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INCIÊ RE AG É uma deterioração rápida da função renal que se manifesta por redução na taxa de filtração glomerular (TFG). Essa TFG representa o volume de sangue (mL) que os glomérulos filtram a cada minuto. O termo lesão renal aguda tem a intenção de destacar a natureza do potencial reversível da lesão, ao passo que o termo prévio insuficiência renal aguda implica o comprometimento renal é sustentado. A perda da função renal resulta no acúmulo de resíduos nitrogenados nos líquidos corporais, que eram para ser excretados pelos rins. Os marcadores mais empregados são creatinina e ureia sérica, ambos se elevam. Também pode ocorrer distúrbios no equilíbrio de sal e água, na retenção de fósforo e potássio, na homeostase acidobásica e anormalidades endócrinas. Os termos descritos no contexto da LRA incluem os seguintes: - Azotemia: acúmulo de resíduos nitrogenados no sangue - Uremia: constelação de sintomas e sinais de disfunção de múltiplos órgãos causada pela retenção de toxinas urêmicas em casos de insuficiência renal. O débito urinário é variável, é frequentemente oligúrica (<400mL/dia), mas pode ser não oligúrica, com volumes de urina superiores a 3 L/dia. Em certas situações clínicas, definidas como oligoanúrica ou anúrica (sem diurese), o débito urinário é <100 mL/dia. A presença de débito urinário não exclui a possibilidade de insuficiência renal aguda (IRA). As classificações RIFLE e AKIN da lesão renal aguda. > RIFLE baseia-se na creatinina sérica, TFG estimada e débito urinário. > AKIN baseia-se na creatinina sérica (Cr) e no débito urinário (DU). DEFINIÇÕES DE LRA, DRC, DRA CRITÉRIOS FUNCIONAIS CRITÉRIOS ESTRUTURAIS LRA: aumento na CrD de 50% dentro de 7 dias, ou aumento na CrS de 0,3mg/dL dentro de 2 dias ou oligúria. Nenhum critério DRC: TFG< 60mL/min Lesão renal por >3 Nefrologia Mariana Melo por 1,73m por > 3 meses. meses DRA: LRA, ou TFG, 60 mL/min por 1,73m ou diminuição da TFG de >35% ou aumento na CrS de >50% por <3 meses. Lesão renal por <3 meses NDR: TFG >60mL/min por 1,73m, CrS estável Nenhum dano LRA: lesão renal aguda DRC: doença renal crônica DRA: doença renal aguda NDR: nenhuma doença renal TFG: taxa de filtração CrS: creatinina sérica MEDIDAS DE FUNÇÃO RENAL Embora a concentração sérica de creatinina seja a medida laboratorial mais empregada na clínica, na realidade é um reflexo da verdadeira TFG. Esse problema existe porque a concentração sérica de creatinina não se relaciona precisamente com alterações da TFG. A concentração sérica da creatinina é influenciada por diversos fatores. ● No caso de doença renal, a creatinina é depurada do organismo pelo rim tanto por meio da filtração glomerular como da secreção tubular. ● Certos medicamentos competem com secreção tubular da creatinina (trimetoprim, cimetidina) e podem aumentar a concentração sérica de creatinina na ausência de qualquer alteração na TFG. ● A concentração sérica da creatinina relatada pode estar falsamente elevada por interferência da técnica usada (certas cefalosporinas, cromóforos endógenos). ● O sexo e a massa muscular do paciente influenciam a concentracao serica de creatinina e podem mascarar mudancas na TFG. Isso porque o músculo é a fonte primária da creatina, que é convertida em creatinina no fígado. O sexo feminino e a perda de massa muscular grave reduzem a produção de creatina e limitam a elevaçào da creatinina sérica, que normalmente acompanharia uma diminuicao na TFG. O manejo renal da ureia inclui filtração glomerular, secreção e reabsorção tubular. Assim, qualquer doença associada com taxas reduzidas de fluxo tubular vai aumentar a reabsorção renal de uréia no rim e aumentá-la no sangue. Vários fatores aumentam a ureia na ausência de alterações da TFG - sobrecarga de proteína, estados hipercatabólicos, sangramentos gastrointestinais, e antibióticos de tetraciclina. Alternativamente, a ureia pode permanecer muito baixa, apesar de disfunção renal significativa em condições como cirrose (geração de ureia reduzida), baixa ingestão de proteína e desnutrição proteica, todos associados com geração de ureia diminuída. Apesar dos problemas associados com a creatinina e a ureia séricas como estimativas precisas da TFG, eles são os testes de laboratório mais comumente utilizados para identificar a LRA. Em pacientes que desenvolvem LRA, as concentrações dos biomarcadores demonstram alterações antes das concentrações sericas de creatinina. Eles também podem distinguir entre LRA pré - renal, necrose tubular aguda e outras doenças glomerulares, permitindo as intervenções apropriadas e evitando terapias potencialmente nocivas. Um aumento abrupto da concentração sérica de creatinina geralmente reflete um declínio na TFG e sinaliza o desenvolvimento da LRA. Nefrologia Mariana Melo EPIDEMIOLOGIA A LRA é um problema frequente em pacientes hospitalizados, enquanto é menos comum na comunidade. A incidência de LRA varia dependendo se ela ocorre no hospital (5 a 7%) ou na comunidade (0,9%). A LRA pré-renal é a causa mais comum de LRA em pacientes com LRA hospital ou comunitária. A uropatia obstrutiva é a segunda principal causa de LRA em insuficiência renal adquirida na comunidade, ao passo que a LRA devida a nefrotoxicidade por medicamentos e a LRA pós-cirúrgica são as causas seguintes mais comuns em pacientes hospitalizados. A mortalidade global associada a LRA é maior com a LRA hospitalar (19 a 29%( do que com a LRS adquirida na comunidade (15%). A mortalidade associada a LRA aumenta à medida que a gravidade da doença do paciente aumenta (até 100%) A LRA está associada com risco aumentado de novos casos de DRC, de progressão da DRC, DRT e mortalidade. No entanto, fatores confundidores nestes estudos impedem conclusões definitivas sobre a causalidade. Mundialmente, a incidência de pacientes hospitalizados com IRA varia de 5 a 7%, além de cerca de 30% dentre os admitidos estão em UTI. A mortalidade da IRA é altíssima, chegando a 90% em populações mais suscetíveis ( idosos, hipertensos, diabéticos). Aqueles que sobrevivem à IRA têm um maior risco para o desenvolvimento posterior de doença renal crônica (DRC). AVALIAÇÃO CLÍNICA DA LESÃO RENAL AGUDA ETIOLOGIAS DA LESÃO RENAL AGUDA PRÉ-RENAL: > Depleção de volume verdadeira: ● Perdas extra renais: - náusea/vômitos - diarreia, fístula externa ● Perdas renais: - diurese excessiva - perda renal de sal - diabetes insipidus > Depleção de volume efetiva: ● sepse ● miocardiopatia ● cirrose/insuficiência hepática ● síndrome nefrótica > Doença estrutural renal arterial/arteriolar: ● estenose da artéria renal, arteriolo-nefroesclerose > hemodinâmica intra renal alterada: ● AINES, inibidores da calcineurina, IECA, BRAs INTRARENAL: > Doença vascular: ● arterial, arteriolar, venda > Doença glomerular: ● glomerulonefrite aguda (imunocomplexo, vasculite, anti-MBG) ● microangiopatia trombótica (PTT/SHU) ● doença de depósito de imunoglobulina monoclonal > necrose tubular aguda: ● nefrotóxica ● isquêmica ● relacionada a pigmentos ● nefropatia associada a cristais ● nefropatia osmótica > nefrite intersticial aguda: ● induzida por medicamentos ● infecção (viral, fúngica, bacteriana) ● doenças sistêmicas PÓS-RENAL: > obstrução pélvica/ureteral: Nefrologia Mariana Melo ● doença retroperitoneal ● nefrolitíase ● bola fúngica, coágulos sanguíneos > obstrução vesical: ● estrutural (Calculos, hiperplasia prostática benigna, coágulos sanguíneos) ● funcional (neuropatia, medicamentos) > obstrução ureteral - IECA: inibidores da enzima conversora de angiotensina - BRA: bloqueadores do receptor da angiotensina - MBG: membrana basal glomerular - SHU: síndrome hemolitico-uremica - AINEs: anti inflamatorios nao esteroides - PTT: púrpura trombótica trombocitopénica. Classificação das causas clínicas da seguinte forma: - LRA pré-renal: a diminuição da TFG ocorre como consequência do fluxo sanguíneo (plasmático) renal reduzido e/ou pressão de perfusão renal reduzida. - LRA intrínseca: a diminuição da TFGocorre como resultado de lesão direta do parênquima renal, frequentemente subdividida pelos vários compartimentos envolvidos (vascular, glomerular, intersticial e tubular). - LRA pós-renal: a diminuição da TFG ocorre com o resultado da obstrução do fluxo urinário em qualquer parte da pelve e cálices até a uretra. LRA PRÉ - RENAL A LRA é classificada como pré-renal quando um paciente apresenta uma concentração sérica crescente de ureia e creatinina causada por fluxo sanguíneo inadequado para os rins. Exemplos gerais de LRA pré renal incluem as seguintes causas de insuficiência circulatória renal: - insuficiência circulatória renal da depleção verdadeira do volume intravascular ● hipovolemia por hemorragia, perdas renais (diuréticos), perdas GI (vômito, diarreia), terceiro espaço e sudorese intensa. - insuficiência circulatória renal da depleção do volume intravascular efetivo ● função cardíaca comprometida devido a miocardiopatia, doença cardíaca hipertensica, doença cardíaca valvular, doença pericárdica e hipertensão pulmonar grave. A congestão venosa da hipervolemia também contribui para a perfusão renal reduzida e TFG reduzida. ● função hepática comprometida da insuficiência hepática aguda e cirrose grave com a fisiologia hepatorrenal ● tônus vascular sistêmico comprometido (vasodilatação inadequada) devido a sepse, medicamentos e insuficiência autonômica - insuficiência circulatória renal causada por doença da artéria renal ● estenose da artéria renal ● nefrosclerose hipertensica - insuficiência circulatória renal causada por hemodinâmica intra renal alterada ● vasoconstrição arteriolar aferente (AINEs, inibidores da calcineurina) Nefrologia Mariana Melo ● vasodilatação arterial referente IECA, BRA. Ambas as hipovolemias ativam os vários sistemas neuro-hormonais vasoconstritores como mecanismos de proteção da estabilidade circulatória. Entre eles, incluem-se as catecolaminas do SN simpático, a endotelina da vasculatura, a angiotensina II do (SRA) e a vasopressina da neuro-hipófise. Todas essas substâncias elevam a pressão arterial pela constrição arterial e venosa. No entanto, elas também possuem a capacidade de contrair a arteríola eferente e reduzir a TFG, principalmente quando a pressão arterial sistêmica não é capaz de manter a pressão de perfusão renal. As lesões estruturais na área arterial e arteriolar renal também podem reduzir a perfusão e promover a azotemia pré-renal. Como resultado, respostas adaptativas renais são estimuladas para contrabalançar a perfusão renal diminuída, como resultado de causas funcionais ou estruturais. As influências miogênicas e a produção de substâncias vasodilatadoras constituem esses processos adaptativos. O reflexo miogênico é ativado por baixas pressões de distensão detectadas nos barorreceptores renais, causando vasodilatação arteriolar aferente. As prostaglandinas, o óxido nítrico e os produtos do sistema calicreína-cinina modificam os efeitos vasoconstritores sobre a arteríola aferente. Uma perturbação do equilíbrio entre a vasodilatação aferente e a vasoconstrição eferente pode romper a hemodinâmica intra renal e precipitar LRA. AINES e inibidores da COX-2 causam azotemia pré-renal por meio da inibição das prostaglandinas vasodilatadoras em pacientes que necessitam dos efeitos dessas prostaglandinas para manter a perfusão renal. Apesar das propriedades vasoonstitoras, a AII preserva a pressão de filtração glomerular e a TFG em estados de perfusão renal reduzida pela constrição da arteríola eferente. Esse feito explica um pouco da redução da TFG que ocorre quando um IECA ou BRA é administrado para um paciente é dependente de AII para a constrição da arteríola eferente. A síndrome cardiorrenal (SCR) é um termo que engloba vários distúrbios cardíacos ou renais coexistentes e suas interações. As adaptações neuro-humorais que ocorrem para preservar a perfusão de órgãos vitais, como ativação do SN simpático e do sistema renina - angiotensina -aldosterona e também a liberação de vasopressina e endotelina-1, promovendo retenção de sal e água, e vasoconstrição sistêmica, podem promover ou exacerbar a LRA por dois mecanismos. Primeiro, aumentando a pós-carga cardíaca e reduzindo o débito cardíaco e a perfusão renal; segundo, aumentando a pressão venosa central, pressão venosa renal e/ou a pressão intra-abdominal, diminuindo a TFG. Em pacientes com cirrose avançada, descompensada ou insuficiência hepática fulminante, pode ocorrer um tipo de LRA, conhecida como síndrome hepatorrenal (SHR). A característica principal da SHR é a vasoconstrição renal profunda no contexto da vasodilatação arterial sistêmica e esplênica. Nefrologia Mariana Melo PONTOS IMPORTANTES: - A LRA pré-renal ocorre quando o FSR está reduzido e causa diminuição na TFG e na LRA associada. - A LRA pré-renal é classificada de forma geral com base na depleção do volume intravascular (verdadeiroXefetivo), a presença de lesões estruturais no sistema arterial/arteriolar renal e hemodinâmica intra renal alterada. - A SCR tipo 1 é uma forma de LRA pré-renal cujo mecanismo de disfunção renal inclui tanto a perfusão renal comprometida como a hipertensão venosa. A terapia é baseada na melhora do débito cardíaco, redução dos neuro-hormônios elevados e remoção de fluido para melhorar a hipertensão venosa renal. - A SHR ocorre na cirrose descompensada ou insuficiência hepática fulminante e é outra forma de pré-renal LRA. Ela é difícil de distinguir da NTA e requer tratamento hepático (ou transplante combinado fígado-rim). - O sódio e a osmolaridade urinária, a FENA, a FEUrea e o IIR podem ser úteis em ajudar a distinguir a LRA pré-renal de outras causas de LRA, mas eles não são testes idealmente específicos ou sensíveis. A FENa e o IIR são menores que 1%, na maior parte dos casos de LRA pré-renal, enquanto a FEUreia é inferior a 35%. A microscopia urinária é útil no diagnóstico diferencial da LRA e apresenta bons valores preditivos positivos e negativos para LRA pré-renal e NTA. - A identificação rápida e a correção imediata do distúrbio pré-renal frequentemente melhoram rapidamente a função renal. Assim, o diagnóstico precoce é fundamental, levantando um papel potencial para novos biomarcadores no caso da LRA. LRA INTRÍNSECA A LRA que se origina de um processo que lesa um dos compartimentos do parênquima renal é denominada LRA intrínseca. Os compartimentos renais são divididos nos seguintes locais anatômicos de lesão: - Vasculatura: ● artéria (trombose sobreposta a lesão arterial renal estenótica, tromboembolismo com o oclusao da arteria renal, dissecção da artéria renal, vasculite de grande e médio vaso) ● arteríola (ateroembolismo, vasculite, esclerodermia renal, necrose fibrinóide da hipertensão maligna, êmbolo séptico) ● veia (trombose da veia renal) - glomérulo: ● glomerulonefrite proliferativa aguda (imunocomplexo, vasculite, anticorpo antimembrana basal glomerular) ● microangiopatia trombótica (síndrome hemolitica-uremica [SHU]/púrpura trombótica trombocitopênica [PTT]) ● doença de deposição de imunoglobulina monoclonal (cadeia leve/pesada, amiloide fibrilar/imuno tactóide) - túbulos: ● NTA (isquêmica, nefrotóxica) ● nefropatia por pigmento (hemoglobina, mioglobina) ● deposição de cristais (medicamentos, ácido úrico, oxalato e fosfato de cálcio) ● nefropatia osmótica (sacarose, imunoglobulina intravenosa (IGIV), hidroxietilamido, dextrano, manitol) - interstício: ● nefrite intersticial aguda (alergia, medicamentos) Nefrologia Mariana Melo ● nefrite intersticial induzida por infecção (viral, bacteriana, tuberculose, riquetsiose) ● doenças sistêmicas associadas com nefrite intersticial (sarcoidose, lúpus eritematoso sistêmico, sjogren) ● infiltração intersticial maligna ● nefrite intersticial idiopática VASCULATURA A doenças dos vasos sanguíneos que chegam aos rins (artérias de tamanho grande e médio) do interior do parênquima renal (pequenas arterias e arteriolas) e que drenam os rins (veias) pode causar LRA. A doença arterial de grandes vasos quecausam LRA consiste dos seguintes: (a) trombose sobreposta a uma estenose de alto grau da artéria renal (doença unilateral em rim único funcionante ou bilateral) (b) tromboembolismo significativo a partir do coração ou um aneurisma aórtico causando oclusão das artérias renais (c) dissecção das artérias renais de algum tipo de trauma ou doença do colágeno vascular. Os pacientes com esses distúrbios renais, apresentam dor no flanco ou abdominal, febre, hematúria e oligoanuria ou anuria. Os exames laboratoriais mostram elevações desidrogenase do lactato (LDH) sérica e urinária, exame de urina positiva para sangue e muitos eritrócitos no sedimento urinário. A embolização de material ateromatoso para as artérias interlobares, arqueadas e interlobulares nos rins induz lesão isquêmica no tecido a jusante ao mesmo tempo em que provoca uma reação de células gigantes no interstício em torno do vaso ocluído. As manifestações clínicas da doença ateroembólica incluem início abrupto de hipertensão grave, lesão renal aguda ou subaguda, livedo reticular, isquemia de dedos/membros, dor abdominal, hemorragia GI, dor muscular, sintomas do SNC - déficits neurológicos focais confusão - e sintomas isquêmicos retinianos. Os sintomas dependem da extensão e da distribuição da embolização de colesterol. Eosinofilia periférica, hipocomplementemia, VHS elevada e eosinofilia acompanham de forma variável a síndrome, os achados urinários variam de brandos até níveis variados de cilindruria e proteinúria. O diagnóstico dessa síndrome pode ser confundido pela administração de contraste intravenoso durante o procedimento invasivo. A poliartrite nodosa (PAN) macroscópica causa lesão arterial em vasos médios e pequenos. Geralmente é idiopática ou pode ser associada com antigenemia da hepatite B. Esse tipo de PAN se apresenta com hipertensão grave e insuficiência renal. A esclerodermia é uma doença sistêmica caracterizada pelo estreitamento das artérias devido a deposição de material mucinoso. Vários órgãos podem ser envolvidos. A crise renal da esclerodermia se manifesta como LRA e hipertensão grave em um paciente com a exacerbação de sua doença. A hipertensão não tratada ou mal controlada pode causar LRA decorrente do grave dano renal relacionado com hipertensão maligna. No rim ocorre necrose fibrinóide com lesão isquêmica. O controle inicial da pressão arterial está associado à piora da função renal, pois a capacidade autorregulatória do rim está comprometida e a perfusão renal é dependente apenas da pressão sistólica. As microangiopatias trombóticas também podem promover trombose arteriolar, bem como do capilar glomerular. A trombose da veia renal é uma complicação da síndrome nefrótica. A perda urinária de substâncias anticoagulantes e a produção aumentada de pró-coagulantes constituem a base do desenvolvimento de um estado de hipercoagulabilidade. Considera-se que a trombose da veia renal causa LRA por meio das pressões intrarrenais elevadas e da perfusão renal reduzida. PONTOS IMPORTANTES: - A doença renal intrínseca é classificada pelos compartimentos anatômicos que foram lesados agudamente. Eles incluem a vasculatura, os glomérulos, os túbulos e o interstício. - a LRA da doença arterial de grandes vasos ocorre normalmente em decorrência da trombose da estenose da artéria renal Nefrologia Mariana Melo preexistente ou do tromboembolismo de um trombo cardíaco - A doença ateroembólica causa doenças sistêmicas devido a oclusão de pequenas arterias e arteriolas, induzindo a isquemia de órgãos-alvo. O ateroembolismo renal está associado com LRA, hipertensão e achados diversos no sedimento urinário, variando de pouca cilindrúria a eosinofilia e proteinúria. - A PAN macroscópica se apresenta com hipertensão grave e LRA. A arteriografia das artérias renais revela um padrão característico de microaneurismas. - A crise renal de esclerodermia também se apresenta com hipertensão grave e LRA. Os IECA são tratamento de escolha para essa doença - A trombose da veia renal complica a proteinúria grave, especialmente na nefropatia membranosa. A LRA provavelmente resulta da perfusão renal diminuída. GLOMÉRULO A glomerulonefrite proliferativa aguda pode ser classificada como doença por imunocomplexos, pauci-imune ou relacionada ao anticorpo antimembrana basal glomerular (MBG). Esse grupo de doenças é caracterizado por proliferação e necrose de células glomerulares, infiltração de celular polimorfonucleares, e formação de crescente epitelial nas lesões graves. A PTT e a SHU são as causas mais comuns de microangiopatia trombótica. A deposição de plaquetas e a lesão endotelial com trombose de arteríolas e capilares glomerulares são a origem da lesão renal associada a microangiopatias trombóticas. O dano glomerular pode ser grave com uma intensa isquemia e necrose. A deposição de cadeias monoclonais leves e/ou pesadas de imunoglobulinas também pode promover lesões glomerulares. A glomerulonefrite proliferativa aguda apresenta-se com hematúria e proteinúria, descrita como um sedimento nefrítico. A LRA pode ser grave, como na SHU ou leve, como na PTT. A anemia hemolítica microangiopática e a trombocitopenia são as principais características desse complexo de doenças. PONTOS IMPORTANTES: - a glomerulonefrite proliferativa aguda pode resultar de uma doença por complexo imune, pauci imune ou doença relacionada ao anti-MBG - a apresentação clínica desta lesão renal é a hipertensão, a azotemia e o sedimento urinário nefritico - Outras lesões glomerulares associadas com LRA incluem as microangiopatias trombóticas e as doenças de depósitos de imunoglobulinas monoclonais. TÚBULOS A NTA, também referida como lesão tubular aguda (LTA), é a forma mais comum de azotemia renal intrínseca, é responsável por mais de 80% dos episódios de doença renal intrínseca. É classificada em isquêmica e nefrotóxica, que constitui a parte restante das ocorrências. O resultado do dano, seja isquêmico ou tóxico, é a necrose da célula tubular e a morte. A NTA isquêmica é uma extensão da azotemia pré-renal grave e não corrigida. A hipoperfusão renal prolongada causa lesão celular tubular, que persiste mesmo depois que o dano hemodinâmico subjacente se resolve. Várias etiologias precipitam a NTA isquêmica. As causas cirúrgicas incluem hipotensão intra e pós-operatória com perfusão renal comprometida. A icterícia obstrutiva também pode aumentar o risco de NTA isquêmica. Comorbidades graves podem provocar NTA isquêmica e multifatorial. A superimposição de sepse com ou sem choque, a depleção grave de volume intravascular devido à hemorragia ou a perda GI/renais, choque cardiogênico podem induzir NTA isquêmica grave. O emprego de vasopressores para restaurar a pressão arterial reduz a perfusão renal. Em alguns casos, a NTA isquêmica é tão profunda que se desenvolve necrose cortical (atrofia isquêmica do córtex renal). A NTA neurotóxica ocorre quando substâncias endógenas ou exógenas lesam os Nefrologia Mariana Melo túbulos. A toxicidade tubular ocorre por meio de efeitos tóxicos diretos da substância agressora, alterações na hemodinâmica intra renal ou uma combinação desses efeitos. Substâncias como metais pesados, solventes orgânicos, fármacos. Os antibióticos aminoglicosídeos causam lesão tubular proximal. Os agentes antifúngicos anfotericina B destrói as membranas celulares por meio de interações com esteróis. A constrição arteriolar aferente aguda também contribui com um componente de isquêmica tubular. O material de contraste radiológico é uma causa comum de LRA. A nefropatia por radiocontraste se desenvolve em pacientes com fatores de risco subjacentes, como doença renal, especialmente nefropatia diabética, e depleção de volume intravascular verdadeira ou efeito. O radiocontraste provoca NTA por meio de lesão tubular isquemia (diminuição prolongada em FSR) e toxicidade direta (lesão celular osmótica). Os medicamentos como os agentes antivirais cidofovir e tenofovir causam LRA por meio da ruptura das funções mitocondriais e de outras funções celularesapós sua absorção do sangue peritubular para dentro da célula por meio do transportador-1 de ânion orgânico humano na membrana basolateral. Outros fármacos apontados como causa de NTA nefrotóxica incluem vários agentes quimioterápicos, zoledronato, aminoglicosídeos, polimixinas, altas doses de vancomicina, foscarnet e deferasirox. A nefropatia por pigmento representa os efeitos tubulares renais do excesso de produção grupamento heme no soro que são filtrados no glomérulo e excretados na urina. O pigmento heme, a partir de hemoglobinúria ou de mioglobina, induz lesão tubular através da formação de espécies reativas de oxigênio, assim como pela redução da perfusão renal por meio da inibição da síntese de óxido nítrico. As condições essenciais para o desenvolvimento de LRA por depósitos de cristais são a doença renal subjacente e a depleção de volume intravascular. A nefropatia por ácido úrico com obstrução tubular pelos cristais de urato se desenvolve em pacientes que sofrem de síndrome da lise tumoral. Medicamentos que podem causar: sulfadiazina, aciclovir, atazanavir, indinavir, ciprofloxacina, metotrexate, foscarnet, vitamina C intravenosa, cirurgia bariátrica, orlistat, purgantes intestinais contendo fosfato de sódio. Outra forma de LRA é descrita em pacientes com doença renal subjacente tratados com varfarina excessivamente anticoagulados. A anticoagulação excessiva leva a hemorragia glomerular com subsequente obstrução tubular de cilindros hemáticos. A obstrução tubular e/ou a lesão tubular devido a sobrecarga lisossomal e dano oxidativo relacionados ao grupamento heme parecem desempenhar um papel importante. Nefrose osmótica pode promover LRA por meio da indução de edema tubular, ruptura celular e oclusão dos lumens tubulares. A natureza hiperosmolar de substâncias como a sacarose, dextrano, manitol, IGIV (sacarose) e hidroxietilamido estão na base fisiopatológica desta lesão renal. PONTOS IMPORTANTES: - A NTA é a causa mais comum de azotemia renal intrínseca. Danos isquêmicos e neurotoxinas diversas são as causas principais. - A lesão tubular que leva a NTA também resulta de toxinas endógenas como o pigmento heme. Tanto a hemólise intravascular maciça como a rabdomiólise estão associadas com pigmentúria. - A deposição de cristais nos lumens tubulares distais é outra causa de LRA. A síndrome aguda da lise tumoral e certos medicamentos estão por trás da nefropatia do cristalino. Nefrologia Mariana Melo - A obstrução intratubular por cilindros hemáticos está associada com LRA em pacientes excessivamente anticoagulados com varfarina ou outros anticoagulantes - As substâncias hiperosmolares, como sacarose, IGIC, manitol, dextrano, hidroxietilamido, induzem inchaço de células tubulares e LRA. Essa entidade é chamada de nefropatia osmótica. INTERSTÍCIO A doença interstício renal pode resultar de medicamentos, certos agentes infecciosos, doenças sistêmicas e malignidades infiltrantes. A síndrome nefrite intersticial aguda (NIA) é caracterizada por LRA e por numerosos achados clínicos. O que é constante na NIA é a presença de um infiltrado celular (linfócitos, monócitos, eosinófilos, plasmócitos) e edema no interstício renal. A tubulite, ou invasão de linfócitos em celular tubulares, também pode ocorrer. Alguns medicamentos, doenças sistêmicas e idiopáticas também podem causar nefrite intersticial granulomatosa. Normalmente, os glomérulos e a vasculatura são poupados por este processo, A apresentação clínica varia de acordo com o agente agressor e a resposta do hospedeiro. Às vezes, pode haver um ligeiro aumento das transaminases hepáticas, representando uma hepatite induzida por medicamento associado. O exame de urina pode revelar proteinúria leve, hematúria e leucocitúria. O sedimento urinário pode ser brando ou demonstrar leucócitos, eritrócitos e cilindros leucocitários. O diagnóstico é realizado pela biópsia renal. Quando a biópsia não é possível, a cintilografia renal pode auxiliar na exclusão do diagnóstico. A TC PET pode ser um exame ainda mais sensível e específico para a NIA, especialmente quando o diagnóstico diferencial é primariamente entre NINA e NTA. A infecção no interstício renal foi descrita como uma causa de nefrite intersticial antes da NIA causada pelos medicamentos mencionados anteriormente. A infecção por bactérias, agentes virais, riquétsias, leptospirose e tuberculose promove a NIA. Várias doenças sistêmicas causam doença no interstício renal. A sarcoidose promove uma nefrite intersticial linfocítica, às vezes associada com granulomas não caseosos. Isso leva a lesão renal e a DRC. Os esteróides reduzem a gravidade da nefrite intersticial com sarcoidose. O LES é uma doença por imunocomplexos mais comumente associada a uma glomerulonefrite proliferativa. A NIA é um achado histopatológico sub-reconhecido que ocorre com LES. Lesão inflamatória intersticial é provocada pela deposição de complexos imunes no túbulo-intersticial. Essa lesão responde à terapia usual para nefrite lúpica. A nefrite intersticial também ocorre na síndrome de Sjogren. Essa também parece ser uma doença por imunocomplexo no interstício renal. A infiltração maligna do rim é uma causa rara de doença renal clínica. As neoplasias mais frequentemente associadas com infiltrado intersticial são as leucemias e os linfomas. A infiltração leucêmica provoca nefromegalia, LRA e, às vezes, perda urinária de K +. O envolvimento renal da infiltração linfomatosa pode ser na forma de nódulos discretos ou infiltração intersticial difusa. O linfoma também pode causar enorme expansão do rim e da LRA. Dois processos descritos em pacientes com infecção pelo HIV envolvem o túbulo-intersticial. O primeiro é a síndrome da reconstituição imune, onde ocorre um infiltrado intersticial renal quando a terapia antirretroviral combinada reconstitui o sistema imunológico. A reação imunológica resultante está associada à infiltração de células T do rim e de outros órgãos, o que pode causar LRA. O segundo é a síndrome da linfocitose infiltrativa difusa, essa é uma síndrome similar a de Sjogren associada a infiltração multivisceral de células T CD8 que parecem ser uma resposta do hospedeiro ao HIV. Ela está associada com LRA e é altamente responsiva aos esteróides. PONTOS IMPORTANTES: - A NIA resulta de uma variedade de medicamentos. Os B-lactâmicos, como as penicilinas, produzem a síndrome clássica de febre, erupção cutânea e eosinofilia, Nefrologia Mariana Melo juntamente com LRA com mais frequência do que outros fármacos. Em particular com os AINEs falta a maioria das manifestações extra renais de NIA. - Os agentes infecciosos, tais como bactérias, vírus, micobactérias, riquétsias e leptospira causam NIA. - A NIA também é uma consequência de doenças sistêmicas, incluindo sarcoidose, LES e síndrome de Sjogren. A imunidade alterada associada a essas doenças promove doença intersticial em tais pacientes. - A infiltração do interstício com células malignas ocorre mais comumente com as leucemias e os linfomas. A nefromegalia maciça frequentemente acompanha a LRA, e a insuficiência tubular pode se manifestar como hipocalemia. - Em pacientes com HIV, dois processos conhecidos como IRIS e DILS, podem se desenvolver e causar um infiltrado celular no túbulo-intersticial renal. LRA PÓS-RENAL A obstrução anatômica do fluxo urinário em qualquer parte ao longo do sistema genito-urinário pode causar LRA. O processo que causa IRA pós-renal é chamado de uropatia obstrutiva. A demonstração por imagem de um sistema coletor urinário dilatado é denominado hidronefrose. A função renal anormal que ocorre com a obstrução urinária é chamada de nefropatia obstrutiva. Para a LRA se desenvolver, a obstrução deve ser bilateral (ambos os ureteres ou abaixo da bexiga) ou unilateral em único rim funcionante. É importante reconhecer que obstrução pode ser completa e estar ligada com advertência ou parcial e associada com volumes de urina variações de níveis baixo a normal até níveis políticos. Ambas as obstruções, parcial ou completa, podemcausar LRA, porém a uropatia obstrutiva que é completa está tipicamente associada a lesão renal aguda e a manifestações clínicas. Após a obstrução aguda, ocorre uma resposta trifásica no fluxo plasmático renal. Um aumento inicial e de vida curta no fluxo plasmático se desenvolve à medida que as prostaglandinas vasodilatadoras são produzidas em resposta ao aumento da pressão intratubular. Isso representa uma tentativa de manter a TFG, pela superação da pressão intratubular elevada. O fluxo sanguíneo começa a diminuir após 2 a 5 horas, um efeito causado pelo aumento da pressão uretral e tubular transmitida ao interstício renal. A pressão intratubular também retorna ao normal em 24 horas, depois de aumentar de forma aguda com a obstrução. Uma redução adicional do fluxo plasmático renal em 24 horas ocorre apesar da normalização das pressões uretrais e tubulares. Essa queda é resultado da produção de AII e tromboxano A2, ambos vasoconstritores. Essas substâncias também reduzem a TFG, não apenas por meio da redução do fluxo plasmático renal, mas também por induzir a contração mesangial, reduzindo o coeficiente de ultrafiltração glomerular. Apesar de todos esses feitos, a TFG declina progressivamente, mas nunca atinge zero. A explicação para a TFG mantida e contínua reabsorção de sódio e água ao longo do néfron e nos vasos linfáticos. A obstrução do sistema urinário pode ocorrer em qualquer lugar a partir dos cálices renais e estendo-se até a uretra. Vários transtornos podem causar a LRA da obstrução urinária. Eles podem ser classificados de acordo com o local ou nível da obstrução. Em geral as causas mais comuns de uropatia obstrutiva do trato urinário superior (acima da bexiga) incluem cálculos e doença retroperitoneal, enquanto no trato inferior, hiperplasia prostática e disfunção vesical mais frequentemente obstruem o fluxo urinário nesse nível. O diagnóstico de uropatia obstrutiva, deve ser considerado na maioria dos pacientes com LRA, porque ela é altamente reversível quando identificada e tratada logo no início. O exame físico deve incluir a avaliação da sensibilidade do flanco, aumento da próstata ou bexiga palpável. A cateterização direta da bexiga ajuda a avaliar a obstrução do trato inferior. A USG renal é o exame inicial mais adequado para avaliar se o paciente Nefrologia Mariana Melo com LRA é possível obstrução do trato urinário. Em casos em que os achados USG são amigos ou negativos e ainda assim a suspeita urinária é alta, uma TC pode fornecer mais informações. O uso de TC advém da sua capacidade para detectar a etiologia da obstrução apesar da ausência de hidronefrose. PONTOS IMPORTANTES: - A obstrução anatômica do fluxo urinário resulta em uma entidade chamada uropatia obstrutiva. Quando problemas renais se manifestam nessa situação, ela é denominada nefropatia obstrutiva. - A obstrução do sistema urinário pode ser parcial ou total, e unilateral ou bilateral. A LRA na maioria das vezes complica a obstrução bilateral completa. - O débito urinário pode variar entre poliúria ou oligúria em pacientes com obstrução parcial. A obstrução bilateral completa é caracterizada por anuria. - A patogênese da uropatia obstrutiva inclui uma redução na TFG decorrente da pressão elevada intratubular (resistindo a pressão de filtração) e da produção de substâncias vasoconstritoras que reduzem o fluxo plasmático renal. - A obstrução do sistema urinário é classificada como teatro superior (pelve renal e ureteres) ou do trato inferior (bexiga e uretra) de acordo com o local da obstrução. - o diagnóstico da uropatia obstrutiva compreende uma história completa (anuria, prostatismo, historia de cáncer vesical, prostático ou vertical) e exame físico (plenitude suprapúbica, dor em flanco), bem como exame de imagem com USG renal. Esse exame é sensível e específico, mas pode ser negativo (não hidronefrose) na presença de obstrução em algumas situações clínicas. - O tratamento da obstrução se concentra na identificação rápida para preservar a função renal. A obstrução do trato superior geralmente é conduzida com fixação de cateter ureteral ou inserção de cateter para nefrostomia percutânea. A doença do trato inferior é manejada com uma sonda vesical ou cateter suprapúbico. - A diurese pós-obstrutiva pode se desenvolver por várias razões após alívio da obstrução bilateral completa. O excesso de sódio e água é excretado enquanto defeitos tubulares relacionados a obstrução podem ocorrer e causar perda inadequada de sódio e água. As concentrações elevadas de ureia também podem contribuir para a diurese osmótica. ABORDAGEM DO PACIENTE COM LESÃO RENAL AGUDA A avaliação do paciente com LRA deve ser metódica para assegurar que as causas Nefrologia Mariana Melo potencialmente reversíveis sejam rapidamente diagnosticadas e tratadas a fim de preservar a função renal e limitar a DRC. Uma anamnese minuciosa é necessária para identificar causas e fatores de risco para LRA pré-renal (vômitos, diuréticos, diarreia, insuficiência cardíaca, cirrose), medicamentos de potencial nefrotóxico (de prescrição ou não) e fatores de risco (doença prostática, câncer cervical e outros), e sintomas de obstrução urinária (prostatismo, incontinência por transbordamento, anuria). O exame físico deve se concentrar no estado de volume para permitir a classificação inicial em uma das amplas categorias de LRA. Isso inclui hipotensão, queda ortostática da pressão arterial ou veias do pescoço colapsadas (depleção de volume), assim como edema, estertores pulmonares, ou um galope com S3 (disfunção cardíaca). Em situações em que o estado do volume intravascular é incerto, a medição das pressões cardíacas de enchimento com um cateter de Swan-Ganz pode ser útil, mas não é normalmente empregada, de forma geral, é medida a pressão venosa central (PVC). embora haja dados demonstrando as limitações da PVC, mesmo ao monitorar tendências e resposta a administração ou remoção de fluidos, ela continua a ser uma ferramenta importante na orientação do manuseio de fluido. Evidências de doença sistêmica também devem ser procuradas. Por exemplo, isso inclui sinais de hemorragia pulmonar (vasculite, doença de Goodpasture), erupção cutânea (LES, ateroembolismo, vasculite, crioglobulinas, NIA) e doença articular (LES, artrite reumatoide). Os exames laboratoriais são dirigidos pelo diagnóstico diferencial postulado após a história completa e o exame físico. Exames básicos incluem hemograma para avaliar a anatomia e trombocitopenia, coagulação intravascular disseminada. O exame de urina é o exame fundamental para avaliação da LRA. É essencial avaliar a densidade relativa da urina, assim como a presença de sangue, proteína e esterase de leucócitos. Uma densidade relativa (DR) urinária muito alta sugere um processo pré-renal enquanto a isostenúria indica doença renal intrínseca como a NTA. Uma urina branda sem sangue ou proteína, e poucos ou nenhuma células e/ou cilindros, favorece um diagnóstico de LRA pré-renal. Causas vasculares de LRA tem uma tonicidade de urina variável e, por vezes, hematúria e cilindros granulosos. A glomerulonefrite se apresenta com tonicidade da urina variável, sangue e proteína (geralmente), hemácias e cilindros hemáticos. A NTA tem uma urina isotônica heme variável e proteína, CETs e cilindros pigmentados grosseiramente granuloso. A urina em pacientes com LRA pré-renal é isotônica e sem outros achados significativos a não ser que haja infecção associada ou nefrolitíase. Em alguns casos a análise química urinária pode ser imprecisa. Baixo sódio urinário e FENa e IRR (ambos <1%) geralmente respaldam LRA pré-renal. Em contraste, sódio urinário superior a 20 mEq/L e FENA e IRR, ambos maiores que 2% sugerem NTA. A LRA pré-renal com um FENa ou FEUrea elevada ocorre em situação de glicosúria, alcalose metabólica, bicarbonatúria, doenças perdedoras de sal e DRC. Da mesma forma, a NTA com baixas FENa e FEUrea ocorre com pigmentúria, sepse, contraste radiológico, NTA não oligúrica e cirrose grave ou SCR. Da mesma forma, a NTA com baixasFENa e FEUrea ocorre com pigmentúria, sepse, contraste radiológico, NTA não oligúrica e cirrose grave ou SCR. A evidência de doença sistêmica deve induzir exames direcionados usando anticorpo antinuclear (FAN) (LES), anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCA) (vasculite), sorologia para hepatite, crioglobulinas séricas (crioglobulinemia), níveis de complemento, imunoeletroforese sérica e urinária e hemoculturas. A modalidade mais empregada é a USG retroperitoneal dos rins, ureters e bexiga. Esse exame fornece informações sobre o tamanho do rim e parênquima, estado da pelve e do sistema coletor urinário e a presença de anormalidades estruturais. Em caso de LRA, o uso mais importante da USG renal é rapidamente confirmar ou excluir a presença de hidronefrose e o diagnóstico de uropatia obstrutiva. O doppler das artérias renais favorece informações importantes sobre o FSR e a estenose da artéria renal. A TC do retroperitônio também fornece informações importantes sobre a etiologia da LRA pré-renal quando a USG é negativa ou inconclusiva. Nefrologia Mariana Melo A angiografia por RM com gadolínio também fornece de forma segura importantes informações sobre a estenose/trombose da artéria renal, mas deve ser evitada em pacientes com LRA ou DRC no estágio 4. A fibrose sistêmica nefrogênica pode se desenvolver nesses pacientes, especialmente com certos tipos de contraste de gadolínio e em caso de inflamação. A biópsia renal percutânea é necessária para determinar a etiologia da LRA, e também para direcionar a terapia adequada. Os critérios prudentes que respaldam a utilização da biópsia renal são os seguintes: nenhuma causa óbvia da LRA, oligúria prolongada, detectar mieloma múltiplo em idosos com insuficiência renal inexplicável, manifestações intrarrenais de doenças sistêmica e para determinar se NIA está presente em pacientes que recebem um medicamento potencialmente imputável. O exame do tecido renal por microscopia óptica, imunofluorescência e microscopia eletrônica vai facilitar um diagnóstico preciso em praticamente todos os casos de LRA. A biópsia renal, no entanto, deve ser empregada sensatamente, de modo a evitar complicações como malformação arteriovenosa traumática dentro do rim, hemorragia grave necessitando de transfusão, outras lesões e órgão (fígado, baço, intestino) e perda do rim (hemorragia grave que exige a embolização ou nefrectomia). ABORDAGEM DO PACIENTE COM LESÃO RENAL AGUDA A insuficiência da função renal precipita problemas clínicos relacionados à excreção de toxinas, equilíbrio hidroeletrolítico e ácido básico, e regulação dos eletrólitos/minerais. Os transtornos dos processos homeostáticos renais resultam no seguinte: ● retenção de escórias nitrogenadas → azotemia e uremia ● retenção de sódio → sobrecarga de volume hipertensão ● retenção de água → hiponatremia ● retenção de ácidos metabólicos → acidose metabólica ● retenção de potássio → hipercalemia ● retenção de fosfato → hiperfosfatemia, hipocalcemia As manifestações clínicas da LRA variam com base na gravidade da disfunção renal. Os sintomas urêmicos incluem anorexia, náusea/vômitos, fraqueza, dificuldade de concentração/pensamento, letargia, prurido. os achados do exame físico que fundamentam a uremia incluem asterixis, atrito pericárdico, neuropatia sensorial e/ou motora, e hipertensão ou hipotensão dependendo da causa da LRA. Outros achados associados de uremia grave incluem ulceração , sangramento por disfunção plaquetária, infecção por função anormal dos leucócitos, cicatrização comprometida e desnutrição devido ao estado catabólico. TRATAMENTO DA LESÃO RENAL AGUDA: PRINCÍPIOS GERAIS A terapia da LRA exige a identificação da etiologia e patogenia do processo causador. A LRA pré-renal é mais bem tratada por meio da otimização da perfusão renal. A reposição do volume intravascular e a correção da IC, insuficiência hepática e outras causas de volume intravascular efetivo reduzido constituem o Nefrologia Mariana Melo tratamento para essa forma de LRA. A LRA intra renal é manejada por meio de terapia direcionada para o compartimento renal comprometido (vasculatura, glomérulos, túbulos e interstício). em certas situações, a terapia preventiva reduz a lesão renal; por exemplo, a depleção de volume antes de qualquer exposição isquemia ou nefrotóxica. A terapia hídrica e acetilcisteína podem reduzir o dano renal com a exposição a radiocontrastes em indivíduos de alto risco. A TSR não contribui na prevenção da LRA induzida por contraste. As terapias conservadoras para muitas das consequências da LRA são inicialmente empregadas, incluindo correção da sobrecarga de volume e/ou hipertensao, hiponatremia, hipercalemia e acidose. A conversão dos pacientes de LRA oligúria para não oligárquica torna a conduta mais fácil, mas provavelmente não melhora a morbidade ou a mortalidade. A azotemia e a uremia, assim como as outras consequências previamente mencionadas, podem requerer TSR a fim de permitir manuseio adequado quando as medidas conservadoras são mal sucedidas. O início de hemodiálise aguda ou de terapia de substituição renal contínua é necessário em certos pacientes com LRA. Terapias contínuas, que só podem ser utilizadas em UTI, incluem hemofiltracao venosa contínua (HVVC)/hemodiálise venovenosa continua (HDFVVC)/hemodiafiltracoa venovenosa contínua (HDFVVC), dialise lenta de baixa eficiência (DLBE) e diálise diária estendida (DDE). As indicações de emergência incluem hipercalemia grave, lesão uremica de órgão-alvo, acidose metabólica refratária e sobrecarga de volume grave. Outras situações clínicas que exigem o início da TSR são sintomas urêmicos, como anorexia, náuseas/vômito, sonolência, pernas inquietas e neuropatia. Sangramento por disfunção plaquetária e extrema hiperfosfatemia são outras razões para considerar o início de diálise. A hemodiálise aguda é a modalidade mais comumente empregada para tratar as consequências da LRA. Em pacientes que estão gravemente doentes e hemodinamicamente instáveis, as terapias contínuas são preferidas. As modalidades contínuas permitem um controle mais preciso do volume, da uremia, dos distúrbios ácido básicos e eletrolíticos com menos instabilidade hemodinâmica (hipotensão). Elas também permitem o suporte nutricional agressivo sem sobrecarga de volume associado. A diálise peritoneal é outra forma mais branda de terapia para LRA, mas é menos comumente utilizada. Nefrologia Mariana Melo
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