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Centro Universitário de Brasília - UniCEUB Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas – FATECS Curso: Engenharia Civil GABRIELLA DE REZENDE VALE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA GDE EM ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO PARA AUXILIAR NA TOMADA DE DECISÃO PARA RECUPERAÇÃO DE UM RESERVATÓRIO – ESTUDO DE CASO Brasília 2020 GABRIELLA DE REZENDE VALE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA GDE EM ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO PARA AUXILIAR NA TOMADA DE DECISÃO PARA RECUPERAÇÃO DE UM RESERVATÓRIO – ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas – FATECS do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB como parte dos requisitos para a obtenção de título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientadora: Profa. MSc Gabriela de A. D. Bahia Brasília 2020 GABRIELLA DE REZENDE VALE APLICAÇÃO DA METODOLOGIA GDE EM ESTRUTURA DE CONCRETO ARMADO PARA AUXILIAR NA TOMADA DE DECISÃO PARA RECUPERAÇÃO DE UM RESERVATÓRIO – ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas – FATECS do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB como parte dos requisitos para a obtenção de título de Bacharel em Engenharia Civil. Brasília, 02 de dezembro de 2020. Banca Examinadora ____________________________________ Profa. MSc Gabriela de A. Duboc. Bahia Orientadora Centro Universitário de Brasília - UniCEUB ____________________________________ Profº. MSc Nielsen José Dias Alves Examinador Interno Centro Universitário de Brasília - UniCEUB ____________________________________ Enga Civil Edlamar da Silva Júnior Examinador externo AGRADECIMENTO Aos meus avós Paulo e Janete, e minha bisavó Nair, que me apoiaram e incentivaram ao longo dessa graduação. Agradeço aos meus pais, Clariciele e Sérgio, irmãos (Giovanna, Emanuel e Pedro), em especial a minha madrinha Maristela e tios que me apoiaram nos momentos difíceis. Ao meu namorado Marcos Vinícius que sempre me incentivou e ajudou na realização deste trabalho. Aos meus amigos Douglas, Nathália, e Murilo que sempre me ajudaram e fizeram parte dessa caminhada acadêmica. Meus agradecimentos a Prof. (a) M.Sc. Erika Regina, por ter me ajudado na escolha do tema deste trabalho e sempre me ajudar quando precisei. A todos os professores de Engenharia Civil do UniCEUB, campus de Taguatinga, que fizeram parte dessa jornada de alguma forma. Agradeço a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, Caesb, pelo fornecimento das informações para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico. Um agradecimento especial a minha orientadora Prof. (a) M.Sc. Gabriela de Athayde Duboc Bahia pela sua paciência e por me auxiliar na elaboração desse trabalho. Agradeço a todos que me ajudaram e me apoiaram de alguma forma durante essa graduação. Aos meus avós Janete e Paulo, a minha bisavó Nair (in memoriam) agradeço o apoio e incentivo ao longo de todos esses anos. RESUMO Esse trabalho tem como objetivo avaliar o grau de deterioração do reservatório apoiado no Plano Piloto com a capacidade de armazenamento de 60.000 m³. A partir de um laudo de inspeção visual, contendo análises por meio da metodologia GDE, e alternativas de recuperação apresentadas pela CAESB, foi realizado um novo estudo de forma a agrupar, de forma resumida, as informações obtidas através da aplicação da metodologia GDE e, a partir dela, apontar as principais medidas de recuperação da estrutura tomadas pela CAESB. Como resultados da aplicação da metodologia, baseado nas anomalias identificadas, foi possível obter o grau de deterioração da estrutura com o valor de 123, classificado como crítico, necessitando de intervenção imediata. Baseado na identificação das manifestações patológicas, foram apresentadas alternativas de recuperação do reservatório para que o mesmo retome as condições de funcionamento e durabilidade do concreto. Palavras-chave: Manifestações patológicas. Deterioração. Reservatório. Recuperação. ABSTRACT This research aims to assess the scale of deterioration of the reservoir in the town of Plano Piloto with 60,000 m³ of storage capacity. From a visual inspection report, containing analyses by the GDE methodology and recovery alternatives presented by CAESB (Environmental Sanitation Company of the Federal District), a new study was conducted to summarize the information obtained through the application of the GDE methodology and, from it, to point out the major measures of recovery of the structure taken by CAESB. As a result of the application of the methodology, based on the identified anomalies, it was possible to obtain the degree of deterioration of the structure with the value of 123, classified as critical, requiring immediate intervention. On the basis of the identification of pathological manifestations, alternatives were presented for the recovery of the reservoir in order to return it to the working conditions and durability of the concrete. Key Words: Pathological manifestations. Deterioration. Reservoir. Recovery. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Esquema da composição do concreto .......... Erro! Indicador não definido. Figura 2 – Componentes que formam a reação álcalis agregadoErro! Indicador não definido. Figura 3 – Detalhe da reação álcali-agregado: a seta indica a borda de reação circundando o agregado graúdo ................................................................................ 16 Figura 4 – Desenvolvimento da reação álcalis-agregado no concreto ...................... 16 Figura 5 – Deterioração por ataque de sulfatos ........................................................ 18 Figura 6 – Eflorescência devido à lixiviação do Ca(OH)2 ......................................... 19 Figura 7 – Deterioração por ataque da água do mar ................................................. 20 Figura 8 – Efeito da umidade do ar no grau de carbonatação e no teor de umidade dos poros, respectivamente ............................................................................................. 22 Figura 9 – Medição da espessura carbonatada ........................................................ 24 Figura 10 – Agentes físicos de deterioração do concreto ......................................... 25 Figura 11 – Desgaste superfícial por abrasão ........................................................... 26 Figura 12 – Desgaste devido a ação abrasiva da água ............................................ 27 Figura 13 – Utilização de sais para degelo em cidades de baixa temperatura ......... 29 Figura 14 – Deterioração de uma rodovia devido a utlização de sais para derreter o gelo ........................................................................................................................... 29 Figura 15 – Cristalização dos sais presentes na água em um reservatório de concreto armado ...................................................................................................................... 31 Figura 16 – Formação da semipilha no concreto armado ......................................... 32 Figura 17- Tipos de corrosão em uma barra em meio ao concreto ........................... 33 Figura 18 – Corrosão uniforme .................................................................................. 33 Figura 19 – Corrosão por pite.................................................................................... 33 Figura 20 – Fluxograma para avaliação quantitativa da estrutura (Castro,1994 – modificado) ................................................................................................................ 35 Figura 21 – Fator de intensidade do dano (Fi) x Grau do dano (D) ........................... 38 Figura 22 – Limpeza de superfícies por aplicação de jatos de areia ......................... 45 Figura 23 – Profundidade de remoção de parte do concreto .................................... 46 Figura 24 – Limpeza com escova de aço .................................................................. 47 Figura 25 – Apicoamento mecânico .......................................................................... 48 Figura 26 – Apicoamento manual .............................................................................. 48 Figura 27 – Reparo de uma fissura por costura ........................................................ 50 Figura 28 – Reforço por adição de chapas metálicas ............................................... 52 Figura 29 – Reforço utilizando concreto projetado .................................................... 53 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 Figura 30 – Pilares reforçados com o sistema PCRF ................................................ 54 Figura 31 – Vista panorâmica do reservatório apoiado do Plano Piloto .................... 54 Figura 32 – Representação das câmaras do reservatório ......................................... 55 Figura 33 – Vista 3D do reservatório apoiado do Plano Piloto .................................. 55 Figura 34 – Detalhe do pilar com proteção mecânica em estágio de desagregação .................................................................................................................................. 61 Figura 35 – Detalhe da parede com proteção mecânica em estágio de desagregação .................................................................................................................................. 61 Figura 36 – Vista da laje interna que apresenta corrosão e baixo cobrimento .......... 62 Figura 37 – Vista da laje interna que apresenta corrosão e baixo cobrimento .......... 62 Figura 38 – Detalhe da disgregação ......................................................................... 63 Figura 39 – Vista da proteção da cobertura C1/C2 ................................................... 64 Figura 40 – Vista da proteção da cobertura C3/C4 ................................................... 65 Figura 41 – Vista da lixiviação na parede externa ..................................................... 65 Figura 42 – Detalhe da corrosão nas tubulações do abrigo de válvula ..................... 66 Figura 43 – Detalhe do desplacamento e estado de conservação da junta do piso . 67 Figura 44 – Detalhe de junta elastomérica do reservatório C3 apresentando perda da elasticidade. E fissuras no elementos em contato com a mesma ............................. 67 Figura 45 – Detalhe da fissuração da alvenaria e laje beiral ..................................... 68 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 file:///C:/Users/Gabriela/Documents/CURSOS/GRADUAÇÃO%20CEUB/MONOGRAFIAS/MONOGRAFIA/TCC%20MODELO.docx%23_Toc48931643 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Principais fatores que condicionam a velocidade de penetração da frente de carbonatação ........................................................................................................ 22 Quadro 2 – Classes de agressividade ambiental ...................................................... 23 Quadro 3 – Correspondência entre classe de agressividade e espessura do cobrimento................................................................................................................. 24 Quadro 4 – Relação da divisão das famílias ............................................................. 37 Quadro 5 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 38 Quadro 6 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 39 Quadro 7 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 39 Quadro 8 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 40 Quadro 9 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 40 Quadro 10 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp) .................................................................................................................................. 41 Quadro 11 – Fator de intensidade do dano (Fi) ......................................................... 41 Quadro 12 – Classificação dos níveis de deterioração do elemento pela metodologia GDE .......................................................................................................................... 44 Quadro 13 – Fator de relevância estrutural da família (Fr) ........................................ 46 Quadro 14 – Classificação dos níveis de deterioração da estrutura (Gd), adaptado por Fonseca (2007) ......................................................................................................... 47 Quadro 15 – Principais características do reservatório ............................................. 60 Quadro 16 – Fator de intensidade a partir do tipo de manifestação patológica......... 64 Quadro 17 – Características da alternativa 1 ............................................................ 81 Quadro 18 – Características da alternativa 2 ............................................................ 81 Quadro 19 – Características da alternativa .............................................................. 82 Quadro 20 – Características da alternativa 1 ............................................................ 83 Quadro 21 – Características da alternativa 2 ............................................................ 84 Quadro 22 – Características da alternativa 3 ............................................................ 84 Quadro 23 – Características da alternativa 1 ............................................................ 85 Quadro 24 – Características da alternativa 2 ............................................................ 86 Quadro 25 – Características da alternativa .............................................................. 86 Quadro 26 – Características da alternativa .............................................................. 87 Quadro 27 – Características da alternativa .............................................................. 87 Quadro 28 – Características da alternativa .............................................................. 88 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Análise percentual das causasde problemas patológicos em estruturas de concreto .................................................................................................................... 13 Tabela 2 - Fatores de ponderação utilizados para o reservatório ............................ 64 Tabela 3 – Grau de deterioração das câmaras C1 e C2 ........................................... 75 Tabela 4 - Grau de deterioração das câmaras C1 e C2 ............................................ 75 Tabela 5 - Grau de deterioração das câmaras C1 e C2 ............................................ 75 Tabela 6 - Grau de deterioração das câmaras C1 e C2 ........................................... 76 Tabela 7 - Grau de deterioração das câmaras C1 e C2 ............................................ 76 Tabela 8 - Grau de deterioração das câmaras C3 e C4 ............................................ 77 Tabela 9 - Grau de deterioração das câmaras C3 e C4 .......................................... 77 Tabela 10 - Grau de deterioração das câmaras C3 e C4 .......................................... 77 Tabela 11 - Grau de deterioração das câmaras C3 e C4 .......................................... 78 Tabela 12 - Grau de deterioração das câmaras C3 e C4 .......................................... 78 Tabela 13 – Grau de deterioração de uma família de elementos (Gdf) ..................... 79 Tabela 14 – Grau de deterioração da estrutura......................................................... 79 LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas DF Distrito Federal CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal Fi Fp Fr Fator de intensidade do dano Fator de ponderação do dano Fator de relevância estrutural Gd Grau de deterioração da estrutura Gde Grau de deterioração do elemento Gdf Grau de deterioração da família de elementos k Número de famílias de elementos que existem na edificação m Número de danos detectados no elemento n Número de elementos da família com Gde>15 NBR Norma Brasileira Regulamentadora UniCEUB Centro Universitário de Brasília cm Centímetro m Metro PRFC Polímero reforçado com fibra de carbono CAD Concreto de alto desempenho RAA Reação álcalis-agregados LISTA DE SÍMBOLOS 𝐶𝑂2 Dióxido de carbono 𝑁𝑎2𝑆𝑂4 Sulfato de sódio 𝐾2𝑆𝑂4 Sulfato de potássio 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 Hidróxido de cálcio 𝐶3𝐴 Aluminato tricálcico CaO Óxido de cálcio Ca𝐶𝑂3 Carbonato de cálcio 𝐻2𝑂 Água SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 1.1 OBJETIVO .................................................................................................... 9 1.1.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 9 1.1.2 Objetivo específicos .............................................................................. 9 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 10 2.1 Concreto ..................................................................................................... 10 2.1.1 Características do concreto ............................................................... 10 2.1.2 Processo Executivo ............................................................................. 11 2.2 Manifestações patológicas no concreto .................................................. 11 2.2.1 Deficiência de concretagem ............................................................... 13 2.2.2 Causas químicas de deterioração em estruturas de concreto armado 14 a) Reação álcalis-agregado ........................................................................... 15 b) Deterioração pela ação de ácidos ......................................................... 17 c) Deterioração por ataque de sulfatos ........................................................ 17 d) Deterioração pela hidratação dos componentes do cimento – MgO e CaO 18 e) Deterioração pelo ataque de água ............................................................ 19 f) Deterioração por carbonatação ................................................................ 20 g) Ações biológicas .................................................................................... 24 2.2.3 Causas físicas de deterioração em estruturas de concreto armado 25 a) Abrasão ....................................................................................................... 25 b) Erosão ...................................................................................................... 26 c) Cavitação .................................................................................................... 27 d) Fissuração ............................................................................................... 28 e) Ação do gelo-degelo .................................................................................. 28 f) Deterioração pela ação do fogo ................................................................ 29 g) Cristalização de sais nos poros do concreto ....................................... 30 2.2.4 Corrosão em estruturas de concreto armado ................................... 31 2.3 Metodologia GDE/UnB ............................................................................... 34 2.3.1 Divisão dos Elementos em Famílias .................................................. 36 2.3.2 Verificação do Fator de Ponderação de um dano (𝑭𝒑) ..................... 37 2.3.3 Verificação do fator de intensidade do dano (𝑭𝒊) ............................. 40 2.3.4 Verificação do grau do dano (D) ......................................................... 40 2.3.5 Grau de deterioração do elemento (𝑮𝒅𝒆) ........................................... 43 2.3.6 Grau de deterioração de uma família de elementos (𝑮𝒅𝒇) ............... 44 2.3.7 Fator de relevância estrutural da família (𝑭𝒓) ................................... 44 2.3.8 Grau de deterioração da estrutura (𝑮𝒅) ............................................. 45 2.4 Recuperação e reforço de estruturas de concreto.................................. 46 2.4.1 Intervenções em superfícies de concreto ......................................... 47 2.4.2 Tratamento de fissuras ....................................................................... 52 2.4.3 Reforço de estruturas de concreto armado ...................................... 54 a) Reforço com adição de armaduras........................................................... 54 b) Adição de chapas e perfis metálicos .................................................... 55 c) Reforço de pilares por meio de encamisamento com concreto de alto desempenho (CAD) .......................................................................................... 56 d) Reforço de pilares com polímeros reforçados com fibra de carbono (PRFC)................................................................................................................ 57 2.5 Caracterização do local de estudo ........................................................... 59 3 METODOLOGIA ................................................................................................. 61 4 ANÁLISE E RESULTADOS ............................................................................... 66 4.1 Anomalias identificadas na inspeção visual ........................................... 66 4.1.1 Segregação do concreto ..................................................................... 66 4.1.2 Corrosão de armadura por ataque de cloretos ................................. 67 4.1.3 Disgregação do concreto .................................................................... 69 4.1.4 Sistema de impermeabilização ...........................................................69 4.1.5 Lixiviação do concreto ........................................................................ 71 4.1.6 Tubulações e conexões ...................................................................... 72 4.1.7 Juntas de dilatação ..................................................................................... 72 4.1.8 Fissuras na laje beiral e alvenaria do reservatório C3/C4 ....................... 73 4.2 Aplicação da metodologia GDE/UnB ........................................................ 74 4.2.1 Câmaras C1 e C2 – Grau de deterioração ................................................. 74 4.2.2 Alternativas de recuperação propostas pela Caesb ......................... 79 4.2.3 Recuperação das paredes internas ................................................... 80 4.2.4 Recuperação dos pilares .................................................................... 82 4.2.5 Recuperação das vigas e laje interna ................................................ 82 4.2.6 Recuperação da laje de cobertura (face externa) ............................. 83 4.2.7 Recuperação das paredes (face externa) .......................................... 85 4.2.8 Proteção do sistema de ventilação das câmaras C3/C4 .................. 86 4.2.9 Tratamento das tubulações e conexões que apresentam corrosão 87 4.2.10 Tratamento das juntas de dilatação ................................................ 87 4.2.11 Tratamento de fissuras .................................................................... 87 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 91 8 1 INTRODUÇÃO O concreto, como material de construção, pode apresentar suas propriedades físicas e químicas alteradas ao longo do tempo devido aos processos de deterioração das estruturas. Este fato decorre da influência das características do meio ambiente e do próprio desempenho da peça estrutural. Após a conclusão de uma edificação ou instalação de um material, existe um período, o qual denomina-se vida útil de uma estrutura, durante o qual uma estrutura ou qualquer de seus componentes satisfazem os requisitos de desempenho do projeto sem intervenções significativas (SOUZA E RIPPER, 1998). A vida útil do material está diretamente ligada à durabilidade, onde a durabilidade é baseada em características como a agressividade ambiental, desempenho da estrutura e tempo, ou seja, vida útil exigida. De acordo com a norma NBR 15575/2013, durabilidade é a capacidade da edificação de desempenhar suas funções ao longo do tempo sob condições de uso e manutenção especificada. O crescimento acelerado das construções tem corroborado para o aparecimento de novos riscos de deterioração precoce nas estruturas de concreto, comprometendo seu desempenho e tornando-o insatisfatório para a finalidade proposta. Em reservatórios de concreto armado as manifestações patológicas mais incidentes são as corrosões das armaduras, trincas, fissuras, infiltrações e a deterioração do concreto por presença de cloreto ou carbonatação. Essas manifestações patológicas são alusivas à agressividade da localização e da idade do reservatório, sendo agravada pela falta de manutenção, diminuindo assim, a vida útil da estrutura. Dessa forma, para avaliar o grau de degradação das estruturas (GDE) de concreto armado tem-se a Metodologia GDE/UnB, também conhecida por PECC/UnB que permite realizar uma avaliação quantitativa do grau de deterioração de estruturas de concreto, analisando e quantificando as manifestações dos danos e suas evoluções, possibilitando definir priorização para realização de manutenções e recuperação na estrutura. 9 Sendo assim, este trabalho apresenta o intuito de identificar e avaliar as manifestações patológicas de um reservatório apoiado situado no Plano Piloto, Distrito Federal. Tal avaliação da estrutura foi motivada pela necessidade da recuperação estrutural existente devida à falta de manutenção. 1.1 OBJETIVO Neste capítulo serão abordados os objetivos gerais e específicos da realização deste trabalho. 1.1.1 Objetivo Geral Avaliar o grau de deterioração da estrutura de um reservatório apoiado situado no Plano Piloto, Distrito Federal, por meio da metodologia GDE com o intuito de apresentar as alternativas para sua recuperação a partir do estudo das manifestações patológicas das estruturas de concreto armado. 1.1.2 Objetivo específicos • Identificar as manifestações patológicas mais recorrentes em estruturas de concreto armado. • Identificar o nível de deterioração da estrutura utilizando a metodologia GDE. • Analisar os dados obtidos através de inspeção visual da estrutura, ensaios e inspeção de conservação realizados no reservatório apoiado do Plano Piloto. • Discorrer das técnicas usuais de recuperação e reforço de estruturas de concreto. 10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo serão abordadas as fundamentações técnicas e teóricas que servirão de suporte para a realização deste trabalho. 2.1 Concreto 2.1.1 Características do concreto O concreto é um material composto por cimento, água, agregado miúdo (areia) e agregado graúdo (pedra ou brita) podendo conter adições e aditivos químicos com objetivo de alterar ou melhorar suas características básicas (CARVALHO E FILHO, 2014). A Figura 1 representa o conjunto de materiais que formam o concreto. Figura 1 – Esquema da composição do concreto Fonte: Autor (2020) O concreto é um material muito utilizado na construção civil devido a suas características como versatilidade, facilidade na sua produção e é um elemento que pode ser moldado em diferentes formatos, além disso, ele apresenta uma elevada resistência a compressão. Porém, devido à baixa resistência à tração, ele é utilizado associado ao aço, que possui uma boa aderência, permitindo que o concreto trabalhe com o aço como uma única peça e melhora a resistência à tração do concreto (CARVALHO E FILHO, 2014). Além da utilização do aço, para melhorar a resistência do concreto, segundo os mesmos autores, são incorporados produtos químicos ou outros 11 componentes, como microsílica, polímeros, entre outros produtos no concreto com a finalidade de melhorar algumas propriedades como o aumento da trabalhabilidade do concreto e sua resistência, e retardo da velocidade das reações químicas que ocorrem no concreto. Fusco e Onishi (2017), alegam que é perigoso a aplicação de aditivos que possuem cloretos em sua composição, para acelerar o endurecimento do concreto, pois pode ser prejudicial a estrutura, podendo atacar as armaduras. 2.1.2 Processo Executivo O concreto em seu estado fresco apresenta uma boa trabalhabilidade e homogeneidade, facilitando seu lançamento. Contudo é fundamental o planejamento e o cuidado na hora da execução para que o concreto endurecido apresente as características determinadas em projeto e possa desempenhar a sua função para qual foi concebido. De acordo com a norma NBR 14931/2004, o concreto deve ser lançado e adensado de modo que a armadura e os componentes embutidos, previstos no projeto, sejam devidamente envolvidos na massa de concreto. Deve-se tomar precauções para manter a homogeneidade do concreto, podendo haver segregação decorrente do transporte. O adensamento é uma etapa importante na fabricação do concreto e na moldagem da estrutura, interferindo significativamente em suas características finais já que ele que faz com que os espaços vazios da forma sejam preenchidos, sem haver segregação dos seus materiais componentes (CARVALHO E FILHO, 2014). Após o adensamento, inicia-se o processo de pega, que segundo Neville (2016), é o processo de solidificação ou enrijecimento da pasta de cimento, ou seja, a mudança do estado fluído para rígido. Em seguida é feita a cura do concretocom o intuito de diminuir os efeitos da evaporação prematura da água na estrutura concretada, fator que interfere na qualidade e durabilidade da estrutura. 2.2 Manifestações patológicas no concreto O concreto pode apresentar manifestações patológicas por falha na concepção, execução ou utilização inadequada da estrutura. 12 De acordo com Souza e Ripper (1998), como material de construção, o concreto é instável ao longo do tempo, tendo suas propriedades químicas e físicas alteradas em função dos atributos de seus componentes e de suas reações com o meio ambiente. O surgimento de problemas patológicos em uma estrutura indica, de modo geral, falhas durante a execução em uma das etapas de construção, podendo ter também falhas no sistema de controle de qualidade (SOUZA E RIPPER, 1998). A Tabela 1 apresenta o percentual das causas de problemas patológicos encontrado em estruturas de concreto. Tabela 1 – Análise percentual das causas de problemas patológicos em estruturas de concreto. CAUSAS DOS PROBLEMAS PATOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO Fonte De Pesquisa Concepção e Projeto Materiais Execução Utilização e Outras Edward Grunau Paulo Helene (1992) 44 18 28 10 D.E.Allen (Canadá) (1979) 55 49 49 49 C.S.TC. (Bélgica) Verçoza (1991) 46 15 22 17 C.E.B. Boletim 157 (1982) 50 40 40 10 Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado Verçoza (1991) 18 6 52 24 B.R.E.A.S (Reino Unido) (1972) 58 12 35 11 Fonte: Souza e Ripper (1998), modificado pelo Autor 13 Tabela 1b – Análise percentual das causas de problemas patológicos em estruturas de concreto. (continuação) CAUSAS DOS PROBLEMAS PATOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO Bureau Securitas (1972) 88 88 88 12 E.N.R (U.S.A.) (1960-1970) 9 6 75 10 S.I.A (Suiça) (1979) 46 44 10 Dov Kaminetzky (1991) 51 40 40 16 Jean Blévot (França) (1974) 35 65 I..E.M.I.T. (Venezuela) (1965-1975) 19 5 57 19 Fonte: Souza e Ripper (1998), modificado pelo Autor Analisando o Quadro 1, pode-se perceber que a maioria dos autores consideram que o aparecimento de manifestações patológicas se dá na etapa de concepção e projeto. Ainda assim, é bastante comum existirem problemas patológicos com sua origem na escolha de materiais de baixa qualidade, falha na execução e na utilização da estrutura. Dentre os problemas patológicos mais recorrentes em estruturas de concreto armado tem-se: deficiência de concretagem, deterioração do concreto por causas químicas e físicas, e corrosão das armaduras. 2.2.1 Deficiência de concretagem O problema na concretagem não se dá apenas no momento de lançamento do concreto. A falha no transporte, ou seja, a demora na entrega do concreto na obra também pode gerar anomalias. Esse fato se deve a demora na entrega, proporcionando grandes intervalos de tempo entre a concretagem de uma camada de concreto e a anterior, provocando 14 a criação de juntas de concretagem não previstas, formando superfícies suscetíveis a concentração de tensões e perda de aderência. A falha no lançamento e adensamento pode provocar a segregação entre o agregado graúdo e a argamassa, formando ninhos de concretagem (SANTOS, 2014). Porém, destaca-se que atualmente existem os concretos denominados autoadensáveis, não sendo necessário o adensamento para o concreto se tornar mais homogêneo. Esse tipo de concreto atinge essa característica devido a incorporação de aditivos superplastificantes que reduzem o volume de água do concreto, tornando- o mais fluído e resistente (CARVALHO E FILHO, 2014). Segundo Ribeiro et al. (2018), a adição de água para aumentar a trabalhabilidade concreto afetaria a relação água/cimento, diminuindo a resistência e aumentando sua porosidade. A relação água cimento é alusiva a quantidade e tamanho dos poros do concreto endurecido. Quanto maior a relação água cimento, maior será a porosidade e a permeabilidade do concreto, facilitando a penetração de dióxido de carbono (𝐶𝑂2) para o interior do material, possibilitando a corrosão das armaduras (SANTOS, 2014). Após a concretagem é importante que seja feito o adensamento corretamente, pois diminui o número de vazios, bolhas de ar e excesso de água do interior da peça, o que melhora a aderência do concreto com as fôrmas e ferragens. Esse processo deve ser realizado imediatamente após o lançamento do concreto, facilitando a acomodação dos agregados enquanto ainda está fresco. A presença de bolhas de ar no concreto leva a formação de vazios na massa, facilitando a penetração de agentes agressivos e a consequente diminuição da resistência do concreto em seu estado endurecido. 2.2.2 Causas químicas de deterioração em estruturas de concreto armado Para que haja aderência entre o cimento e os agregados, ocorrem reações químicas entre os componentes de hidratação do cimento. Essa interação pode ser negativa ou positiva. Quando positivas, podem contribuir para o aumento da resistência e para maior homogeneidade do concreto. Quando a interação é negativa, pode desenvolver 15 reações químicas expansivas, anulando a coesão do concreto (SOUZA E RIPPER, 1998). A deterioração do concreto por causas químicas também pode acontecer por reações de troca entre um agente agressivo do ambiente e componentes da pasta de cimento endurecida. Em geral, os processos de deterioração do concreto ocorrida por reações químicas podem ser devido a agentes agressivos do meio ambiente ou reação entre os constituintes da pasta de cimento. a) Reação álcalis-agregado É um processo de deterioração que não ocorre devido aos agentes agressivos do ambiente, mas pela reação entre os constituintes da pasta de cimento (RIBEIRO ET AL., 2018). Resulta na reação química dos álcalis do cimento com a sílica reativa de alguns agregados, gerando uma reação física expansiva (FUSCO E ONISHI, 2017). A Figura 2 mostra os componentes que contribuem para a reação álcalis-agregados (RAA). Figura 2 – Componentes que formam a reação álcalis agregado Fonte: Alves (2020) 16 De acordo com Ribeiro et al. (2018), essa reação ocorre devido a presença de umidade no ambiente, que favorece a formação de produtos expansivos que degradam o concreto. Tal reação se dá pela formação do gel sílico-alcalino que ocorre caso os agregados contenham significativa fração de sílica reativa, que em contato com sulfato de sódio (𝑁𝑎2𝑆𝑂4) e de potássio (𝐾2𝑆𝑂4), presentes na pasta de cimento que reagem em contato com a água capilar (FUSCO E ONISHI, 2017). Segundo Ribeiro et al. (2018), a pressão hidráulica formada pode ser capaz de causar a expansão e fissuração das partículas do agregado afetadas ou até da pasta de cimento em volta do agregado. As Figuras 3 e 4 mostram como ocorre a reação álcalis-agregado em uma estrutura de concreto armado e um esquema dessa reação na estrutura. Figura 3 – Detalhe da reação álcali-agregado: a seta indica a borda de reação circundando o agregado graúdo. Fonte: Figuerôa e Andrade (2007) 17 Figura 4 – Desenvolvimento da reação álcalis-agregado no concreto Fonte: Souza e Ripper (1998) b) Deterioração pela ação de ácidos O concreto sofre deterioração quando exposto a soluções ácidas devido a composição da pasta de cimento. Os ácidos reagem com o hidróxido de cálcio 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 da pasta de cimento, produzindo água e sais de cálcio, sofrendo lixiviação, se solúveis, melhorando a permeabilidade e a porosidade da pasta. No entanto, concretos de baixa permeabilidade, quando expostos à ação de ácidos fracos conseguem resistir (SANTOS, 2014).O ataque por ácidos é mais propício com valores de pH menores, em torno de 6,5, não existindo ensaios normatizados para a determinação de resistência aos ácidos. Somente o valor do pH não é suficiente para indicar o potencial do ataque, a presença de 𝐶𝑂2 , a temperatura e a pressão aumentam a intensidade do ataque (GUABIROBA, 2012). c) Deterioração por ataque de sulfatos Sua presença é comum em áreas de indústrias químicas ou áreas de operação de minas. O ataque por sulfato tem ação expansiva que gera tensões no concreto capaz de fissurá-lo, podendo estar presente nos agregados, na água de amassamento ou no próprio cimento. 18 O sulfato reage com o aluminato tricálcico 𝐶3𝐴, composto do cimento, formando a etringita, que fixa moléculas de água, ocupando um volume maior, provocando o aparecimento de tensões que causam deterioração do concreto (NEVILLE, 2013). O ataque por sulfato, Figura 5, causa uma perda progressiva de resistência e de massa, devido ao problema na coesão dos produtos de hidratação do cimento. Para Fusco e Onishi (2017), pode-se evitar essa reação utilizando cimentos com baixo teor de 𝐶3𝐴 ou reduzindo o fator água/cimento, diminuindo a permeabilidade do concreto e consequentemente aumentando sua resistência. Não se deve eliminar totalmente a quantidade de 𝐶3𝐴 pois ele protege as armaduras do ataque de íons cloreto. Figura 5 – Deterioração por ataque de sulfatos Fonte: Alves (2020) d) Deterioração pela hidratação dos componentes do cimento – MgO e CaO Alguns componentes do cimento podem ser expansivos, como o óxido de magnésio (MgO) que é capaz de expandir na forma de pericálcio, hidratando lentamente após o endurecimento do cimento. O óxido de cálcio (CaO) e óxido de magnésio causam expansão no concreto, se presente em grandes quantidades, fissurando a peça devido ao aumento de seu volume (SOUZA E RIPPER, 1998). 19 e) Deterioração pelo ataque de água De acordo com Santos (2014), a água é um agente muito agressivo quando se trata de concreto, podendo agir por água pura, contendo baixa ou nenhuma concentração de íon de cálcio ou água contento sal (água do mar). A água pura age no concreto através da lixiviação/hidrólise de componentes da pasta do cimento endurecido quando em contato com o cimento. O hidróxido de cálcio 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 é um dos componentes do concreto, solúvel em águas puras e sensível a eletrólise, favorecendo a ocorrência da lixiviação (GUABIROBA, 2012). Para Ferreira (2016), a lixiviação é uma reação entre os íons de cálcio com o dióxido de carbono (𝐶𝑂2), presente na atmosfera, formando o aparecimento de crostas brancas de carbonato de cálcio na superfície do concreto, o que gera eflorescências mediante ao processo de lixiviação, que também pode causar a perda de resistência mecânica do concreto. Na dissolução do hidróxido de cálcio, ocorre uma diminuição do pH do concreto devido a sua grande quantidade, correspondente a 20 a 25% do volume sólido. Quanto maior for a concentração de hidróxido de cálcio, que corresponde a reserva alcalina, por mais tempo o concreto manterá seu pH superior a 9, aumentando o risco de surgimento de eflorescência (ALVES, 2020). A Figura 6 apresenta o aparecimento de eflorescência devido à lixiviação em um vertedouro. Figura 6 – Eflorescência devido à lixiviação do Ca(OH)2 Fonte: Alves (2020) 20 A deterioração em ambientes marinhos é bem maior pela penetração externa de sais (sulfatos, cloretos), onde os íons cloreto podem causar a corrosão das armaduras e os íons sulfatos acarretam fissuração e perda progressiva de resistência e de massa do concreto. Os cimentos mais apropriados para estruturas em contato com a água do mar são os de alto-forno e os pozolânicos, pois possuem menos hidróxido de cálcio nos produtos de hidratação (SANTOS, 2014). Na Figura 7 pode-se observar que o processo de degradação da estrutura ocorre pela presença dos íons na água do mar que reage com o oxigênio, ou seja, para ocorrer a reação que causa deterioração pela água do mar é necessário que a região afetada também tenha contato com o oxigênio. Contudo, estruturas de concreto armado totalmente submersas não sofrem esse tipo de reação, pois a quantidade de oxigênio da água não é suficiente para reagir com os íons da água do mar. Figura 7 – Deterioração por ataque da água do mar Fonte: Alves (2020) f) Deterioração por carbonatação A carbonatação do concreto, segundo Souza e Ripper (1998), resulta da reação entre o dióxido de carbono (𝐶𝑂2) com o cimento hidratado, formando o carbonato de cálcio (Ca𝐶𝑂3), consequentemente reduzindo o pH do concreto a valores inferiores a 9. A reação da carbonatação pode ser representada pela Equação 1: 21 𝐶𝑂2 + (𝐶𝑎(𝑂𝐻)2) → Ca𝐶𝑂3 + 𝐻2𝑂 (1) A carbonatação do concreto se torna mais fácil quando sua espessura de cobrimento é baixa, o que facilita a penetração de agentes agressivos. Pouca quantidade de cimento, ciclos de umedecimento e secagem e perda de hidróxido de cálcio também propiciam a velocidade da carbonatação (RIBEIRO ET. AL, 2018). Para Santos (2014), outro fator que facilita a carbonatação é a elevada relação água/cimento, que torna o concreto mais poroso, fazendo com que a alta concentração de 𝐶𝑂2 aumente a velocidade da carbonatação. Nessa reação, o hidróxido de cálcio (𝐶𝑎(𝑂𝐻)2) se transforma em carbonato de cálcio (Ca𝐶𝑂3), diminuindo o valor do pH, atingindo a película passiva causando a corrosão das armaduras (FUSCO E ONISHI, 2017). A característica do concreto e as condições em que está exposto determinam o avanço da frente de carbonatação conforme apresentado no Quadro 1. Quadro 1 – Principais fatores que condicionam a velocidade de penetração da frente de carbonatação. FATORES FATORES CONDICIONANTES CARACTERÍSTICAS INFLUENCIADAS Condições de exposição Concentração de CO2 Mecanismo físico-químico Velocidade de carbonatação Umidade relativa do ar Grau de saturação dos poros Velocidade de carbonatação Temperatura Velocidade de carbonatação Características do concreto Composição química do cimento - Composição do clínquer - Teor de adições Porosidade da pasta carbonatada Reserva alcalina Traço Porosidade Qualidade de execução - Defeitos - Cuidados com a cura Porosidade Grau de Hidratação Fonte: Ribeiro et. Al (2014), modificado pelo Autor. 22 A umidade relativa do ar é um fator relevante na difusão do 𝐶𝑂2, pois é ela quem vai determinar a umidade nos poros do concreto, conforme apresenta a Figura 8. De acordo com Fusco e Onishi (2017), caso a peça de concreto não esteja totalmente submersa em água, as partes expostas ao ar sofrerão a ação do gás carbônico (𝐶𝑂2 ), fazendo com que ele chegue aos poros úmidos que possuem hidróxido de cálcio, gerando a reação de carbonatação. Figura 8– Efeito da umidade do ar no grau de carbonatação e no teor de umidade dos poros, respectivamente. Fonte: Ribeiro et. al (2014) A partir das condições de exposição do concreto é importante observar se as suas características atendem às necessidades da estrutura para resistir a agressividade do meio ambiente. Conforme a norma NBR 6118/2004 a agressividade do meio ambiente é alusiva às ações químicas e físicas que agem sobre as estruturas de concreto, dessa forma, classifica-se de acordo com as condições de exposição da estrutura apresentado no Quadro 2. 23 Quadro 2 – Classes de agressividade ambiental Fonte:ABNT NBR 6118:2004 Os agentes agressivos do ambiente, ao penetrar na peça de concreto, têm o primeiro contato pelo cobrimento, sendo sua espessura muito importante para proteção contra a carbonatação. Na falta de ensaios que comprovem o desempenho da estrutura ao ser submetido a determinado nível de agressividade, baseando-se na relação água cimento, resistência à compressão e sua durabilidade, é permitido adotar requisitos normatizados. Através da norma NBR 6118 (ABNT, 2004), expresso no Quadro 3, determina-se a espessura do cobrimento, baseado na classe de agressividade do quadro anterior. Quadro 3 – Correspondência entre classe de agressividade e espessura do cobrimento Fonte: ABNT NBR 6118:2004 24 Santos (2014) afirma que para diminuir a porosidade e a permeabilidade do concreto, minimizando as reações químicas que o prejudicam, é importante ter um bom tempo de cura, aumentando o grau de hidratação do cimento e consequentemente diminuindo os efeitos da carbonatação no concreto. Pode-se observar a área que sofreu carbonatação através de indicadores de pH a base de fenolftaleína. Sendo um indicador que muda de coloração quando em contato com substâncias de pH básico. A cor carmim indica região alcalina, sem carbonatação com pH próximo de 12, e a ausência de cor, representa a região carbonatada, com pH inferior a 9. Logo, ao se borrifar o indicador sobre o concreto é possível observar a profundidade da frente de carbonatação possibilitando averiguar se esta já atingiu a armadura, conforme apresenta a Figura 9. Figura 9 – Medição da espessura carbonatada Fonte: Caesb (2017) g) Ações biológicas Segundo Souza e Ripper (1998), um dos agentes biológicos que podem causar deterioração de desagregação do concreto é o crescimento de vegetação nas estruturas, onde as raízes entram através das pequenas falhas de concretagem ou por fissuras e juntas de dilatação. 25 Pode ocorrer mudanças nas propriedades do material, pela ação de microrganismos, levando a produção de ácidos, gerando uma dissolução dos compostos hidratados do cimento, interferindo na estética da estrutura, reduzindo sua durabilidade e comprometendo sua integridade. Essa deterioração é comum em túneis e galerias de esgoto essa, pois são ambientes com pH baixo e com alto índice de agressividade a estruturas de concreto. 2.2.3 Causas físicas de deterioração em estruturas de concreto armado As principais causas físicas de deterioração do concreto têm relação com a mudança de volume, exposição a variações de temperatura ou efeitos dos carregamentos estruturais, conforme apresentado no esquema das principais causas físicas de deterioração do concreto, Figura 10. Figura 10 – Agentes físicos de deterioração do concreto Fonte: Metha e Monteiro (1994) a) Abrasão A abrasão refere-se ao desgaste de pavimentos devido à perda gradual e continuada da argamassa superficial e de agregados, em determinada área, devido ao atrito ou mecanismo de fricção, oriundo do tráfego de veículos, pessoas ou a ação do vento (RIBEIRO ET. AL, 2018). 26 De acordo com os referidos autores, o mecanismo de deterioração superficial inicia-se por meio do desprendimento dos componentes do concreto de menor resistência e baixa capacidade de aderência. Refere-se, sobretudo, do desprendimento do hidróxido de cálcio que é um dos compostos da pasta de cimento hidratada, sendo ainda mais incidente quando a cura do concreto é deficiente ou inexistente. O desprendimento do Ca(OH)2 ocorre na fase inicial no decurso de perda de material, tornando a pasta mais suscetível ao desgaste, devido a maior porosidade e fissuras pré-existentes na superfície, o que causa uma distribuição não uniforme dos esforços mecânicos gerados pela ação abrasiva. A Figura 11 apresenta o desgaste superficial de uma estrutura. Figura 11 – Desgaste superficial por abrasão. Fonte: https://meumaterialsite.files.wordpress.com/2017/01/ap5-sintomatologia.pdf b) Erosão Para Trindade (2015), a erosão é o desgaste devido a ação abrasiva de fluídos contendo partículas sólidas em suspensão. As partículas em suspensão podem ser cascalho, areia, gelo flutuante etc. O desgaste do concreto também pode ocorrer pelo meio de colisão, escorregamento ou rolamento (RIBEIRO ET. AL, 2018). 27 A pasta de cimento, quando endurecida, possui baixa resistência ao atrito, facilitando o desgaste superficial no concreto, principalmente se a estrutura apresentar alta porosidade, baixa resistência ou um agregado que não resiste ao desgaste. Esse tipo de desgaste é muito comum em canais, vertedouros ou tubulação de concreto que transporta água ou esgoto devido a passagem de fluídos pela superfície constantemente. A Figura 12 mostra uma estrutura que sofreu erosão devido ao efeito resultado da ação abrasiva da água. Figura 12 – Desgaste devido a ação abrasiva da água. Fonte: Alves (2020) c) Cavitação A cavitação é causada pelo impacto de fluídos na superfície do concreto, ocorrendo o surgimento de irregularidades na peça, sendo um tipo de deterioração muito frequente em estruturas hidráulicas. O fluxo não linear de fluídos, devido ao desalinhamento da superfície e alterações abruptas da declividade, quando ultrapassam 12 m/s ou 7 m/s em condutos fechados, é capaz de provocar danos ao concreto (TRINDADE, 2015) Em zonas de baixa ou alta pressão que ocorre o escoamento de líquidos, formam-se bolhas de vapor que são arrastadas para outra zona em que a pressão do fluído é maior que a pressão do vapor causando a implosão dessas bolhas, podendo levar ao colapso da estrutura (FUSCO E ONISHI, 2018). 28 O que difere o desgaste através da cavitação e pela erosão é que na primeira o concreto apresenta irregularidade e um aspecto corroído, já na erosão o desgaste é regular devido aos sólidos em suspensão. d) Fissuração As fissuras são as manifestações patológicas mais conhecidas, pois têm a ocorrência mais comum em estruturas de concreto e podem ser identificadas por leigos, proprietários ou usuários de que algo na estrutura não está correto. Cada fissura tem sua própria característica dependendo de sua origem, intensidade e magnitude, elas podem se dar por falhas de projeto, contração plástica do concreto, movimentação das fôrmas de escoramento, retração do concreto ou deficiência na execução. A fissuração do concreto tem como uma de suas causas a desagregação, podendo ser devido a reações químicas que causam expansão das barras de aço devido a corrosão, resultando em um acelerado processo de desagregação da estrutura, entre outras causas (SOUZA E RIPPER,1998). e) Ação do gelo-degelo O gelo-degelo é uma ação que necessita uma certa atenção quanto à durabilidade do concreto em regiões de frio elevado. De acordo com Neville (2013), durante baixas temperaturas, a água que se encontra nos poros do concreto congela e tem seu volume aumentado cerca de 9%, produzindo tensões na matriz da pasta de cimento, provocando fissuras ou lascamento do concreto, causando sua desagregação. Para Lapa (2008), a temperatura de congelamento tem influência pelo diâmetro dos poros pois o congelamento começa nos polos capilares, de maior diâmetro, e se expande aos poros menores. Podemos considerar também a presença de sais de degelo, como os cloretos de cálcio e de sódio, que agravam a deterioração da estrutura em função dos mecanismos de corrosão das armaduras. Esses sais, tendem a preservar a água e aumentar o teor de umidade no concreto, progredindo os efeitos de congelamento (RIBEIRO ET AL., 2018). As 29 Figuras 13 e 14 mostram o uso de sais para degelo em regiões com baixa temperatura, favorecendo o agravamento da deterioração da estrutura. Figura 13 – Utilização de sais para degelo em cidades de baixa temperaturaFonte: Alves (2020) Figura 14 – Deterioração de uma rodovia devido a utilização de sais para derreter o gelo Fonte: Alves (2020) f) Deterioração pela ação do fogo Segundo Santos (2014), por motivo de sua baixa reação ao fogo e baixa condutividade térmica, o concreto apresenta poucos efeitos devido ao incêndio nas 30 partes externas da estrutura, que estão em contato direto com o fogo, pois propagam o calor lentamente para o interior. É importante ressaltar que o concreto não é resistente ao fogo, mas apresenta boas propriedades quando submetido à altas temperaturas, preservando seu desempenho estrutural por determinado período (NEVILLE, 2016). Para Ribeiro et al. (2018), o concreto pode sofrer fissuração em razão das tensões induzidas pela deformação de componentes da pasta de cimento e por transformações expansivas devido a reações pelo contato com o fogo. No caso do concreto armado, o fogo pode prejudicar a resistência à tração das armaduras. Em estruturas de aço, o contato com o fogo na superfície da estrutura é direto, diferente das estruturas de concreto armado que são protegidas pelo cobrimento do concreto que diminui a ação do fogo e controla o aumento da temperatura. Devido à alta condutibilidade do aço, sua resistência é comprometida quando atinge temperaturas superiores a 500 °C (GUABIROBA, 2012). g) Cristalização de sais nos poros do concreto Um dos tipos de desgaste físico é a cristalização de sais nos poros do concreto devido a formação de tensões internas. Esse tipo de deterioração é muito comum em ambientes salinos, onde a cristalização se dá devido ao efeito de evaporação da água, que contém sal em sua composição, seguido do depósito de sais nos poros da estrutura (RIBEIRO ET. AL, 2018). Segundo Santos (2014), os sais que se encontram nos poros da estrutura produzem tensões internas, geram fissuração e favorecem o ataque de agentes agressivos assim como o próprio sal presente nos poros da estrutura. A Figura 15 mostra um reservatório visto internamente, que ao ser esvaziado, notou-se a cristalização dos sais que estão presentes na água. 31 Figura 15 – Cristalização dos sais presentes na água em um reservatório de concreto armado Fonte: Alves (2004) 2.2.4 Corrosão em estruturas de concreto armado De acordo com Ribeiro et al. (2018), entende-se como corrosão o processo de deterioração do material em razão de uma ação química ou eletroquímica do meio ambiente, ocasionando uma perda de massa do material. No caso do concreto armado, refere-se à destruição da película passiva que envolve a superfície da barra de aço pelos íons cloreto na presença de água e oxigênio, provocando a corrosão (NEVILLE, 2016). Para Fusco e Onishi (2017), a corrosão da armadura pode ser evitada pela alta alcalinidade e pelo nível alto do pH do concreto, pois ajuda a proteger a armadura e favorece a formação da película passiva. Essa proteção só é possível caso o concreto preserve sua boa qualidade e não sofra deterioração dos agentes agressivos externos, pois eles facilitam a entrada de agentes químicos que penetram na superfície e alcançam a armadura, causando grandes danos a estrutura. Segundo Neville (2016), a corrosão do aço é dada por um processo eletroquímico, gerado por um potencial elétrico, na presença de um eletrólito, que pode ser a solução aquosa presente no concreto quando ele está em contato com um condutor metálico, como a sua própria armadura. 32 O autor também afirma que quando os átomos de ferro passam para a superfície aquosa, eles se transformam em cátions de ferro (Fe ++), com o consequente abandono da barra de aço à carga negativa, gerando uma diferença de potencial. Esse efeito é semelhante ao processo que ocorre nas pilhas. Conforme representado na Figura 15, em que a corrosão ocorre pela geração de uma corrente elétrica do ânodo para o cátodo, e do cátodo para o ânodo pela diferença de potencial. A combinação do cátion ferro (Fe++) com os ânions (𝑂𝐻)− , resulta no hidróxido ferroso, que gera uma cor amarela, colocado no ânodo. Já no cátodo, deposita-se o hidróxido férrico, que apresenta cor avermelhada. Os dois produtos citados formam a ferrugem, que evidencia com mais clareza a corrosão do aço (SOUZA E RIPPER, 1998). Conforme mostram as Figuras 16, 17 e 18 a corrosão da armadura pode ser apresentada de maneira uniforme, ao longo da superfície da barra, concentrada em um ponto específico ou por tensão fraturante. De acordo com Santos (2014), um dos tipos de corrosão é a por tensão fraturante, que ocorre quando a armadura é submetida a grandes esforços podendo sofrer fratura e posteriormente o lascamento do cobrimento, favorecendo a penetração de agentes agressivos. O autor também cita a corrosão generalizada que ocorre de forma uniforme devido a perda da película passiva, efeito da frente de carbonatação no concreto ou quantidade excessiva de cloretos. Souza e Ripper (1998), mencionam a corrosão por pite, que é um tipo de corrosão localizada, ela ocorre devido a formação de pontos de corrosão na superfície da armadura, podendo evoluir e se aprofundar, causando ruptura pontual na barra. 33 Figura 16 – Formação da semipilha no concreto armado Fonte: Souza e Ripper (1998) Figura 17 – Tipos de corrosão em uma barra em meio ao concreto Fonte: Alves (2020) 34 Figura 18 – Corrosão uniforme Figura 19 – Corrosão por pite Fonte: Alves (2020) Fonte: Alves (2020) 2.3 Metodologia GDE/UnB A metodologia GDE/UnB pretende avaliar o grau de degradação das estruturas (GDE) de concreto armado, permitindo a realização de uma avaliação quantitativa do grau de deterioração de estruturas de concreto, investigando e estimando as manifestações dos danos e suas evoluções. Através dela é possível definir o tipo de manutenção ou recuperação na estrutura a ser realizada. A referida metodologia foi desenvolvida com base na dissertação de mestrado de Castro (1994) que foi modificada por Boldo (2002), Verly (2015), Euqueres (2011), Lopes (1998) e Fonseca (2007). Castro (1994), baseou-se na metodologia desenvolvida por Klein et al (1991), que seria utilizada para realizar um processo de vistoria em pontes e viadutos para realizar manutenções periódicas. Devido a facilidade de adaptação dos parâmetros aplicados a outros tipos de estrutura, levando em consideração a particularidade de cada uma, havia a necessidade de se aplicar a metodologia por mais vezes (VERLY, 2015). De acordo com a metodologia, dividem-se as obras em famílias de elementos, em seguida é realizada a inspeção visual na estrutura, onde anota-se em um caderno de inspeção as características gerais e manifestações patológicas mais comuns dos elementos de cada família, onde deve-se atribuir um grau para cada manifestação observada (CASTRO, 1994). 35 Conforme expresso na Figura 20, a metodologia GDE/UnB consiste na divisão de família de elementos tipos, sendo definidos em: pilares, vigas, lajes, cortinas, escadas e rampas, reservatório superior, reservatório inferior, blocos de fundação, juntas de dilatação e elementos de composição arquitetônica. Figura 20 – Fluxograma da metodologia para o cálculo do Grau de Deterioração da Estrutura Fonte: Castro (1994) Segundo Castro (1994), para cada elemento de uma família verifica-se o fator de ponderação de um dano ( 𝐹𝑝), fator pré-fixado que se refere às condições gerais de estética, funcionalidade e segurança dos elementos de uma família, visando quantificar a relativa importância de um dano, tendo em vista as manifestações patológicas que nele podem ser detectadas. Logo em seguida,atribui-se um fator de intensidade ( 𝐹𝑖 ), que busca classificar a gravidade de uma manifestação patológica em um determinado elemento, o qual está sendo avaliado, utilizando uma escala de 0 a 4. 36 Verly (2015) instrui que após a determinação dos fatores, calcula-se o grau do dano, representado pela letra “D”, a partir do fator de ponderação ( 𝐹𝑝 ), e o respectivo fator de intensidade ( 𝐹𝑖). O grau de deterioração do elemento (𝐺𝑑𝑒 ) e o grau de deterioração da família de elementos (𝐺𝑑𝑓 ) são calculados a partir de fórmulas matemáticas pré- estabelecidas para cada grau de deterioração. Após serem feitos todos os cálculos, introduz-se o fator de relevância estrutural da família (𝐹𝑟) e por fim calcula-se o grau de deterioração da estrutura (𝐺𝑑) (CASTRO, 1994). 2.3.1 Divisão dos Elementos em Famílias Nessa etapa, Castro (1994), sugere que os elementos sejam reunidos de acordo com suas características estruturais próprias e sua função estrutural no conjunto. Verly (2015) cita que os elementos que compõem a mesma família são tratados igualmente, não sendo uma divisão consolidada, visto que, cada estrutura possui uma importância estrutural diferente e sistemas estruturais únicos. O Quadro 4 é um exemplo de divisão das famílias proposto por Castro (1994). Quadro 4 – Relação da divisão das famílias. FAMÍLIA 1 Pilares 2 Vigas 3 Lajes 4 Cortinas 5 Escadas e rampas 6 Reservatório superior e inferior 7 Blocos 8 Juntas de dilatação 9 Elementos de composição arquitetônica Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor. 37 2.3.2 Verificação do Fator de Ponderação de um dano (𝑭𝒑) O fator de ponderação ( 𝑭𝒑), para Castro (1994), possui a finalidade de avaliar as condições de funcionalidade, estética e segurança dos elementos de determinada família, pretendendo estimar a relevância de um dano devido suas manifestações patológicas sofridas. Para a definição desse fator são levados em consideração os problemas mais relevantes quanto à durabilidade e segurança estrutural. Desse modo, foi definido um grau numa escala de 1 a 10 para determinação do 𝑭𝒑 , para cada manifestação patológica, em função da família de elementos (BOLDO, 2002). Sendo assim, uma manifestação patológica pode ter fatores de ponderação diferentes, de acordo com as características de onde o elemento se insere. Castro (1994), sugeriu valores que podem ser utilizados no fator de ponderação, apresentados nos Quadros 5,6,7,8,9 e 10. Quadro 5 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) PILAR Danos Fp Desvio de geometria 8 Recalque 10 Infiltração na base 6 Segregação 6 Lixiviação 5 Esfoliação 8 Desagregação 7 Sinais de esmagamento 10 Cobrimento deficiente 6 Manchas de corrosão 7 Fissuras 10 Carbonatação 7 Presença de cloretos 10 Manchas 5 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor 38 Quadro 6 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) VIGAS Segregação 4 Lixiviação 5 Esfoliação 8 Desagregação 7 Cobrimento deficiente 6 Manchas de corrosão 7 Flechas 10 Fissuras 10 Carbonatação 7 Infiltração 6 Presença de cloretos 10 Manchas 5 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor Quadro 7 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) LAJE Segregação 5 Lixiviação 3 Esfoliação 8 Desagregação 7 Cobrimento deficiente 6 Manchas de corrosão 7 Flechas 10 Fissuras 10 Carbonatação 7 Infiltração 6 Presença de cloretos 10 Manchas 5 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor 39 Quadro 8 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) Cortinas Sinais de esmagamento 10 Desvio de geometria 6 Infiltração 6 Segregação 5 Lixiviação 5 Esfoliação 8 Desagregação 7 Deslocam. Por empuxo, 10 Cobrimento deficiente 6 Manchas de corrosão 7 Fissuras 10 Carbonatação 7 Presença de cloretos 10 Manchas 5 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor Quadro 9 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) Escadas/Rampas Segregação 4 Lixiviação 5 Esfoliação 8 Desagregação 7 Cobrimento definitivo 6 Manchas de corrosão 7 Flechas 10 Fissuras 10 Carbonatação 7 Infiltração 6 Presença de cloretos 10 Manchas 5 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor 40 Quadro 10 – Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (𝑭𝒑) Reservatórios superior e inferior Impermeabilização danificada 8 Vazamento 10 Segregação 5 Lixiviação 7 Esfoliação 10 Desagregação 7 Cobrimento deficiente 7 Manchas de corrosão 9 Fissuras 10 Carbonatação 7 Presença de cloretos 10 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor 2.3.3 Verificação do fator de intensidade do dano (𝑭𝒊) Diferente do 𝑭𝒑, o fator de intensidade do dano (𝑭𝒊) avalia a gravidade e a evolução do dano isoladamente, independente do elemento estrutural, onde a avaliação varia de 0 a 4 (VERLY, 2015). O 𝑭𝒊 segue uma escala onde 0 classifica uma estrutura sem lesão e 4 o estado crítico de um determinado elemento, tais valores foram sugeridos por Castro (1994) conforme mostra o Quadro 11. Quadro 11 – Fator de intensidade do dano (𝑭𝒊) ELEMENTO SEM LESÕES Fi= 0 ELEMENTO COM LESÕES LEVES Fi= 1 ELEMENTO COM LESÕES TOLERÁVEIS Fi= 2 ELEMENTO COM LESÕES GRAVES Fi= 3 ELEMENTO EM ESTADO CRÍTICO Fi= 4 Fonte: Castro (1994), modificado pelo Autor. 2.3.4 Verificação do grau do dano (D) Verly (2015) cita que para a verificação do grau do dano (D) tem a finalidade de avaliar as manifestações patológicas de cada elemento. Obtendo o Fp e o Fi é possível calcular o valor do grau de dano (D). 41 Originalmente, o modelo de Tuutti (1982) retratava o mecanismo de corrosão em armaduras de concreto, mas também poderia ser utilizado para relatar a deterioração em geral (apud VERLY, 2015). Utilizando-se a analogia feita por Tuutti (1982), a deterioração no interior de uma estrutura passa por três processos citado por BOLDO (2002). O primeiro processo é o período de iniciação, o qual não é apresentado nenhum dano, mas o processo de deterioração está ativo em sua fase inicial (BOLDO, 2002). Logo em seguida, na segunda etapa, pela analogia de Tuutti (1982), se dá o período de propagação, que é o período de desenvolvimento do dano conforme citado por CASTRO (1994). Por último, tem se a vida útil, que é o período que uma estrutura ainda cumpre a função para qual foi projetada dentro dos requisitos técnicos especificados (BOLDO, 2002). Pode-se observar que o tempo é um fator crucial para a aplicação desse modelo, contudo, não é possível saber a idade de todas as estruturas existentes (VERLY, 2015). Castro (1994) apresentou a formulação proposta com a finalidade de calcular o grau de um dano para o máximo 𝑭𝒑 =10 e as fases de iniciação e propagação do dano correspondem a escala de 0 a 4 que se encontram nas abcissas do gráfico, segundo os valores de 𝑭𝒊, expresso na Figura 18. Para o autor, admitem-se valores de 𝑭𝒊 entre 2,5 e 2, indicando lesões toleráveis e do fator 3 em diante, lesões graves. O gráfico representado na Figura 18 determina que o limite máximo do grau do dano D=100 corresponde a 𝑭𝒊 = 4 , apresentando um estado crítico de uma manifestação. 42 Figura 21 – Fator de intensidade do dano (𝑭𝒊) x Grau do dano (D) Fonte: Castro (1994) Dessa forma, Castro (1994), estabelecendo como situação mais desfavorável 𝑭𝒑= 10, expressando o grau do dano pela Equação 2 e 3. D = 4 𝑭𝒊 para 𝑭𝒊 ≤ 2,0 (2) D = 60 𝑭𝒊 - 140para 𝑭𝒊 ≥ 3,0 (3) Para valores de 𝑭𝒑 < 10, calcula-se o grau do dano por meio das Equações 4 e 5 (BOLDO, 2002). D = 4 𝑭𝒊 𝑭𝒑 para 𝑭𝒊 ≤ 2,0 (4) D = (6 𝑭𝒊 – 14) 𝑭𝒑 para 𝑭𝒊 ≥ 3,0 (5) 43 2.3.5 Grau de deterioração do elemento (𝑮𝒅𝒆) Utilizando-se o modelo proposto por Tuutti (1982), a partir da obtenção do grau de dano (D) das manifestações patológicas identificadas no elemento, pode-se calcular o grau de deterioração do elemento (Gde) através das Equações 6 e 7 citado por BOLDO (2002). 𝑮𝒅𝒆 = 𝑫𝒎á𝒙 para m ≤ 2,0 (5) 𝑮𝒅𝒆 = 𝑫𝒎á𝒙 + ∑ 𝐷(𝑖) 𝑚−1 𝑖=1 𝑚−1 para m > 2,0 (6) Onde: 𝐺𝑑𝑒 Grau de deterioração do elemento; 𝐷𝑖 Grau do dano de ordem (i) 𝐷𝑚á𝑥 Maior grau do dano encontrado no elemento m Número de danos encontrados no elemento Castro (1994), afirma que nesta formulação em um elemento com dois danos deve-se considerar o maior. Caso o número de danos seja maior que 2, deve- se somar o dano máximo com a média aritmética dos demais danos (BOLDO, 2002). Ao se obter os valores de 𝑮𝒅𝒆 foram calculados para cada elemento, foram elaborad a partir da aplicação da metodologia a circunstâncias reais, expresso no Quadro 12, providências a serem tomadas em elementos isolados conforme o grau de deterioração obtido. Quadro 12 – Classificação dos níveis de deterioração do elemento pela metodologia GDE NÍVEL DE DETERIORAÇÃO 𝐺𝑑𝑒 AÇÕES A SEREM ADOTADAS Baixo 0-15 Estado aceitável Médio 15-50 Observação periódica e intervenção a médio prazo Alto 50-80 Observação periódica minuciosa e intervenção a curto prazo 44 Crítico > 80 Intervenção imediata para restabelecer funcionalidade e/ou segurança Fonte: Verly (2015), modificado pelo Autor 2.3.6 Grau de deterioração de uma família de elementos (𝑮𝒅𝒇) Avalia-se, através do grau de deterioração de uma família (𝐺𝑑𝒇), o conjunto de elementos referente a uma mesma família, levando em consideração os valores de 𝐺𝑑𝑒 colhidos para cada elemento remetente a família em questão, que pode ser calculado pela Equação 6 (VERLY, 2015). Para Castro (1994), o grau de deterioração de uma família é definido por sua média aritmética, evidenciando os elementos mais deteriorados, considerando como “danos expressivos” quando 𝑮𝒅𝒆 ≥ 15. 𝑮𝒅𝒇 = ∑ 𝐷de(𝑖) 𝑛 𝑖=1 n (7) Onde: 𝐺𝑑𝑓 Grau de deterioração de uma família; 𝐷de(𝑖) Grau de deterioração do elemento de ordem (i); 𝑛 Número de elementos componentes da família com 𝑮𝒅𝒆 ≥ 15. Castro (1994) instrui que a família de elementos que tiver o grau de deterioração 𝐺𝑑𝑒 ≤ 15 , em todos os elementos, deve se considerar o grau de deterioração da família igual a zero. Seguindo as recomendações de Castro (1994), recomenda-se a utilização de valores iguais ou superiores a 15. 2.3.7 Fator de relevância estrutural da família (𝑭𝒓) Em seu trabalho, Castro (1994) utilizou o fator de relevância estrutural da família (𝐅𝐫 ) e considerou a importância relativa das diversas famílias, dividindo a estrutura quanto ao comportamento e desempenho da mesma. Os valores podem ser 45 observados no Quadro 13, que apresentam de forma clara os tipos de elementos com seus respectivos fatores de relevância. Quadro 13 – Fator de relevância estrutural da família (𝑭𝒓) ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA Fr = 1,0 RESERVATÓRIO SUPERIOR Fr = 2,0 ESCADAS/RAMPAS, RES.INFERIOR, CORTINAS, LAJES SECUNDÁRIAS, JUNTAS DE DILATAÇÃO. Fr = 3,0 LAJES, FUNDAÇÕES, VIGAS SECUNDÁRIAS, PILARES SECUNDÁRIOS. Fr = 4,0 VIGAS E PILARES PRINCIPAIS Fr = 5,0 Fonte: Boldo (2002), modificado pelo Autor 2.3.8 Grau de deterioração da estrutura (𝑮𝒅) O grau de deterioração da estrutura é obtido através da Equação 7. Nesta equação os diferentes graus de deterioração das diversas famílias de elementos da edificação são afetados diretamente pelos respectivos fatores de relevância estrutural, capazes de mostrar o quanto a estrutura está deteriorada. 𝑮𝒅 = ∑ (𝑭𝒓 . 𝑮𝒅𝒇,𝒊) 𝑘 𝑖=1 ∑ 𝑭𝒓,𝒊 𝑘 𝑖=1 (8) Onde: k Número de famílias da estrutura; 𝑭𝒓,𝒊 Fator de relevância estrutural da família de ordem “i”; 𝑮𝒅𝒇,𝒊 Grau de deterioração da família de ordem “i”; Castro (1994) afirma a necessidade da análise individual dos elementos e que diante disso pode haver intervenção imediata ou a curto e médio prazo em elementos isolados da estrutura dependendo do fator de intensidade de um dano ou grau de deterioração da estrutura. A partir do valor obtido de 𝑮𝒅 , classifica-se a estrutura em um dos níveis apresentados no Quadro 14. 46 Quadro 14 – Classificação dos níveis de deterioração da estrutura (𝑮𝒅) NÍVEL DE DETERIORAÇÃO 𝑮𝒅 AÇÕES A SEREM ADOTADAS Baixo 0-15 Estado aceitável. Manutenção preventiva Médio 15-50 Definir prazo/natureza para nova inspeção. Planejar intervenção em longo prazo (máximo 2 anos). Alto 50-80 Definir prazo/natureza para inspeção especializada detalhada. Planejar intervenção em médio prazo (máximo 1 ano). Sofrível 80-100 Definir prazo/natureza para inspeção especializada detalhada. Planejar intervenção em curto prazo (máximo 6 meses). Crítico > 100 Inspeção especial emergencial. Planejar intervenção imediata. Fonte: Castro (1994) , modificado pelo Autor 2.4 Recuperação e reforço de estruturas de concreto Em um projeto de recuperação e reforço de estrutura é necessário realizar a avaliação das condições da estrutura, para definir as técnicas adequadas e algumas alternativas, tais como a recuperação da estrutura, o reforço, a limitação de seu uso, ou até, em casos extremos, sua demolição (REIS, 2001). Tendo em vista a diversidade de manifestações patológicas e diferentes probabilidades de ocorrência se torna difícil padronizar o tipo de recuperação para determinado dano. Dentre as várias técnicas de tratamento de superfícies de estruturas de concreto armado mais comuns tem-se o polimento, lavagem, remoção da parte degradada do concreto por corte, escovação manual, apicoamento, tratamento de fissuras, impermeabilização. Para verificação da integridade da estrutura, a capacidade de resistência e condições de deterioração da mesma são realizados ensaios na estrutura em questão para verificar profundidade de carbonatação, presença de cloretos e qualidade do concreto. Além dos ensaios também é feita uma inspeção visual, onde preenche-se uma ficha e em alguns casos são tiradas fotos para registrar todas as manifestações patológicas e facilitar no momento de escolher qual técnica de recuperação será adotada. 47 A origem das anomalias em estruturas de concreto é advinda de fatores, tais como: má concepção do projeto, utilização incorreta de materiais, falhas na execução ou uso incorreto da estrutura (SILVA, 2006). Para prolongar a vida útil da estrutura, os requisitos básicos a serem cumpridos são: a realização do controle de qualidade durante o andamento da obra, utilizar a estrutura para qual foi projetada e manutenção periódica. Para Silva (2006), no caso do reforço de estruturas de concreto armado é feita uma restauração