macro e micro da comunidade
surda revelados nas escolhas e na construção da interação
dialógica.
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TROCAS DE TURNOS
As trocas de turnos correspondem à maneira como uma
conversa ordenada ocorre ou se organiza, ou seja, a
alternância entre a fala de cada participante da conversa. O
turno conversacional, assim, é qualquer intervenção dos
interlocutores.
É possível, ainda, pesquisar como usuários da Libras são mais
ou menos comunicativamente eficazes na produção de
diferentes tipos de textos e gêneros discursivos aplicados a
essa língua.
AS ABORDAGENS
SOCIOLINGUÍSTICAS
VARIACIONISTA E 
INTERACIONAL NA
EDUCAÇÃO DE SURDOS
Discutimos até aqui abordagens da Sociolinguística que
refletem duas perspectivas sobre a interface linguagem e
sociedade: a proposta variacionista e a sociointeracional.
Articularemos agora alguns princípios advindos dessas
propostas com a educação de surdos e com a educação em
geral. A Sociolinguística, como área abrangente da Linguística,
é um campo de reflexões teóricas e práticas que muito
contribui para o pensar educacional no que diz respeito à
realidade linguística e ao ensino de línguas maternas (LM) e
línguas adicionais (LA).
Primeiramente, articulamos alguns princípios advindos da
perspectiva variacionista para propormos uma reflexão sobre o
papel linguístico social e o do ensino das línguas proeminentes
na comunidade surda no Brasil: a Libras e o PB.

Mais adiante, apresentaremos uma discussão, a partir do
entendimento sobre heterogeneidade, diversidade e
legitimação linguística, acerca da importância de propostas de
ensino linguística e socialmente adequadas para a educação
de surdos.

Na sequência, desejamos articular princípios da proposta
interacional ao contexto da educação de surdos, por meio de
uma proposta que amplie os conceitos de letramento e
oralidade no contexto de uso das línguas de sinais.
SOCIOLINGUÍSTICA
VARIACIONISTA E LIBRAS
COMO LÍNGUA 
OU LINGUAGEM VERBAL
A visão variacionista da Sociolinguística destaca alguns
aspectos que se tornam expoentes na discussão linguística no
campo da surdez.
Inicialmente, é preciso destacar o reconhecimento das
línguas de sinais como língua, em sua natureza e função
social de representação de determinado grupo linguístico.
Em sua natureza, a Libras possui as mesmas características
de qualquer língua oral. Aspectos morfossintáticos,
pragmáticos e discursivos são objetivamente identificados
nesse sistema, que ainda apresenta aparato articulatório
adaptado ao nível fonológico.
 Grupo de jovens sinalizantes de Libras. Fonte: Agência
Brasília/Pixabay
Também apresenta variação e mudança linguísticas e é objeto
de aquisição de linguagem, de crianças a adultos, tornando-se
conhecimento cognitivamente armazenado, tal como ocorre em
qualquer contexto de aquisição de língua oral.
Em sua função social, a Libras é a língua usada pela
comunidade surda brasileira, que nela se constitui como grupo
social legítimo, de direitos linguísticos e sociais como qualquer
outro. Apresenta usos contextualmente motivados, reflete
ideologias, relações de poder etc.
 ATENÇÃO
O relativismo cultural é um conceito que merece destaque
nessa discussão:
A ideia de que há línguas melhores que outras, culturas
superiores a outras e povos mais avançados que outros já foi
superada há tempos e persiste apenas em pensamentos
conservadores equivocados que, em geral, não contemplam o
fato da diversidade, inclusive, linguística.
 
Fonte: ZoFot/Shutterstock
 
Fonte: fizkes/Shutterstock
 
Fonte: Reshetnikov_art/Shutterstock
Assim como não existem culturas melhores que outras, não
existem dialetos melhores, línguas melhores ou modalidades
superiores. Em outras palavras, apesar de toda a tradição e
erudição associada à língua escrita, por exemplo, a
modalidade escrita em nada é superior à língua falada, ou
à sinalizada, assim como a modalidade oral não pode ser
tida como superior à sinalizada.
A própria associação, um tanto errônea, que o senso comum
aplica às línguas de sinais, ao conceito de linguagem não
verbal revela o papel que a (Socio)Linguística possui em
função de desfazer enganos, de desconstruir preconceitos.
Sendo língua, em sua natureza e função social, a Libras não
pode ser elencada no conjunto de linguagens não verbais,
como o teatro mudo, a mímica, a gravura e a dança, citando
apenas algumas, mas deve ser reconhecida como linguagem
verbal de modalidade gesto-visual.
SOCIOLINGUÍSTICA E O
CONTEXTO EDUCACIONAL
DA LIBRAS E DO PB 
COMO LA PARA SURDOS
Superada a questão sobre a natureza linguística da Libras e da
não superioridade de línguas orais em relação às línguas de
sinais, é preciso discutir o papel exercido pelo ensino da
Libras nas escolas e do PB como LA para surdos.
Iniciamos tal discussão tratando da situação plural em que se
encontram os indivíduos surdos no Brasil e que apontam como
realidade comum:
O BILINGUISMO
O MULTILINGUISMO
O contato linguístico entre a Libras e o PB é um fato importante
para levarmos em conta, porque dele decorrem diversas
questões importantes para entendermos a caracterização da
Libras, sua descrição e, principalmente, para compreender
como essas línguas impactam a comunidade surda.
Os objetivos da inclusão dos surdos estão diretamente ligados
ao reconhecimento da Libras como sua L1 (primeira língua) e
do PB como sua L2 (segunda língua).
Nesse sentido, o ensino bilíngue torna-se uma necessidade,
prevista pelas discussões advindas da:
LEI DE LIBRAS
Ela implica a garantia do ensino de Libras e do português
escrito como L2. Assim, o cidadão surdo tem garantidos seus
direitos e ampliadas suas possibilidades de desenvolvimento,
via ensino adaptado das línguas em questão. A Sociolinguística
entra nesse contexto trazendo diversas contribuições.
A abordagem Sociolinguística Educacional evidencia a
necessidadede repensarmos o ensino de gramática nas
escolas. A noção de “erro” espelha a tendência de usarmos a
norma-padrão como a forma ideal da língua, desconsiderando
o fato, já discutido aqui, da variação e mudança e da
heterogeneidade linguística.
Abordagens educacionais equivocadas emergem no contexto
escolar negligenciando a visão, sociolinguisticamente
orientada, de que a língua é diversa e de que cada comunidade
linguística possui seu próprio sistema, legítimo em si e nas
funções sociais cumpridas nas vidas de seus usuários.
Diferenças linguísticas e demandas específicas que podem
diferenciar surdos e ouvintes são muito mais evidentes nesse
contexto.
Imagine o seguinte diálogo entre João, um representante de
falantes do dialeto caipira, e sua professora Marta, que
representa os falantes da norma culta escolarizada:
João: – Quar são as nota qui tirei? 
Marta: – Quais são as notas que eu tirei, João! 
João: – Cumé qui vô sabê? Uai! Ocê feiz prova? 
Marta: – Além de não saber falar português, também não
consegue entender o que eu falo. João, você precisa melhorar!
A correção da professora aponta para seu entendimento sobre
o que seria a maneira ideal de falar. Tal atitude poderia
evidenciar o não reconhecimento da variante popular de interior
do aluno como forma legítima de uso da língua. É curiosa a
reação do aluno que sequer entende que está sendo corrigido,
levando à atitude do docente de chamar a sua atenção por não
dominar o uso do padrão escolar.
A atitude da professora, em nosso diálogo imaginário, reflete
ainda diversas atitudes comuns no contexto de educação de
surdos e que mostram posições e pensamentos
equivocados sobre o que e como esses alunos precisam
aprender, por exemplo.
Sobre esse assunto, podemos dizer que o ensino brasileiro
avançou em direção a discussões mais atualizadas em
documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais de
língua materna e de língua estrangeira (PCNLM e PCNLE).
É consensual o entendimento de que o ensino de gramática
deva permitir ao aluno o desenvolvimento de habilidades
sociolinguísticas que o formem como poliglota da própria L1 e
da L2, na medida em que se torna capaz de transitar
linguisticamente nos diferentes espaços sociais onde o uso da
língua seja convencionalmente previsto de uma ou outra forma.
 
Fonte:
 Alunos da Escola Bilíngue Libras e Português escrito de
Taguatinga são alfabetizados nos dois idiomas. Fonte: Agência
Brasília/Flickr
O ensino da gramática tradicional continua sendo pauta do
currículo escolar, embora a abordagem educacional seja
ampliada em função da formação do aluno multilíngue, com
percepção analítica mais abrangente sobre a língua em sua
interface social.
O mesmo pensamento deve orientar o ensino da Libras e do
português do Brasil como L2 (PBL2) de surdos. A
Sociolinguística Educacional aponta para o entendimento das
noções de adequação linguística e de aceitabilidade como
mais apropriadas para o ensino de línguas maternas (LMs) e
línguas adicionais (LAs) do que a noção de erro pautada nos
parâmetros da gramática tradicional.
Desenvolve-se, então, a habilidade no aluno de perceber e
ser capaz de usar as formas mais convencionalmente
previstas de uso linguístico, comunicativamente orientado, em
contextos e gêneros discursivos específicos. Assim, a
Sociolinguística Interacional torna-se uma base teórica
importante para o pensamento da prática educacional de
surdos e ouvintes.
SOCIOLINGUÍSTICA
INTERACIONAL,
LETRAMENTO E
SINALIZAÇÃO 
COMO ORALIDADE
O trabalho Da fala para a escrita: atividades de retextualização,
de Marcuschi, estabelece a necessidade de reconhecimento
sobre o domínio da distinção de usos linguísticos de gêneros
orais e escritos.
Nesse trabalho, o autor indica o contínuo existente entre os
padrões de usos da língua socialmente orientados para se
materializarem de modos específicos em textos escritos e
orais, desfazendo a visão dicotômica rígida que divide tanto
língua falada de língua escrita quanto práticas de letramento de
práticas de oralidade.
Um dos suportes teóricos que sustenta a proposta de
Marcuschi é de base sociolinguística interacional, por entender
que a língua não pode ser vista distante dos contextos de uso
em que se materializa e se constitui de uma ou outra maneira.
Assim, práticas de oralidade e letramento são vistas como
áreas complementares e como macroespaços de práticas
sociais e culturais:
 
O LETRAMENTO
Envolve as diversas práticas de escrita na sociedade
 
A ORALIDADE
Envolve as práticas sociais orais e interativas
Tais práticas se apresentam sob formas ou gêneros textuais
variados e podem ser realizadas de modo informal ou formal
nos mais diversos contextos de uso.
Oralidade e letramento são dois pontos de uma escala em que
se encontram múltiplas possibilidades de realizações textuais,
orais e escritas, e que podem ser prototipicamente mais ou
menos afastadas dos modelos que representam o texto escrito
formal e a informalidade da conversação.
Por fim, textos escritos podem apresentar características de
oralidade e vice-versa.
O ponto que destacaremos é a necessidade de
reconhecimento de que a sinalização também é uma forma
de oralidade.
Se língua falada e língua escrita são definições que apontam
para materializações de práticas de oralidade e letramento, a
sinalização também pode ser interpretada em uma mesma
relação com as práticas sociais sinalizadas de uso da língua.
 Alunos de escola bilíngue em Libras e português escrito em
um contexto informal. | Fonte: Agência Brasília/Flickr
O usuário da Libras conversa em Libras, faz apresentações
formais e informais em Libras, produz textos com literariedade
em Libras, ministra aulas em Libras e assim por diante.
Similarmente, pelo domínio da L2 escrita, ele também
transitará nos diferentes espaços de letramentos a partir
daquilo que aprenderá na sua experiência escolar.
A interpretação que atesta a existência de práticas de oralidade
e de letramento é defendida como proposta de objeto de
ensino. Por essa proposta, caberá à escola, nas aulas de L1 e
de L2, trabalhar o desenvolvimento do aluno no uso da língua
em diferentes situações comunicativas abarcadas nesses dois
contextos.
 RESUMINDO
Parte do conteúdo programático para o ensino da Libras como
L1 e do PBL2 de surdos deveria ser voltado para o trabalho de
práticas de oralidade em Libras e para o trabalho de práticas
de letramento no português, sua L2. Nesse caso, poderíamos
até usar o termo “sinalidade” para oralidade.
Esse seria um trabalho de forte base teórica advinda da
Sociolinguística Interacional e muito mais condizente com as
práticas educacionais tradicionais de uso da língua que se
pautam apenas no ensino do padrão, na L1 ou na L2.
Fonte: Augusto Cabral/Shutterstock
 Fonte: Augusto Cabral/Shutterstock
Há muito tempo a discussão sobre fracasso/evasão escolar e
analfabetismo funcional acontece no Brasil. Não é diferente no
contexto de ensino para surdos. Abordagens equivocadas
atrapalham o desenvolvimento do aluno.
A Sociolinguística traz contribuições de base científica que
ajudam o entendimento dessas questões, ao apontar as
discrepâncias que ocorrem entre a compreensão que o senso
comum tem sobre as línguas e o que a ciência linguística
atesta. Seguir as orientações teóricas dessa área apenas
contribuirá para o desenvolvimento do ensino também no
campo de educação de surdos.
A discussão sociolinguística no âmbito da surdez aponta
particularmente para um ponto específico: os múltiplos
desdobramentos do conceito de preconceito linguístico.
São comuns os discursos que refletem a visão de que:
a Libras não é língua;
o surdo não consegue aprender português;
ouvintes não podem aprender línguas de sinais e
apresentar desempenho nativo;
o surdo não deve aprender português mesmo como L2 etc.
 
Fonte:
 Aluno de escola bilíngue em Libras e português escrito
comenta sobre as dificuldades para se comunicar.| Fonte:
Agência Brasília/Flickr
Todos esses pensamentos são ideologicamente orientados e
possuem algum grau de prejulgamento e equívoco. Os
equívocos começam na ideia de que há línguas superiores a
outras, passando pela visão absolutamente desprovida de
fundamento científico de que os surdos não possuem as
condições necessárias para a aprendizagem de uma língua
qualquer.
A Sociolinguística esclarece esses equívocos com relativa
facilidade, como pudemos ver ao longo deste tema.
Infelizmente, o peso social atribuído à língua é muitas vezes
utilizado para fins pouco acadêmicos, mas de orientação
política, não contribuindo para o desenvolvimento humano real
dos indivíduos, pertençam eles a comunidades linguísticas
majoritárias ou minoritárias.
No vídeo a seguir, o professor Roberto Freitas nos apresenta
mais sobre os aspectos ideológicos e o preconceito linguístico
relacionados ao uso e ensino de Libras. Vamos assistir!
VERIFICANDO O
APRENDIZADO
1. A RELAÇÃO DA SOCIOLINGUÍSTICA COM O
CAMPO EDUCACIONAL NOS AJUDA A PENSAR
SOBRE AS NOÇÕES DE ADEQUAÇÃO E DE
ACEITABILIDADE LINGUÍSTICAS. ESSAS
NOÇÕES SERIAM AS MAIS CORRETAS TANTO
NO ENSINO DE LÍNGUAS MATERNAS QUANTO
NO ENSINO DE LÍNGUAS ADICIONAIS, AO
MESMO TEMPO QUE NOS LEVAM A
QUESTIONAR DETERMINADAS ATITUDES
DIANTE DA FALTA DE DOMÍNIO QUE UM ALUNO
POSSA TER DA LÍNGUA OU VARIANTE DE
MAIOR PRESTÍGIO SOCIAL. 
 
CONSIDERANDO ESSAS AFIRMAÇÕES E O QUE
VOCÊ ESTUDOU NESTE MÓDULO, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA.
A) A adequação linguística consiste na ideia de que um texto
não possibilita o ato comunicativo se estiver, de alguma
maneira, contrário às normas ortográficas e de concordância
previstas na gramática tradicional.
B) A Sociolinguística não contribui para o desenvolvimento de
propostas educacionais de qualidade porque condena e rejeita
a gramática tradicional e o uso culto da língua.
C) A noção de erro, pautada no ensino da gramática
tradicional, não contempla o fato da diversidade linguística.
D) A sala de aula de língua materna possui propostas
sociolinguísticas absolutamente distintas da sala de línguas
adicionais, pois a Sociolinguística não se aplica a ambas.
E) A Sociolinguística traz implicações ao campo educacional
estabelecendo quais usos da língua não podem ser aceitos na
escola ou nos atos comunicativos em geral.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA
UMA AFIRMAÇÃO CORRETA SOBRE A
RELAÇÃO ENTRE A SOCIOLINGUÍSTICA E O
CONTEXTO EDUCACIONAL DA LIBRAS:
A) O reconhecimento de que a sinalização também é uma
forma de oralidade é desnecessário, pois a Sociolinguística
enfatiza a superioridade do letramento.
B) Quem usa Libras com desempenho satisfatório, produzindo
textos com literariedade em Libras, não tem como dominar com
bom desempenho a L2 escrita na sua experiência de
aprendizado na escola.
C) Tanto nas aulas de L1 quanto nas de L2, a escola deve
restringir sua proposta de ensino à oralidade, no caso do
português, ou à sinalidade, no caso da Libras.
D) No ensino de Libras como L1 e do PBL2 de surdos, parte do
conteúdo deve contemplar as práticas de oralidade em Libras e
as práticas de letramento na L2.
E) As situações de comunicação em Libras e em PBL2 não são
respaldadas como objeto de ensino e aprendizado a partir da
Sociolinguística Interacional.
GABARITO
1. A relação da Sociolinguística com o campo educacional
nos ajuda a pensar sobre as noções de adequação e de
aceitabilidade linguísticas. Essas noções seriam as mais
corretas tanto no ensino de línguas maternas quanto no
ensino de línguas adicionais, ao mesmo tempo que nos
levam a questionar determinadas atitudes diante da falta
de domínio que um aluno possa ter da língua ou variante
de maior prestígio social. 
 
Considerando essas afirmações e o que você estudou
neste módulo, assinale a alternativa correta.
A alternativa "C " está correta.
 
A visão tradicional de erro ignora o fato da diversidade
linguística e de usos diversos. A Sociolinguística contribui para
que a abordagem educacional ou didática do ensino-
aprendizado da língua não negligencie nem estigmatize os
usos ou registros da língua distantes do padrão ou da norma
culta, ainda que a escola tenha a missão de tratar da gramática
tradicional e levar o aluno também ao domínio da língua culta.
2. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação
correta sobre a relação entre a Sociolinguística e o
contexto educacional da Libras:
A alternativa "D " está correta.
 
Os estudos sociolinguísticos nos ajudam a compreender que,
em Libras, parte do conteúdo previsto no objetivo de ensino
deve tratar da oralidade ou “sinalidade”, assim como no estudo
da língua portuguesa como L2 do aluno surdo se deve
trabalhar parte do conteúdo programático com práticas de
letramento.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que a Sociolinguística nos ajuda a identificar os tipos
de variação que podem existir em determinada língua, além de
perceber que parte dessas variações pode resultar em uma
mudança na própria língua. Também verificamos que a
Sociolinguística é uma área que contribui para o entendimento
da Libras, sua descrição e seu entendimento, e para o
fortalecimento da comunidade surda.
Ao tratar dos aspectos inerentes à variação e mudança das
línguas, a abordagem sociolinguística apresenta uma das
diversas características que definem a Libras como língua
natural, por mostrar suas semelhanças com outras línguas
orais.
Ao tratarmos dos aspectos linguísticos e sociais envolvidos
no processo de construção interacional, você aprendeu que a
Sociolinguística mostra como o uso da língua reflete o
comportamento ideológico e social de sua comunidade
linguística, revelando aspectos importantes sobre seu
funcionamento interno.
Outra grande contribuição da Sociolinguística para a
comunidade surda tem a ver com seu papel na construção de
uma prática educacional mais adequada para o ensino de
línguas. Assim, ao se dedicar aos estudos voltados para a
interface língua/sociedade, é possível desfazer preconceitos
sobre a natureza e função da linguagem, contribuindo com
princípios mais consistentes sobre seu ensino.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
HYMES, D. Foundations in Sociolinguistics. Philadelphia,
Pa.: University of Pennsylvania Press, 1974.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de
retextualização. 10. ed., São Paulo: Cortez, 2010.
EXPLORE+
Se você sabe Libras e deseja conhecer um pouco mais
sobre Sociolinguística em Libras, assista ao vídeo A
Sociolinguística e os diferentes tipos de variação linguística
- Coleção Pontes Linguísticas, disponível no canal da
Videoteca Acadêmica em Libras – UFRJ, no YouTube.
Leia o artigo Reflexões sociolinguísticas sobre Libras, de
Angélica Rodrigues e Anderson da Silva, publicado na
revista Estudos Linguísticos e disponível no portal do GEL
(Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo).
Leia o e-book Aprendizes surdos e escrita em L2: reflexões
teóricas e práticas, organizado por professores da UFRJ e
disponível gratuitamente na internet.
CONTEUDISTA
Roberto de Freitas Junior
 CURRÍCULO LATTES
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