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Nos passos de São José - Luiz Alexandre Solano Rossi


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Prévia do material em texto

LUIZ ALEXANDRE SOLANO ROSSI
NOS PASSOS DE SÃO JOSÉ
2
ÍNDICE
Capa
Rosto
Apresentação
1º dia
2º dia
3º dia
4º dia
5º dia
6º dia
7º dia
8º dia
9º dia
10º dia
11º dia
12º dia
13º dia
14º dia
15º dia
16º dia
17º dia
18º dia
19º dia
20º dia
21º dia
22º dia
23º dia
24º dia
25º dia
26º dia
27º dia
28º dia
29º dia
30º dia
Coleção
Sobre o autor
Ficha catalográfica
3
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APRESENTAÇÃO
A presença de São José em nossas vidas e de nossas famílias deveria ser, sempre e
continuamente, uma constante descoberta. Nele encontramos um discípulo que se
doou completamente a Deus e a seu projeto. Ele viveu integralmente para aqueles que
mais amava – Maria e o menino Jesus – e, para eles, foi um castelo forte. José pode
ser considerado um modelo de múltiplas formas: de dignidade, de educador, de
esposo, de pai, de trabalhador, de proteção e ternura, de humildade, de doação, de
disponibilidade, de fé.
A vida de José foi completamente transformada a partir do momento em que ele se
abriu para um projeto que era maior do que ele mesmo. Ao responder
afirmativamente para Deus, José não apenas foi o operário da primeira hora da
história da salvação, mas, também, sua presença foi além de sua época e se faz sentir
a cada momento em que nos reunimos como família e/ou Igreja.
Nos passos de São José foi pensado para ser utilizado diariamente. Nele você
encontrará trinta meditações para trilhar durante um mês. Você poderá utilizá-lo
como um livro devocional, isto é, para ler, meditar e rezar antes de iniciar seu dia
repleto de atividades ou, ainda, para finalizá-lo na presença de Deus.
Minha oração é que São José nos tome pelas mãos e nos conduza durante esses
trinta dias. Que sejam dias que façam diferença em sua vida e que, ao final deles,
desfrutemos das bênçãos de viver a vida cristã com mais profundidade.
4
1º dia
ILUMINAÇÃO
Depois do exílio na Babilônia, Jeconias foi o pai de Salatiel, Salatiel foi o pai de
Zorobabel. Zorobabel foi o pai de Abiud, Abiud foi o pai de Eliacim, Eliacim foi o
pai de Azor. Azor foi o pai de Sadoc, Sadoc foi o pai de Aquim, Aquim foi o pai de
Eliud. Eliud foi o pai de Eleazar, Eleazar foi o pai de Matã, Matã foi o pai de Jacó.
Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado de
Cristo.
(Mt 1,12-16)
Mensagem
José não é um personagem de uma peça de ficção. Ele traz consigo uma história
que é anterior a ele. Carrega em sua história de vida as histórias de tantas outras
pessoas que o antecederam e que o ajudaram a se construir. Quando José olha para
trás, consegue verificar que a história de uma pessoa não é construída apenas por ela
mesma. Lá no passado é que se encontra a origem de cada um. José é, portanto,
devedor dos sonhos e esperanças semeados no passado.
Ninguém faz história sozinho. Posso dizer que funcionamos em rede. Cada um é
responsável por multiplicar não somente sua própria descendência, mas, também, por
multiplicar ações que ajudem a construir um mundo melhor e onde caibam todos.
José, nesse sentido, é uma pessoa que possui hora e local bem definidos. Sabe,
portanto, de sua responsabilidade em relação à geração que se encontra. A hora e o
local de José são pessoais e intransferíveis. Somente ele pode florescer onde está
plantado e preencher seu tempo com as sementes do futuro. Cabe a ele e a mais
ninguém viver responsavelmente a vida que Deus lhe concedeu.
Ao olhar para o passado, os olhos de José são tomados por lágrimas: relembra seu
pai, avô, bisavô... José não é somente esposo de Maria e pai de Jesus. Ele também se
reconhece como filho e neto. Há nele um sentimento de pertença que permite definir
sua própria identidade. Ele não se considera um elo perdido. Contrariamente, está
muito bem conectado com outras histórias que povoam sua mente e coração.
No entanto, quando olha para o presente, o coração de José bate num ritmo muito
mais acelerado. Ele vive a experiência de um amor que se desdobra para além de si
mesmo: ele é esposo e também pai. Vive de forma plena a vocação das vocações:
amar plenamente e viver para o amor. Maria e Jesus representam para José a
possibilidade de amar. Um chamado a sair de si mesmo e quebrar com as cadeias do
egoísmo a fim de viver para o outro. Certamente José ama a si mesmo. Todavia,
5
muito além disso, ele se devota a amar aqueles que estão além de si e que são, na
verdade, extensão de si mesmo: Maria e Jesus. Neles se manifesta a plenitude de
amor de José. Ao vê-los diariamente, muito possivelmente, os olhos de José
brilhavam um pouco mais e iluminavam tanto seu interior quanto a história da vida da
Sagrada Família.
Oração
“Tu amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se
odiasses alguma coisa, não as teria criado. A todas, porém, tratas com bondade,
porque tudo é teu, ó Senhor, amigo da vida”
(Sb 11,24-26).
6
2º dia
ILUMINAÇÃO
O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava comprometida em
casamento com José. Antes de viverem juntos, ela encontrou-se grávida, por obra do
Espírito Santo. José, seu esposo, sendo homem justo e não querendo denunciá-la
publicamente, resolveu abandoná-la em segredo.
(Mt 1,18-19)
Mensagem
Há romance no ar: Maria e José estavam comprometidos. Já não pertenciam a si
mesmos. Mundos distintos haviam se aproximado e, agora, encontravam-se grávidos
de amor. Nutriam um para com o outro porções generosas de carinho e de cuidados.
Viam-se como importantes na história um do outro.
Comprometidos estavam e, por isso, faziam-se e sentiam-se responsáveis um pelo
outro. Não eram competidores entre si e muito menos se pensavam como obstáculos
para se atingir a felicidade. Na verdade, percebiam-se como bênção na vida um do
outro. Comprometimento significava para ambos tornar o outro mais importante e
significativo para a própria vida. José assumia responsavelmente a vida de Maria
como a mais bela expressão de Deus em sua vida. Ao olhar para os olhos de Maria,
via a própria glória de Deus refletida neles.
Todavia, a vida é muito complexa e não temos controle total sobre ela. Situações
inusitadas às vezes aparecem e nos desafiam. E, num determinado momento, José se
viu envolvido num turbilhão que poderia desestabilizá-lo grandemente. Uma onda de
proporções gigantescas ameaçava destruir sua história e enterrar seu amor. Maria, sua
amada, encontrava-se grávida, antes de viverem juntos. Uma notícia que poderia
desestabilizar qualquer pessoa faz se revelar, em José, um caráter moldado por Deus.
José é barro precioso nas mãos de Deus, moldado segundo a vontade amorosa do
Pai. Ele, José, é justo. Mesmo atingido por uma situação que poderia machucá-lo, ele
pensa primeiramente em Maria. O amor dele não tem limites. A integridade faz dele
um homem completo e pronto para cuidar daqueles que precisavam de cuidados
especiais. Era uma grande oportunidade para José virar as costas para Maria e negá-
la. Porém, a beleza do amor se revelará em gestos de solidariedade e de entrega. Que
homem é esse que, em meio às crises da vida, pensa primeiramente nos outros e deixa
a si mesmo em segundo plano?
Ser justo significa estar de acordo com o que Deus quer e, por isso, José se
descentraliza para gritar a plenos pulmões que Deus é o centro de sua vida. Posso
7
dizer que José estava bem no centro da vontade de Deus. José pensava com a mente
de Deus e, por isso, suas decisões eram também as decisões que se encontravam no
coração de Deus. Ao decidir fazer a vontade de Deus, José abria as portas do mistério
insondável que somente é revelado àqueles que amam infinitamente!
Oração
“O poder de sua grandeza, quem poderá medi-lo?
Quem conseguirá descrever as suas misericórdias?” (Eclo 18,8).
8
3º dia
ILUMINAÇÃO
Enquanto ele tomava essa decisão, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em
sonho, dizendo: “José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua
esposa, pois o que nela foi gerado provém do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho, e você o chamará com o nome de Jesus, porque ele salvará o
seu povo dosseus pecados.
(Mt 1,20-21)
Mensagem
Fé é também pensar. José não vivia enredado em processos de alienação. A vida
com Deus não significava para ele abdicar de exercer de forma clara o poder de
refletir, analisar e decidir. Ele não era como muitos que viviam como se fossem
árvores sem raízes profundas sendo balançadas de um lado para outro. José vivia
profundamente a fé de uma maneira que, ao mesmo tempo, valorizava a capacidade
de pensar dada pelo próprio Deus.
Nenhuma pessoa é cem por cento racional ou cem por cento afetiva. José também
carregava em si a marca da sensibilidade. Ele se abria a Deus da mesma forma que
uma flor se abre para acolher os raios do sol. Ele estava dormindo quando viu seu
sonho ser invadido por um anjo. Sensível às coisas de Deus, José ouviu e guardou
cada palavra em seu coração. Sabia que aquela mensagem era específica para ele,
afinal, o anjo pronunciava seu nome: “José”!
Faz-me bem saber que Deus me conhece pessoalmente e me chama pelo nome.
Entre bilhões de pessoas, Deus sabe o nome de cada um e se relaciona pessoalmente
com cada um de nós. Deus, no passado, chamou José pelo nome e continua nos
chamando pelo nosso nome. Trata-se de um privilégio! O Deus todo-poderoso,
criador dos céus e da terra, não nos confunde e nos reconhece entre milhares e
milhares de pessoas. José não era mais uma pessoa dentre tantas outras. Ele era
especial para Deus. Não somos considerados por Deus uma dentre tantas outras
pessoas. Somos, cada um de nós, especialíssimos para o Criador.
A presença de Deus afugenta o medo. Onde Deus se apresenta, a força do medo e
a ponta de dúvida batem em retirada. “José, não tenha medo” representa as
consolações que vem da parte de Deus para inundar o coração de José com a
verdadeira paz que pacifica os possíveis turbilhões de dúvidas. José vivia centrado
em Deus e, portanto, a crise, por mais forte que pudesse ser, não se instalava. A crise
não determina a vida daqueles que vivem centrados em Deus. O firme fundamento de
9
José é Deus e não a crise. José, em paz, se deitava e dormia tranquilo; dormia e
sonhava os sonhos de Deus. Não dormia um sono agitado que o fazia acordar com
medo e suando. Dormia, na verdade, o sono dos justos. Possivelmente, José,
embalado pelo sonho e pelas palavras do anjo de Deus, mesmo dormindo, esboçava
em seus lábios um sorriso plantado pela alegria de ver Deus cuidando de sua vida.
Quem sabe José, nesse momento, lembrava do Salmo 4,9: “Em paz me deito e rápido
adormeço, porque Javé, somente ele, me faz repousar em segurança”.
Jamais um homem sonhou tão revolucionariamente um sonho que mudou não
somente a história de sua vida, mas, também, a história do mundo.
Oração
“Afasta, Senhor, o medo que me cerca e me aprisiona. Faz-me livre, trazendo-me
continuamente a luz de Jesus Cristo.”
10
4º dia
ILUMINAÇÃO
Quando José despertou do sono, fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado e
acolheu sua esposa. E não teve relações com ela, até que ela deu à luz um filho.
E ele o chamou com o nome de Jesus.
(Mt 1,24-25)
Mensagem
Nem só de sonho vive o ser humano. A realidade é imperativa. Por mais que seja
profundamente agradável ouvir a voz de Deus nos despertando em meio ao sono, é
inadequado viver preso a ele. Somos homens e mulheres chamados por Deus a viver
inseridos no cotidiano. É apenas a partir do cotidiano que podemos viver como
discípulos e missionários de Jesus Cristo. O sonho de Deus não nos aliena, apenas
nos alimenta para que vivamos com mais autenticidade o dia a dia.
O que fazer depois de despertar? José sabia que só lhe restava uma opção:
obedecer. Mas obedecer é uma das mais difíceis atitudes do ser humano. Muitas
vezes desejamos sabotar os planos de Deus e fazer somente aquilo que nos importa.
Entre a vontade de Deus e a nossa vontade ficamos em dúvida. Queremos Deus e até
mesmo o amamos desde que não seja necessário obedecer em tudo. Fazer a vontade
de Deus exige disposição para sair de si mesmo e focar o olhar somente em Deus e
em seu projeto. Seria possível para José alcançar o supremo propósito de Deus sem a
obediência?
O fruto da obediência de José é uma atitude de carinho, isto é, ele acolheu Maria,
sua esposa. É excepcional como o fruto da obediência a Deus replica em gestos de
bondade, ternura e solidariedade para com o outro. O que Deus deseja para nós passa
necessariamente pela maneira digna como amamos e acolhemos uns aos outros.
Obediência a Deus, nesse caso, nos leva a participar do projeto de Deus ao vivenciar
o projeto dos homens.
José não teve relações com Maria até que ela deu à luz um filho. A obediência de
José fazia com que ele caminhasse como se visse o invisível. Ele, quando olhava para
Maria, não via apenas sua esposa e seu corpo se transformando, via, além disso, um
projeto que havia nascido no coração de Deus. Ao obedecer, os olhos da fé de José se
abriam para além das possibilidades humanas. José enxergava além da linha do
horizonte. Seus olhos repousavam no invisível!
De Maria nasce o filho, e José, sempre em obediência ao projeto de Deus, não
titubeia em dar à criança o nome anteriormente a ele revelado: Jesus. Mais do que um
11
nome próprio, José sabia que naquela criança estava depositada a esperança de todas
as pessoas. Não era apenas um filho. Ali, diante dos olhos chorosos de José,
reconhecia-se que Deus se fazia presente e se instalava permanentemente na história
do mundo, através da Sagrada Família.
Oração
“Confesso, querido Deus, que tenho dificuldades em obedecer a tua santa vontade.
Ajuda-me a ser um filho(a) obediente, à semelhança de São José.”
12
5º dia
ILUMINAÇÃO
Depois que eles partiram, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José,
dizendo: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito. Fique aí até
que eu lhe avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. Ele se
levantou, e de noite pegou o menino e a mãe dele, e foi para o Egito. E aí ficou até a
morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta:
“Do Egito chamei o meu filho”.
(Mt 2,13-15)
Mensagem
Há em José um sentido de alerta constante. Pode-se dizer que ele seja um
espetacular intérprete do cotidiano. Faz a leitura dos sinais dos tempos e, diante deles,
decide. Novamente a sensibilidade de José se faz presente. Ouve atentamente a
mensagem do anjo e a leva a sério. Não há muito tempo a perder. A vida de seu
querido filho corre perigo. E, diante das ameaças de morte, é preciso pensar a partir
da defesa. José é um protetor daqueles que se sentem ameaçados e frágeis diante do
império da morte. Coloca-se como aquele que caminha ao lado daqueles que são
atingidos pelas dores sociais.
Após o anjo dar a instrução, a atitude de José é levantar-se. Ele rompe com a
possível zona de conforto e se coloca a caminho. A ameaça de morte recai sobre seu
filho. Mas como ele poderia se sentir tranquilo quando o próprio filho é ameaçado? A
ameaça ao filho também representa ameaça ao pai. É imperioso que a família
encontre refúgio e permaneça unida. Na viagem para o Egito, caminham unidos.
Juntos eles constroem a própria história. Caminham em proteção à vida.
Os passos de José em direção ao Egito são marcados pela solidariedade e pelo
amor. O Egito é sinal de refúgio diante de uma possível calamidade. Ali deveriam
permanecer até que o anjo desse sinal positivo para que regressassem. No Egito, a
Sagrada Família vive como se estivesse exilada. Longe das ameaças de morte, um
protege o outro. Na verdade, um representa para o outro um escudo de proteção e de
companheirismo. Sozinhos, num outro país e no meio de estranhos, eles vivem na
mais plena comunhão.
O fio de três dobras não se quebra com facilidade. São três fios de esperança: José,
Maria e o menino Jesus. Neles há cumplicidade, interação e integração. Junto a eles,
o amor se apresenta como uma cola que não apenas os une, mas que os torna um. A
Sagrada Família forma, nesse momento, uma comunidade de amor e de celebração da
13
vida. Não importa se estão num momento limite e perigosoda vida. Importa, sim, a
maneira pela qual a unidade deles vencerá as forças da morte e do ódio. José é mais
do que pai, é protetor!
Oração
“Da mesma forma, Senhor, que encontro em ti proteção e segurança, peço-te que
minha família também possa encontrar em mim a proteção e segurança de que tanto
necessita.”
14
6º dia
ILUMINAÇÃO
Quando Herodes morreu, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José no
Egito, dizendo: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele e vá para a terra de Israel.
Porque já morreram aqueles que procuravam matar o menino”. Então ele se
levantou, pegou o menino e a mãe dele e entrou na terra de Israel.
(Mt 2,19-21)
Mensagem
A palavra de Deus não volta vazia. Depois de certo tempo Herodes faleceu.
Parecia, a princípio, que os dias de medo haviam ficado para trás. E novamente o anjo
apareceu, conforme havia prometido, para indicar o começo de um novo tempo. José
age da mesma forma que anteriormente: levanta-se para refazer o caminho. A história
dele e da Sagrada Família não se acabara. Ventos de um momento novo sopravam em
direção à terra de Israel.
Talvez José, Maria e o menino Jesus já estivessem se acostumando à terra
estrangeira. Talvez José até mesmo tivesse se esquecido da promessa do anjo. Talvez
a vida se apresentasse realmente boa para eles no Egito. Talvez, talvez, talvez... Mas
para José o que importava era refazer o caminho. Nenhum “talvez” pode segurar os
pés daqueles que possuem o projeto de Deus guardado no coração. Refazer o
caminho significa recomeçar a respirar a esperança que se tornava fugidia. Com os
pés de volta nas estradas que conduziam à terra santa, a Sagrada Família se
reconstruía.
É preciso regressar necessariamente. José precisa florescer no lugar onde havia
sido plantado. Sua história, portanto, não pode ser contada separadamente da história
de Maria e de Jesus. É a partir de Israel que uma nova história haveria de ser contada
e recontada. Desde a periferia do mundo, um carpinteiro, uma dona de casa e um
pequeno menino viveriam um projeto destinado a mudar o rumo da civilização.
A viagem do Egito para Israel traz a mensagem da desinstalação e do refazer a
vida para que todos tenham vida. Ao peregrinarem pelas estradas poeirentas da vida,
guiados por José, a sensação de Maria e do menino Jesus era a de que cada um
daqueles passos contasse uma nova história de fé e de libertação. Pelas trilhas do
mundo eles caminhavam a serviço do Reino.
José é um guia pelas estradas desse mundo. É aquele que vai à frente abrindo o
caminho e conduzindo a família. Nele e a partir dele os passos se apresentam fortes e
seguros. Mesmo que a noite seja escura e procure infundir medo, José representa
15
aquele que se coloca em pé para iniciar o projeto de libertação. Para José, não
importa o tamanho do caminho ou, até mesmo, os perigos do caminho. Seus olhos
estão focados naquele que o chamou para caminhar. E isso faz toda a diferença.
Quem tem José por guia jamais errará o caminho!
Oração
“Assim como, ó São José, guiaste a Sagrada Família em segurança, guia a minha
família pelos trilhos deste mundo, para não errarmos o caminho.”
16
7º dia
ILUMINAÇÃO
Mas quando soube que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes,
ficou com medo de ir para lá. Avisado em sonho, partiu para a região da Galileia. Aí
chegando, foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que
fora anunciado pelos profetas: “Ele será chamado de Nazareno”.
(Mt 2,22-23)
Mensagem
José era uma pessoa precavida e atenta às notícias. Certo dia ele ficou sabendo que
Arquelau iria assumir o governo em lugar de seu pai. José deve ter pensado que nesse
caso bem valia a expressão que conhecemos: “filho de peixe, peixinho é”.
Possivelmente os projetos de morte e de destruição de Herodes seriam reproduzidos e
assumidos por seu filho. E, por conta disso, logo pensa num plano “b”. E, nesse caso,
dirige-se para Nazaré, uma pequena vila longe de tudo e de todos.
Novamente José é avisado em sonho para assumir um novo itinerário. José não
estava muito preso a convenções. Diria que ele possuía tremenda flexibilidade em seu
processo de decisão. O mais importante para ele era a proteção de sua família e, por
isso, não adiantava ficar batendo a cabeça em projetos que não levavam a lugar
algum. O mais importante era interpretar de forma correta o que estava acontecendo e
reestruturar os planos conforme a situação se modificava.
Não se pode negar a plena humanidade de José. Ele tinha medo do rumo que a
situação poderia tomar. Todavia, o medo não se apresentava para José como um
demérito. Ele não estava com medo por ser medroso. Tinha, sim, consciência dos
perigos e, portanto, medo das forças do mal que se apresentavam como superiores às
suas forças. No entanto, o medo que ele sentia não o paralisava nem o deixava
encostado num canto a tremer. O medo na vida de José não tinha a última palavra.
Na vida de José, apesar do medo, a última palavra se encontrava em Deus. É
justamente nele e por causa dele que José encontrava forças para resistir em dias
maus e continuar “apesar de”. Em nenhum momento José imaginava que Deus
poderia eliminar de sua vida o sentimento de medo. Todavia, ele bem sabia que ainda
que o medo pudesse causar certo pavor, a presença de Deus, essa sim, era promessa
que nunca se acabava.
“Eu estarei contigo” é uma expressão recorrente na Palavra de Deus. Trata-se de
uma das mais belas promessas de Deus. Ela quer dizer que não caminhamos
solitários. Deus jamais se ausenta do nosso lado. A promessa é tão importante que
17
Jesus irá expressá-la da seguinte maneira: “Eis que estarei com vocês até a
consumação dos séculos” (Mt 28,20).
Vivemos, portanto, fundamentados numa promessa e sabedores de que maior e
mais forte é aquele que está conosco!
Oração
“Clamo por sua presença em minha vida, bondoso Pai. Somente quando o Senhor se
faz presente é que o medo do amanhã é expulso.”
18
8º dia
ILUMINAÇÃO
Quando terminou de contar essas parábolas, Jesus partiu daí. Voltando para sua
terra, ensinava na sinagoga deles, de modo que se maravilhavam e diziam: de onde
lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele filho do carpinteiro?
(Mt 13,53-55)
Mensagem
Jesus traz parte de sua identidade ligada à vida de seu pai, José. Nele e com ele se
identificava. Possivelmente reproduzia em seu dia a dia aquilo que é próprio das
características de seu pai. Quem via Jesus também via o pai nele refletido.
“Não é ele filho do carpinteiro?” é uma pergunta que revela mais sobre José do
que sobre Jesus. Uma expressão que nos coloca no mundo das atividades
profissionais daquela época e que retrata o modo de ser de José. Certamente o
preconceito de muitos não poderia associar uma atividade profissional tão simples
com a sabedoria. Carpinteiros não poderiam ser sábios! A sabedoria estava
circunscrita a uns poucos escolhidos e ricos. Pobre e sábio? Jamais poderiam assim
imaginar.
No entanto, a sabedoria não anda somente pelos bancos escolares. Ela também se
encontra na vida e com a vida interage. A sabedoria, antes de nascer nos bancos
escolares, foi semeada no chão da vida. E, nesse caso, José é um legítimo
representante daquilo que chamamos hoje de “escola da vida”. A sabedoria de José
vem de baixo – da própria vida – quando vem do alto – do próprio Deus.
Enquanto havia aqueles que possivelmente falavam de forma preconceituosa a
respeito de José e de sua profissão, podemos imaginar Jesus se alegrando com as
imagens de seu pai na oficina que vinham à sua mente, assim como de todos os
ensinamentos que ele recebera em sua casa.
“Não é ele o filho do carpinteiro?”. “Sim, eu sou”, responderia Jesus. Não havia
espaço em Jesus para se envergonhar de seu pai e de sua profissão. Contrariamente a
isso, Jesus aprendera dentro de sua própria casa a valorizar e a amar aquilo que era
próprio de sua família. Aquele era o seu pai, e publicamente assumia a sua filiação.
Jesus, na verdade, nutria profundo orgulho de seu pai, pois, afinal, ele era um reflexo
de tudo quanto seu pai faziae ensinava.
O carpinteiro de Nazaré era, para Jesus, um modelo de vida a ser seguido.
19
Oração
“São José, assim como foste exemplo para teu filho, o menino Jesus, ensina-me a ser
modelo de vida para meus filhos.”
20
9º dia
ILUMINAÇÃO
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia
chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado
José, da casa de Davi. E o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, o
anjo lhe disse: “Alegre-se, cheia da graça: o Senhor está com você”. Ao ouvir isso,
Maria ficou confusa e se perguntava o que esta saudação queria dizer. O anjo lhe
disse: “Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça junto a Deus”.
(Lc 1,26-30)
Mensagem
A simplicidade de José não conseguia esconder que ele pertencia à casa de Davi.
Humildade e realeza deveriam andar juntas. Todavia, como é difícil conciliar o que
aparentemente parecia tão contraditório. José trazia em sua história de vida essa dupla
construção: ascendência real com uma pitada de humildade. Possivelmente estamos
diante de uma metáfora que insinua e articula o serviço acima de toda e qualquer
possibilidade de exercício do poder pelo poder.
Em Nazaré, se encontram Maria e José. Não é possível contar a história de um
sem entrar na história do outro. Ao falar de Maria ou de José, estamos, sem dúvida,
falando de uma família que se colocava à disposição da vontade de Deus. Nesse
sentido, o “faça-se a sua vontade” assume os contornos não apenas de um indivíduo,
mas da própria família. Que família poderia, hoje, dizer: “faça a sua vontade em
nós?”.
Gabriel fala a Maria. E ela é sensível à voz de Deus. Uma voz que encontrava eco
em sua vida e, no eco, um desejo de resposta. Maria, assim como José, não
permanece indiferente ante as palavras do anjo Gabriel. Ela também se desinstalava e
aceitava um projeto de vida que não se iniciava nela, mas no próprio coração de
Deus. Se José, por tantas vezes, fora sensível e ouvira de um anjo a devida
orientação, era, nesse momento, a vez de Maria exercitar a sensibilidade para com as
coisas de Deus. José e Maria, portanto, respiravam a mesma mística que fazia deles
um casal segundo o coração de Deus.
Não pode existir Maria sem José e José sem Maria. Neles o projeto de Deus se
completava. Separadamente viveriam a incompletude. Juntos, vivenciaram a
plenitude de Deus no coração de cada um. Separados, perderiam a força e a esperança
desfaleceria. Juntos, eles se tornaram semeadores de esperança e de alegria na vida de
todas as pessoas. José com Maria e Maria com José não formavam apenas um casal.
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Neles se encontrava também o resgate potencializado do primeiro casal – Adão e Eva
– em direção à plenitude de vida que estava sendo gerada no ventre de Maria.
Oração
“Meu desejo, ó Senhor, é me tornar um semeador de esperança e de alegria na vida
das pessoas.
Quero ser um multiplicador de suas bênçãos.”
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10º dia
ILUMINAÇÃO
Assim que os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si:
“Vamos logo a Belém para ver o que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber”.
Partiram depressa e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura.
(Lc 2,15-16)
Mensagem
Os pastores estavam apressados e, provavelmente, ansiosos para conhecer o
menino Jesus. O ritmo que movia a vida deles era o da agitação e do atropelo.
Depressa partiram para encontrar a Sagrada Família. Estavam afoitos e agitados numa
vida que era marcada pela correria. Pessoas assim tão pouco apreciam a vida! Tudo
para eles passa muito rapidamente.
No entanto, a rapidez deles dá ocasião para o silêncio e o descanso em uma
manjedoura. Impressionantemente os pastores se encontravam num lugar inusitado. A
manjedoura jamais poderia ser considerada o lugar ideal para se visitar o menino
Jesus. Porém, não restava outro lugar e, bem ali, na calmaria que fazia com que cada
um dos pastores recuperasse o fôlego, é possível contemplar José, Maria e o menino
Jesus descansando.
José e Maria provavelmente estão ao redor da manjedoura. Possuem olhos
somente para seu filho. Talvez seja certo dizer que nem perceberam os pastores
entrarem e se aproximarem de tão absortos que estavam no pequeno Jesus. José e
Maria ladeavam a manjedoura como se protegessem aquela pequena e frágil criatura.
Certamente trocaram os primeiros sorrisos um em direção ao outro e os dois em
direção ao filho. Nessa cena, a história do mundo estava cristalizada. Uma visão que
poderia muito bem ser retratada num quadro e imortalizada por sua beleza. José e
Maria, num lugar a que poucos dariam o devido valor, dão atenção um ao outro, e
ambos atendem às necessidades do menino Jesus. Num local a que poucos dariam a
devida consideração e valor é que nasce o mais belo poema de todos os tempos:
Jesus. Um menino que, amparado por seu pai e sua mãe, alterou a história da
civilização de uma vez por todas.
Vivemos de forma acelerada. Todas as nossas ações são marcadas pela rapidez.
Somos apressados e apreciamos tudo quanto é instantâneo. Nos últimos anos, nos
tornamos escravos do relógio. Até mesmo dizemos que o tempo passa mais rápido e
que é impossível cumprir tudo quanto agendamos. Já não conseguimos mais refletir,
meditar e, até mesmo, investir nosso precioso tempo com a família. A cada dia
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diminui, por exemplo, o tempo que temos para almoçar e/ou jantar com a família.
Acelerados, esquecemos de contemplar Deus e de viver um tempo de qualidade com
as pessoas que mais amamos.
Oração
“Socorre-me, São José, das ciladas da vida.
Socorre-me, São José, das tentações do quotidiano.
Socorre-me, São José, do medo de viver!”
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11º dia
ILUMINAÇÃO
Quando se completaram os oito dias para circuncidar o menino, deram-lhe o nome
de Jesus, tal como tinha sido chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre
materno. E quando se completaram os dias para a purificação deles, conforme a Lei
de Moisés, levaram o menino a Jerusalém, para apresentá-lo ao Senhor.
Tal como está escrito na Lei do Senhor: todo primogênito do sexo masculino será
consagrado ao Senhor. E também para oferecer em sacrifício um par de rolas ou
dois pombinhos, como diz a lei do Senhor.
(Lc 2,21-24)
Mensagem
Há em José uma profunda percepção e responsabilidade em educar seu filho e
família nos caminhos do Senhor. Não se trata apenas de seguir as regras prescritas
por uma tradição religiosa. Em José se manifesta o desejo de se entregar e viver
plenamente para Deus. Seguindo os preceitos religiosos, José e Maria levam o
pequeno Jesus para ser circuncidado, apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor.
“Ensine à criança o caminho do Senhor e quando for velho dele não se desviará”
deveria ser a palavra de Deus que jamais sairia da mente de José. A catequese se
iniciava na própria casa. Aprende-se sobre Deus e vive-se para Deus a partir da
família. José e Maria são os primeiros catequistas. José não é um relapso
relativamente à tradição que havia recebido de seus antepassados. Ele se pensava
como um elo nessa grande corrente da Aliança de Deus com seu povo. Ao assumir a
responsabilidade pela catequese do filho a partir de sua casa\família, José plantava no
coração de seu pequenino filho sementes que floresceriam para toda a eternidade.
José e Maria se sentiam responsáveis pela vida espiritual de Jesus. Não eram
negligentes quanto ao cuidado integral que deveriam ter com ele. Sabiam que a
responsabilidade pelo filho ia além de alimentá-lo, vesti-lo, ensinar-lhe uma profissão
etc.; percebiam-se como os responsáveis pela experiência dele com o próprio Deus.
José e Maria são pobres, irremediavelmente pobres. Todavia, isso não impedia que
eles produzissem uma verdadeira espiritualidade. Sem recursos financeiros, José e
Maria se encaixavam social e economicamente na classe de pessoas que somente
podiam adquirir um par de rolas ou dois pombinhos. No degrau mais baixo da
sociedade, eles se apresentavam diante de Deus como os seus pobres preferidos. Na
pobreza, Deus se encontrava com eles e agia solidariamente a favor deles.
José e Mariarepresentam uma família pobre que se apresenta diante de Deus com
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o que tem ou, melhor dizendo, com o que não tem. E, com as mãos praticamente
vazias, somente restava para eles depositarem a própria vida no altar de Deus.
Jamais pessoas tão vazias de bens foram tão cheias de Deus!
Oração
“Depositar integralmente minha vida e da minha família em seu altar, Senhor, é o
desejo do meu coração.”
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12º dia
ILUMINAÇÃO
E eis que havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem justo e
piedoso esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele. O
Espírito Santo lhe havia revelado que ele não morreria sem antes ver o Messias do
Senhor. Movido pelo Espírito, ele foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino
Jesus para cumprir o costume da Lei a respeito dele, Simeão tomou a criança nos
braços, louvou a Deus e falou...
(Lc 2,25-28)
Mensagem
Deus age de forma misteriosa. Quem poderia imaginar que, no mesmo momento
em que José levasse o menino Jesus ao Templo para cumprir o costume da Lei, lá se
encontraria também Simeão, com a sua esperança que transbordava coração afora? Só
mesmo Deus para pensar nessas “coincidências”!
Simeão, o velho, esperava se encontrar com o Messias, o menino. De uma ponta a
outra da longevidade estava registrado um projeto de alegria. Simeão somente
acalentava dar a última risada da vida. Queria ver o Messias e com ele se alegrar. Não
existia para ele nada mais importante do que olhar para o que sempre esperou. A
esperança para Simeão se tornava tão real que era possível apalpá-la. No encontro do
velho com o novo, isto é, de Simeão com Jesus, a intermediação da esperança
aconteceu por meio de José. Ele era um arauto da esperança.
José é protagonista da esperança da salvação. É portador da maior das boas-novas.
Ao levar Jesus para o templo de Jerusalém ele, José, estabeleceu a esperança e a
alegria como fundamentos da vida. Jamais alguém proporcionou tão grande bênção
para a humanidade como José naquele momento. Simeão possuía somente uma
esperança e nessa esperança, que se apresentava como única, José foi o instrumento
de Deus a fim de que a bênção pudesse atingir o alvo.
José nos ensina a ser instrumentos de Deus mesmo quando não sabemos que
estamos sendo usados por ele. Trata-se de um grande mistério. Afinal, jamais
saberemos quando e de que maneira Deus nos usará como instrumentos de sua
bênção. Certamente José não poderia saber das esperanças que rondavam o coração
de Simeão. Mas Deus conhecia tanto o coração de um quanto o do outro. E, nesse
sentido, Deus aproxima José e Simeão para que, do protagonismo deles, Jesus
pudesse fazer o sorriso crescer nos lábios de um velho senhor que quase perdia a
esperança.
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Imagine-se sempre como um instrumento da bênção de Deus. Talvez você seja,
para muitos de seus familiares e amigos, a única oportunidade deles se sentirem
abençoados através de uma palavra, um gesto, uma visita ou de uma oração. Não é
possível sequer imaginar que sejamos sonegadores das ilimitadas bênçãos de Deus
para todos aqueles que estão ao nosso redor.
Oração
“Senhor, às vezes a esperança parece me escapar. Peço, encha meu coração com
sementes de esperança para que floresçam quando os dias forem maus.”
28
13º dia
ILUMINAÇÃO
Agora, Senhor, podes deixar teu servo partir em paz, segundo a tua palavra. Porque
meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, luz para
iluminar as nações e glória de teu povo Israel. Seu pai e sua mãe estavam admirados
com o que diziam dele.
(Lc 2,29-33)
Mensagem
Certo dia, o coração de José ficou tomado de admiração e de orgulho por causa do
que se dizia a respeito de seu filho. A beleza das palavras pronunciadas por Simeão
atingia diretamente o coração de José. Nenhum pai é capaz de ficar indiferente
quando um filho é elogiado. Afinal de contas, o elogio é um dos maiores
instrumentos que existem para produzir bem-estar. Palavras elogiosas produzem vida.
Todavia, palavras que criticam por criticar e rebaixar a pessoa são tóxicas. Devemos
ser pródigos no elogio e econômicos na crítica!
Muitas vezes perdemos a capacidade de admiração diante da vida. Deixamos de
ser sensíveis e, nesse sentido, deixamos escapar a possibilidade de enxergar a beleza
em detrimento da feiura. Aqueles que perdem a sensibilidade de se admirar acabam
por se tornar insensíveis e, consequentemente, a emoção do novo dá lugar às geleiras
existenciais.
José não pode ser comparado a um iceberg. Nele pulsa a vida e o desejo de se
construir mais e melhor como ser humano. Ele é sensível às coisas da vida e, por isso,
se deixa tocar pelas palavras e se comover com elas. Possivelmente, quando as
palavras de Simeão estavam sendo pronunciadas, os olhos de José se enchiam de
lágrimas. Era muita emoção para o coração de um pai.
José e Maria criam um filho para o mundo. Sabem que aquele menino que tanto os
orgulha não é apenas deles – ainda que tenham a missão sublime de criá-lo e de
educá-lo –, mas pertence a todas as pessoas de boa-vontade. Simeão, portanto, não
fala apenas por si mesmo. Ele possivelmente representa a todos que esperam
ansiosamente pela manifestação da salvação em Cristo Jesus, assim como a
admiração que nasce no coração de José e de Maria se estende para além do tempo e
do espaço e vem se instalar no coração de cada um de nós.
Corações sensíveis reconhecem a ação salvadora de Jesus e batem mais
aceleradamente. São corações aquecidos pela vida do menino Jesus que nasceu e
continua nascendo em cada coração.
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Oração
“Dá-me, ó Senhor, um coração sensível como o de São José, a fim de ouvir,
compreender e fazer a tua santa vontade.”
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14º dia
ILUMINAÇÃO
Os pais de Jesus viajavam a Jerusalém todos os anos para a festa da Páscoa.
(Lc 2,41)
Mensagem
Já era uma prática comum à Sagrada Família: todos os anos se dirigiam a
Jerusalém para a festa da Páscoa. Capitaneados por José, subiam à cidade sagrada
para uma das mais importantes festas do povo de Deus. Uma festa toda especial que
pertencia a uma das tradições mais importantes e formadoras da identidade do povo:
a libertação do Egito. Festa que celebrava a intervenção salvadora e libertadora de
Deus na história e que associava a vida diária à vida espiritual do povo, pois a
adoração e a lembrança das intervenções maravilhosas de Deus na história
precisavam sempre estar associadas ao dia a dia.
A festa da Páscoa funcionava também como um processo pedagógico/catequético
de formação das pessoas. Não se tratava apenas de congraçamento, de encontro com
outros que há tempo não se via, não era um momento para se “matar saudades”. A
páscoa trazia à memória a libertação da violência que o povo havia experimentado
nas mãos do faraó muitíssimos anos atrás. Era, portanto, uma memória festiva de
resistência, de libertação e de solidariedade de Deus em meio ao sofrimento e à força
de um império que esmagava a esperança de todo um povo.
Jesus, conduzido por seu pai, desde pequeno é levado a compreender e a viver
uma espiritualidade libertadora e de resistência contra todas as forças de opressão e
contra todo sistema imperial que faz da violência sua obra prima.
José procura, através desse processo pedagógico/catequético, mostrar para Jesus
que a espiritualidade deve necessariamente ser encarnada na realidade e, por isso,
responder às perguntas que são construídas a partir da própria realidade em que se
vive. José diz “não” a qualquer tipo de espiritualidade que produza alienação e “sim”
a um tipo de espiritualidade que provoque a contestação e a resistência contra as
forças do mal, que causam toda sorte de violência contra os mais fracos.
José, Maria e Jesus vivenciam a festa suprema da libertação. Nesse sentido, eles
representam a Sagrada Família, que sai de seu espaço particular e caminha em
direção ao espaço público, a fim de viver e propor uma espiritualidade em família,
que leve e favoreça a libertação para todas as outras famílias que se encontram
oprimidas sob as mais diversas circunstâncias.
31
Oração
“Que em minha vida,ó São José, a espiritualidade seja fonte de libertação não
somente para mim, mas para todos que vivem comigo.”
32
15º dia
ILUMINAÇÃO
Terminados os dias de festa, eles voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém,
sem que seus pais tivessem notado. PensAando que ele estivesse na caravana,
caminharam um dia inteiro, e o procuravam entre os parentes e conhecidos. Como
não o encontraram, voltaram a Jerusalém à procura dele. Três dias depois o
encontraram no Templo, sentado em meio aos doutores, escutando-os e fazendo-lhes
perguntas. E todos os que o ouviam ficavam maravilhados com sua inteligência e
suas respostas.
Ao verem o menino, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: “Filho, por
que fizeste isso conosco? Olha que teu pai e eu estávamos angustiados te
procurando”
(Lc 2,43-48).
Mensagem
Existem situações inusitadas na vida de uma família. Quantas e quantas vezes por
mais que os olhos dos pais estejam atentos ao filho, num breve instante, talvez num
piscar de olhos, a criança que ali estava desaparece misturada na multidão. Um
momento em que o pânico e a angústia se instalam automaticamente. “Que terá
acontecido com nosso filho? Por onde andará?” “Olá, por acaso você viu um garoto
pequenino andando perdido?”
Nem a Sagrada Família estava isenta de viver essa experiência. Certa vez, quando
a caravana de romeiros já estava pronta para deixar Jerusalém e caminhava em
direção ao seu destino final, o menino Jesus se desgarrou do grupo, criando uma
situação, de certo modo, desesperadora. Quanto mais o tempo passava, mais
aumentavam a ansiedade e a preocupação de José e de Maria. Foram três dias de
profunda angústia e de perturbação na alma. “Por onde andará nosso filho?”
José é um pai de carne, osso e emoções. Sabe de suas responsabilidades como pai
e, quando não vê o filho ao seu lado, uma série de preocupações logo vêm à mente.
Mais do que rapidamente ele vai ao encontro do filho. Procura-o como se estivesse
procurando o maior dos tesouros. Preocupa-se com aquele que ama e, por isso,
dedica-se a encontrá-lo. A angústia de José não irá cessar sem antes reencontrá-lo em
segurança.
A responsabilidade é característica de José. Vai ao encontro daquele que se
encontrava perdido. Procura e se interessa por aquele a quem ama. Seu amor por
Jesus não era limitado a palavras. Não se trata de um amor teórico. José ama e o amor
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faz com que ele assuma alguma atitude. José não apenas diz que ama, ele protege
aqueles a quem ama. Amar, por conseguinte, conduz à ação.
Teorias sobre o amor, por mais belíssimas que possam ser, não fazem o coração
acelerar e aquecer como faz uma atitude amorosa.
Oração
“Ansiedades rondam meu coração, ó Pai. Ajuda-me a lançar sobre Jesus todos os
meus temores para que, enfim, possa dormir tranquilo.”
34
16º dia
ILUMINAÇÃO
Jesus desceu então com os pais para Nazaré e era obediente a eles.
(Lc 2,51)
Mensagem
Uma das marcas substanciais de José era a obediência. Em tudo e imediatamente
ele obedecia a Deus. Diante da palavra divina que se manifestava ele respondia
afirmativamente. Fazer a vontade de Deus estava no centro do coração de José. A
vida dos discípulos e missionários de Jesus deve estar sob o sinal da obediência.
Obediência é indicação de compromisso e de que levamos Jesus a sério. E o próprio
Jesus por diversas vezes reiterou a importância da obediência para o discipulado: “Se
vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos” (Jo 14,15). Em outro momento
Jesus é mais incisivo: “Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o
que eu digo?” (Lc 6,46). Jesus recomenda a obediência porque ele mesmo era em
tudo obediente ao projeto do Pai: “Logo, assim como por meio da desobediência de
um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também por meio da obediência
de um único homem muitos serão feitos justos” (Rm 5,19).
Jesus cresce olhando e observando seu pai. Não há melhor modelo para os filhos
do que o pai e a mãe. José é espelho e, certamente, espelhos refletem apenas aquilo
que se coloca na frente deles. Depende de nós se será refletido algo negativo ou algo
positivo. A imagem que vemos no espelho é fugidia. Tão fugaz que, segundos após
contemplarmos a nossa própria face, já não mais recordamos os nossos traços mais
característicos. Mas o espelho não pode ser utilizado apenas como um instrumento de
percepção estética. Mais do que isso, o espelho deveria ser utilizado como o mais
poderoso reflexo da nossa alma. No espelho vemos refletido nitidamente quem nós
somos. Quem é você? Pergunta que temos dificuldade para responder e, por isso,
procuramos nos esconder. Não nos conhecemos e, assim, nossa imagem no espelho
se torna embaçada, impedindo que outros nos vejam claramente. O espelho nos leva a
olhar para dentro de nós mesmos, deixando de lado os medos interiores e permitindo
que a luz do autoconhecimento se manifeste.
Possivelmente José pensava da seguinte maneira: que marcas desejo que meu filho
carregue durante toda a sua vida? Obediência, respeito pelos outros, boa educação,
trabalhador, amoroso, solidário etc. Afinal, todos os pais desejam o melhor para seus
filhos. No entanto, será que os pais oferecem o que têm de melhor para seus filhos?
Seria um pouco mais incisivo: trazemos dentro de nós as mesmas marcas que
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desejamos que nossos filhos carreguem?
O desejo do coração de Jesus era o de ser igual a seu pai. Nada mais belo do que
os filhos possuírem como referencial seguro a vida de seus pais.
Oração
“Venha, Senhor, em meu auxílio, pois o auxílio do homem é pura ilusão.”
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17º dia
ILUMINAÇÃO
Nada sou sem ti, meu Deus. Tudo sou a partir de ti; e somente me completo
mergulhando plenamente em ti.
Mensagem
José não possuía bens e, por conta disso, não podia se vangloriar por ter mais do
que os outros. Quando levou Jesus ao templo para ser circuncidado e Maria para ser
purificada, ofereceu o sacrifício dos pobres, ou seja, dois pombinhos permitidos
apenas àqueles que não tinham condições de comprar um cordeiro. José queria Deus
por causa de Deus e não por causa do que poderia receber!
Quão diferente é hoje em dia! Nosso tempo nos desafia com uma grande e
perigosa tentação: a possibilidade de viver uma “espiritualidade de produção”, ou
seja, queremos e buscamos um Deus que funciona! Desconfio que a espiritualidade
de muitos sofra de uma extrema parcialidade. É, portanto, uma patologia redutora que
impede de perceber a plenitude da verdadeira espiritualidade centrada na vida de
Jesus. Mas como é difícil a imitação de Cristo, seu seguimento e, muito mais, nos
conformar ao Cristo na estrada do discipulado. Não haveria um evangelho mais fácil
e com menos exigência?
Mais vale para alguns viver perdidos em simulacros de vida cristã e, assim,
transformar a espiritualidade em uma teologia positiva, feito Ali Babá, que, ao se
expressar de forma correta, fazia com que a montanha se abrisse diante de seus olhos.
Na verdade não queremos Deus, mas sim uma corporação religiosa que nos ensine os
segredos da vida e que nos conduza ao aburguesamento da fé. Preferimos um Deus
domesticado e engaiolado que esteja sempre à nossa disposição.
Não queremos Jesus com suas exigências de discipulado. Desejamos de todo o
coração uma religião absolutamente pragmática e de respostas imediatas. Não
queremos estudar a Bíblia e, por isso, fugimos de qualquer reflexão crítica que nos
leve a qualquer tipo de compromisso que implique a perda de lucros materiais.
Queremos homilias bem preparadas desde que elas afaguem nosso ego e nos lembrem
constantemente das muitas promessas que precisamos “reivindicar” e que evitem,
acima de tudo, chamar nossa atenção para uma transformação interior. Não queremos
discipulado. Buscamos, sim, Prozac religioso!
Evitamos a seriedade da Santa Eucaristia, que nos insere na realidade viva do
Cristo solidário com os mais vulneráveis, e nos comprometemos avidamente com um
fast food espiritual no intuito de afastar todo e qualquer tipo de tribulação e garantir a
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plena prosperidade.
A Igreja é chamada para ser um oásisem meio ao deserto. Sua relevância é
caracterizada justamente por transpirar vida onde apenas existe o cheiro de morte. E a
descaracterização é tão forte que ela passa a oferecer toda sorte de entretenimento
religioso para os seus fiéis. Não podemos permitir que uma prática de espiritualidade
danosa transforme a Igreja em um organismo sem relevância social, marcado pelo
cinismo, pela indolência e dissimulação de seus muitos membros.
Devemos construir uma espiritualidade que nos leve a ter fome de Deus e de seu
Reino e que renegue, peremptoriamente, o desejo insano de se deixar dominar pela
fome do consumo religioso e pelos embalos de um louvor muitas vezes vazio e sem
qualquer tipo de compaixão. Aprendi a repetir constantemente e a internalizar em
meu coração uma das orações mais preciosas que poderíamos fazer: “Meu Deus e
meu tudo”. Dessa forma nos libertamos do desejo inconsequente de querer
transformar Deus à nossa imagem e semelhança.
A espiritualidade de José nos ensina a buscar Deus por causa de Deus.
Oração
“Sonda-me, ó Deus, e conhece meu coração! Prova-me, e conhece minhas
preocupações! Vê se ando por um caminho de desgraça, e guia-me pelo caminho
eterno” (Sl 139,23-24).
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18º dia
ILUMINAÇÃO
No grande silêncio de Deus temos a oportunidade de aquietar nossos corações.
Mensagem
Há algo em José que nos falta e de que precisamos urgentemente: um olhar de
misericórdia. Ele é descrito com toda propriedade como uma pessoa justa. No
entanto, ele vai além da lei. Certamente ele poderia tão somente cumprir aquilo que
era prescrito pela lei. O inédito da situação é que José preferiu não permanecer com
os olhos fixos num sistema legal, frio e apático. Os olhos dele repousavam para além
da lei quando encontrava o ser humano. Ele olhava para o ser humano e, por isso,
conseguia caminhar muito mais longe do que qualquer outra pessoa. Nesse sentido,
José não andava ao lado da lei, mas fazia questão de andar ao lado das pessoas.
Os olhos de José são grávidos de misericórdia. Enquanto todos esperariam que ele
abandonasse Maria, ele, misericordiosamente, a acolhe e faz dela sua mulher. A letra
fria da lei não consegue aquecer o coração de ninguém. Para aqueles que insistem em
seguir a lei, a vida se torna um eterno inverno. No coração de José nascia a primavera
da vida e, através do poder da vida que nasce, ele podia levar luz para Maria.
Falta-nos misericórdia no coração possivelmente porque vivemos num constante
inverno existencial. Temos dificuldades para nos aquecer e, com isso, não
conseguimos aquecer outros corações. Mais fácil, podemos pensar, é transferir um
pouco do nosso inverno para os demais. Mais fácil é criticar, ofender, não se
preocupar com a dor dos outros, afastar-se dos que necessitam etc. Triste engano.
Somente gestos de misericórdia podem eficazmente derreter a geleira que guardamos
dentro de nós.
É possível reconhecer a escravização pela mediocridade como uma das piores
formas de escravização que pode acontecer a um ser humano. Passamos a ser
escravos da nossa própria apatia, que nos constrange a ficar parados enquanto
podíamos caminhar. Uma força apática que nos leva a trocar a liberdade da reflexão
pelas respostas simples e simplórias daqueles que, muitas vezes, desejam apenas nos
manipular. O medíocre é aquele que se contentou em ser menos quando poderia ser
mais. Trocou os passos firmes e prósperos em direção ao futuro pela comodidade dos
passos lentos e trêmulos. O medíocre não consegue olhar para o horizonte. Sua visão
de mundo é do tamanho de si mesmo. Olha para dentro ao invés de contemplar os
espaços vazios do horizonte que precisam ser preenchidos por ele mesmo. O
medíocre não pensa; deixa que outros pensem por ele. Não sonha; permite que outros
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sonhem por ele. Ao assumir o padrão da mediocridade, vivemos como se não
pudéssemos dar saltos de qualidade e de excelência na vida. Aqueles que optam tão
somente pela média abandonam o desejo de explorar novos espaços e surpreendentes
possibilidades.
José foi além do que lhe foi solicitado e, por isso, fez diferença na vida de Maria,
de Jesus e na história da humanidade. Ele deu um passo a mais quando todos queriam
recuar e rompeu com o padrão mediano, isto é, com a mediocridade de seu tempo.
Definitivamente José rompeu com o padrão da mediocridade de sua época!
Oração
“Javé, ouve minha oração! Presta atenção às minhas súplicas. Em tua fidelidade e em
tua justiça, responde-me” (Sl 143,1).
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19º dia
ILUMINAÇÃO
Quando a paz da minha alma fugiu, definitivamente eu mergulhei em Deus.
Mensagem
Não se escuta a voz de José nos textos bíblicos. Os textos, pouquíssimos textos,
falam a respeito dele, mas ele mesmo não diz nada. A vocação dele pode ser
resumida em apenas uma palavra: serviço. E para servir não é preciso
necessariamente elaborar grandes discursos. No silêncio, ele é obediente à vontade de
Deus e a seus planos. Possivelmente os evangelhos não quiseram multiplicar suas
palavras, apenas mostrar seus atos.
Importa mais para José servir desinteressadamente. Ele não se economiza para ser
útil ao projeto de Deus. Lança-se a Deus, colocando-se integralmente em seu altar.
José é sabedor de que sua vida pertence unicamente a Deus e, por isso, dedica-se de
corpo e alma a fazer sua vontade. Anos mais tarde, o menino Jesus já crescido, feito
adulto, e proclamando as boas-novas do Reino de Deus, irá declarar: “Eu não vim
para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).
O silêncio de José não significa que ele não tivesse nada de interessante para
dizer. Às vezes, diante do mistério que invade e arrebata a vida, só nos resta calar. E
jamais um silêncio falou tanto ao coração humano quanto o silêncio de José. Deus
fala desde o silêncio.
José compreendeu que quando se crê contra toda a esperança, a palavra de Deus
basta, é suficiente. O silêncio dele se constitui num tremendo discurso exatamente
porque Deus falou através de seus gestos. Nele não havia qualquer tentação de ser
protagonista; não passava por sua cabeça fazer uma performance de fé.
Definitivamente, José não era afeito a espetáculos, luzes e aplausos.
Diferentemente de José, sofremos do que chamo de “espetacularização da fé”.
Trata-se de uma tendência religiosa doentia de procurar o espetacular e mais
chamativo; aquilo que dá mais prestígio e poder. Corre-se atrás do sucesso, do lucro,
de aplausos e, por conseguinte, de um evangelho fácil e nada exigente. Deseja-se um
evangelho que envie o serviço para o exílio e um Deus não para ser vivenciado, mas
para ser consumido; deseja-se um evangelho sem discípulos servos e, sim,
consumidores de religião, que se caracterizam pela superficialidade, falta de reflexão
e de compromisso.
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Oração
“Senhor, faze-me ouvir pela manhã o teu amor, pois confio em ti. Faze-me conhecer
o caminho a seguir, pois a ti elevo a minha alma” (Sl 143,8).
42
20º dia
ILUMINAÇÃO
Não creio, necessariamente, num Deus que me liberta das minhas dores. Creio, sim,
num Deus que, mesmo em minhas dores, permanece solidariamente e
silenciosamente ao meu lado, enquanto choro.
Mensagem
Bons exemplos nascem no interior de nossas próprias casas! A Sagrada Família é
bem alicerçada porque nela o testemunho de vida é incondicional. Eles vivem – José,
Maria e o menino Jesus – um para o outro. Complementam-se formando uma
unidade/comunidade. No encontro formam a melhor comunidade: a família. É
necessário recuperar o sentido da família como uma comunidade de encontro.
Existem famílias cujos membros já não se encontram e, conforme o tempo vai
passando, tornam-se estranhos uns para os outros, mesmo vivendo sob o mesmo teto!
José se apresenta como um modelo para seu filho. O menino Jesus não precisaria
buscar por modelos fora das paredes de sua casa. Era lá, no interior de sua pequenina
casa, que o menino Jesus podia olhar para seu pai e vê-lo como seu mais belo e
acabado modelo de vida.
Não podemos negar a importância da figura do pai para um filho. E, certamente,
se Jesus nos ensinou a chamar Deus de “Abba” (paizinho), possivelmenteJosé tinha
algo a ver com isso: “Jesus disse: Abba, Pai, tudo é possível: afasta de mim este
cálice, mas não seja o que eu quero senão o que tu queres” (Mc 14,36). E o apóstolo
Paulo afirma: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito do
seu Filho, que clama: Abba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és
filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4,7).
Jesus viveu em um ambiente de piedade judaica, dentro de uma família em que o
pai tinha a incumbência de iniciar os meninos na lei, na revelação de Deus. No
entanto, no judaísmo antigo não vemos Deus sendo chamado de pai. Por outro lado,
Jesus sempre o invocou dessa forma em suas orações. A novidade e originalidade da
invocação de Deus como Abba nas orações de Jesus evidencia o grau de relação entre
eles, revelando o próprio fundamento de sua comunhão com ele.
É inegável que a relação paternal de José com Jesus e a profunda comunhão que
resultava dessa relação influenciou, significativamente, a maneira de Jesus se
relacionar com o Pai.
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Oração
“Javé, livra-me dos meus inimigos, pois em ti me refugio. Ensina-me a fazer a tua
vontade, pois tu és o meu Deus. Teu bom espírito me guie por terras plainas” (Sl
143,9-10).
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21º dia
ILUMINAÇÃO
A cada passo que dou em direção a Deus, dois passos ele dá no mais profundo do
meu coração.
Mensagem
José aceita uma missão obscura que colocará sua fidelidade a Deus a toda prova.
Pode-se dizer que ele, em todos os momentos, caminhava como se visse o invisível.
Seus passos, portanto, eram passos de fé. A percepção de José é essencial para
entender a vida cristã. Fé, para José, traz o significado de ação. Pessoas de fé estão
sempre a caminho. Há disposição em olhar para frente e recusa em se deixar congelar
pelo passado. Quando José olha para Deus e seu projeto, ele caminha. No entanto,
quando José olha para si mesmo e para as circunstâncias que o rodeiam, há a tentação
de permanecer parado.
A carta aos Hebreus define a fé da seguinte maneira: “Fé é um modo de já possuir
aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem” (Hb 11,1).
Pela fé, Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria
receber como herança. Quais as garantias dadas a Abraão? Absolutamente nenhuma!
Sob as palavras e promessas de Deus, ele deu passos de fé. E Moisés? Quem poderia
acreditar que uma pessoa limitada seria o libertador de um povo das mãos da maior
potência militar da época? No início, nem ele mesmo acreditava. A libertação
somente veio para o povo quando Moisés também conseguiu se libertar da
incredulidade dando verdadeiros passos de fé. Cada um deles, e poderíamos falar de
tantos outros, era fiel a Deus.
Abraão, Moisés e José permaneceram firmes. Vivenciaram experiências que a
maioria de nós teria dificuldades de suportar e, todavia, continuaram resolutos,
cumprindo o projeto da visão inicial dada por Deus. Permanecer firme em meio ao
mar agitado da vida exige fidelidade a Deus. Tantos são aqueles que demonstram
fidelidade quando o vento sopra a favor o barco da vida, mas basta as ondas se
avolumarem para negarem, por medo e imaturidade, tanto a Deus quanto ao seu
projeto de vida. Fidelidade a Deus exige uma poção dupla de perseverança recheada
abundantemente de fé.
Somente pela fé foi possível que José enxergasse, na noite escura, a presença
luminosa de Deus.
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Oração
“Eu te exalto, meu Deus e meu Rei. E bendigo teu nome para sempre e eternamente.
Todos os dias eu te bendirei, louvarei teu nome para sempre e eternamente” (Sl
145,1-2).
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22º dia
ILUMINAÇÃO
Amamos a Deus acima de todas as coisas quando amamos uns aos outros acima de
todas as coisas.
Mensagem
José tinha disponibilidade para Deus. Diante do chamado disse “sim”. Nesse
sentido seguiu a tradição de outras grandes figuras bíblicas, tais como: Isaías (“Ouvi,
então, a voz do Senhor que dizia: ‘Quem é que vou enviar? Quem irá de nossa parte?’
Eu respondi: ‘Aqui estou eu. Envia-me’” [Is 6,9]) e Samuel (“... e Samuel estava
deitado no santuário de Javé, onde se encontrava a arca de Deus. Javé chamou:
‘Samuel, Samuel’. Ele respondeu: ‘Estou aqui’” [1Sm 3,2-3]). Nos lábios dele
poderiam também ser encontradas tão belas palavras: “eis aqui o servo do Senhor”.
Ao dizer sim para Deus, ele também disse sim para a história da salvação. No sim de
José se encontram Maria, Jesus e todos nós.
Falta-nos tempo para Deus! Quantas desculpas inventamos para não assumirmos
os projetos de Deus? Na verdade temos tempo para tudo, menos para Deus. José tinha
absoluta disponibilidade para se colocar fielmente a serviço da vontade salvadora e
libertadora de Deus. Dizer sim para Deus significa simplesmente abrir nossa agenda
para que ele tenha prioridade. Se encontramos tempo somente para aquilo que é
importante, devemos, então, ter a coragem de perguntar: quão importante é Deus em
minha vida?
A vida de José também é marcada por seu pensamento estratégico. Não é verdade
que nem sempre a vida segue tranquila? Às vezes, ondas gigantescas nos assaltam e
ameaçam destruir a vida e tudo quanto construímos. E houve momentos em que o
cotidiano da Sagrada Família quase desandava por conta das dificuldades (não
podemos nos esquecer das recorrentes fugas da Sagrada Família). Nesse momento,
emergiu o José estratégico. Ele não permaneceu imóvel diante da crise. Ao refletir
buscando soluções para a crise que se avizinhava, José projetava o futuro. Contudo,
não era uma reflexão reducionista, que percebia somente a si mesmo. Ele pensava
coletivamente e, por isso, saía de si mesmo. Definitivamente José não vivia ao redor
de si mesmo.
Além da disponibilidade aos projetos de Deus, de seu pensamento estratégico
diante das crises, José era muito corajoso. Afinal, ele se despojou de seus desejos
pessoais e de seus possíveis preconceitos para assumir em sua vida a liderança da
família de Nazaré. A coragem de José fez com que ele andasse por caminhos que
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jamais suspeitaria que pudesse andar.
Oração
“Javé, eu te chamo, vem depressa em meu socorro. Ouve a minha voz quando eu
clamo a ti. Suba a minha oração como incenso em tua presença, minhas mãos
elevadas como oferenda da tarde” (Sl 141,1-2).
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23º dia
ILUMINAÇÃO
Deixei de acreditar em tudo para crer somente no essencial: Deus.
Mensagem
A belíssima história de José e seu papel na história da salvação não passaram em
branco na Igreja. Pio IX o declarou Patrono da Igreja Universal; Pio XII instituiu a
festa de São José Operário; João XXIII pediu sua proteção especial para o Concílio
Vaticano II e acrescentou seu nome ao Cânon da Missa; e o papa Francisco
acrescentou seu nome a todas as demais orações Eucarísticas.
Na mesma data em que se comemora o dia do trabalho em quase todo o planeta
também se celebra São José Operário. A história nos conta que o primeiro de maio
está intimamente ligado à história da luta dos trabalhadores de todo o mundo contra a
exploração do sistema capitalista, no início do século passado. O primeiro de maio
nasceu relacionado à luta dos operários pela redução da jornada de trabalho.
Os trabalhadores americanos, após duras lutas, conquistaram as 10 horas de
jornada de trabalho. Depois passaram à luta por 8 horas. Era o ano de 1886. No
Congresso da Federação dos Trabalhadores dos EUA e do Canadá, em Baltimore,
ficou decidido que a primeira e maior necessidade era a conquista da jornada de 8
horas de trabalho. Na greve, muitos operários ficaram gravemente feridos e outros
morreram. Passados mais de cem anos, a memória do que aconteceu lá no passado se
faz presente em nossos dias. A vida dos trabalhadores continua marcada pela injustiça
e exploração: trabalhadores que não ganham o suficiente para alimentar suas famílias;
boias-frias que trabalham na terra e não podem possuí-la; operários que edificam
mansões em condomínios luxuosos e moram em casas de pau a pique; mulheres que
são submetidas a condições desumanas de trabalho, e ainda o trabalho escravo e o
trabalho infantil. Tais discrepâncias sociais agridem o projetode Deus para o ser
humano. Uma das mais belas cenas da Palavra de Deus é justamente a descrição de
como Deus libertou homens e mulheres no Egito, que estavam sujeitos ao trabalho
escravo. Ali, naquele momento, Deus intervém de forma salvadora, libertando-os
para que pudessem viver com dignidade.
Ao proclamar São José como protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar
que está ao lado deles, isto é, daqueles que são mais fracos. Nesse sentido, a Igreja,
através de São José, faz uma verdadeira opção diaconal pelos pobres na figura dos
trabalhadores de todos os tempos.
José pode ser considerado modelo ideal de trabalhador. Trata-se de um trabalhador
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pobre, que luta diariamente para sustentar sua família. No entanto, devemos entender
que José não é o único nessa situação. Ele representa a real situação de centenas de
trabalhadores que foram reduzidos a nada em sua época.
Oração
“Eu te celebrarei para sempre, porque agiste.
Eu proclamarei o teu nome diante dos teus fiéis, porque tu és bom” (Sl 52,11).
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24º dia
ILUMINAÇÃO
Descobri que Deus é real quando no mais terrível inverno ele aqueceu meu coração.
Mensagem
José é, sobretudo, protetor da Sagrada Família. Deus confiou a ele a guarda dos
seus tesouros mais preciosos. Jamais uma pessoa havia recebido tão grande honra e
responsabilidade, ou seja, ser o protetor simultaneamente de Jesus, o unigênito do
Pai, e de Maria, a mãe do Filho de Deus.
O papa Leão XIII nos ajuda a compreender a ação de José: “As razões pelas quais
o Bem-aventurado José deve ser considerado especial patrono da Igreja, e a Igreja,
por sua vez, deve esperar muitíssimo de sua proteção e do seu patrocínio, provém
principalmente do fato de ele ser esposo de Maria e pai putativo de Jesus. José foi a
seu tempo legítimo e natural guardião, chefe e defensor da divina família. É algo
conveniente e sumamente digno para o Bem-aventurado José, portanto, que, de modo
análogo àquele com que outrora costumava socorrer santamente, em todo e qualquer
acontecimento, a família de Nazaré, também agora cubra e defenda com o seu celeste
patrocínio a Igreja de Cristo”.
Por várias vezes, Maria e o menino Jesus passaram por perigos mortais. Aos olhos
de José eles eram como dois delicados e frágeis vasos de barro que precisavam ser
tenazmente protegidos. Sabia José que os delicados e frágeis vasos guardavam
precioso tesouro em seu interior. Diante da fragilidade da vida, José se apresentava
como o protetor; como aquele que deveria, noite e dia, zelar pelo bem-estar de Maria
e do menino Jesus.
José assumiu sua responsabilidade de guardião da Sagrada Família e,
consequentemente, também se tornou guardião de cada família em todos os tempos e
lugares. Tanto ontem quanto hoje ele zela constante e continuamente para que as
famílias se fortaleçam criando laços que jamais possam ser desmanchados. No
entanto, assim como José no passado não se furtou de ser o protetor daqueles que lhe
eram mais queridos, também não podemos nos furtar de agirmos protetoramente em
relação às nossas famílias. Devemos compreender as famílias como preciosos vasos
que precisam de cuidado extremo.
Diante das constantes e múltiplas ameaças que se apresentam para nossas famílias
e que procuram desestabilizá-la, se faz importante hoje, mais do que em qualquer
época, procurar o socorro daquele que foi chamado por Deus para ser o protetor de
todas as famílias que se tornam sagradas por causa do Cristo.
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Oração
“Ó Deus, salva-me por teu nome. Por teu poder, faze justiça em meu favor. Ó Deus,
ouve a minha oração, presta atenção às palavras da minha boca” (Sl 54,3-4).
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25º dia
ILUMINAÇÃO
Ao navegar por mares turbulentos, não penso na voracidade das ondas. Penso, sim,
naquele que comigo está.
Mensagem
Na multiforme sabedoria de Deus, José foi escolhido para ser esposo de Maria.
Neles, isto é, em José e Maria se realiza a plenitude do amor. O matrimônio deles
expressa o amor que acolhe um ao outro e que, fundamentalmente, se espalha sobre
toda a face da terra. Se, no princípio de todas as coisas, havia um casal formado por
Adão e Eva, que difundiu o mal pelo mundo, agora nos deparamos com um novo
casal – José e Maria – que constitui a fonte a partir da qual se espalha o amor pelos
quatro cantos da terra.
José e Maria encontram-se no amor. Todavia, trata-se de um encontro que
transcende até mesmo o amor. Ao se unirem, a fé de Maria encontra-se com a fé de
José. Ambos disseram sim um ao outro porque anteriormente já haviam dito “sim”
para Deus. Neles o amor se faz doação e ternura. José e Maria representam uma
verdadeira sinfonia de amor que indica que “somos o que amamos”. Uma frase que
traduz de maneira ímpar a experiência mais pura e cristalina do que é o amor. Por
isso mesmo, uma expressão que altera o rumo da vida daqueles que a compreendem.
Um amor que se identifica com o cotidiano e que se estende para toda a
eternidade. Uma leveza infinita que habita em nossos corações. Uma alegria suave
que atravessa-nos o corpo. Por que não dizer que o amor é uma realidade maior que
nos arranca de nós mesmos. E, com isso, fazemo-nos dom para aqueles que amamos.
Quando aprendemos que “somos o que amamos” descobrimos que por tantos e
quantos caminhos andarmos estaremos sempre na companhia da pessoa amada.
Nosso corpo se transforma no corpo dela. Nossos sonhos são extensão dos sonhos
dela. Nossos desejos confundem-se com os dela. Penso que está certo Gabriel Marcel
ao dizer: “Amar é dizer a alguém: Tu não morrerás”.
Fantasia, imaginação, afetividade, inteligência prendem-nos ao processo de amar e
de nos transformar na pessoa amada. Posso dizer que todo o nosso ser fica cativo do
amor. Quando descobrimos que “somos o que amamos” simultaneamente
reconhecemos que somos servos do amor.
Lendo Rumi, um místico muçulmano, meu coração ficou acelerado com suas
belas palavras: “Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz./ Depois retornou e se
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envolveu com o hábito do amor,/ Mas retirou-se novamente./ Timidamente, eu lhe
disse: Permanece dois ou três dias!/ Então veio, assentou-se junto a mim e esqueceu-
se de partir”. Não há como deixar de esboçar um sorriso de plena felicidade diante de
tão belas palavras. Fico pensando que o amor nos leva a viver uma pontinha de
egoísmo. Afinal, desejamos a eternidade para a pessoa que amamos e para nós
mesmos, que estamos amando. Diante do amor, renunciamos à interrupção, ao
cansaço, ao término e ao passageiro e abraçamos a eternidade como projeto único e
suficiente de vida.
“Somos o que amamos” revela que a força do amor reside no desejo e na ajuda a
que o outro cresça, melhore e supere seus limites. O amor não teme enfrentar o lado
obscuro do outro e não desanima. Ao contrário, fala quando acredita na força de uma
conversa brotada do amor. O amor é capaz de gerar um clima de empatia no qual os
gestos e as palavras, nascidos do conhecimento do outro, penetram suavemente, como
a chuva fina e leve. Na minha face e nos meus olhares desejo carregar o sinal da
benevolência, da alegria e do brilho – sinais que somente brotaram em mim porque
anteriormente pertenciam à pessoa amada. “Somos o que amamos” deveria ser a
proclamação de todo casal. Afinal ela significa: “só você basta”.
Ao olharmos para o amor existente entre José e Maria, precisamos nos espelhar e
nos nutrir nele, a fim de que o relacionamento com a pessoa que amamos seja
alicerçado de forma definitiva.
Oração
“No dia em que eu sentir medo, em ti confiarei.
Eu louvo, em Deus, a sua promessa; em Deus eu confio e não temerei” (Sl 56,4-5).
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26º dia
ILUMINAÇÃO
Quando menos espero percebo Deus sorrindo, furtivamente, para mim.
Mensagem
José era sensível à voz de Deus. Seus sonhos estavam repletos da presença de
Deus. Sensibilidade deve ser entendida como algo essencial para se viver. Muitos se
perdem pelo caminho e deixam seus corações se petrificarem. E, como consequência,
veem suas vidas se embrutecerem. Já não conseguem enxergar a beleza da vida; não
se sensibilizam diante do belo; não se emocionam com asprimeiras palavras do
pequeno filho e, aos poucos, vão também perdendo a sensibilidade de escutar e sentir
a presença de Deus.
Sair da brutalização e iniciar o caminho da sensibilização é a resposta para todos
aqueles que deixaram de se emocionar com a própria vida. José viveu experiências
que produziram nele um coração sensível e ouvidos atentos ao projeto de Deus. Mas
não podemos apenas dizer que a história de vida de José fosse marcada diariamente
pelo extraordinário e que, por conta disso, ele estaria em vantagem diante de nós.
Esquecemo-nos de que José era tão humano e tão limitado como qualquer pessoa. A
sensibilidade de José foi construída no dia a dia. Pode-se dizer que a sensibilidade é
algo que aprendemos a desenvolver; ela vem com a prática que nos leva a ampliar os
olhares e a perceber o ritmo do coração bater mais forte.
A insensibilidade é um mal, pois impede de ouvir a Deus assim como ouvir
aqueles que conosco vivem. Os insensíveis criam um mundo à parte, isolam-se
porque a presença do “outro” causa-lhes grande incômodo. Olhamos para o mundo
em que vivemos e afirmamos, sem titubear, que este é um mundo feito para pessoas
duras. Um mundo onde as pessoas estão relegadas a se basearem unicamente em seus
próprios ardis. O desejo que move e orienta cada uma e todas as pessoas é tão
somente o desejo de superar uns aos outros. A pessoa que está ao meu lado é
inevitavelmente alguém de quem devo desconfiar. Tememos os outros porque
condenamos a confiança a uma vida cheia de frustração.
Em cada um de nossos vizinhos tememos um lobo. Somos tão pobres, tão fracos,
tão facilmente arruináveis e destrutíveis! Como podemos deixar de ter medo?
Enxergamos o perigo, apenas o perigo. O outro é necessariamente o nosso inferno. E
porque não dizer que, em muitos casos, é nos outros que projetamos o inferno interior
e exterior que vivemos. Como podemos deixar de ter medo se, ao conhecer um
estranho, a primeira atitude é a de nos fecharmos vigilantemente em copas, e a
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segunda, o redobrar da vigilância? A suavidade escapa por entre nossos dedos. Somos
ensinados a ser mais duros e menos escrupulosos do que todos os outros que estão ao
nosso redor, caso contrário, seríamos liquidados por eles. Nessa nova versão do
mundo darwiniano, triste mundo darwiniano, é o mais apto que invariavelmente
sobrevive.
O compromisso com outras pessoas, o colocar-se ombro a ombro, a confiança, a
compaixão, a solidariedade, o carinho num mundo de medos e de infernos que se
multiplicam acabam se tornando fatores suicidas. Mas há coisas das quais
esquecemos que são óbvias: compaixão, carinho, solidariedade, confiança –
elementos que se apresentam a partir da proximidade e pela presença imediata de
outro ser humano. A proximidade nos humaniza e expulsa o inferno que nos
constrange ao individualismo mórbido.
São José nos ensina que é justamente a presença de outro ser humano – fraco,
vulnerável e precisando de auxílio – que nos liberta e traz alívio para a maioria dos
nossos medos. Talvez seja na proximidade com outros, iguais a nós, que descobrimos
que a ação que ajuda, defende, alivia, cura e salva é a condição primeira e única que
nos torna humanos.
Oração
“Permanecei conosco, ó São José, nos nossos momentos de prosperidade, quando
tudo nos convida a gozar honestamente dos frutos de nossas fadigas; mas, sobretudo,
permanecei conosco e sustentai-nos nas horas de tristeza, quando parece que o céu
quer fechar-se sobre nós e até os instrumentos de nosso trabalho vão escapar de
nossas mãos” (Pio XII).
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27º dia
ILUMINAÇÃO
A fé muitas vezes me escapa. Procuro e não a encontro. Perco-me e às vezes choro. E
quando pensava que nada mais era possível, reencontro-me. Descobri que era na
impossibilidade que Deus sempre se fazia presente.
Mensagem
No meio da noite gerou-se a esperança. Para muitos, o que poderia parecer sinal
de medo, para José sinalizava o momento ideal para gerar a vida, sonhos, futuro (cf.
Mt 1,24).
José, ao responder afirmativamente a Deus, no meio da noite, preparou a chegada
do Salvador. No meio da noite, ele celebrou a vitória da fé e da obediência contra as
forças do caos. Em meio à noite escura, ele percebeu os raios de luz e, por isso, seu
coração se alegrou.
A vida é feita de escolhas. Não estamos neste mundo para simplesmente
seguirmos um script feito por outra pessoa. Absolutamente não somos seres
automatizados e programados para responder sempre da mesma forma. Somos
homens e mulheres de decisão. Fomos criados por Deus para sermos protagonistas de
nossas vidas e não podemos nos furtar desse enorme privilégio.
José escolheu a melhor parte. Preferiu construir a esperança em meio à noite e
expulsar o medo de seu coração. Boas escolhas são essenciais para vivermos uma
vida saudável. Muitos vivem situações desastrosas porque simplesmente escolheram
mal. O nossos problemas não se devem ao fato de Deus não nos amar ou ter se
esquecido de nós, mas ao fato de não termos discernimento para escolher bem. Nesse
sentido, ao escolhermos mal, fazemos com que a escuridão da noite se estenda para a
claridade do dia. Triste, muito triste: permitimos que as sombras da noite invadam a
beleza de um novo dia de sol que recém começou.
A sabedoria de José é exemplar: ele gera esperança antes que sombras
assustadoras surjam em sua vida e de sua família. Ele é previdente, antecipa-se à
própria realidade. É sabedor de que nem sempre é possível controlar as experiências
da vida. Na verdade, algumas dessas experiências podem até nos machucar e, por
isso, previdentemente, ele guarda uma porção extra de esperança para os dias maus.
Jamais devemos deixar de sonhar. Mas também nunca devemos deixar de estar
preparados para viver intensamente os nossos sonhos. Quem muito sonha muito
trabalho tem. Quem pouco sonha tem sua alma diminuída e sua estima reduzida ao
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desprezo por si mesmo.
Sonhar, nos diria São José, é equipar a alma com asas.
Oração
“Vou louvar-te entre os povos, Senhor. Tocarei para ti diante das nações, pois a tua
fidelidade é maior do que os céus, e bem maior que as nuvens a tua verdade”
(Sl 57,10-11).
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28º dia
ILUMINAÇÃO
Explosão e alegria inundaram meu coração quando olhei para Deus.
Mensagem
Jesus entrou na história pela porta dos fundos. O evangelho de Mateus 13,55
retrata um dos momentos em que Jesus retorna à sua região, a Nazaré, e fala na
sinagoga. Nesse momento, seus compatriotas ficam tomados de espanto por causa de
sua sabedoria. Dizem eles: “Não é este o filho do carpinteiro?”. Certamente uma
pergunta preconceituosa e que revela o jeito de ser, de viver e de se relacionar de
todos aqueles que fizeram a pergunta.
O julgamento daquelas pessoas era impiedoso e contaminava as relações
interpessoais. Pois é exatamente assim que funciona o preconceito ao afastar os que
são daqueles que não são; os melhores dos piores; os puros dos impuros; os santos
dos pecadores; os inteligentes dos menos inteligentes; os belos dos feios; os ricos dos
pobres; os saudáveis dos doentes; os que pertencem ao meu grupo e, portanto, são
meus amigos, daqueles que não pertencem e, portanto, são meus inimigos.
Ser filho de carpinteiro não poderia ter muita relevância. Possivelmente pensavam
ser impossível. E ao desconsiderarem o pai também desconsideravam o filho. O
trabalho humilde e a possível ignorância de José repercutiam exemplarmente em
Jesus, segundo o critério preconceituoso daquelas pessoas. Julgamento que diz muito
mais a respeito dos julgadores do que daqueles que são julgados.
É possível afirmar que um dos maiores problemas que temos é o do preconceito.
Não sabemos viver e conviver com os diferentes de nós. Para aquele que julga a partir
de sua própria percepção todos os outros são inferiores, errados, incapazes,
pecadores, ignorantes e fazem escolhas inadequadas. Os preconceituosos criam uma
redoma de vidro ao redor de si mesmos para evitar qualquer tipo de contato. Temem
ser contaminados pelo diferente. Reduzem tudo, absolutamente, tudo, a uma só cor e,
por conseguinte, acabam com o multicolorido