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Man ual do Edu cad or An o7o E nsi no Fu nd am en tal Ar ma nd o M ora es | M ari a S ole da de da Co sta Cida dan ia M ora l e É tica SSE_ME_Etica_7A_001a002.indd 1 04/01/17 10:56 ISBN: 978-85-7797-737-6 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Impresso no Brasil As palavras destacadas de amarelo ao longo do livro sofreram modificações com o novo Acordo Ortográfico. Cidadania moral e ética 7o ano do Ensino Fundamental Armando Moraes Maria Soledade da Costa Editor Lécio Cordeiro Revisão de texto Consultexto Projeto gráfico, editoração eletrônica e ilustrações Box Design Editorial Capa Gabriella Correia/Nathália Sacchelli/ Sophia karla Foto: siribao/shutterstock.com Outras ilustrações JrCasas/Shutterstock.com Direção de Arte Elto Koltz Direitos reservados à Distribuidora de Edições Pedagógicas Ltda. Rua Joana Francisca de Azevedo, 142 – Mustardinha Recife – Pernambuco – CEP: 50760-310 Fone: (81) 3205-3333 – Fax: (81) 3205-3306 CNPJ: 09.960.790/0001-21 – IE: 0016094-67 Fizeram-se todos os esforços para localizar os detentores dos direitos dos textos contidos neste livro. A Distribuidora de Edições Pedagógicas pede desculpas se houve alguma omissão e, em edições futuras, terá prazer em incluir quaisquer créditos faltantes. Para fins didáticos, os textos contidos neste livro receberam, sempre que oportuno e sem prejudicar seu sentido original, uma nova pontuação. SSE_ME_Etica_7A_001a002.indd 2 04/01/17 10:56 Apesar de, por vezes, serem tratadas como sinônimos, as palavras moral e a ética têm sentidos diferentes, e é de extrema importância que a consciência de cada um desses conceitos faça parte da formação dos estu- dantes, desde o Ensino Fundamental. É por meio dessa compreensão que os alunos terão, talvez, o primeiro contato com a noção de responsabilidade social que cada cidadão possui por direito e dever. Essa introdução às problemáticas sociais tem a função de trazer à percepção do aluno o seu papel de agen- te social. Por isso, é muito importante que, para que essa consciência social seja plenamente desenvolvida, a discussão sobre a moral e a ética seja alimentada em sala de aula, sempre incentivando o aluno a colocar o seu ponto de vista como elemento fundamental para a construção do conhecimento. É preciso, também, que os debates se apoiem em situações reais, onde o estu- dante deverá refletir sobre a sua prática social cotidiana. Assim, buscamos desenvolver a sua autonomia ética, seu potencial para avaliar as suas atitudes sob uma vi- são consciente da moral. Para que esse primeiro passo em direção à formação de um cidadão ativo e consciente seja dado, é impor- tante que apresentemos um panorama histórico sobre a concepção moral de cada época e cultura, como marca das várias sociedades existentes. A evolução social é um fator determinante para aguçar a percepção dos alunos sobre a inconstância do conceito, trazendo, dessa for- ma, a ideia de que podemos e devemos questioná-lo, com o intuito de estabelecer uma sociedade harmonio- sa para todos os cidadãos. Explicar que, em certas épocas, a existência da escra- vidão sequer era discutida sob o viés da ética; o feminis- mo não era uma causa válida, já que era perfeitamente natural haver desigualdade de gênero; e práticas de tortura eram consideradas um procedimento de corre- ção, por exemplo, nos dá a dimensão do desafio que é a prática educacional dos conceitos de moral e ética. Esses assuntos precisam ser revistos e reavaliados cons- tantemente, de modo a abarcar, refletir e posicionar-se a respeito dos valores contemporâneos. Go od lu z/ Sh ut te rs to ck .co m IIIManual do Educador – 7o ano Introdução ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 3 06/01/17 10:47 Assim, em meio à fluidez de conceitos e visões, a obri- gatoriedade da disciplina Cidadania Moral e Ética repre- senta um grande salto pedagógico. Isso faz com que a escola e os professores deixem de trabalhar apenas indiretamente ou de maneira difusa as dimensões da moral e da ética e passem a articular o que tem sido chamado de valores universalmente desejáveis, ba- seados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e, mais especificamente, na Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. A partir desses valores, você, professor, deve praticar suas ações pedagógicas no sentido de: • Compreender os fundamentos da ética e da mora- lidade e como seus princípios e normas podem ser trabalhados no cotidiano das escolas e da comuni- dade. • Compreender e introduzir no dia a dia das escolas o trabalho sistemático e intencional sobre valores de- sejados por nossa sociedade. Esses objetivos estão colocados no Programa Ética e Cidadania, módulo voltado para a formação dos pro- fessores, planejado pelo Ministério da Educação. Para que essas ações sejam amplamente executadas, é ne- cessário compreendermos melhor a expressão valores desejados. Quando falamos dessas normas, estamos nos refe- rindo ao núcleo moral de uma sociedade, isto é, aos valores escolhidos para mediar o convívio entre os in- divíduos integrantes dessa sociedade. Assim, o ensino de Cidadania Moral e Ética não está inserido em uma perspectiva de relativismo moral ou liberdade absoluta para seguir valores individuais. Isso porque, para que a sociedade democrática possa funcionar, é fundamental que exista um consenso, um conjunto mínimo de valo- res regentes. Alguns desses valores estão explicitados, como tópicos da Constituição, e devem ser tomados como referência em sala de aula. Ag ên cia B ra sil Ar in a_ P_ Ha bi ch /S hu tte rs to ck .co m IV Cidadania Moral e Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 4 06/01/17 10:47 A República Federativa do Brasil tem como funda- mentos: Art. 1o I - A soberania. II – A cidadania. III – A dignidade da pessoa humana. IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. V – O pluralismo político. No que se refere aos seus objetivos enquanto Repú- blica Federativa, a Constituição enumera os seguintes propósitos: Art. 3o I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária. II – Garantir o desenvolvimento nacional. III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Quanto a alguns dos direitos individuais listados na Constituição, destacamos que: Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es- trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- priedade [...]. I – Homens e mulheres são iguais em direitos e obri- gações, nos termos desta Constituição. II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se não em virtude da lei. III – Ninguém será submetido a tortura nem a trata- mento desumano ou degradante. IV – É livre a manifestação do pensamento, sendo ve- dado o anonimato. VI – É inviolável a liberdade de consciência e de cren- ça, sendo as segurado o livre exercício dos cultos reli- giosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos lo- cais de culto e a suas liturgias. VIII – Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- tiva, fixada em lei. IX – É livre a expressão da atividade intelectual, artísti- ca, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. VG sto ck stu di o/ Sh ut te rs to ck .co m VManual do Educador – 7o ano ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 5 06/01/17 10:47 Esses valores nos dão uma ideia do núcleo moral pre- sente em nossa sociedade, o que nos impede de viver em estado de anomia — ausência de valores que re- gema sociedade, ficando a cargo de cada indivíduo o estabelecimento de suas condutas morais e éticas. Com a anomia, a democracia torna-se impraticável, dado a falta de organização e entendimento mínimo entre os integrantes da coletividade. Podemos pensar que, em um regime democrático, que valoriza e incentiva preceitos como liberdade e diversidade, é contraditório que haja um conjunto de valores a ser seguido por todos. Acontece, porém, que alguns entendem que a expressão de liberdade é, na verdade, a afirmação da inferioridade (étnica, social, ra- cial ou de gênero) de outro indivíduo, que, por sua vez, tem a liberdade subjugada. É por isso — para que todos os integrantes sociais possam usufruir da mesma liber- dade e dos mesmos direitos sem pôr em risco o direito alheio — que um conjunto de valores se faz necessário. E é neste sentido que a matéria de Cidadania Moral e Ética torna-se fundamental: para apresentar e estabele- cer fronteiras morais e éticas que garantam a convivên- cia harmoniosa e o fortalecimento do nosso país. Os itens que vimos anteriormente acerca dos valores que regem o Brasil pretendem, por sua vez, alinhar-se à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa de- claração foi proclamada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU) — organização internacional for- mada por vários países com o objetivo de trabalhar pela paz e pelo desenvolvimento mundial. Vejamos: “A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promo- ver o respeito a esses direitos e essas liberdades e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Semmick Photo/Shutterstock.com VI Cidadania Moral e Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 6 06/01/17 10:47 Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às ou- tras com espírito de frater- nidade. Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra nature- za, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu- rança pessoal. Artigo IV Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual- quer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que vio- le a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII Toda pessoa tem direito a receber dos tributos na- cionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhe- cidos pela constituição ou pela lei. M on ke y_ Bu sin es s_ Im ag es /S hu tte rs to ck .co m VIIManual do Educador – 7o ano ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 7 06/01/17 10:47 Artigo IX Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exi- lado. Artigo X Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal in- dependente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação cri- minal contra ela. Artigo XI 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o di- reito de ser presumida inocente até que a sua culpa- bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público, no qual lhe tenham sido asse- guradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tam- pouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII Ninguém será sujeito a interferências na sua vida pri- vada, na sua família, no seu lar ou na sua correspon- dência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interfe- rências ou ataques. Artigo XIII 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. on ei nc hp un ch /S hu tte rs to ck .co m VIII Cidadania Moral e Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 8 06/01/17 10:47 Artigo XIV 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de per- seguição legitimamente motivada por crimes de di- reito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacio- nalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qual- quer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao ca- samento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. Artigo XVII 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua pro- priedade. Artigo XVIII Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Artigo XIX Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex- pressão; este direito inclui a liberdade de, sem interfe- rência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e indepen- dentemente de fronteiras. Artigo XX 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. fra nz 12 /S hu tte rs to ck .co m IX ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 9 06/01/17 10:48 Artigo XXI 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no gover- no de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições pe- riódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a li- berdade de voto. Artigo XXII Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a orga- nização e recursos de cada Estado, dos direitos econô- micos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de tra- balho e à proteção contra o desemprego. 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu- neração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e ne- les ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias perió- dicas remuneradas. Ja ck _F ro g/ Sh ut te rs to ck .co m X Cidadania Moral e Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 10 06/01/17 10:48 Artigo XXVI 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fun- damentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a to- dos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno de- senvolvimento da personalidade humana e do for- talecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promo- verá a compreensão, a tolerância e a amizade en- tre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gê- nero de instrução que será ministrada a seus filhos. Artigo XXVII Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de par- ticipar do processo científico e de seus benefícios. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. Artigo XXVIII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter- nacional em que os direitos e as liberdades estabele- cidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuida- dos médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doen- ça, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de per- da dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas den- tro ou fora do matrimônio gozarão da mesma pro- teção social. Monkey_Business_Images/Shutterstock.com iraua/Shutterstock.com XIManual do Educador – 7o ano ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 11 06/01/17 10:48 Artigo XXIX 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua per- sonalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pes- soa estará sujeita apenas às limitações determina- das pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e das liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem- -estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósi- tos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qual- quer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.” Recorremos, aqui, à Constituição e à Declaração de Direitos Humanos porque acreditamos que elas devem estar em nosso horizonte quando falamos da prática pedagógica. No entanto, reforçamos a ideia de que as considerações a respeito da ética e da moral não são modelos estanques a serem repassados para os estu- dantes. Toda e qualquer norma ou regra representa uma resposta a um determinado tempo/período histórico. É por isso que nós, professores, devemos ter em mente que trabalhamos com princípios passíveis de mudança, e não com mandamentos. E, assim, devido ao caráter abstrato dos valores morais e éticos, nosso papel pe- dagógico e formativo deve basear-se na intenção de colocar os alunos dentro desse processo de construção contínua de valores, de modo a torná-los seres eman- cipados e autônomos para agirem criticamente perante os preceitos morais e éticos. Rawpixel.com/Shutterstock.com XII Cidadania Moral e Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 12 06/01/17 10:48 Tendo em vista estabelecer padrões que ajudem a promover uma educação comprometida com a moral, a ética e a cidadania, os PCN propõem os seguintes tó- picos a serem trabalhados no Ensino Fundamental: Dignidade da pessoa humana: Implica respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas. Igualdade de direitos: Refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de exercício de cidadania. Para tanto, há que se considerar o princípio da equidade, isto é, que existem diferenças (étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religio- sas, etc.) e desigualdades (socioeconômicas) que neces- sitam ser levadas em conta para que a igualdade seja efetivamente alcançada. Participação: Como princípio democrático, traz a no- ção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre a representação política tradicional e a participa- ção popular no espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea, e sim mar- cada por diferenças. Corresponsabilidade pela vida social: Implica par- tilhar com os poderes públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos destinos da vida coletiva. É, nesse sentido, responsabili- dade de todos a construção e ampliação da democracia no Brasil. Tyler Olson/Shutterstock.com XIIIManual do Educador – 7o ano O ensino baseado nos Parâmetros Curriculares Nacionais ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 13 06/01/17 10:48 O ambiente escolar, além dos outros papéis, repre- senta um microcosmo da sociedade. O primeiro conta- to com indivíduos que não fazem parte da nossa família e com os quais devemos estabelecer outro tipo de re- lação se dá no colégio. Essa é a nossa primeira vivência social. Lá aprendemos que temos, invariavelmente, de- veres e direitos que devem ser seguidos e respeitados por todos que compõem aquela realidade. O papel da escola se estende para além da transmis- são de conhecimento ou formação profissional. Nesse local, a intenção primeira é a de ajudar a de- senvolver as capacidades, a consciência, a compreen- são de si mesmo, do outro e da sociedade. E é por meio dessa experiência cotidiana que nos adequamos às demandas sociais. Essa consciência dos valores morais, no entanto, não deve ser imposta. É evidente que os estudantes devem saber diferenciar o certo e o errado, mas essa avaliação deve partir deles, de acordo com o conhecimento de suas responsabilidades, com a evolução do seu senso crítico e a sua capacidade de decisão. Os estudantes precisam assumir a sua prática, e não apenas seguir o estabelecido, sem nenhum exercício de reflexão. A formação do ser humano precede a formação do tra- balhador. A educação existe antes para que possamos discutir, estabelecer e ajustar as normas sociais. Dessa forma, o objetivo social da escola deve estar voltado para a formação de um cidadão consciente de suas ações e obrigações e ativo na construção permanente da socie- dade. Por isso, a inclusão da matéria Cidadania Moral e Ética no currículo do Ensino Fundamental e Médio é es- sencial para o desenvolvimento social dos estudantes. M on ke y_ Bu sin es s_ Im ag es /S hu tte rs to ck .co m XIV Cidadania Moral e Ética A importância do ensino de Cidadania Moral e Ética na escola ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 14 06/01/17 10:48 Levandoem consideração que o volume de conhe- cimento produzido pela humanidade não pode ser completamente explorado em sala de aula, mesmo que durante os doze anos previstos para a conclusão do En- sino Fundamental e Médio, é fundamental que exista uma seleção de conteúdos que consideramos indispen- sáveis para a formação de um indivíduo. A inclusão do conteúdo de Cidadania Moral e Ética foi aprovada no Senado no ano de 2012. As considerações do MEC sobre os objetivos a serem atingidos, durante o Ensino Fundamental, são: A compreensão do significado de justiça e a cons- cientização da construção de uma sociedade igualitária, tendo em vista a necessidade de internalizar e assimilar esse conceito na prática, para que possamos formar su- jeitos sociais ativos. O respeito pelas diferenças — seja ela de credo, cor, gênero, etc.—, fundamental ao convívio em uma so- ciedade democrática e pluralista; e a compreensão da diversidade como uma oportunidade de ampliação do conhecimento, promoção do desenvolvimento pessoal e social e enriquecimento dos processos de aprendi- zagem. A adoção de atitudes solidárias, de cooperação, e re- púdio às injustiças e discriminações. A reflexão é apenas o primeiro passo para uma atitude ética. É preciso que, além dos debates e preocupações sociais, nós sejamos o reflexo do nosso discurso. A compreensão da vida escolar como participação no espaço público, utilizando e aplicando os conhecimen- tos adquiridos na construção de uma sociedade demo- crática e solidária. A valorização e o emprego do diálogo como forma de esclarecer os conflitos e tomar decisões coletivas. Por isso a importância da construção dos debates no de- senvolvimento da capacidade argumentativa. A construção de uma imagem positiva de si, o respei- to próprio traduzido pela confiança em sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida e pela legiti- mação das normas morais que garantam, a todos, essa realização. Para que possamos atingir as metas estabelecidas, é necessário que não só o professor de Cidadania Moral e Ética esteja comprometido, mas que todos os professo- res tenham em mente a responsabilidade da educação e da conscientização social no processo de aprendizagem. M on ke y_ Bu sin es s_ Im ag es /S hu tte rs to ck .co m XVManual do Educador – 7o ano Objetivos fundamentais para o ensino de Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 15 06/01/17 10:48 Em seu sentido tradicional, a cidadania expressa um conjunto de direitos e de deveres que permite aos ci- dadãos a participação na vida política e na vida pública, podendo votar e serem votados, fazendo parte ativa- mente na elaboração das leis e do exercício de funções públicas, por exemplo. Hoje, no entanto, o significado da cidadania possui contornos mais amplos, que ex- trapolam o sentido de apenas atender às necessidades políticas e sociais, e assume como objetivo a busca por condições que garantam uma vida digna às pessoas. Entender a cidadania a partir da redução do ser hu- mano às suas relações sociais e políticas não é coeren- te com a multidimensinalidade que nos caracteriza e com a complexidade das relações que cada um e to- das as pessoas estabelecem com o mundo à sua volta. Deve-se buscar compreender a cidadania também sob outras perspectivas, por exemplo, considerando a im- portância que o desenvolvimento de condições físicas, psíquicas, cognitivas, ideológicas, científicas e culturais exerce na conquista de uma vida digna e saudável para todas as pessoas. Tal tarefa, complexa por natureza, pressupõe a edu- cação de todos (crianças, jovens e adultos), a partir de princípios coerentes com esses objetivos, e com a inten- ção explícita de promover a cidadania pautada na de- mocracia, na justiça, na igualdade, na equidade e na par- ticipação ativa de todos os membros da sociedade nas decisões sobre seus rumos. Dessa maneira, pensar em uma educação para a cidadania torna-se um elemento essencial para a construção da democracia social. Entendemos que tal forma de educação deve visar, também, ao desenvolvimento de competências para li- dar com: a diversidade e o conflito de ideias, as influên- cias da cultura e os sentimentos e emoções presentes nas relações do sujeito consigo mesmo e com o mundo à sua volta. Uma questão a ser apontada é que, atualmente, as crianças e os adolescentes vão à escola para aprender as Ciências, a Língua, a Matemática, a História, a Física, a Geografia, as Artes, e apenas isso. Não existe o objetivo explícito de formação ética e moral das futuras gerações. Entendemos que a escola, enquanto instituição pública criada pela sociedade para educar as futuras gerações, deve-se preocupar também com a construção da cida- dania, nos moldes que atualmente a entendemos. Se os pressupostos atuais da cidadania têm como base a garantia de uma vida digna e a participação na vida política e pública para todos os seres humanos, e não apenas para uma pequena parcela da população, essa escola deve ser democrática, inclusiva e de qualidade, para todas as crianças e adolescentes. Para isso, deve promover, na teoria e na prática, as condições mínimas para que tais objetivos sejam alcançados na sociedade. Mas como os valores são apropriados pelos sujei- tos? Adotamos a premissa de que os valores não são nem ensinados, nem nascem com as pessoas. Eles são construídos na experiência significativa que as pessoas estabelecem com o mundo. Essa construção depende diretamente da ação do sujeito, dos valores implícitos nos conteúdos com que interage no dia a dia e da qua- lidade das relações interpessoais estabelecidas entre o sujeito e a fonte dos valores. Ulisses F. Araújo Hogan_Im aging/Shutterstock.com XVI Cidadania Moral e Ética A educação e a construção da cidadania ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 16 06/01/17 10:48 Na Filosofia, o campo que se ocupa da reflexão sobre a moralidade humana recebe a denominação de Ética. Estes dois termos, ética e moral, têm significados pró- ximos e, em geral, referem-se ao conjunto de princípios ou padrões de conduta que regulam as relações dos seres humanos com o mundo em que vivem. Uma educação ancorada em tais princípios deve con- verter-se em um âmbito de reflexão individual e coletiva que permita elaborar racionalmente e autonomamente princípios gerais de valor, que ajudem a defrontar-se criticamente com realidades como a violência, a tortura ou a guerra. De forma específica, educação ética e mo- ral deve ajudar na análise crítica da realidade cotidiana e das normas sociais e morais vigentes, de modo que contribua para idealizar formas mais justas e adequa- das de convivência. Ainda na linha de compreensão do papel da educação para a formação ética dos seres hu- manos, alguns teóricos entendem que a educação dos cidadãos deve levar em conta a dimensão comunitária das pessoas, seu projeto pessoal e também sua capaci- dade de universalização, que deve ser exercida dialogi- camente, pois, dessa maneira, elas poderão ajudar na construção do melhor mundo possível, demonstrando saber que são responsáveis pela realidade social. De forma específica, lidar com a dimensão comuni- tária, dialogar com a realidade cotidiana e as normas vigentes nos remete ao trabalho com a diversidade hu- mana, à abordagem e ao desenvolvimento de ações que enfrentem as exclusões, os preconceitos e as discri- minações advindos das distintas formas de deficiência e das diferenças sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero. Conceber esse trabalho na própria comunidade onde está localizada a escola, no ambiente natural, social e cultural de seu entorno, é essencial para a construção da cidadania efetiva. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/ materiais/0000015509.pdf. Adaptado. Acessado em: 14/07/2014. loreanto/Shutterstock.com XVIIManual do Educador – 7o ano Ética ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 17 06/01/17 10:48 Com o intuitode promover uma educação plena, a coleção leva para a sala de aula os temas mais impor- tantes e próximos aos alunos, para que, por meio de textos, imagens, exercícios e debates, eles possam de- senvolver solidamente a sua consciência social. Os capítulos que compõem os livros abrigam uma Ca pí tu lo5 Conhecimentos prévios • Você consome por necessidade ou por desejo? • O que você entende por meio ambiente? • Você considera que a Terra ou o meio ambiente estão doentes? • Você contribui de alguma maneira para o fim do meio ambiente e da vida na Terra? Como? O meio ambiente Na sua sala de aula, provavelmente existe um lixeiro, assim como em outros locais da escola. Pense também no lixo que é produzido em sua casa e na enorme quan- tidade de detritos e materiais jogados fora que vemos pelas ruas. É bastante lixo. Agora, pense em quanto lixo é produzido no mundo inteiro. Para onde vai tudo isso? O que é possível reaproveitar e quais são os problemas que essa enorme quantidade causa no meio ambiente? O acúmulo de lixo é apenas um dos problemas relacio- nados à preservação do planeta. Neste capítulo, estudaremos como nossas ações, em especial as referentes ao trabalho e ao consumo, podem contribuir para a preservação ou a destruição do mundo e do lugar em que vivemos. Vamos dialogar! D e ci m a pa ra b ai xo d a es qu er da p ar a di re ita : S yd a P ro du ct io ns , K al iA nt ye , P ho to gr ap he e. eu /S hu tte rs to ck CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 64 05/01/17 22:06 Vamos dialogar!: Esta é a única seção que se apresenta, exclusivamente, no princípio de cada capítulo. Aqui, intro- duzimos a temática por intermédio de imagens. A intenção é que os alunos construam suas falas a partir da memó- ria visual que as fotografias, somadas ao tema, despertam neles. O resultado dessa abordagem ampla é a probabili- dade de surgirem inúmeras e valiosas reflexões que ajudarão na construção de sentido dos assuntos abordados. unidade temática, norteadora das discussões, que é subdividida em três seções que se intercalam para um melhor aprofundamento do tema. Essas seções têm funções específicas e buscam estruturar da maneira mais didática e agradável o conteúdo estudado. Veja- mos, a seguir, quais elas: XVIII Cidadania Moral e Ética Estrutura da coleção ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 18 06/01/17 10:48 Para Refletir: Esta seção também se interpõe entre os textos responsáveis pelo desenvolvimento do conteú- do e as questões, que auxiliam nesse progresso. Nesse espaço, selecionamos diversos escritos que abordam o assunto do capítulo sob um viés lúdico. São crônicas, reportagens, sinopses, indicações de filmes, etc. que aproximam, ainda mais, os jovens estudantes das re- flexões propostas. 1. Leia a canção abaixo e responda às questões que seguem: Criança não trabalha Lápis, caderno, chiclete, peão, Sol, bicicleta, skate, calção, esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão. Bola, pelúcia, merenda, crayon, banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombom, tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão. [...] Criança não trabalha, criança dá trabalho. Criança não trabalha. [...] ANTUNES, Arnaldo. TATIT, Paulo. In: Palavra Cantada. Canções curiosas. BMG, 1998. a. Qual é a principal mensagem da música? Resposta pessoal b. Que relação tem a música com o tema Exploração no trabalho? Resposta pessoal Questão de ética? Cidadania Moral e Ética I 7o ano 43 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 43 05/01/17 22:06 c. Quais são os recursos usados para apresentar o objeto como necessário para ser feliz? Resposta pessoal 3. Observe propagandas de bebidas alcoólicas e responda às questões. Em seguida, debata cada um dos itens com o professor e seus colegas. a. Como é o ambiente em que se passa a propaganda? b. Como são os personagens? Eles são felizes? c. Qual é a mensagem do comercial? d. Esse tipo de campanha publicitária incentiva hábitos que prejudicam a saúde? e. Quais são as consequências do consumo exagerado de bebida alcoólica? f. A relação entre a propaganda e a realidade é verdadeira? Por quê? Para refletir Publicidade, consumo e meio ambiente Vivemos numa sociedade de consumo, em que comprar e vender fazem parte do cotidiano e tomam muito tempo, recurso e energia. O problema é que geralmente não percebemos que esse simples ato pode ter reflexos negativos sobre o meio ambiente. Ao comprar uma roupa nova, por exemplo, não nos damos conta de que, para produzir aque- le tecido, foi preciso cultivar o algodão, e que isso implicou o uso de grandes quantidades de fertilizantes químicos e pesticidas, que contaminam o solo, a água e o ar. Atualmente, imensas áreas de terra são destinadas à monocultura do algodão, que, com o passar dos anos, vai deteriorando o solo. Mais ainda, o processo de tingimento na indústria têxtil emprega grandes volumes de água e produtos químicos, que contaminam os cursos de água. Hoje, disseminado em praticamente todo o mundo, o fenômeno do consumismo não teria sido possível sem o bombardeio incessante da publicidade. A publicidade nos persegue em toda parte, e muitas vezes não nos damos conta disso. Está nas ruas, nas fachadas dos prédios, nos ônibus e nas vitrines. Também chama a nossa atenção em bancos, escritórios, hospitais, restaurantes, cinema e outros lugares públicos. Em casa, bas- ta abrir o jornal, ligar o rádio ou a televisão. Muitas vezes, ela vem pelo correio: são as ofertas e propagandas. Sem perceber, fazemos publicidade gratuitamente ao usar roupas, sapatos, bolsas e outros objetos com etiquetas visíveis. É realmente muito difícil não ser afetado por essa publicidade massiva, que se incorporou a todos os aspectos de nossa vida e nos emite mensagens o tempo todo, de forma direta ou velada. Cidadania Moral e Ética I 7o ano 53 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 53 05/01/17 22:06 Questão de ética: Esta seção aparece depois de cada tópico proposto no capítulo. Dessa forma, podemos nos aprofundar no conteúdo de maneira gradual e agradável, sem diferenciar a apreensão teórica e prá- tica. As questões têm o propósito de colocar o aluno como protagonista, demandando reflexão para a expo- sição do seu ponto de vista. É interessante, também, pedir que os alunos compartilhem suas respostas a fim de que toda a turma possa ser responsável, conjunta- mente, pela conclusão desses tópicos. XIXManual do Educador – 7o ano ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO.indb 19 06/01/17 10:48 Sumário Capítulo 1 • O homem e a ética ........................................................... 6 • Ética: uma necessidade do homem .......................................8 • Ética e educação ........................................................................11 • As três peneiras: verdade, bondade e utilidade ..................15 • A moral e a ética na sociedade ...............................................18 • Sobre o amor ...............................................................................20 • Apelo de um idoso .....................................................................24 Capítulo 3 • O trabalho .................................................................. 36 • A mulher no mercado de trabalho ................................37 • Exploração no trabalho ....................................................41 • Segurança do trabalho ....................................................46 Capítulo 2 • Ciência e tecnologia .......................................... 28 • A tecnofobia ..................................................................29 • A tecnologia aproxima ou afasta as pessoas? .....31 • O uso de robôs ............................................................32 • Cuidado com os jogos eletrônicos ..........................34 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 4 17/01/17 15:03 Capítulo 4 • Consumo e consumismo ....................................... 48 • O que é consumo? ..........................................................49• O consumo e o nosso lugar na sociedade .................51 • O consumo te consome ..................................................54 • O que consumimos e o que desperdiçamos .............60 • Defesa do consumidor ....................................................62 Capítulo 5 • O meio ambiente ..................................................... 64 • Localidade e consumo ....................................................65 • Para onde vai o lixo? ........................................................69 Capítulo 6 • A cultura brasileira .................................................. 72 • O conceito de cultura no Brasil ....................................73 • A rica cultura dos indígenas ...........................................75 • A presença dos negros no Brasil .................................78 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 5 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 6 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética • Fazer uma análise objetiva do conceito de ética e de como este dialoga com demais conceitos importantes para nosso estudo, como moral, verdade e cidadania. • Entender por que a ética é uma necessidade histórica do ser humano e a sua importância para a manutenção do respeito entre os humanos. • Estudar a importância da educação para a formação ética da sociedade. • Avaliar as implicações éticas na prática cotidiana do amor. • Analisar a necessidade de se dar atenção aos idosos e as maneiras de se fazer isso. Objetivos Pedagógicos Sugestão de leitura //// Ética Autores: Adela Cortina e Emilio Martínez Hoje a ética pode abordar a tríplice tarefa que desde os inícios da filoso- fia grega já havia sido incumbida de realizar — esclarecer em que consiste a moral, fundamentar ou fornecer ra- zão suficiente a desse fenômeno hu- mano e aplicar o que se descobriu aos problemas morais cotidianos. Nesse livro, apresentam-se as linhas funda- mentais dessas três tarefas a partir de uma perspectiva comprometida com a razão prática. Fundamentação A ética é indiretamente normativa Desde suas origens entre os filó- sofos da antiga Grécia, a Ética é um tipo de saber normativo, isto é, um saber que pretende orientar as ações dos seres humanos. A moral também é um saber que oferece orientações para a ação, mas, enquanto ela pro- põe ações concretas em casos concretos, a ética — como filosofia moral — remon- ta à reflexão sobre as diferentes morais e as diferentes maneiras de justificar ra- cionalmente a vida moral, de modo que sua maneira de orientar a ação é indireta: no máximo, pode indicar qual concepção moral é mais razoável para que, a partir dela, possamos orientar nossos compor- tamentos. Ca pí tu lo1 Conhecimentos prévios • Você sabe o que é ética? • Será que podemos ver atitudes éticas no dia a dia? • Para você, qual é a necessidade da ética? • Existe ética no amor? O homem e a ética A palavra ética procede do grego ethos, que signifi- cava originalmente morada, lugar em que vivemos, mas posteriormente passou a significar o caráter, o modo de ser que uma pessoa ou um grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por sua vez, o termo moral proce- de do latim mos, moris, que originariamente significava costume, mas em seguida passou a significar também caráter ou modo de ser. Desse modo, ética e moral confluem em um significado quase idêntico: tudo aqui- lo que se refere ao modo de ser ou caráter adquirido como resultado de pôr em prática alguns costumes considerados bons. Fala-se, por exemplo, de uma “atitude ética” para de- signar uma atitude moralmente correta segundo deter- minado código moral; ou diz-se que um comportamen- to foi “pouco ético” para significar que não se ajustou aos padrões habituais da moral vigente. Vamos dialogar! CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 6 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 6 17/01/17 15:03 7 O homem e a ética Manual do Educador – 7o ano Portanto, em princípio, a filosofia mo- ral ou ética não tem motivos para ter uma incidência imediata na vida coti- diana, pois seu objetivo último é escla- recer reflexivamente o campo da moral. No entanto, esse esclarecimento cer- tamente pode servir de modo indireto como orientação moral para os que pretendem agir racionalmente no con- junto da sua vida. [...] A ética não é nem pode ser “neutra” A caracterização da ética como filosofia moral leva-nos a enfatizar que essa disci- plina não se identifica, em princípio, com nenhum código moral determinado. Pois bem, isso não significa que permaneça “neutra” diante dos diferentes códigos morais que existiram ou possam existir. Tal “neutralidade” ou “assepsia axioló- gica” não é possível, uma vez que os métodos e objetivos próprios da ética a comprometem com certos valores e a obrigam a denunciar alguns códi- gos morais como “incorretos”, ou até mesmo como “desumanos”, enquanto outros podem ser reafirmados por ela na medida em que os considere “razoá- veis”, “recomendáveis” ou até mesmo “excelentes”. No entanto, não é certo que a inves- tigação ética possa nos levar a reco- mendar um único código moral como racionalmente preferível. Dada a com- plexidade do fenômeno moral e a plu- ralidade de modelos de racionalidade e de métodos e enfoques filosóficos, o resultado tem de ser necessariamente plural e aberto. Mas isso não significa que a ética fracasse em seu objetivo de orientar de modo mediato a ação das pessoas. Em primeiro lugar, porque diferentes teorias éticas podem dar como resultado algumas orientações morais muito semelhantes (a coinci- dência em certos valores básicos que, embora não estejam de todo incorpo- rados à moral vigente, são justifica- dos como válidos). Em segundo lugar, porque é muito possível que os pro- gressos da própria investigação ética cheguem a evidenciar que a missão da filosofia moral não é a justificação ra- cional de um único código moral pro- priamente dito, e sim um quadro geral de princípios morais básicos dentro do qual diferentes códigos morais mais ou menos compatíveis entre si possam legitimar-se como igualmente válidos e respeitáveis. O quadro moral geral assinalaria as condições que todo có- digo moral concreto teria de cumprir para ser racionalmente aceitável, mas essas condições poderiam ser cumpri- das por uma pluralidade de modelos de vida moral que rivalizariam e entre si, mantendo-se, desse modo, um plu- ralismo moral mais ou menos amplo. CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. São Paulo:Loyola, 2005, p. 9, 10, 20, 21. Corresponde à ética uma tripla função: 1. Esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos. 2. Fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente. 3. Aplicar, aos diferentes âmbitos da vida social, os resultados obtidos nas duas primeiras funções. CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. São Paulo: Loyola, 2005. Pensando nisso e na sua observação do dia a dia, você acha que a ética é mais levada em consideração ou é mais esquecida pela maioria das pessoas? Que regras éticas nós segui- mos? Quem nos ensina sobre elas? E por que é importante pensar sobre isso? Assim como fizemos no ano anterior, estudaremos, a partir de agora, conceitos, exemplos e pontos de vista a respeito da cidadania e da ética. Para começar, veremos o que alguns pensa- dores falam sobre o tema e discutiremos como aplicar o que aprendemos na nossa vida. Observe, com seus colegas, as imagens abaixo e debatam: as personagens estão seguindo normas éticas? Por quê? E ve re tt C ol le ct io n/ S hu tte rs to ck E ve re tt C ol le ct io n/ S hu tte rs to ck E ve re tt C ol le ct io n/ S hu tte rs to ck E ve re tt C ol le ct io n/ S hu tte rs to ck Cidadania Moral e Ética I 7oano 7 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 7 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 7 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 8 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética Sugestão de leitura //// A arte da Felicidade Autor: Dalai Lama Dalai-lama busca mostrar como derrotar a ansiedade e a insegurança, a contrariedade e o desânimo do dia a dia. Junto com o Dr. Cutler, ele ex- plora facetas do cotidiano, entre elas os relacionamentos, a perda e a bus- ca da riqueza, procurando mostrar como transpor os obstáculos da vida através de uma fonte permanente de paz interior. Só escrever os objetivos do seu pla- no de aula não é suficiente para cum- pri-los. Uma forma de cumprir estes objetivos é criar um sistema que in- tegre ensino, aprendizagem e avalia- ção, que irão assegurar que cada uma das metas para o desenvolvimento das aulas sejam trabalhadas. Sugestão de Abordagem Pequena biografia do Dalai-lama Tenzin Gyatso, Sua Santidade, o 14º dalai-lama, nasceu em 6 de julho de 1935, numa família de camponeses da pequena vila de Taktser, na província de Amdo, situada no nordeste do Ti- bet. Seu nome era Lhamo Dhondup até o momento em que, com 2 anos de idade, Sua Santidade foi reconheci- do como sendo a reencarnação de seu predecessor, o 13º dalai-lama, Thubten Gyatso. Os dalai-lamas são tidos como manifestações de Avalokiteshvara ou Chenrezig, o bodhisattva da Compaixão e patrono do Tibet. Um bodhisattva é um ser iluminado que adiou sua entra- da no nirvana e escolheu renascer para servir à humanidade. Sua Santidade, o Dalai-lama, come- çou sua educação monástica aos 6 Fundamentação anos. [...] Aos 23 anos, fez seu exame final no Templo de Jokhang, em Lhasa, duran- te o Festival Anual de Orações Mönlam. Foi aprovado com honras e recebeu o grau de Geshe Lharampa (título máximo, equivalente a um doutorado em Filoso- fia). Em complemento a esses temas bu- distas, estudou inglês, ciências, geografia e matemática. Em 1950, com 15 anos de idade, Sua Santidade foi solicitado a assumir a com- pleta responsabilidade política como chefe de Estado e de governo, após a invasão chinesa do Tibet. Em 1954, foi a Beijing para tratativas de paz com Mao Tsé-tung e outros líderes chineses, como Chou En-Lai e Deng Xiaoping. Em 1956, durante visita à Índia para partici- par das festividades do aniversário de 2.500 anos de Buda, esteve presente em uma série de reuniões com Nehru, o primeiro-ministro indiano, e o premiê Ética: uma necessidade do homem Há muito que o homem tem sede de ética; desde antes de Cristo, tomando como fundamen- tal a busca da felicidade, princípio básico dos seres humanos. Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vis- tas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: “Como posso ser feliz?”. A ética fere todos os ideais egoístas. Ela se debruça sobre a generosidade e o compartilha- mento; invade a alma do ser humano, buscando o que ela tem de melhor a oferecer, garantindo a sua integridade diante de seus semelhantes. Nesse momento, podemos dizer que a ética é a grande estimuladora de uma convivência sadia, em que os valores que a sustentam direcionam- -se rumo à paz. Após tantas tragédias ecológicas, tanta miséria humana, tantas mortes e injus- tiças, o mundo finalmente começa a compreender o óbvio: a necessidade de se unir, pois, do contrário, perecerá irreversivelmente. É a ética que conduz à reflexão das práticas, contribuindo para evitar o isolamento e o fim do homem como pessoa, como cidadão do mundo, como portador de uma alma e de um espírito. Além de abordar o comportamento social, a ética volta-se, como se vê, para o ambiente que é palco de atuação de todos os viventes que contribuem para o desencadear da vida. O valor do respeito, por exemplo, é vital para o controle dinâmico dos ecossistemas e para o equilíbrio da qualidade de vida no planeta Terra. É por isso que o tema gera releituras e debates, por ser um aliado da sociedade planetária na luta contra o desrespeito e as diferenças e em favor do resgate da dignidade humana. A ética vem facilitar a reflexão dos conceitos e das práticas. A cooperação, por exemplo, é um valor imprescindível para a construção de uma humanidade menos egoísta e mais equili- brada. Porém, não se pode esquecer o significado do diálogo, da compreensão, do respeito, da verdade, da solidariedade... Nunca o mundo precisou tanto redescobrir esses valores. Eles convidam para a promoção do diálogo entre os povos. É chegado o momento de assumir um comportamento ético fundamentado no interesse comum, no fim dos preconceitos. É hora de construir pontes entre as diferenças! São esses princípios que funcionam como uma rocha de edificação para a construção de um milênio formador da consciência reflexiva, crítica e solidária. Dalai Lama. Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. 8 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 8 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 8 17/01/17 15:03 9 O homem e a ética Manual do Educador – 7o ano Chou, sobre a situação do Tibet, que se deteriorava rapidamente. Seus esforços para alcançar uma so- lução pacífica para o problema sino- -tibetano foram frustrados pelas atro- cidades da política chinesa, no leste do Tibet, dando origem a um levante popular. Esse movimento de resistência espalhou-se por outras partes do país, e, em 10 de março de 1959, Lhasa, a ca- pital do Tibet, explodiu em um grande levante. As manifestações da resistência tibetana exigiam que a China deixasse o Tibet, reafirmando a independência deste último. Quando a situação se tornou insusten- tável, pediu-se ao Dalai-lama que saísse do país para continuar no exílio a luta pela libertação. Sua Santidade seguiu para a Índia, que lhe concedeu asilo político, acompanhado de outros 80 mil refugia- dos tibetanos. Hoje há mais de 120 mil tibetanos vivendo como refugiados na Índia, no Nepal, no Butão e no Ociden- te. Desde 1960, Sua Santidade reside em Dharamsala, uma pequena cidade no norte da Índia, apropriadamente conhecida como Pequena Lhasa, por sediar o governo tibetano no exílio. [...] Com o estabelecimento do governo tibetano no exílio, Sua Santidade perce- beu que a tarefa mais imediata e urgen- te era lutar pela preservação da cultu- ra tibetana. Fundou 53 assentamentos agrícolas de larga escala para acolher os refugiados; idealizou um sistema educacional tibetano autônomo (exis- tem hoje mais de 80 escolas tibetanas na Índia e no Nepal) para oferecer às crianças refugiadas tibetanas pleno co- nhecimento de sua língua, história, reli- gião e cultura. Em setembro de 1987, Sua Santidade propôs o Plano de Paz de Cinco Pontos para o Tibete, como um primeiro pas- so na direção de uma solução pacífica para a situação que rapidamente se de- teriorava no país. Em sua visão, o Tibete se tornaria um santuário, uma zona de paz no coração da Ásia, em que todos os seres sencientes poderiam viver em harmonia, com o delicado equilíbrio ambiental preservado. A China, até o momento, não respondeu positivamen- te às várias propostas de paz criadas por Sua Santidade. [...] Disponível em: http://www.dalailama.org.br/biografia/. Acessado em: 03/06/2014. Sócrates (470–399 a.C.) foi um fi- lósofo da Antiguidade que discutiu questões antropológicas. Ele exerceu filosofia em praça pública, promoven- do debates e desenvolvendo a cons- ciência crítica. A Sócrates é atribuído o pensamento: “Conhece a ti mesmo”. proponha uma reflexão com seus alu- nos com essa máxima. Diálogo com o professor Questão de ética? 1. Segundo o autor do texto, a preocupação com a ética é recente? Explique. Não. Conforme o texto, desde que o homem busca a felicidade, ele se preocupa com a ética,para nortear essa busca. 2. De que maneiras a ética vai de encontro ao egoísmo e à violência? A busca da ética promove a convivência pacífica entre os homens, além da busca por parte destes pelos sentimentos de generosidade e compartilhamento. 3. Conforme o texto, há uma pergunta que provoca toda a humanidade (“Como posso ser fe- liz?”). Como você responderia a esse questionamento? Resposta pessoal 4. Que acontecimentos constantes incentivam o esforço de união entre as pessoas? A miséria, as injustiças, as tragédias ecológicas, entre outros. 5. Para Dalai Lama, a ética vem para facilitar a reflexão dos conceitos e de nossas práticas para o dia a dia. Por que temos que introduzir a ética no nosso cotidiano? Porque é um é um valor imprescindível para a construção de uma humanidade menos egoísta e mais equilibrada. 6. De acordo com o texto, o mundo precisa redescobrir certos valores que hoje em dia estão se perdendo. Que valores são esses? O valor do diálogo, da compreensão, do respeito, da verdade, da solidariedade. Cidadania Moral e Ética I 7o ano 9 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 9 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 9 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 10 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética O trabalho com a prática de valores pode ser interagido com das ativida- des docentes de outras disciplinas. Você pode interagir, por exemplo, com o professor de Língua Portugue- sa. Como vocês estão comprometi- dos com a educação em valores, ele não se limitará a indicar ou solicitar de seus alunos uma lista de palavras como justiça, dignidade e solidarieda- de, para exemplificar os substantivos abstratos, como assinalam as gramá- ticas escolares. Mais do que abstra- tas, estas palavras, na sociedade, são categorias que se aplicam às práticas sociais, isto é, às atividades social- mente produzidas, ao mesmo tempo produtoras da existência social. Pense nisto: Interdisciplinaridade é a chave para o sucesso. Sugestão de Abordagem Muitas vezes, a educação é entendida e exercida somente como um proces- so de acumulação de informações, ou seja, como um processo de ensino. Um cabedal imenso de informações pode não acrescentar valores maiores a um ser, que, portanto, não haverá de se humanizar devidamente. O acúmulo de informações, atualmente, é muito mais um processo eletrônico, executado com fantástica eficiência por máquinas, sem que isso signifique qualquer dimensão de educabilidade. Um simples compu- tador haverá de acumular dados em uma quantidade infinitamente maior do que qualquer cérebro humano. Re- sulta que ensinar, embora faça parte do processo de educar, não significa, por si só, um processo educativo. Tampouco um treinamento leva necessariamente à educabilidade humana. Os animais irracionais também são treináveis. Eles aprendem a executar tarefas, movimen- tos e práticas repetitivas num automa- tismo surpreendente. Um ser humano, porém, não pode ser reduzido apenas a um mero repetidor de ações irrefle- Fundamentação tidas, não assimiladas e executadas me- canicamente. Portanto, não se pode con- fundir um treinamento com educação. [...] Teremos somente um ser humano educado na medida em que ele crescer e for melhor sob todos os pontos de vista. Isso quer dizer que a educação mobilizará sempre suas múltiplas dimensões de um ser biológico, social, espiritual, intelectual, psicológico, material, estético, etc. [...] Seria de todo desejável podermos afirmar que não é possível haver edu- cação sem ética. Entretanto, a realidade é marcada por uma imperfectibilida- de inerente a toda condição humana. Resulta que algumas interrogações se impõem contundentemente ao refletir- mos sobre essa aproximação: como será possível se construir uma sociedade marcada profundamente pela partici- pação de cidadãos éticos se o conjunto de ideias, ideais e valores que impregna As pessoas normalmente dizem: “Eu sabia que era errado, mas não pude evitá-lo”. Só- crates responde: “Isso nunca é realmente a verdade. Tu podes ter sabido que outras pes- soas acham que o que fizeste era ruim; mas, se tivesses sabido por ti mesmo que era ruim, não o terias feito. Teu erro foi a falta de esclarecimento. Não viste o bem; foste enganado por algum prazer que parecia bom naquele momento. Se tivesses visto o bem, também o terias desejado e agido para obtê-lo”. Sócrates. In: CORNFORD, F. M. Antes e depois de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 47. “Quando desempenho meu papel social de irmão, de esposo ou de cidadão, quando realizo os compromissos que tomei, cumpro deveres que estão definidos, para além de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os meus sentimentos próprios e sentindo-lhes interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva, pois não fui eu que a estabeleci, antes os recebi pela educação.” DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 31-32. Para refletir Questões para reflexão? 1. “Eu sabia que era errado, mas não pude evitá-lo.” Você já praticou tal atitude? Por quê? 2. Quando uma pessoa tem o esclarecimento, ela evita o erro? Justifique. 3. Se todas as pessoas cumprissem seu papel social, a sociedade viveria me- lhor? Por quê? 4. Se seus desejos e suas vontades forem atitudes aéticas, você segue em frente ou desiste? Justifique. 7. Por que o estudo da ética, hoje, apresenta-se como imprescindível? Porque os valores éticos favorecem o diálogo entre os povos, facilitando a resolução de problemas diante de interesses conflituosos. Cidadania Moral e Ética I 7o ano10 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 10 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 10 17/01/17 15:03 11 O homem e a ética Manual do Educador – 7o ano Com as respostas dos alunos você pode fazer um painel explanando as várias possibilidades de atitudes an- tiéticas e realizar uma pequena ex- posição para ratificar as atitudes que discutem a sociedade. Sugestão de Abordagem todo o mundo atual não contempla a ética como algo necessário? Como ter, na educação, um instrumento que ve- nha a ser uma ferramenta, mesmo que imperfeita, de formação dessa realidade ética, se ela só existe enquanto serve a uma sociedade que lhe impõe sua ma- neira de ser e de funcionar? Por outra, como buscar uma educação impregna- da de valores éticos em um mundo que não contempla a ética como um valor imprescindível? Como um profissional de educação poderá pretender realizar a sua tarefa cotidiana como educador se ele precisa responder às exigências de uma sociedade que lhe impõe padrões de comportamento que em pouco ou nada contemplam uma postura ética funda- mental? Como buscar pelo menos uma aproximação entre a educação e a ética na prática cotidiana desse profissional da educação? Na contrapartida de todas essas indagações, cabe perguntar se não é mesmo possível haver educação sem ética. Ou seja, uma educação sem ética deixa de ser educação? Precisa- mos conviver com a existência de mais perguntas do que respostas e certe- zas e com as contradições inerentes a uma realidade complexa e paradoxal. Mesmo assim, é preciso encontrar e alimentar razões suficientes para acre- ditar que essa aproximação é possível, que o mundo transformável e a espe- rança de uma realidade orientada por valores éticos pode ser construída. É no rastro dessas questões que se desen- volve a reflexão na busca de caminhos possíveis. JOHANN, Jorge Renato. Educação e ética: em busca de uma aproximação. Porto Alegre: Edipucrs, 2009, p. 20-22. Anotações Ética e educação No começo do processo de hominização, encontra- mos um ser natural, que ainda não produziu história, nem educação, nem ética. É um hominídeo, um ser semelhante aos demais seres que habitam o planeta,como os inani- mados, os vegetais e os animais. Estes apenas repetem um programa predeterminado pela natureza. Nada têm que acrescentar para existirem. São movidos por impulsos e por instintos. [...] Na medida em que o processo de hominização se com- pleta e se inicia o processo de humanização, o ser humano passa a se apresentar como um ser aberto e inconcluso. É o único ser deste planeta que não recebe a vida pronta e acabada, diferentemente dos demais seres. Ele recebe uma mera possibilidade de existir. Sua grande tarefa será sua própria construção, a sua própria fabricação. [...] O ser humano descobre que pode ir além do estado natural em que está imerso e fechado. [...] Nesse momen- to, inicia-se o fenômeno da educação como possibilida- de de ser diferente, de ser mais e ser melhor, são tarefas que implicam em comprometimento ético. [...] Portanto, a construção de um ser humano pleno sugere a inclusão de dimensões éticas em seu desenvolvimento. JOHANN, Jorge Renato. Educação e ética: em busca de uma aproximação. Porto Alegre: Edipucrs, 2009. 1. A partir de que momento histórico o homem passa a se preocupar com questões éticas? Quando começa a se desenvolver o processo de humanização e o homem se descobre aberto a inúmeras possibilidades e com o dever de estabelecer suas próprias orientações. 2. Como a educação está relacionada ao nascimento da ética? A educação nasce com a necessidade do comprometimento ético, da criação de valores que guiem a convivência dos homens. Questão de ética? AnnaTamila/Shutterstock Cidadania Moral e Ética I 7o ano 11 CMeE_7A_2016_CAP1.indd 11 17/01/17 14:43 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 11 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 12 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética Os relatos apresentados na questão 4 oferecem a oportunidade de se am- pliar a discussão sobre ética e valores morais. Depois de classificá-los como certos ou errados, os alunos podem responder às seguintes perguntas: a) Que ações conscientes você pode realizar para demonstrar que age com ética no dia a dia? b) Por que o ser humano, diferente- mente dos animais, é capaz de de- senvolver e aplicar valores éticos? c) Em nossa sociedade, o que são princípios ideais? Cite alguns deles. d) Como podemos identificar rela- ções de respeito entre amigos, fa- miliares, alunos, professores, etc.? e) Por que a ética não necessaria- mente impede de defendermos nossos próprios ideais? Exemplifi- que. A questão 5 oferece a oportunida- de de trabalhar o conteúdo da aula com o auxílio de jornais, que podem ser impressos ou virtuais. Após os alunos realizarem a pesquisa e ano- tarem o resumo da notícia de um fato antiético, pode ser feita uma mesa-redonda na qual cada um lerá o texto pesquisado e apontará, jun- tamente aos demais, a demonstração de falta de ética. O professor também pode levar matérias e reportagens recentes para a sala para contribuir com o debate. Esse tipo de atividade, além de possibilitar uma leitura crítica dos fatos atuais, incentiva o hábito de se manter bem-informado. Sugestão de Abordagem Abordar as religiões de matriz africa- na em sala de aula torna-se primordial para que o preconceito, o estigma e a intolerância religiosa sejam subtraídos. É nesta perspectiva que este traba- lho vem ceder uma discussão teórico- Diálogo com o professor Anotações -metodológica que possa, pelo menos, amenizar esse problema em sala de aula, contribuindo para tornar o ambiente es- colar mais democrático e inclusivo. 3. Como você tem aprendido a diferenciar os valores bons dos ruins: a. em casa, com a família? Resposta pessoal b. na escola, com os professores? Resposta pessoal c. com os amigos? Resposta pessoal 4. No seu dia a dia, você se depara, muitas vezes, com atitudes que não são éticas. Sobre isso, escreva um breve relato sobre alguma atitude que você considerou antiética. Resposta pessoal 5. Com base na frase abaixo, classifique como certa (C) ou errada (E) cada uma das afirmativas seguintes: Resposta pessoal C E a. Para agir com ética, são necessárias ações conscientes. ( ) ( ) b. Os valores éticos não condizem com o ser humano. ( ) ( ) c. Ser ético é respeitar os princípios ideais. ( ) ( ) d. Ética é fundamental numa relação de respeito. ( ) ( ) e. Ser ético é demonstrar desprezo para com os ideais pessoais. ( ) ( ) Ética tem a ver com valores morais da conduta humana. Cidadania Moral e Ética I 7o ano12 CMeE_7A_2016_CAP1.indd 12 17/01/17 14:35 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 12 17/01/17 15:03 13 O homem e a ética Manual do Educador – 7o ano Fundamentação A intolerância religiosa em sala de aula Percebemos que a intolerância e o preconceito em relação às religiões de matriz africana em sala de aula são encarados como algo corriquei- ro, como brincadeira de alunos, e di- ficilmente são levados em considera- ção. Se o professor/educador, diante dessa situação, optar pelo silêncio, estará promovendo o preconceito, mesmo que implicitamente. Pois o si- lêncio, enquanto omitido, se expres- sa como uma forma de discurso que chamamos de discurso do silêncio. Anotações 6. A notícia reproduzida a seguir denuncia um exemplo de falta de ética, agravada pela intole- rância religiosa. Leia: Jovem praticante de candomblé é agredida por intolerância religiosa Uma jovem de 14 anos praticante de candomblé não quer mais voltar para a escola des- de que foi agredida por colegas de classe, em Curitiba. A aluna teria sido vítima de intolerância religiosa, afirmam testemunhas. A motivação para a agressão foi uma foto, postada no dia anterior em uma rede social, em que a menina aparece ao lado da mãe e de uma amiga, as três do candomblé. A jovem ainda tentou explicar como a religião funcionava, mas foi interrompida por uma estudante que a chutou, fazendo com que ela batesse a cabeça na parede. Enquanto isso, os outros estudantes teriam gritado: “Chuta que é macumba”. “A gente ia levar uma amiga no aeroporto e tirou uma foto com ela lá. A estudante foi mar- cada na foto e viram no Facebook dela. No dia seguinte, na primeira aula, uma menina disse que não queria ficar perto da estudante porque ela era da macumba. Ela começou a explicar o que era, mas depois falaram que iam chutá-la, porque pertencia à macumba.” De acordo com a mãe da jovem agredida, não é a primeira vez que ela e a filha são víti- mas de intolerância religiosa. “É comum isso. Uma vez fomos a uma padaria comprar alguma coisa e fomos perseguidos, eu e meus três filhos, por um carro com rapazes de camisa do ‘exército de Jesus’. Dessa vez, agora, eu preferia que tivesse acontecido comigo, seria dife- rente. A minha filha está sofrendo muito, está muito magrinha, com o rosto machucado, com vergonha, sem vontade de voltar ao colégio”, afirma. Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/10/menina-praticante-de-candomble-e-agredida-por-intolerancia-religiosa. html. Adaptado. Acessado em 03/08/2016. Agora, pesquise outra reportagem ou notícia que exponha um caso de falta de ética e es- creva um resumo dela abaixo. Resposta pessoal Cidadania Moral e Ética I 7o ano 13 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 13 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 13 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 14 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética Fundamentação A origem histórica e social da moral O homem deve garantir a própria so- brevivência por meio do trabalho e, como vive em grupos, a moral foi estabelecida para viabilizar a ação coletiva, isto é, com a finalidade de possibilitar o estabeleci- mento e a preservação de relações entre os indivíduos. [...] É de tal importância a existência des- se mundo moral que se torna impossível imaginar um povo sem qualquer conjun- to de regras. Destaca-se como uma das características fundamentais do homem a sua capacidade de produzir interdi- ções (proibições). Segundoo antropólo- go francês Lévi Strauss, a passagem do reino animal ao reino humano, ou seja, a passagem da natureza à cultura, é pro- duzida pela instauração da lei, por meio da proibição do incesto. É assim que se estabelecem as relações de parentesco e de aliança sobre as quais é construído o mundo humano, que é simbólico. Exterior e anterior ao indivíduo há, por- tanto, a moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de nor- mas. Com a adequação ou não às nor- mas estabelecidas, o ato será considera- do moral ou imoral. O comportamento moral varia de acordo com o tempo e o lugar conforme as exigências das condi- ções nas quais os homens se organizam ao estabelecer formas efetivas e práticas de trabalho. Cada vez que as relações de produção são alteradas, sobrevêm mo- dificações nas exigências das normas de comportamento coletivo. Por exemplo, a Idade Média caracteri- zou-se pelo regime feudal, baseado na rígida hierarquia de suseranos, vassalos e servos. O trabalho era garantido pelos servos, possibilitando aos nobres uma vida de ócio de guerra. A moral cava- lheiresca, de que derivou, baseava-se no pressuposto da superioridade da classe dos nobres, exaltando a virtude da leal- dade e da fidelidade — suporte do sis- tema de suserania — bem como na co- ragem do guerreiro. Em contraposição, o trabalho era desvalorizado e restrito aos servos. Essa situação se alterou com o aparecimento da burguesia, que, forma- da pela classe trabalhadora oriunda da liberação dos servos, estabeleceu novas relações de trabalho e fez surgir novos valores, como a valorização do trabalho e crítica à ociosidade. CROCETTI, Zeno. Ética e cidadania. Curitiba: Iesde Brasil S.A., 2009, p. 8, 9. Anotações Para refletir O buscador da verdade Um jovem buscador da verdade decidiu deslocar-se até a cidade de Jaipur para falar com um grande mestre. Depois de meses de caminhada, finalmente o jovem se aproximou do mestre e perguntou: — O que devo fazer para encontrar a verdade? O mestre lançou um olhar penetrante ao jovem, respirando fundo e lentamente. A res- posta sairia a qualquer instante: — Meu caro jovem, percebo que seu coração é puro; e sua busca, sincera. O que pos- so lhe dizer é que o Ser Supremo se manifesta em todas as coisas do Universo. O jovem ouviu e aguardou por mais ensinamentos. O silêncio se manteve, o mestre cerrou os olhos. — Mestre, andei meses até aqui, não tem mais nada a dizer? — perguntou o jovem, com ar de desolação. — Não, não tenho nada mais a acrescentar — respondeu o mestre serenamente. O jovem, decepcionado, esperava que o mestre lhe passasse informações valiosas, mantras poderosos, técnicas de meditação ocultas, porém nada disso aconteceu. O bus- cador da verdade decidiu ir embora; encontraria outro mestre em outra cidade. Depois de mais de um ano de andanças, o jovem encontrou, na cidade de Madras, um outro mestre de grande prestígio. O buscador da verdade fez a mesma pergunta para o segundo mestre: — O que devo fazer para encontrar a verdade? O mestre, rodeado por vários alunos, olhou para o jovem que fizera a pergunta e disse: — Eu vou lhe dar a resposta que você quer, porém, antes, quero que você trabalhe para mim durante treze anos no meu ashram. O jovem sentiu um calor dentro do coração; aquelas palavras ressoavam como o início de um caminho sem volta. — Concordo, mestre. E o que vou fazer no seu ashram? — Você será responsável por limpar o esterco de nossas vacas sagradas. O buscador da verdade acatou o pedido sem nenhuma reclamação e, por treze anos, trabalhou com dedicação na tarefa de limpar o esterco das vacas. Passados os treze anos, o jovem, que não era mais jovem, aproximou-se do mestre e disse: — Estou preparado para ouvi-lo. Os treze anos combinados se passaram, agora quero saber o que devo fazer para encontrar a verdade. O mestre se aproximou do aluno, pousou a mão na cabeça dele e, envolto em um cheiro de esterco de vaca, disse: — O que posso lhe dizer é que o Ser Supremo se manifesta em todas as coisas do Universo. Cidadania Moral e Ética I 7o ano14 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 14 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 14 17/01/17 15:03 15 O homem e a ética Manual do Educador – 7o ano Ao ouvir tais palavras, o aluno cerrou os olhos, respirou fundo e, pela primeira vez na vida, sentiu a emoção daqueles que se iluminam. Ao voltar ao seu estado normal, pergun- tou ao mestre: — Curioso, há muitos anos fiz a mesma pergunta a outro mestre, e ele me deu a mesma resposta, mas, naquela época, nada aconteceu comigo. Por quê? O mestre juntou as mãos às do aluno e respondeu: — A verdade não mudou nesses anos todos, quem se transformou foi você. Fonte: BRENMAN, Ilan. As 14 pérolas da Índia. São Paulo: Brinque-book, 2008. Questões para reflexão? 1. Qual é o tema central do texto? 2. O que é a verdade? 3. Como podemos alcançar a verdade? 4. Qual é a relação entre verdade e ética? 5. O homem soube compreender a ética que envolve a resposta que buscava? 6. A ética se transforma ou somos nós que nos transformamos? 7. Qual é a relação entre o texto e o tema do capítulo: O homem e a ética? As três peneiras: verdade, bondade e utilidade Um homem procurou um sábio e disse-lhe: — Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não ima- gina o que me contaram a respeito de... Nem chegou a terminar a frase, quando o sábio ergueu os olhos do livro que lia e perguntou: — Espere um pouco, o que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras? — Peneiras? Que peneiras? — Sim. A primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro? — Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram! — Então, suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos, então, para a segunda peneira: a bondade. O que CREATISTA/Shutterstock 15 CMeE_7A_2017_01a80_REV01.indb 15 05/01/17 22:05 ME_CIDADANIA_E_ETICA_7ANO_Cap_1.indd 15 17/01/17 15:03 Ca pí tu lo1 16 O homem e a ética Cidadania Moral e Ética Sugestão de leitura //// Ética Autor: Adauto Novaes (Org.) Como pensar a ética a partir das contradições de um mundo que, no mesmo espaço e ao mesmo tempo, produz uma ciência e intelectuais de- dicados a pesquisar princípios de vida e armas de morte; progressos nas comunicações e mecanismos sutis e aberrantes de censura? Eis as ques- tões: falso bem, falsa justiça, falsa liberdade, falsa virtude, que, ao cria- rem o homem da concórdia, da sub- missão e da boa-fé, tornam-no duas vezes escravo: da superstição e das convenções. Os textos que compõem esta obra, originalmente produzidos para o curso livre Ética, procuram, as- sim, pensar as razões pelas quais os homens se comportam de determi- nada maneira e por que a maioria das doutrinas morais conserva vestígios da servidão, no momento mesmo em que promete instaurar a liberdade. Betinho: sertanejo, mineiro, brasileiro Autora: Carla Rodrigues Ao valorizar as inúmeras contradi- ções do trajeto de vida de Betinho, a autora cria uma narrativa emocionan- te e monta o retrato de uma figura que, em nenhum momento e em ne- nhum sentido, aparece como perfeita, linear e irretocável. Em Betinho: serta- nejo, mineiro, brasileiro, descobre-se um homem múltiplo, singular, que por vezes é surpreendente e, sempre, apenas humano. Este é um ensaio biográfico que tem o privilégio de, pela primeira vez, ir a fundo na vida de um dos maiores ícones da história recente brasileira. Anotações 1. O que você acha da posição do sábio no texto? Resposta pessoal 2. Qual é a relação do texto com o tema estudado (O homem e a ética)? Resposta pessoal Questão de ética? vai me contar, gostaria que os outros também disses- sem a seu respeito? — Não! Absolutamente, não! — Então, suas palavras vazaram também a segunda peneira. Vamos
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