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livro (3)

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2018
Linguística apLicada à 
Língua EspanhoLa ii
Prof. Wellington Freire Machado
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Wellington Freire Machado
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
M149l
 Machado, Wellington Freire
 
 Linguística aplicada à língua espanhola II. / Wellington Freire Machado – 
Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 212 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0179-5
1.Língua espanhola – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 468.2469 
III
aprEsEntação
Caro acadêmico, é com alegria que apresentamos a você o Livro de 
Estudos de Linguística Aplicada à Língua Espanhola II. A presente obra foi 
elaborada com base no padrão de qualidade estabelecido pela UNIASSELVI 
e se baseia em uma proposta pedagógica que visa o melhor aproveitamento 
do aluno.
Em Linguística Aplicada à Língua Espanhola você foi introduzido a 
aspectos como: vocabulário, teorias, nomes relevantes da área e propostas 
de trabalho, que constituem a pedra angular norteadora do nosso 
desenvolvimento até o presente momento.
Deste ponto em diante, usufruiremos de forma construtiva desse 
alicerce e nos direcionaremos rumo a conteúdos de importância central nesta 
disciplina. Conforme avançarmos através das três unidades que constituem 
este livro, observaremos questões como: a diversidade linguística, os 
níveis de análise linguística, a metodologia, as questões de comunicação, 
a lectoescritura, os conteúdos de base léxico-semântica, as avaliações, a 
mediação do conhecimento e tantos mais.
O nosso itinerário de estudos iniciará por questões gerais da 
Linguística Aplicada, passará por temas e problemas no ensino de Espanhol 
para brasileiros, e terminará com uma abordagem reflexiva sobre os 
conteúdos linguísticos e gramaticais.
Desejamos que você alcance o aproveitamento máximo do 
conhecimento aqui apresentado. Explore com sabedoria e prazer o mundo 
do curso de Letras da UNIASSELVI.
Prof. Wellington Freire Machado
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é 
veterano, há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA ......................................... 1
TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA ...................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 REFLEXÃO SOBRE O MÉTODO ...................................................................................................... 4
3 MÉTODO AUDIOVISUAL ................................................................................................................ 7
4 MÉTODO NATURAL .......................................................................................................................... 8
5 MÉTODO DIRETO .............................................................................................................................. 10
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13
TÓPICO 2 – A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA .......... 15
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LINGUAGEM HUMANA .................................................. 16
3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA ...................................................................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28
TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO .................................................. 29
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 29
2 A AMPLITUDE DO TEMA NO BRASIL ......................................................................................... 30
3 A QUESTÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL: UM PROCESSO HISTÓRICO 
 TURBULENTO ...................................................................................................................................... 34
4 AS LÍNGUAS CO-OFICIAIS NA ESPANHA ................................................................................. 39
5 AS LÍNGUAS INDÍGENAS EM PAÍSES DA AMÉRICA LATINA ............................................ 43
5.1 A DISCRIMINAÇÃO COM FALANTES DE LÍNGUAS INDÍGENAS.................................... 46
5.2 A INFLUÊNCIA DE LÍNGUAS INDÍGENAS NO ESPANHOL AMERICANO .................... 49
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 53
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54
TÓPICO 4 – A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E A RIQUEZA DO IDIOMA ........................... 55
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55
2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL ................................................................................ 55
3 VOSEO .................................................................................................................................................... 57
4 VOCABULÁRIO ................................................................................................................................... 58
5 YEÍSMO .................................................................................................................................................. 60
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 64
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65
UNIDADE 2 – ORALIDADE E LECTOESCRITURA EM ESPANHOL ........................................67
TÓPICO 1 – QUESTÕES LIGADAS À ORALIDADE ..................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69
2 PROCESSOS DE COMPREENSÃO AUDITIVA ............................................................................ 70
sumário
VIII
3 O TRABALHO DA COMPREENSÃO AUDITIVA EM SALA DE AULA ............................... 73
4 TEORIA DOS ATOS DE FALA ....................................................................................................... 75
4.1 PROSÓDIA .................................................................................................................................... 78
4.2 VELOCIDADE DA FALA ............................................................................................................. 80
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 85
TÓPICO 2 – A INTERAÇÃO ORAL .................................................................................................. 91
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 91
2 INTERAÇÃO COMUNICATIVA .................................................................................................... 91
3 A QUESTÃO DA GRAVAÇÃO ........................................................................................................ 95
4 FORMAS DE EXPOSIÇÃO ORAL .................................................................................................. 96
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100
TÓPICO 3 – A LECTOESCRITURA EM ESPANHOL ....................................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 LEITURA INTELIGENTE .................................................................................................................108
3 ESTRATÉGIAS DE LEITURA ..........................................................................................................110
4 HIPERLINK E HIPERTEXTO ...........................................................................................................113
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117
TÓPICO 4 – A PRODUÇÃO DE TEXTOS ........................................................................................121
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121
2 INTERTEXTO, COMPETÊNCIA LEITORA E PRODUÇÃO DE TEXTOS .............................121
3 GÊNEROS TEXTUAIS E PRODUÇÃO ..........................................................................................129
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................134
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................135
UNIDADE 3 – CONTEÚDOS LINGUÍSTICOS, GRAMATICAIS E POSSÍVEIS 
 PROPOSTAS DE TRABALHO.................................................................................139
TÓPICO 1 – CONTEÚDOS DE BASE LÉXICO-SEMÂNTICA ....................................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 A COMPETÊNCIA LÉXICO-SEMÂNTICA E A SUA COMPOSIÇÃO ...................................142
3 ITINERÁRIO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM TIPOS DE UNIDADES LEXICAIS .........145
3.1 TRÊS MODELOS DE ATIVIDADES POSSÍVEIS .........................................................................147
4 PLANIFICAÇÃO LÉXICA .................................................................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154
TÓPICO 2 – O PROFESSOR COMO MEDIADOR DO CONHECIMENTO ............................163
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163
2 PLANIFICAÇÃO DE AULAS ...........................................................................................................164
3 ELABORANDO UM PLANO DE AULA: PASSO A PASSO ......................................................166
3.1 MODELO DE PLANO DE AULA ...............................................................................................169
4 PROGRAMA SINTÉTICO ................................................................................................................174
5 O PROGRAMA ANALÍTICO ..........................................................................................................177
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180
IX
TÓPICO 3 – OS TIPOS DE AVALIAÇÃO EM E/LE ........................................................................187
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................187
2 CORREÇÃO OBJETIVA DE RESPOSTA FECHADA .................................................................188
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................207
X
1
UNIDADE 1
QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA 
APLICADA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de:
• orientar-se por questões de matriz metodológica;
• refletir sobre a questão curricular;
• observar a influência de variadas escolas linguísticas sobre a metodologia;
• conhecer a sociolinguística e métodos, como o comunicativo audiovisual e 
cognitivo;
• reconhecer os níveis de análise linguística;
• refletir sobre o preconceito linguístico e identificar a amplitude do tema no 
Brasil e na América Latina;
• contemplar questões ligadas à diversidade linguística e à riqueza da lín-
gua espanhola, como as distintas variantes.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
TÓPICO 2 – A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE 
LINGUÍSTICA
TÓPICO 3 – A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
TÓPICO4 – A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E A RIQUEZA DO IDIOMA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
1 INTRODUÇÃO
Um dos saberes de maior valor em nossa sociedade é o “Como fazer?” 
A Linguística Aplicada é uma disciplina que se debruça sobre problemas 
empíricos relacionados à linguagem humana. Conforme estudamos na disciplina 
de Linguística Aplicada à Língua Espanhola I, o conhecimento debatido no 
cerne dos estudos linguísticos está sempre mediado por debates calorosos, 
que nos permitem compreender como perspectivas diferentes são capazes de 
proporcionar novas reflexões. 
Você já parou para pensar no quão importante é o conhecimento da 
metodologia? Para que você entenda a dimensão da questão metodológica e 
como isso é importante para você, enquanto professor de Letras/Espanhol, 
abordaremos nos subtópicos seguintes os principais métodos utilizados ao longo 
da história da Linguística Aplicada e o quanto podem ser úteis para o professor – 
seja conjugando-os uns com os outros ou utilizando-os pontualmente.
FIGURA 1 – O TRABALHO COM BLOCOS PARA FORMAÇÃO DE 
PALAVRAS: DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E PERCEPÇÃO DAS 
UNIDADES LINGUÍSTICAS
FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-2293839/?no_redirect>. 
Acesso em: 31 dez. 2017.
Com vistas a facilitar o acesso aos resultados almejados, a escolha de 
uma metodologia de trabalho adequada é fundamental para o professor que 
entende a diversidade de condições possíveis de se encontrar em uma sala de 
aula. Você possivelmente se lembra da etapa de estudo da matemática no Ensino 
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
4
Médio. Você recorda que em algumas operações era possível percorrer caminhos 
distintos para alcançar os mesmos resultados? Para nós, metaforicamente, esses 
caminhos distintos podem ser o modo de trabalho (o método) que adotamos para 
alcançar determinado objetivo (ensinar a língua). Conforme você perceberá nas 
unidades seguintes, a decisão pela forma de trabalho adequada estará presente 
em praticamente todas as nossas escolhas.
2 REFLEXÃO SOBRE O MÉTODO
De acordo com Richards e Rodgers (1998), o método constitui um 
conjunto de procedimentos que determina a proposta de trabalho, os conteúdos, 
os direcionamentos, as técnicas, o modo de executar atividades e também a 
correlação entre três elementos fundamentais: o professor, a didática e o aluno. A 
proposta dos autores gira em torno de três eixos principais: o enfoque escolhido 
pelo professor, o projeto de trabalho e os procedimentos adotados. Em instância 
última estes três pressupostos conjugados constituem o que os autores entendem 
por método.
Método
ProjetoEnfoque Procedimentos
De acordo com Richards e Rodgers (1998), no nível do projeto são indicados 
os propósitos específicos, a seleção e a organização das atividades de ensino e 
aprendizagem, assim como a organização da tríade professor-aluno-didática. Já no 
nível dos procedimentos são incluídos as técnicas concretas, as práticas cotidianas 
e os comportamentos do professor e dos alunos (como eles vão se desenvolver em 
jogos pedagógicos, por exemplo). De acordo com o Instituto Cervantes (1997-
2018, s.p.), elaborar um projeto pressupõe “trasladar la filosofía del currículo a 
un plan detallado de enseñanza que variará en función del paradigma del que 
el programa sea reflejo”. Algumas escolas utilizam a filosofia de preparo do 
estudante para a vida. Já outras entendem o processo de aprendizagem como a 
capacitação máxima nas mais diversas áreas do conhecimento. Consideremos, 
ainda, a possibilidade de um professor não institucionalizado e, por isso, livre 
para observar e elaborar o método sem associá-lo a uma filosofia institucional 
preexistente. A proposta de projeto com frequência transparece o entendimento 
que se tem de língua, de aprendizagem e de ensino:
El modo concreto en que el diseñador aplica la prioridad, selección, 
subdivisión y secuenciación de objetivos y contenidos, así como la 
selección de la metodología y el sistema de evaluación, refleja puntos 
de vista sobre la lengua, sobre la forma de usarla y sobre su concepción 
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
5
de la enseñanza y aprendizaje de una lengua. En este sentido, cabe 
afirmar que diseñar un programa de lengua puede entenderse como 
una expresión de un determinado paradigma científico, en tanto 
que representación concreta de conocimientos y capacidades. La 
representación de la lengua de un diseñador de programas diferirá, 
por ejemplo, de la de un lingüista descriptivo, debido precisamente 
a los requisitos pedagógicos de dicha representación (CENTRO 
VIRTUAL CERVANTES, 1997-2018a, s.p.).
ATENCAO
Você recorda quando estudamos a Unidade 2 da 
disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I? Naquela 
oportunidade observamos o ensino de espanhol com fins 
específicos (jurídico, comercial, turismo...) e também as diferentes 
perspectivas que o professor poderia adotar ao ensinar a língua 
espanhola (cognitiva, metacognitiva, socioafetiva). Suponhamos 
que um professor seja contratado para ministrar aulas de “Espanhol 
para turismo” e “Espanhol jurídico”. Para cada uma destas turmas, o 
professor deveria adotar ou elaborar um método de trabalho diferente 
(com enfoque, projeto e procedimentos adequados às necessidades 
do grupo). Como você pode perceber, a metodologia de trabalho 
nos acompanhará ao longo de toda a nossa jornada docente.
Ao longo da história do ensino de línguas estrangeiras e de línguas 
segundas foram desenvolvidos muitos métodos. De acordo com o Instituto 
Cervantes (1997-2018), na prática cotidiana dos professores, sempre se tendeu a 
um ecletismo no manejo metodológico, ao passo que os métodos se caracterizaram 
historicamente por ambicionarem um emprego universal, pelo aspecto prescritivo 
e também por manterem uma relação excludente com os demais. Muito disso se 
deve ao aspecto comercial. Quem nunca recebeu um folheto na rua de escolas 
de idioma, prometendo ensinar idiomas fluentemente em seis meses, sempre 
através de um método secreto e inovador? O colapso da fé em uma metodologia 
completa deu-se através dessa perspectiva, um tanto arrogante, apresentada por 
alguns idealizadores de métodos. Por essa razão, na atualidade, a comunidade 
de estudiosos da linguística aplicada observa com ressalvas métodos que se 
pretendem universais, visto que a riqueza da metodologia se encontra justamente 
na experimentação. É indubitável afirmar que alguns métodos funcionam melhor 
que outros, dependendo do público-alvo e da etapa na qual se está trabalhando.
O colapso na fé em uma metodologia única deu-se na segunda metade 
do século XX, visto que se compreendeu a impossibilidade de um método puro. 
Esta constatação deu-se na esteira de uma percepção de que em sala de aula o 
professor sempre efetua adaptações à realidade do grupo. Por outro lado, “la 
fundamentación teórica del enfoque se vio radicalmente modificada, tanto por 
la psicología del aprendizaje como por la aproximación al estudio de la lengua, 
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
6
como finalmente por las investigaciones sobre adquisición de segundas lenguas, 
iniciadas en los años 70.” (CVC, 1997-2018a, s.p). Este percurso serviu para 
nos mostrar que não devemos nos basear em uma metodologia pretensamente 
universal, mas sim que saibamos selecionar, organizar, escolher e adequar nossa 
prática às necessidades dos nossos estudantes. Vale lembrar, ainda, que ocorreram 
muitas reflexões relativas ao conceito de método e ao surgimento de novos 
modelos. Na atualidade, a acepção mais aceita é a de que o método deve estar 
aberto a uma espécie de gestão conjunta do aluno com o professor, permitindo-
se a reflexão periódica sobre o aproveitamento ou não, sempre remodelando e 
redirecionando o enfoque pedagógico.
DICAS
FONTE: Disponível em: <https://sgfm.elcorteingles.es/SGFM/dctm/
MARKET/978/849/848/9788498482065_00_210x210.jpg>. Acesso 
em: 31 dez. 2017.O livro “Enfoques y métodos en la enseñanza de 
idiomas” é uma importante obra publicada no âmbito do ensino 
de línguas segundas e estrangeiras e constitui uma importante 
contribuição ao trabalho do professor em sala de aula. Na obra, 
os autores Jack C. Richards e Theodore S. Rodgers apresentam 
esquemas analíticos que descrevem os principais métodos e 
enfoques de maior aceitação nas últimas décadas. Os autores 
apresentam o Método Audiolinguístico, o Enfoque Natural, o 
Ensino Comunicativo da Língua, a Sugestopedia, entre tantos 
outros métodos que serviram e ainda servem de base para a 
prática de professores de línguas estrangeiras.
A dimensão da metodologia é algo que ultrapassa a questão 
acadêmica ou a área da Linguística Aplicada especificamente. O 
saber fazer (conhecido também como “How to”, em inglês), não 
pressupõe apenas uma forma de resolver problemas ou de realizar 
algo que alguém se propõe. Um dos exemplos mais interessantes 
nos dias atuais é o Wiki How (Wiki Como), uma comunidade que 
se propõe ser o compêndio mais completo do mundo sobre 
como fazer as coisas. Por exemplo, lá você pode aprender a pintar 
uma parede, a aprender o vocabulário de uma língua estrangeira, 
a cozinhar arroz, a se livrar de uma erupção cutânea no rosto, e 
tudo o que você imaginar. E o mais incrível é que não existe “o” 
método, mas sim várias formas possíveis de resolver o mesmo 
problema. Isso não é incrível? Pesem as especificidades do campo 
científico, o âmbito da aprendizagem de línguas funciona de 
forma similar. 
Em tempo: Você pode acessar o site da WikiHow em português através deste endereço: 
<https://pt.wikihow.com/>. 
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
7
Agora que você entende que não existe um método universal, mas vários 
métodos possíveis de serem utilizados (e adaptados), nos subtópicos seguintes 
você conhecerá os três principais métodos que embasaram o ensino de língua 
estrangeira no século XX.
3 MÉTODO AUDIOVISUAL
O método audiovisual é um dos mais antigos no aprendizado de línguas 
estrangeiras e segunda língua. Howatt (1987 apud CVC, 1997-2018b, s.p.) aponta 
que este método constitui a primeira tentativa séria de elaborar uma descrição 
pedagógica de uma língua estrangeira. 
El método audiovisual es un modelo didáctico concebido para la 
enseñanza de la LE a principiantes. Da prioridad al lenguaje oral, 
sin por ello desatender el lenguaje escrito; las primeras sesiones 
(aproximadamente 20 horas) del método se dedican al lenguaje oral 
y a continuación se comienza el aprendizaje del lenguaje escrito. Se 
considera que el aprendizaje de la LE se canaliza a través del oído 
(escuchando diálogos) y de la vista (observando la situación); ello 
explica el empleo combinado de grabaciones de diálogos en soporte 
magnético (en la época inicial, en magnetófono; posteriormente, en 
casete) e imágenes en filminas (parecidas a las diapositivas).
Você recorda quando estudamos em Linguística Aplicada à Língua 
Espanhola I que a origem da Linguística Aplicada remontava ao turbulento 
período da II Guerra Mundial? A origem deste método remonta ao período que 
sucedeu a grande guerra. O marco de surgimento são os documentos Voix et 
images de France (1961), criado especialmente para adultos estrangeiros em 
processo de aprendizagem do francês, e Bonjour Line (1963), criado para o ensino 
da língua a crianças.
FIGURA 2 – SITUAÇÃO HIPOTÉTICA DE COMPRA E VENDA
FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/553472>. Acesso 
em: 1º jan. 2018. 
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
8
Na disciplina anterior estudamos o debate entre Chomsky e Skinner. 
Você lembra disso? O método que estudaremos agora se baseia na perspectiva 
behaviorista proposta por Skinner, um método que propõe a repetição e a prática 
de mecânica de estruturas com o objetivo final de automatizar, por exemplo, como 
pedir um sanduíche em uma padaria, como cumprimentar alguém ao chegar em 
algum lugar, como pedir uma informação na rua etc.
Una lección típica del método comienza con la presentación mediante 
la cinta magnética y la filmina. A continuación el profesor procede a 
la explicación, sirviéndose, p. ej., de demostraciones, preguntas y 
respuestas. En la tercera fase, de fijación, se va repitiendo el diálogo - 
en clase o en el laboratorio de idiomas - con el fin de memorizarlo; se 
procura no fragmentar los patrones rítmicos y entonativos. A partir de 
ahí, en la fase de explotación, la práctica adquiere un carácter más libre, 
permitiéndoseles a los alumnos la creación de sus propios diálogos - 
mediante preguntas y respuestas, juegos teatrales, etc. -, ya sea a partir 
de las mismas imágenes de las filminas, o bien en relación con su propia 
vida, su entorno familiar, social, etc. (CVC, 1997-2018b, s.p.).
É possível que ao longo de sua trajetória enquanto professor de Espanhol 
você trabalhe em lugares que ainda utilizam adaptações provenientes desse 
método. Um dos grandes braços de força desse método são os conteúdos 
audiovisuais utilizados como ferramenta em sala de aula, o que proporciona o 
contato do estudante com situações de uso real da língua.
4 MÉTODO NATURAL
O método natural, conforme se percebe na própria natureza do nome, 
baseia-se em uma visão naturalista de aprendizagem de línguas. A proposta desse 
método está pautada na crença de que a aprendizagem de uma língua segunda é 
semelhante ao processo de aquisição da língua primeira. A origem deste método 
remonta às experiências do professor L. Sauveur da Escola de Boston. De acordo 
com o Instituto Cervantes (1997-2018, s.p.), Sauveur defendia “la idea de que 
una lengua extranjera o segunda puede ser enseñada sin recurrir a la primera 
lengua si el significado es transmitido a través de la presentación de objetos y de 
la ejemplificación de acciones”. Trata-se de uma exposição supostamente natural 
ao idioma, em um espaço no qual é proibido que se fale outra língua que não a 
língua meta. 
No Brasil, algumas escolas de idiomas realizam a aula zero, único 
momento em que o aluno pode se manifestar em português. Após esse primeiro 
encontro, todo o contato entre aluno e professor acontece na língua meta, 
independentemente do nível de conhecimento do aluno a respeito do idioma que 
deseja aprender. 
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
9
FIGURA 3 – USO EXCLUSIVO DA LÍNGUA META É UMA DAS 
CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO NATURAL E POSTERIORMENTE 
DO MÉTODO DIRETO
FONTE: Disponível em: <https://i.pinimg.com/originals/5c/71/
d0/5c71d09a7db9c5df4bc5868d948f623f.jpg>. Acesso em: 1º 
jan. 2018.
Observe o que o Diccionário de términos claves de E/LE afirma a respeito 
desse método:
En 1884, F. Franke publica en Alemania un trabajo sobre los principios 
psicológicos de la asociación entre forma y significado en la lengua 
meta, cuyo contenido ofrece justificación teórica a las corrientes que 
defienden la enseñanza sin recurrir a la primera lengua. De acuerdo 
con Franke, una segunda lengua se aprende mejor si se usa directa 
y activamente, si el profesor puede enseñar el vocabulario nuevo 
utilizando la mímica o dibujos y si los estudiantes son capaces de 
inferir las reglas gramaticales en lugar de aprenderlas mediante 
procedimientos analíticos. Los planteamientos de Sauvuer y Franke 
tienen sus raíces en movimientos de mediados del siglo XIX, época 
en la que varios especialistas en la enseñanza de idiomas comienzan a 
cuestionar el método gramática-traducción y a manifestar la necesidad 
de buscar nuevas formas de enseñanza. En su forma extrema, el 
método se materializa en monólogos del profesor que se intercalan con 
intercambios entre el profesor y los estudiantes en forma de preguntas 
y respuestas. Todo se realiza en la lengua meta, con ayuda de gestos, 
dibujos y objetos. La repetición desempeña un papel importante y sólo 
después de que los estudiantes tienen un conocimiento considerable 
en lengua oral se pasa a la lengua escrita y a la enseñanza inductiva dela gramática (CVC, 1997-2018c, s.p.).
Após passar por reformulações, esse método revestiu-se de uma nova capa 
no século XX e deu origem a um novo método de ensino de línguas: o método 
direto.
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
10
5 MÉTODO DIRETO
Ao final do século XIX ocorreu uma série de reformas no método natural. 
Essas reformas constituíram uma das primeiras tentativas de construir uma 
metodologia de ensino de línguas baseada na observação do processo de aquisição 
da língua materna por crianças. Segundo Ming (2010, p. 16): 
Se creía que la mejor manera de aprender la lengua era 
hablándola, estando continuamente los alumnos inmersos en 
ella. Así, en los materiales se incluían con frecuencia textos 
de conversaciones y diálogos cotidianos. Por consiguiente, 
el método que se ha transmitido como más directamente 
relacionado con la enseñanza natural es el denominado método 
directo.
FIGURA 4 – ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS A NOMES: UMA DAS 
INOVAÇÕES DESSE MÉTODO
FONTE: Disponível em: <https://blogisalara.files.wordpress.
com/2013/08/bola-de-tenis-criativa.jpg>. Acesso em: 2 jan. 2018.
Indo além do que fora inicialmente estabelecido pelo método natural, o 
método direto designou parâmetros específicos para colocar em prática a filosofia 
adotada. Entre esses parâmetros, destacam-se:
• Uso exclusivo de la lengua meta.
• Enseñanza de vocabulario y estructuras de uso cotidiano.
• Enseñanza inductiva de la gramática.
• Desarrollo de las destrezas de comunicación oral de forma progresiva 
y graduada mediante el intercambio de preguntas y respuestas entre 
profesores y alumnos.
• Introducción oral de los nuevos contenidos de enseñanza.
• Uso de la demostración, de objetos y dibujos en la introducción del 
vocabulario concreto, y de la asociación de ideas en la introducción del 
vocabulario abstracto.
• Enseñanza de la expresión y de la comprensión oral.
• Énfasis en la pronunciación y en la gramática (CVC, 1997-2018c, s.p.).
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA APLICADA E A QUESTÃO METODOLÓGICA
11
No âmbito do método direto a língua é aprendida através da imitação de 
um modelo linguístico e também da memorização de frases e diálogos curtos: 
“El profesor, preferentemente hablante nativo de la lengua que enseña, es el 
verdadero protagonista de la clase: no sólo es modelo de lengua sino que debe 
tener iniciativa y dinamismo para crear la necesaria interacción en el aula” (CVC, 
1997-2018c, s.p.).
Método Direto
ImitativoIndutivoAssociativo
Apesar de se mostrar particularmente eficaz em determinados casos, 
o método direto, com frequência, tem sido alvo de críticas de ordem diversa. A 
principal delas gira em torno da proibição de que se pratique a língua nativa do 
falante. Fato incontestável é que este aporte não é um aporte novo e na atualidade 
vem sendo revestido de diversas capas, sendo frequentemente adaptado e afastando-
se, por vezes, dos modelos naturalistas que outrora inspiraram sua criação.
12
Neste tópico, você aprendeu que:
• A metodologia faz parte da estratégia de ensino-aprendizagem adotada pelo 
professor ou pela instituição que acolhe o ensino de língua estrangeira.
• O método, de acordo com Richards e Rodgers, formula uma junção entre 
enfoque, projeto e procedimentos.
• A pretensão universalista de cada método acabou gerando uma crise na crença 
metodológica ou na ideia de que possa existir uma metodologia única.
• O método audiovisual constituiu a primeira tentativa séria de elaborar uma 
descrição pedagógica de uma língua estrangeira.
• Os métodos natural e direto se baseiam em uma visão naturalista de 
aprendizagem de línguas.
RESUMO DO TÓPICO 1
13
1 Marque a única alternativa correta.
a) ( ) No Método Direto há uma mescla no uso da língua nativa com a língua 
meta.
b) ( ) O Método Oral desconsidera completamente a utilização de textos 
escritos. 
c) ( ) A tríade professor-aluno-didática não é importante na concepção de 
método de Richards e Rodgers. 
d) ( ) O Método Natural defende que a aprendizagem de uma língua segunda 
é semelhante ao processo de aquisição da língua primeira. 
e) ( ) Apesar do nome, o Método Natural não comporta uma perspectiva 
puramente naturalista. 
2 Imagine que você foi contratado para ensinar Espanhol para estudantes do 
Ensino Fundamental. Na primeira aula, você percebeu que se trata de um 
grupo de adolescentes bastante efusivos e viciados no uso de smartphones. 
Você chegou à conclusão de que definitivamente não é possível empregar um 
método tradicional. Considere os métodos vistos neste subtópico e elabore 
uma proposta de no máximo 15 linhas. Você é livre para organizar conforme 
a necessidade desse grupo hipotético. 
Sugerimos que você acesse o texto de Olga Cruz Moya intitulado "Las Redes 
Sociales en la Enseñanza de ELE: Retos y Propuesta". Acesse-o através deste 
link: <https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/asele/pdf/22/22_0019.
pdf>.
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AUTOATIVIDADE
14
3 Marque a alternativa correta.
a) ( ) O método, para Richards e Rodgers (1998), restringe-se às variáveis 
professor-didática-aluno.
b) ( ) O método envolve Enfoque, Revisão e Procedimentos.
c) ( ) Os métodos se caracterizam historicamente por ambicionarem um 
emprego universal.
d) ( ) Apesar de tantas refutações, jamais houve um colapso na fé metodológica.
e) ( ) A junção de todos os métodos é o que hoje, após tantos anos, entende-se 
por método universal.
15
TÓPICO 2
A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE 
LINGUÍSTICA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
De acordo com José Luiz Fiorin (2013, p. 13), a linguagem “responde a uma 
necessidade natural da espécie humana, a de comunicar-se”. Como você já sabe, 
por se tratar de uma capacidade viva, a linguagem constitui um grande sistema 
naturalmente complexo. Você lembra do Curso de Linguística Geral de Saussurre, 
quando o importante teórico afirmou que a linguística se debruça inicialmente 
sobre “todas as manifestações da linguagem humana”? (SAUSSURE, 2006, p. 13). 
Pois bem, a linguagem humana, enquanto matéria de estudo da linguística, possui 
nuances cujo conhecimento é indispensável na compreensão de determinados 
processos empíricos.
FIGURA 5 – A FALA: UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS NOTÁVEIS DA 
LINGUAGEM HUMANA
FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/p-776667/?no_redirect>. 
Acesso em: 3 jan. 2017.
No que tange ao tema da linguagem, neste tópico daremos um passo 
à frente no conhecimento que construímos até o presente momento. No 
primeiro subtópico, estudaremos as características da linguagem humana. Após 
conhecermos cada um destes níveis, vamos nos dedicar aos níveis de análise 
linguística possíveis.
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
16
Recentemente mencionamos Ferdinand de 
Saussure. Relembre a citação completa do autor a que nos 
referimos anteriormente:
"A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as 
manifestaçõesda linguagem humana, quer se trate de povos 
selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas 
ou de decadência, considerando-se em cada período não só a 
linguagem correta e a “bela linguagem”, mas todas as formas 
de expressão". Isso não é tudo: como a linguagem escapa as 
mais das vezes à observação, o linguista deverá ter em conta os 
textos escritos, pois somente eles lhe farão conhecer os idiomas 
passados ou distantes:
A tarefa da linguística será:
a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder 
abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas 
e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família;
b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as 
línguas, e deduzir as leis gerais às quais se possam referir os fenômenos peculiares da história;
c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2006, p. 13).
NOTA
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LINGUAGEM HUMANA
A reflexão relativa à natureza da linguagem é constante nos estudos 
linguísticos. Observe o que José Luiz Fiorin (2013, p. 13) afirma em seu livro 
Linguística – o que é isso a respeito da natureza da linguagem:
A linguagem é a capacidade específica da espécie humana de se 
comunicar por meio de signos. Entre as ferramentas culturais do ser 
humano, a linguagem ocupa um lugar à parte, porque o homem não está 
programado para aprender física ou matemática, mas está programado 
para falar, para aprender línguas, quaisquer que elas sejam. Todos os 
seres humanos, independentemente de sua escolaridade ou de sua 
condição social, a menos que tenham graves problemas psíquicos ou 
neurológicos, falam. Uma criança, por volta dos três anos de idade, já 
domina esse dispositivo extremamente complexo que é uma língua. 
A fala, enquanto uma manifestação psicofônica, é uma das 16 características 
detectadas pelo linguista estadunidense Charles Hockett (1960) nos sistemas de 
comunicação, ele relata que a primeira característica é a oralidade e a audição: 
a linguagem humana se baseia na produção de sons que portam sentidos. Estes 
sons, por sua vez, são detectados pelo aparelho auditivo dos outros falantes. 
Segundo Moreno (s.d., p. 8):
La modalidad básica del lenguaje humano es la emisión y recepción de 
sonidos mediante un tracto vocal especializado y un sistema auditivo 
con capacidades especializadas de discriminación. El sistema vocal-
TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
17
auditivo tiene la ventaja, desde la perspectiva evolutiva, de que deja 
libres las manos y otras partes del cuerpo para realizar actividades 
mientras se habla. 
A segunda característica é a transmissão irradiada, e a transmissão dirigida 
é o momento em que a emissão se espalha por todas as direções possíveis e quem 
recebe o som é capaz de identificar sua origem. Qualquer indivíduo pode receber 
e interpretar esses sons, desde que se encontre no raio de alcance. A distância e a 
direção também poderão ser estimadas pelo receptor (HOCKETT, 1960).
FIGURA 6 – TRANSMISSÃO IRRADIADA E DIRIGIDA
2 Transmissão irradiada e dirigida
FONTE: Hockett (1982, p. 7)
A evanescência e a transitoriedade constituem a terceira característica. Os sons 
se desvanecem com muita rapidez e por essa razão é necessário que os interlocutores 
compartam o mesmo tempo e o mesmo espaço (HOCKETT, 1960). Os sons se 
esvaem imediatamente após serem emitidos. Moreno (s.d., p. 9) realiza o seguinte 
questionamento: “¿sería posible conversar si los sonidos se mantuviesen “vivos en el 
aire” durante cinco minutos, de tal manera que estuviésemos oyendo todo lo que se 
estuvo hablando?” Sem lugar a dúvidas, a resposta é não. Seria impossível manter 
uma conversa por mais simples que fosse se os sons permanecessem flutuando no 
ar. É justamente o caráter de evanescência e transitoriedade do som que possibilita 
a fluidez do diálogo. Vale recordar que existem formas de preservar a comunicação 
estabelecida, como a gravação e a transcrição. 
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
18
FIGURA 7 – A EVANESCÊNCIA COMO CARACTERÍSTICAS DA 
LINGUAGEM HUMANA
FONTE: Hockett (1982, p. 7)
A quarta característica é a troca de papéis: em qualquer momento os 
participantes de uma conversa podem ser emissores ou receptores. Não há uma 
definição preestabelecida que se mantenha imutável. Para que a conversa ocorra 
e o diálogo se estabeleça é necessário que ocorra essa troca, como uma bola de 
tênis que quica de um lado a outro.
"A retroalimentação é a quinta característica apresentada por Hockett 
(1960). Imagine que você está em uma conversa e comete uma gafe (troca o nome 
do interlocutor por outro, emite um juízo de valor equivocado, menciona um 
assunto proibido, etc).O falante recebe o enunciado no mesmo momento em 
que emite e por esta razão ele pode efetuar modificações: modificar o que diz, 
corrigir erros cometidos, falar mais lentamente, retificar o que já foi dito com fim 
de esclarecer. Trata-se do aspecto retroalimentativo da linguagem humana. O 
falante sempre pode “costurar”, efetuar mudanças.
FIGURA 8 – CHARLES F. HOCKETT (1916-2000): IMPORTANTE 
LINGUISTA ESTADUNIDENSE
FONTE: Disponível em: <https://ipfs.io/ipfs/QmXoypizjW3Wk
nFiJnKLwHCnL72vedxjQkDDP1mXWo6uco/I/m/Hockett.jpg>. 
Acesso em: 4 jan. 2018.
TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
19
A especialização, enquanto sexta característica, constitui a função 
comunicativa dos sinais linguísticos. De acordo com Moreno (s.d., p. 9), “El 
propósito de las señales lingüísticas es comunicar, no tienen asociada ninguna 
otra función, y los órganos productores o receptores, aunque tengan otras tareas 
asignadas (p.ej. la lengua, que ayuda a deglutir los alimentos), mientras están 
produciendo o recibiendo una señal, no se ocupan de otras cosas”. O ato em si 
não satisfaz um desejo, mas pode desencadear uma série de consequências, que 
em instância última levam o indivíduo a repetir o ato para consegui-lo.
A semântica, sétima característica, constitui as entidades conceituais 
associadas às expressões linguísticas. São as representações mentais fixas de um 
signo e o conteúdo representado por este signo. De acordo com Moreno (s.d., p. 10), 
“Existen asociaciones fijas y sistemáticas entre la forma de un signo y el contenido 
representado por ese signo. Dicho de otro modo, la emisión de una señal evoca la 
representación mental de la cosa, entidad, sujeto etc. a que se refiere”. 
A oitava característica é uma velha conhecida nossa: a arbitrariedade. 
Você lembra o que dissemos sobre este aspecto, quando estudamos Saussure na 
disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I?
Relembrando, na ocasião dissemos que:
Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário. Isto significa dizer que não há uma relação 
óbvia entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). Não há um motivo 
que justifique. O autor cita o exemplo do signo mar: “a ideia de “mar” não está ligada por 
relação alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante; poderia ser 
representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual” (SAUSSURE, 2006, p. 81-
82). Nesse sentido, o significante /mar/ poderia estar associado a outro conceito qualquer. Não há 
uma relação óbvia entre eles. É nesse sentido que o signo linguístico é arbitrário (não tem regras).
NOTA
Ao abordar o tema da arbitrariedade do signo, Moreno (s.d., p. 10) 
apresenta a seguinte imagem:
alcalde alcalde
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
20
Trata-se da palavra “alcalde” (prefeito) representada em línguas de sinais 
espanhola: o primeiro signo é mais antigo e está associado propositalmente ao 
bastão de comando. Já o segundo, de acordo com o autor, é mais recente e é 
completamente arbitrário.
Bastão de comando
Você sabe o que é o bastão de comando? O bastão de comando (ou também conhecido 
como vara de mando) é um complemento protocolar que simboliza opoder de uma 
autoridade sobre o coletivo. Na Espanha, esse bastão é utilizado pelos prefeitos das cidades 
em eventos oficiais. 
Em 8 de novembro de 2017, 200 prefeitos catalães receberam o ex-presidente do governo 
catalão, Charles Puigdemont, sustentando suas varas de mando, em um claro aceno de 
apoio à questão da independência da Catalunha.
De acordo com a edição on-line do jornal El País: “Los bastones de alcalde representan el 
poder municipal y su uso se da tanto en nuestro país como en otros Estados latinoamericanos 
y europeos. En España, aparecen documentados desde el siglo XVII, aunque su origen es muy 
anterior: “El uso de una vara como expresión de mando se remonta a la Prehistoria”, cuenta a 
Verne José Manuel Nieto, catedrático de Historia de la Universidad Complutense de Madrid. 
“Casi todas las civilizaciones utilizaban huesos o palos como símbolos de distinción de mando”. 
NOTA
FONTE: Disponível em: <https://twitter.com/Albert_Rivera/
status/927953565699792896/>. Acesso em: 5 jan. 2018.
A nona caraterística é o caráter discreto: as unidades do sistema linguístico 
são percebidas como separáveis e analisáveis em seus aspectos mais individuais 
possíveis. Por exemplo, ao ouvir uma palavra você pode separar as sílabas, 
analisar os sons, os pontos distintivos etc. Observe o que afirma Moreno (s.d., p. 
10) a respeito desse aspecto:
El habla es un continuo sonoro, pero los hablantes sabemos interpretar 
este continuo como si estuviera formado por unidades discretas, 
diferenciadas e independientes entre sí. Percibimos, por ejemplo, 
dos ondas sonoras de determinada duración y frecuencias: pata, 
bata. Nosotros somos capaces de segmentar esa cadena hablada en 
TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
21
diferentes elementos, como pata [p] [a] [t] [a]; bata [b] [a] [t] [a]. Un 
hablante de español es capaz además de detectar diferencias mínimas 
entre los sonidos: [p] [b]. 
A décima característica é o deslocamento, até onde sabemos, a linguagem 
humana é a única que é capaz de referenciar fatos ocorridos no passado, 
realizando retomadas temporais e mencionando fatos já ocorridos (por exemplo, 
“ontem foi um dia muito quente”, “Barack Obama foi um dos presidentes mais 
populares dos EUA”, “o século XV foi um século de muitas enfermidades” etc.). 
Além disso, também podemos expressar vontades que temos de realizar certos 
desejos, projeções para o futuro e outros prognósticos temporais que estão além 
ou aquém do tempo presente.
FIGURA 9 – DESLOCAMENTO
FONTE: Hocket (1982, p. 7)
A décima primeira característica é a produtividade. A linguagem humana 
permite que se produza e se interprete um composto ilimitado de mensagens 
através de unidades que já foram utilizadas anteriormente. É como se bebêssemos 
diretamente em uma imensa fonte de conhecimento, selecionando as unidades e 
combinando-as, a fim de gerar infinitas possibilidades de combinações.
A transmissão cultural, enquanto décima segunda característica, constitui 
a soma do conhecimento produzido pela nossa civilização e transferido para os 
indivíduos que nascem e crescem em determinado meio-espaço. Pessoas que 
nascem em uma comunidade de colonização alemã certamente terão marcos 
referenciais de linguagens diferentes de outras pessoas que cresceram e vivem 
em comunidade com forte conexão com a cultura negra trazida da África.
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
22
FIGURA 10 – CULTURA AFRICANA DE RAIZ
FONTE: The Old Plantation (atribuído a John Rose) (1785). Disponível em: 
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/31/SlaveDanceand_
Music.jpg>. Acesso em: 7 abr. 2018. 
A dupla articulação, décima terceira característica de Hockett (1960), 
expressa dois níveis estruturais: aqueles que não possuem significado algum 
independente (os sons por si só), e outro resultado da combinação de diferentes 
sons para formar sentido. Observe o que Norberto Moreno (s.d., p. 11) afirma 
sobre esse aspecto:
Las lenguas están estructuradas en dos niveles estructurales 
distintos. Como se señaló a la hora de hablar de su carácter discreto, 
la lengua está formada por un número limitado de sonidos 
distintos ([m, r, d, a, o....]) que no significan nada por sí mismos. 
Sin embargo, esos fonemas funcionan como piezas básicas que 
permiten crear morfemas (-dad, -ado), construir palabras (amor, 
mora,...) y también crear secuencias más complejas (aroma del 
ramo). La primera articulación, por lo tanto, está constituida por 
esas piezas básicas, y la segunda por sus posibles combinaciones. 
Este mecanismo es esencial para la productividad y para la 
economía lingüística, porque con un inventario muy limitado de 
sonidos (entre 20 y 30 fonemas) podemos construir un conjunto 
potencialmente infinito de expresiones. 
A prevaricação, décima quarta característica, é a capacidade que os 
seres humanos possuem de mentir. Através da linguagem é possível que se crie 
enunciados não correspondentes com a realidade e também expressões sem 
sentidos, como o clássico exemplo de Chomsky “Colorless green ideas sleep 
furiously” (ideias verdes incolores dormem furiosamente).
A metarreflexão, décima quinta característica, é a capacidade 
autorreferencial da língua: “esta é a palavra amor”, “o verbo pode ser transitivo 
direto” etc. A linguagem pode referenciar-se a si mesma.
Por fim, a décima sexta característica é a possibilidade de aprendizagem. 
Qualquer idioma pode ser aprendido por qualquer pessoa, seja ela uma criança 
aprendendo a sua língua materna, ou um adulto aprendendo uma língua estrangeira.
TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
23
Acadêmico! Esta é apenas uma teoria que busca compreender as 
características gerais da linguagem humana. Uma de várias, de muitas possíveis! 
Nós a abordamos nestas páginas porque acreditamos que ela abrange diversos 
parâmetros importantes que nos direcionam a um melhor entendimento sobre 
a questão. Quando Charles F. Hockett publicou o ensaio The origin of Speech, o 
autor tentou demonstrar as principais diferenças da linguagem humana para 
a linguagem animal. Ao longo de sua trajetória, você pode encontrar outras 
definições baseadas em outras orientações teóricas.
DICAS
Caro acadêmico, você lembra de Noam Chomsky? Ele é um autor que 
possui livros de valor inestimável para o campo dos estudos linguísticos. 
Entre suas obras sobre a questão da linguagem, recomendamos 
A ciência da linguagem (2014); Arquitetura da Linguagem (2009); e 
Sobre a natureza da linguagem (2006).
3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
A língua possui distintos níveis de análise. Você recorda quando estudamos 
as diversas ramificações da linguística, como a fonética, a fonologia e a semiótica? 
O entendimento do conhecimento produzido nessas áreas é de importância vital 
para que possamos analisar a linguagem em todos os seus níveis.
Relembre o que dissemos anteriormente sobre as perspectivas de estudo da 
Linguística Aplicada:
A linguística teórica se divide basicamente em áreas de especialização: a fonética, a fonologia, 
a morfologia, a sintaxe, a análise do discurso, a pragmática e a semântica. Cada uma dessas 
áreas se ocupa de aspectos específicos da linguagem. Você recorda que no Tópico 1 vimos 
que a linguagem é definida como multifacetada (possui várias faces) e que também abrange 
vários domínios, sendo então “física, fisiológica e psíquica”? (PETTER, 2003, p. 9). É no âmago 
desses desdobramentos que se dividem as áreas de especialização da linguística teórica.
NOTA
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
24
A principal contribuição no nível analítico vem de Louis Hjelmslev 
(1899-1965), um importante linguista dinamarquês. Em uma perspectiva geral, 
a língua se divide em plano de expressão e plano de conteúdo. O plano de 
conteúdo (significado) e o plano de expressão (manifestação de dado conteúdo) 
são conceitos fundamentais para realizar uma análise, pois é através da junção 
de ambos que chegamos ao signo.Observe o nível de expressão, aquele que 
manifesta o conteúdo, no exemplo a seguir você verá um típico soneto literário. 
Consideraremos dois elementos fundamentais no plano de expressão: a questão 
fonética e a questão fonológica.
Desforrado (Glauco Mattoso)
Bem feito! Quem mandou me ler? Agora
vai ter que me engolir com casca e tudo!
E mesmo quando, em parte, me desnudo,
quem prova sente nojo e cospe fora.
“Bem feito!” (é o que se diz ao cego) 
“Chora!”
Eu choro, mas em vez dum pranto mudo
converto o desabafo em verso agudo,
tão grave quanto um frade que não cora.
Sem papas, meus buracos escancaro
e os olhos dos leitores esbugalho
ao verem que a derrota vendo caro.
E a quem acha bulhufas o que valho
das tralhas mais baratas sou avaro
de modo a indecifrar-lhe meu trabalho.
Observe a rima na primeira estrofe, “agora” rimando com “fora” (versos 
1 e 4) “tudo” e “desnudo” (2 e 3), na segunda estrofe “chora” com “cora” (5 e 8), 
“mudo” e “agudo” (6 e 7) e assim sucessivamente. Perceba que, além de rimar, 
as palavras também se complementam em sentido umas às outras. Esta é uma 
relação perfeita de plano de expressão com plano de conteúdo, visto que o plano 
de expressão trabalha para demonstrar a ideia presente no conteúdo.
Ao analisar o poema, Alonso e Silva (2006, p. 3) chegaram à conclusão de que 
o crucial deste poema é a transgressão poética perceptível em nível de conteúdo:
Nesse poema, o ponto-chave da análise é a transgressão poética. Basta 
notar que o soneto surge como uma espécie de vingança, uma vez que 
“Desforrado” significa vingado, recompensado. É, portanto, numa 
atitude metalinguística que Glauco Mattoso trata aqui a questão do 
TÓPICO 2 | A LINGUAGEM HUMANA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA
25
Relembre o que dissemos anteriormente sobre a fonologia:
Se a fonética se preocupa com a acústica, com os sons que 
o nosso aparelho fonador é capaz de fazer para pronunciar o 
aspecto significante do signo, a fonologia se preocupa com a 
função e a organização do sistema sonoro da língua. Como 
você pode perceber, são áreas irmãs no âmbito dos estudos 
linguísticos. Ao se preocupar com a funcionalidade da fala, a 
fonologia se preocupa com questões de diferenciação entre 
os fonemas no processo de produção de sentido, como no 
caso dos pares mínimos. Hernández de Motta (2000) relembra 
que, ao se comparar os pares mínimos, «muro/ duro», «mudo/ 
dudo» y «mimo/ mido», logo se comprova que os sons de /m/ e 
/d/ são fonemas diferenciados, pois a existência deles é capaz de 
modificar completamente o sentido e a função de uma palavra. 
Outra função da fonologia é pensar a estrutura silábica de uma 
língua, conforme exemplifica Mota (2000, p. 63) ao comparar 
a estrutura silábica do maia (Consoante+vogal+consoante) 
com o espanhol (consoante+vogal): “los patrones que forman 
(estructura silábica), por ejemplo, en los idiomas mayas predomina 
la secuencia de sonidos consonante+vocal+consonante (CVe) 
como en hin-q'ab' (mi mano en qanjob'aL) y en el español 
la combinación consonante+vocal (CV) como en «si-lla»“ 
(MACHADO, 2017, p. 25, grifo nosso).
NOTA
fazer poético, onde por meio da própria poesia, ele explica o modo e o 
motivo pelo qual escreve o soneto. Verificamos inicialmente que o sujeito 
narrativo, marcado em primeira pessoa, deixa claro não estar disposto 
a querer entrar em conjunção com os valores tomados pelo sujeito 
enunciatário – realizado no discurso pela figura de um leitor avesso aos 
temas não convencionais: (Bem feito! Quem mandou me ler? Agora/ 
vai ter que me engolir com casca e tudo!). Há, portanto, um conflito de 
valores no plano de conteúdo. O sujeito enunciador toma esse modelo 
de sujeito enunciatário como sendo responsável por colocar o seu fazer 
poético à margem da literatura dita canônica. Isso, pelo fato de julgar 
transgressiva a figura do poeta, razão pela qual ele o “cospe” fora. 
Este tipo de análise pode ser empregado na leitura de textos publicitários, 
em textos literários e em outras formas de expressão. Trata-se de um método 
analítico que lança mão das diversas áreas da linguística para extrair o significado 
do que está sendo analisado.
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
26
FIGURA 11 – LOUIS HJELMSLEV – IMPORTANTE TEÓRICO DA 
SEMIÓTICA
FONTE: Disponível em: <http://denmark.dk/~/media/Denmark/
Images/Meet%20the%20danes/Great%20Danes/Louis-Hjemslev580.
jpg?w=580&h=390&as=1&la=en>. Acesso em: 5 jan. 2018.
Vamos relembrar?
A Morfologia é a área que estuda a constituição das palavras através das unidades mínimas 
de significado (morfemas).
A Sintaxe é o estudo da relação entre as palavras.
A Lexicologia é a área que se debruça sobre o estudo científico das palavras, buscando 
identificar questões relacionadas à origem, ao significado e à forma delas.
NOTA
DICAS
Você pode ler gratuitamente o artigo em que o método analítico, considerando 
as variáveis fonética, fonológica e também aspectos ligados à semântica é analisado. Ver: 
ALONSO, F. G. B. S.; SILVA, P. A. O conflito entre o plano de expressão e conteúdo na poesia 
de Glauco Mattoso. São Paulo: Estudos Semióticos, nº (2006). Disponível em: <https://www.
revistas.usp.br/esse/article/download/49157/53241>. Acesso em: 25 dez. 2017.
27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• De acordo com a perspectiva de Charles Hockett (1960), a linguagem humana 
possui 16 características.
• A existência dessas características envolve questões de ordem biológica, 
cognitiva e sociocultural.
• O estudo de Hockett é importante porque diferencia a linguagem humana da 
linguagem animal.
• A observação nos planos de expressão e conteúdo possibilita análises completas 
nos substratos semânticos e fonético/fonológicos.
28
1 Não faz(em) parte das 16 características da linguagem humana, de acordo 
com Charles Hockett (1960):
a) ( ) Deslocamento e Evanescência
b) ( ) Prevaricação e Dupla articulação
c) ( ) Metarreflexão
d) ( ) Trinado 
e) ( ) Retroalimentação
2 Com base no que você estudou neste tópico, observe as alternativas que são 
apresentadas:
I- A metarreflexão é a capacidade autorreferencial da língua.
II- A prevaricação é a capacidade que os seres humanos possuem de mentir. 
III- A linguagem humana é a única que é capaz de referenciar fatos ocorridos 
no passado.
IV- A semântica constitui as entidades não conceituais associadas às expressões 
linguísticas.
V- A especialização constitui a função comunicativa dos sinais linguísticos. 
Estão corretas:
a) ( ) Apenas I, III e IV.
b) ( ) Apenas I, III, IV e V.
c) ( ) Apenas IV e V.
d) ( ) Apenas I, II, III e V. 
e) ( ) Todos os enunciados estão corretos.
3 Quais das seguintes características não fazem parte da linguagem humana 
de acordo com Hockett (1960)?
( ) Transmissão radiada e dirigida
( ) Evanescência/transitoriedade
( ) Deslocamento
( ) Transmissão cultural
( ) Produtividade
AUTOATIVIDADE
29
TÓPICO 3
A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
No âmbito da linguística, o preconceito linguístico é uma autorreflexão 
acerca do uso real de uma língua específica. Trata-se do reconhecimento da 
pluralidade sociocultural refletida no idioma falado nos mais diversos estratos 
sociais, nas regiões e nas comunidades. Em linhas gerais, é uma perspectiva que 
se situa no âmbito da Sociolinguística e abarca uma reflexão a respeito do uso da 
língua e a questão da exclusão social.
FIGURA 12 – UM DOS PRINCIPAIS LIVROS PUBLICADOS SOBRE O 
PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://meteoropole.com.br/site/wp-content/
uploads/2015/04/preconceito-lingustico-marcos-bagno-1-728.jpg>. 
Acesso em: 8 jan. 2018.
Para os estudiosos que se debruçam sobre essa vertente de estudos 
(bastante em pauta nos últimos 18 anos), são importantes as diferenças regionais, 
os dialetos, as gírias empregadas em diferentes lugares, os sotaques e toda 
construção mítica a respeito da língua, como a variante mais ou a menos correta. 
Neste tópico, estudaremosa questão do preconceito linguístico no Brasil e 
também no âmbito da língua espanhola.
30
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
A sociolinguística é a disciplina que investiga as relações estabelecidas 
entre a língua e a sociedade. As possibilidades de estudo são amplas 
e anualmente são produzidos centenas de trabalhos acadêmicos 
centrados nesta perspectiva. Um dos principais temas que surge no 
âmbito desta disciplina é a variação linguística.
NOTA
2 A AMPLITUDE DO TEMA NO BRASIL
Um dos maiores referentes do tema no Brasil é o filólogo e linguista 
Marcos Bagno, autor de obras como Preconceito linguístico - o que é, como se faz 
(1999); Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa (2001); Nada na língua é por 
acaso - por uma pedagogia da variação linguística (2007); A língua de Eulália (1997); 
Dramática da língua portuguesa - gramatical, mídia & exclusão social (2000). Ao longo 
de sua trajetória, Bagno combate a ideia de uma única língua correta e questiona 
as categorias de “certo” e “errado”.
FIGURA 13 – DIVERSIDADE E PRECONCEITO LINGUÍSTICO
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_kOy7xkpibgY/
TTx1U53q-WI/AAAAAAAAAkA/L9Owrzz8m2c/s1600/
Preconceito+linguistico.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2018.
No cerne da crítica se encontra a gramática normativa, que determina as 
regras da língua e o que socialmente se entende por “bem falar”. Ao estabelecer 
o “português correto”, a gramática normativa naturalmente exclui a linguagem 
das ruas e as nuances linguísticas praticadas no dia a dia pelos falantes. No livro 
Dramática da língua portuguesa - gramatical, mídia & exclusão social (2000), Bagno 
equipara a gramática à alquimia e à astrologia na categoria de doutrinas esotéricas, 
por se realizar somente no âmago da crença. Trata-se de uma postura de combate, 
TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
31
com vistas claras a chocar e questionar o que está socialmente estabelecido. De 
acordo com Bagno (2000, p. 108-109): “os comandos paragramaticais têm função 
similar aos dos livros de outras manifestações multimidiáticas de “autoajuda”: 
mostrar um caminho diferente, melhor, que permita ao indivíduo subtrair-se ao 
caos da modernidade estressante”.
FIGURA 14 – MARCOS BAGNO 
FONTE: Disponível em: <http://s2.glbimg.
com/6qFNcOgZPav_11ZhaoJKXR1OLlY=/350x452/top/i.glbimg.
com/og/ig/infoglobo1/f/original/2016/03/01/1102351-marcos-
bagno.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2017.
No primeiro capítulo do livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz 
(1999), Bagno elenca oito mitos ligados ao preconceito linguístico, o que chama 
de “mitologia do preconceito linguístico”. São opiniões de senso comum que 
são reproduzidas automaticamente no âmbito social, como a ideia de que só 
em Portugal se fala o português corretamente e que o brasileiro não sabe falar 
português. Você já ouviu falar em alguma delas? Observe:
No primeiro mito, intitulado “A língua portuguesa falada no Brasil 
apresenta uma unidade surpreendente”, Bagno aborda a diversidade linguística 
distribuída em todo o território nacional, colocando abaixo o mito de que no 
Brasil há unidade linguística. Segundo Bagno (2007, p. 15), “Existe também toda 
uma longa tradição de estudos filológicos e gramaticais que se baseou, durante 
muito tempo, nesse (pre)conceito irreal da ‘unidade linguística do Brasil’”. O 
autor afirma que este é um mito muito prejudicial à educação:
porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do 
português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma 
linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos 
os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, 
de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de 
seu grau de escolarização etc. (BAGNO, 2007, p. 15). 
32
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
Você concorda com o professor Marcos Bagno quando 
ele afirma que existe diversidade linguística no Brasil? Proponho que 
você reflita sobre a diversidade linguística que há em seu próprio estado. 
Relembre os sotaques distintos, o vocabulário e as expressões únicas 
que existem em cada região do lugar onde você mora. Se você não 
conseguir detectar nenhuma diferença, compare a expressão linguística 
do lugar onde você mora com a de outros estados, vizinhos ou mais 
distantes.
NOTA
O segundo mito é o de que “Brasileiro não sabe português”/ “Só em 
Portugal se fala bem português”. O autor apresenta as diferenças notáveis entre 
o português europeu e o português brasileiro. Este mito, segundo Bagno (2007, 
p. 20), reflete “o complexo de inferioridade, o sentimento de sermos até hoje uma 
colônia dependente de um país mais antigo e mais “‘civilizado’”.
 
No terceiro mito, “Português é muito difícil”, o autor relaciona a 
dificuldade em seguir uma norma estabelecida em Portugal e o modo de falar e 
escrever das pessoas no Brasil: “Como o nosso ensino da língua sempre se baseou 
na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa 
parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil” 
(BAGNO, 2007, p. 34). 
FIGURA 15 – PORTUGUÊS É MUITO DIFÍCIL 
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-EKHeBxtCQ0s/VU0r3WOhQJI/
AAAAAAAAJNc/DzHOs6y_o7o/s1600/digitalizar0023.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2018.
Já no quarto mito, “As pessoas sem instrução falam tudo errado”, o autor 
se debruça sobre a problemática do preconceito social do qual são vítimas pessoas 
que não falam da forma como está estabelecida na norma.
Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-
gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito 
linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é 
raro a gente ouvir que “isso não é português”. Um exemplo. Na visão 
TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
33
preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de I em R 
nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, 
pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até 
como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam assim. Ora, 
estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos 
diante de um traço de “atraso mental” dos falantes “ignorantes” 
do português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que 
contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão 
(BAGNO, 2007, p. 40).
No quinto mito, “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o 
Maranhão”, o autor aborda o que considera uma “grande bobagem” de origem 
indetectável: 
Não sei quem foi a primeira pessoa que proferiu essa grande bobagem, 
mas a realidade é que até hoje ela continua sendo repetida por muita 
gente por aí, inclusive gente culta, que não sabe que isso é apenas um 
mito sem nenhuma fundamentação científica. De onde será que veio essa 
ideia? Esse mito nasceu, mais uma vez, da velha posição de subserviência 
em relação ao português de Portugal (BAGNO, 2007, p. 46). 
Este mito, de acordo com Bagno (2007), teria surgido em função do uso 
regular do pronome “tu” seguido das formas verbais clássicas “tu vais, tu queres, 
tu dizes, tu comias, tu cantavas etc.” (id).
No sexto mito, “O certo é falar assim porque se escreve assim”, o autor 
apresenta as nuances notáveis entre as distintas variantes nacionais, traçando 
uma linha entre a linguagem formal e a informal. Para exemplificar o caso, Bagno 
apresenta um quadro do pintor belga René Magritte (1898-1967), intitulado A 
traição das imagens. Neste quadro, o pintor apresenta a figura de um cachimbo 
acima da frase “Isto não é um cachimbo”. Logo após, Bagno (2007, p. 53) explica: 
Em que esse exemplo pode servir à nossa discussão? Isso não 
é um cachimbo de verdade, mas simplesmente a representação 
gráfica, pictórica de um cachimbo. O mesmo acontece com a 
escrita alfabética, em sua regulamentação ortográfica oficial. 
Ela não é a fala: é uma tentativa de representação gráfica.
FIGURA 16 – A TRAIÇÃO DAS IMAGENS (RENÉ MAGRITTE)
FONTE: Bagno (2007, p. 53)UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
34
Já no sétimo mito, “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”, 
Bagno (2007) aborda a questão da gramática normativa como um instrumento 
de poder e controle. A variação linguística é subordinada à norma culta e assim 
geram-se infinitos preconceitos. 
No oitavo mito, “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão 
social”, Bagno (2007) mostra as contradições presentes na ideia de que dominar a 
norma culta constitui automática ascensão social.
Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento 
de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o 
topo da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo? 
Afinal, supostamente, ninguém melhor do que eles domina a norma 
culta. Só que a verdade está muito longe disso como bem sabemos 
nós, professores, a quem são pagos alguns dos salários mais obscenos 
de nossa sociedade. Por outro lado, um grande fazendeiro que tenha 
apenas alguns poucos anos de estudo primário, mas que seja dono 
de milhares de cabeças de gado, de indústrias agrícolas e detentor 
de grande influência política em sua região vai poder falar à vontade 
sua língua de “caipira”, com todas as formas sintáticas consideradas 
“erradas” pela gramática tradicional, porque ninguém vai se atrever a 
corrigir seu modo de falar (BAGNO, 2007, p. 69-70).
No Brasil, Bagno construiu uma trajetória notável e gerou discussões 
relevantes a respeito do assunto. Se no Brasil, um país unificado em torno do 
português, a questão do preconceito linguístico possui dimensões de ordem variada, 
em Espanhol você perceberá que este problema envolve não somente variações 
linguísticas dentro do Espanhol, mas também a influência de outras línguas.
3 A QUESTÃO LINGUÍSTICA EM ESPANHOL: UM PROCESSO 
HISTÓRICO TURBULENTO
Consideradas as circunstâncias históricas que abarcam mais de mil anos, 
no mundo hispânico a questão sociolinguística possui um tom substancialmente 
diferente do aporte brasileiro. Se no Brasil o preconceito linguístico se dá nos 
domínios de aplicação da própria língua portuguesa – como bem sinalizam os 
livros do professor Bagno –, no mundo hispânico uma rápida aproximação denota 
atores mais complexos, como a coexistência de outros idiomas indoeuropeus (no 
caso da Espanha) e indígenas (no caso da América).
No Brasil, um país majoritariamente lusofalante, o preconceito linguístico 
é um problema. Nos países de língua espanhola o tema carrega em si polêmicas 
calorosas não somente na contemporaneidade, mas praticamente em toda a 
história do castilhanismo. Você sabe onde este problema começa?
Na disciplina Linguística Aplicada à Língua Espanhola I mencionamos 
brevemente a existência das línguas co-oficiais na Espanha, sem nos determos na 
questão sociolinguística. Você recorda quais são elas? Inicialmente, é necessário 
afirmar que, por causa de sua posição estratégica, a Península Ibérica é um lugar 
que já presenciou palcos de grandes conflitos, como guerras e carnificinas.
TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
35
FIGURA 17 – TERRITÓRIO DA PENÍNSULA IBÉRICA – ONDE SE SITUAM PORTUGAL E 
ESPANHA – ENTRE A EUROPA E A ÁFRICA
Gibraltar
Sevilha
Madri
Lisboa
Porto
Zaragoza
Bilbão
Valência
Barcelona
Marselha
Toulouse
Ilhas Balneares
FONTE: Disponível em: <https://pt.wikivoyage.org/wiki/Ficheiro:Iberia_regions_
map(pt).png>. Acesso em: 25 abr. 2018.
Para nos situarmos historicamente, primeiramente devemos recordar de 
três fatos históricos de relevância máxima. O primeiro fato está relacionado aos 
romanos. De acordo com a história convencionalmente aceita, a conquista romana 
na Península Ibérica surgiu em torno de 200 anos antes de Cristo. Neste contexto, os 
romanos impuseram sua língua (o latim). Destas línguas surgiram outras, como o 
Catalão, o Galego, o Castelhano, o Valenciano, o Aragonês, o Português e o Mirandês. 
Até hoje são perceptíveis marcas da presença romana no território português e 
espanhol. A figura a seguir traz um registro contemporâneo da ponte romana em 
Córdoba (Espanha) sobre o Rio Guadalquivir, construída no século I d.C.
FIGURA 18 – PONTE CONSTRUÍDA PELOS ROMANOS NA CIDADE DE 
CÓRDOBA
FONTE: O autor
UNIDADE 1 | QUESTÕES GERAIS DE LINGUÍSTICA APLICADA
36
O segundo fato está relacionado à questão árabe. Vale recordar que o 
território no qual hoje se situa a Espanha é uma porta de passagem da África 
para a Europa. O norte da África é um local em que milenarmente vivem os 
povos árabes. É deste espaço saariano de onde vieram os povos que invadiram 
a Península Ibérica, aproximadamente a partir do ano 711. A presença deles 
nesta região se manteve até 1492, quando os muçulmanos foram definitivamente 
expulsos pelos reis católicos Fernando e Isabel. 
Relembre o que falamos sobre a questão árabe na Espanha no tópico “A língua 
espanhola e suas origens”, na disciplina Linguística Aplicada à língua espanhola I:
“Na língua espanhola a presença moura deixou marcas significativas, como uma herança 
de 4.000 palavras de origem árabe. De acordo com Santiago González (s.d., s.p), entre estas 
palavras, muitas dão nome a cidades espanholas, como La Mancha (la’a Ma-anxa, que significa 
‘sin agua’), Algeciras (de Al Khadra ( ), ‘la isla verde’), Alcalá (do árabe alqala` a ( ), ‘el castillo’), 
Henares (An-Nahar ( ), “el río”), assim como outras palavras de uso comum, como ‘faquir”, 
“almohada”, elixir”, “quilate” etc.
NOTA
FIGURA 19 – CASTELO DO CALIFADO AL-ANDALUZ EM GRANADA 
(ESPANHA)
FONTE: O autor
O terceiro fato está ligado à tomada e à conquista da América, quando 
Cristóvão Colombo chegou às Antilhas em 1492. Deste ponto em diante, reunimos 
três fatos historicamente importantes para a questão linguística:
TÓPICO 3 | A QUESTÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
37
De la isla Española
En la isla Española, que fue la primera, como dijimos, donde entraron 
cristianos y comenzaron los grandes estragos y perdiciones de estas gentes y 
que primero destruyeron y despoblaron, comenzando los cristianos a tomar 
las mujeres e hijos a los indios para servirse y para usar mal dellos y comerles 
sus comidas que de sus sudores y trabajos salían, no contentándose con lo que 
los indios les daban de su grado conforme a la facultad que cada uno tenía, 
que siempre es poca, porque no suelen tener más de lo que ordinariamente 
han menester y hacen con poco trabajo, y lo que basta para tres casas de a 
diez personas cada una para un mes, come un cristiano y destruye en un día, 
y otras muchas fuerzas y violencias y vejaciones que les hacían, comenzaron a 
entender los indios que aquellos hombres no debían de haber venido del cielo; 
y algunos escondían sus comidas, otros sus mujeres e hijos, otros huíanse a 
los montes por apartarse de gente de tan dura y terrible conversación. Los 
cristianos dábanles de bofetadas y de palos, hasta poner las manos en los 
señores de los pueblos; y llegó esto a tanta temeridad y desvergüenza que 
al mayor Rey señor de toda la isla, un capitán cristiano le violó por fuerza su 
propia mujer.
De aquí comenzaron los indios a buscar maneras para echar los cristianos 
de sus tierras. Pusiéronse en armas, que son harto flacas y de poca ofensión y 
Questão linguística no mundo hispanofalante
Romanização da Península Ibérica Invasão Árabe Conquista da América
A romanização da Península Ibérica resultou no surgimento de diversas 
línguas naqueles territórios, como as já mencionadas anteriormente. A invasão 
árabe, que durou mais de 600 anos, deixou contribuições linguísticas riquíssimas 
na língua espanhola. Por fim, a invasão espanhola da América oprimiu – e segue 
oprimindo – as línguas e as culturas nativas. Este é um problema que se arrasta 
há mais de 500 anos e, aparentemente, não há solução em vista.
Observe o texto a seguir. Trata-se de um trecho retirado do livro Brevísima 
relación de la destrucción de las Indias, de autoria do frei Bartolomé de las Casas, 
publicado em 1552. Las Casas acompanhou a colonização

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