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1. DEFINIÇÃO, CAUSAS E FISIOPATOLOGIA DO EDEMA Edema é definido como acúmulo de líquido no espaço intersticial. Na prática clínica, nos deparamo-nos com pacientes com edemas de pequenas dimensões, localizados, por exemplo, em uma extremidade de um membro. Em outras situações, somos apresentados a pacientes com grandes edemas, envolvendo, inclusive, cavidades. Para que o edema ocorra, deve haver uma quebra dos mecanismos que controlam a distribuição do volume de líquido no espaço intersticial. Essa desregulação pode ser localizada e envolver apenas os fatores que influenciam o fluxo de fluido ao longo do leito capilar, ou, ainda, pode ser secundária a alterações dos mecanismos de controle do volume do compartimento extracelular e do líquido corporal total, o que, na maioria das vezes, ocasiona edema generalizado. CAUSAS Pressão Hidrostática Aumentada: Aumentos na pressão hidrostática são causados principalmente por desordens que comprometem o retorno venoso. A Fig. 4.3 ilustra os mecanismos interconectados subjacentes ao edema generalizado resultante da insuficiência cardíaca, renal e hepática. Vários fatores aumentam a pressão hidrostática em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva. O débito cardíaco reduzido conduz a congestão venosa sistêmica e ao aumento da pressão hidrostática capilar. Ao mesmo tempo, a redução do débito cardíaco resulta em hipoperfusão renal, estimulando o eixo renina- angiotensina-aldosterona e induzindo a retenção de sódio e água (hiperaldosteronismo secundário). Em pacientes com função cardíaca normal, essa adaptação aumenta o enchimento e o débito cardíaco, melhorando desse modo a perfusão renal. Entretanto, o coração insuficiente geralmente não é capaz de aumentar seu débito em resposta aos aumentos compensatórios do volume sanguíneo. Em vez disso, segue-se um círculo vicioso de retenção de fluido, aumento da pressão hidrostática venosa e piora do edema. Se o débito cardíaco não for restaurado ou a retenção de água renal reduzida (p. ex., por restrição de sal ou tratamento com diuréticos ou antagonistas da aldosterona) esse feedback positivo continua. Como o hiperaldosteronismo secundário é uma característica comum do edema generalizado, a restrição de sal, os diuréticos e os antagonistas da aldosterona também são medidas valiosas no tratamento do edema generalizado resultante de causas não cardíacas. Pressão Osmótica Plasmática Reduzida: Redução da síntese de albumina ocorre no quadro de doença hepática grave (p. ex., cirrose) e desnutrição proteica. Independentemente da causa, níveis reduzidos de albumina levam, gradualmente, ao edema, volume intravascular reduzido, hipoperfusão renal e hiperaldosteronismo secundário. Infelizmente, maior retenção de sal e água pelos rins não só falha em corrigir o déficit de volume plasmático, como também exacerba o edema, pois o defeito primário — proteína sérica reduzida — persiste. A síndrome nefrótica é a causa mais importante de perda de albumina sanguínea. Nas doenças caracterizadas por síndrome nefrótica, os capilares glomerulares danificados tornam-se anormalmente permeáveis, levando à perda de albumina (e de outras proteínas plasmáticas) na urina e ao desenvolvimento de edema generalizado. Obstrução Linfática: O edema pode ser resultado de obstrução linfática que compromete a reabsorção de fluidos dos espaços intersticiais. A drenagem linfática prejudicada e o consequente linfedema normalmente resultam de uma obstrução localizada causada por uma condição inflamatória ou neoplásica. Por exemplo, a filariose, uma infecção parasitária, pode causar edema acentuado da extremidade inferior e genitália externa (a chamada elefantíase), por produzir fibrose linfática e linfonodal inguinal. A infiltração e a obstrução dos linfáticos superficiais pelo câncer de mama podem causar edema da pele sobrejacente; a aparência característica de pequenas depressões na pele da mama afetada é chamada peau d’orange (pele em casca de laranja). Retenção de Sódio e Água: A retenção excessiva de sal (e obrigatoriamente a água associada a isso) pode induzir o edema devido ao aumento da pressão hidrostática (por causa da expansão do volume intravascular) e redução da pressão osmótica plasmática. A retenção excessiva de sal e água é observada em diversas doenças que comprometem a função renal, incluindo glomerulonefrite pós- estreptocócica e insuficiência renal aguda. EDEMA NEFRÍTICO Nas síndromes nefríticas agudas, das glomerulonefrites agudas, por exemplo, que se manifestam com edema, hematúria, hipertensão - sem proteinúria importante (acima de 3,5 g/dia) - a causa fundamental do edema é a redução da taxa de filtração glomerular (TFG). O edema é tão mais grave quanto maior for a redução da TFG, pois, como consequência desta, ocorrer uma diminuição muito acentuada da carga filtrada de sódio (solutos) que será ainda mais reduzida após a maior reabsorção tubular desse íon. Assim, a pequena oferta distal de sódio permitirá a reabsorção quase total do Na+ tubular no nefro distal. Cai a excreção renal de sódio e acontece, desse modo, retenção de Na” (e água, de equilíbrio osmótica). Se fizermos restrição dietética de NaCI (rigorosa), pode não se formar edema, pois equilibrar-se-ia a ingestão com a baixa excreção e sem retenção. Mas se o consumo de sódio for liberal, ocorrerá retenção de Na+ e expansão do volume do extracelular (VEC). Nessas condições, haverá edema e hipertensão arterial. . EDEMA NEFRÓTICO As proteínas plasmáticas são filtradas em grandes quantidades e a perda urinária (proteinúria) ultrapassa 3,5 g/24h, Clinicamente, manifesta-se por urina espumosa (proteinúria) e edemas. O edema reflete a redução na pressão oncótica do plasma, o que irá acarretar uma menor reabsorção do fluido intersticial, na extremidade venosa do leito capilar. A hipoproteinemia, resultante da perda urinária de proteínas, é agravada pelo catabolismo aumentado da albumina, que acontece na síndrome nefrótica. A redução da pressão oncótica do plasma, resultante da hipoproteinemia, por si só, leva ao aparecimento de edema. Além disso, pode provocar contração do volume intravascular, que pode acarretar redução do débito cardíaco (redução da pré-carga) e consequente redução da perfusão renal. Esta, por sua vez, leva à ativação do SRAA, reduzindo a excreção renal de sódio. A queda da pressão arterial ou do volume plasmático pode, ainda, estimular a liberação de hormônio antidiurético. Nessas condições, haverá maior reabsorção de Na+ e de água pelos túbulos renais, com retenção de sódio e água. Quando houver maior atividade antidiurética, poderá ocorrer retenção de água (livre de solutos), que promoverá diluição do extracelular, causando hiponatremia. Esse fluido retido representa um efeito diluidor das proteínas plasmáticas, agravando a redução da pressão oncótica do plasma e reciclando o estímulo à formação de edema. Pacientes nefróticos com albumina plasmática muito baixa podem apresentar edema generalizado, intenso e extenso (anasarca), inclusive com derrames cavitários (serosites: ascite, derrames pleural e/ ou pericárdico). EDEMA CARDÍACO Fundamentalmente, o que leva à formação desse edema é a queda do débito cardíaco, em consequência da falência do miocárdio. Como resultado, eleva-se a pressão venosa sistêmica ao mesmo tempo em que se reduz o volume arterial efetivo de sangue (VAES). Assim, quando se fala em redução do volume arterial efetivo de sangue (VAES), entende-se um enchimento deficiente do leito vascular arterial; expansão do VAES corresponderá a um enchimento supérfluo do leito cardiovascular arterial. A Figura 8 mostra que a queda do débito cardíaco (DC) na insuficiência cardíaca congestiva(ICC) acarreta uma elevação da pressão venosa sistêmica e distúrbio do equilíbrio das forças de Starling nos capilares periféricos. Prevalecendo a pressão hidráulica intravascular na extremidade venosa do capilar, fica dificultado o retorno do líquido intersticial para o capilar, e água acumula-se no interstício. Essa redistribuição do fluido extracelular concorre para a formação de edemas. A figura mostra, ainda, que outra consequência da queda no DC é a diminuição do VAES, ou seja, ocorrerá um enchimento deficiente do leito vascular arterial, com sensibilização de volumerreceptores e/ou pressorreceptores. EDEMA CIRRÓTICO O processo cirrótico é uma resposta hepática a vários tipos de agressão que leva à fibrose e regeneração nodular do fígado, afetando a função hepática em consequência de diversos mecanismos: Alterações do funcionamento dos hepatócitos comprometendo a síntese de albumina. Destruição da arquitetura lobular, canalicular e vascular, levando a distorções estruturais, que dificultam o livre fluxo de sangue e linfa nos sinusóides hepáticos Resultado disto é o aumento da pressão no território venoso (portal) e linfático (intra-hepático), que se conhece por hipertensão portal. Essa dificuldade de trânsito venoso através do fígado faz com que o sangue busque vias alternativas de tráfego, forçando o aparecimento de circulação colateral venosa, que promoverá um aumento da capacitância (venosa) esplâncnica, acarretando “aprisionamento” de sangue no território mesentérico. Esse sangue, sequestrado no leito venoso “ampliado”, irá prejudicar o enchimento vascular arterial, causando redução do volume efetivo de sangue. Além disso, a hipoalbuminemia provocada pela deficiente síntese de albumina reduz a pressão oncótica do plasma e concorre para a formação do edema. Além disso, a insuficiência hepática é acompanhada de um tônus vascular deslocado para uma condição de relaxamento devido à redução do metabolismo de várias substâncias vasodilatadoras e ao aumento da produção de óxido nítrico. Assim, com a redução da resistência vascular periférica, há redução do VAES e ativação dos mecanismos de controle de volume extracelular no sentido de retenção renal de água e sódio. A existência de hipertensão portal torna o território esplâncnico mais vulnerável na presença de hipoalbuminemia, daí a ocorrência de transudação líquida para a cavidade peritonial, formando ascite com maior exuberância nos pacientes cirróticos - que é uma das características clínicas desse tipo de edema. FATORES ADICIONAIS NO DIAGNÓSTICO Nos indivíduos que apresentaram episódios repetidos de edema prolongado, a pele nas áreas acometidas pode ficar espessada, endurecida e, com frequência, avermelhada. A estimativa da pressão venosa é importante na avaliação do edema. Em geral, um aumento generalizado significativo da pressão venosa pode ser reconhecido pelo ângulo em que as veias cervicais se colapsam. Nos pacientes com obstrução da veia cava superior, o edema limita-se à face, ao pescoço e aos membros superiores, nos quais a pressão venosa se mostra elevada em comparação com a dos membros inferiores. A insuficiência cardíaca grave pode causar ascite, que pode ser distinguida da causada por cirrose hepática por meio da pressão venosa jugular, geralmente elevada na insuficiência cardíaca e normal na cirrose. A determinação da concentração sérica de albumina ajuda sobremodo na identificação dos pacientes em que o edema se deve, pelo menos em parte, à diminuição da pressão oncótica intravascular. A presença da proteinúria também fornece indícios importantes. A ausência de proteinúria exclui a síndrome nefrótica, mas não as causas não proteinúricas de insuficiência renal. A ocorrência de uma proteinúria leve a moderada é a regra nos pacientes com insuficiência cardíaca. 2. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DO EDEMA O diagnóstico do edema é de natureza clínica e baseia- se na inspeção e na palpação. O primeiro aspecto a ser considerado na sua abordagem é se o edema é generalizado ou localizado. Em pacientes que deambulam o líquido tende a acumular-se em áreas pendentes; já nos limitados ao leito, o edema é mais acentuado nas regiões lombar e sacral. A localização do edema também pode variar no curso do dia. Assim, quando o indivíduo fica de pé, o edema tende a ser maior nos membros inferiores e piora no decorrer do dia, devido ao aumento da pressão hidrostática nos capilares dos membros. Por outro lado, quando se deita, ocorre redistribuição de líquidos e o edema diminui em membros inferiores e se acentua na face, de modo que o edema de face tende a ser maior pela manhã, ao acordar. No caso dos grandes edemas, o aumento de peso do indivíduo, em geral, antecede o seu surgimento. O edema também pode ser observado com o uso de algumas drogas: anti-inflamatórios não-hormonais, anti-hipertensivos (minoxidil, hidralazina, antagonistas dos canais de cálcio), hormônios esteróides (glicocorticóides, esteróides anabolizantes, estrogênios). O tratamento do edema deve ter como objetivo principal a correção da doença relacionada etiologicamente a ele. Dependendo da causa, o uso de diuréticos, restrição de sódio e líquidos podem contribuir para o seu controle, como no caso das doenças renais, embora ainda seja necessário tratamento específico da doença de base. Mesmo quando indicados, os diuréticos devem ser usados com cuidado. No acompanhamento do edema generalizado, é importante mensurar o peso e a diurese do paciente. Diante de uma erisipela, por sua vez, apenas o tratamento da infecção pode resolver o problema. 3. CAUSAS DE INJURIA RENAL AGUDA (INTRA, PRÉ E PÓS RENAL), DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO A insuficiência renal aguda (IRA), ou, mais modernamente, lesão renal aguda (LRA), é caracterizada por uma redução abrupta da função renal que se mantém por períodos variáveis, resultando na inabilidade dos rins em exercer suas funções básicas de excreção e manutenção da homeostase hidreletrolítica do organismo. Apesar do substancial avanço no entendimento dos mecanismos fisiopatológicos da IRA, bem como no tratamento dessa doença, os índices de mortalidade ainda continuam excessivamente elevados, em torno de 50%. As causas de insuficiência renal aguda podem ser de origem renal, pré-renal ou pós-renal. A IRA pré-renal é rapidamente reversível se corrigida a causa, e resulta principalmente de uma redução na perfusão renal, causada por uma série de eventos que culminam, principalmente, com diminuição do volume circulante e, portanto, do fluxo sanguíneo renal, como, por exemplo, desidratação (vômitos, diarreia, febre), uso de diuréticos e insuficiência cardíaca. A IRA renal, causada por fatores intrínsecos ao rim, é classificada de acordo com o principal local afetado: túbulos, interstício, vasos ou glomérulo. A causa mais comum de dano tubular é de origem isquêmica ou tóxica. Entretanto, a necrose tubular isquêmica pode ter origem pré-renal como consequência da redução do fluxo sanguíneo, especialmente se houver comprometimento suficiente para provocar a morte das células tubulares. Assim, o aparecimento de necrose cortical irreversível pode ocorrer na vigência de isquemia grave, particularmente se o processo fisiopatológico incluir coagulação microvascular, como, por exemplo, nas complicações obstétricas, picadas de cobra e na síndrome hemolítico-urêmica. As nefrotoxinas representam, depois da isquemia, a causa mais frequente de IRA. Os antibióticos aminoglicosídicos, os contrastes radiológicos e os quimioterápicos, como, por exemplo, a cisplatina, estão entre as drogas que podem causar dano tubular diretamente, embora também tenham participação substancial nas alterações da hemodinâmica glomerular.Por outro lado, drogas imunossupressoras como ciclosporina e FK-506, inibidores da enzima conversora da angiotensina e drogas anti-inflamatórias não esteroidais podem causar IRA por induzir, preponderantemente, modificações hemodinâmicas. A IRA devida a nefrite intersticial é mais frequentemente causada por reações alérgicas a drogas. As causas menos frequentes incluem doenças autoimunes (lúpus eritematoso) e agentes infecciosos. Apesar da predominância de um mecanismo fisiopatológico, a insuficiência renal aguda por drogas nefrotóxicas é frequentemente causada por associação de um ou mais mecanismos. Mais ainda, a associação de isquemia e nefrotoxinas é comumente observada na prática médica como causa de IRA, especialmente em pacientes mais graves. A IRA pós-renal ocorre na vigência de obstrução do trato urinário. A obstrução das vias urinárias pode ser consequência de hipertrofia prostática, câncer de próstata ou cervical, distúrbios retroperitoneais ou bexiga neurogênica (causa funcional). Outras causas de insuficiência pós-renal incluem fatores intraluminais (cálculo renal bilateral, necrose papilar, carcinoma de bexiga etc.) ou extraluminais (fibrose retroperitoneal, tumor colorretal etc.). A obstrução intratubular também é causa de IRA e pode ser consequência da precipitação de cristais como ácido úrico, oxalato de cálcio, aciclovir e sulfonamida, dentre outros. Vale salientar que a reversibilidade da IRA pós-renal se relaciona ao tempo de duração da obstrução ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Tradicionalmente, as etiologias da LRA são subdividas em três grupos gerais: azotemia pré-renal, doença renal parenquimatosa intrínseca e obstrução pós- renal PRÉ-RENAL A azotemia pré-renal (termo formado por “azo”, que significa nitrogênio; e “emia”, sanguínea) é o tipo mais comum de LRA. Esse termo é usado para descrever a elevação da concentração da U ou da SCr em consequência do fluxo plasmático renal inadequado e da pressão hidrostática intraglomerular insuficiente para manter a filtração glomerular normal. Os distúrbios clínicos associados mais comumente à azotemia pré-renal são hipovolemia, redução do débito cardíaco e fármacos que interferem com as respostas auto-reguladoras renais, inclusive anti- inflamatórios não esteroides (AINEs) e inibidores da angiotensina II. A azotemia pré-renal pode coexistir com outros tipos de LRA intrínseca. Os períodos prolongados de azotemia pré-renal podem causar lesão isquêmica, condição geralmente conhecida como necrose tubular aguda (ou NTA). Por definição, a azotemia pré-renal não inclui lesão do parênquima renal e pode ser revertida rapidamente quando a hemodinâmica intraglomerular é normalizada. 1- A TFG normal é mantida em parte pelas resistências relativas das arteríolas aferentes e eferentes, que determinam o fluxo plasmático glomerular e o gradiente de pressão hidráulica transcapilar responsáveis pela ultrafiltração glomerular. 2- Os graus brandos de hipovolemia e as reduções do débito cardíaco desencadeiam alterações fisiológicas renais compensatórias. Como o fluxo sanguíneo renal representa 20% do débito cardíaco, a vasoconstrição renal e a reabsorção de sal e água ocorrem como resposta homeostática à diminuição do volume circulante efetivo ou do débito cardíaco, de forma a manter a pressão arterial e aumentar o volume intravascular para preservar a perfusão dos vasos sanguíneos cerebrais e coronarianos. Os mediadores dessa resposta são angiotensina II, norepinefrina e vasopressina (também conhecida como hormônio antidiurético). 3- Apesar da redução do fluxo sanguíneo renal, a filtração glomerular pode ser mantida pela vasoconstrição eferente renal mediada pela angiotensina II, que mantém a pressão hidrostática dos capilares glomerulares mais próxima do normal e, deste modo, impede as reduções profundas da TFG, contanto que a redução do fluxo sanguíneo renal não seja excessiva. Além disso, um reflexo miogênico intrínseco à arteríola aferente causa dilatação quando há diminuição da pressão de perfusão e, deste modo, mantém a perfusão glomerular. A biossíntese intrarrenal das prostaglandinas vasodilatadoras (prostaciclina, prostaglandina E2), da calicreína e das cininas e, possivelmente, do óxido nítrico (NO) também aumenta em resposta à redução da pressão de perfusão renal. 4- A autorregulação também é realizada pelo feedback tubuloglomerular, no qual as reduções das quantidades de solutos apresentados à mácula densa (células especializadas localizadas nos túbulos proximais) provocam dilatação da arteríola aferente justaposta de forma a manter a perfusão glomerular; este mecanismo é mediado em parte pelo NO. Entretanto, existe um limite à capacidade de manter a TFG por esses mecanismos contrarreguladores quando a hipotensão sistêmica persiste. Mesmo nos adultos saudáveis, a autorregulação renal geralmente falha quando a pressão arterial sistólica diminui a menos de 80 mmHg Alguns fatores determinam a intensidade da resposta autorreguladora e, deste modo, o risco de desenvolver azotemia pré-renal: Aterosclerose, hipertensão crônica e idade avançada podem causar hialinose e hiperplasia da mioíntima, resultando no estreitamento estrutural das arteríolas intrarrenais e diminuição da capacidade de vasodilatar as arteríolas aferentes renais Os AINEs inibem a síntese das prostaglandinas renais e dificultam a vasodilatação aferente renal. Os inibidores de ECA (I-ECA) e os bloqueadores do receptor da angiotensina (BRAs) limitam a vasoconstrição eferente renal LRA INTRÍNSECA As causas mais comuns de LRA intrínseca são sepse, isquemia e nefrotoxinas endógenas e exógenas. Em muitos casos, a azotemia pré-renal progride para lesão tubular. Embora seja descrita classicamente como “necrose tubular aguda”, a confirmação da necrose tubular por biópsia dos seres humanos geralmente não é possível nos casos de sepse e isquemia; na verdade, os processos como inflamação, apoptose e alteração da perfusão regional podem ser mais importantes sob o ponto de vista fisiopatológico. As outras causas de LRA intrínseca são menos comuns e podem ser classificadas anatomicamente com base na localização predominante da lesão do parênquima renal: glomérulos, túbulos e interstício e vasos sanguíneos. LRA associada à sepse: Os efeitos hemodinâmicos da sepse - atribuídos à vasodilatação arterial generalizada, em parte mediada pelas citocinas que hiperestimulam a expressão da sintetase indutível do NO nos vasos sanguíneos - podem reduzir a TFG. Os mecanismos envolvidos podem ser a vasodilatação arteriolar eferente excessiva, principalmente nos estágios iniciais da sepse, ou a vasoconstrição renal causada pela ativação do sistema nervoso simpático, do sistema renina-angiotensina-aldosterona, da vasopressina e da endotelina. A sepse pode causar lesão endotelial, que acarreta trombose da microcirculação, ativação das espécies reativas do oxigênio e adesão e migração dos leucócitos; todas estas alterações podem lesar as células dos túbulos renais. LRA associada à isquemia: Os rins normais recebem 20% do débito cardíaco e são responsáveis por 10% do consumo de oxigênio em repouso, embora representem apenas 0,5% da massa corporal dos seres humanos. Os rins também possuem um a das regiões mais sujeitas à hipoxia do organismo, ou seja, a medula renal. A medula externa é particularmente vulnerável à lesão isquêmica em razão da arquitetura dos vasos sanguíneos que fornecem oxigênio e nutrientes aos túbulos. A intensificação das interações entre os leucócitos e as células endoteliais dos peque nos vasos sanguíneos causa inflamação e diminui o fluxo sanguíneo ao segmento S3 do túbulo proximal (metabolicamente muito ativo), cuja sobrevivência dependedo metabolismo oxidativo. Nos rins normais, a isquemia isolada geralmente não é suficiente para causar LRA grave. Clinicamente, a LRA ocorre mais comumente quando a isquemia coincide com as reservas renais limitadas (p. ex., doença renal crônica ou idade avançada) ou com insultos coexistentes como sepse, exposição aos fármacos vasoativos ou nefrotóxicos, rabdomiólise e estados inflamatórios sistêmicos associados às queimaduras e à pancreatite. A azotemia pré-renal e a LRA associada à isquemia representam um continuum de manifestações clínicas da hipoperfusão renal. A vasoconstrição pré- glomerular persistente pode ser uma causa comum da redução da TFG associada à LRA; os fatores implicados na vasoconstrição incluem ativação do feedback tubuloglomerular em consequência do aumento do fornecimento de solutos à mácula densa depois da lesão dos túbulos proximais; aumento do tono vascular basal e da reatividade aos agentes vasoconstritores; e diminuição da responsividade aos vasodilatadores. Outros fatores que contribuem para a diminuição da TFG incluem o refluxo do filtrado pelos epitélios tubulares isquêmicos e desnudados e a obstrução mecânica dos túbulos pelos debris necróticos LRA pós-operatória: A LRA associada à isquemia é uma complicação grave no período pós-operatório, principalmente depois de procedimentos cirúrgicos de grande porte com perdas sanguíneas e hipotensão intraoperatória significativas. Os procedimentos cirúrgicos associados mais comumente à LRA são operações cardíacas com bypass cardiopulmonar (principalmente em operações de substituição valvar e bypass simultâneos), intervenções vasculares com clampeamento transversal da aorta e operações intraperitoneais. A LRA grave com necessidade de diálise ocorre em cerca de 1% dos procedimentos cirúrgicos cardiovasculares. Os fatores de risco comuns para LRA pós-operatória incluem doença renal crônica coexistente, idade avançada, diabetes melito, insuficiência cardíaca congestiva e intervenções cirúrgicas de emergência. A fisiopatologia da LRA que ocorre depois dos procedimentos de cirurgia cardíaca é multifatorial. O uso dos agentes nefrotóxicos (inclusive contrastes iodados) nos exames de imagem do coração antes da operação pode aumentar o risco de desenvolver LRA. O bypass cardiopulmonar prolongado é um fator de risco para LRA. Além da lesão isquêmica causada pela hipoperfusão persistente, o bypass cardiopulmonar pode causar LRA por alguns mecanismos, inclusive ativação dos leucócitos e dos processos inflamatórios pelo circuito extracorporal, hemólise com nefropatia secundária aos pigmentos liberados (ver adiante) e lesão aórtica com ateroembolia subsequente. A LRA associada à doença ateroembólica, que também pode ocorrer depois da cateterização percutânea da aorta ou espontaneamente, é atribuída à embolização dos cristais de colesterol que causam obstrução parcial ou total de várias artérias intrarrenais pequenas. Com o tempo, a reação de corpo estranho pode causar proliferação da íntima, formação de células gigantes e estreitamento adicional da luz vascular; isto explica o declínio geralmente subagudo (ao longo de algumas semanas, em vez de dias) da função renal. LRA associada às nefrotoxinas: Os rins são muito suscetíveis à nefrotoxicidade em razão da perfusão sanguínea extremamente alta e da concentração das substâncias que circulam nos néfrons (onde a água é reabsorvida) e no interstício medular; isto acarreta exposição das células tubulares, intersticiais e endoteliais às concentrações altas das toxinas. A lesão nefrotóxica pode ser causada por alguns agentes farmacológicos com estruturas diversas, substâncias endógenas e toxinas ambientais. Todas as estruturas renais são sensíveis à lesão tóxica, inclusive os túbulos, o interstício, os vasos sanguíneos e o sistema coletor. Assim como ocorre com outros tipos de LRA, os fatores de risco para nefrotoxicidade incluem idade avançada, doença renal crônica (DRC) e azotemia pré-renal. A hipoalbuminemia pode aumentar o risco de desenvolver alguns tipos de LRA associada às nefrotoxinas, que são atribuídos às concentrações altas das toxinas livres circulantes. Contrastes: Os contrastes iodados utilizados nos exames de imagem cardiovasculares e na TC estão entre as principais causas de LRA. A nefropatia por contraste parece ser atribuída a uma combinação de fatores, inclusive: (1) hipoxia da medula renal externa em consequência das alterações da microcirculação renal e da obstrução dos pequenos vasos; (2) lesão citotóxica dos túbulos por mecanismo direto ou em consequência da formação dos radicais livres de oxigênio, principalmente porque a concentração da toxina no túbulo é acentuadamente maior; e (3) obstrução tubular transitória pelo contraste precipitado Antibióticos: Vários agentes antimicrobianos causam comumente LRA. Os aminoglicosídios e a anfotericina B causam necrose tubular. Os aminoglicosídios são filtrados livremente nos glomérulos e, em seguida, acumulam-se no córtex renal, no qual as concentrações podem ser muito maiores que as plasmáticas. A anfotericina B causa vasoconstrição renal em consequência do aumento do feedback tubuloglomerular e também toxicidade tubular direta mediada pelas espécies reativas do oxigênio (A nefrotoxicidade da anfotericina B é dependente da dose); Agentes quimioterápicos: A cisplatina e a carboplatina acumulam-se nas células dos túbulos proximais e causam necrose e apoptose. Substâncias tóxicas ingeridas: O etilenoglicol presente nos anticongelantes para automóveis é metabolizado em ácido oxálico, glicoaldeído e glioxilato, que podem causar LRA por lesão tubular direta. O dietilenoglicol é um composto industrial que tem causado episódios de LRA grave em muitos países, em consequência da adulteração das preparações farmacêuticas Toxinas endógenas: A LRA pode ser causada por alguns compostos endógenos, inclusive mioglobina, hemoglobina e cadeias leves do mieloma. A mioglobina pode ser liberada pelas células musculares lesadas, enquanto a 88 hemoglobina pode ser liberada durante a hemólise maciça com nefropatia pigmentar secundária. A rabdomiólise pode ser causada por lesões traumáticas com esmagamento, isquemia muscular durante operações vasculares ou ortopédicas, compressão durante o coma ou imobilização, atividade convulsiva prolongada, exercícios excessivos, intermação ou hipertermia maligna, infecções, distúrbios metabólicos (p. ex., hipofosfatemia, hipotireoidismo grave) e miopatias (induzidas por fármacos, metabólicas ou inflamatórias). LESÃO PÓS-RENAL A LRA pós-renal ocorre quando o fluxo unidirecional normal da urina é bloqueado repentinamente (parcial ou totalmente), resultando no aumento retrógrado da pressão hidrostática e interferindo com a filtração glomerular. A obstrução do fluxo urinário pode ser causada por distúrbios funcionais ou estruturais de qualquer estrutura desde a pelve renal até a extremidade da uretra Um fluxo urinário normal não exclui a existência de obstrução parcial, porque a TFG normalmente é cerca de duas vezes maior do que fluxo urinário. Para que ocorra LRA nos indivíduos normais, a obstrução deve envolver os dois rins, a menos que apenas um deles seja funcional, porque nestes casos a obstrução unilateral pode causar LRA. A obstrução unilateral pode causar LRA quando há DRC coexistente significativa ou, raramente, em consequência do vasospasmo reflexo do rim contralateral. A obstrução do colo vesical é uma causa comum de LRA pós-renal e pode ser causada por doenças da próstata (p. ex., hipertrofia benigna ou câncer da próstata), bexiga neurogênica ou tratamento com agentes anticolinérgicos. Os cateteres de Foley obstruídos podem causar LRA pós-renal quando o problemanão é detectado e a obstrução não é aliviada. Outras causas de obstrução das vias urinárias inferiores são trombos, cálculos e estenoses uretrais. A obstrução uretérica pode ser causada por obstrução intraluminar (p. ex., cálculos, trombos, papilas renais desprendidas), infiltração da parede dos ureteres (p. ex., neoplasia) ou compressão extrínseca (p. ex., fibrose retroperitoneal, neoplasia, abscesso ou lesão cirúrgica acidental). A fisiopatologia da LRA pós-renal inclui alterações hemodinâmicas desencadeadas pelo aumento súbito das pressões intratubulares. O período inicial de hiperemia causada pela dilatação das arteríolas aferentes é seguido de vasoconstrição intrarrenal secundária às sínteses de angiotensina II, tromboxano A2 e vasopressina e à redução dos níveis de NO. A redução da TFG é atribuída à hipoperfúsão dos glomérulos e, possivelmente, às alterações do coeficiente de ultrafiltração glomerular MANIFESTAÇÕES CLINICAS LRA Intrínseca Azotemia pré-renal: História de ingestão hidrica insuficiente ou perda de líquidos (hemorragia, diarreia, vômitos, sequestro para o espaço extravascular); AINEs/ ECA-I/BRA; insuficiência cardíaca; sinais de depleção do volume circulante (taquicardia, hipotensão absoluta ou postural, redução da pressão venosa jugular, mucosas desidratadas), redução do volume circulante efetivo (cirrose, insuficiência cardíaca) LRA associada à Sepse: sepse, síndrome séptica ou choque séptico. A hipotensão nem sempre é detectável nos casos brandos a moderados de LRA LRA associada à isquemia: Hipotensão sistémica, geralmente superposta à sepse e/ou outras causas de limitação das reservas renais, inclusive idade avançada e DRC LRA associada às nefrotoxinas endógenas Rabdomiólise: Lesões traumáticas com esmagamento, convulsões, imobilização Hemólise: Transfusão sanguínea recente com reação pós-transfusional Lise tumoral: Quimioterapia recente Mieloma múltiplo: Idade > 60 anos, sintomas constitucionais, dor óssea Nefropatia por contraste: Exposição aos contrastes iodados LRA associada às nefrotoxinas endógenas Lesão tubular: Aminoglicosídios, cisplatina, tenofovir e zoledronato Nefrite intersticial: Exposição recente aos fármacos; pode causar febre, erupção e artralgias INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA Em geral, a existência da LRA é inferida com base na elevação da concentração da creatinina sérica (Scr). Hoje, a LRA é definida por um a elevação de no mínimo 0,3 mg/dL ou 50% maior que os valores basais num período de 24 a 48 horas, ou por redução do débito urinário em 0,5 m L/kg/hora por mais de 6 horas. É importante reconhecer que, com base nessa definição, alguns pacientes com LRA não terão lesão glomerular ou tubular (p. ex., azotemia pré-renal). Anormalidades urinárias A anúria absoluta nos estágios iniciais da LRA não é comum, exceto nas seguintes situações: obstrução total das vias urinárias, obstrução das artérias renais, choque séptico incontrolável, isquemia grave (geralmente com necrose cortical) ou glomerulonefrite proliferativa ou vasculite grave. A redução do débito urinário (a oligúria é definida por volume urinário < 400 mL/24 horas) geralmente indica LRA mais significativa (ou seja, TFG menor) que nos casos em que o débito urinário está preservado. A oligúria está associada a prognósticos clínicos mais desfavoráveis. O exame simples da urina (EAS) e o exame do sedimento urinário são recursos de valor inestimável, mas seus resultados devem ser correlacionados com o quadro clínico em razão de sua sensibilidade e especificidade baixas Quando não há proteinúria preexistente secundária à DRC, a LRA isquêmica ou nefrotóxica causa proteinúria branda (< 1 g/dia). Proteinúria mais acentuada nos pacientes com LRA sugere lesão da barreira de ultrafiltração glomerular ou excreção das cadeias leves do mieloma; estas últimas pro teínas não são detectadas pelos testes com fitas urinárias convencionais (que detectam albumina) e o teste com ácido sulfossalicílico ou a imunoeletroforese deve ser realizado. A ateroembolia pode causar graus variáveis de proteinúria. Ocasionalmente, a proteinúria maciça (“variação nefrótica”: > 3,5 g/dia) pode ocorrer com glomerulonefrite, vasculite ou nefrite intersticial (principalmente causada por AINEs). A azotemia pré-renal pode evidenciar-se por cilindros hialinos ou sedimento urinário inexpressivo. A LRA pós- renal também pode produzir sedimento urinário inespecífico, mas pode haver hematúria e piúria, dependendo da causa da obstrução. A LRA secundária à necrose tubular aguda (NTA) causada por lesão isquêmica, sepse ou algumas nefrotoxinas produz anormalidades características no sedimento urinário: cilindros granulosos pigmentados “marrom turvo” e cilindros de células do epitélio tubular. Entretanto, essas anormalidades podem estar ausentes em mais de 20% dos casos. A cristalúria pode ser importante à confirmação do diagnóstico. A detecção dos cristais de oxalato na urina dos pacientes com LRA deve levar à investigação imediata de intoxicação por etilenoglicol. Cristais abundantes de ácido úrico podem aparecer na síndrome da lise tumoral. ANORMALIDADES DOS EXAMES SANGUÍNEOS O hemograma completo pode fornecer indícios diagnósticos úteis. A anemia é comum com a LRA e geralmente é multifatorial. A anemia não está relacionada unicamente com os efeitos da LRA na eritropoiese, porque estas alterações demoram muito mais tempo para ocorrer. Anemia grave sem sangramento pode indicar hemólise, mieloma múltiplo ou microangiopatia trombótica Em geral, a LRA causa hiperpotassemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia. Entretanto, hiperfosfatemia acentuada com hipocalcemia sugerem rabdomiólise ou síndrome da lise tumoral. Os níveis da creatinofosfoquinase e o ácido úrico sérico aumentam com a rabdomiólise, enquanto a síndrome da lise tumoral caracteriza-se por níveis normais ou ligeiramente elevados de creatinoquinase e concentrações séricas muito altas de ácido úrico. O anion gap pode aumentar com qualquer tipo de uremia, em consequência da retenção dos ânions como fosfato, hipurato, sulfato e urato. Em geral, a azotemia pré-renal causa elevações modestas da SCr, que retornam aos níveis basais com a normalização do estado hemodinâmico. A nefropatia por contraste causa elevação da SCr nas primeiras 24 a 48 horas, com níveis máximos alcançados dentro de 3 a 5 dias e regressão em 5 a 7 dias. Por outro lado, a doença ateroembólica geralmente se evidencia por elevações mais subagudas da SCr, embora a LRA grave com aumentos acentuados da SCr possa ocorrer nestes pacientes. BIÓPSIA RENAL Quando a etiologia da LRA não é definida com base na história clínica, no exame físico e nos exames laboratoriais, a biópsia renal deve ser considerada. Os resultados da biópsia podem fornecer informações diagnósticas e prognósticas definitivas quanto às doenças renais agudas e crônicas. Na maioria dos casos, esse exame é realizado nos pacientes com LRA quando as possibilidades de azotemia pré-renal, LRA pós-renal e LRA isquêmica ou nefrotóxica foram consideradas improváveis e outros diagnósticos possíveis ainda são considerados, inclusive glomerulonefrite, vasculite, nefrite intersticial, nefropatia do mieloma, SHU e PTT e disfunção de um aloenxerto. BIOMARCAD0RES NOVOS O nitrogênio urêico sanguíneo (NAS) e a creatinina são biomarcadores funcionais da filtração glomerular, mas não são biomarcadores da lesão tecidual e, por esta razão, podem ser insatisfatórias ao diagnóstico da causa real da lesão do parênquima renal. As elevações de NAS e da creatinina também são relativamente lentas depois da lesão renal. Vários biomarcadores novos de lesão renal foram investigados e mostram-se muito promissoresao diagnóstico precoce e preciso da LRA A molécula 1 de lesão renal (Kidney injury molecule-1, KIM-1) é uma proteína transmembrana do tipo 1, que está expressa abundantemente pelas células dos túbulos proximais lesados por isquemia ou nefrotoxinas, inclusive cisplatina. A KIM-1 não é expressa em quantidades consideráveis quando não há lesão tubular ou nos tecidos extra-renais. A função da KIM-1 pode ser a de conferir propriedades fagocíticas às células tubulares, de forma que elas possam eliminar os debris depositados na luz tubular depois da lesão renal. A KIM-1 pode ser detectada na urina logo depois da lesão isquêmica ou nefrotóxica e, por esta razão, pode ser um biomarcador facilmente aplicável à prática clínica. PROFILAXIA E TRATAMENTO A abordagem aos pacientes que se encontram sob risco de desenvolver ou já desenvolveram LRA depende da etiologia subjacente (Quadro 10.3). No entanto, existem vários princípios aplicáveis a todos os casos. A melhoria da função hemodinâmica, a correção dos desequilíbrios hidreletrolíticos, a interrupção do uso de fármacos nefrotóxicos e os ajustes das doses dos fármacos administrados são medidas essenciais. As causas comuns de LRA, inclusive sepse e NTA isquêmica, ainda não têm tratamentos específicos depois que a lesão já ocorreu, mas a monitoração clínica cuidadosa é necessária até que a LRA regrida (se isto ocorrer). Os rins têm enorme capacidade de auto- reparação, mesmo depois da LRA grave com necessidade de diálise. Entretanto, alguns pacientes com LRA não se recuperam totalmente e podem continuar dependentes de diálise. Azotemia pré-renal: A profilaxia e o tratamento da azotemia pré-renal dependem da melhoria da perfusão renal. A composição dos líquidos infundidos está de acordo com os líquidos perdidos. Os sangramentos agudos profusos devem ser tratados com concentrados de hemácias. As soluções cristaloides e/ou coloides isotônicas devem ser utilizadas nos casos de hemorragia aguda menos grave ou perda plasmática associada às queimaduras e à pancreatite. As soluções cristaloides são menos dispendiosas e, provavelmente, têm a mesma eficácia das soluções coloides. Estudos demonstraram que as soluções cristaloides são preferíveis à albumina nos casos de traumatismo craniano. As soluções cristaloides (p. ex., solução salina a 0,9%) ou coloides isotônicas devem ser utilizadas para repor volume dos pacientes com hipovolemia grave, enquanto os cristaloides hipotônicos (p. ex., solução salina a 0,45%) são suficientes para tratar hipovolemia menos grave. A administração excessiva de cloreto contido na solução salina a 0,9% pode causar acidose metabólica hiperclorêmica. As soluções contendo bicarbonato (p. ex., soro glicosado a 5% com 150 mEq de bicarbonato de sódio) devem ser usadas quando acidose metabólica for uma preocupação. LRA intrínseca: Vários fármacos foram testados e não conseguiram produzir efeitos benéficos comprovados nos pacientes com lesão tubular isquêmica aguda. Isso inclui peptídio natriurético atrial, dopamina em doses baixas, antagonistas da endotelina, diuréticos de alça, bloqueadores do canal de cálcio, bloqueadores dos receptores a-adrenérgicos, análogos das prostaglandinas, antioxidantes, anticorpos contra moléculas de adesão leucocitárias, fator de crescimento semelhante à insulina e muitos outros. A reposição de volume imediata e vigorosa é essencial aos pacientes com rabdomiólise, que podem necessitar de 10 L de líquidos por dia. Os líquidos alcalinos (p. ex., 75 mmol de bicarbonato de sódio acrescentados à solução salina a 0,45%) podem ajudar a evitar lesão tubular e formação dos cilindros, mas acarretam o risco de agravar a hipocalcemia. Os diuréticos podem ser administrados quando a reposição de líquidos é adequada, mas não consegue produzir taxas de fluxo urinário entre 200 e 300 mL/ hora. Além da diálise para os casos graves ou as medidas gerais de suporte para manter o equilíbrio hidreletrolítico e a perfusão tecidual, não há tratamento específico para a LRA secundária à rabdomiólise. Os níveis de cálcio e fosfato devem ser cuidadosamente controlados porque podem precipitar nos tecidos lesados e são liberados quando os tecidos cicatrizam. LRA pós-renal: O diagnóstico imediato e a correção precoce da obstrução do trato urinário podem evitar o desenvolvimento de lesões estruturais irreversíveis induzidas pela estase urinária. O local da obstrução define a abordagem terapêutica. A cateterização transuretral ou suprapúbica da bexiga pode ser a única medida necessária inicialmente para tratar estenoses uretrais ou disfunção vesical. A obstrução uretérica pode ser revertida pela colocação de um tubo de nefrostomia percutânea ou stent ureteral. O alívio da obstrução geralmente é seguido de diurese apropriada ao longo de alguns dias. Em casos raros, a poliúria grave persiste em consequência da disfunção tubular e pode exigir a administração contínua de líquidos e eletrólitos intravenosos por períodos longos. MEDIDAS DE SUPORTE Estabilização do volume: O aporte de líquidos e sódio deve ser reduzido e os diuréticos podem ser usados para aumentar o fluxo urinário. Nenhuma evidência indica que o aumento do débito urinário melhore intrinsecamente a história natural da LRA, mas os diuréticos podem ajudar a evitar a necessidade de diálise em alguns casos. Nos casos graves de sobrecarga de volume, a furosemida pode ser administrada em bolus (200 mg) seguida de infusão intravenosa contínua (10 a 40 mg/hora), com ou sem um diurético tiazídico. O tratamento com diuréticos deve ser interrompido se não houver resposta. Anormalidades eletrolíticas e acidobásica: A acidose metabólica não é tratada, a menos que seja grave (pH < 7,20 e bicarbonato sérico < 1 5 mmol/L). A acidose pode ser corrigida com bicarbonato de sódio oral ou intravenoso, mas a correção exagerada deve ser evitada porque pode causar alcalose metabólica, hipocalcemia, hipopotassemia e sobrecarga de volume. Em geral, a hipocalcemia não precisa ser tratada, a menos que seja sintomática. Desnutrição: A desnutrição proteicocalórica é comum com a LRA, principalmente quando há falência sistêmica de múltiplos órgãos. A desnutrição pode causar cetoacidose secundária à inanição e catabolismo proteico. A nutrição excessiva pode aumentar a produção de escórias nitrogenadas e agravar a azotemia. Anemia: A anemia associada à LRA geralmente é multifatorial e não melhora com os agentes estimuladores da eritropoiese, tendo em vista seu início de ação tardio e a existência de resistência da medula óssea nos pacientes em estado crítico Indicações de diálise: A diálise está indicada quando o tratamento clínico não consegue controlar a sobrecarga de volume, a hiperpotassemia e a acidose, depois de algumas exposições tóxicas e quando ocorrem complicações graves da uremia (asterixe, atrito ou derrame pericárdico, encefalopatia, sangramento urêmico). Muitos nefrologistas iniciam a diálise empiricamente para tratar LRA quando NAS está acima de 100 mg/dL nos pacientes sem sinais clínicos de recuperação da função renal 4. ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍNDROME NEFRÍTICA As glomerulonefrites são processos infecciosos agudos que acometem o glomérulo, acarretando retenção de sódio pela dificuldade de excreção. Essa retenção pode levar ao edema e a hipertensão. Ocorre também ruptura e lesão de pequenas alças capilares, a barreira de filtração perde sua integridade, fazendo com que possam surgir na urina proteínas e hemácias. O quadro caracterizado por Hipertensão, edema, hematúria e proteinúria é o que chamamos de Síndrome Nefrítica. As lesões que causam a síndrome nefrítica têm em comum a proliferação das células dentro do glomérulo, frequentementeacompanhada por infiltrado leucocitário inflamatório. Essa reação inflamatória lesa gravemente as paredes dos capilares fenestrados, permitindo que o sangue passe para a urina com hemácias de aspecto dismófico e induzindo alterações hemodinâmicas que levam à redução da TFG. Isso mostra que a hematúria é provavelmente de origem glomerular. A TFG reduzida é manifestada clinicamente por oligúria, retenção de fluidos e azotemia (Níveis elevados de ureia e outros compostos nitrogenados no sangue). A hipertensão é provavelmente o resultado da retenção de fluidos e algum aumento na liberação de renina a partir do rim isquêmico. A síndrome nefrítica aguda pode ser produzida por desordens sistêmicas, como lúpus eritematoso sistêmico, ou ser secundária a doença glomerular primária. A última é exemplificada pela GN pós- infecciosa aguda. A proteinúria na síndrome nefrítica costuma ser de moderada intensidade, geralmente, não ultrapassando 3g, entretanto, pode servir como parâmetro de evolução, tendendo a desaparecer conforme a melhora do quadro. Já a hematúria, principal marcador clínico, pode permanecer ainda que o quadro tenha resolução, visto que é mais complexo reconstruir as alças rompidas. Uma causa comum é a glomerulonefrite pós- estreptocócica, e o paciente pode relatar episódio prévio de amigdalite bacteriana. Clinicamente, o paciente pode apresentar colúria, e o edema é de moderada intensidade, + a ++, poupando face. São chamadas de difusas quando o acometimento glomerular ocorre em mais de 50% do total de glomérulos da biópsia, e denominadas focais quando há menos de 50% de glomérulos acometidos. Neste grande grupo de doenças, as causas imunológicas são as mais comuns, como nefrite lúpica, nefropatia por IgA e glomerulonefrite difusa aguda pós-infecciosa. GLOMERULONEFRITE PÓS-INFECCIOSA AGUDA (PÓS- ESTREPTOCÓCICA) A GN pós-infecciosa aguda é uma das desordens glomerulares que ocorre mais frequentemente e tem como causa a deposição glomerular de imunocomplexos resultando em danos às células glomerulares e infiltração de leucócitos, especialmente neutrófilos. O antígeno estimulante pode ser exógeno ou endógeno. O modelo para o padrão exógeno é visto na GN pós-estreptocócica. Infecções por outros microrganismos também podem estar associadas à GN pós-estreptocócica. Estas incluem certas infecções pneumocócicas e estafilocócicas, bem como diversas doenças virais comuns, como caxumba, sarampo, varicela e hepatites B e C. Antígenos endógenos, como os que são produzidos no lúpus eritematoso sistêmico, também podem causar GN proliferativa O caso clássico de GN pós-estreptocócica se desenvolve em crianças, 1-4 semanas após a recuperação de uma infecção estreptocócica do grupo A. O risco de GNPE é aumentado em pacientes idosos e em crianças entre cinco e 12 anos de idade, sendo incomum em crianças com menos de três anos de idade e duas vezes mais frequente em homens que em mulheres. Pode ocorrer como um caso esporádico ou durante uma epidemia de infecção de pele ou garganta por estreptococos do grupo A. Fisiopatologia GN pós-estreptocócica é uma doença imunomediada na qual a lesão tissular é primariamente causada pela ativação do complemento pela via clássica. Características típicas de doença do complexo imune, como hipocomplementemia e depósitos granulares de IgG e complemento na MBG, podem ser vistas. Os antígenos mais relevantes provavelmente são proteínas estreptocócicas. Antígenos específicos implicados na patogenia incluem enterotoxina B estreptocócica (SPE B) e GAPDH estreptocócica. Ambos ativam a via alternativa do complemento e têm afinidade por proteínas glomerulares e plasmina. Não é claro se os complexos imunes são formados principalmente na circulação ou in situ (o último por ligação de anticorpos a antígenos bacterianos implantados na MBG). Curso clínico O início da doença renal tende a ser abrupto, caracterizado por mal-estar, febre leve, náusea e síndrome nefrítica. Em casos usuais, oligúria, azotemia e hipertensão apresentam-se discretos a moderados. Caracteristicamente, há hematúria macroscópica, pela qual a urina aparece marrom turva em vez de vermelho brilhante. Alguns graus de proteinúria são uma constante característica da doença e, como mencionado, ocasionalmente pode ser severa o suficiente para produzir a síndrome nefrótica. Os níveis séricos do complemento são baixos durante a fase ativa da doença, e os títulos de anticorpos anti- estreptolisina O são elevados nos casos pós- estreptocócicos. A recuperação ocorre na maioria das crianças em casos epidêmicos. Algumas crianças desenvolvem GN rapidamente progressiva devido a lesão severa com formação de crescentes ou doença renal crônica pelas cicatrizes secundárias. Tratamento Afastamento das atividades esportivas/ repouso relativo: Recomendado na fase aguda da doença com HAS (hipertensão arterial sistêmica) e edema, devendo ser liberado gradualmente. Restrição hídrica: Deve ser ajustada às perdas insensíveis, subtraídas da água endógena (total de 400mL/m2 /dia). Acrescidas de reposição parcial da diurese, objetivando-se balanço negativo de líquidos enquanto houver edema. Restrição de sódio: Limitada à fase de edema, oligúria e HAS com restrição de 1-2g de sódio por dia, não sendo necessárias outras medidas dietéticas na ausência de hipercalemia e uremia. Medidas específicas: Antibioticoterapia: A infecção estreptocócica já se resolveu antes do aparecimento do quadro nefrítico, mas os pacientes com prova rápida positiva para estreptococo ou cultura positiva de pele ou garganta ou com evidência clínica de infecção devem receber antibioticoterapia amoxicilina ou penicilina (oral ou IM) por 10 dias. A antibioticoterapia profilática pode ser indicada para os contactantes domiciliares do caso-índice ou em situações epidêmicas. Diuréticos: Na presença de congestão cardiocirculatória e HAS, além da restrição hídrica e da dieta restrita em sódio, estão indicados diuréticos de alça (furosemida), por via oral, na dose de 1-2mg/kg/dia. Nos casos graves de HAS ou ICC (insuficiência cardíaca congestiva) e edema pulmonar, em geral, é utilizada via endovenosa. Drogas anti-hipertensivas: Na presença de congestão cardiocirculatória e HAS, além da restrição hídrica e da dieta restrita em sódio, estão indicados diuréticos de alça (furosemida), por via oral, na dose de 1- 2mg/kg/dia. Nos casos graves de HAS ou ICC (insuficiência cardíaca congestiva) e edema pulmonar, em geral, é utilizada via endovenosa. Drogas imunossupressoras: A imunossupressão parece não ser efetiva, embora utilizada nos casos de evolução com crescentes (mais de 30-50%), em biópsia (glomerulonefrite rapidamente progressiva). Terapia de substituição renal: O quadro de lesão renal aguda observado na GNPE é transitório e de curta duração. Os casos mais graves podem cursar com uremia e distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos-básicos próprios da LRA (lesão renal aguda) e pode ser necessário tratamento dialítico. A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma doença de evolução autolimitada e benigna na maioria dos casos. NEFROPATIA POR IgA Essa condição usualmente afeta crianças e adultos jovens, e começa como um episódio de hematúria macroscópica que ocorre 1-2 dias após uma infecção inespecífica do trato respiratório superior. Tipicamente, a hematúria dura vários dias e em seguida desaparece, podendo recorrer em poucos meses. Pode haver dor local. A nefropatia por IgA é uma das causas mais comuns de hematúria microscópica ou macroscópica recorrente e é a doença glomerular mais comumente diagnosticada por biópsia renal no mundo. Patogenia Associada a uma anormalidade na sua produção edepuração ou mesmo na produção de anticorpos contra a IgA glicosilada anormalmante. A IgA, a principal imunoglobulina das secreções mucosas, está aumentada em 50% dos pacientes com nefropatia por IgA, devido ao aumento da produção de IgA subtipo I por plasmócitos na medula óssea. Em adição, imunocomplexos contendo IgA estão presentes em alguns casos. Influência genética é sugerida pela ocorrência dessa condição em famílias e irmãos com HLA (antígenos de histocompatibilidade humano) idênticos e pelo aumento da frequência de certos HLA e genótipos complementares em algumas populações. Em apoio a esse cenário, a nefropatia por IgA ocorre com frequência aumentada em indivíduos com doença celíaca, nos quais defeitos na mucosa intestinal estão presentes, e na doença hepática, onde há depuração hepatobiliar defeituosa de complexos IgA (secundária à nefropatia por IgA). Curso clínico Mais da metade dos pacientes com nefropatia por IgA apresenta hematúria macroscópica após infecção do sistema respiratório ou, menos comumente, do trato urinário ou gastrointestinal; 30-40% têm somente hematúria microscópica, com ou sem proteinúria, e 5- 10% desenvolvem uma síndrome nefrítica aguda típica. A hematúria dura, geralmente, vários dias e depois diminui, retornando em um período de poucos meses. O curso subsequente é altamente variável. Muitos pacientes mantêm função renal normal por décadas. A progressão lenta para falência renal crônica ocorre em 25-50% dos casos após um período de 20 anos. Achados na biópsia renal podem ajudar a identificar aqueles casos com pior prognóstico, indicados pela proliferação mesangial difusa, esclerose segmentar, proliferação endocapilar ou fibrose tubulointersticial. Diagnóstico Caracteriza-se por início súbito de hematúria, proteinúria, oligúria, hipertensão arterial sistêmica e déficit de função renal, embora não seja essencial que todas essas alterações ocorram simultaneamente; está sempre presente a hematúria, associada a pelo menos uma das outras anormalidades. Edema pode estar presente em grau variável. Trata-se de síndrome de expansão do volume extracelular, incluindo-se o compartimento intravascular. A apresentação clássica da síndrome nefrítica é vista na glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica em crianças. As crianças geralmente apresentam oligúria, ganho de peso e edema generalizado de apresentação aguda (poucos dias). O exame de urina revela proteinúria, hematúria e, comumente, a presença de cilindros hemáticos. A proteinúria costuma ocorrer em valor não nefrótico e a albumina sérica é geralmente normal. O volume circulante está aumentado, causando hipertensão e, eventualmente, edema pulmonar sem evidência de doença cardíaca primária. Investigação proposta em caso de suspeita de síndrome nefrítica aguda e possíveis achados: Urina I: hematúria macro ou microscópica com dismorfismo eritrocitário; se proteinúria presente, fazer determinação em 24h: proteinúria pode estar presente, mas geralmente é menor do que 3,0 g/dia. Creatinina sérica: pode ou não estar aumentada. Complemento: diminuição de CH50 e C3. Pesquisa de doenças de base – vide investigação de glomerulonefrite rapidamente progressiva. Biópsia As indicações de biópsia são: hematúria macroscópica com duração superior a quatro semanas; hematúria microscópica com duração superior a 1-2 anos; oligoanúria por mais de 48-72h; piora progressiva da função renal; hipocomplementenemia ausente no diagnóstico ou mantida por mais de oito semanas; proteinúria nefrótica inicial (>6 semanas) ou proteinúria não-nefrótica persistente (>6 meses); presença de sinais de doença sistêmica e/ou histórico familiar de doença renal. Tratamento O protótipo desta síndrome é a glomerulonefrite pós- estreptocócica. Tratamento de síndrome nefrítica sem complicações (em caso de diagnóstico presuntivo de glomerulonefrite pós-estreptocócica) Dieta hipossódica e repouso enquanto houver expansão do volume hídrico corporal. Sintomáticos: diuréticos, anti-hipertensivos. Imunossupressão: na maioria das vezes não é necessário; apenas nos raros casos com oligúria prolongada, proteinúria nefrótica com hipoalbuminemia ou insuficiência renal rapidamente progressiva, com crescentes glomerulares à biópsia renal, pode haver indicação (que não é formal) de uso de imunossupressores. 5. ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica consiste no conjunto de doenças glomerulares relacionadas ao aumento de permeabilidade da membrana basal glomerular (MBG) às proteínas plasmáticas, levando à proteinúria (>3,5 g/1,73m²/dia), e, consequentemente, à hipoalbuminemia e a edema. Outros achados comuns nas enfermidades nefróticas são a hiperlipidemia e a hipercoagulabilidade (tromboembolismo). EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia da síndrome nefrótica varia de forma considerável de acordo com a glomerulopatia que a causa. De forma geral, considerando as etiologias mais importantes, pode-se dizer que a ordem decrescente de prevalência é: glomeruloesclerose segmental e focal (GESF), nefropatia membranosa (NM), doença por lesão mínima e glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP). FISIOPATOLOGIA No que concerne à proteinúria, as teorias mais antigas referiam-se a alterações elétricas na MBG como as mais prováveis responsáveis pela filtração aumentada de proteínas. Hoje, artigos mais recentes destacam a importâncias dos podócitos enquanto barreiras anátomo-celulares importantes na passagem dessas macromoléculas do sangue para os túbulos renais. A hipoalbuminemia ocorre como consequência direta da proteinúria – se mais proteínas estão sendo excretadas do corpo e se a albumina é a proteína mais abundante no plasma, logo os níveis de albumina estarão reduzidos. O edema ocorre por dois mecanismos. O primeiro (underfill) se relaciona à hipoalbuminemia, uma vez que essa manifestação leva à redução da pressão oncótica do sangue, uma das forças que se opõem à passagem de líquido do espaço intravascular para o interstício. O outro mecanismo proposto (overfill) se refere à hiperatividade dos túbulos renais na reabsorção de sódio e água, levando a um quadro de hipervolemia. O aumento do volume circulante, então, aumenta a pressão hidrostática dos vasos sanguíneos, promovendo edema. A hiperlipidemia é uma resposta à proteinúria. A redução dos níveis de pressão oncótica estimula a proteção de lipoproteínas pelos hepatócitos por um mecanismo desconhecido. Nota-se um aumento acentuado do colesterol circulante, em especial das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) A hipercoagulabilidade se relaciona, também, à proteinúria, posto que ela promove o predomínio de fatores pró-coagulantes em detrimento dos fibrinolíticos. São perceptíveis o aumento dos níveis de fatores V, VII e VIII, hiperfibrinognemia, redução dos níveis de antitrombina III e proteína S, dentre outros. Nota-se, também, um aumento do número de plaquetas e de sua agregação. ACHADOS CLÍNICOS A principal manifestação clínica da síndrome nefrótica é o edema, o qual pode progredir para anasarca e derrames cavitários. Pode haver ainda queixa de urina espumosa, expressão clínica da proteinúria importanteFadiga e perda de massa muscular estão comumente presentes, mas esta última deve ser sempre um sinal de alerta, principalmente em idosos, pois algumas doenças que levam à síndrome nefrótica podem estar associadas a neoplasias. Em diversas doenças, a síndrome nefrótica é acompanhada de hipertensão arterial. Com a exceção de lesões mínimas, todas as outras formas de síndrome nefrótica podem cursar com hematúria microscópica. Os principais quadros clínicosrelacionados á síndrome nefrótica são: podocitopatias (glomeruloesclerose segmentar e focal – GESF –, doença de lesão mínima – DLM – e outras), glomerulopatia membranosa e glomerulonefrite membranoproliferativa. Podocitopatias (DLM e GESF) As podocitopatias são aquelas que afetam o complexo podócito-membrana de fenda. Podem ser oriundas da ordem genética, ambiental ou idiopática. Elas decorrem de alterações da permeabilidade do glomérulo à albumina, levando à proteinúria. Outras manifestações vistas são a dislipidemia, o edema e a hipertensão arterial. DLM se caracteriza pela redução da carga negativa da barreira de filtração glomerular. Ela pode ser idiopática ou genética, estando associada a infecções respiratórias, neoplasias e medicamentos (AINEs e lítio). Achados possíveis são edema de MMII com cacifo, fácies nefrótica, hipertensão (30% dos casos) e hematúria microscópica (20%). A glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) é uma das principais causas de síndrome nefrótica, sendo uma das formas mais comuns de glomerulopatias entre adultos (20 a 25%). Acomete mais a população da cor negra. Pode ser idiopática ou genética. Um paciente com GESF apresenta frequentemente, além de proteinúria e edema, hipertensão e hematúria (apesar de não ser uma manifestação nefrótica), evoluindo com perda de função renal. Nefropatia membranosa (NM) A NM é a principal glomerulopatia nefrótica que acomete a população da cor branca, do sexo masculina e da faixa etária entre 45 e 50 anos. Ela é predominantemente de caráter idiopático (60 a 80% dos casos), mas pode ocorrer em associação a quadros de infecções (notoriamente sífilis, HBV e HCV), LES, medicações (sais de ouro) e certos tumores sólidos. Clinicamente, a proteinúria da NM varia de 5 a 10 g/dia. Manifestações comuns incluem disfunção renal, hipertensão arterial e hematúria microscópica (principalmente em crianças). Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) A GNMP se caracteriza por alteração da capacidade proliferativa mesangial com inflamação da alça capilar. Apesar de poder se manifestar como síndrome nefrítica, a forma nefrótica é amplamente mais comum. Achados comuns são proteinúria assintomática, hipertensão arterial (95% dos casos) e redução da TFG (40 a 60% dos pacientes). EXAMES COMPLEMENTARES Para estabelecer o diagnóstico de síndrome nefrótica, são necessários os seguintes exames: Análise do sedimento urinário: para avaliação de hematúria e cilindrúria; Proteinúria de 24 horas: pode-se estimá-la por meio da relação entre a proteinúria de amostra isolada sobre a creatinina urinária da mesma amostra; Dosagem de colesterol total e frações; Albumina sérica: preferencialmente por meio da eletroforese de proteínas, pois, desta forma já se avalia também a presença de pico monoclonal de gamaglobulinas Para que se possa estabelecer a etiologia da síndrome nefrótica, outros exames podem ser necessários: exames de função renal: creatinina, ureia, clearance de creatinina; exame de fundo de olho: na suspeita de nefropatia diabética, este exame é essencial; dosagem de complemento sérico (frações C3 e C4): permite diferenciar a síndrome nefrótica em dois grandes grupos: as glomerulopatias normocomplementêmicas (doença de lesões mínimas, GESF, glomerulonefrite membranosa idiopática e as doenças de depósito, como DM, amiloidose etc.) e as glomerulopatias hipocomplementêmicas (glomerulonefrite membranoproliferativa, glomerulonefrite crioglobulinêmica e as diversas apresentações de nefrite lúpica), que consomem C3 e C4 Índice de seletividade: apesar de não ser um exame diagnóstico, pode sugerir a etiologia da síndrome (p.ex., habitualmente, a permeabilidade para imunoglobulinas é baixa em relação à de albumina na doença de lesões mínimas, enquanto o contrário ocorre em glomerulopatia membranosa). Há também trabalhos que sugerem que o índice de seletividade possa ser utilizado como um parâmetro de gravidade e resposta terapêutica na glomerulopatia membranosa. Ultrassonografia renal: principalmente para avaliação de tamanho e ecogenicidade dos rins, além de espessura da córtex renal, informações que podem mostrar se o quadro renal tende a ser agudo ou crônico. Além disso, sabe-se que os rins de nefropatia diabética e de amiloidose, por exemplo, mesmo que crônicos e hiperecogênicos, podem ter tamanho normal. Deve-se saber, no entanto, que rins nefróticos são discretamente mais ecogênicos que rins normais.); Ecodopplercardiograma: importante em casos de HAS, DM, amiloidose etc.; Biópsia renal: é necessária na maioria dos casos de síndrome nefrótica para elucidação diagnóstica. O diagnóstico exclusivamente clínico da síndrome nefrótica em adultos determina um percentual não desprezível de erro diagnóstico e, por esse motivo, a biópsia renal tornou-se imprescindível nas abordagens diagnósticas e terapêuticas. As principais lesões histológicas que cursam com síndrome nefrótica são: glomerulopatia de lesões mínimas; glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF); glomerulopatia membranosa; glomeruloesclerose nodular; glomerulonefrites membranoproliferativas; nefropatia da IgA (comumente manifestadas por síndrome nefrítica-nefrótica); glomerulonefrite fibrilar ou imunotactoide Tais padrões histopatológicos podem corresponder tanto a doenças primárias renais quanto a doenças sistêmicas. TRATAMENTO Qualquer que seja a origem da síndrome nefrótica, é possível adotar uma série de medidas clínicas que contribuem para a redução da proteinúria e para melhor conservação cardiovascular e renal do paciente. Medidas gerais clínicas e antiproteinúricas: Controle rigoroso da pressão arterial, sobrepeso, glicemia, dislipidemia e hiperuricemia; Uso cauteloso de diuréticos se anasarca intensa; Inibidor de enzima de conversão da angiotensina II (iECA), associado ou não a bloqueador de receptor AT1 da angiotensina II (BRA). Em grande parte das causas de síndrome nefrótica, deve-se instituir terapia imunossupressora como parte do tratamento. Assim sendo, alguns cuidados são necessários antes de iniciar a terapia. O uso crônico de corticoides pode levar a aumento da pressão arterial, ganho de peso e aumento de glicemia. Ao se instituir tratamento com tal classe de medicação, é preciso estar atento para o controle dessas variáveis. Deve-se, ainda, atentar para o risco aumentado de sangramento digestivo com o uso de corticoides, sendo indicada a introdução de medicação gastroprotetora ao início do tratamento. A ciclosporina (CsA) é uma droga imunossupressora muito usada no tratamento de algumas doenças que cursam com síndrome nefrótica. No entanto, ela pode levar a um quadro de nefrotoxicidade importante, caracterizada histologicamente por fibrose em faixas à biópsia renal e perda crônica da função renal. Dessa forma, sempre que for usada, deve ter o seu nível sérico monitorado mensalmente (objetivo: 80 a 150 ng/mL), procurando-se não utilizá-la por mais de 1 ano. Se o tratamento com CsA durar mais de 24 meses, os cuidados com a nefrotoxicidade devem ser redobrados. TÓPICOS IMPORTANTES 1. A síndrome nefrótica é caracterizada por proteinúria superior a 3,5 g/1,73 m2/dia, edema, hipoalbuminemia e dislipidemia. Apresenta como complicações clínicas frequentes manifestações tromboembólicas, infecções e desnutrição. 2. Além dos exames diagnósticos pertinentes, a biópsia renal é necessária quase universalmente na investigação diagnóstica da síndrome nefrótica. O diagnóstico deve ser preciso, uma vez que a abordagem terapêutica e o prognóstico renal diferem muito entre os diferentes tipos de glomerulopatias. 3. A biópsia renal não é necessáriaquando há indícios claros de nefropatia diabética. Por outro lado, se o diagnóstico clínico/laboratorial for duvidoso, a biópsia deve ser feita. 4. Além do tratamento específico, o tratamento da síndrome nefrótica inclui controle rigoroso da pressão arterial, uso de iECA e/ou BRA, tratamento de dislipidemia e obesidade. A realização de anticoagulação plena durante o surto nefrótico é controversa, mas deve ser considerada principalmente nos casos nos quais não há remissão da síndrome nefrótica. 5. O tratamento da maioria das doenças glomerulares é feito com drogas imunossupressoras, como corticoide, ciclosporina, ciclofosfamida, clorambucil e plasmaférese. Assim, o emprego destes medicamentos requer conhecimento e prática, de forma a assegurar o tratamento e minimizar os efeitos colaterais e toxicidade. SÍNDROME NEFRÍTICA X SÍNDROME NEFRÓTICA As síndromes Nefrítica e nefrótica são duas grandes entidades da nefrologia, agrupando um enorme número de doenças e tipos de lesão renal. Anatomia Básica do glomérulo: O glomérulo é uma estrutura complexa que tem a função de filtrar o sangue que chega ao rim, evitando que certas moléculas, como as proteínas e as hemácias, sejam perdidas pela filtração. A composição dessa barreira é feita por três estruturas cruciais: o endotélio capilar, a membrana basal e o epitélio visceral. Perceba que o endotélio do capilar glomerular é fenestrado, para permitir a passagem do filtrado, a membrana basal por sua vez é uma estrutura contínua, que envolve quase todo o capilar, isso mesmo, ‘’ quase todo’’! Perceba que em sua porção central os capilares estão unidos um ao outro pelo mesângio, um tecido que não permite a filtração e funciona como sustentação para as alças. A terceira e não menos importante estrutura é o epitélio visceral, que também possui fenestrações e pequenas estruturas chamadas podócitos, que são uma barreira mecânica e também elétrica, repelindo proteínas de carga negativa. Quando essas barreiras são quebradas, teremos a presença de elementos anormais no sedimento urinário, originando a proteinúria e hematúria, que são encontradas nas síndromes que vamos tratar agora. Síndrome Nefrítica: As glomerulonefrites são processos infecciosos agudos que acometem o glomérulo, acarretando retenção de sódio pela dificuldade de excreção. Essa retenção pode levar ao edema e a hipertensão. Ocorre também ruptura e lesão de pequenas alças capilares, a barreira de filtração perde sua integridade, fazendo com que possam surgir na urina proteínas e hemácias. O quadro caracterizado por Hipertensão, edema, hematúria e proteinúria é o que chamamos de Síndrome Nefrítica! Ao passar pelos capilares fenestrados, as hemácias são “rasgadas” e sofrem deformações, adquirindo um aspecto dismórfico, aumentando o índice de dismorfismo eritrocitário. Isso quer dizer que a hematúria provavelmente é de origem glomerular, repare que o mesmo não ocorreria com outras causas de hematúria, como os cálculos. A proteinúria na síndrome nefrítica costuma ser de moderada intensidade, geralmente, não ultrapassando 3g, entretanto, pode servir como parâmetro de evolução, tendendo a desaparecer conforme a melhora do quadro. Já a hematúria, principal marcador clínico, pode permanecer ainda que o quadro tenha resolução, visto que é mais complexo reconstruir as alças rompidas. Uma causa comum é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, e o paciente pode relatar episódio prévio de amigdalite bacteriana. Clinicamente, o paciente pode apresentar colúria, e o edema é de moderada intensidade, + a ++, poupando face. Síndrome Nefrótica: Quando a perda de proteínas é maior que 3500mg por dia chamamos de proteinúria maciça. Essa perda exagerada supera a capacidade de síntese hepática, ocorrendo então hipoalbuminenia. A hipoalbuminemia, por sua vez, leva a um edema generalizado. A perda da integridade da barreira na síndrome nefrótica é drástica. O fígado, na tentativa de recuperar essa perda, aumenta a síntese de proteínas, dentre elas as lipoproteínas, culminando em hipercolesterolemia. O quadro de edema generalizado, hipoalbuminemia, proteinúria maciça e hipercolesterolemia é o que chamamos de síndrome nefrótica. A Síndrome nefrótica não é uma entidade única, mas sim um distúrbio associado a uma série de causas e condições diversas, que vão desde lesões primárias a secundárias, e até mesmo lesões visíveis apenas à microscopia eletrônica. Repare que aqui não temos a presença da hematúria como marcador principal, pois quando está presente, geralmente é microscópica. Clinicamente, o edema da síndrome nefrótica é mais acentuado que o edema presente na nefrítica, acometendo inclusive a face, caracterizando a fácies renal. A urina pode se apresentar espumosa, devido ao excesso de proteínas. Além disso, tende a acometer com mais frequência a faixa etária pediátrica, com a primeira manifestação dos 1 aos 8 anos 6. MECANISMO DE AÇÃO GERAL DOS CORTICOIDES E SEUS EFEITOS ADVERSOS Os fármacos corticoides são miméticos dos hormônios corticosteroides. Estes hormônios são produzidos pelo corpo no córtex da glândula suprarrenal, sendo divididos em glicocorticoides e mineralocorticoides. Os glicocorticoides ou corticoides: Os corticoides exercem importante papel na regulação fisiológica e adaptação às situações de estresse, modulação das respostas de defesa (sistema imune) e metabólicas. Em relação hormônio glicocorticoide, este é regulada através do ajuste do eixo hipotalâmico-hipofisário- adrenal (HPA), influenciado por fatores como o ritmo circadiano, o estresse e o feedback negativo. MECANISMOS DE AÇÃO O principal mecanismo de ação anti-inflamatória dos corticoides é o bloqueio duplo da cascata do ácido araquidônico, por meio da indução da lipocortina, que age inibindo a fosfolipase A2 e da inibição das COXs, que possuem papel crucial na mediação da inflamação ao produzir prostaglandinas e prostaciclinas. Também inibem a síntese e liberação de TNF-α, interleucinas de 1 a 8, interferon γ e a ativação de células T por citocinas. Possuem efeito inibidor da função de fibroblastos, com menor produção de colágeno e glicosaminoglicanos e certa redução na cicatrização e reparo. Além disso, agem nas células sanguíneas, reduzindo o número de macrófagos, eosinófilos e linfócitos e suas ações. Aumentam a quantidade de neutrófilos por recrutamento, redistribuindo seu pool, contudo, sem influência significativa na síntese de anticorpos. Após serem absorvidos, a maioria dos glicocorticoides são transportados ligados a proteínas plasmáticas, em especial a globulina de ligação de corticoides (CBG) e à albumina, sendo inativos biologicamente quando associados, entrando nas células por difusão. Os corticoides possuem também ações metabólicas no organismo dos indivíduos: Carboidratos: reduz a captação e utilização da glicose. Aumenta a gliconeogênese; Proteínas: aumento do catabolismo e redução do anabolismo; Lipídios: efeito permissivo sobre os hormônios lipolíticos e redistribuição da gordura (Síndrome de Cushing). CONTRAINDICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS DOS CORTICOIDES Os corticoides são contraindicados em pacientes com infecções fúngicas sistêmicas ou hipersensibilidade à corticosteroides. Como os corticosteroides têm ações sistêmicas, seu uso inadvertido pode causar efeitos adversos variados, sendo normalmente dose-dependentes. Alguns efeitos são indesejáveis com o uso de corticoide (Adulto) Osteoporose, com consequente risco de fraturas, devido a supressão da absorção intestinal de cálcio; Síndrome de Cushing iatrogênica; Aumento da incidência de cataratas/glaucoma para predispostos geneticamente; Hiperglicemia com possibilidade de desenvolvimento de diabetes; Supressão da resposta
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